A partir do debate dos textos de Paulo Freire, Lélia Gonzales e
Clovis Moura buscamos interpretar e entender a questão da
repressão racial no Brasil. Cada texto integrante desta analise levanta um ponto diferente para o debate, sendo Paulo Freire o guia para entendermos o incio e a criação desta opressão, Clovis Moura o guia para o entendimento da imagem do negro na sociedade e Lelia Gonzales ressaltando o papel da mulher, seja quanto a sua imagem ou quanto a sua opressão. Paulo Freire, durante sua obra “Educação como pratica da liberdade” analisa a sociedade brasileira já como uma sociedade em transito, fechada, colonial e principalmente antidemocrática. Para entendermos esta pré-colocação do autor se faz necessário a volta ao passado, a visão das raízes do Brasil, sendo esta encaminhada pelo autor de forma crítica, onde são analisadas principalmente as condições de nossa colonização. Os colonos que viriam a morar no país possuíam em mente somente a ideia de exploração da terra e das pessoas presentes nela, pois tal plano de habitação brasileira parecia provisória, uma espécie de aventura, que, quando se revelou realmente lucrativa, foi estendida. A partir do momento em que o povo português percebeu que o brasil deveria ser propriamente povoado foram imediatamente criadas fazendas e grandes acumulados de terra, que seriam de grande prejuízo para o brasil e para seus moradores, neste momento principalmente aos povos escravizados, que seriam necessários para o plano de exploração mercantil, por representar a mão de obra mais barata disponível. Segundo o autor, a partir deste processo de criação das fazendas se dá a origem do ideal brasileiro de “respeito aos senhores”, a obediência ilimitada, principalmente quando a mesma parte de homens e mulheres negros. Com o povo isolado nestas fazendas, à mercê de seus senhores que somente visavam lucro, a distancia social se criou, com o domínio de um povo sobre outro não era permitido o diálogo, que implicaria, em algum momento, na criação da vida política brasileira. A não participação do povo negro na vivencia comunitária levaria a sua imagem ser construída de forma deturpada, como explica Clovis Moura em seu texto. O autor busca interpretar o papel do negro no brasil e principalmente a questão da “ruindade”, criada a partir da quebra do padrão de comportamento da sociedade escravagista, que exigia o “respeito aos senhores” citado por Freire. O dito do negro como mau cidadão se repete em diversas regiões onde o mesmo se apresentou como escravo e, após o fim do regime escravocrata, iniciou disputa com o branco para o mercado de trabalho. O autor alega que o mau cidadão seria o negro livre, que procura levantar e questionar os problemas da situação racial no local aonde vive, desmontando assim o ideal de obediência e subserviência tão valorizado, seja na sociedade que acabava de ser colonizada ou até no tempo atual. A degradação da imagem negra, seja em 1880 ou em 2022, tem como função única a exaltação da “moral branca” como trabalhadora e obediente aos patrões, enquanto os negros seriam desregrados e impossíveis de confiar. Todo esse movimento teve, ainda hoje, influência da ideia principal de colonização do brasil: a exploração econômica. Lelia Gonzalez também parte do principio da exploração do capitalismo patriarcal para tecer suas analises quanto a opressão das mulheres negras. A autora enfatiza em como a mulher negra foi excluída da sociedade mesmo durante os movimentos de conquista dos direitos femininos, infantilizada, dotada como incapaz, e principalmente como tudo isso está conectado ao sistema da colonização por linhas diretas. É um fato de que a desigualdade social e econômica afeta principalmente mulheres negras, marginalizadas pela mesma sociedade que buscou “abrir o mercado de trabalho” para as mulheres logo no pós-guerra, aonde se fazia maior necessidade de postos de trabalho. Enquanto a mulher branca iniciou seu processo de “independência” por meio do trabalho, a mulher negra foi alvo de um processo de discriminação tripla (racial, de gênero e de classe). A partir dos três textos em conjunto conseguimos demonstrar claramente como o que acontece no Brasil nos dias de hoje é ainda efeito de um processo de colonização vexatório e cruel, que subjugou povos e os condenou a uma eterna serie de desvantagens perante os novos habitantes desta terra, os colonizadores e suas famílias.