Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
5.MUDANÇA
MORFOLÓGICA
Prof. Thomas Finbow
Departamento de Linguística (FFLCH/USP)
A REANÁLISE
Esta aula examina a mudança morfológica, ou seja, adaptações na estrutura
morfológica de itens léxicos e de formas flexionadas, e a evolução de sistemas
morfológicas inteiros.
A REANÁLISE é a forma mais simples em que a mudança morfológica se
manifesta:
Uma palavra que era analisada como um item que apresentava uma determinada
estrutura morfológica passa a ser percebida pelos falantes como uma ocorrência de uma
estrutura distinta da primeira ocorrência.
Biquíni (1 morfema não-analisável) = nome de um atol no Oceano Pacífico onde os Estados
Unidos realizou vários testes atômicos nos anos 60.
→ Reanalisado como uma palavra composta de 2 morfemas:
bi- “ dois” , “ bi-” + quíni “ roupa de banho” , ou seja, uma roupa de banho de duas peças” .
A existência de biquíni estimulou a invenção de outras palavras parecidas:
→ mono- “ um” , “ mono-” + quíni > monoquíni “ biquíni sem a peça superior” .
Lat., minimum = min- “ pequeno” (cf., ingl., minor “ menor” , minus “ menos” ) + -mi-
(superlativo) + -um (desinência flexional).
Miniature (“ miniatura” ) provocou a reanálise de minimum como se a palavra fosse composta
de dois morfemas em lugar de três:
mini- “ muito pequeno” + -mum (flexão sem significado) →
O prefixo novo mini- com o significado de “ muito pequeno” começou a ser acrescentado a
outros substantivos, p. ex., miniskirt “ minisaia” , minicar “ o mini” ...
A METANÁLISE
Artigo indefinido em francês:
(masc.)
Artigo indefinido em inglês: X[œ̃ n] /_+un
#V [œ̃ ] /_+#C
(fem.) une [yn]
a / _+#C x an /_+#V
Árabe: nāranj “ laranja” >
Ingl. med., a naddre “ víbora” > esp. una naranja, ptg., uma laranja →
Ingl. mod., an adder. Ingl. med., a norange [ə'nɒ.ɹɪnʤə],
Fr. med., un norange [œ̃ .no'ɾɑ̃.ʤə] >
Ingl. med., a napron “ avental” >
ingl. mod., an apron. Fr. mod., un orange [œ̃ n.o'ʀɑ̃ʒ],
Ingl. mod., an orange [ən'ɒ.ɹɪnʤ].
Ingl. med., a noumpere “ juiz” ,
“ árbito” > ingl. mod., an umpire. Fr. mod., la licorne “ unicórnio” :
Ingl. med., an ewt “ tritão” , O unicórnio
+ -cornu = Lat., “tard.,
“ chifre” uni- .“ um” , “ uni-”
chifrado”
“ salamandra aquática” > ingl. mod.,
a newt. Fr. med., une unicorne = [yn(ə).y.ni'kor.nə]
> (haplologia)
[yn.i'kor.nə] > une icorne
Ingl. med., an ekename “ apelido” > (+ art. def.) l’icorne [li'kor.nə] >
ingl. mod., a nickname.
la licorne, une licorne.
UM CASO DE METANÁLISE EM BASCO
(Descoberto pelo linguista holandês Rudolf P. G. de Rijk, 1995)
Basco antigo 1: *dan “ agora” .
Com freqüência, o basco forma palavras compostas copulativas (composições dvandva, ou seja,
palavras compostas em que os dois elementos são núcleos do sintagma nominal), p. ex.,
Zuribeltz “ preto-e-branco” , “ alvinegro” (lit., preto-branco). Aitamak “ pais” (lit., “ pais-mães” ).
No basco antigo, qualquer advérbio de tempo poderia receber o sufixo –dik “ de” , “ desde” :
Oraindandik “ de agora” > oraindanik “ a partir de agora” (NB /-nd-/ > (/-nn-/) > /-n-/).
*dan desaparece da língua e, consequentemente, a estrutura morfológica dessa palavra composta se
torna opaca à análise dos falantes por desconhecerem *dan.
Orain + dan + -dik “ agora” + “ agora” + “ desde” > REANÁLISE >
Orain + -danik (radical “ agora” + sufixo “ desde” , “ a partir de” ).
Esse novo sufixo -danik ocorre com qualquer advérbio de tempo: orduan “ então” , iaz “ ano passado” >
orduandanik “ desde então” , “ a partir de então” ; iazdanik “ desde o ano passado” .
A REANÁLISE SEM A PERDA DE ELEMENTOS
A reanálise pode acontecer sem que um dos elementos desapareça.
A evidência que comprova que a reanálise ocorreu deste modo está no ramo
númico das família uto-asteca: {pɨ-} atualmente é o pronome reflexivo padrão (ou
seja, “ se” ). {-nakʷayɨ/}desapareceu.
Por exemplo, o basco antigo não distinguia os pronomes interrogativos dos pronomes indefinidos (isso é bastante comum
nas línguas do mundo).
Nor = “ quem?” e “ alguém” X Zer = “ que?” e “ algo” .
Quando uma dessas palavras era o sujeito de um verbo, o significado indefinido era marcado no verbo pelo prefixo bait-:
“ Quem vem?” = *nor dator? X “ Alguém vem” = *nor bait-dator.
*Nor bait-dator > REANÁLISE > nor-bait dator (prefixo verbal > sufixo pronominal):
nor “ quem?” X norbait “ alguém” , zer “ que?” X zerbait “ algo” .
Inicialmente, é possível que essas novas formas pronominais se tenham flexionado de uma maneira curiosa, p. ex., por
infixação, nor-k-bait e zer-k-bait, mas essas formas atípicas provavelmente fossam reanalisados conforme as normas
flexionais da língua (prefixação e sufixação) para produzir as formas do basco moderno:
Norbait-ek dakar “ alguém está trazendo-o” .
A ANALOGIA
Imaginem que três verbos novos entram na língua portuguesa: zifir, zoter e zaxar.
E os imperativos?
Zif- -iu. - Zif- -iram. - Zife. - Zifi.
Zot- -eu. - Zot- -eram. - Zote. - Zotei
Zax- -ou. - Zax- -aram. - Zaxa. - Zaxai.
E as demais formas?
A técnica pela que vocês conseguem produzir essas formas plausíveis sem esforço algum é a ANALOGIA.
O modelo para a formação desses verbos apresentados acima é tão comum e tão regular que constitui uma regra
da gramática portuguesa, uma das muitas regras que vocês internalizaram ao aprender a falar.
Entretanto, os falantes criam formas (verbais, nominais, adjetivais, etc.) nas quais invocam analogia com um
número mais restrito de formas já existentes, talvez apenas uma dúzia ou duas, ou até uma só forma.
Essa analogia é muito frequente e constitui um processo muito poderoso na mudança linguística em geral, mas
especialmente nas alternâncias morfológicas.
OCTOPUS : OCTOPI, OCTOPODES? OU OCTOPUSES?
A CRIAÇÃO ANALÓGICA EM INGLÊS
Em inglês há uma classe de substantivos derivados do O comportamento do falante:
latim:
Cactus : cacti :: octopus : ...?
Cactus ['kæk.tʊs] “ cacto” .
Radius ['ɹe͡ ɪ.dɪ.ʊs] “ rádio [de um círculo]” . ANALOGIA PROPORCIONAL ou ANALOGIA
TETRAPARTIDA.
Succubus ['sʌ.kjuː.bʊs] “ súcubo” .
Dicĕre : dīxī > dizer : disse e trahĕre : traxī (> *troxī) > trouxe (cf. esp. ant., troxe & esp. mod., traje).
HABĒRE : HABUĪ > haver : houve SAPĔRE : SAPUĪ > saber : soube
Iacĕre : iacuī > jazer : jougue (“ jazi” ) placĕre : placuī > (a)prazer : (a)prougue (“ aprazi” ) →
Credĕre : crēdidī > crer : crove (> crer : cri) Tenere : tenuī > ter : tove (> ter : tive)
Stāre : stetī > estar : estove (> estar : estive) Attribuere : attribuī > atrever : atrove (> atrever : atrevi)
Sedēre : sēdī > seer : sove (> ser : fui)
Ambitāre : ambitāvī > andar : andove (> andar : andei) (cf. esp. mod., andar : anduve ~ andei)
POTERE : PŎTUĪ > poder : pude → e em reação a alternância –(o)der : -ude, surgiram:
estude “ estive” , andude “ andei” , tude “ tive” , conuve (< lat., cognōvī ~ cognvuī) “ conheci”
O PARADOXO DE STURTEVANT
Com frequência, a mudança fonológica regular rompe os
paradigmas flexionais regulares, mas, simultaneamente, as pressões
da analogia tende a manter ou restaurar esses paradigmas regulares.
Isso gera um conflito fundamental entre a mudança fonológica e a
analogia.
Outros exemplos:
Frieren “ congelar” – fror, froren, gefroren,
cf., ingl. mod., freeze, froze, frozen.
Verlieren “ perder” – verlor, verloren, verloren.
cf., ingl. mod., lose, lost, lost (lorn).
Ou seja, o alto alemão antigo “ preferiu” generalizar a variante com /r/ (ou seja, o
radical da reorganização era o pretérito plural e o particípio) e não a variante com /z/
(infinitivo e pretérito singular), como foi o caso com o inglês antigo.
“Contaminação”:
Uma mudança irregular na forma de uma palavra sob a influência de uma outra palavra
com que a primeira está associada de alguma maneira, e.g., male : femelle > male :
female; overt (< fr., ouvert “ aberto” ) e é oxítono. Contudo, covert é só uma variante da
palavra (particípio) covered “ coberto” e, antigamente, era pronunciada da forma
correspondente (ou seja, covered é paroxítono – ['kʌ.vɜd] ~ ['kʌ.vəd] – e covert também
era). Entretanto, o uso frequente dos dois termos como antônimos resultou numa
mudança no posicionamento do acento tônico em covert, que se deslocou para a última
sílaba. Hoje, a maioria dos falantes pronunciam covert como se rimasse com overt.
Ingl. med., “ trono” = trone [troːn] (< fr. < gr., thronos) → ingl. mod.,
throne [θɹə͡ ʊn] (<th> etimológico para indicar a origem grega que a
pronúncia da fricativa interdental veio depois.
Isso pode dar errado, p. ex., author ['ɔːθə] (< fr. ant., autour (> fr. mod.,
auteur), ou seja, não vem do grego, mas, aparentemente, a forma
ortográfica estimulou a pronúncia com a fricativa interdental, embora
nunca tivesse nada do grego.
AS SEIS “ LEIS” DE ANALOGIA DE JERZY
KURYŁOWICZ (1947) [1]
(1) Uma marcação (2) Uma forma DERIVADA é
COMPLEXA substituirá uma adaptada para torná-la mais
marcação SIMPLES: TRANSPARENTE
Alto alemão antigo: FORMALMENTE e
Gast “ hóspede” / gasti especialmente aproximá-la às
“ hóspedes” > gast / gesti. formas simples das quais é
> alt. alem. mod., Gast – derivada:
Gäste (marcação plural
dupla: umlaut + Basco:
sufixação). Basc. ant., ardi “ ovelha” +
Boum “ árvore” / bouma ile “ pêlo” > *ardi-ile “ lã”
“ árvores” (marcação > basc. mod., artile
simples – sufixação) > (analogia) > ardi-ile.
alt. alem. mod., Baum –
Bäume (marcação plural
dupla: umlaut +
sufixação).
AS SEIS “ LEIS” DE KURYŁOWICZ [2]
(3) Uma forma composta (4) Quando uma forma sofre uma
transparentemente de um radical reforma analógica, a forma nova
mais um afixo servirá como modelo ocupará a função primária e a forma
para reformar as formas nas quais a antiga fica apenas em funções
secundárias.
estrutura de radical + afixo não é
transparente. Inglês:
Brother (sing.) / brethren (pl.) >
Basco: (analogia) >
Non / nun (onde?) = [no-], [nu-] Brother / brother + -s “ irmão(s)”
(radical interrogativo) + [-n]
(flexão do caso locativo). Brethren (“ comunidade
monástica” ).
Nonbait / nunbait “ nalgum luga
**” I have two brethren, Michael
r” não termina em –n, cf. neman e Paul” .
“ aqui” , orduan “ então” , etxean
“ na casa” . Hus “ casa” + wif “ mulher” >
huswif “ dona de casa” > hussy >
Basc. ocidental: nunbait > [analogia] > housewife “ dona de
nunbait + -en. casa” + hussy “ moça levada” ,
“ sapeca” (pejorativação
semântica)
AS SEIS “ LEIS” DE KURYŁOWICZ [3]
(5) Para reestabelecer uma DISTINÇÃO DE (6) Uma FORMA NATIVA pode ser
SIGNIFICÂNICA CENTRAL, a língua RENUNCIA uma REFORMADA sob a INFLUÊNCIA de
outra distinção, tida como menos relevante. uma FORMA NÃO-NATIVA,
especialmente se essa variedade for MAIS
Lat. clás., (2ª declinação): Singular Plural
PRESTIGIOSA do que aquela.
O basco possui um sufixo –tasun para criar
Nom., mūrus substantivos abstratos:
mūrī
Bakartasun “ solidão”
Acu., mūrum
mūrōs (< bakar“ sozinho” ).
Edertasun “ beleza”
Gen., mūrī
mūrōrum (< eder “ belo” ).
Dat., Abl., mūrō Mas, o basco também adotou alguns
mūrīs substantivos abstratos do espanhol que
terminam em –dad e –dura e alguns
falantes (muitos deles bilíngues) tem
Mudanças fonológicas regulares resultaram nas seguintes assimilado esses sufixos espanhóis
formas no francês antigo: para formar substantivos abstratos
bascos a partir de radicais nativos em
Singular Plural lugar de –tasun, p. ex., baskardade
. “ solidão” , ederdura “ beleza” .
Lat. clás. Pt. arc. Pt. mod. Lat. clás. Pt. arc. Pt. mod.
3ªp. sg. pres. indic. uĕrtit vɛrte vęrte sĕruĭt sɛrve sęrve
A maioria (mas não todos) desses afixos bascos são tão semelhantes ao
pronome correspondente que fica bastante claro que os afixos derivam
de uma incorporação dos pronomes livres no radical verbal. Os demais
casos são intrigantes, mas e possível que se trate de uma alternação
antiga no radical pronominal que sofreu nivelação até o ponto de
desaparecer.
CLITICIZAÇÃO
O primeiro passo no caminho de morfologização (gramaticalização) é frequentemente a cliticização.
Um exemplo clássico de cliticização é o caso dos pronomes oblíquos das línguas neolatinas.
Latim clássico: Iōannēs librum Mariae dabit.
Latim tardio: Iōannēs illum librum a Mariae dāre habet.
Fr., Jean donnera le livre à Marie. Ptg., O João dará o livro à Maria.
Esp., Juan dará el libro a María. Ital., Gianni darà il libro a Maria.
Latim clássico: Hīc illum illī dabit. Latim tardio: Ille illum illī dāre habet.
Fr., Il le lui donnera. Ptg., Ele lho dará ~ ele dar-lho-á.
Esp., Él te lo dará. Ital., Il le lo darà.
No francês moderno coloquial a função dos pronomes clíticos está se tornando muito
parecida aos marcadores de concordância no verbo para objetos e sujeitos, como há o basco e o
suaíli ou algumas línguas caucásias.
Fr. mod. col., Jean, il te le donnera, le livre. < Fr. mod. form., Jean te le donnera.
A MORFOLOGIZAÇÃO DE REGRAS
FONOLÓGICAS
A morfologização também pode referir à situação em que uma regra
fonológica regular para de ser produtiva de forma que seus efeitos
fiquem restritos a determinadas palavras e formas que estavam presentes
na língua quando a regra fonológica foi ativa.
O inglês medieval tinha sete vogais em pares contrastantes
diferenciados pela duração:
Vogais curtas: /i e ɛ a ɔ o u/ X Vogais compridas: /iː eː ɛː aː ɔː oː uː/.
O RELAXAMENTO TRISSILÁBICO:
Em certas circunstâncias fonológicas, particularmente quando eram seguidas
por dois ou mais sílabas, as vogais compridas se contraíram:
/iː/ > /i/, /eː/ > /e/, /ɛː/ > /ɛ/, /aː/ > /a/, /ɔː/ > /ɔ/, /oː/ > /o/, /uː/ > /u/, p. ex.,
Sane [saːnə] : sanity ['sa.nɪ.tɪ]. Serene [se'ɹeːnə] : serenity [se'ɹe.nɪ.tɪ].
Sign [siːn] : signify ['sɪg.nɪ.fɪ]. Profound [pɹo'fuːnd] : profundity [pɹo'fun.dɪ.tɪ].
Esse processo constituía uma regra que determinava o que era pronunciável em
inglês medieval.
RELAXAMENTO TRISSILÁBLICO (CONT.)
Dois acontecimentos importantes alteraram o sistema vigente do inglês medieval:
(1) Todas as vogais compridas mudaram sua qualidade fonética de uma maneira dramática na
Grande Mutação Vocálica (“ Great Vowel Shift” ):
1a. /i:/ > /ə͡ ɩ/ (...> /ai/) 1b. /u:/ > /ə͡ u/ (... > /au/)
pine /pi:n/ “ pinheiro” (> [pɑ͡ ɪn]). doun /du:n/ “ para abaixo” (> down [dɑ͡ ʊn]).
2a. /e:/ <ee> > /i:/ 2b. /o:/ <oo> > /u:/
gees /ge:s/ “ gansos” > (geese [gɪjs]). goos /go:s/ “ ganso” (> goose [gu͡ ws]).
3a. /ɛ:/ <ea> > /e:/ (... > /i:/) 3b. /ɔ:/ <o(a)> > /o:/ (... > /ə͡ ʊ/)
bead /bɛ:d/ “ bolinha” (> [beːd]). gote /gɔ:tə/ “ cabra” (> goat [gə͡ ʊt]).
4. /a:/ > /ɛ:/
name /na:mə/ “ nome” (> [nɛːm]).
(5. (/ɛ:/ <ea> >) /e:/ > /i:/: [beːd] > [bɪjd]) (6. (/a:/ >) /ɛ:/ > /eː/ > / ͡eɩ/: [neːm] > [n ͡eɪm])
O resultado dessa mudança foi que cada vogal comprida ficou bastante diferente da sua
correspondente vogal curta:
[əɪ] : [ɪ] – [iː] : [e] – [eː] : [ɛ] – [ɛː] : [a] – [ɔː] : [ɒ] – [uː] : [o] – [əu] : [ʊ].
(2) Crucialmente, a regra de relaxamento trissilábico parou de operar na fonologia do inglês. Ao
deixarem de ser aplicada de forma sistemática, as alternações vocálicas passaram a ser variantes
morfológicas que marcam o adjetivo e seu substantivo e que têm de ser aprendidas em cada
instância pelo falante quando o indivíduo adquire a língua.
RELAXAMENTO TRISSILÁBICO MORFOLOGIZADA
Hoje, o resultado da lei de Verbose [vɜ.bəʊs] “ verboso” :
relaxamento trissilábico distingue verbosity [vɜ'bɒ.sɪ.tɪ] “ verbosidad
classes morfológicas: e”
adjetivo/substantivo (vain/vanity,
grave/gravity, sane/sanity), Cone [kəʊn] “ cone” : conical
['kɒ.nɪ.kɫ̩ ] “ cônico”
substantivo/verbo
(pronounce/pronunciation), base/ Mode [məʊd] “ modo” : modify
derivado (grain x granary). ['mɒ.dɪ.fɑɪ] “ modificar”
Sane [seɪn] “ são” : sanity ['sæ.nɪ.tɪ] Profound [pɹə‘fɑʊnd] “ profundo” :
“ sanidade” profundity [pɹə’fʌn.dɪ.tɪ]
“ profundidade”
Profane [pɹə.feɪn] “ profano” :
profanity [pɹə'fæ.nɪ.tɪ] “ profanidade” Pirate ['pɑɪ.ɹət] “ pirata” : piracy
(['pɪ.ɹə.sɪ] >) ['pɑɪ.ɹə.sɪ]“ pirataria” ,
Humane [hjuː’meɪn] “ humano” : “ piratagem”
humanity [hjuː'mæ.nɪ.tɪ] “ humanidade”
Obese [əʊ'bɪjs] “ obeso” : obesity
[ə'bɪj.sɪ.tɪ] “ obesidade”
Grain [gɹeɪn] “ grão” : granular Vain [veɪn] “ vão” : vanity [‘væ.nɪ.tɪ]
[‘gɹæ.njulə] “ granular” “ vaidade”
Grave [gɹeɪv] “ grave” : gravity
['gɹæ.vɪ.tɪ] “ gravidade” Private ['pɹɑɪ.ɹət] “ privado” : privacy
['pɹɑɪ.və.sɪ] (USA) ~ ['pɹɪ.və.sɪ] (UK)
Serene [sə‘ɹijn] “ sereno” : “ privacidade”
serenity [sə’ɹɛ.nɪ.tɪ] “ serenidade”
Grain [gɹeɪn] “ grão” :
Clean [klijn] “ limpo” :
cleanliness ['klɛn.lɪ.nəs] “ limpez granary['gɹeɪ.nə.ɹɪ] (USA) ~
a” ['gɹæ.nə.ɹɪ] (UK) “ celeiro”
(1) Nas variedades ibero-românicas ancestrais do castelhano e nas outras variedades espanhóis, /ɛ/ > [jɛ]
quando foi tônica e continuou sendo /ɛ/ em ambientes atônicos:
Pré-castelhano:
1ª sg. [pɛ́ɾdo] > [pjɛ́ɾðo]. 2ª sg. [pɛ́ɾdes] > [pjɛ́ɾðes].
3ª sg [pɛ́ɾde] > [pjɛ́ɾðe]. 3ª pl. [pɛ́ɾden] > [pjɛ́ɾðen].
Infinitivo: [pɛɾdér], 1ª pl. [pɛɾdémos], 2ª pl.[pɛɾdéis].
[sɛntáɾ], [sɛntámos], [sentáis] X [sjɛ́nto], [sjɛntes], [sjɛnta], [sjɛntan]
Pedra [pɛ́dɾa] > piedra [pjɛ́ðɾa] X pedrero [pɛðɾéɾa].
(2) O /ɛ/ atônico > [e], assim que o fonema /ɛ/ fusionou com o fonema /e/ (e /ɔ/ fusionou com / o/). Assim,
o sistema vocálico do castelhano perdeu uma oposição de abertura entre as vogais anteriores médias
(médias-altas e médias-baixas):
p. ex., esp. mod., /i e a o u/ : ptg., fr., ital. mod., /i e ɛ a ɔ o u/
O fonema /e/ original nunca ditongou (vencér : vénzo, pésca : pescádo).
Então, a motivação pela ditongação se morfologizou. A alternância no espanhol moderno ficou
imprevisível em termos sincrônicos, porque, sem referência à etimologia e a história da língua, é
impossível prever quais instâncias de /e/ ditongam e quais não ditongam quando estão tônicas.
A CLASSIFICAÇÃO LINGUÍSTICA POR
TIPOLOGIA MORFOLÓGICA [1]
Wilhelm von Humboldt (1762 – 1835), Friedrich von Schlegel( 1772-1829).
AS LÍNGUAS ISOLANTES: