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MARCELINO FREIRE

CONTOS
NEGREIROS
BIOGRAFIA
M A R C E L I N O F R E I R E N A S C E U E M 1 9 6 7 , N O A LT O S E RT Ã O D E

P E R N A M B U C O . V I V E E M S Ã O PA U L O , V I N D O D O R E C I F E ,
DESDE 1991. ESCREVEU, ENTRE OUTROS, ANGU DE SANGUE

(CONTOS, 2000), ERAODITO (AFORISMOS, 1998 / 2002) E

BALÉRALÉ (CONTOS, 2003), TODOS PUBLICADOS PELA

AT E L I Ê E D I T O R I A L , S Ã O PA U L O . E M 2 0 0 5 , L A N Ç O U C O N T O S

NEGREIROS, O PRIMEIRO PELA EDITORA RECORD. LIVRO,

E S T E , V E N C E D O R D O P R Ê M I O J A B U T I 2 0 0 6 N A C AT E G O R I A
M E L H O R L I V R O D E C O N T O S E TA M B É M P U B L I C A D O N A

ARGENTINA E NO MÉXICO.
PLURALIDADE E ESCRITA

Marcelino Freire, em entrevista concedida a Ramon Mello², afirma que escreve porque gosta de olhar para o outro e que, ao
escrever, preocupa-se em se vingar do governo, do seu pai, da sua mãe e da pobreza. O autor, que é branco, de fato não sabe
como é estar no lugar de um negro. Contudo, demonstra ser um grande pesquisador e, apesar de não ter sofrido racismo, sofreu
preconceitos por ser nordestino, homossexual e de família pobre.
O enunciado de Contos Negreiros dialoga com a realidade do povo negro a partir do momento em que
seu autor, que não passa pelos mesmos preconceitos racistas, faz um profundo reconhecimento do outro e
estabelece uma relação de alteridade imagética, que comprova que discursos se constroem sobre outros
discursos. Somente, então, após essa construção é possível ao autor falar sobre determinado tema que não
o atinge diretamente.Assim, Freire capta para o seu discurso uma voz que não é sua, mas que consegue
transmitir, com menos ou mais intensidade, a violência que é sentida pelo outro. As vozes de seus contos,
oriundas de outros espaços sociais, normalmente são de negros que não acreditam na liberdade que muito
foi discutida após a escravidão. Também, em boa parte de seus fragmentos, as personagens não aceitam
os papéis e os destinos reservados a elas pela bruta realidade.
AUTORIA E RESISTÊNCIA

Com o grande aparecimento de escritores contemporâneos que surgiram para dar voz a si mesmos e aos
outros os discursos periféricos têm sido reescritos para uma nova literatura que busca a todo instante
desconstruir preconceitos e sensibilizar o olhar do leitor para com o outro. Percorrendo esse caminho,
Freire nos mostra que toda tipificação negra carrega em si outros subtipos que também sofrem violência.
Dessa maneira, temos em sua literatura o negro que é gay, o negro que é pobre, a negra que é mulher, e o
negro que é homem, que apresentam um discurso autocrítico de suas situações de vidas.
LUGAR DE FALA
Contos Negreiros fala exatamente sobre vozes que foram e são silenciadas ao longo da história e que nunca
detiveram de privilégios, mesmo que ficcionalmente. O contista rompe com a estagnação literária que por
muito tempo enxergou os negros ocupando postos inferiores e subalternos em suas obras. Ademais, o autor
não expressa em seus contos apenas a vontade de dar voz a esses, mas constrói um novo vínculo entre a
marginalização desses sujeitos e a linguagem. Nesse sentido, se recorrermos novamente ao dialogismo de
Bakhtin, constatamos que as vozes presentes nos contos de Freire também são suas, mesmo que esse não
tenha passado pelas experiências das mesmas, já que “o discurso do outro possui uma expressão dupla: a sua
própria e a do enunciado que o acolhe” (BAKTHIN, 1997, p. 299).
REFERÊNCIA
S
BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal.
Trad. Maria Ermantina Galvão G. Pereira. São Paulo:
Martins Fontes, 1997.
FREIRE, Marcelino. Contos Negreiros (2005). São
Paulo: Record, 2012.

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