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DENTRO –
HISTORIOGRAFIA
AFRICANA
Profª. Crislayne Alfagali (PUC-Rio)
Professor e pesquisador junto ao Departamento de História da Universidade
Cheik Anta Diop, em Dakar, capital do Senegal desde os anos 60, integrante
do Conselho para o Desenvolvimento da Pesquisa em Ciências Sociais na
África (Codesria), participou da elaboração da História Geral da África, obra
cuja tradução para o português foi promovida pela Unesco em colaboração
com a UFSCar, sob a coordenação do professor doutor Valter Silvério.
Boubacar Barry também é notadamente conhecido pela pesquisa sobre Futa
Jalon, região da Guiné-Cronaqui, bem como, pela coleção de documentos e
objetos de memória que organizou sobre a história e cultura dos povos que ali
vivem.
BARRY, Boubacar. “Escrevendo história na África depois da Independência: o caso da Escola de Dakar”. In:
______. Senegâmbia: o desafío da história regional. Amsterdam/Rio de Janeiro: SEPHIS/Centro de Estudos Afro-
Asiáticos, Universidade Cândido Mendes, 2000, p. 35-65.
O PROBLEMA PRINCIPAL?
“O principal problema da África, de fato, é que ela tem uma antiga história, mas o estudo dela
foi engessado por um século de domínio colonial. Ao mesmo tempo, a redescoberta recente
daquela história, nos últimos trinta anos, tem gerado uma vasta quantidade de trabalhos, em
francês e inglês, que a elite, e ainda mais a população em geral, ainda estão longe de digerir.
Ainda assim, um país que para de refletir sobre seu passado está condenado, a longo prazo, a
perder de vista a verdade e andar perigosamente à deriva”, p. 36 e 37.
Nations nègres et cultures de Cheikh Anta Diop em 1955; Compagnie du Sénégal de Abdoulaye Ly em
1958.
https://www.dw.com/pt-002/cheikh-anta-diop-e-a-hist
%C3%B3ria-de-%C3%A1frica-sem-preconceitos/a-42767658
Léopold Sédar Senghor
https://www.dw.com/pt-002/l
%C3%A9opold-senghor-de-
prisioneiro-a-presidente/a-
53744255
A ilha de Gorée, perto de Dacar, no Senegal, serviu por
muito tempo como centro de comércio de escravos.
Mauritânia, Senegal, Sudão Francês (atual
Mali), Guiné, Costa do Marfim, Níger, Alto
Volta (atual Burkina Faso) e Daomé (atual
Benim).
Sob o domínio da França desde o século 17, em 1958 o Senegal, como outros países da África
Ocidental, recusou a independência imediata, no referendo proposto pelo governo francês após a
Guerra da Argélia. O país tornou-se então um Estado-membro da Comunidade Francesa, com
autonomia limitada e dependente da França em assuntos políticos, diplomáticos e militares.
Insatisfeitos com a configuração da Comunidade Francesa criada em 1958, membros das elites
políticas do Alto Volta, Senegal, Daomé e Sudão Francês criaram, no mesmo ano, a Federação do
Mali. Em 1959, solicitaram, em conjunto, a independência ao governo francês. A autonomia
política da região seria finalmente reconhecida pelo presidente De Gaulle, da França, mas a
Federação logo foi dissolvida. O Senegal tornou-se um Estado independente sob a presidência de
Senghor, com apoio francês, em agosto de 1960.
As colônias francesas da África Ocidental pressionaram cada vez mais pela
independência. Quando o parlamento francês aprovou (1956) o loi cadre, que dava uma
grande dose de autogoverno aos territórios africanos, Senghor foi um dos primeiros a se
opor à lei, porque ele sentiu sua ênfase no governo territorial e não no governo federal
na proliferação de pequenos estados inviáveis. Para combater o ato, Senghor ajudou a
estabelecer uma aliança entre a África Equatorial Francesa e a África Ocidental
Francesa que levou à criação, em 1959, da curta Federação do Mali, da qual o Senegal
era membro (junto com o Sudão Francês [Mali], Dahomey [ Benin] e Alta Volta
[Burkina Faso]). Em dezembro de 1959, Senghor fez um apelo eloquente ao presidente
francês Charles de Gaulle pela independência. A Federação do Mali durou apenas até
agosto seguinte, quando seus dois últimos membros, Senegal e Sudão Francês, se
separaram, o Senegal se tornou uma república independente e Senghor foi eleito por
unanimidade presidente.
Negritude, francês Négritude, movimento literário dos anos 30, 40 e 50 que começou entre
escritores de língua francesa da África e do Caribe que moravam em Paris como um protesto
contra o domínio colonial francês e a política de assimilação. Sua figura de destaque foi
Léopold Sédar Senghor (eleito primeiro presidente da República do Senegal em 1960), que,
juntamente com Aimé Césaire da Martinica e Léon Damas da Guiana Francesa, começaram
a examinar criticamente os valores ocidentais e a reavaliar a cultura africana.
(...) Prosseguindo a minha análise, verifico que a hipocrisia é recente; que nem Cortez, ao
descobrir o México do alto do grande técalli, nem Pizarro, diante de Cuco (e muito menos
Marco Polo, diante de Cambaluc), se proclamam os mandatários de uma ordem superior;
que matam; que saqueiam; que possuem capacetes, lanças, cupidez; que os babujadores
vieram mais tarde; que, neste domício, o grande responsável é o pedantismo cristão, por ter
enunciado equações desonestas: cristianismo = civilização; paganismo = selvajaria, de que
só se podiam deduzir abomináveis consequências colonialistas e racista, cujas vítimas
haviam de ser o Índios, os Amarelos, os Negros.
Levantes de escravos ocorreram em 1789, 1815 e 1822. Após a abolição da escravidão em 1848, os
proprietários de plantações importaram trabalhadores da Índia e da China para evitar pagar altos custos de
mão-de-obra. O sufrágio universal foi proclamado em 1848, mas foi abolido sob Napoleão III; depois de
1870, a Terceira República da França restaurou a representação da ilha no Parlamento francês.
Em 1902, a erupção vulcânica do Monte Pelée destruiu a cidade de Saint-Pierre, matando cerca de 30.000
pessoas. Durante a Segunda Guerra Mundial, a Martinica aderiu ao governo de Vichy da França ocupada
pelos nazistas por três anos antes de reunir-se com a causa francesa livre em 1943. Em 1946, a Martinica
recebeu o status de departamento francês e, em 1974, tornou-se uma região.
A política da Martinica no pós-guerra, que exigia mais independência do que Guadalupe, foi
influenciada por Aimé Césaire, o escritor martinicano que foi um dos fundadores do movimento
Negritude. Césaire, eleito pela primeira vez como deputado em 1946, era membro do Partido
Comunista, mas em 1956 ele renunciou e formou seu próprio partido, o Partido Progressista da
Martinica. Em 1957, o partido de Césaire venceu as eleições na Martinica por uma margem enorme,
e parecia que a independência seria alcançada.
Heitor dos
Prazeres
“Em contraste com as ideias de Negritude [Senghor] e com o mundo de língua francesa, ele [Diop] designou
um papel chave para as línguas africanas na aquisição da modernidade. Isso torna fácil entender a
irreconciliável oposição política entre esses dois homens, a excomunhão de facto de Cheikh Anta Diop da
universidade francesa e o fato de que ele foi silenciado na Universidade de Dakar toda a sua vida. Mas no fim
Senghor evitou um confronto cultural com Cheikh Anta Diop, que foi proclamado pelo Festival de Artes
Negras, organizado por Senghor em 1966 para celebrar a Negritude, como o intelectual africano que tinha
deixado as maiores marcas em sua Geração”, p. 43 e 44.
O livro Sundjata ou a epopeia Mandinga no ano de 1960, organizado por Djibril Tamsir Niane, a partir de vários relatos orais,
é uma obra fundadora. Trata-se de um dos primeiros livros organizados para atingir um público de não especialistas e que se
preocupa em contar a história do Mali a partir do próprio Mali.
A obra construída a partir dos relatos de um Griot da aldeia de Djeliba Koro, no distrito de Siguiri, na Guiné.
Sundjata ou a epopeia mandiga ao reabilitar a tradição oral passada pelos griôts constrói uma problemática original, falando
sobre e para os africanos, com a preocupação de reconstruir a história local (no caso a fundação do Mali muçulmano) e de
ensiná-la através de uma obra leve e de fácil leitura para qualquer tipo de leitor, mesmo aquele não familiarizado com o tema.
HOUNTODJI, P.
“Conhecimento de
África,
Conhecimento de
Africanos: duas
perspectivas sobre
Estudos Africanos”.
SANTOS,
Boaventura de
Sousa; MENESES,
Maria Paula. (Orgs.)
Epistemologias do
Sul. São. Paulo;
Editora Cortez.
2010.
Paulin J. Hountondji (nascido
em 11 de abril de 1942 em Abidjan, Costa do
Marfim) é um filósofo, político e acadêmico
beninense. Desde os anos 1970, leciona na
Université Nationale du Bénin, em Cotonou,
onde é professor de filosofia. No início dos
anos 90, ele atuou brevemente como Ministro
da Educação e Ministro da Cultura e
Comunicações no governo do Benin.
SENGHOR, DIOP E LY
“Através de sua poética de negritude, Senghor chamou atenção para específicas
características e contribuição das civilizações africanas. Ao afirmar a existência
anterior de civilizações africanas, Cheikh Anta Diop reivindicou o direito à
história, com uma visão da ressurreição da África em um espírito de unidade. Na
sua história da conexão entre continentes, Abdoulaye Ly apontou para a
dependência da África e a necessidade de romper o pacto colonial”, p. 45.
1960-80 – PROVANDO O VALOR
DA ÁFRICA
“foi essencial provar que a África tinha uma história de valor nos grandes impérios medievais
e que ela tinha sofrido os assaltos, com consequências desastrosas, do tráfico de escravos e da
colonização. Essa história, que glorificava a África e apontava o ocidente como culpado,
produziu uma riqueza de trabalhos tão diversos que é difícil traçar seu caminho através dos
vários temas, motivos e especialmente influências cruzadas”, p. 46.