Você está na página 1de 16

UNIDADE CURRICULAR UC4

CORPO, SAÚDE E LINGUAGENS


O CORPO QUE FALA: EXPRESSÃO E (PRE)CONCEITOS
COMPONENTE CURRICULAR 3
CULTURA, CORPO E LITERATURA
PROFESSOR DOUGLAS PARDIM
ATIVIDADE 2
Nesta atividade voltaremos nosso olhar para a literatura
brasileira desde os seus primórdios, para identificar, a
princípio, como foi o impacto dos portugueses ao se
depararem com os corpos nus dos indígenas. Esse fato é
relatado já na primeira carta enviada por Pero Vaz de Caminha
ao rei D. Manuel I de Portugal.
Quinhentismo
Quinhentismo
no Brasil

Literatura de Literatura de
Informação Catequese
Literatura de Informação
A Carta, de Pero Vaz de Caminha é considerado o primeiro texto da
literatura nacional. Tinha a finalidade de descrever as viagens e os
primeiros contatos dos portugueses com a terra brasileira e seus
nativos. Revelou pouco valor literário, mas tem importância hoje pelo
significado como documentação histórica. Pero Vaz de Caminha deixou
como herança um conjunto inesgotável de sugestões temáticas (os
índios, as belezas naturais da terra, nossas origens históricas)
exploradas mais tarde por nossos escritores. Um desses escritores foi
Oswald de Andrade, que criou um movimento intitulado Poesia Pau-
Brasil, em boa parte inspirado nos documentos escritos no século XVI.
A descoberta
Oswald de Andrade

Seguimos nosso caminho por este mar de longo Depois de dançarem


Até a oitava da Páscoa Diogo Dias
Topamos aves Fez o salto real
E houvemos vista de terra as meninas da gare
os selvagens Eram três ou quatro moças bem moças e bem
Mostraram-lhes uma galinha gentis
Quase haviam medo dela Com cabelos mui pretos pelas espáduas
E não queriam por a mão E suas vergonhas tão altas e tão saradinhas
E depois a tomaram como espantados Que de nós as muito bem olharmos
primeiro chá Não tínhamos nenhuma vergonha.
Literatura de Catequese

Produzida pelos jesuítas com a


finalidade de catequizar os
índios, essa catequização dava-
se através de poemas, peças de
teatro, crônicas etc.
Os principais autores dessa
época foram Manuel da
Nóbrega, Fernão Cardim e mais
destacadamente, José de
Anchieta.
Fundou, junto com o padre
Manuel da Nóbrega, um
colégio que seria o núcleo da
cidade de São Paulo. Produziu
poemas, hinos, canções e
autos com finalidade
pedagógica. Escreveu a
primeira gramática da língua
tupi além de poemas de
cunho religioso.

José de Anchieta (1534 – 1597)


Através de seus autos, veiculava de forma amena
e agradável, diferentemente da prática cansativa
dos sermões, a fé e os mandamentos religiosos.
Muitos de seus textos eram polinlígues, o que lhes
conferia maior alcance, tendo percebido a
tendência natural do índio à festa, Padre Anchieta
aproveitou-se dessa característica para difundir a
moral e os dogmas católicos através de pequenos
jogos dramáticos.
Carta Pero Vaz de Caminha ao rei D. Manuel I de Portugal
“A feição deles é serem pardos, um tanto avermelhados, de bons rostos e bons narizes,
bem feitos. Andam nus, sem cobertura alguma. Nem fazem mais caso de encobrir ou
deixar de encobrir suas vergonhas do que de mostrar a cara. Acerca disso são de grande
inocência. Ambos traziam o beiço de baixo furado e metido nele um osso verdadeiro, de
comprimento de uma mão travessa, e da grossura de um fuso de algodão, agudo na
ponta como um furador. Metem-nos pela parte de dentro do beiço; e a parte que lhes
fica entre o beiço e os dentes é feita a modo de roque de xadrez. E trazem-no ali
encaixado de sorte que não os magoa, nem lhes põe estorvo no falar, nem no comer e
beber. Os cabelos deles são corredios. E andavam tosquiados, de tosquia alta antes do
que sobre-pente, de boa grandeza, rapados todavia por cima das orelhas. E um deles
trazia por baixo da solapa, de fonte a fonte, na parte detrás, uma espécie de cabeleira,
de penas de ave amarela, que seria do comprimento de um coto, mui basta e mui
cerrada, que lhe cobria o toutiço e as orelhas. E andava pegada aos cabelos, pena por
pena, com uma confeição branda como, de maneira tal que a cabeleira era mui redonda
e mui basta, e mui igual, e não fazia míngua mais lavagem para a levantar. (...)
Ali andavam entre eles três ou quatro moças,
bem novinhas e gentis, com cabelos muito
pretos e compridos pelas costas; e suas
vergonhas, tão altas e tão cerradinhas e tão
limpas das cabeleiras que, de as nós muito bem
olharmos, não se envergonhavam. (...)
Esse que o agasalhou era já de idade, e andava
por galanteria, cheio de penas, pegadas pelo
corpo, que parecia seteado como São Sebastião.
Outros traziam carapuças de penas amarelas; e
outros, de vermelhas; e outros de verdes. E uma
daquelas moças era toda tingida de baixo a
cima, daquela tintura e certo era tão bem feita e
tão redonda, e sua vergonha tão graciosa que a
muitas mulheres de nossa terra, vendo-lhe tais
feições envergonhara, por não terem as suas
como ela. Nenhum deles era fanado, mas todos
assim como nós. (...)
Parece-me gente de tal inocência que, se nós entendêssemos a sua fala e eles a nossa,
seriam logo cristãos, visto que não têm nem entendem crença algu- ma, segundo as
aparências. E portanto se os degredados que aqui hão de ficar aprenderem bem a sua
fala e os entenderem, não duvido que eles, segundo a santa tenção de Vossa Alteza, se
farão cristãos e hão de crer na nossa santa fé, à qual praza a Nosso Senhor que os
traga, porque certamente esta gente é boa e de bela simplicidade. E imprimir-se-á
facilmente neles qualquer cunho que lhe quiserem dar, uma vez que Nosso Senhor
lhes deu bons corpos e bons rostos, como a homens bons. E o Ele nos para aqui trazer
creio que não foi sem causa. E portanto Vossa Alteza, pois tanto deseja acrescentar a
santa fé católica, deve cui- dar da salvação deles. E prazerá a Deus que com pouco
trabalho seja assim! (...)
CAMINHA, P. V. A Carta. Domínio Público. Disponível em: https://cutt.ly/VJS99wU

Botoque: Peça arredondada de madeira ou osso que alguns povos indígenas,


especialmente os botocudos, usam como enfeite no lábio inferior, nas narinas ou nos
lobos das orelhas.
Originário: Proveniente, oriundo, natural. Nativo, indígena.
Atividade 2
Durante essa atividade vamos contemplar as
seguintes habilidades:

EM13LGG202 Analisar interesses, relações de poder e


perspectivas de mundo nos discursos das diversas práticas de
linguagem (artísticas, corporais e verbais), compreendendo
criticamente o modo como circulam, constituem-se e
(re)produzem significação e ideologias.
Nos trechos selecionados da Carta de Pero Vaz de Caminha é possível observar a descrição
feita dos indígenas, e principalmente, o juízo de valor do autor da carta a respeito de suas
pinturas corporais, cortes de cabelo, botoques utilizados nos lábios, mas, principalmente,
pelo fato dos nativos andarem nus. O olhar malicioso do português ao se deparar com a
inocência indígena fez com que o conquistador pensasse que aquele povo fosse primitivo,
sem fé e/ou cultura.
Os estudantes devem realizar uma curadoria de textos e/ou vídeos sobre o contexto
histórico-cultural europeu no período da chegada dos portugueses no Brasil, pois, assim,
eles compreenderão melhor as impressões causadas pelos nativos nos navegadores. A
civilização estava passando pela transição da Idade Média para a Idade Moderna,
ancorada pelo Renascimento e grande poder da Igreja Católica. Portugal encontrava-se no
auge das Grandes Navegações nos Séculos XV e XVI, expandindo seu poderio por colônias
na Ásia, África e América.
Instigue a reflexão dos estudantes acerca da diferença de valores dado ao corpo pelo povo
europeu e pelos povos originários, além de considerações sobre a cultura e religiosidade.
Quais concepções, perspectivas e questões morais rondavam o conceito de corpo no
contexto estudado?
Agora, vamos dar início a atividade
2, uma boa aula a todos!!!

Você também pode gostar