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NITERÓI
2005
APRESENTAÇÃO
1
O trabalho do aluno Wilson Santos de Vasconcelos sobre o movimento skinhead,
seus diversos aspectos sociais, culturais e comportamentais constitui um esforço notável de
pesquisa que abrange uma breve história do movimento cultural inglês, suas origens mais
remotas, antecedentes e, ainda, o entrecruzamento destes elementos com o processo de
independência da Jamaica, bem como as imbricações desse processo com a posterior
imigração de negros jamaicanos para a Inglaterra.
O trabalho oferece, também, uma visão panorâmica das questões sociais, políticas e
econômicas internas da Grã Bretanha influentes no fenômeno e arrisca algumas hipóteses
sobre a contribuição destes fatores na formação e difusão da cultura skinhead,
posteriormente, em escala planetária.
2
A monografia do aluno Wilson Santos Vasconcelos, intitulada “Skinheads: o
movimento e suas dissidências” tem o mérito inicial de contribuir para a elucidação da
dinâmica urbana no que concerne à formação de micro-grupos que, na realidade,
constituem os espaços societários por excelência dos jovens de todas as cidades. Além
disso, se debruça sobre uma realidade – aquela vivenciada pelos skinheads – relativamente
pouco abordada em face de outros temas de maior apelo como a questão da marginalidade,
da favelização, da violência, do tráfico de drogas que também operam com grupos de
jovens que exibem identidades e ideologias características de excluídos sociais. As
referências do trabalho monográfico às raízes dos grupos skinheads e sua trajetória histórica
até o presente constituem dados importantes para se perceber não só as características dos
grupos que se diferenciaram no processo de disseminação das ideologias que envolveram
aqueles grupos como da própria fragmentação que ocorreu no processo de desenvolvimento
e que resultou no surgimento de “tribos” de skinheads com práticas sociais divergentes e
mesmo opostas, ainda que todos eles se digam originários do mesmo movimento.Para a
reconstrução do movimento skinhediano tanto no exterior quanto no Brasil, a monografia
apresenta um adequado levantamento de dados e informações provenientes de várias fontes
impressas. Mas também conta com um ingrediente que enriquece sobremaneira o trabalho,
ou seja, a fala de alguns militantes de grupos cariocas – através de entrevistas bem
estruturadas com os chamados “carecas do subúrbio” que evidenciam um bom
conhecimento da cultura skinhead por parte do pesquisador. Inserções de partes da
entrevista no próprio texto, e não apenas entrevistas expostas ao final dele, iluminam as
discussões levadas a efeito durante o trabalho e lhe atribuem uma dinâmica que estimula a
leitura. Com relação aos aspectos teóricos da pesquisa, ao privilegiar algumas instâncias do
contexto skinhediano - como a própria formação dos grupos de skins em oposição aos
valores e comportamentos de outros grupamentos urbanos ou mesmo a ideologias
nacionais, e também a questão identitária inscrita no movimento skinhead, observa-se que
poderiam ter sido tratados com maior profundidade. Isso, porém, não diminui a qualidade
do trabalho que faz jus aos seus objetivos maiores, ou seja, a emergência, trajetória e
expansão do movimento, bem com a proliferação de intra-grupos com ideologias e práticas
sociais que configuram verdadeiras dissidências, quando não grupos em flagrante oposição,
apesar de pretenderem se abrigar todos sob o mesmo manto skinhead.
José Sávio Leopoldi
3
AGRADECIMENTOS
Ao Dr. Marcelo Pereira de Mello, meu orientador, pela paciência e sugestões na revisão do
texto original. À Universidade Federal Fluminense, por propiciar a oportunidade de
aprender e apresentar o presente trabalho.
A minha família pela constante argumentação sobre o assunto. Ao Fuller, Rui e Wilson
Gomes da Silva (Raziel), pela ajuda de coleta de dados. Ao Carlos Alexandre (caçula),
Felipe Rocha (Dino), Mariana (Aisó) Fernandes, à minha namorada Lisis pelo amor,
carinho e paciência para comigo, cada pessoa que por curiosidade demonstrou paciência e a
sapiência de debater comigo sobre o tema.
4
RESUMO
5
ÍNDICE
INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 7
SKINHEAD TRADICIONAL..................................................................................................... 26
SKINHEAD WHITE POWER ................................................................................................... 27
S.H.A.R.P. SKINHEAD AGAINST RACIAL PREJUDICE .......................................................... 30
R.A.S.H. RED-ANARCHO SKINHEADS – SKINHEADS COMUNISTAS & ANARQUISTAS ...... 32
QUEERSKIN (SKINHEAD HOMOSSEXUAL) ........................................................................... 36
CONCLUSÃO..................................................................................................................... 39
6
Introdução
1
A homofobia caracteriza o medo e o resultante desprezo pelos homossexuais que alguns indivíduos sentem.
Para muitas pessoas é fruto do medo de elas próprias serem homossexuais ou de que os outros pensem que o
são. O termo é usado para descrever uma repulsa face às relações afetivas e sexuais entre pessoas do mesmo
sexo, um ódio generalizado aos homossexuais e todos os aspectos do preconceito heterossexista e da
discriminação anti-homossexual. O termo "heterossexismo" não é familiar para muitos porque é relativamente
recente. Só há relativamente pouco tempo é que tem sido utilizado, juntamente com "sexismo" e "racismo",
para nomear uma opressão paralela, que suprime os direitos das lésbicas, gays e bissexuais. Heterossexismo
descreve uma atitude mental que primeiro categoriza para depois injustamente etiquetar como inferior todo
um conjunto de cidadãos
7
A Pré-história do movimento skinhead
A Origem Inglesa
2
Teddy-boys (1953) – Jovens provenientes da classe operária,
organizados em gangues, que curtiam rock-and-roll e considerados
violentos pela mídia, esta por sua vez dava maior projeção ao grupo o
que se difundiu por todo o país.
2
Teddy Boys (ou Teds) surgiram nos anos 50 e se chamavam assim porque Ted é hipocorístico de Edward e
os jovens daquela geração exprimiam sua rebeldia usando roupas no estilo do período eduardiano (início do
século XIX).
8
bem vestidos, em suas lambretas, curtiam o soul americano e o ska
jamaicano. Inimigos dos Rockers.
9
A Influência Jamaicana
Como não havia trabalho na Jamaica, alguns grupos populacionais partem para os
subúrbios operários ingleses, onde se começam a relacionar com jovens britânicos,
sobretudo com os Hard-Mods, pois estes eram apreciadores de Soul.
Contudo, por esta época, o movimento Mod entrava em plena decadência, estes
jovens encarnavam no seu estilo, uma esperança de ascensão social que em breve foi
destruída pela crise.
No final dos anos 60 e início dos 70, a música jamaicana começa a ser difundida na
Grã-Bretanha graças aos hábitos de consumo da populosa comunidade antilhana radicada.
10
Os Mods logo se tornaram freqüentadores habituais das festinhas e botecos ilegais. Isso lhes
davam chance para ouvir os últimos sons e os colocava em contato com os jovens negros.
Além disso, o ska3, que ia aos poucos se transformando no reggae, passava a ser a
trilha sonora desses "hard mods", freqüentadores de bailes onde rolava música da Jamaica.
3
O Ska surgiu na Jamaica em meados dos anos 60. Os habitantes daquela pequena ilha, pouco tinham o que
fazer para se divertir, os rádios sintonizavam muito mau as estações dos EUA e o país sofria com a
colonização da Inglaterra. O povo então desenvolveu um estilo de música com acordes simples e ritmo
dançante que divertia até os ingleses na Jamaica. Apelidou-se, então, este novo ritmo de Ska. Chamado assim
devido ao som que as guitarras produziam "scat, scat". O ritmo contagiou a ilha e rapidamente foi levado à
Inglaterra, acolhido pelos "Gangsters". De lá, direto aos EUA, culminou com o sucesso do ritmo.
4
“Quero todos vocês skins ficando de pé, pondo seus suspensórios e calçando suas botas pra me mostrar
aquele velho passo moonstompin”, letra (trecho falado) Skinhead Moonstomp da banda Symparip.
11
A identidade Skinhead
"O desvio social não é uma qualidade da pessoa que o comete, mas muito mais uma conseqüência da
aplicação, por parte dos outros, de regras e sanções a um ‘offender’”.5
A palavra skinhead6 não teve uso “corrente” antes de 1969, mas moleques usando
botas e cabelo à escovinha eram vistos nos círculos Mods desde 1964. Foram eles os
percussores do movimento skinhead, que veio se delineando lentamente a partir daquele
grupo.
Os Rude-boys eram a matéria de inspiração para o visual. Conta-se até uma anedota
sobre o cantor jamaicano Desmond Dekker7 e o nascimento do movimento skinhead,
segundo versão de Tony Cousins, que dirigia uma empresa promotora de eventos chamada
Creole no final dos anos 60. “Quando trouxemos Dekker, demos-lhe um terno, mas ele fez
questão que fossem cortadas seis polegadas da perna das calças e os garotos passaram a
imitá-lo, enrolando a bainha das calças e cortando o cabelo bem curto”.
5
Becker, Howard. Outsiders. 1985, Paris. Editions A.M. Métailié.
6
A palavra skinhead vem do fato de que você pode ver o “escalpo” do couro cabeludo através do cabelo
cortado rente. O corte à escovinha, em si, não era nenhuma novidade, mas foi a combinação da careca com as
botas que atraiu o rótulo. Alguns dizem que o corte e o nome derivam do padrão americano, comum nas
forças armadas, mas o estilo é bem diferente do corte skin. A versão ianque requer quase nenhum cabelo atrás
e nos lados, e aparado, porém mais longo no alto, tal como usado por Richard Gere em “Breathless: A força
do destino”, 1981. O mais interessante foi que, em 1969, as altas patentes dos Estados Unidos, temendo que
os soldados americanos servindo na Grã-bretanha fossem confundidos com skinheads, permitiram que eles
usassem perucas e apliques quando estivesse de licença.
7
Desmond Dekker foi o primeiro jamaicano a chegar às paradas britânicas com Israelites, em 1969. Na
verdade, o disco tinha sido lançado um ano antes, mas ainda não repercutira fora dos clubes e danceterias de
música negra.
12
A crise econômica no final da década de 60, obriga a Grã-Bretanha a iniciar
processo de transformação e modernização industrial, prejudicando especialmente as
indústrias tradicionais e os empregos que eram gerados. Setores mais frágeis da classe
operária acabaram duramente atingidos.
O movimento dos skinheads pode ser entendido como uma tentativa de reafirmação
quase extrema da postura proletária agressiva e chauvinista. Ao mesmo tempo, o
movimento incorporava elementos tirados da cultura negra dos imigrados.
13
Mas há um outro fator também essencial à evolução do movimento skin, além da
música, que segundo Marshall (1991), tem sido subestimado pelos pretensos estudiosos da
juventude: o futebol.
“Botinadas não são nosso único passatempo. Nós gostamos de reggae, roupas,
futebol e garotas, e também de sermos deixados em paz” (Fuller, skinhead).
A violência no futebol tem sido parte do jogo, mas no final dos anos 60 ela foi
ficando cada vez mais organizada, com batalhas regulares entre torcidas rivais. Nas
arquibancadas os hooligans8 adquiriam status próprio, uniformizando em botas, jeans e
camisa, à semelhança dos Hard Mods.
8
O termo hooligans tem a sua origem ligada ao nome de uma família irlandesa, que viveu em Londres, no fim
do século XIX (Houlihan). Devido às características de violência e de não-sociabilidade de seus membros,
esse termo passou, gradativamente, a designar os jovens que se organizavam em gangues.
14
A aparência limpa podia ser bem vista por pais e patrões, e os próprios garotos viam
vantagem em dispensar o pente. Os pais apreciavam o estilo skin, pois possuía
características de masculinidade e seriedade próprias de homem de trabalho.
Ataque vigoroso aos sindicatos e aos direitos trabalhistas, corrosão acentuada dos
valores tradicionais da classe operária, pelo processo de transformação e modernização que
envolvia a sociedade, crescente “aburguesamento” no futebol, essas são algumas mudanças
significativas no período. Além disso, há uma mudança ideológica no reggae, que começa a
discriminar, cada vez mais, o público de jovens brancos. O reggae começa a servir de canal
exclusivo para que os negros que viviam em guetos urbanos manifestarem seus
descontentamentos.
O tempo não pára para ninguém, e isso vale particularmente para os movimentos
juvenis. Apesar de solenes e afoitos juramentos de permanecer skinhead a vida toda, no
fundo todos sabem que chega a hora de pendurar as botas e suspender os suspensórios.
“Num ano você percorre a feira atrás duma nova camisa; no outro você corre
atrás dum novo emprego e atrás do ônibus. De repente, seu cabelo cresceu e suas
responsabilidades também”. (Bruno, ex-skinhead).
15
Nessa época, o empresário Malcolm Maclaren 9 tirou proveito desse clima social de
desemprego, caos, descrença, violência e lançou a banda “Sex Pistols”, que produziu uma
verdadeira revolução no rock. A primeira apresentação ocorreu em novembro de 1975,
explosivamente; seus integrantes passaram a veicular uma crítica social violenta,
proclamando a anarquia e as lutas contra o imperialismo e a sociedade de consumo,
chocaram a opinião pública por se expressarem violentamente através de palavrões, usarem
a suástica nazista como símbolo da necessidade de destruição do sistema. Segundo os
punks, a suástica preserva sua aparição única e repetidamente porque sua aparição é temida
e evitada.
“Os ‘Sex Pistols’, tornaram-se porta-vozes da crise econômica pela qual passava a Grã-
Bretanha e principalmente, de uma nova atitude cultural e política, que expressa através de
10
um novo tipo de rock, passou a ser chamado de punk. Em inglês, punk significa ‘lixo’,
‘podre’, mas também pode significar ‘estopim’. Um estopim de um barril de pólvora usado
por uma juventude disposta a explodir com o sistema”.(COSTA, 2000).
9
Empresário que a fim de agitar umas festas de escolas de arte e promover sua loja de roupas caras na King’s
Road, chamada Sex, acabou se tornando o legendário empresário responsável pelo surgimento e, segundo
alguns, pelo fim dos Sex Pistols.
10
Engana-se quem pensa que o Punk Rock e o visual marcado por jeans rasgados foi criado pela banda
inglesa Sex Pistols. Já em 1974, muito antes de Malcom McLarem ter a idéia de formar os Sex Pistols, uma
banda de adolescentes tocava no famoso clube CBGB (Country Bluegrass and Blues) de Manhattan, entre
outras músicas, uma chamada "Judy Is a Punk". A banda, The Ramones, definiria nestes primeiros shows a
atitude musical e visual que viria a ser conhecida como Punk Rock. (Revista Rolling Stones, 1983)
16
“O discurso aparentemente prescritivo é uma receita que não da para seguir. A confusão é
positividade enquanto pura atuação, o discurso é mais uma disponibilidade, como à
simbologia, o som, o visual. Trabalham as palavras, desfilam os emblemas, fazem-no
circular”
Punk Brasilis
Graças ao regime militar, o movimento punk no Brasil é tardio. Só aparece por volta
dos anos 80, já no fim da ditadura. Em Belo Horizonte, em 1977, Luis Sacramento e a
Banda do Lixo são os precursores do movimento punk musical. Adotavam a estética e o
estilo musical dos punks ingleses.
“Era super atual, na televisão a imagem dos primeiros punks na Inglaterra mal
começavam a aparecer e na provinciana Belo Horizonte já havia um grupo totalmente
identificado com a nova onda comportamental” (Marcelo, punk histórico e natural).
Aqui, porém, o fenômeno teve um outro rumo; tornou-se mais uma das vozes contra
o governo, há 24 anos no poder. Algumas coisas se mantinham do punk estadunidense,
como a luta pela paz e pela liberdade de expressão.
17
chamavam “Oi!”11, um tanto mais lento que o punk-rock. O “Oi!” tinha a intenção de
congregar skinheads, punks e jovens desempregados, em geral.
O advento do punk rueiro foi a invocação que faltava para o retorno do skinhead12.
Mas o skinhead que voltava não seria o mesmo que o anterior, a não ser pelo nome do
movimento e algumas vestimentas. As bandas punks de rua viraram foco de atenção para a
nova geração de skinheads. Por esse sincretismo de tribos urbanas, a mídia os denominava
de skunk13.
O disco “Oi! The Álbum” deu o pontapé inicial que o movimento Oi! precisava. A
idéia era de promover uma série de encontros para aglutinar o novo público punk e
skinhead em torno de suas melhores bandas.
“Em certos círculos Oi!, a moda skinhead andava em baixa, e em alguns casos o último
vestígio de massa cinzenta fora substituído pelo vasilhame de cola. Sim, tinha skin
cheirando de tudo, desde inalante pra asma até esmalte de unha”.(Marshall, 1991).
11
Segundo Brennan & Pryor, respectivamente baixista da “Business” e dono da Link Records, o movimento
era pra ser chamado real punk, por oposição ao diluído e falso punk da new wave, que sucedeu a primeira leva
de bandas (lideradas pelos Sex Pistols e revitalizada pela Sham69). O nome fazia sentido, por causa da
segunda geração liderada pelo Exploited, que proclamava “Punk not dead!”.
12
Que venha de volta à careca!
Que venha de volta a bota!
Quem a gente não pegar de pau
A gente fode à bala
Somos a nova estirpe
E não vamos morrer
Refrão da música Chãos (Caos) da banda “4 skins” 1980
13
Skunk é um tipo de gambá bem fedorento e, assim como o punk (que significa madeira podre entre outras
coisas), reverte à idéia de porcaria e ainda faz trocadilho com a palavra skin. Musicalmente, a designação se
popularizou entre os jovens por causa da banda “Blitz”, formada meio a meio, por dois skinheads e dois
punks.
18
14
O Comitê Organizador do Oi! passava conteúdo crítico (“Having a laugh and
having a say”), ou seja, a política das ruas e não das urnas ou das cadeiras parlamentares.
PODER BRANCO15
14
O Comitê organizador do Oi! arrolava uns 40 pontos da identidade Oi!, entre os quais: é maior que
qualquer uniforme; saber que ninguém é melhor que você; dizer sim ao excesso; não dar bola pro chefe; não
cheirar cola; não se vestir ou se portar como hippie, “boyzinho” ou “nazistão” bronco; ter orgulho de ser da
classe proletária, mas não de ser explorado; ter orgulho de ser inglês, mas não ser xenófobo.
15
White Power (Poder Branco), banda Skrewdriver, letra traduzida.
19
Abril de 1968, a extrema-direita, sob a sigla de National Front (Frente Nacional),
refletida no discurso de Encoch Powell16, em Birmingham, faz propaganda contra
imigrantes, e apelava em defesa dos cidadãos britânicos de sua cultura, raça e de sua nação.
“Ocorreu uma superposição de três importantes fatores que permitiu à extrema-direita unir
(...) a ‘visibilidade’ crescente da população imigrada; em segundo, as profundas
transformações econômicas que se desdobraram na crise econômica dos anos 70 e que
acabaram abrindo espaço para o governo conservador de Margareth Thatcher; e em
terceiro, uma crise de identidade nacional” (COSTA, 2000).
“É verdade que alguém apoiou as idéias de Enoch Powell, mas você podia achar gente
apoiando o Partido Trabalhista, os Tories (conservadores) ou mesmo os liberais. Um ou
outro gato pingado podia até admitir que os hippies tivessem algo de bom em vez de merda
na cabeça” (Marshall, 1991).
Bandas como a “Sham 69” pressionada pela imprensa musical, grupos de pressão
esquerdista queriam ver a banda participando das gigs17 de RAR18, senão atendesse aos
“apelos” podia dizer adeus a qualquer cobertura da imprensa, qualquer espaço nas rádios,
promoção de shows. Sendo tarde pra recuperar a independência uma vez que o nome da
“Sham 69” tinha estado atrelado às cores da bandeira anti-racista, a militância direitista
recrudesceu em violência nas gigs, em particular na área de Londres, onde o apoio do
National Front e o British Movement era mais intenso.
16
O discurso de Powell profetizava que a Inglaterra seria banhada por “rios de sangue” caso a imigração
africana e asiática não fosse detida. Rivers Of Blood virou título dum clássico do cancioneiro skin, gravado
pela banda Brutal Attack nos anos 80. Enoch Powell tinha sido ministro da saúde antes de se destacar como
membro do Partido Conservador no parlamento. Edward Heath, líder do partido não apoiava seu radicalismo
racista, mas Powell não estava nem aí pras conveniências. Na época do discurso, sua guarda pessoal era
formada por skinheads.
17
Ver glossário
18
RAR – Rock Against Racism (Rock Contra o Racismo)
20
Os skinheads ficavam como fantoches das batalhas políticas cujo foro devia ser o
palanque dos comícios eleitorais, não o palco das gigs.
Como a maioria dos partidos políticos, o National Front tinha várias esferas de
atuação e metas distintas, mas era visto como facção de uma única causa, que podia ser
resumida no slogan: “Se são negros, que sejam mandados de volta” (IF THEY’RE
BLACK, SEND THEM BACK), subtendendo-se aí, a África. A imigração começava a
virar uma questão crucial na política britânica, que passava então a ser capitaneada pela
primeira ministra Margareth Thatcher, apropriando-se da questão racial em seu próprio
benefício.
Ainda nos anos 70, o National Front angariava considerável apoio, principalmente
junto à juventude, e não era só de skinheads que atendiam à convocação às armas feita pelo
partido. Punks, teddy-boys, mods, e todos que passaram a mostrar simpatia pela ideologia
racista.
O breve flerte do movimento punk com o chamado Nazi Chic (espécie de modismo
onde a estética nazista ficava só na aparência e no consumo) tinha provocado uma reação
para a formação da Anti-Nazi League (Liga Antinazista) e seu departamento musical, o
Rock Against Racism. Com a atuação de organizações do National Front mais atuante, as
organizações antifascistas também revitalizavam a fim de fazer-lhe frente, principalmente
em meio à juventude.
A National Front cria a Young National Front (YNF) “Juventude da Frente Nacional”
em fins de 1977, visando “trabalhar” suas bases nas escolas, campos de futebol, festas,
clubes juvenis, que passavam a ser considerados como “áreas de estratégia”, onde a
juventude era considerada uma massa de manobra de ambos os lados.
21
publicando regularmente no Bulldog19 notícias sobre os skinheads como se fossem heróis,
exemplos a serem seguidos. Um partido que não falava “pra você e sim de você”, tratavam
os skinheads como a elite da juventude britânica.
A Liga Antinazista também recrutava os jovens, levando bandas de renome para tocar em
suas manifestações.
“Não que houvesse algo errado com o patriotismo, ainda mais nos círculos skinheads. Os
próprios fanzines existiam como uma forma de manter o movimento unido, mais que
dividi-lo”. (Marshall, 1991).
Os skinheads no Brasil
“Desde o início, por volta de 1981, eles postulavam que pertenciam ao ‘movimento dos
carecas do subúrbio’, o que seria composto por jovens de origem operária, consciente e
20
Redskin é um achado trocadilhesco, jogando com o sentido “tribal” de pele-vermelha e com a imagem de
skinhead comunista pretendida pelo partido, funcionando foneticamente como antítese de skinhead.
23
não-alienados, fortes de corpo e puros de mente, nacionalistas, dispostos a formar um
exército de ‘carecas’ para salvar o Brasil”. (COSTA, 2000).
Os carecas do subúrbio são jovens que vivenciam suas práticas sociais nos espaços
urbanos, articulando-se em torno de certos componentes culturais singulares responsáveis
por lhes conferir uma identidade grupal própria, tendo em vista a busca de sua diferença
diante da pluralidade dos agrupamentos sociais e das práticas culturais “dominantes”.
“Os carecas do subúrbio podem ser vistos como jovens que se organizam em ‘gangues’ e
possuem por objetivo dirigir suas atividades contra alguns valores, normas, símbolos
sociais e culturais da sociedade capitalista, buscando uma identidade grupal que os
diferencie das práticas culturais ‘dominantes’” (EISENSTADT, 1986).
Nos anos 80 e nos 90, no Brasil, uma política recessiva condena ao desemprego
milhares de trabalhadores, emergindo uma juventude pobre de periferia que “não tem
amanhã” e encontra no movimento dos skinheads uma forma de protesto pelo “abandono”
social que sofre pela falta de perspectivas profissionais ou sociais, tendo no racismo contra
o negro, o nordestino e o judeu um alvo para sua agressividade. Vele lembrar, entretanto,
que violência é não só o confronto físico direto, mas também a falta de escolas, de atenção
médica e de um futuro social.
21
A palavra portuguesa violência (como também em outras línguas latinas e mesmo no inglês) vem do latim
“violentia” que significava a “força que se usa contra o direito e a lei” (...) a violência significa o emprego da
24
não se considera um bandido, ou um sujeito violento que sobrevive sem trabalhar
seriamente.
O auge do movimento skinhead foi o ano de 1969, após o qual este entra em refluxo,
com muitos skinheads literalmente pendurando as botinas e deixando para trás uma história
de integração racial e social entre explorados e confusões por motivos como o bairrismo, o
ganguismo, rivalidades futebolísticas e a aversão a autoridades, mas nunca o racismo, o
Skinhead Tradicional
22
22
Este símbolo é um dos mais antigos e tradicionais dos skinheads. Tanto os skinheads neonazistas quanto os
anti-racistas usam o símbolo para representar o esforço da classe trabalhadora. Eles também o usam como
uma comunicação de ameaça de um grupo a outro. SHARPs (SkinHeads Against Racial Prejudice ou, em
português, Skinheads contra o preconceito racial) distribuiu literatura contendo o símbolo a fim de expressar
as dificuldades que enfrentam quando são confundidos com skinheads neonazistas. Em alguns casos, quando
usam uma tatuagem, pode significar que o indivíduo cumpriu pena ou que cometeu homicídio. É uma
imitação de Jesus Cristo na cruz. As runas eram letras do alfabeto escandinavo antigo, com alegados poderes
mágicos.
26
Skinhead White Power
A preocupação dos skinheads tradicionais em manter seu caráter apolítico não era
infundada. O National Front e o British Movement, dois dos maiores partidos racistas e de
extrema direita ingleses nos anos 70 e 80, começaram a incentivar seus membros mais
jovens a adotarem o visual skinhead. Trataram também de seduzir parte dos novos skins,
aflitos com a falta de empregos do período de desastrosa política econômica
governamental. Surge assim, um novo grupo de skinheads: os de direita, nacionalistas
extremados, racistas e fascistas, também chamados de “boneheads” (cabeças-de-osso) ou
“White Power” (Poder Branco), skinheads que defendem a superioridade racial dos
brancos.
27
viabilizar a criação do Estado de Israel. “Eles são um câncer na nossa sociedade. Exploram
os povos e mandam todas as riquezas para um país que há 50 anos nem existia”.
O movimento White Power, contudo, está acuado. Em boa parte isso se deve a
mudanças na legislação brasileira: se antes a Lei nº 7.716 definia o racismo como
contravenção, hoje o considera crime. A isso se soma a proibição de exibição pública de
símbolos nazistas, como a suástica, e a abertura da primeira delegacia contra crimes raciais,
em 1994.
As ações neonazistas, portanto, hoje não vão muito além da distribuição de panfletos,
cartazes e fanzines com suas mensagens. “A gente não sai agredindo pessoas nas ruas,
apenas reagimos quando nos sentimos agredidos”, afirma Rafael (nome fictício), 18 anos.
28
Skinheads - Negro, essa coisa, por exemplo: na cadeia a maioria dos presos são negros,
85%, e nós queremos acabar com essa raça! Nordestinos, eles vêm para São Paulo com
esperança de conseguir um emprego e ficar rico, mas acabam quebrando a cara aqui em São
Paulo, então eles ficam pedindo esmolas nas ruas e, às vezes, roubam para sobreviver.
Judeus são tipos de pessoas, ou melhor, são merdas que merecem morrer mesmo.
Homossexuais, ou bichas, ou prostitutas são pessoas que merecem o desprezo e têm que
apanhar mesmo porque se fossem pessoas de bem não estariam vendendo o corpo.
P. - Por que vocês preferem usar a violência para impor objetivos (ideais) ao invés de tentar
por formas pacifistas como diálogo e panfletagem, por exemplo?
Skinheads - Os skinheads não usam violência para impor seus ideais, não são como
anarquistas imundos que falam coisas que não tem nada a ver.
P. - O que vocês andam fazendo atualmente em termos de ações?
Skinhead - No momento nós estamos dando um tempo. Mas o movimento vai voltar, e
quando voltar vai voltar com toda a força nazista.
P. - O que vocês acham de governantes e similares?
Skinheads - O único governante, ou seja, mestre, foi Adolf Hitler porque, pra mim,
governantes e similares não passam de trouxas.
P. - Vocês têm afinidades com a Ku Klux Klan? Quais?
Skinhead - Sim, em construir um mundo melhor e mantemos contato com os skinheads da
Alemanha, Canadá e EUA.
P. - Como vocês se sentem sendo manipulados pelo governo ao incentivar a violência e
discriminação que os mesmos provocam na sociedade? Afinal, vocês foram manipulados de
alguma forma para aderirem a essa forma ideológica, certo? Pare e reflita.
Skinhead - Sobre essa questão, ou seja, resposta, como você preferir, não passa de uma
pergunta idiota vinda de um anarquista que se acha o dono da verdade, nós apenas lutamos
pelos nossos objetivos, não como vocês que fazem passeatas estúpidas.
P. - Bom, por essa é só, deixo o espaço aberto para qualquer coisa.
Skinhead - Quero deixar bem claro que os skinheads e o poder White Power vão voltar
também, e vão acabar com todos aqueles que estiverem contra o nosso movimento.
Principalmente anarquistas, porcos, punks e roqueiros cabeludos e com aqueles que levam o
nazismo como motivo de brincadeira.
29
S.H.A.R.P. SkinHead Against Racial Prejudice
Incomodados com a mídia, que parecia não querer enxergar a realidade multirracial e
trabalhadora de seu movimento, e revoltados com a presença crescente dos “White
Powers”, muitos tradicionais resolveram assumir uma postura efetivamente combativa e
mais organizada em relação a eles. Surge assim, ao final da década de 80, o SHARP, sigla
em inglês para Skinheads Against the Racial Prejudice (Skinheads Contra o Preconceito
Racial). Preocupados em retomar e fortalecer o chamado “espírito de 69” e em mostrar a
todos seu caráter de integração racial, os SHARP, no entanto, não se identificam
necessariamente com a esquerda ou com o anarquismo, propondo-se apenas como uma
frente de resistência ao fascismo e ao racismo dentro do movimento skinhead, mantendo-o
afastado de partidos ou organizações políticas.
O SHARP (sigla da organização), tinha seu maior trunfo o fato de não ter um
movimento político. Seu único objetivo era dar conhecimento ao mundo de que os
skinheads não eram todos racistas. É verdade que o orgulho de ser americano, ostentando
por muitos skinheads do SHARP, principalmente os que serviam nas forças armadas, veio a
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causar problemas no convívio com as entidades anti-racistas de esquerda, para as quais o
anti-racismo é apenas uma dentre as várias causas a defender.
A idéia SHARP foi exportada para a Europa e para o resto do mundo por Roddy
Moreno24, que tinha sido líder e vocalista duma banda Oi! de Welsh chamada “The
Oppressed”. Logo se fundaram filiais do SHARP na Grã-Bretanha, um largo número de
skinheads.
A despeito do nome, qualquer um que concordasse com o ideal SHARP podia entrar
para a organização. Aquilo acabava virando uma adesão de hippies, punks, etc... Criando
uma espécie de mal-entendido oficializado.
“Ora, se esses tipos todos se opunham ao racismo, tudo bem, mas havia uma caralhada de
outras organizações onde eles poderiam ingressar sem transformar alguns departamentos do
SHARP numa fauna. Teve uma ‘filial’ onde, de meia dúzia de membros só dois eram
skins” (Marshall, 1991).
“Os trads são os skins de verdade, e o rotulo TRADICIONAL só veio depois que veio o
Oi!, junto com as outras vertentes basicamente os SHARP’s dizem que são skinheads
contra o racismo. Qualquer skinhead que se preze e que conheça suas raízes negras não é
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De concreto mesmo existe a constatação de que um dos principais membros da filial SHARP em Santa
Cruz (USA) é um skin apache.
24
Numa visitas aos Estados Unidos para observar e contatar bandas americanas para sua etiqueta
independente Oi! Records, um panfleto SHARP lhe caiu nas mãos e ele resolveu levar a idéia pra a Inglaterra,
embora a direita o considerasse comunista, o slogan de sua gravadora era NEITHER RED OR RACIST (nem
vermelhos nem racista) e queria simplesmente combater o foco da mídia sobre a banda Blood & Honour, que
enviesava a falsa noção de que cada skin era um terrorista neonazista.
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preconceituoso. Portanto, é redundante. Se você é um skinhead você é contra o racismo,
invariavelmente. Não tem como você ser um skinhead e ser racista, sendo que sua cultura
inteira veio dos negros, é contraditório. O trad geralmente não sente a necessidade de se
dizer contra o racismo, já que isso é inerente de uma cultura que surgiu da miscigenação
racial”.
Ao longo da década de 80, muitos tradicionais e SHARP percebem que sua luta
antifascista e anti-racista deveria necessariamente se somar à luta anticapitalista. Assim,
radicalizando seus posicionamentos e ações e assumindo-se como comunistas e anarquistas
esses skins deram início, em 1993, ao RASH, sigla em inglês para Red and Anarchist
Skinheads (Skinheads Anarquistas e Comunistas). O RASH é hoje uma rede internacional,
com seções em vários países de todos os continentes e que, aproximando-o do anarquismo
e do comunismo, pretende extinguir do movimento skinhead o fascismo, o racismo, o
nacionalismo e o preconceito em todas as suas formas.
25
RASH foi oficialmente lançado em 1 de janeiro de 1993 por membros da Mayday Crew (extinta), uma crew
skinhead esquerdista sediada na região de Nova York, com a ajuda de skinheads de Ottawa, Minneapolis,
Chicago, Cincinnati e Montreal.
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Estes são os pontos da unidade de R.A.S.H. Internacional,
todas as seções afiliadas devem aceitar estes pontos:
4) Antifascismo, na visão dos RASH’s, os fascistas são tropas de choque que o capitalismo
utiliza para defender os seus interesses quando a democracia burguesa está impossibilitada
de os proteger, o fascismo usa como armas à xenofobia, o racismo, o machismo e a
homofobia.
6) Contra o racismo, a homofobia e o machismo, acreditam que todos os seres humanos são
iguais, e como tais, dividi-los com fronteiras e classificações artificiais como “raça”,
sexualidade e gênero são um engano. Lutam contra todas as formas de opressão particular.
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7) Anti-imperialismo, a opressão de uma nação por outra faz parte do sistema da
exploração capitalista. O Movimento RASH é a favor da independência das nações
oprimidas, anti-fascistas e esquerdistas e coligações de suas forças, para fazer aliados e
espalhar suas idéias. Realizam manifestações políticas, protestos, foros e as conferencias
como um grupo.
Toda a organização RASH United, procura concentrar as suas ações justamente nos
principais pontos de convergências, sobretudo na luta contra inimigos comuns: o
capitalismo, os fascistas, o preconceito etc. Quanto aos métodos de organização e decisão,
eles seguem os princípios da democracia direta, o que, segundo eles, contempla tanto ao
anarquismo quanto ao marxismo.
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“Perguntem aos Carecas do Brasil o que eles acham do RASH ou de qualquer
skinhead que esteja ligado à esquerda e eles responderão a mesma coisa de
sempre: ‘São corja comunistas e anarquistas’, ‘degenerados, antipátrias e gays’,
‘não são verdadeiros skinheads’, ‘se nós os encontrarmos nas ruas os
espancaremos’ e blá, blá, blá, blá...
Enquanto grupo, somos autônomos e não nos filiamos nem seguimos as diretrizes
ou programa de qualquer partido ou agremiação política. No entanto, os
membros do RASH, individualmente, podem fazer parte de associações desse tipo,
desde que estas, efetivamente, não sejam contrárias aos princípios do anarquismo
e do comunismo. Mantendo sempre nossa autonomia, queremos estabelecer
contatos, organizar eventos e lutas conjuntas com outros grupos com os quais
temos afinidades no que se refere ao combate ao preconceito, ao nazismo, ao
fascismo e àquelas outras posições políticas as quais desprezamos”. (Àcrata,
RASH)
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• Organizar para a autodefesa física dos skinheads de esquerda dos ataques de todos
aqueles que se declaram nossos inimigos.
• Participar como uma força ativa e organizada de skinheads anti-racistas na extrema
esquerda e em movimentos antifascistas.
• Ou, somar tudo com o clássico Oi!. Nossos objetivos podem ser mais bem descritos
como “ter uma risada e ter uma fala” 26
Explode em violência
Gritos quebram o silêncio
“O cara era um viado”,
“O cara era uma bicha”
26
having a laugh and having a say!
27
When Two Men Kiss (Quando dois Homens se beijam), banda Oi Polloi, (trecho da letra traduzida).
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Desumanizado e vivendo com medo
Não, você não é burro,
Mas diz: “Eles são doentes?”
Quais são os estereótipos? Todos os homens gays são efeminados? Skinheads são
masculinos. Homossexualidade é algo marginal das “classes superiores”. Se você é um
trabalhador você trabalha. Skinheads são todos fascistas e homossexuais são todos liberais.
Os skinheads gays não se diferenciam por ideologia política, mas por curtirem estar junto
com outros “carinhas carecas”, com roupa pesada, coturno, ouvir ska, punk rock, oi, tomar
cerveja, praticar lutas, entre outras coisas.
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Perguntei a ele se queria que o mencionasse pelo apelido “Skinzinho”. Pediu-me para que colocasse o nome
dele completo. O nome dele é Márcio Araújo, tem 29 anos, Queerskin.
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P. -Mas como é essa relação? É sexo tântrico?
Márcio Araújo - Não.(risos) Nem um pouco tântrico, na verdade é uma relação normal.
No meu caso não, mas na maioria dos casos existe a necessidade da penetração.
P. - O que você acha das pessoas homofóbicas?
Márcio Araújo - Tenho pena delas. Ainda não tem filhos
P. – Você curte músicas skinheads (ska, oi!, punk rock, soul, etc.)? E como conheceu o
movimento?
Márcio Araújo - Não tenho nada a ver com o movimento. Uns anos atrás assisti um filme
que mexeu bastante sexualmente comigo, se chama “Skin Flick” (Filme pornô skin, a
tradução é mais ou menos “tapinha de leve no careca”).Conheci o movimento dos
Queerskin por aí, mas foi o fetiche pela estética e comportamento que me chamaram mais a
atenção.
P. – Nunca leu sobre o movimento?
Márcio Araújo - Em alguns sites sim, mas não simpatizo em nada, apenas pela estética. E
pra ser um (skinhead) tem que ao menos curtir o som então eu não sou, pois eu detesto.
Alguns amigos meus escutam ska, mas eu só escuto eletrônico industrial.
P. – Que tipo de vestimenta você usa dos skinheads? Você pode citá-las?
Márcio Araújo - Curto toda a indumentária, calça 501, camiseta (branca ou preta),
suspensórios (couro ou elásticos) e coturnos, ou bota de boxe.
P. – Você curte luta?
Márcio Araújo - Adoro boxe, ta aí minha parte skinhead straight (original). Por que os
Queer não curtem lutas, só gostam de malhar.
P. - As pessoas no seu meio (do esporte) o rotulam?
Márcio Araújo – Claro, elas tem necessidade disso, tem que por um nome no que não
conhecem direito, fica mais fácil pra elas identificarem e entenderem. Mas me rotulam
apenas de skinhead
P. - Para definir toda a sua vida em uma frase como você se definiria?
Márcio Araújo. Sou movido apenas por sexo e afetividade
P. – Você é usuário de drogas?
Márcio Araújo – Uso
P. – Que tipos e por que você usa?
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Márcio Araújo – Maconha e cocaína (as ilícitas), cafeína, álcool e calmantes (lícitas).
Depende da droga e da situação, cada uma tem a hora certa e o motivo certo pra usá-la.
P. – Você é uma pessoa depressiva?
Márcio Araújo - Um pouco, digamos que me sinto meio oprimido pelo mundo em geral.
P. – Que tipo de mundo você deseja? Existe um mundo ideal para você?
Márcio Araújo - Sem rótulos, preconceitos e principalmente sem dinheiro, mas isso seria
utopia.
“O nobre se torna nobre na medida em que se torna agente de uma atividade nobre: a
política. Não é o nobre que faz política, mas é a política que faz o nobre, assim como o
hábito faz o monge, a farda faz o militar, o trabalho define o trabalhador, e a vestimenta
define o skinhead”.(Márcio Araújo, Queerskin).
Conclusão
Punks, skinheads são produtos dessa sociedade de massa sem territórios, criada pelo
capitalismo que procura submeter tudo à lógica implacável. Um mundo desenraizado,
cosmopolita produz pessoas desenraizadas nas grandes metrópoles modernas. E a cultura de
massa contribui para esse desenraizamento.
29
Elder, G.H.J. "The life course". Encyclopedia of Sociology, edited by E.F. Borgatta and M.L. Borgatta,
1120-1130. New York: Macmillan, 1992
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“O indivíduo, a identidade, a história e a cultura não se situam apenas a nível grupo, da
classe, da nação e, apesar de não perderem a fisionomia original, eles ultrapassam fronteiras
e situam-se além da sua ‘terra natal’” (IANNI, 1992).
A mídia sendo responsável pela retratação dos skinheads como sendo animais
irracionais, extremistas fanáticos, o que reforça a idéia de que ser skinhead tem que ser
fascista ou então antifascista irredutível, sem nuances, sem a sutileza de um grupo social
formado basicamente por adolescentes.
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Como se observou o movimento skinhead oscila entre posições de direita
nacionalista, racista, e posições libertárias. Encontrando, às vezes, indivíduos que se
autodenominam anarquistas e, ao mesmo tempo, nacionalistas. Racistas somente em
relação a negros ou judeus; no restante, proclamam-se democratas. Observou-se a
influência de partidos políticos em determinadas bandas skins e, por conseguinte, a
influência da banda sobre seus fãs em seu discurso político nas gigs.
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Glossário Skinhead
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Loud-fast= Ritmo mais rápido que o hardcore e o trash. As músicas curtíssimas, duram até
12 segundos
Trash= Ritmo rapidíssimo, numa escala de aceleração crescente coloca-se entre o hardcore
e o loud-fast.
Treta= briga
Sieg Heil = Siga o raio..Viva a Vitória!
DOC= Discipule Of Christ
88= Heil Hitler; Uma vez que a letra "H" é a 8ª letra do alfabeto.
14 = Significa as 14 palavras, que são: “Nós devemos assegurar a existência de raça e um
futuro para as crianças brancas”.
69 = Espírito de 1969, skins tradicionais...
77 = Anarco punks
311= ku klux klan . Como o "K" é o numeral 11. 3 vezes o 11 = kkk
Oi polloi= Homem comum (grego); oi polloi, “os muitos”, de onde vem nosso termo poli.
O grego diz, da democracia, que ela é o regime dos muitos. Curiosamente, hoje oi polloi é
um termo muito utilizado na crítica cultural inglesa, mais, aliás, do que na norte-americana.
Quando alguma obra é dirigida ao grande público, diz-se que vai para oi polloi. Seria uma
arte de recepção demótica, popular.
Gigs = Festas, shows, eventos.
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Referências Bibliográficas:
CAIAFA, Janice. Movimento punk na cidade. A invasão dos bandos sub. Rio de Janeiro,
Zahar, 1985.
Fanzines pesquisados
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