1 Olha , Marlia, as flautas dos pastores, Que bom que soam, como esto cadentes !

Olha o Tejo a sorrir-te ! Olha no sentes Os Zfiros brincar por entre as flores ? V como ali, beijando-se os Amores Incitam nossos sculos ardentes ! Ei-las de planta em planta as inocentes, As vagas borboletas de mil cores ! Naquele arbusto o rouxinol suspira, Ora nas folhas a abelhinha pra, Ora nos ares sussurando gira : Que alegre campo ! que manh to clara ! Mas ah! Tudo o que vs, se eu te no vira, Mais tristeza que a morte me causara. 2 Quem se v maltratado, e combatido Pelas cruis angstias da indigncia Quem sofre de inimigos a violncia, Quem geme de tiranos oprimido: Quem no pode ultrajado, e perseguido Achar nos Cus, ou nos mortais clemncia, Quem chora finalmente a dura ausncia De um bem, que para sempre est perdido: Folgar de viver, quando no passa Nem um momento em paz, quando a amargura O corao lhe arranca e despedaa? Ah! S deve agradar-lhe a sepultura Que a vida para os tristes desgraa, A morte para os tristes ventura.

1) Por todo o poema se evidencia a 'construo' neoclssica, e justamente por esse resgate de elementos da arcdia mitolgica(bucolismo, contemplao da natureza) para a formao do locus amoenus que artificializa o fazer potico, que afasta o poema de sua poca e de seu criador, que faz o poeta limitar o seu dizer potico em prol de um conjunto de regras, pensadas como superiores poca. A volta ao campo, em plena efervescncia das cidades, ou seja, a negao da realidade por um ideal de vida julgado superior, torna o poema(diante do contexto histrico) um exerccio puramente literrio, um refgio, um sonho, longe das reais inquietaes do poeta, que aqui se mostra como mero praticante de uma ordem esttica. 2) Este poema, da fase madura de Bocage, j no apresenta a ornamentao rcade, aqui o poeta se mostra como dor que disseca o seu prprio desepero, chora pela falta de todo e qualquer amparo perante as desgraas que a vida lhe trouxe. Essa falta de fundamento, que surge depois da descrena em qualquer ideal superior vida, expressa a angstia do eu lrico, para quem a morte talvez seja o nico destino diante do sufocamento que a vida tem lhe causado. Essa perda do ideal, to necessrio ao arcadismo, o simbolo da ruptura de Bocage com os preceitos neoclssicos, aqui no h um outro ideal(a ser colocado no lugar do antigo rcade) que sustente o eu lrico, no h mais esperana, apenas conflitos, a morte como destino, a aparece um dos traos principais do que viria a ser o romantismo. Diego Kehrle Sousa