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PRINCIPAIS

TECNOLOGIAS DE
TRATAMENTO DE ÁGUA E
ESGOTOS

SAULO R.R. MAIA


HISTÓRICO DA CONTAMINAÇÃO AMBIENTAL
EM AMBIENTES AQUÁTICOS COSTEIROS

Regiões costeiras ao redor do mundo estão sujeitas a diferentes


pressões que não são constantes, mas que variam ao longo do
tempo:

Competição pelo espaço físico, devido às disputas geradas pelos


desenvolvimentos urbano, industrial, do turismo, e do tráfego de
pessoas e de transportes que ocasionam uma diminuição do
tamanho e das funções dos ecossistemas costeiros;
HISTÓRICO DA CONTAMINAÇÃO AMBIENTAL
EM AMBIENTES AQUÁTICOS COSTEIROS

Mudanças nas bacias de drenagem ocasionadas por transposição


ou barragens de águas para atender a aumentos da demanda
hídrica, influenciam as vazões naturais de água doce, nutrientes,
sedimentos e poluentes para o litoral (Lacerda et al., 2002);

A poluição ambiental por metais pesados desenvolveu-se a partir


das últimas décadas do século passado tendo o seu máximo entre
1960 a 1970 quando houve um aumento da emissão de metais por
combustão de carvão como conseqüência do desenvolvimento
industrial (Förstner, 1989);
HISTÓRICO DA CONTAMINAÇÃO AMBIENTAL
EM AMBIENTES AQUÁTICOS COSTEIROS

Nas áreas costeiras as fontes de metais pesados estão associadas


a:

•Localização de grandes centros urbanos (através da descarga de


esgotos etc.)

•localização de parques industriais (através de efluentes líquidos,


sólidos e gasosos.); atividade portuária;

•áreas de produção agrícola (associado ao uso de pesticidas,


fertilizantes e agroquímicos);

•bacias de drenagens de grandes rios (através dos quais resíduos


e/ou dejetos, de cidades nas suas margens, são concentrados e
transportados) (Förstner, 1989) .
Tecnologias de tratamento de águas para
abastecimento

O tratamento de águas de abastecimento pode ser definido como o


conjunto de processos e operações realizados com a finalidade de
adequar as características físico-químicas e biológicas da água
bruta, com padrão* organolepticamente agradável e que não ofereça
riscos à saúde humana (Di Bernardo, 2003).

Segundo a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico realizada pelo


IBGE (2002), as tecnologias de tratamento de águas para
abastecimento são classificadas como:

•Convencionais: etapas tradicionais – coagulação, floculação,


decantação e filtração;
•Não-convencionais: filtração direta ascendente e descendente,
dupla filtração e a filtração lenta.

Obs: A simples desinfecção não é mais considerada tecnologia de tratamento para


águas superficiais, sendo aplicada apenas em águas brutas subterrâneas.
Tecnologias de tratamento de águas para
abastecimento
Diferenças entre as tecnologias de
tratamentos de águas de abastecimento

Nas ETAs com filtração direta (inclui-se ascendente, descendente e


dupla filtração), os filtros são as únicas unidades responsáveis pela
retenção de material em suspensão presente na água, enquanto que
ETAs de ciclo completo eles retêm parte do material não removido
nos decantadores ou flotadores.

Por possuir menor número de unidades, as ETAs com filtração direta


levam vantagens sobre as de tratamento convencional do ponto de
vista econômico, já que requer uma menor infra-estrutura a ser
construída e mantida, redução de operação e manutenção, além de
menores dosagens de produtos químicos e menor geração de lodo.
Diferenças entre as tecnologias de
tratamentos de águas de abastecimento

Porém, a filtração direta apresenta desvantagem por ser mais


restritiva à qualidade da água bruta, de modo que nem todas as
águas tratadas por meio de ETAs de ciclo completo podem ser
potabilizadas pela filtração direta.

Do ponto de vista de operação e manutenção, a filtração lenta leva


vantagem com relação as demais, tanto pelo custo quanto à forma
mais simples das atividades, porém, seu emprego não é
recomendado para tratamento de águas brutas com maior
quantidade de matéria em suspensão e substâncias dissolvidas.

A impossibilidade de tratar águas com turbidez e/ou cor elevada e o


curto tempo de detenção da água na ETA, também são apontadas
com desvantagens para o tratamento por filtração direta (Di
Bernardo, 2003).
Como escolher a melhor técnica?

A tecnologia de tratamento deve ser apropriada à água do manancial,


para isto, deve-se conhecer as características da água bruta e de
sua variação sazonal.

Os custos de instalação, operação e manutenção devem ser levados


em consideração no caso da possibilidade de escolher entre duas ou
mais ETAs com tecnologias de tratamento diferentes.

Tem-se observado maior uso do tratamento de ciclo completo no


Brasil, principalmente nos estados das regiões sul e sudeste,
provavelmente em razão das variações mais significativas da
qualidade da água ao longo do ano, com aumentos acentuados de
turbidez nos períodos chuvosos.
Como escolher a melhor técnica?
Já na região nordeste, onde há diversas captações em
açudes, que funcionam como decantadores naturais, a
qualidade da água bruta parece favorecer o emprego da
filtração direta

Também existe a possibilidade de transformação das ETAs de uma


técnica para outra, porém deve-se antes de transformar uma ETA de
filtração direta ascendente ou descendente em ciclo completo
considerar o uso da dupla filtração.

No Brasil não há restrições legais quanto ao uso do tratamento por


filtração direta na água para o consumo humano, o mesmo não
acontece nos EUA e alguns países europeus (Di Bernardo, 2003).
Tratamento de Esgotos
TABELA 10 – Níveis do tratamento de esgotos

Nível Remoção

Preliminar Sólidos em suspensão grosseiros (materiais de


maiores dimensões e areia).
Primário Sólidos em suspensão sedimentáveis;
DBO em suspensão (MO componente dos sólidos em
suspensão sedimentáveis).
Secundário DBO em suspensão (MO em suspensão fina, não
removida no tratamento primário);
DBO solúvel (MO na forma de sólidos dissolvidos).
Terciário Nutrientes; patogênicos; compostos não
biodegradáveis; metais pesados; sólidos inorgânicos
dissolvidos e sólidos em suspensão remanescentes.
TABELA 11 – Características dos principais níveis de tratamento de esgotos
Nível de tratamento
Item
Preliminar Primário Secundário
Poluentes Sólidos Sólidos sedimentáveis; Sólidos não
removidos grosseiros DBO em suspensão. sedimentáveis;
DBO em suspensão fina;
DBO solúvel;
Nutrientes (parcial);
Patogênicos (parcial)

Eficiência da _ SS: 60-70% DBO: 60-99%


remoção DBO: 30-40% Coliformes: 60-99%
Coliformes: 30-40% Nutrientes: 10-50%
Mecanismo de físico físico Biológico
tratamento
predominante
Cumpre o padrão não não Usualmente sim
de lançamento?
Aplicação Montante de Tratamento parcial; MO e SS (mais completo);
elevatória; Etapa intermediária de Nutrientes e coliformes
Etapa inicial de tratamento mais completo. (adaptações)
tratamento.
TABELA 12 – Operações, processos e sistemas de tratamento frequentemente
utilizados para a remoção de poluentes dos esgotos domésticos

Poluente Operações, processos ou sistemas de tratamento

Sólidos em Gradeamento; remoção de areia; sedimentação;


suspensão disposição no solo.

MO biodegradável Lagoas de estabilização e variações; lodos


ativados e variações; filtro biológico e variações,
tratamento anaeróbico; disposição no solo.
Patogênicos Lagoas de maturação; disposição no solo;
desinfecção com produtos químicos, desinfecção
com radiação ultra-violeta.
Nitrogênio Nitrificação e desnitrificação biológica; disposição
no solo; processos físico-químicos.

Fósforo Remoção biológica e processos físico-químicos


TABELA 13 – Porcentagem da população servida por água, saneamento
básico e coleta de lixo em Fortaleza (adaptado do IBGE, 2000).

Nº DE DOMICÍLIOS POPULAÇÃO (%)

Domicílios particulares
526.079 100
permanentes

Domicílios c/ abastecimento
458.819 87,20
de água por rede geral

Domicílios c/ abastecimento
48.984 9,3
de água por poços

Domicílios c/ abastecimento
18.276 3,5
de água por outras formas

Domicílios c/ esgotamento
233.586 44,4
sanitário (banheiro e sanitário)

Domicílios c/ destino de lixo


500.837 95,2
coletado
Reuso das Águas

Alternativa do presente para garantir o futuro.

Reuso é a utilização da água por mais de uma vez, depois de um


tratamento adequado. O reuso planejado da água faz parte de um
programa global encabeçado pela Organização das Nações Unidas e
pela Organização Mundial da Saúde. Esse programa pretende alcançar
três importantes elementos que coincidem com os objetivos da Sabesp:
proteção da saúde pública, manutenção da integridade dos ecossistemas
e uso sustentado da água.

A água de reuso é produzida dentro das Estações de Tratamento de


Esgoto e pode ser utilizada para inúmeros fins, como geração de
energia, refrigeração de equipamentos, em diversos processos
industriais, em prefeituras e entidades que usam a água para fins não -
potáveis.
Biossólido

O biossólido é produzido a partir do lodo - a parte sólida resultante do


processo de tratamento de esgotos. Esse material, rico em
microorganismos, passa por diversos tratamentos e controles de
qualidade, que garantem a sua higienização e eficácia para ser utilizado
como fertilizante.

Tal adubo é rico em matéria orgânica e nutrientes, como nitrogênio e


fósforo, essenciais para o desenvolvimento das plantas e para obtenção
de boa produtividade. Ele foi desenvolvido na Estação de Tratamento de
Franca - SP e teve o reconhecimento oficial, pela primeira vez no Brasil.

A partir desta aprovação, entende-se que o tratamento adequado de


esgotos sanitários não gera somente resíduos, mas produtos
aproveitados em diversas atividades.
Tratamento de esgoto por lodo ativado

O tratamento biológico de esgotos por lodos ativados, consiste


em submeter a matéria orgânica presente nos esgotos A uma
comunidade de microorganismos que são "cultivados" nas
Estações de Tratamento de Esgotos (ETEs), para que
promovam sua depuração (limpeza). O líquido devolvido ao rio
tem cerca de 95% de remoção de sua carga poluidora.

Esses microorganismos utilizados no tratamento são


conhecidos como decompositores. São os mesmos encontrados
na natureza, só que nas estações de esgotos a quantidade é
muito maior, devido às condições favoráveis para seu
desenvolvimento, pois o alimento (matéria orgânica) é
abundante. Esta comunidade de microorganismos é composta
basicamente por bactérias, protozoários e micrometazoários.
O emissário submarino de Fortaleza (ESF)

99% de esgoto doméstico

Vazão máxima de 4,2 m3/s e média de 1,4 m3/s

Estação de tratamento primário que não remove substâncias


tóxicas como os metais pesados. (Consórcio Concremat, 1993)

O sistema de tratamento primário comumente é constituído de


um subconjunto de unidades destinadas à promoção da
separação dos sólidos em suspensão mais facilmente
sedimentáveis e flutuáveis (decantadores primários e
milipeneiras rotativas); da flotação de sólidos em suspensão não
tão facilmente flutuáveis (tanques de flotação); da digestão dos
sólidos (lodos) decantados (digestores primários); e da
secagem dos lodos (leitos de secagem ou prensas) (Gonçalves
& Souza, 1997).
O emissário submarino de Fortaleza (ESF)

A presença dos metais no esgoto doméstico está associado aos


despejos de detergentes (pequenas quantidades), amálgamas
dentários (Hg), tintas (Cd) e alimentos (Cu e Zn) (Sörme &
Lagerkvist, 2002). Além disso, podem receber água do subsolo
através de infiltrações nos dutos, contendo alguns destes metais
que estavam presentes no solo. O emissário também recebe
esgoto de empresas (como consultórios dentários), hospitais e
pequenas indústrias (como de galvanoplastia).
O emissário submarino de Fortaleza (ESF)

Interceptores oceânicos têm se mostrado como uma alternativa


viável para a disposição de rejeitos urbanos em regiões
metropolitanas. De um modo geral, a capacidade de diluição das
correntes marinhas é suficiente para a obtenção da necessária
diluição e degradação dos efluentes de forma a causar o mínimo
impacto ambiental. Entretanto, emissários submarinos são também
fontes de poluentes não degradáveis, que mesmo em baixíssimas
concentrações, podem se acumular em sedimentos de fundo na
área de influência dos interceptores. Dentre estes poluentes
destacam-se os metais pesados (Nriagu & Pacyna, 1988;
ABICLOR, 2001) que, uma vez depositados no sedimento de fundo,
são pouco remobilizados por mudanças biogeoquímicas locais.
O emissário submarino de Fortaleza (ESF)

Concentração de metais em efluentes


Descarga de metais (ton . ano-1)**
domésticos (mg . L-1)*
Mínimo (0,005) 0,2
Cd
Máximo (0,02) 0,9
Mínimo (0,07) 0,3
Cu
Máximo (0,5) 20
Mínimo (0,01) 4,4 x 10-2
Pb
Máximo (0,08) 0,4
Mínimo (0) 0
Hg
Máximo (0,007) 0,3
Mínimo (0,1) 4,4
Zn
Máximo (0,6) 30

* Nriagu & Pacyna (1988); ** Maia (2004)


FIGURA Distribuição de Hg, em ng.g -1, nos sedimentos de fundo ao longo da costa da RMF.

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