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Capitalismo e escravidão no

Brasil Meridional
O negro na sociedade escravocrata
• Os escravos foram reduzidos à condição de coisa, isto é, de alguém que possuía apenas
"consciência passiva" da situação em que se encontrava, e cuja ação refletia os desígnios
dos senhores.

• Os senhores representavam-nos como instrumentos de trabalho e eles se comportavam,


efetivamente, como seres incapazes de ação autonômica. Obtinha-se, dessa forma, a
reificação quase completa dos escravos.

• O escravo-artesão, engendrado pela dinâmica da economia escravista do sul, sendo capaz


de dominar uma técnica mais refinada de trabalho, permitiu a revelação social dos
atributos de pessoa humana que se encobriam na categoria de escravo.

• ao trabalhar o escravo negava as representações que tendiam a fazer dele o anti-homem e,


ao mesmo tempo, permitia que ficasse socialmente evidente a necessidade da coação e da
violência para transformar um homem em escravo, em coisa.
• A qualificação do trabalho escravo pode ter
assumido reduzida significação em termos
históricos devido à proporção relativamente
pequena de escravos desse tipo na massa da
população servil. Em outra situação social de
existência, contudo, a contradição coisa-homem
contida na situação de escravo revelou-se (...) de
forma muito generalizada: na escravidão doméstica.
• A ambiguidade do comportamento do branco
diante do escravo doméstico, tematizada pela
literatura, simboliza a alienação completa do
senhor: toda a rigidez das normas e da etiqueta
no convívio diário (...) impunha-se exatamente
para que o senhor visse no escravo a pura
"objetividade" e não se encontrasse, a cada
momento, no outro que era escravo.
• na ética da religião oficial, todos eram iguais perante Deus, e na prática da vida
doméstica a vontade do senhor podia exprimir-se na posse da escrava, sem que isso
implicasse nojo, mas apenas desqualificação social do produto de uma miscigenação
que continha, em si mesma, toda a contradição da representação que o
• branco mantinha da situação de escravo: alguém que se suplicia e que se ama, sem
nunca ser igual.
• Assim, a sociedade escravista nos moldes em que se desenvolveu no Brasil possuía
um elemento constante de dissolução que se originava no plano estritamente social:
o escravo não chegou nunca a ser representado inteiramente como coisa e a
escravidão supunha a coisificação do escravo.
• essas condições mantinham-se graças à violência: violência do senhor contra o
escravo, violência do senhor contra si mesmo. E significa ainda que qualquer brecha
no sistema de pressão constante acabaria por fazer com que toda a escravidão ruísse
(...)
• As relações sexuais entre senhores e escravas, apesar do caráter de pura concupiscência,
desencadeavam processos de interação social que escapavam inteiramente ao jogo de
expectativas sociais que definiam o comportamento de senhores e escravos.
• O clássico triângulo amoroso renasceu envolvendo casa-grande e senzala num jogo de
relações espúrias, denunciando as inconsistências culturais da moral senhorial brasileira.
• a própria existência de filhos de brancos livres entre os escravos tornava-se um elemento
de negação dos pressupostos da inferioridade natural, que se desejava atribuir ao escravo
enquanto negro. Efetivamente, a miscigenação crescente denunciava a inexistência de
repulsa entre as raças. Ao mesmo tempo, a qualidade de escravo atribuída aos filhos dos
senhores evidenciava o caráter social da escravidão.
• Isso evidencia, amplamente, as inconsistências do sistema de castas brasileiro que, ao
mesmo tempo que se criou para garantir a reificação do escravo, requerida pela produção
econômica escravista, não se organizou a partir de valores culturais capazes de negar toda e
qualquer qualidade humana do escravo.
• Os escravos, ao tornarem-se homens livres, viram-se na contingência de agir como
"lumpen": precisavam primeiro libertar-se da condição passada, negando
completamente o jugo que lhes havia sido imposto.
• o movimento abolicionista organizou-se entre os brancos e foi norteado por valores
e objetivos que mais diziam respeito aos problemas dos brancos do que às
questões dos negros. Os escravos, enquanto sujeitos de uma praxis rebelde, não
tinham por objetivo outra coisa além da supressão da escravidão.
• Suprimida a escravidão, os negros continuariam irremissivelmente sujeitos a outras
modalidades de escravidão e de alienação: à escravidão da miséria ou à condição
de párias de uma sociedade de classes em formação, engajados automaticamente,
como ficariam, no exército proletário de reserva.
• A abolição, por assim dizer, suprimia apenas uma forma anômala de ser da
produção capitalista, num processo cujos efeitos sobre a estrutura de poder
circunscreviam-se, de forma imediata, a grupos das camadas dominantes.
• as repercussões da Abolição sobre o destino do homem negro
criaram as condições para que este se situasse criticamente na
sociedade de classes.
• ainda que stricto sensu a abolição não corresponda formalmente às
características da revolução burguesa ou da revolução proletária,
ela não deixa de ser uma espécie de revolução de segundo grau.
• As condições da escravidão fizeram com que a reação do negro
parecesse tênue em face da máquina repressiva senhorial. Tão logo
essa máquina perdeu as condições morais e legais para agir e
coagir, o negro exprimiu de forma taxativa sua repulsa à situação
que lhe fora imposta.
• Com efeito, o negro livre tinha de optar entre continuar
trabalhando nas mesmas condições que antes, com o status
formal de cidadão, ou reagir a tudo o que o trabalho
desqualificado pela escravidão significava, passando a viver na
ociosidade e no desregramento. Foi essa a alternativa que os
brancos criaram para os negros.
• o trabalho aparecia como a qualidade antihumana por
excelência, sendo necessário, por isso, que o homem negro se
afirmasse primeiro como ocioso, para sentir-se livre e poder
recomeçar todo o caminho da lenta e penosa reconstrução de si
na sociedade de classes que começava a formar-se.
A MERCADORIA

• . 1. Os dois fatores da mercadoria: valor-e-uso e


valor-de-troca (substância e quantidade de valor)
• 2. O duplo caráter do trabalho materializado na
mercadoria
• 3. A forma do valor ou o valor-de-troca
• A. A forma simples, singular ou fortuita do valor
(x da mercadoria A = y da mercadoria B)

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