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com/
Capa: Axills
Revisão e Formatação:
Alessandra Bertazzo
Produção Editorial:
Samuel Achilles
2011
Trovart Publications
APRESENTAÇÃO.............................................................................................. 3
AMOR É FOGO QUE ARDE SEM SE VER ................................................ 5
SONETO DA FIDELIDADE ............................................................................ 6
PREFÁCIO .......................................................................................................... 7
CAMÕES & VINÍCIUS: DO SÉCULO XVI AO SÉCULO XX ...................8
OS POEMAS - ESTUDO TEMÁTICO E ESTRUTURAL ........................... 14
A BUSCA DA INTERTEXTUALIDADE ....................................................... 23
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................ 28
(Vinícius de Moraes)
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“exílio”.
Desse modo, é possível dizer que a temática da lírica camoniana se
distribui com base em três motivos fundamentais: “o amor, o exílio e o
conflito entre a formação acadêmica e sua experiência individual”, os quais,
algumas vezes, se confundem entre si. (CUNHA; PIVA. 1980, p. 7)
Sua lírica, ou de maneira geral, toda sua poesia que fala do amor e
seus atropelos, é o ponto culminante de uma tradição que surgira no
final da Idade Média e que ele renovaria. Poeta genial, Camões
influenciou direta ou indiretamente a poesia amorosa de língua
portuguesa. Seu impacto ecoou no Barroco, no Arcadismo, no
Romantismo e até no Modernismo. Os sonetos de Vinícius de
Moraes, por exemplo, tanto quanto a ironia amorosa de Drummond
de Andrade, manifestam a herança camoniana. (...) E tão
profundamente Camões se embebeu de sua época que conseguiu
não apenas exprimi-la, mas transcendê-la, tornando-se paradigma
para as gerações e épocas posteriores. (RODRIGUES, 1998, p. 7-8)
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características notavelmente camonianas em seu lirismo amoroso, mesmo
havendo um intervalo de quatro séculos entre eles.
Não se pode negar que muita coisa mudou durante todo esse
tempo, e portanto, vamos encontrar Vinícius de Moraes (o poetinha), apelido
carinhosamente dado pelos amigos e colegas de ofício já em pleno século XX
(época em que se deu um importante movimento de renovação artística e
literária no país, a Semana de Arte Moderna de 22), desenvolvendo suas
atividades não só literárias, mas também de compositor, já que foi também
autor de grandes canções que fizeram e fazem sucesso na música popular
brasileira.
No entanto, são nos sonetos que encontrar-se-á toda a intensidade de
seu lirismo amoroso e a retomada do estilo camoniano não só no que diz
respeito à construção do soneto, mas principalmente na temática, numa
época em que a Literatura Brasileira passava por grandes renovações e
poetas como Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade e João
Cabral de Melo Neto defendiam uma poética avessa ao sentimentalismo e
centrada em elementos da realidade exterior, além do uso da forma livre, o
que não impediu que os dois primeiros cometessem os seus sonetos e que tal
composição poética surgisse revigorada.
Nesse sentido, pode-se dizer que Vinícius representou de certa maneira
uma oposição ao que estava em moda na época, uma vez que trazendo
elementos não só da época camoniana, mas também do Romantismo,
Simbolismo e Parnasianismo para a sua poesia, devidamente combinados
com “a liberdade, a licença e o esplêndido cinismo dos modernos”, tornou-se
“uma força criadora de natureza sem precedentes em nossa Literatura”,
conforme afirmou o próprio Manuel Bandeira. (in COUTINHO, 1987, p. 711)
Desse modo, é possível identificar na obra de Vinícius de Moraes duas
fases distintas, assim classificadas pelo próprio poeta: a fase do sublime e a
fase do cotidiano. Na primeira fase, mais voltada para a reflexão pessoal e ao
lirismo amoroso, o poeta demonstra uma preocupação de ordem religiosa
vinculada a uma consciência torturada pela precariedade da existência, o
que o leva a buscar a transcendência mística, inspirando-se na tradição
bíblica.
Mais tarde o poeta incorpora em sua poética um intenso sensualismo, o
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qual entrará em conflito com esse sentimento religioso tão fortemente
cultivado. Além disso, os versos ganham em liberdade expressiva e
extensão, simbolizando, pode- se dizer assim, o alargamento do próprio “eu”,
na expectativa de superar as contradições matéria/espírito e
humano/divino. Nessa altura, a figura feminina já começa a ganhar seu
espaço na poesia de Vinícius, passando a ocupar um lugar primordial.
Assim, inicialmente ela será envolta numa aura de misticismo,
“transformando- a num ser superior, de onde provém e para onde
convergem todas as formas elevadas de existência; com isso atribui ao amor
a condição de experiência-limite, capaz de resgatar o homem de sua
precariedade”. (MOISÉS, 1980, p. 93)
Tal concepção remete imediatamente ao platonismo amoroso presente
na poética de Camões, caracterizado por uma profunda idealização da
mulher, além do amor espiritual cultivado pelos românticos, combinados
com a presença do sensualismo e erotismo, mas não no sentido de perdição
da carne e sim como dimensão integrada aos apelos espirituais, em invejável
harmonia, o que lhe confere inegável autonomia e originalidade.
Segundo, Otto Lara Rezende, seus sonetos:
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OS POEMAS - ESTUDO TEMÁTICO E ESTRUTURAL
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humano que se dispõe a refletir sobre o amor.
Pode-se caracterizá-lo como um poema reflexivo, já que o poeta
apresenta uma visão racional do sentimento amoroso, apoiada nas tentativas
de definição e na teoria de Platão, segundo a qual o amor eleva o ser humano
de alguma forma a um plano superior, ou seja, concebido como uma
experiência metafísica de caráter espiritual, provando a universalidade e a
eterna complexidade do sentimento.
O que se percebe, no Soneto da Fidelidade, de Vinícius de Moraes, além
do fato de também ser escrito em versos decassílabos, como o poema de
Camões, é que também versa sobre o amor. E desse modo, já nos primeiros
versos, o eu-poético através da expressão “de tudo”, indica o grau de
importância do sentimento em sua existência, subentendendo-se que todas
as outras coisas passarão para segundo plano, conforme demonstram os
versos da primeira estrofe:
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acrescenta: “que mesmo em face do maior encanto / dele se encante mais
meu pensamento”. Pode-se inferir nesses versos, que mesmo que o eu-poético
já esteja completamente envolvido pelo sentimento (pelo encanto da alma e
dos sentidos que ele proporciona), que ele (o amor) continue a encantá-lo
cada vez mais, ou seja, que não perca nunca o encanto, o êxtase que
provoca na alma humana.
Assim, o eu-poético continua a expressar o seu desejo, na segunda
estrofe:
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Aqui, já depois de passada a experiência, num futuro distante, “quando
mais tarde”, o procurem “a morte, angústia de quem vive”, expressando
antítese ou “a solidão, fim de quem ama”, as conseqüências mais trágicas da
existência humana, o eu-poético, mais sereno e conformado com os
desígnios do sentimento amoroso, possa de certa maneira, consolar a si
mesmo, conforme expressam os últimos versos do soneto:
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“abba/abba/cde/cde”, sendo este estruturado da seguinte maneira:
“abba/abba/cde/dec”. É possível ainda observar uma variação de rimas
pobres (momento – contentamento, ambas as palavras, substantivos, nos
versos 5 e 8) e rimas ricas (ama – chama, verbo e substantivo,
respectivamente, nos versos 11 e 13), tal como ocorre no soneto de Camões.
A fim de conferir musicalidade e sonoridade aos versos do soneto,
percebe-se na construção deste a semelhança de letras nos vocábulos que
rimam entre si, classificadas como rimas consoantes (atento,
pensamento, momento; tanto, encanto, canto) e a assonância da vogal “e”
(em negrito, ao longo do poema) tal como ocorre no soneto de Camões.
Os tipos de rimas utilizadas na construção do soneto, servem não só
para conferir musicalidade, mas também ritmo e expressividade à mensagem
que o poeta quer comunicar, isto é, a exaltação do sentimento amoroso a
partir de seu raciocínio ou o projeto do amor e suas conseqüências, as quais,
segundo Camões, apesar de tudo, causam “nos corações humanos amizade”,
mesmo sendo “tão contrário a si o mesmo Amor”.
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A BUSCA DA INTERTEXTUALIDADE
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lançado no século XVI e que, no entanto, permanece mais atual do
que nunca, já que o sentimento amoroso está acima da capacidade de
compreensão do ser humano, residindo justamente aí o seu fascínio e o seu
mistério.
E segundo o próprio poeta, recorrendo a todo o lirismo que impregna
sua obra, em um de seus muitos poemas:
Então cada imagem – a chama que diz o ardor de Eros, o arroio que
lembra o tempo em fuga, ou a terra fria sob a qual jazerão os
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Ensaios Literários – Volume I
amantes – nos revelará um sentimento delicioso e pungente, o
sentimento que chamou o poeta e os seus leitores para um presente
denso, único, irrepetível, embora a sua aparência possa coincidir
com as mil e uma versões que do mesmo tema deram poetas de
outros tempos e lugares. BACHELARD (apud BOSI, 2003, p.45).
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remetem imediatamente à Camões e suas concepções de amor.
Desse modo, percebe-se a estreita ligação que há entre os dois sonetos,
pois Camões ao tentar definir o amor dá a Vinícius a oportunidade de
desenvolver um raciocínio, no qual concebe um projeto de realização da
experiência amorosa e as conseqüências de tal experiência, as quais
abrangem o questionamento de Camões acerca da conformidade em relação
ao caráter contraditório do sentimento “nos corações humanos”.
Muitas leituras mais ainda poderiam ser feitas a partir das definições de
Camões, uma vez que até hoje ainda não se descobriu realmente o que é o
amor, nem mesmo depois de passados quatro séculos, o que o torna sempre
uma fonte inesgotável e contínua de especulações científicas e filosóficas. E
embora, tantos poetas já tenham se “atrevido” a entendê-lo, ainda hoje
nenhum soube explicá-lo, nem mesmo Vinícius.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Ensaios Literários – Volume I
Nesta obra discute-se a intertextualidade
entre os sonetos Amor é fogo que arde sem se ver,
de Luiz Vaz de Camões, poeta classicista do século
XVI e Soneto da Fidelidade, de Vinícius de Moraes,
poeta modernista do século XX, uma vez que
ambos se utilizaram largamente dessa forma de
composição poética em suas obras.
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