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A Sociedade Literária e a

Torta de Casca de Batata


“Talvez haja algum instinto secreto nos livros que os leve a seus
leitores preferidos…”
A Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata
A Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata

Romance epistolar escrito em parceria entre a tia Mary Ann Shaffer e a sobrinha
Annie Barrows, publicado em 2008 pela editora Rocco. Marie trabalhou como
editora, bibliotecária e livreira. Ela faleceu meses antes da publicação do livro.
Como surgiu a ideia para este livro?
A ideia para este livro surgiu quando a Mary Ann estava trabalhando em outro
projeto e fez uma viagem para fazer pesquisas. Nesta viagem, ela descobriu que
durante a Segunda Guerra Mundial, os alemães ocuparam as ilhas do Canal. Ela
ficou muito curiosa com esta história, decidiu viajar para estas ilhas, coletou muito
material que só iria ser utilizado anos depois.
A ocupação alemã das ilhas do Canal
A ocupação alemã nas ilhas do Canal

Evacuação dos Invasão e


ilhéus. (25.000) ocupação
alemã.

20/06/1940 30/06/1940

15/06/1940

28/06/1940
Churchill decide
desmilitarizar as
ilhas do Canal. A Alemanha
bombardeia Jersey e
Guernsey. 44 ilhéus
foram mortos.
Evacuação dos ilhéus: cerca de 25.000 pessoas
Escrita de si
A carta, segundo Foucault (2006, p. 149-159), “é algo mais do que um adestramento de si próprio
pela escrita, por intermédio dos conselhos e opiniões que se dão ao outro”, porque “ela constitui
também uma certa maneira de cada um se manifestar a si próprio e aos outros”. Afirma ainda que
ela, a carta, “faz o escritor “presente” àquele a quem a dirige”, porque escrever é “mostrar-se, dar-
se a ver, fazer aparecer o rosto próprio junto ao outro”, ela é, por isso, “simultaneamente um olhar
que se volta para o destinatário e uma maneira de o remetente se oferecer ao seu olhar pelo que de
si mesmo lhe diz”. Por meio dela, “abrimo-nos ao olhar dos outros e instalamos o nosso
correspondente no lugar do deus interior”. Seguindo tal raciocínio, Foucault explica que o trabalho
que a carta opera sobre o destinatário, que também é efetuado sobre o escritor pela própria carta
que envia, implica uma “introspecção” entendida como “uma abertura de si que se dá ao outro”.
Esse tipo de abertura permite, conforme Foucault (2006, p. 152), a “constituição de uma narrativa
de si” que é “a narrativa da relação de si” porque se evidenciam dois elementos que vão se tornando
objetos privilegiados da relação de si, ou seja, o corpo e os dias.
Elementos da Narrativa

Múltiplos focos narrativos/pontos de vista : 25 narradores

1-Juliet Ashton 2-Sidney Stark

3-Sophie Strachan (destinatária)

4-Dawsey Adams (fazendeiro)

5- Susan Scott6- Markham V. Reynolds,

7-Amelia Maugery (relato histórico sobre os trabalhadores imigrantes escravos e as fortificações),

8- Reverendo Simon 10 - Lady Bella Taunton 11, Isola Pribby Notas de investigação da Srta Isola Pribby Não devem ser lidas nem depois de sua morte

12- Eben Ramsey ( relato histórico do desembarque),

13 - Senhorita Adelaide Addison (difamou a sociedade literária, anota a descrição dos personagens e a despedida (Cristamente Preocupada e
Consternada),

14- Clovis Fossey (fazendeiro) 15 - John Booker (um dos fundadores : leu as cartas de Sêneca, segundo ele, um filósofo grego que escreveu cartas para
amigos imaginários, dizendo a eles como deveriam se comportar pelo resto de suas vidas.16- Will Thisbee (funileiro/catador de lixo)

17 Clara Saussey (escritora de um livro de receitas), 18- Eli (criança?), 19 - Alguém que gosta de animais 20 - Sally Ann Frobisher,21 _ Micah Daniels, 22
-Henry A. Toussant 23 _Remy Giraud (conta sobre Elizabeth no campo de concentração) 24 -irmã Cecile Touvier (bilhete), 25 - Billee Bee (telegrama), 26
-James Dominic Strachan,
Temas principais
1- A extrapolação do conceito de leitura como um ato solitário : a leitura apresenta um efeito dominó
como fonte de novas ideias, conhecimento, valor, prazer, mudança de olhar, amizade, transformação
pessoal, relacionamentos…A leitura como dádiva, como um ato de celebração. A ideia de narrar a
história de uma sociedade literária (leitura coletiva) por meio de cartas (a carta é por definição uma
partilha)

2- A ocupação alemã das ilhas de Guernsey e a resistência dos moradores simbolizada pela
personagem Elizabeth.. (ficção histórica)

3- As cartas funcionam como crônicas que descrevem as várias etapas do processo criativo até a
finalização da obra : “ A sociedade literária e a torta de casca de batatas”. Em vários momentos do livro,
as cartas de Juliet são metalinguísticas, apresentam reflexões sobre os seus textos e impressões sobre
o próprio processo criativo e suas sensações.

Exemplo : “Não quero mais escrever este livro, minha cabeça e meu coração não estão mais nele”
O corpo na carta
Em relação ao corpo, esse é um tema recorrente nas cartas. Ele vai desde a descrição “detalhada
das sensações corpóreas, das impressões de mal-estar, das diversas perturbações que se terão
podido experimentar”, até conselhos que se considera úteis ao correspondente assim como
rememorações “de efeitos do corpo sobre a alma” e os respectivos resultados de um sobre o outro e
vice-versa ou ainda a reprodução de “movimento que leva de uma impressão subjetiva a um
exercício de pensamento”. No que se refere ao dia como objeto da narração de si, é possível, pela
carta, apresentar-se ao correspondente relatando seu cotidiano, pois faz parte da prática epistolar
“dar conta de cada um dos seus dias, hora por hora”, passando em revista seu dia, numa espécie
de “exame de consciência”, aludido por Sêneca no início da carta 83, destinada a Lucílio
(FOUCAULT, 2006, p. 132). Essa narrativa epistolar de si próprio que propicia a coincidência do
olhar do outro e daquele que se volve para si próprio serve simultaneamente para um e para o
outro, independente do objetivo da carta: “são préstimos recíprocos, quem ensina instrui-se”
(FOUCAULT, 2006, p. 147).
“A carta na literatura, a literatura na carta, rede de sociabilidade escrita de si”

Convém salientar ainda, conforme Moraes (2007, p. 30), que a correspondência de escritores, artistas plásticos,
músicos

e intelectuais das diversas áreas de conhecimento abre-se para “três perspectivas de estudo”.

1ª : “recuperar na carta a expressão testemunhal que define um perfil biográfico” porque, segundo Moraes,
“confidências e impressões espalhadas pela correspondência de um artista, contam a trajetória de uma vida, delineando
uma psicologia singular que ajudam a compreender os meandros da criação literária”.

2ª: é a que possibilita “apreender a movimentação nos bastidores da vida artística de um determinado período”,

porque “as estratégias de divulgação de um projeto estético, as dissensões nos grupos e os comentários acerca da
produção contemporânea aos diálogos contribuem para que se possa compreender que a cena artística tem raízes
profundas nos ‘bastidores’, onde, muitas vezes, situam-se as linhas de força do movimento”, explica Moraes.

3ª: é a que “vê o gênero epistolar como ‘arquivo de criação’, espaço onde se encontram fixadas a gênese e as

diversas etapas de elaboração de uma obra artística, desde o embrião do projeto até o debate sobre a recepção crítica

favorecendo a sua eventual reelaboração”. Nesse sentido, conclui Moraes, “a carta ocupa o estatuto de crônica da obra
de arte”.
Metalinguagem /Intertextualidade
Cartoon/charges

Diversos autores como : Charles Lamb, Sêneca, charges e cartoons da época.


Punch

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