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QUE ESPANHOL ENSINAR NO CONTEXTO DA

INTEGRAÇÃO LATINO – AMERICANA?

Livro:Gobernanzas para una política de la solidaridad en América Latina

Capítulo 16: Qué español enseñar en Brasil en el contexto de la integración latinoamericana

Autor: Carlos Felipe Pinto (Doutor em Linguística pela UNICAMP), estuda a história e sintaxe do
espanhol na américa e a variação espacial do espanhol.
REGISTRO DO ENSINO DO ESPANHOL NO BRASIL

 Início: segunda metade do século XIX; FASES DO ENSINO DA L.E


 Meados dos anos 80: utilização de métodos  Fase I: Metade do século XIX a 1990;
“tradicionais”, como a metalinguística;  Fase II (1990 a 2005): Implementação de
 Anos 90: Contribuição de González, uso da mudanças;
comunicação no ensino;  Fase III (2005 a 2016): Ensino opcional da língua
 Anos 2000: Mito da “facilidade do espanhol”, nas escolas;
inserção de políticas públicas no meio  Fase IV (2016 em diante): Desobrigação do
educacional; ensino de espanhol no Brasil.
 2016: Revogação da lei 11161.
MERCOSUL E A INTEGRAÇÃO REGIONAL

1991: CRIAÇÃO DO MERCOSUL


 Impulsiona o ensino da L.E como elemento de
integração regional, visto que o Brasil era o único do
bloco onde a língua oficial não é o espanhol;
 Investigação sobre qual espanhol deveria ser utilizado
no ensino;
 Bugel (1999): Primeira investigação acerca do ensino.
 Parte I: Reflexões sobre as noções de língua
evidenciando a necessidade de pensar o
espanhol além da perspectiva política;
Tópicos  Parte II: Considerações a respeito do

abordados no Espanhol
 Parte III: Problemas que envolvem o ensino

texto da L.E no mundo e qual deve ser ensinado.


 Parte IV: Resultados acerca do ensino do
espanhol no Brasil.
 Parte V: Relação entre a diversidade
linguística, o ensino das línguas e a integração
latino- americana.
NOÇÕES DE LÍNGUA E A LÍNGUA ESPANHOLA

 Chomsky (1986): Existência de um senso comum fora das perspectivas


científicas e dentro de perspectivas políticas, associadas à política
Estado- Nação;
 Partindo desse ponto, temos idiomas provenientes da mesma
perspectiva: Holandês/alemão (dialetos mutualmente inteligíveis) e o
mandarim/cantonês, rotuladas de “chinês”, embora sejam dialetos
mutualmente incompreensíveis;
 Desse modo, o autor conclui que a visão científica deve abandonar
qualquer visão política de senso comum.
PERSPECTIVAS CIENTÍFICAS DA LINGUAGEM

Língua - E Língua I Conclusão


 Se refere à língua como um  Se refere à língua em sua  Uma língua política pode
fenômeno cultural, significa acepção cognitiva, ela é pressupor várias línguas (E) e
externa e extensional , ou interna, individual e uma língua (E) pode pressupor
seja, ela é compreendida INTENSIONAL (com “s”), é várias línguas (I), pois cada
como um fenômeno externo um fenômeno ligado a um dialeto, independente da
ao cérebro, e independe das falante particular e consiste perspectiva, ambos passam
propriedades mentais do na descrição de estruturas da por diferentes processos de
indivíduo, sua dimensão é mente humana, a partir da construção histórica.
política, histórica e social. abstração (compreensão e
uso).
Fontanella de Weinberg
(1993) Sendo assim, de acordo com a
conclusão do autor, “falar sobre a
Fontanella nos mostra que não existe língua espanhola no mundo significa ter
oposição entre a Espanha e a América em mente seu amplo e complexo
definidas através do processo de processo de fragmentação dialetal para
colonização e interação com a entender que estamos falando de uma
metrópole, os povos originais e os entidade complexa e multidialetal e não
que chegaram posteriormente. de algo uniforme e homogêneo” (2020,
p. 197).
A DIVERSIDADE DO ESPANHOL DE HOJE

 Proposta de Henríquez Ureña: formula uma teoria para a divisão dialetal do espanhol
americano, partindo das origens indígenas, propondo somente cinco zonas dialetais do
espanhol americano, sendo elas: México e América Central; Caraíbas; Região da Andina;
Chile e Rio Prata.
 Se trata se uma proposta que foi duramente criticada, afinal, não haveriam apenas cinco
famílias de línguas indígenas;
 Ademais, há uma margem de erro na distribuição geográfica, não chegou apenas um
espanhol na América, mas sim, um conjunto de falantes de diferentes variedades.
 Conclusão: O interesse de pesquisa está totalmente voltado em propor zonas dialetais e
não a compreender a complexidade linguística do espanhol americano.
A DIVERSIDADE DO ESPANHOL DE HOJE

Debate de Fanjul (2004):


 Investiga analogias nas variedades do português e espanhol;
 Divide a diversidade de línguas em dois critérios: Objetivos (dados linguísticos
concretos) e Subjetivos (crenças construídas por oradores de si e dos outros).
 Conclusão: No espanhol, não há provas suficientes para que haja essa divisão de
zonas linguísticas, entretanto, não quer dizer que se trata de uma língua
homogênea;
 Os pesquisadores devem ir além do registro da forma linguística, ex: Se o leísmo é
ou não observado, compreendendo seu funcionamento em cada lugar.
1- El español es um idioma homogéneo;
2- El español es uma lengua de cultura de primer
orden;

A proposta de 3- El español es uma lengua internacional;


4- El español es uma lengua geograficamente
Moreno compacta;

Fernández 5- El español es uma lengua en expansión;


6- El dominio hispanohablante presenta um indice
de comunicatividad muy alto y un indice de
diversidad mínimo o bajo.
(Moreno Fernández, 2000: 15-17)
A PROPOSTA DE MORENO FERNÁNDEZ

 Carlos Felipe usa um de seus trabalhos (Pinto, 2009) para discutir a questão da
homogeneidade das línguas em duas perspectivas:
 Caráter normativo da unidade do espanhol e o tipo de língua escolhida para
determinar essa unidade, seja mostrando ou escondendo a diversidade existente.
 Destaca também a importância de considerar a diversidade linguística na escolha
do tipo de língua a ser estudada;
 Discute a necessidade do estudo dos dialetos e a falsa ideia de que os falantes de
espanhol se entendem devido à unidade da língua.
A PROPOSTA DE MORENO FERNÁNDEZ

 Relato de Rona (1993):


 Destaca a heterogeneidade da língua espanhola na América;
 Baseia- se na experiência pessoal de pesquisadores do dialeto hispano –
americano;
 Exemplifica a língua monolíngue na área de Las Tacanas na província de Tucumán,
que é difícil de ser compreendida mesmo por professores nativos da área;
 Conclui que a homogeneidade da língua, não só no espanhol americano, segue
sendo usada para fins políticos.
QUE ESPANHOL ENSINAR?

 Aborda a questão de qual variedade do espanhol deve ser ensinada à medida


que o espanhol se torna uma língua internacional;
 Apresenta diferentes necessidades para o ensino e aprendizado do espanhol,
dependendo da pessoa e do contexto;
 Moreno Fernández (2000), destaca três variedades para o ensino da língua:
 Espanhol de Almodóvar , o espanhol da minha terra e o espanhol da
Disneylândia;
 Embora todas as opções sejam interessantes, ambas recebem críticas por
várias razões.
VARIEDADES LINGUÍSTICAS PARA O ENSINO DE ESPANHOL
COMO LÍNGUA INTERNACIONAL
Espanhol de Almodóvar Espanhol da minha terra Espanhol da Disneylândia

 Escolhe a variedade de  O professor deve ensinar a  É uma norma ideal e genérica


Madrid como a principal, língua baseando-se em sua que não é falada em lugar
mesmo havendo muitas própria compreensão, sem algum, favorecendo ideais
outras. considerar a necessidade dos linguísticos europeus e
seus alunos. ignorando as realidades
linguísticas americanas.
VARIEDADES LINGUÍSTICAS PARA O ENSINO DE ESPANHOL
COMO LÍNGUA INTERNACIONAL

Carlos Felipe apresenta diferentes perspectivas sobre o ensino do espanhol no


Brasil, propostas por diferentes autores:
 A primeira opção é o ensino do espanhol como língua estrangeira, seguindo uma variedade
padrão ou neutra;
 A segunda, é o ensino baseado na diversidade linguística, sem limitação a uma variedade
específica;
 A terceira proposta é o ensino do espanhol como língua franca, resultado da interação entre
falantes de diferentes origens.
VARIEDADES LINGUÍSTICAS PARA O ENSINO DE ESPANHOL
COMO LÍNGUA INTERNACIONAL

O autor também propõe duas zonas de contato linguístico para o espanhol no Brasil:
 Zona de contato direto e contato indireto, onde a escolha da variedade a ser ensinada depende do
objetivo e da proposta de aprendizagem;
 Ruiz (2004) : Adota a variedade usada na área de contato direto para ensinar espanhol nas regiões
fronteiriças;
 Santero (2019): Sua proposta do “espanhol como língua franca” é levada em consideração devido
ao fato de que os usuários da língua formam suas próprias variedades durante a interação.
 De acordo com ele, o espanhol como língua franca não é uma variedade ensinada, mas sim, o
resultado do conhecimento linguístico dos usuários.
VARIEDADES LINGUÍSTICAS PARA O ENSINO DE ESPANHOL
COMO LÍNGUA INTERNACIONAL

O aprendiz brasileiro não precisa adquirir uma variedade única de espanhol


devido ao contato com diferentes falantes e professores.
 A pesquisa de Fontanella (1993) e Tuten (2003), mostra como o contato
linguístico com diferentes variedades pode resultar em mudanças;
 Já as pesquisas de Medina López (1997), mostram que os fatos do
multilinguismo no nível social, são resultados de diferentes processos
cognitivos individuais.
 A criação do Mercosul foi o grande impulsionador
RESULTADOS para o ensino de espanhol no Brasil na década de
1990;
ACERCA DO  Análises foram feitas para verificar se as
ENSINO DO variedades linguísticas adotadas no ensino eram
predominantes na região ou se haviam outras
ESPANHOL NO preferidas por aprendizes professores e materiais;
 As Orientações Curriculares Nacionais para o
BRASIL Ensino Médio (OCEM), indicam que a questão não
é ensinar, mas como ensinar uma língua tão
complexa havendo a diversidade linguística.
BUGEL (1999)
Investiga como os professores de espanhol em São Paulo lidam com a diversidade da língua, tendo consciência
dela, mas acreditando na unidade da língua e preferindo as variedades europeias:

1- Espanhol da Espanha, porque é uma língua melhor de ser trabalhada com o aluno;

2- Prefiro o espanhol da Espanha, acho mais claro e muito mais bonito;

3- Da Espanha, porque é mais clássico;

4- Prefiro o Espanhol da Espanha, porque é o mais puro, pois é a língua – mãe. O espanhol da
América já teve muitas influências de outros povos e costumes;

5- Da Espanha, porque além de ter aprendido assim, penso que é mais sonoro;
BUGEL (1999)
Investiga como os professores de espanhol em São Paulo lidam com a diversidade da língua, tendo consciência
dela, mas acreditando na unidade da língua e preferindo as variedades europeias:

6- Nos livros didáticos vem o espanhol da Espanha, mas vivendo nós na fronteira com o
Uruguai, não podemos ignorar este fato. Devemos apesentar aos nossos alunos as
pronúncias dos dois idiomas e principalmente os modismos;
7- Da Espanha, porque é o único que aprendi até agora;
8- Para trabalhar com as crianças, o da América, porque faz parte da realidade deles;
9- Da Espanha, porque é o mais divulgado nos meios de comunicação em geral;
10- América, pois são essas as pessoas que circulam pela nossa cidade e com elas é que
podemos por em prática os conhecimentos de sala de aula.
(Irala, 2004: 11-12)
SANTOS (2016)

 O trabalho de Santos (2016), avalia o currículo de formação de professores de


espanhol e a percepção dos alunos sobre a diversidade da língua;
 Ela mostra que o currículo não reflete explicitamente a diversidade do espanhol;
 Os alunos acreditam na diversidade da língua espanhola, mas 70% da turma inicial
acredita que o espanhol da Espanha é mais puro;
 Há uma discrepância entre o que os alunos acreditam que deve ser adotado e o
espanhol que eles realmente usam.
SANTOS (2016)

Na pesquisa realizada, a quarta pergunta se tratava da seguinte questão: “Que espanhol


você acha que deve ser ensinado no Brasil?”, com a possibilidade das seguintes respostas:
 A: O da Espanha, por ser a língua mãe
 B: O da América, pela proximidade com o Brasil;
 C: As duas variações devem ser estudadas no Brasil.
 Grupo 1: 50% responderam a opção A, 10% a opção B e 40% a opção C.
 Grupo 2: 20% responderam a opção A, 10% a opção B e 70% a opção C.
SANTOS (2016)

A quinta pergunta se tratava da seguinte questão: “Que espanhol você adota ou adotaria
em sala de aula?”, com a possibilidade das seguintes respostas:
 A: O da Espanha;
 B: O da América;
 C: Uma variedade Neutra.
 Grupo 1: 80% responderam a opção A, não houve respostas para a opção B e 20% escolheram a
opção C.
 Grupo 2: 70% responderam a opção A, não houve respostas para a opção B e 30% escolheram a
opção C.
A maioria dos alunos e professores
prefere o espanhol da Espanha, apesar
de haver uma opinião significativa que
CONCLUSÃO acredita que ambas opções devem ser
ensinadas. A pesquisa mostra que,
mesmo com diferenças de tempo e
regiões, a preferência pelo Espanhol
persiste, devido ao desconhecimento da
diversidade do idioma.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

A proposta do capítulo é destacar as culturas e variedades linguísticas da América Latina nas


aulas de espanhol no Brasil, com a integração regional como objetivo. Para alcança-lo, é
preciso incluir o estudo das variedades regionais do espanhol e não apenas ensinar o padrão
europeu.
Sendo assim, a diversidade linguística deve ser ensinada de forma coerente, para que os
alunos possam negociar significados e construir suas próprias regras na interação com
falantes de diferentes variedades, tornando possível essa integração regional.
FIN
¡Gracias por su atención!

Alumna: Vitória Eduarda Lima De Souza Curso de Letras: Português/Espanhol

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