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UNIDESC – AULA DO DIA 05/03/2009


Curso: Matemática e Sistema de Informação
Disciplina: Leitura, Interpretação e Produção Textual
Turma: I Período
Professora: Nívia Maria A. Costa
ATIVIDADE INDIVIDUAL do dia 14/03/2009 para entregar dia 19/03.
• Adquirir, na Xerox, a seguinte apostila (p. 64-82): “Parte III – Técnicas
de Expressão Escrita”. Referência bibliográfica: ANDRADE, Maria
Margarida, HENRIQUES, Antonio. Língua Portuguesa: noções básicas
para cursos superiores. 5. Ed. São Paulo: Atlas, 1996; E FAZER UMA
RESENHA CRÍTICA PARA SER ENTREGUE DIA 19/03 (quinta-feira).

1o. ITEM) REQUISITOS BÁSICOS PARA UM RESENHISTA ou CRÍTICO:

Em Metodologia Científica, o resenhista ou crítico é um cientista do conhecimento; não é


um palpiteiro, opinador. Tradicionalmente, são pré-requisitos para um resenhista ou crítico:
a) profundo conhecimento da obra que se pretende resenhar ou criticar (uma, duas ou dez
leituras minuciosas da obra sob análise, às vezes, são francamente insuficientes);
b) profundo conhecimento do tema a que se refere a obra sob atenção (o tema ou assunto da
obra deve ser conhecido, sob todos ou o máximo de pontos de vista e escolas de
pensamento possíveis);
c) competência da matéria sobre a qual se sustenta a obra;
d) capacidade para formar, reconhecer, identificar conceitos de valor;
e) maturidade para exercer a atividade (essa maturidade tanto é emocional quanto
intelectual e profissional);
f) correção e urbanidade (a correção envolve, inclusive conhecimento da língua materna ou
de outras línguas que facilitem conversar e escrever; urbanidade opõe-se à agressividade,
inclusive verbal ou escrita);
g) fidelidade ao pensamento do autor (resenhista ou crítico não emite juízo de valor sobre a
obra; o que interessa é o pensamento do autor e não o pensamento do resenhista ou crítico);
h) humildade (significa saber o que se sabe e saber o que não se sabe).

2o. ITEM) ESTRUTURA DE UMA RESENHA CRÍTICA:

- Referência bibliográfica utilizada pelo autor da obra sob análise crítica;


- credenciais do autor (da obra): quem é, nacionalidade, formação, titulação, publicações,
sua relevância no campo científico, quando, porque e onde foi efetuado o estudo a que se
refere a obra);
-resumo da obra: o resumo deve conter as idéias centrais da obra em estudo (há diferenças
entre idéias acessórias, idéias principais e idéias centrais); um resumo não contém o que o
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resenhista ou crítico ACHA ser importante. Ao contrário, dá informações sobre: de que trata
o texto, o que explana, exige algum conhecimento prévio para o entendimento, possui
alguma característica especial, como foi abordado o assunto;
- conclusão do autor da obra: o resenhista ou crítico relata quais são as conclusões a que o
autor da obra chega, aonde estão colocadas tais conclusões e quais são as mesmas;
- referência do autor: mencionar a teoria ou pressupostos teóricos usados como apoio pelo
autor da obra;
- metodologia da autoria da obra: identificar qual ou quais os métodos (instrumentos de
pensamento) de que se serve o autor da obra sob análise; identificar quais as técnicas de
pesquisa utilizadas pelo autor, dentro do método anteriormente identificado;
- crítica ou apreciação do resenhista ou crítico: julgar a obra quanto a sua contribuição no
campo do conhecimento, originalidade de idéias, quanto às Escolas-Correntes-Tendências
científicas-filosóficas-culturais, quanto às circunstâncias culturais-sociais-econômicas-
históricas... em que a obra foi escrita, qual é o estilo do autor (conciso, objetivo, simples,
idealista, realista....);
-mérito da obra: qual é a contribuição dada pela obra, as idéias são verdadeiras, originaiS,
criativas; qual a contribuição ao conhecimento (apresenta conhecimentos novos, amplos,
restritos, abordagem vigente, abordagem diferente?);
- estilo: o autor é conciso, simples, claro, preciso, coerente, sua linguagem é ou não correta
segundo a língua em questão;
- Forma: qual é a lógica sistematizadora da obra, sua originalidade, seu equilíbrio na
disposição e na explicitação das partes;
- Indicação do resenhista: a que público a obra se dirige (geral, de especialistas, estudantes,
pode ser adotado em algum curso ou disciplina).

ELEMENTOS DA RESENHA CRÍTICA

DESCRIÇÃO DOS ELEMENTOS DE UMA RESENHA CRÍTICA

Nome:_____________________________________________

Curso: ________________ Data: ___/___/_______

Disciplina: ____________

Professora: ____________

1 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA (SEGUIR AS NORMAS DA ABNT)


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Fazer a referência bibliográfica completa da obra resenhada de


acordo com o manual da faculdade; é recomendável, no caso de
resenhas, colocar aqui somente a referência da obra que foi
analisada.

2 APRESENTAÇÃO DO/A AUTOR/A DA OBRA

Apresenta-se um autor falando dos principais fatos relacionados


à sua vida: local e ocasião de nascimento, formação acadêmica,
pessoas que exerceram influência teórica sobre sua obra, fatos que
teriam marcado sua vida e, conseqüentemente, sua forma de pensar.

3 PERSPECTIVA TEÓRICA DA OBRA

Toda obra escrita pertence a uma determinada perspectiva


teórica; é muito importante saber a que tradição/escola teórica
pertence o/a autor/a da obra que se está analisando, pois isso
permite compreender a forma como está organizada, bem como a
lógica da argumentação utilizada; quando se reconhece a perspectiva
teórica do/a autor/a, sabe-se o que se pode esperar da obra que será
analisada.

4 BREVE SÍNTESE DA OBRA

Antes de começar a análise de uma obra, é muito importante


procurar ter uma visão panorâmica desta; isto pode ajudar a
visualizar o começo, o meio e o fim da obra, permitindo saber de
onde parte e para aonde vai o/ autor/a na sua argumentação; esta
parte da resenha (somente esta!) pode ser feita na forma de um
esquema.

5 PRINCIPAIS TESES DESENVOLVIDAS NA OBRA

Depois de tudo preparado se pode analisar o conteúdo da obra


de forma propriamente dita; o objetivo é traçar as principais teses
do/a autor/a e não resumir a sua obra (resenha não é resumo!); é
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preciso ler com muita atenção para se apreender o que é


fundamental no pensamento do/a autor/a.

6 Reflexão crítica sobre obra e implicações

Depois de apresentar e compreender o/a autor/a e sua obra,


deve-se traçar alguns comentários pessoais sobre o assunto,
ancorados em argumentos fundamentados academicamente.

7 EXEMPLOS DE RESENHA

Veja abaixo um exemplo completo de Resenha Crítica.

RESENHA CRÍTICA

Publicam-se a seguir duas resenhas que podem ilustrar melhor as considerações feitas ao
longo desta apresentação:

1º exemplo:

Um gramático contra a gramática

Gilberto Scarton

Língua e Liberdade: por uma nova concepção da língua materna e seu ensino
(L&PM, 1995, 112 páginas) do gramático Celso Pedro Luft traz um conjunto de idéias que
subverte a ordem estabelecida no ensino da língua materna, por combater, veemente, o
ensino da gramática em sala de aula.

Nos 6 pequenos capítulos que integram a obra, o gramático bate, intencionalmente,


sempre na mesma tecla – uma variação sobre o mesmo tema: a maneira tradicional e errada
de ensinar a língua materna, as noções falsas de língua e gramática, a obsessão
gramaticalista, inutilidade do ensino da teoria gramatical, a visão distorcida de que se
ensinar a língua é se ensinar a escrever certo, o esquecimento a que se relega a prática
lingüística, a postura prescritiva, purista e alienada – tão comum nas “aulas de português”.

O velho pesquisador apaixonado pelos problemas da língua, teórico de espírito lúcido e


de larga formação lingüística e professor de longa experiência leva o leitor a discernir com
rigor gramática e comunicação: gramática natural e gramática artificial; gramática
tradicional e lingüística; o relativismo e o absolutismo gramatical; o saber dos falantes e o
saber dos gramáticos, dos lingüistas, dos professores; o ensino útil, do ensino inútil; o
essencial, do irrelevante.
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Essa fundamentação lingüística de que lança mão – traduzida de forma simples com fim
de difundir assunto tão especializado para o público em geral – sustenta a tese do Mestre, e
o leitor facilmente se convence de que aprender uma língua não é tão complicado como faz
ver o ensino gramaticalista tradicional. É, antes de tudo, um fato natural, imanente ao ser
humano; um processos espontâneo, automático, natural, inevitável, como crescer.
Consciente desse poder intrínseco, dessa propensão inata pela linguagem, liberto de
preconceitos e do artificialismo do ensino definitório, nomenclaturista e alienante, o aluno
poderá ter a palavra, para desenvolver seu espírito crítico e para falar por si.

Embora Língua e Liberdade do professor Celso Pedro Luft não seja tão original quanto
pareça ser para o grande público (pois as mesmas concepções aparecem em muitos teóricos
ao longo da história), tem o mérito de reunir, numa mesma obra, convincente
fundamentação que lhe sustenta a tese e atenua o choque que os leitores – vítimas do ensino
tradicional – e os professores de português – teóricos, gramatiqueiros, puristas – têm ao se
depararem com uma obra de um autor de gramáticas que escreve contra a gramática na sala
de aula.

2º exemplo:
Atwood se perde em panfleto feminista

Marilene Felinto
Da Equipe de Articulistas

Margaret Atwood, 56, é uma escritora canadense famosa por sua literatura de tom
feminista. No Brasil, é mais conhecida pelo romance "A mulher Comestível" (Ed. Globo).
Já publicou 25 livros entre poesia, prosa e não-ficção. "A Noiva Ladra" é seu oitavo
romance.

O livro começa com uma página inteira de agradecimentos, procedimento normal em


teses acadêmicas, mas não em romances. Lembra também aqueles discursos que autores
de cinema fazem depois de receber o Oscar. A escritora agradece desde aos livros sobre
guerra, que consultou para construir o "pano de fundo" de seu texto, até a uma parente,
Lenore Atwood, de quem tomou emprestada a (original? significativa?) expressão
"meleca cerebral".

Feitos os agradecimentos e dadas as instruções, começam as quase 500 páginas que


poderiam, sem qualquer problema, ser reduzidas a 150. Pouparia precioso tempo ao leitor
bocejante.

É a história de três amigas, Tony, Roz e Charis, cinqüentonas que vivem infernizadas
pela presença (em "flashback") de outra amiga, Zenia, a noiva ladra, inescrupulosa
"femme fatale" que vive roubando os homens das outras.

Vilã meio inverossímel - ao contrário das demais personagens, construídas com certa
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solidez -, a antogonista Zenia não se sustenta, sua maldade não convence, sua história não
emociona. A narrativa desmorona, portanto, a partir desse defeito central. Zenia
funcionaria como superego das outras, imagem do que elas gostariam de ser, mas não
conseguiram, reflexo de seus questionamentos internos - eis a leitura mais profunda que
se pode fazer desse romance nada surpreendente e muito óbvio no seu propósito.

Segundo a própria Atwood, o propósito era construir, com Zenia, uma personagem
mulher "fora-da-lei", porque "há poucas personagens mulheres fora-da-lei". As
intervenções do discurso feminista são claras, panfletárias, disfarçadas de ironia e humor
capengas. A personagem Tony, por exemplo, tem nome de homem (é apelido para
Antônia) e é professora de história, especialista em guerras e obcecada por elas, assunto
de homens: "Historiadores homens acham que ela está invadindo o território deles, e
deveria deixar as lanças, flechas, catapultas, fuzis, aviões e bombas em paz".

Outras alusões feministas parecem colocadas ali para provocar riso, mas soam apenas
ingênuas: "Há só uma coisa que eu gostaria que você lembrasse. Sabe essa química que
afeta as mulheres quando estão com TPM? Bem, os homens têm essa química o tempo
todo". Ou então, a mensagem rabiscada na parede do banheiro: "Herstory Not History",
trocadilho que indicaria o machismo explícito na palavra "História", porque em inglês a
palavra pode ser desmembrada em duas outras, "his" (dele) e story (estória). A sugestão
contida no trocadilho é a de que se altere o "his" para "her" (dela).

As histórias individuais de cada personagem são o costumeiro amontoado de fatos


cotidianos, almoços, jantares, trabalho, casamento e muita "reflexão feminina" sobre a
infância, o amor, etc. Tudo isso narrado da forma mais achatada possível, sem maiores
sobressaltos, a não ser talvez na descrição do interesse da personagem Tony pelas guerras.

Mesmo aí, prevalecem as artificiais inserções de fundo histórico, sem pé nem cabeça,
no meio do texto ficcional, efeito da pesquisa que a escritora - em tom cerimonioso na
página de agradecimentos - se orgulha de ter realizado.

profnivia@gmail.com

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