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Narrativa

conto popular
“Literatura não é fuga da
realidade, mas sim um guia
para a vida.”
Umberto Eco
Quem conta um conto aumenta
um ponto
Não sendo por acaso seu nome, o
conto teve início junto com a
civilização humana. As pessoas
sempre contaram histórias, reais ou
fabulosas, oralmente ou através da
escrita. Além de utilizar uma
linguagem simples, direta, acessível
e dinâmica o conto é a narração de
um fato inusitado, mas possível,
que pode ocorrer na vida das
pessoas embora não seja tão
comum.
Características do gênero

◉ Há poucos personagens e geralmente não


apresentam nome próprio.
◉ Geralmente não são apresentadas informações
sobre quando e onde ocorreram.
◉ Muitos contos populares apresentam linguagem
mais informal e com marcas da oralidade. Isso
porque muitas dessas histórias foram transmitidas
oralmente, de geração para geração.
Características do gênero

◉ As ações se passam em um só espaço, constituem


um só eixo temático e um só conflito.
◉ Não tem autoria conhecida, pois foram transmitidas
oralmente ao longo dos anos. Muitas dessas
histórias são recolhidas por estudiosos.
◉ Tem diferentes intenções: em alguns momentos,
pretendem educar o ouvinte, em outros, querem
divertir ou sugerir uma reflexão sobre uma situação
O conto popular pode revelar algo sobre
o modo de vida de antigamente, pois, em
geral, relata um fato que ocorreu há
muitos anos e vem sendo contado de
geração em geração oralmente.


Luís da Câmara Cascudo
Exerceu várias funções públicas, entre as quais professor,
diretor de escola, secretário do Tribunal de Justiça e consultor
jurídico do Estado. Como jornalista, assinou uma crônica diária
no jornal "A República" e colaborou para vários outros órgãos
de imprensa do Recife e de outras capitais.
Três anos mais tarde, lançou a sua obra mais importante como
folclorista, o "Dicionário do Folclore Brasileiro", obra de
referência no mundo inteiro. Em 1965, Câmara Cascudo
escreveu uma obra definitiva, "História do Rio Grande do Norte",
coligindo pesquisa sobre sua terra natal, da qual jamais se
desligou. Sua obra completa, densa e vastíssima, engloba mais
de 150 volumes. O pesquisador trabalhou até seus últimos anos
e foi agraciado com dezenas de honrarias e prêmios. Morreu
aos 87 anos.
Queria sabera história de todas as cousas do campo e
da cidade. Convivência dos humildes, sábios,
analfabetos, sabedores dos segredos do Mar das
Estrelas, dos morros silenciosos. Assombrações.
Mistérios. Jamais abandonei o caminho que leva ao
encantamento do passado. Pesquisas. Indagações.
Confidências que hoje não têm preço.
Câmara Cascudo


O macaco e a cutia
O macaco foi dançar na casa da cotia; a cotia, de
sabida, mandou o macaco tocar, dando-lhe uma
rabeca. A cotia começou a dançar, e, no virar à roda,
deu uma embigada na parede e partiu o rabo. Todos os
que tinham rabo ficaram vendo isto, com medo de
dançar. Então o preá disse: “Ora, vocês estão com
medo de dançar! Mandem tocar, e vão ver obra!”
O macaco ficou logo desconfiado, e trepou-se num
banco e pôs-se a tocar para o preá dançar. O preá deu
umas voltas e foi dar sua embigada no mestre macaco,
que não teve outro jeito senão entrar também na
dança das cotias e dos outros animais, e todos lhe
pisaram no rabo.

Então ele disse: “Não danço mais, porque compadre preá e


compadre sapo não devem dançar pisando no rabo dos
outros, porque eles não têm rabo pra nele se pisar.” Pulou
para cima da janela e de lá tocava sem ser incomodado.
O sapo com medo de água
Em um dia de sol, dois amigos resolveram descansar numa lagoa.
Viram um sapo dormindo e forma mexer com ele. Seguraram o bicho e zombaram dele, chamando-o de desengonçado e
nojento. Resolveram então fazer mais maldade, combinando de jogá-lo no formigueiro.
O sapo então tremeu de medo, mas se conteve e deu um sorriso. Percebendo que o bicho não demostrava medo, um
deles disse:
— Ah, não! Vamos cortá-lo em pedacinhos.
O sapo se manteve aparentemente tranquilo e começou a assobiar. Os meninos viram que nada assustava o sapo e
então um falou para o outro subir em uma árvore e jogar o animal lá de cima. O outro ameaçou fazer um churrasco com
o sapo. Mas nada tirava a paz do bicho.

Até que um deles disse:


— Vamos jogar esse bicho na lagoa então.

Ao ouvir isso, o sapo gritou desesperado:


— Não! Por favor, façam qualquer coisa, mas não me joguem na lagoa!

Os garotos ficaram satisfeitos por deixar o animal descontrolado e


disseram:

— Ah! Então é isso, vamos jogar o sapo na água sim!

O sapo disse que não sabia nadar, mas os meninos o atiraram na lagoa e
deram risada.
O bicho então caiu na água e saiu nadando e dando risada. Os garotos
ficaram envergonhados e o sapo se salvou!
A ação narrativa

Situação inicial
Clímax
Composição do cenário da
Ponto alto da história - uso
narrativa e da
de verbos de ação,
apresentação de seus
discurso direto e indireto
personagens marcados
pelo uso de texto
Desfecho
descritivo e adjetivos
Complicação Resolução do conflito,
Focados na ação narrativa apresentação do
e marcados pelo pretérito mistério
perfeito do verbo
O humor

◉ Facécia (chiste), patranha (história mentirosa) ou


anedota (particularidade) - tom espirituoso;
◉ Possibilitam conhecer e discutir costumes de
época: comportamento, regras e mentalidade
distintos da moral e da ética atuais;
◉ Pode ser tanto subversivo, irreverente,
revolucionário, anárquico, verdadeiro, libertador,
óbvio, preconceituoso, reacionário, antigo, não
politicamente correto e não ético.
O padre, o caboclo e o
estudante
Um estudante e um padre viajavam pelo sertão,
tendo como bagageiro um caboclo.
Deram-lhes numa casa um pequeno queijo de
cabra. Não sabendo como dividi-lo, mesmo
porque chegaria um pequenino pedaço para
cada um, o padre resolveu que todos
dormissem e o queijo seria daquele que tivesse,
durante a noite, o sonho mais bonito, pensando
enganar todos com os seus recursos oratórios.
Todos aceitaram e foram dormir. À noite, o
caboclo acordou, foi ao queijo e comeu-o. Pela
manhã, os três sentaram à mesa para tomar
café e cada qual teve de contar o seu sonho.

O padre disse ter sonhado com a escada de Jacob e descreveu-a brilhantemente. Por ela, ele subia triunfalmente para
o céu. O estudante, então, narrou que sonhara já dentro do céu à espera do padre que subia, O caboclo sorriu e falou:
— Eu sonhei que via seu padre subindo a escada e seu doutor lá dentro do céu, rodeado de amigos. Eu ficava na
terra e gritava:
— Seu doutor, seu padre, o queijo! Vosmincês esqueceram o queijo.
Então, vosmincês respondiam de longe, do céu:
— Come o queijo, caboclo! Come o queijo, caboclo! Nós estamos no céu, não queremos queijo.
O sonho foi tão forte que eu pensei que era verdade, levantei-me, enquanto vosmincês dormiam, e comi o queijo...
A festa no céu
Ia haver uma festa no céu e o amigo urubu convidou todos os bichos. Dona juriti, que era cantora afamada, foi
convocada para animar a festa. Nesse tempo, o sapo andava em pé, e era muito farrista.
Encontrou- se com a juriti, que estava polindo a garganta. Logo que viu o sapo, ela começou a zombar dele:
— É, amigo sapo, você não pode ir à festa do amigo urubu no céu, pois não tem asas! E vai ser uma festança
danada! Mas é só para os bichos que voam.
O sapo pediu:
— Oh, amiga juriti, me leva!
— Levo nada. Você é muito pesado. Quando voltar da festa, eu lhe conto como foi.
O sapo garantiu que não perderia a festa por nada, e a juriti riu pra danar dele. No dia da festa, ele arrumou um
jeito de se enfiar na viola do urubu, que era o tocador. O urubu sentiu que a viola estava pesada, mas não parou
para ver o que era, pois, sendo ele o tocador, não poderia chegar atrasado.
No céu, toda espécie de bicho de asas estava lá, se alegrando,
dançando e comendo muito. Nisso, para surpresa de todos, surge o
sapo. O danado comeu, bebeu e dançou até altas horas. Depois,
lembrou-se da volta e, sem que ninguém o visse, se meteu na viola do
urubu. A festa ainda estava animada e a juriti, maldosa, achou de
provocá-lo:
— Tá todo mundo aqui, só o sapo não! Tá todo mundo aqui, só o sapo
não!
O besta do sapo, em vez de ficar quieto, achou de colocar a cabeça
pra fora da viola e responder: — Ói eu aqui, óí eu aqui, aqui, aqui! O
urubu, brabo com o engano, pegou o sapo e disse que ia jogá-lo lá
embaixo.
Então o sapo pediu que o jogasse na água, mas não jogasse no lajedo (o lajedo era seu amigo). O urubu estava
com raiva e disse:
— Eu vou lhe jogar é no lajedo, seu miserável!
E jogou o sapo, que ia caindo e gritando:
— Lajedo, abre os braços! Abre os braços, lajedo!
O lajedo ouvia, mas não conseguia entender direito, pois o sapo estava muito alto. Quando foi entender já era
tarde, e o sapo se estatelou em cima dele - Pof!
Aí o sapo quebrou a coluna, e desse dia em diante não andou mais em pé.

1. Releia a frase que inicia o


2. Releia o primeiro parágrafo do conto:
conto.
Ia haver uma festa no céu e o amigo urubu convidou todos os bichos. Dona
a) Das três informações abaixo,
juriti, que era cantora afamada, foi convocada para animar a festa. Nesse
qual delas não está expressa na
tempo, o sapo andava em pé, e era muito farrista. Encontrou-se com a juriti,
frase inicial do conto?
que estava polindo a garganta. Logo que viu o sapo, ela começou a zombar
dele:
⦁ O que vai acontecer.
a) Quem são os personagens da história?
⦁ O lugar do acontecimento.
b) Qual é a expressão empregada para caracterizar a juriti?
• Quando vai acontecer.
c) Quais são as expressões que caracterizam o sapo?
d) Retire do texto duas expressões que indicam tempo.
b) Como você poderia explicar a
falta dessa informação num
conto popular?
3. Reflita sobre as ações da juriti, 4. Ao dizer: "E vai ser uma 5. Qual seria a participação da
expressas nestes trechos: festança danada! Mas é só para os juriti na festa? E a do urubu?
bichos que voam", a juriti atinge o
Logo que viu o sapo, ela começou a seu objetivo: provocar o sapo.
zombar dele. [...] — E vai ser uma Explique por quê. 7. Alguns contos populares
festança danada! Mas é só para os explicam características de
bichos que voam. comportamento e/ou a aparência
6. Você acha que o sapo, mesmo dos seres. Observe a imagem
não tendo sido esperado, deste sapo: Que acontecimentos
Além de cantora afamada, o que também contribuiu para o
mais se pode afirmar sobre a do final do conto "A festa no
sucesso da festa? céu" poderiam explicar as
juriti?
características físicas de um
sapo?

8. Além de farrista, que outras características podem ser aplicadas


ao sapo? Escolha, entre as alternativas abaixo, aquelas que
estejam de acordo com o texto e justifique suas escolhas.
a) trapaceiro
b) teimoso
c) ingrato
d) impulsivo
e) animado
O discurso nas narrativas
Os rumos interpretativos de um texto, então, dependem da maneira como
o narrador escolhe demonstrar as ideias das personagens: com maior
proximidade – por meio do discurso direto – ou com mais afastamento –
por meio do discurso indireto.
1 Discurso direto
O discurso direto caracteriza-se pela conversa direta entre
personagens
as
. - Introduzidas pelo uso dos verbos
- Separadas
dicendi. pela
- Os pronomes, os tempos verbais e as palavras que
pontuação.
tempo
indicame espaço são determinados tendo como referência
n
oarrador e as
personagens.
2 Discurso indireto
Quando o narrador conta o que as personagens disseram,
portanto,
citando, a fala delas, o recurso é chamado de discurso
- Introduzidas pelo uso dos verbos
indireto.
- Normalmente,
dicendi. separada da fala do narrador pela conjunção
- Osque.pronomes, os tempos verbais e as palavras que
tempo
indicame espaço são determinados pelo viés do
narrador.
Exemplos

Diret Indiret
Joana falou:
o Joana falou que voltava lá
o
– Eu volto aqui no dia seguinte.
amanhã.
Elisiário confessou
Elisário confessou: que estava com
sono.
- Estou com sono.

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