COMUNIDADE CIGANA PREVENÇÃO DO ABANDONO ESCOLAR A comunidade cigana- Introdução
• Em toda a Europa existe aproximadamente 6 milhões de
ciganos/as (European Commission, 2015). • 40 a 60 mil vivem em Portugal (ACIDI, 2013). Ao longo da História, as comunidades ciganas têm sido aquelas que, porventura, mais têm sido sujeitas à exclusão social. Subsistem sobre elas, ainda hoje, representações e práticas de discriminação que atentam contra os seus direitos fundamentais, restringindo o exercício de uma cidadania condigna (European Commission, 2014; FRA, 2012).
A União Europeia formulou, em abril de 2011, um quadro europeu
para as estratégias nacionais de integração das comunidades ciganas que foram implementadas até 2020, com o objetivo de promover a coordenação de esforços entre os Estados Membros no sentido da diminuição do fosso entre estas e as comunidades não-ciganas no acesso à educação, ao emprego, à saúde e à habitação (Comissão Europeia, 2011). A comunidade cigana- Introdução
Em Portugal, assim como no resto da Europa, os/as ciganos têm sido
impedidos/as de se afirmar como cidadãos/ãs de pleno direito, sendo frequentemente arredados/as do espaço público e confinados/as a um estatuto de marginalização (e.g., Castro, 2010; Dias, Alves, Valente e Aires, 2006; Gomes, 2014; Silva, 2005; Silva, 2014; Mendes e Magano, 2013). Um estudo realizado pela Agência dos Direitos Fundamentais da União Europeia (FRA, 2012), junto de 11 Estados Membros, incluindo Portugal, revelou que a situação socioeconómica dos/as ciganos/as, nas áreas do emprego, da educação, da habitação e da saúde é dramática, sendo pior, em média, do que a situação dos/as não ciganos/ as. Mulheres na comunidade cigana
Com efeito, as mulheres ciganas têm vindo a ser referenciadas, nos
estudos nacionais e internacionais (e.g., Allen, 2012; Casa-Nova, 2006; Cortesão, Stoer, Casa-Nova e Tavares, 2005; Foldes e Covaci, 2012; Fonseca, 2009; Corsi et al., 2010; Magano, 2014; Mendes, 2010; Schneeweis, 2016, Vicente, 2009), como os elementos mais vulneráveis das suas comunidades, quer quando comparadas com os homens ciganos, quer quando comparadas com as mulheres das comunidades não-ciganas. Enfrentam, assim, uma dupla discriminação, a étnica e a de género (e.g., Corsi et al., 2010; Silva, 2005). Mulheres na comunidade cigana
As mulheres ciganas debatem-se com dificuldades que são partilhadas
pelas outras mulheres, numa sociedade que não é intrinsecamente paritária, sendo que entre os ciganos, as mulheres estão ainda muito subordinadas e subjugadas por uma tradição cultural cigana machista (NUNES, 1996: 93; CASA-NOVA, 2009: 556), na medida em que atribui uma valorização maior ao papel social do homem, a par de uma forte submissão que é imposta às mulheres ciganas.
“São virtudes exigidas a uma mulher cigana: casar-se pelo cerimonial
da boda, ser casada uma vez e ser fiel ao marido, viúva não voltará a casar, respeitando a memória do falecido, cooperar com o marido em angariar proventos para a casa, ser trabalhadora.” (NUNES, 1996: 182). Mulheres na comunidade cigana A separação entre homens e mulheres é ritualizada a cada dia que passa por algumas famílias, tornando-se notória nos comportamentos assumidos em público com a constante separação entre homens e mulheres por grupos. No mesmo patamar geracional entre jovens adultos, o primado do homem sobre a mulher pode assumir formas violentas, que incluem: • A exigência do compromisso endogâmico nas mulheres sob pena de serem votadas ao ostracismo; • O controlo da virgindade feminina no ritual nupcial, a exigência da fidelidade feminina mesmo após a morte; • A dominação machista materializada em solicitações assimétricas que têm o valor de ordens, bem como de humilhação simbólica e a agressão física .
(BASTOS et al., 2007: 151)
Mulheres na comunidade cigana
A diferenciação de género emerge desde o nascimento, momento em
que é mais valorizado o nascimento de um rapaz por se entender ser motivo de menos preocupações em termos de vigilância e porque ele pode assegurar a integração de mais mulheres na família e, assim, lhe garantir mais força (NUNES, 1996). Mulheres na comunidade cigana O abandono escolar precoce das mulheres provocado por decisão familiar é um facto social e etnicamente condicionado. A reactualização desta prática tem por base a alegada “tradição” e a suposta “fragilidade” e maior “fraqueza” moral da mulher, suspeitando-se que a sua permanência no sistema escolar só poderá resultar na sua perversão e desvio face ao grupo de origem (CASA-NOVA, 2009). O peso da “tradição” impõe-se sem hesitações e questionamentos sobre as famílias e os indivíduos sentido como algo contra o que não conseguem lutar (MENDES, 2007).
No espaço temporal que medeia o abandono escolar e o casamento, a
mulher prepara-se condigna e atempadamente para a assunção do seu futuro estatuto de “casada” (MAGALHÃES, 2005; LOPES, 2008). Mulheres na comunidade cigana A cultura cigana prescreve às mulheres papéis familiares que as limitam em termos do seu envolvimento na vida política e pública; as mulheres ciganas têm riscos acrescidos no que toca à saúde, relacionados sobretudo com gravidezes precoces e múltiplas; foram, até recentemente e em alguns países, sujeitas a programas de esterilização forçada; têm más condições de habitação, maior sobrecarga de afazeres domésticos e menos oportunidades de integração em empregos locais; têm frequentemente baixas habilitações literárias, possuindo um elevado nível de iliteracia que se deve, em larga medida, ao abandono precoce da escola; são mais propensas à precariedade e ao desemprego e mais dependentes de subsídios sociais; sofrem mais processos de discriminação e são mais vítimas de diferentes formas de violência, nomeadamente de violência doméstica. Mulheres na comunidade cigana
O Estudo Nacional sobre as Comunidades Ciganas, realizado em
Portugal (Mendes, Magano e Candeias, 2014), evidenciou que, em relação aos papéis de género, continuam a verificar-se diferenças entre homens e mulheres, especialmente no que concerne ao contexto escolar, muito embora pareçam estar em curso algumas mudanças nas relações sociais de género, de um modo geral.
• 46.8% dos/as inquiridos/as concordam que as mulheres devem ter
os mesmos direitos e tratamento que os homens, sendo que 32.1% não consideram que os meninos sejam mais importantes do que as meninas. Enquadramento teórico Estado da arte Revisão teórica dos modelos de compreensão Intervenção sobre o tema em análise “O Programa de Intervenção Psicoeducativa com mulheres ciganas Portuguesas”