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Anatomia da Orelha

Acd. Alexandre Apolônio Paiva Neto

A orelha é uma estrutura anatômica de alta complexidade, e é dotada tanto de função auditiva
quanto de equilíbrio. Elas traduzem as energias pressóricas que chegam as células ciliadas da
orelha interna, a auditiva, que é constituída de ondas sonoras nas frequências de 20 a 20000 Hz e
a de equilíbrio, captando a pressão gravitacional e a de deslocamento do indivíduo no espaço.

Ela é dividida topograficamente em orelha externa, média e interna. Tanto a orelha externa
quanto a média, são adaptações das estruturas branquiais no seu desenvolvimento
filoontogenético, tais estruturas permitem ao som do meio aéreo chegar perfeitamente ao meio
líquido, onde estão imersas as células sensoriais da cóclea, que captam a energia sonora.

Orelha Externa
A orelha externa é constituída pelo pavilhão auricular e pelo meato acústico externo.
Ela consiste na pina e no conduto auditivo externo, sendo limitada medialmente pela membrana
timpânica. A parte lateral e cartilaginosa do conduto tem folículos pilosos e glândulas
ceruminosas, enquanto a parte interna, óssea, não possui estruturas acessórias.
A orelha externa serve para coletar e dirigir o som a membrana timpânica. O comprimento do
conduto externo é de cerca de 2,5cm em adultos, dá ao mesmo a frequência ressonante de 3 a 4
kHz.
Pavilhão Auricular
O pavilhão auricular é voltado ântero-lateralmente, é uma estrutura flexível, de cartilagem
elástica, recoberta pela cútis. Sua superfície anterior é firmemente aderida à derme, nos dois
terços superiores, e como não há tecido celular subcutâneo, ela acaba sendo muito suscetível ao
frio. Apresenta uma série de irregularidades, sendo que a depressão mais profunda denomina se
concha auricular, e a margem do pavilhão, hélice. Uma saliência anterior, que protege o poro
acústico externo denomina-se traços.
A superfície posterior apresenta tecido celular subcutâneo. A parte inferior, denominada lóbulo é
desprovida de cartilagem, sendo constituída por tecido fibroadiposo recoberto pela cútis.
O pavilhão auricular é conectado ao crânio e ao couro cabeludo por três pequenos músculos
extrínsecos: os músculos anterior, posterior e superior. Geralmente, eles não conseguem conferir
movimento próprio ao pavilhão auricular no homem. Apenas algumas pessoas apresentam
movimentação do pavilhão auricular.
A inervação sensitiva do pavilhão auricular é feita pelos nervos auriculotemporal, auricular
magno e auricular posterior. O pavilhão é ricamente vascularizado, sendo sua irrigação feita pela
artéria temporal superficial, a qual emite diversos ramos auriculares posteriores, e pela artéria
auricular posterior, ambos os ramos da artéria carótida externa.
Meato Acústico Externo
É constituído por um tubo fechado no fundo de 25 mm de comprimento na porção póstero-
superior, e 31 mm na porção ântero-inferior, comunicando o meio ambiente a orelha média. O
tubo não é reto, com direção ligeiramente e superior na metade lateral, voltando-se ântero-
inferiormente na metade medial; sua luz não é diâmetro uniforme sendo mais estreita no meio.
Esse formato característico do meato tem como finalidade proteger as estruturas mais internas da
orelha, ao mesmo tempo em que permite a chegada do som.
O meato é revestido pela cútis em toda a sua extensão, inclusive na parte externa da membrana
do tímpano. O terço lateral, de parede cartilagínea, apresenta folículos pilosos, glândulas
sebáceas e glândulas ceruminosas. A cera é uma mistura de secreção das glândulas sebáceas e
ceruminosas, servindo de proteção a pele. Os dois terços mediais do meato apresentam parede
óssea, formada pelas partes timpânica e petrosa do osso temporal. A pele do meato está
intimamente ligada ao pericôndrio e ao periósteo, o que explica a intensa dor nos processos
infeccioso dessa região.
A inervação sensitiva é feita em sua maior parte, pelo nervo auriculotemporal e pelo auricular
magno. Algumas fibras sensitivas do nervo facial inervam uma pequena área na parte posterior
do meato.
A irrigação do meato acústico externo é feita pelas artérias auricular posterior e temporal
superficial.
Membrana do Tímpano
A membrana do tímpano é fina e translúcida, separando a orelha externa da média. Tem
aproximadamente 10 mm de diâmetro e uma superfície de 80 mm². Sua superfície não é plana,
apresentando uma pequena concavidade, sendo a parte mais funda localizada no centro da
membrana do tímpano, denominada de umbigo ou umbo, e corresponde a extremidade do cabo
do martelo.
A membrana é formada pela junção da extremidade medial do meato acústico externo com a
metade lateral do recesso tubotimpânico, interposta por um tecido fibroso. Essa camada média
fibrosa não ocupa toda a área da membrana, apresentando uma superfície de 55 mm², estando
ausente em sua parte superior. É ela que confere consistência própria a membrana, com suas
fibras radiais e não radiais (circulares parabólicas e transversais). A porção da membrana que
apresenta essa camada é chamada de pars tensa, em oposição à porção constituída apenas de pele
e de mucosa, denominada de pars flácida ou membrana de Shrapnell. É ela que transmite a
vibração sonora para a orelha média. Como o martelo e a camada média da membrana do
tímpano são de mesma origem mesodérmica, o cabo do martelo está bem aderido às fibras da
camada média.
Essa membrana está firmemente aderida ao anel fibrocartilagíneo, situado no sulco timpânico,
que circunda toda a extremidade medial do meato acústico externo.
A inervação da face lateral da membrana do tímpano é feita pelo nervo auriculotemporal e pelo
nervo auricular do vago; sua face medial é inervada pelo ramo timpânico do nervo
glossofaríngeo.
A irrigação sanguínea é feita lateralmente por um ramo da artéria auricular profunda, e
medialmente pelo ramo timpânico anterior da artéria maxilar interna e pelo ramo estilomastóideo
da artéria auricular posterior.

Orelha média
A orelha média é constituída pela cavidade timpânica, que se comunica anteriormente com a
nasofaringe através da tuba auditiva e posteriormente com as células mastóideas pelo adito.
Como essas estruturas são todas derivadas do recesso tubotimpânico da faringe, possuem
revestimento mucoso constituído, por vezes, de epitélio estratificado, outras de epitélio cubóide
e, em algumas regiões de células cilíndricas ciliadas.

Cavidade Timpânica
A cavidade timpânica, também conhecida como caixa do tímpano, deriva da parte dilatada do
recesso tubotimpânico e se apresenta em forma de hexágono irregular, com 15 mm de altura e 15
mm de largura, e espessura variável, sendo 6 mm na parte superior e 2 mm na parte central e 4
mm na parte inferior. Ela contém a cadeia ossicular da orelha média. Apresenta uma parte
superior, o recesso epitimpânico ou ático, que contém a cabeça do martelo, o corpo e o ramo
curto da bigorna; uma parte média, o mesotímpano, que corresponde à área coberta pela
membrana do tímpano, e uma parte inferior, o recesso hipotimpânico ou hipotímpano.
A cavidade timpânica apresenta seis paredes.
Parede lateral: ela é constituída pela membrana do tímpano, pela parede lateral do hipotímpano.
Parede superior: a cavidade timpânica é delimitada superiormente delimitada pelo tecto ou
parede tegmentar. Esse tecto tem por função separar a cavidade timpânica da fossa média do
crânio.
Parede inferior: é delimitada pelo soalho ou parede jugular, que separa a cavidade da fossa
jugular por uma fina camada óssea. Às vezes ela é deiscente, expondo o bulbo da veia jugular.
Parede anterior ou carotídea: anteriormente, a cavidade timpânica comunica se com o semicanal
do músculo tensor do tímpano e com a tuba auditiva. Abaixo do óstio da tuba, a caixa do
tímpano está relacionada com o canal carótico.
Parede posterior ou mastóidea: comunica se com o antro mastóideo por meio do adito. Abaixo do
adito encontra se a eminência piramidal que contém o músculo estapédio.
Parede medial ou labiríntica: é a que separa a orelha média da interna. A estrutura em maior
evidência na parede medial é o promontório, parte mais lateral do giro basal da cóclea, e sobre o
qual se dispõe a cóclea, e sobre o qual se dispõe o plexo timpânico, ramo do IX nervo craniano,
que da inervação sensitiva a orelha média e contém fibras parassimpáticas para a glândula
parótida.
Outras estruturas da parede medial são janela oval, as proeminências do canal facial e do canal
semicircular lateral, situada póstero superiormente ao promontório, e janela coclear, localizada
póstero inferiormente ao promontório.

Ossículos da orelha média


Os três ossículos que compõe a cadeia ossicular da orelha média são o martelo, que se situa
lateralmente; a bigorna que fica no meio, conectando os dois outros; e o estibo, localizado
medialmente. A articulação entre o martelo e a bigorna e a articulação entre a bigorna e o estribo
são do tipo sinovial.
O martelo é o maior dos três ossículos e apresenta cabeça, colo e manúbrio e dois processos. A
cabeça está no recesso epitimpânico e articula se com a bigorna por meio de uma articulação
selar. O cabo do martelo ou manúbrio e o processo lateral estão aderidos à camada fibrosa da
membrana do tímpano; o processo anterior está suspenso por meio do ligamento anterior.
A bigorna apresenta um corpo e dois ramos. O corpo da bigorna articula se com o martelo. O
processo longo situa se paralelamente ao cabo do martelo, mais medial e posteriormente. Sua
extremidade volta se medialmente, constituindo o processo lenticular que se articula com o
estribo.
O estribo, menor osso do corpo humano, apresenta uma cabeça, dois ramos e uma base. A cabeça
se articula com o processo lenticular da bigorna e se prende com o tendão do músculo estapédio.
Os ramos são anterior e posterior. A base se encontra fixada a borda da janela oval pelo
ligamento anular.
Ligamentos, pregas e músculos
O conjunto membrana do tímpano e ossículos tem por finalidade conduzir o som do meio
externo para a orelha interna. Para que isso ocorra, é necessário que os ossículos estejam
suspensos com massas igualmente distribuídas entre as extremidades da cadeia ossicular. Isso é
feito por meio de ligamentos, pregas e músculos. Essas estruturas, assim como os ossículos são
de origem mesodérmica.
O martelo está suspenso por meio do ligamento superior, que mantém a cabeça do martelo
suspensa ao tecto, o ligamento lateral que se estende do colo do martelo a incisura timpânica, e o
ligamento anterior, que se estende do processo anterior a fissura petrotimpânica.
A bigorna apresenta o ligamento superior e o ligamento posterior.
O estribo apresenta o ligamento anular (da base a borda da janela do vestíbulo).
As pregas existentes na cavidade timpânica são as seguintes:
Prega malear anterior que envolve o ligamento malear anterior o nervo corda do tímpano e o
processo malear anterior; Prega malear posterior que se estende do manúbrio a parte posterior do
anel timpânico e a prega da corda do tímpano que envolve o nervo corda do tímpano próximo ao
colo do martelo e a membrana do estribo.
Os músculos presentes da orelha média são:
Músculo tensor do tímpano: situa se em um semicanal localizado acima da tuba auditiva,
seguindo direção paralela a mesma; seu tendão emerge no processo cocleariforme e dirige-se
lateralmente, inserindo-se na base do manúbrio.
Músculo estapédio: ocupa o conduto da eminência piramidal, chega ao orifício de saída, e em
forma de tendão, fixa-se na cabeça ou colo do estribo. Esse músculo se contrai quando o som
ambiente se torna muito intenso, provocando um enrijecimento da cadeia ossicular, que dificulta
a transmissão do som para a orelha interna, funcionando dessa maneira como um mecanismo
protetor contra sons excessivamente intensos.
As artérias que irrigam a cavidade timpânica são a timpânica anterior e a auricular posterior.
A inervação sensitiva é feita pelos nervos auriculotemporal, timpânico; já a inervação motora é
realizada pelo nervo de mesmo nome.
Tuba auditiva
Apesar de a tuba auditiva não estar localizada na orelha média, ela possui a mesma origem
morfofuncional da cavidade timpânica. É ela a responsável pelo arejamento da orelha média,
fundamental para o bom estado da mucosa e para equalização de pressão da caixa do tímpano
com o meio ambiente. Do seu mau funcionamento é que vem a maioria das patologias secretoras
da orelha. É um tubo achatado com direção medial, a partir da cavidade timpânica, abrindo-se na
parede lateral da nasofaringe, num total de aproximadamente 37 mm de comprimento. Apresenta
uma parte óssea mais curta, situada no rochedo, e uma parte cartilagínea que perfaz dois terços
do comprimento total. A junção da parte óssea com a cartilagínea, onde a tuba se torna mais
estreita, é denominada de istmo e funciona como uma válvula para a entrada do ar. Em situação
normal, a tuba auditiva está fechada e só se torna permeável a entrada de ar quando há contração
do músculo tenso do véu palatino, que diminuem o comprimento e aumentam o diâmetro da tuba
auditiva, que ocorre durante a deglutição.
O suprimento arterial é feito pelo ramo timpânico superior da artéria meníngea média e pelo
ramo palatino ascendente da artéria facial.
Diversos agentes etiológicos podem alterar a função da tuba auditiva.

Células da mastóide
O adito, situado na parede posterior do recesso epitimpânico, comunica a cavidade timpânica ao
antro mastóideo, uma cavidade relativamente grande, de formato irregular, posterior ao ático e
lateral ao canal semicircular lateral já presente ao nascimento. A partir do antro crescem as
outras células da mastóide e do rochedo, que mantêm contato com o antro. Processos infecciosos
da orelha média em crianças podem impedir o desenvolvimento dessas células, mostrando uma
mastóide bem diminuta ao estudo radiológico.

Orelha interna ou Labirinto

O ouvido interno ou labirinto é


constituído pelos sistemas coclear e
vestibular. A cóclea é o órgão sensorial
responsável pela decodificação dos sons e
evoca o sentido da audição. O sistema
vestibular é constituído pelos canais
semicirculares, sáculo e utrículo e informam o
SNC sobre a posição e movimentos da cabeça.
Os receptores vestibulares são do tipo ciliado
e, quando estimulados, causam mudanças no
potencial de membrana por mecanismos
distintos. Por meio de sinapses químicas excitatórias, essas células sensoriais comunicam-se com
as fibras aferentes primárias do VIII par de nervo craniano (= vestíbulo-coclear). Além disso, as
células sensoriais recebem vias eferentes do SNC significando que a sua sensibilidade pode ser
modulada centralmente.

Dentro da cóclea estão os órgãos de Corti que são sensíveis às ondas mecânicas; os
canais semicirculares possuem as cristas ampulares sensíveis à aceleração angular da cabeça e
o sáculo e utrículo possuem as máculas sensíveis a aceleração linear da cabeça.

Todos esses neuroepitélios têm células sensoriais ciliadas, sendo que um feixe de cílios
é mais longo e são denominados quinecílios (ou cinocílios) e outros, mais curtos, denominados
estereocílios. Estes cílios movem-se apenas num único plano: ao serem deslocados na direção
dos quinecílios se despolarizam e em sentido oposto, hiperpolarizam. A despolarização causa
aumento na secreção de neurotransmissores excitatórios e a hiperpolarização, diminuição. A
despolarização aumenta, por sua vez, a freqüência dos potenciais de ação nas fibras sensoriais
primárias e a hiperpolarização, diminui.

Tanto os receptores ciliados dos órgãos de Corti como os vestibulares geram potenciais
receptores desse modo. A diferença está na natureza dos estímulos mecânicos que evocam o
sentido da audição ou de equilíbrio.
Referências Bibliográficas:
1. MANGABEIRA-ALBERNAZ, P.L et AL. Otorrinolaringologia para o clínico geral. 1.
Ed. Fundo Editorial Byk, 1997.
2. FUKUDA-YOTAKA, ET AL. Otorrinolaringologia. 1. Ed. Manole, 2003
3. JAFEK-BRUCE, ET AL. Segredos em Otorrinolaringologia. 2. Ed. Artmed, 2001.
Questionário:
1) É acidente anatômico do martelo, exceto:
a. Cabeça.
b. Colo.
c. Manúbrio.
d. Cauda.
2) Qual estrutura não compõe a cavidade timpânica?
a. Membrana do tímpano
b. Martelo
c. Labirinto
d. Bigorna
3) Quem inerva sensorialmente o músculo estapédio?
a. Auriculotemporal
b. Estapédio
c. Laríngeo
d. Glossofaríngeo
4) Que artérias são responsáveis pela irrigação da cavidade timpânica?
a. Meníngea média
b. Timpânica anterior
c. Maxilar
d. Mandibular
5) Qual a constituição do labirinto?
a. Dois canais circulares e dois orifícios
b. Três canais semicirculares e um vestíbulo
c. Um canal sem saída
d. N.d.a
6) Quem irriga o meato acústico externo?
a. Auricular posterior e temporal superficial
b. Facial
c. Meníngea média
d. N.d.a

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