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o Professor
Avaliação .............................................................................................................. 5
Comentários sobre as unidades ................................................................... 6
• Unidade 1 - O cenário da vida .................................................................... 6
Bibliografia específica (para os professores) ............................................ 6
Leituras complementares sugeridas (para os alunos) .............................. 7
A internet na sala de aula (endereços na Web) .......................................... 7
Materiais de apoio ......................................................................................... 8
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
• Leituras ................................................................................................... 8
• Sugestões de atividades ...................................................................... 20
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
plena inserção na comunidade e no mundo do trabalho. O domínio do conhecimento
há de ser, portanto, instrumento de inclusão social, e não, como foi durante séculos,
um dos meios para a manutenção da exclusão de milhões de pessoas.
Esse contexto faz crescer a importância do livro didático como instrumento pe-
dagógico. Para cumprir plenamente seu papel, o livro deve, além da indispensável e
rigorosa atualização e da exatidão dos conceitos, desenvolver o potencial de análise
crítica e o posicionamento consciente dos alunos diante de situações cotidianas. Cabe,
igualmente, ao livro didático conduzir o aluno a reconhecer o conhecimento como
resultado do fazer humano, não fragmentado nem atemporal, pois todo saber reflete
um determinado contexto histórico.
Esta obra foi concebida com essas múltiplas intenções. Cuidamos para que os
assuntos fossem tratados de forma crítica e interdisciplinar, trazendo dados de nossa
realidade e apresentando questionamentos que permitam a reflexão.
plo, página 15); Ciência e tecnologia (por exemplo, página 99); Ética e
estão subdivididas em capítulos, nos quais se buscou o equilíbrio em
cidadania (por exemplo, página 46); Orientação sexual (por exemplo,
relação aos conceitos apresentados. Em todos os capítulos, há ativida-
página 313); Pluralidade cultural (por exemplo, página 341); Quali-
des em quantidade adequada, plenamente integradas aos conteúdos apre- dade de vida (por exemplo, página 108) e Trabalho e consumo (por
sentados. Perguntas calcadas na simples memorização deram espaço ao exemplo, página 331). A seleção desses temas — arbitrária — levou em
raciocínio, ao desenvolvimento da consciência e da cidadania, bem como conta a percepção da necessidade de a educação:
ao estabelecimento de uma postura crítica de julgamento e de interven-
ção na realidade. Tomamos como prioridade aquelas que permitem ex- • voltar-se à compreensão crítica da realidade social, científica, cultural
plorar a compreensão de fenômenos, a solução de situações-problema, o e política;
levantamento de hipóteses, a elaboração de propostas de intervenção na • permitir ao aluno usufruir eticamente o conhecimento, a tecnologia e
realidade e a construção de argumentação consistente. os recursos naturais;
Ao escreverem esta obra, os autores incorporaram à concepção do
livro uma ampla experiência didática pessoal. O livro — com o conteú- • estimular o aluno a se perceber como capaz de transformar solidaria-
do habitualmente trabalhado no ensino médio — foi dividido em 36 mente a realidade.
capítulos, cada um destinado a aproximadamente duas semanas de tra-
balho. Longe de ser uma “camisa-de-força”, a seqüência na qual foram
dispostos os conteúdos e a correspondência temporal entre capítulos e
semanas têm caráter de sugestão, e buscam facilitar o trabalho em clas-
Avaliação
se, deixando a critério do professor os ajustes porventura necessários, A avaliação está ganhando cada vez mais espaço nos debates edu-
de acordo com seus interesses, a carga horária, as realidades regional e cacionais. É considerada um elemento indispensável da prática pedagó-
local, o trabalho com temas de oportunidade etc. gica, podendo assumir um caráter de medição, seletivo, diagnóstico,
É importante compartilhar com toda a comunidade escolar — prin- uniformizador, formativo ou regulador, para citar os mais comuns. É
cipalmente com os alunos — a idéia de que essa obra didática é um evidente, para todos os educadores, que devemos avaliar; no entanto, os
“ponto de partida”, e não de “chegada”. Sua versatilidade permite que aspectos geradores de polêmicas e desencontros focalizam-se nos obje-
seja utilizada em diversas perspectivas e nas distintas realidades que com- tivos (para quê), nos sujeitos (quem) e nos procedimentos (como) das
põem o universo educacional do ensino médio no país. Assim, é impor- ações avaliativas. São, portanto, muitos os conceitos e as funções da
tante destacar: avaliação; todavia, são os educadores os responsáveis pela opção de de-
terminados métodos e técnicas que definem sua concepção e função no
• Não se trata de uma obra completa, pelo simples fato de que nenhuma processo pedagógico, já que, na prática, ninguém avalia por avaliar, mas
obra o é ou pode ter essa pretensão. A Biologia é uma ciência e, como para definir uma ação a partir dos indicadores dela advindos.
tal, não é sinônimo de “conhecimento”. Teorias são contestadas, nova- Quando a questão central se localiza nos objetivos da avaliação,
mente testadas e podem cair em descrédito; a descoberta de novos várias abordagens podem ser consideradas. De acordo com uma finali-
fatos pode exigir modificações ou o abandono de uma teoria. A cada dade verificadora, o que interessa são os resultados. Quando estes se
década, a espécie humana vem adquirindo a mesma quantidade de novas caracterizam como o ponto fundamental do processo, a avaliação tende
informações que havia demorado um século para conquistar. Essa acu- a se configurar como um julgamento que implica considerar o grau de
mulação de informações, por exemplo, fará com que, muito em breve, satisfatoriedade dos resultados obtidos em relação aos esperados, e a
este livro esteja obsoleto e deva ser revisto. A ciência não aceita nada análise do mérito do produto apresentado. Nesse sentido, a avaliação é
como imutável, fixo ou infalível, mas constantemente procura evidên- compreendida como uma técnica de análise do progresso dos alunos em
cias adicionais para verificar e explicar seus princípios básicos. pertinência a objetivos educacionais preestabelecidos e usada apenas
como verificação de um produto finalizado; limita-se em uma tentativa
• O recorte programático efetuado por nós, autores, não é a única ma-
de quantificar a produção, descrevendo e discriminando o que os alunos
neira de trilharmos o imenso universo da Ciência, e sequer se arvora a
aprendem na escola. A ação de avaliar figura, então, apenas como coad-
se considerar o melhor ou mais adequado. O recorte é arbitrário. Os 36
juvante do ato pedagógico, concebida como a etapa final do processo de
capítulos da obra podem ser percorridos em diferentes ordenamentos.
ensino e de aprendizagem.
Portanto, diversas seqüências são possíveis, cabendo ao professor op-
Uma função diagnóstica, formativa ou reguladora visa caracterizar
tar pela mais adequada, atendendo às suas disponibilidades de tempo,
a avaliação como um instrumento capaz de indicar aos docentes os inte-
às realidades locais, ao aproveitamento de temas de oportunidade etc.
resses, necessidades, conhecimentos ou habilidades dos alunos com a
• Não há correspondência absoluta entre unidades, capítulos, semanas e finalidade de mapear quais objetivos foram alcançados ou não e, princi-
anos letivos; isto é, não há necessidade de que todo o conteúdo palmente, localizar as dificuldades dos alunos para auxiliá-los na desco-
programático previsto para determinado período seja completado, para berta de outros caminhos que lhes permitam progredir. Uma estratégia
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A opção pela Ecologia como Unidade introdutória do estudo da
deve apresentar determinados rendimentos de acordo com as expectati- Biologia deu-se em decorrência de dois aspectos:
vas definidas pelo educador. Todavia, tais expectativas, que foram pre-
viamente estabelecidas, não consideram o aluno concreto, mas um mo- • a preocupação de desenvolver no aluno uma visão abrangente das
delo de aluno ideal, que, via de regra, possui determinados requisitos interações que os seres vivos mantêm entre si e com o ambiente, sus-
para alcançar os resultados esperados. tentando a vida;
A avaliação do desempenho dos alunos, em contrapartida, tem como • explorar aspectos do mundo macroscópico pertinentes ao dia-a-dia dos
sujeito a turma e como objeto as atividades coletivas de aprendizado, alunos e mais próximos de sua realidade.
realizadas em sala de aula. As atividades são planejadas para fornecer
critérios e objetivos que possam funcionar como base para uma ação Dominando esta Unidade, a Ecologia assume uma feição diferente.
avaliativa, na qual se analisam capacidades e conhecimentos, mas tam- De hábito, a Ecologia é apresentada nos moldes tradicionais de uma
bém a interação com os outros, a expressão oral, a apresentação e orga- “Biologia de campo”, distante da visão que nós, autores, pretendemos
nização das tarefas, a participação e liderança do grupo. Os portfólios e neste livro.
registros pessoais são usados para coletar e selecionar os trabalhos dos De 1950 até hoje, a população mundial passou de 2,5 bilhões para
alunos, demonstrando seus progressos em relação a eles próprios. Cha- mais de seis bilhões de pessoas, um grupo bastante heterogêneo, cada
mada de auto-avaliação, esse tipo de coletânea ou álbum tende a focali- vez mais dividido entre “os que têm” e “os que nada têm”. Para muitos
zar o desempenho particular de cada aluno. Tais registros, geralmente, países, às voltas com necessidades prementes — como alimentar, abri-
são propriedade dos alunos, mas podem ser socializados com vistas a gar e prover saúde para seu povo —, priorizar as questões ambientais
compartilhar as experiências, os sucessos e as dificuldades com o pro- parece utopia ou ficção. Entretanto, é chegada a hora de decidirmos
fessor ou com todo o grupo, objetivando auxiliar ou ser auxiliado em qual modelo de desenvolvimento adotaremos, como iremos explorar os
algum aspecto da aprendizagem. As notas, geralmente usadas nos pro- recursos ambientais e qual destino daremos para os resíduos que produ-
cessos de avaliação, também trazem opiniões conflitantes entre os edu- zimos em escala crescente. A Ecologia não está restrita às páginas deste
cadores. Para alguns é entendida como o instrumento de classificação livro: está na lata de refrigerante lançada pela janela dos carros, no de-
morado banho de chuveiro e nos aerossóis que usamos em nossas casas.
dos alunos, com sua ênfase na comparação de desempenho e não nos
Não somos apenas espectadores; somos protagonistas no grande “cená-
objetivos educacionais que se pretende atingir. Há uma soma e divisão
rio da vida”. Mais do que transmitir conceitos, desejamos convocar os
de notas para se chegar a uma média reveladora do rendimento escolar,
alunos a uma tomada de posição; queremos estimular a consciência de
revestindo a avaliação de um perfil exclusivamente quantitativo e
que somos todos responsáveis pelo planeta em que vivemos e que deixa-
contabilístico que desconsidera os princípios educativos. Outros com-
remos para nossos filhos.
preendem que é preciso que se perceba o real significado e que se escla-
reça a função e a representação das notas, que não são determinadas
apenas pelo resultado do produto apresentado, mas pela experiência e Bibliografia específica (para os professores)
aquisição do aprendizado. Se a nota representar um mero símbolo, por BOTKIN, Daniel B.; KELLER, E. Environmental science. New York:
meio do qual se demonstra o resultado do conhecimento do aluno, o John Wiley & Sons, 1998.
problema não se localiza em emitir ou não uma nota, um símbolo quan- BREWER, Richard. The science of Ecology. Michigan: Western Michigan
titativo a um trabalho realizado; a contradição está na atitude docente University, 1994.
que, via de regra, avalia o resultado de um produto demonstrativo da CARRON, Wilson; GUIMARÃES, José O. S. As faces da Física. São
aprendizagem. Nessa direção, a nota não dependerá do educador, mas, Paulo: Moderna, 1997.
sobretudo, do interesse do aluno em conquistar e consolidar novos sabe- CHIRAS, Daniel D. Environmental science. Belmont: Wadsworth
res. Para tal, a ação pedagógica não será tarefa fácil, já que exigirá dos Publishing, 1998.
alunos maturidade para que saibam discernir sobre os meios e fins CORSON, Walter H. (Org.). Manual global de Ecologia. São Paulo:
educativos, e dos educadores, o empenho para formação de pessoas li- Augustus, 1996.
vres e autônomas. EMBRAPA. Atlas do meio ambiente do Brasil. Brasília: Terra Viva, 1996.
Podemos observar, então, que os educadores vivenciam, freqüen- FELTRE, Ricardo. Fundamentos da Química. São Paulo: Moderna, 2001.
temente, em sua ação pedagógica, um dilema fundamental: que tipo de FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION. Dimensions of need
avaliação aplicar. Obviamente a escolha não é simples, já que a comple- — An atlas of food and agriculture. London: Banson, 1995.
xidade e a multirreferencialidade do fato educacional impossibilitam ––––––––––––. The state of food and agriculture. New York: J. Wiley,
respostas lineares e definitivas; não basta optar por um ou outro tipo de 1995.
avaliação, mesmo porque nenhuma é completa ou perfeita, todas guar- ––––––––––––. World agriculture: towards 2010 — An FAO study. New
dam especificidades que lhes são próprias. Diante da grande variedade York: J. Wiley, 1995.
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www.panda.org do correio... Mas são sempre opções metodológicas. Assim, o sistemata,
WWF — A WWF é uma instituição não-governamental que tem como em biologia, dificilmente se interessa pela fisiologia.
principal função a conservação do meio e das espécies existentes Preferências metodológias e acúmulo de conhecimentos constituí-
nele. No site você encontra dados e trabalhos realizados por essa ram, afinal, as razões básicas para a subdivisão da ciência. O princípio
organização. cartesiano só se aplica a coisas que, pela sua extensão, se mostram divi-
www.wwf.org.br síveis. São divisões de conveniência, e não de essência. Descartes pro-
põe subdividir o problema a ser esclarecido em tantas partes quanto pos-
Materiais de apoio sam ser resolvidas separadamente, e não ad infinitum... Entretanto, a
divisão do conhecimento em subdivisões infinitas, segundo uma hierar-
Leituras
quia, constitui objetivo atual dos bibliotecários, e Dewey, com seu famo-
ABORDAGEM INTERDISCIPLINAR DA BIOLOGIA so “método decimal de catalogação”, conseguiu esse intento, facilitando
A biologia, considerada ciência básica, isto é, um ramo puro do sobremaneira a classificação de livros e a sua busca, “por assunto” nas
conhecimento humano dito científico, contribui para várias outras, as- bibliotecas!
sim como recebe de outras fundamentais contribuições. A questão da Por outtro lado, as tendências modernas à unificação, à globalização,
interdisciplinaridade, entretanto, torna-se meramente “convencional” na à visão sistêmica são visceralmente contrárias a essa “atomização” do
medida em que fazemos, de uma ciência básica, uma abordagem mais conhecimento. Primeiro, pela própria essência das ciências. As leis que
ou menos ampla de seu campo de operações. Isso porque, em termos de explicam o movimento dos astros, a composição íntima da matéria, a
abrangência, as ciências possuem, em geral, limites meramente conven- origem e a natureza física da vida são as mesmas em todo o universo.
cionais. O conhecimento científico – ou seja, aquele que pode ser sub- “Verás que a natureza, em todo semelhantte, é a mesma em toda parte”,
metido a provas e contraprovas, não derivando somente de argumentos, dizia Pitágoras em seus versos áureos. Assim sendo, as divisões entre
opiniões, preferências e “gostos” – não possui barreiras internas, pois química, física, biologia e astronomia são apenas formais e não essenci-
isso seria contrário à sua própria definição, pois limitaria o gênero de ais. Além disso, a constatação “holística” de que a associação de ele-
provas e objeções que lhe poderiam ser impostas. mentos em um sistema é mais do que uma simples justaposição, pois
Na época de Aristóteles, a proposição de interdisciplinaridade não dela resultam propriedades novas, condena a separação dos elementos,
teria sentido. Sua ciência – ou seja, os aspectos de sua contribuição para aconselhando, ao contrário, a síntese, a integração que permite a interação.
o conhecimento que foram derivados da observação, da comparação e Por conseguinte, só podemos tratar formalmente da interdisciplinaridade
da experimentação – incluía os “ramos” mais diversos, como a como tentativa de juntar o que “estava separado”. O sódio (um metal
meteorologia, hidrologia, astronomia, física, biologia... Seria ele um prateado, brilhante, altamente reativo) e o cloro (gás incolor, tóxico,
“multicientista”, um profissional que dominava vários ramos do saber oxidante poderoso) são completamente diferentes do cloreto de sódio
indistintamente? Ou era a própria ciência que não reconhecia a necessi- (sal de cozinha) que se forma pela sua associação. Dizer que são “ele-
dade de subdivisões em “ramos” distintos do saber? Na Idade Média, o mentos complementares” nessa síntese é inteiramente supérfluo e
conhecimento dos alquimistas era também multiforme, tendo dado ori- impróprio.
gem a descobertas básicas nos campos da química, da mineralogia, da
As “Ciências Afins” da Biologia
farmácia, da medicina. Foi, pois, a ampliação dos conhecimentos adqui-
ridos pela ciência que exigiu, por assim dizer, as suas subdivisões em De um ponto de vista formal, há dois níveis de complementaridade
diversas “ciências” (como se a palavra ciência admitisse o plural), e entre a biologia e outras ciências. Existem as ciências para as quais a
estas em várias disciplinas, de acordo com a sua metodologia de traba- biologia contribui e existem as ciências das quais depende a biologia.
lho, ou seja, com os tipos de métodos mais familiares e mais objetiva- Entre as ciências para as quais a biologia contribui decisivamente, a
mente utilizados na obtenção das provas necessárias à sua certificação. ponto de ser impossível a sua abordagem sem ser a partir mesmo da biolo-
O reconhecimento elementar de diferenças de categoria e metodologia gia, estão a medicina e a agronomia, com suas múltiplas ramificações.
entre a filosofia, as artes e a ciência parecer ser, até certo ponto, intuiti- Em menor grau, dentro da geologia, a estratigrafia, ou mais especifica-
vo (embora não o fossem numa época em que os “argumentos”, quer de mentte a bioestratigrafia, recebe o concurso da biologia, por meio da
origem autoritária, revelada, intuída, deduzida ou induzida, observada paleontologia, considerada esta legítima disciplina da biologia, que trata
ou experimentada, tinham igual valor). da morfologia (e até da ecologia, ou pelo menos da biogeografia) dos
Dentro desse panorama extenso da ciência, os que a ela se dedica- animais e vegetais extintos. Os fósseis, considerados como elementos es-
vam começaram a manifestar “preferências”, em consonância, certamen-
te, com seus respectivos temperamentos pessoais. É muito instrutivo, a
esse respeito, notar, na trajetória de vida de Charles Darwin,1 como ele 1
A. Desmond & J. Moore, Darwin. A vida de um evolucionista atormentado (São
foi submetido a diversas alternativas de profissão, até “encontrar” a sua Paulo: Geração, 1995).
por outro lado, da contração muscular e condução nervosa estão associa- Nesses sistemas, todas as atividades — tanto as que regem o desenvol-
das aos trabalhos de Volta, que era físico, e de Galvani, que era médico. vimento embrionário como as atividades fisiológicas e compor-
Muito mais tarde, a descoberta da contratibilidade das moléculas de tamentais dos adultos — são teleonomicamente programadas.
actomiosina introduziu, na fisiologia, um estreito relacionamento com a
• Ordem de grandeza limitada. O tamanho dos seres vivos ocupa uma
química fina, isto é, com a química ao nível de estrutura da molécula.
limitada faixa, desde os menores vírus (frações de micrometros) até as
Mas todo o conhecimento das enzimas, seu papel na digestão e outras
maiores árvores e os maiores mamíferos (algumas dezenas de metros).
funções biológicas, assim como dos hormônios e neurossecreções, como
As unidades básicas de organização biológica — as células com seus
veículos de informações indispensáveis à integração orgânica, tornam
componentes — são muito pequenas, o que confere aos organismos
a biologia estreitamente dependente dos conhecimentos de química. O
grande flexibilidade.
mesmo papel é reconhecido com relação a funções básicas, como a
fotossíntese das plantas, a quimiossíntese dos microrganismos e muitos • Ciclo da vida. Seres vivos — ao menos os que se reproduzem
outros. Finalmente, os estudos de genética têm avançado rápida e sexuadamente — passam por um ciclo de vida definido, que se inicia
inexoravelmente em direção ao esmiuçamento das propriedades das mo- com um zigoto (ovo fecundado) e passa por vários estágios embrioná-
léculas de ADN, originando a chamada “biologia molecular”. Teorias so- rios ou larvais, até alcançarem a idade adulta. A complexidade do ci-
fisticadas de física, de informática e outras têm se associado na compre- clo da vida varia de espécie para espécie, incluindo diversas modalida-
ensão da mecânica da transmissão de caracteres hereditários e nas possi- des de alternância de gerações sexuadas e assexuadas.
bilidades de intervenção e alteração.
• Sistemas abertos. Os seres vivos obtêm continuamente energia e ma-
Tudo isso faz da biologia, não uma colcha de retalhos, mas o maior
téria do ambiente, no qual eliminam os produtos finais do metabolis-
centro integrador de conhecimentos de toda a ciência.
mo. Sendo sistemas abertos, não estão sujeitos às limitações ditadas
Fonte: BRANCO, Samuel M. Meio Ambiente e Biologia. São Paulo: Editora pela segunda lei da termodinâmica.
Senac, 2001, p. 115 a 122.
A percepção das peculiaridades que caracterizam os seres vivos re-
sultou no desenvolvimento de uma ciência autônoma — a biologia. Es-
O QUE CARACTERIZA A VIDA sas peculiaridades são:
Atualmente, se consultarmos biólogos e outros cientistas, encontra- • capacidade para evoluir;
remos consenso sobre a natureza dos organismos vivos. Em nível • capacidade de autoduplicação;
molecular, as suas funções todas — e em nível celular, a maioria delas
— obedecem às leis da física e da química. • capacidade de crescimento e diferenciação, obedecendo a um progra-
Fundamentalmente diferentes das substâncias inertes, os seres vi- ma genético;
vos são sistemas hierarquicamente ordenados, com propriedades nun- • metabolismo (obtenção e consumo de energia);
ca encontradas na matéria inanimada; mais importante, suas ativida-
des são controladas por “programas” genéticos que contêm informa- • capacidade de auto-regulação, mantendo um sistema complexo em
ções acumuladas ao longo do tempo, algo também ausente na matéria equilíbrio (o que se chama homeostase);
inanimada. • capacidade de responder a estímulos ambientais;
Como resultado, os seres vivos apresentam uma notável forma de
• capacidade de alterar-se tanto em nível genotípico (por mutações) como
dualismo, mas não um dualismo de corpo e mente, isto é, um dualismo
em nível fenotípico.
entre o físico e o metafísico. O dualismo da biologia moderna é físico-
químico, e resulta de os organismos possuírem um genótipo e um Fonte: MAYR, Ernst. This is Biology. Cambridge: Harvard University Press,
1997, p. 20 a 23.
fenótipo.
Para o entendimento do genótipo, que é escrito em ácidos nucléicos,
são requeridas explicações evolucionárias. O fenótipo, construído a par- BASE SOBRE MEIO AMBIENTE URBANO
tir das informações contidas no genótipo, é escrito em proteínas, lipídios Cleon Ricardo dos Santos, Unilivre
e outras macromoléculas, e requer explicações funcionais. Tal dualidade Clóvis Ultramari, Unilivre
é desconhecida no mundo inanimado. […] Cláudia Martins Dutra, CIDS-EBAPE-FGV
Introdução
O termo sustentabilidade é mais amplamente utilizado com refe-
2
D. Thompson, Forme et croissance (Paris: Seuil, 1994). rência à sustentabilidade ambiental. Todavia, a Conferência das Nações
3
S. M. Branco, O castor e a motosserra (em preparação). Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92) ampliou
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
observadas.
nada com a auto-suficiência em consumo e com a disposição de resí-
Além da edição de importantes diplomas legais, onde se inclui a
duos sólidos e líquidos, incluindo a disponibilidade de moradia adequa-
Lei de Responsabilidade Fiscal e uma relevante regulamentação dos as-
da e de transportes públicos eficientes. A busca do desenvolvimento
pectos urbano-ambientais, observa-se um nítido processo de descentra-
sustentável nas cidades sofre, assim, a contradição imposta por aspectos
lização que passa a valorizar a instância local, em detrimento de políti-
intrínsecos a esses espaços.
cas urbanas formuladas no plano nacional, ao lado do repasse para os
Estas dificuldades são mais acentuadas no Brasil, onde o processo
municípios de competências setoriais, como a educação e a saúde, bem
de urbanização, extremamente rápido e desigual, leva as populações de
como o trato de questões urbano-ambientais.
baixa renda a ocupar terras periféricas, em geral desprovidas de qual-
Além da marcante influência dos documentos internacionais sobre
quer tipo de infra-estrutura, ou a se instalar em áreas ambientalmente
a estrutura legal e institucional, mencione-se a resultante das ações de
frágeis, que só poderiam ser urbanizadas sob condições rigorosas e me-
agências externas de financiamento:
diante soluções dispendiosas. O desrespeito à legislação urbanística e
um acentuado processo de especulação imobiliária têm provocado con- ... além da importante função meramente financeira, os Bancos têm
seqüências semelhantes. atuado como “inteligência” auxiliar do Governo na elaboração de
A inexistência de uma clara política urbana nacional (não obstante programas e projetos, como, por exemplo, os programas responsá-
esta omissão poder ser considerada como uma forma velada, porém de- veis por políticas de ajuste estrutural, os projetos setoriais de de-
liberada, de política) dificulta a adequada articulação dos necessários senvolvimento, os de combate à pobreza... Desse modo, parte das
investimentos em infra-estrutura e, conseqüentemente, a otimização dos novidades em políticas públicas e projetos de governo brasileiro é,
recursos, sempre inferiores às reais necessidades. muitas vezes, o resultado de um trabalho de cooperação internacio-
Inexistindo instrumentos de referência nacionais, são valorizados nal em que o Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desen-
os acordos internacionais, que passam a substituir práticas anteriormen- volvimento (BID) têm um relevante papel. (Vianna Jr. 1998, p. 82).
te adotadas pelos governos brasileiros. “Nesse sentido, a Agenda 21 cons-
titui verdadeiro plano de ação mundial para orientar a transformação de É neste cenário, em que diretrizes internacionais e características
nossas sociedades, pois identifica, em 40 capítulos, 115 áreas de ação locais se mesclam, que a busca do desenvolvimento sustentável para
prioritária” (Guimarães 1999, p.1). No Brasil, a valorização da Agenda as cidades brasileiras tem sido realizada, ora com avanços, ora com
21 é também recorrente, seja por parte das autoridades locais, que se retrocessos.
lançam na tentativa de implementar seus princípios1, seja pelo governo
federal que, muitas vezes, parece substituir, oficialmente, sua compe- Urbanização e sustentabilidade
tência precípua de formular a política urbana nacional pela simples ado-
A existência de um arcabouço legal capaz de propiciar aos municí-
ção de documentos aprovados internacionalmente. “Tornadas realidade,
pios instrumentos adequados para a gestão urbana é particularmente
as Agendas 21 poderão fertilizar toda a vida econômica, social e política
importante na medida em que o Brasil se urbaniza aceleradamente. Com
do País com o novo conceito de desenvolvimento fundamental na quali-
efeito, a taxa de urbanização brasileira, em 1970, era de 30,5%; em 1980,
dade ambiental e na justiça social”, afirmou o ministro de Meio Ambi-
de 38,6%; em 1990, de 49,0%; e em 2000, passa a 81,2%. Analisando-
ente, José Sarney Filho, nos trabalhos de discussão da Agenda 21 Brasi-
se o quadro a seguir, verifica-se, além do fenômeno da urbanização,
leira (Novaes 2000, p. IV).
uma lenta porém persistente concentração da população nas regiões
Concomitantemente à adoção dos princípios, objetivos e estraté-
metropolitanas.2
gias de ação preconizados nas Agendas internacionais, está se consoli-
A importância crescente do fenômeno urbano no Brasil é um fato
dando uma base constitucional e legal adequada para o trato das ques-
notório, ocorrido a partir de uma ocupação concentradora sobre o terri-
tões urbanas. Mencione-se, em especial, as normas constitucionais que
tório e a partir de diferenças, cada vez mais marcantes, entre a ocupação
tratam do meio ambiente, da autonomia municipal, da competência
rural e a urbana. A despeito desses fatos, recente pesquisa realizada pelo
estadual para instituir regiões metropolitanas e aglomerações urbanas
Instituto Social de Estudos da Religião (Iser), “O que o brasileiro pensa
e no Capítulo específico sobre a Política Urbana, que passa a ser uma
sobre o meio ambiente e o consumo sustentável” mostra, por exemplo,
política institucionalizada, a exemplo de outras políticas públicas. Avanço
que o desmatamento — fato não necessariamente integrante de políticas
urbanas — ainda é o problema ambiental mais presente entre a popula-
ção. Confirma isso o fato de 46% dos entrevistados entenderem ser esta
1
A informação de quantos municípios brasileiros estariam desenvolvendo ou que
já desenvolveram processos de Agenda 21 local é de difícil apreensão. A experi-
2
ência empírica dos autores revela que esse número não poderia ser desprezado Para completar este raciocínio, poder-se-ia inserir a população de municípios
se considerada a demonstração de interesse, formal ou não, em elaborar Agen- que compõem aglomerados urbanos ou fenômenos metropolitanos ainda não
das 21 por parte de gestores e técnicos municipais. constituídos formalmente em regiões metropolitanas.
10
a questão ambiental mais urgente no Brasil (Iser & Ministério do Meio Apenas 33,5% dos domicílios são atendidos por rede de esgoto e,
Ambiente 2001)3. dos domicílios servidos, 64,7% do esgoto coletado não tem nenhum tipo
É evidente que um processo de urbanização concentrada e acelera- de tratamento. Nas áreas onde não há tratamento, 84,6% dos esgotos
da indica sérios problemas de ordem ambiental. Analisando-se os as- coletados são despejados diretamente nos rios.
pectos intra-urbanos desse processo, observam-se condições ainda mais É interessante observar, analisando os dados no plano regional, que
impróprias para o meio ambiente e para a qualidade de vida da popula- a região Sudeste, embora tenha o maior percentual de municípios com
ção urbana. Mencione-se a grande dificuldade de impor regulamentos serviços de esgoto (92% do total) apresenta o menor volume (27,2%) de
urbanísticos a uma cidade cada vez mais ilegal e a existência de pres- esgoto coletado tratado. Na região Nordeste, com 42% dos municípios
sões crescentes para a utilização de áreas ambientalmente sensíveis. Nesse atendidos, trata-se 78,2% do volume de esgoto coletado.
sentido, “O ilegal do solo e as edificações em meio urbano atingem No mesmo período (1989/2000), o volume de água distribuído à
mais de 50% das construções nas cidades brasileiras, não considerando população aumentou em 57,5%. Vale salientar que o volume de água
as legislações de uso e ocupação do solo, zoneamento, parcelamento do tratada que chega aos domicílios atendidos cresceu 52,5%, enquanto o
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
solo e edificação.” (Maricato 1996, p. 21)4. volume distribuído sem tratamento teve um crescimento de 191,3%. Com
Nas cidades brasileiras são inúmeros os exemplos de ocupação de isso, a porcentagem de água distribuída sem tratamento no Brasil cres-
áreas ambientalmente frágeis, repetindo-se, tanto nas metrópoles como ceu de 3,9% para 7,2% do total.
nas cidades médias e pequenas, os conflitos entre vetores de ocupação e Quanto aos municípios atendidos com serviços de abastecimento
áreas a preservar. A região metropolitana de Curitiba, um exemplo que de água, o País atingiu, em 2000, o expressivo índice de 97,4%. O Su-
pode ser generalizado para o País, tem apresentado forte tendência de deste, com 100%, apresenta o melhor índice regional, enquanto no Nor-
crescimento urbano em direção às áreas de mananciais, onde se combi- te são atendidos 94% dos municípios. Quanto ao total de domicílios
nam baixos padrões de habitabilidade (solos hidromórficos e risco de atendidos, o índice, para todo o Brasil, não passa de 63,9%. Mais uma
enchentes) e perda da principal fonte de recursos hídricos para a popula- vez o Sudeste apresenta o melhor índice de atendimento (70,5%) e o
ção metropolitana. Norte o pior, com apenas 44,3%.
Segundo dados da Secretaria Especial de Desenvolvimento Urbano
Principais problemas ambientais urbanos (SEDU), seriam necessários R$ 44 bilhões, até 2015, para que a popula-
A existência, a persistência e o contínuo crescimento dos problemas ção tenha acesso aos serviços de saneamento básico. As principais fon-
ambientais urbanos, decorrentes da urbanização acelerada e desigual, le- tes de financiamento são o Banco Interamericano de Desenvolvimento
vam à necessidade de políticas específicas para enfrentar o problema. (BID) e o Banco Mundial, já que entidades nacionais como o Banco
A sociedade brasileira não pode prescindir de uma política de de- Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), por exem-
senvolvimento vinculada e coordenada a uma política ambiental em plo, não têm concedido recursos e só recentemente a Caixa Econômica
que a água, o esgoto sanitário e os resíduos domésticos e industriais Federal (CEF) voltou a financiar o setor público.
tenham origem e destino transparentes, e o transporte público tenha Assim, é evidente que o País ainda está longe de atingir a meta da
prioridade sobre a auto-estrada, os viadutos e as cirurgias urbanas. universalização dos serviços de saneamento. Caso o ritmo dos investi-
(Gastal 1995, p. 15). mentos públicos (União, estados e municípios) for mantido, este ideal
Os dados básicos sobre água e esgoto, poluição hídrica, poluição será alcançado apenas em 2018.
atmosférica e gestão de resíduos sólidos, nos últimos dez anos, revelam A previsão, em 1998, era de se atingir a universalização em 2010,
um quadro dramático que, não obstante a evolução positiva de alguns mantendo-se constantes investimentos de R$ 44 bilhões, mas a crise cam-
setores, parece se distanciar de qualquer cenário de uma sustentabilidade bial e outras dificuldades obrigaram o setor público a diminuir a pers-
desejada. pectiva dessa transformação. Hoje, os investimentos em saneamento não
representam mais de 0,25% do Produto Interno Bruto (PIB), muito abaixo
Água e esgoto
dos índices atingidos nos anos 1980, quando os investimentos chegaram
Um dos problemas ambientais urbanos mais graves é a falta de tra- a 0,38% deste índice.
tamento dos esgotos sanitários que são, em sua maioria, lançados, in A indisponibilidade de abastecimento de água e esgotamento sanitá-
natura, no solo ou em corpos d’água, causando danos irreparáveis às rio representa, também, um grande problema de saúde pública. Doenças
reservas de água potável, rios e águas costeiras e comprometendo seu infecciosas ligadas à falta de saneamento básico foram responsáveis por
uso para abastecimento, irrigação, recreação e turismo. 77% da mortalidade infantil até um ano de idade, registrada em hospitais
Comparando-se os dados da Pesquisa Nacional de Saneamento Bá- públicos, em 2000, e estima-se que esta seja igualmente a causa de cerca
sico de 2000, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatís- de 8.500 casos anuais de mortalidade prematura e morbidade adicional.
tica (IBGE), com a mesma pesquisa realizada em 1989, verifica-se que, De forma geral, pode-se dizer que os serviços de saneamento con-
no período considerado, houve um aumento de 24% no número de mu- centram-se nos centros urbanos maiores e praticamente inexistem nos
nicípios brasileiros, que passaram de 4.425 para 5.507. No entanto, o pequenos municípios. Além disso, é ostensivo o fato de que a distribui-
serviço de esgotamento sanitário cresceu, no mesmo período, apenas ção dos serviços de saneamento no Brasil é desigual, já que as cidades
10,5%, cobrindo, atualmente, 2.874 municípios. maiores e mais ricas têm mais acesso aos centros de decisão do que as
cidades menores, mais pobres e distantes. No caso da rede de esgoto,
esse fato é evidente: os municípios com mais de 300 mil habitantes têm
quase três vezes mais domicílios ligados às redes de esgotos do que as
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Em segundo lugar, a pesquisa aponta 38% para a poluição de rios, lagoas e praias, cidades com até 20 mil habitantes, onde apenas 17,8% contam com es-
e 18% para problemas de saneamento, estes sim problemas fundamentalmente gotos tratados. Na região Norte, o serviço é quase inexistente nas cida-
urbanos. A mesma pesquisa realizada nos anos de 2001 e 1997 mostra resultados des desta faixa: 0,4% da população. Nos municípios entre 20 e 45 mil
semelhantes, porém, com incremento para esses dois últimos problemas.
4
Informação obtida a partir do conhecimento empírico junto à administração mu- habitantes, a proporção é de 18,3%. As metrópoles, que contam com
nicipal de São Paulo, da arquiteta e ex-secretária municipal de habitação Ermínia mais de 300 mil habitantes, registram 48% da população atendida. No
Maricato. Sudeste, tem-se 58,7% do total.
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Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Nos grandes centros, o comprometimento da qualidade é causado prin- dando-se prioridade à coleta e à limpeza pública. Daí resultam, sobretu-
cipalmente por despejo de esgotos domésticos, sem qualquer tipo de do em municípios de menor porte, os “lixões”, locais onde o lixo coleta-
tratamento, nos rios e corpos d’água que são utilizados para o abasteci- do é lançado sem qualquer controle, poluindo não apenas o solo, mas o
mento. A contaminação por pesticidas e fertilizantes (que ocorre quan- ar e as águas subterrâneas e superficiais da área e de seu entorno.
do estes rios atravessam zonas agrícolas) contribui ainda mais para agra- Dos 5.507 municípios brasileiros, 4.026, ou seja, 73,1%, têm popu-
var o problema. lação de até 20 mil habitantes, e nestes, 68,5% dos resíduos gerados são
Casos paradigmáticos do problema de contaminação das águas são, vazados em lixões ou alagados. Deve-se considerar, no entanto, que es-
por exemplo, o rio Guaíba, em Porto Alegre, fortemente comprometido tes municípios recolhem apenas 12,8% do total do lixo coletado no País
pelo lançamento de resíduos tóxicos e industriais, além de fertilizantes e — menos do que os resíduos gerados pelas 13 cidades brasileiras com
agrotóxicos, e o rio Paraíba do Sul, que, além de constituir a principal mais de um milhão de habitantes, que conjuntamente recolhem 31,9%
fonte de abastecimento da região metropolitana do Rio de Janeiro, abas- de todo o lixo urbano brasileiro e têm seus locais de disposição final em
tece outras importantes cidades de Minas Gerais e de São Paulo. Neste melhor situação: apenas 1,8% é destinado a lixões, sendo o restante de-
caso, são importantes fatores de comprometimento do rio, além do lan- positado em aterros sanitários ou em aterros controlados.
çamento de esgotos, o desmatamento, os garimpos ilegais e a erosão Ainda de acordo com a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico
decorrente do mau uso do solo. Problemas semelhantes ocorrem em 2000, há uma acentuada melhora na destinação final do lixo coletado no
Curitiba, onde a ocupação de áreas de mananciais nas nascentes do rio País nos últimos anos. Em 2000, o lixo produzido diariamente no Brasil
Iguaçu tem se constituído no maior desafio para o planejamento metro- chegava a pouco mais de 125 mil toneladas, das quais 47,1% destina-
politano. O lago Paranoá, em Brasília, e a lagoa Rodrigo de Freitas, no vam-se a aterros sanitários, 22,3% seriam encaminhados a aterros con-
Rio de Janeiro, também enfrentam problemas de poluição, enquanto a trolados e apenas 30,5% seriam depositados em lixões. Com isso, mais
baía de Guanabara sofre com o lançamento de esgotos residenciais e de 69% de todo o lixo coletado no Brasil estariam tendo um destino
industriais, além de vazamento de óleo e produtos químicos lançados final adequado, em aterros sanitários e/ou controlados.
por navios.
Mudanças e retrocessos no caminho da sustentabilidade
Poluição atmosférica
Projetar o futuro, a partir de uma análise genérica da situação urba-
Os problemas de poluição do ar, no Brasil, são causados, em grande no-ambiental, obriga a constituição de perspectivas de difícil
parte, pelas emissões provenientes dos meios de transporte5. De acordo sustentabilidade, a longo prazo, para as cidades brasileiras. Entretanto,
com relatório do Banco Mundial (Brasil: gestão dos problemas da po- ao se analisar alguns setores e algumas iniciativas de sucesso, este exer-
luição – relatório de política) “essas emissões são mais importantes do cício pode se caracterizar, a um tempo, com otimismo e pessimismo. No
que sugerem os inventários de emissões, visto estarem mais próximas setor de resíduos sólidos, por exemplo, houve importantes mudanças de
da superfície e consistirem em particulados mais finos do que as emis- atitude por parte de todas as instâncias governamentais: os governos
sões industriais típicas”. Como resultado desta situação, segundo o mes- federal e estadual têm aplicado mais recursos e criado programas e li-
mo relatório, calcula-se que os custos para a saúde, em São Paulo e no nhas de crédito, beneficiando os municípios que, por sua vez, têm trata-
Rio de Janeiro, incluam cerca de 4 mil casos anuais de mortalidade pre- do com prioridade os problemas de limpeza urbana, criado condições
matura e cerca de 38 milhões de dias de atividades restritas. Controles para expandir o provimento desses serviços e manter sua qualidade. A
rígidos sobre emissões industriais e de veículos, em São Paulo e no Rio, população tem acompanhado, com mais rigor, estas questões, assim como
teriam um custo anual da ordem de US$ 75 milhões, que deveriam ser os órgãos de controle ambiental, o Ministério Público e as organizações
pagos pela indústria e pelos proprietários de veículos. não-governamentais de defesa do meio ambiente.
A importância dos meios de transporte como fator de contaminação De forma geral, cidades de médio e grande porte vêm adotando,
do ar é confirmada por um estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa cada vez mais, a privatização dos serviços como forma de gerenciamento,
Econômica Aplicada (IPEA), em parceria com a Associação Nacional o que significa, na realidade, uma terceirização dos serviços até então
de Transportes Públicos (ANTP): Redução das Deseconomias Urbanas executados pelo Poder Público: empresas privadas têm sido contratadas
com a Melhoria do Transporte Público 19886. Segundo esse estudo, ape- para realizar a coleta, a limpeza de logradouros, o tratamento e a dispo-
nas os congestionamentos severos, não incluindo, portanto, os níveis de sição final dos resíduos. Outra tendência marcante é a contratação de
cooperativas ou microempresas, o que tem estimulado a geração de ren-
5
da para pessoas de baixo poder aquisitivo. Por outro lado, soluções con-
O Brasil dispunha, em 2000, de uma frota de cerca de 19 milhões de veículos,
sorciadas para a realização desses serviços não são ainda comuns no
dos quais quase 60% encontravam-se em São Paulo, Minas Gerais e Rio de Ja-
neiro. Brasil, a não ser quando se trata de destinação final em aterros, quando
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Fazem parte da pesquisa: Belo Horizonte, Brasília, Campinas, Curitiba, João o município hospedeiro negocia algumas vantagens financeiras com os
Pessoa, Juiz de Fora, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo. demais municípios a fim de instalar o aterro em seu território.
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inquestionável necessidade de aumento de oferta desses serviços à po- de Desenvolvimento e o Programa Integrado de Inclusão Social, em Santo
pulação, pode-se assegurar, além da participação da comunidade na de- André (SP), são outros exemplos de boas práticas nessa área.
finição das metas a serem atingidas, o controle dos serviços prestados e A partir desses exemplos, é possível detectar uma tendência no sen-
a democratização dos benefícios. tido de que o problema habitacional continue a ser enfrentado pelo po-
Durante muitos anos, toda a ênfase, na maioria das companhias es- der local, sugerindo que a replicabilidade intensiva de exemplos pontu-
taduais de saneamento, foi concedida às questões de abastecimento de ais pode conduzir a uma solução possível para um setor que ainda se
água, ficando o esgotamento sanitário relegado a segundo plano. Esta ressente de falta de mecanismos adequados para seu financiamento.
atitude é considerada hoje como politicamente errônea, e consideráveis
esforços estão sendo feitos pelas companhias no sentido de minorar o Política urbana e gestão ambiental urbana a partir de 1992
déficit acumulado pelo setor. Na tentativa de apresentar uma retrospectiva a respeito de como
Analisando-se a questão do transporte urbano no Brasil, observa-se foram enfrentados os problemas setorias acima analisados, a partir de
que este passa por uma profunda crise. As deseconomias urbanas, 1992, quando se iniciou uma discussão das cidades e de sua sustenta-
identificadas pelo estudo do IPEA mencionado anteriormente, tendem a bilidade, resumem-se aqui as mudanças observadas com relação à ges-
se agravar, com o aumento dos congestionamentos e da poluição do ar tão urbana.
que deles deriva. O primeiro fato a considerar é que perde força a noção de que as
Se, por um lado, registram-se iniciativas no sentido de ampliar a cidades são, necessariamente, espaços insustentáveis, incapazes de pro-
oferta de transporte público — o aumento da oferta de transporte sobre duzir o que consomem e eliminar adequadamente o que rejeitam. A ur-
trilhos, com a construção do metrô de Brasília e a ampliação dos metrôs banização passa a ser considerada como um fato irreversível, mas
do Rio e de São Paulo, do Trensurb em Porto Alegre e do trem metropo- administrável, e a cidade deixa de ser um espaço ambientalmente insus-
litano em Recife, por exemplo7 — verifica-se, em muitas cidades, o cres- tentável para transformar-se em um espaço social e ambiental com grande
cimento de sistemas informais –– lotações, perueiros e mesmo de ôni- potencial de soluções criativas. Assim, perdem validade as propostas,
bus —, que trafegam sem licença, atestando a incapacidade dos siste- comumente aceitas em passado recente, de que dever-se-ia reduzir o
mas formais de atender à demanda da população. processo migratório para as cidades e mesmo promover o retorno ao
A realidade é que, talvez devido à sua ineficiência, o transporte campo. A análise das políticas e ações observadas na análise setorial
público por ônibus está perdendo passageiros para o automóvel. E, o não evidencia a presença desses objetivos.
que é pior, está perdendo os passageiros pagantes, o que significa o au- Em segundo lugar, observa-se que o governo local ganha força en-
mento proporcional do número de passageiros não-pagantes – pessoas tre as instâncias de governo, sobretudo a partir da Constituição de 1988,
de mais de 65 anos, estudantes etc. – usuários do sistema. que atribui novas responsabilidades aos municípios, exigindo ações con-
Um estudo publicado no Anuário 2000 da Associação Nacional de cretas em prol da sustentabilidade urbana e de avanços sociais. Esta ação
Empresas de Transportes Urbanos/NTU apresenta diversas circunstân- é rejeitada por novos instrumentos legais e/ou institucionais como, por
cias urbanas e sociais que estão provocando a mudança do transporte exemplo, a Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar 101 de
coletivo no País, e em particular em São Paulo8. 4/5/2000) e, em especial, o Estatuto da Cidade.
Dentro deste quadro, não muito animador, experiências como as À valorização da instância local devem ser creditados muitos dos
que foram implantadas em Curitiba e as que estão se desenvolvendo em esforços e experiências bem-sucedidas em cidades brasileiras e que ser-
Porto Alegre e Goiânia, onde o Poder Público e a iniciativa privada estão vem de exemplo, num processo de constante replicabilidade. Tais expe-
desenhando novas formas de atuação conjunta, podem representar uma riências podem ser constatadas em diversos bancos de Boas Práticas,
melhora para o sistema, a médio e longo prazos. Isso não exclui a necessi- instituídos a partir da valorização, sobretudo consagrada pela Agenda
dade, cada vez mais evidente, de que as autoridades municipais atribuam Hábitat, da difusão de exemplos como forma de multiplicar resultados.
Em nível nacional, tem sido grande o interesse pela capacitação em ges-
tão urbana, a partir desses exemplos: se, antes, aprendia-se sobre a ges-
tão de cidades por meio de idéias e conceitos, agora valoriza-se a expe-
7
Cabe notar que estas medidas, embora importantes, são estatisticamente insigni- riência concreta capaz de, ao ser adaptada, ser reproduzida com sucesso.
ficantes em relação ao problema como um todo.
8
Em São Paulo, segundo esse estudo, está se vivendo uma queda acentuada da
Como instrumentos de difusão e capacitação sobre essas experiências,
demanda de transportes coletivos e o esvaziamento do município-sede. São pou- ressaltam-se: a ação do Centro de Referência e Gestão Ambiental para
co mais de 10 milhões de habitantes estabilizados no município da Capital, en- Assentamento Humano, mantido pela Universidade Livre do Meio Am-
quanto mais de 8 milhões nos demais municípios tendem a aumentar constante- biente, de Curitiba, com o apoio do Ministério do Meio Ambiente, o
mente. Há três décadas que cai a mobilidade da população: 1,5; 1,3; 1,2 viagens
per capita. A divisão modal é meio a meio, e se aumenta a parte da demanda
9
atendida pelos transportes sobre trilhos, diminui a parte dos transportes coleti- “Política Nacional de Habitação” (1996); “Política de Habitação: Ações do Go-
vos por pneus. verno Federal de jan/95 a jun/98” (1998).
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Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
sustentabilidade das cidades brasileiras. Todavia, também devem ser mento das condições de vida no meio urbano. Mencionou várias “boas
mencionados os grandes esforços e importantes resultados obtidos. De práticas” urbanas no Brasil. O grande desafio seria disseminar estas boas
fato, o cenário que mais caracteriza as cidades brasileiras referente ao práticas pelo País para catalisar seus resultados positivos. Entre as boas
meio ambiente e às questões sociais é, de um lado, a crise generalizada práticas, cita projetos como o sistema de transporte coletivo de Curitiba
e, de outro, a existência de esforços pontuais, mas com excelentes resul- e o Projeto Favela Bairro do Rio de Janeiro, que fornece infra-estrutura
tados. para as favelas e as integra à malha urbana do resto da cidade. Além
O Brasil demonstrou-se singular entre os países que enviaram con- disso, apresenta vários projetos que são avanços institucionais e do pro-
tribuições de cases para a Conferência Hábitat II e aquelas que lhe se- cesso decisório sobre as cidades, como o orçamento participativo de
guiram, tanto em relação ao número como à qualidade das experiências. Porto Alegre, as discussões sobre a Agenda 21 e a aprovação do Estatuto
O que tem dificultado a ampliação desses sucessos é um processo cu- da Cidade. O Estatuto da Cidade e seus instrumentos também foram
mulativo de crise econômica, legislações ultrapassadas e crescimento mencionados no artigo da representante dos movimentos sociais como
urbano acelerado e desordenado. um dos aspectos positivos da agenda socioambiental urbana do Brasil
O desafio para a sustentabilidade das cidades brasileiras é, justa- nos últimos anos, fruto da vitória dos movimentos sociais na confecção
mente, a necessidade de se conciliar inovação com o esforço cotidiano do capítulo urbano da Constituição de 1988. O debatedor das ONGs
para recuperar o tempo perdido. afirma que o grande avanço foi a criação de uma série de mecanismos
Em cada setor analisado, observa-se a necessidade de enfrentamentos consultivos e decisórios de participação em nível local/municipal, como
específicos na busca de soluções. Alguns exigirão mudanças gerais no os conselhos municipais de gestão de políticas públicas, que já são mais
tocante à gestão urbana. Primeiramente, vale citar a importância de se de 3.500 no País.
dar continuidade ao processo de descentralização que está na origem de
algumas das experiências mais inovadoras em termos de gestão urbano- Problemas
ambiental. O poder local está sendo valorizado e buscando melhor Todos os debatedores concordam que os problemas socioambientais
capacitação técnica. no Brasil são críticos e estão se agravando, especialmente a exclusão
Em segundo lugar, as cidades, sobretudo as de porte médio e gran- social e a degradação da qualidade ambiental das cidades. Nos grandes
de, terão de redirecionar os investimentos na área do transporte, centros a situação é crítica em vários setores importantes. Faltam ofertas
priorizando o transporte público. Impossível pensar em uma cidade sus- de saúde e educação pública de qualidade, condições dignas de moradia
tentável sem políticas que reduzam o consumo de combustíveis fósseis, para boa parte da população, saneamento básico e controle da degrada-
diminuam os níveis de poluição atmosférica e reduzam as deseconomias ção ambiental.
causadas pelos congestionamentos. O debatedor das ONGs menciona que dois terços da população não
Talvez o mais urgente, em termos de prioridade, seja a necessária têm acesso a redes coletoras de esgotos. Há uma desigualdade enorme
rediscussão dos processos de acesso à terra urbana: por um lado, procu- dos investimentos, agravando as diferenças sociais e a exclusão ao míni-
rando diminuir a especulação imobiliária que impossibilita o acesso das mo de serviço público, como ressalta a representante dos movimentos
classes mais carentes à moradia, e por outro, garantindo que esse acesso sociais. Além disso, as populações mais pobres são as que mais sofrem
se dê de forma ordenada, com respeito à legislação urbanística. com as conseqüências de degradação da qualidade ambiental, resultado
Outro desafio para a sustentabilidade das cidades brasileiras é a dos problemas socioambientais urbanos. Para a Academia, a questão
discussão democrática sobre as conseqüências e formas de implemen- está na falta de um maior esforço na reflexão e busca de soluções para os
tação da privatização dos serviços públicos, ora em curso. O setor de problemas do meio ambiente urbano. Afirma que as ciências ambientais
saneamento, elemento importante na construção da sustentabilidade têm uma certa resistência para integrar o urbanismo. Existe uma separa-
ambiental urbana, será um dos mais sensíveis a essas mudanças. Privatizar ção conceitual entre o mundo físico-biótico e o antrópico.
este setor, o que parece inevitável, garantindo o atendimento universal à
população das cidades é, sem dúvida, um desafio de difícil enfrentamento. Causas dos problemas
Por último, vale citar a necessária revisão do modelo de consumo As principais causas dos problemas do meio ambiente urbano estão
observado na sociedade urbana brasileira. É sabida a dificuldade em se relacionadas à implementação das políticas públicas. Muitas vezes os
manter padrões mínimos na prestação de determinados serviços, pelo instrumentos legais e institucionais estão disponíveis para atacar deter-
poder local, como a coleta e disposição final do lixo, se não forem revis- minados tipos de problema, mas eles não são utilizados, segundo os auto-
tos padrões de fabricação e de consumo de mercadorias, por exemplo. res. A debatedora das ONGs pondera que, por exemplo, os instrumentos
Mais importante do que a alteração do comportamento de consumo é a do Estatuto da Cidade existem, mas não são postos em prática por von-
mudança em relação à imagem que se deve ter da cidade. Esse é, talvez, tade política. O artigo empresarial aponta a dificuldade para replicar as
o maior desafio para a sustentabilidade urbana – o entendimento da ci- boas práticas com mais freqüência. O representante das ONGs argu-
dade, por parte de sua população, como capital coletivo. menta que não é a falta de recursos o problema, e sim a priorização dos
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nas decisões e mais transparência no uso dos recursos para que haja pos e alcança a transcendência e a eternidade. Em épocas de crise, cons-
um maior controle social dos gastos públicos. Para o representante das tituem elas o húmus fértil de novas perspectivas. São elas que permitem
ONGs, a sociedade civil nos fóruns de decisão participativa deve ori- a passagem de um paradigma a outro, mantendo o continuum da história
entar os governos no sentido de priorizar políticas de saneamento, saú- humana.
de, educação, meio ambiente e moradia. Os movimentos sociais pe- Mas a espiritualidade não configura monopólio das religiões, em-
dem a implementação do Estatuto da Cidade nos diversos níveis de bora sejam o campo privilegiado de sua emergência e expressão. A
governo. espiritualidade representa uma dimensão do profundo humano. Ela per-
Todos reivindicam propostas relacionadas a tipos de ação. Isto in- tence estruturalmente ao ser humano com o mesmo direito de cidadania
clui a utilização de boas práticas já testadas, o uso de tecnologias de como o poder, a sexualidade, a racionalidade e o enternecimento. Por
baixo custo e a valorização do meio ambiente nos projetos públicos. isso ela emerge nas pessoas mesmo que estas não tenham nenhuma ins-
Fonte: CAMARGO, Aspásia; CAPOBIANCO, João Paulo; OLIVEIRA, José crição religiosa definida. Esta espiritualidade antropológica deverá ser
Antônio Puppim. Meio Ambiente – Brasil. São Paulo: Editora Estação evocada quando abordarmos o tema da espiritualidade e da ecologia.
Liberdade, 2002, p. 338 a 360. Por fim, há de se superar o antropocentrismo, tão visceral em nossa
cultura. A espiritualidade se dá nas religiões e em cada ser humano, mas
ela vai além, se encontra também na própria estrutura do universo. O
ECOLOGIA E ESPIRITUALIDADE espírito está em nós porque, anteriormente, está no universo, do qual
somos parte e parcela. A Carta da Terra alude a isso quando se refere ao
Leonardo Boff nosso “parentesco com toda a vida” e ao “mistério da existência”, em
A Carta da Terra, um dos documentos éticos mais consistentes dos face do qual cabe nossa “reverência, humildade e gratidão”.
últimos anos e já assumido pela Unesco, representa a nova consciência
Fonte: TRIGUEIRO, André (Coord.). Meio ambiente no século 21. Rio de
ecológica da Humanidade. O texto abre com estas palavras dramáticas:
Janeiro: Sextante, 2003, p. 35 a 37
Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa
época em que a Humanidade deve escolher o seu futuro... ou formar
uma aliança global para cuidar da Terra e uns dos outros, ou arriscar
a nossa destruição e a da diversidade da vida. HÁ UM EQUILÍBRIO EM TUDO O QUE NOS CERCA
Esse alarme não é infundado, pois nas últimas décadas temos A natureza viva se caracteriza por um perfeito e constante equilí-
construído o princípio da autodestruição. A máquina de morte das ar- brio entre suas funções de produção e consumo, dispondo inclusive
mas nucleares, químicas e biológicas é de tal destrutividade que somen- de recurso para eliminar o excesso de populações (mediante a ação
te com uma porcentagem delas podemos danificar substancialmente a de predadores) quando estas ameaçam a disponibilidade de alimento
biosfera e abortar o projeto humano. Como espécie – Homo sapiens et ou outros fatores essenciais à vida de todo o sistema. A ação do ho-
demens —, temos ocupado já 83% do planeta, explorando para nosso mem tende, entretanto, a destruir esse equilíbrio.
proveito quase todos os recursos naturais. A voracidade é tal, que temos
depredado os ecossistemas a ponto de a Terra ter superado já em 20% A importância dos predadores
sua capacidade de suporte e regeneração. Mais ainda, fizemo-nos reféns Dissemos anteriormente que animais predadores como o tamanduá,
de um modelo civilizatório depredador e consumista que, se universali- o tatu e muitos pássaros são parte obrigatória do meio ambiente natural
zado, demandaria três planetas semelhantes ao nosso. Evidentemente das formigas. Da mesma forma, serpentes, aranhas e escorpiões, assim
isso é impossível, o que comprova a falta completa de sustentabilidade de como gaviões, morcegos e onças — temidos pela sua capacidade preda-
nosso modo de produção, distribuição e consumo de bens e serviços. Não tória ou aparentemente destruidora — são animais tão úteis ao equilí-
são poucos os analistas do estado da Terra que advertem: ou mudamos de brio da natureza quanto o beija-flor, a lebre ou a gaivota.
padrão de relacionamento com a Terra ou vamos ao encontro do pior. A içá — rainha de um formigueiro de saúvas — põe alguns milha-
res de ovos por dia, durante os quinze anos de sua existência. Já houve
A urgência da espiritualidade na crise atual caso, numa grande revoada de içás no interior do Estado de São Paulo,
É nesse contexto dramático que surge a urgência da espiritualidade. de se retirar de uma lagoa mais de um caminhão desses insetos, que, após
Ela possui um valor em si, independentemente das conjunturas históri- o vôo nupcial, caíram e apodreceram. Normalmente, cada içá, depois de
cas, como essa descrita acima. Mas, atualmente, em situação de alto fecundada em pleno ar, cai ao solo, cava um orifício e inicia aí um novo
risco, parcamente conscientizado pela maioria dos seres humanos, ela é formigueiro de saúvas, onde passa o resto de sua vida pondo ovos.
invocada urgentemente, pois representa uma das fontes secretas de um Imagine, então, se não houvesse animais que se alimentassem de
novo modo de ser que nos poderá salvar. Por que, exatamente, a formigas! Imagine se a maioria das içás não fosse devorada por pássaros
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Brisbane
Perth
Adelaide
Sydney
Canberra
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Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IC O
Hobart
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A Austrália, pelo seu isolamento e conseqüente pecualiaridade de sua fauna nativa, tem
sido vítima de introduções bem-intencionadas, porém malsucedidas, de espécies
estrangeiras... Uma delas foi o coelho, importado para mero divertimento de seus
colonizadores ingleses.
durante o vôo nupcial! Imagine se todas aquelas içás que caíram na la- Temos outro exemplo interessante. Há vários anos surgiu nos Esta-
goa — cada uma carregando mais de 100 mil ovos no abdômen — caís- dos Unidos uma dessas modas esquisitas: sapatos e bolsas de pele de
sem em solo propício e construíssem novos formigueiros! Faça um cál- sapo! É claro que o Brasil, país que abriga diversas espécies desse ani-
culo e veja que, com uma revoada de içás por ano, em menos de cinco mal, logo iniciou a matança de sapos e a exportação de suas peles. Em
anos o volume existente de saúvas seria maior que o da própria Terra. alguns lugares, principalmente no Nordeste, o sapo tornou-se uma ver-
Existem muitos exemplos de superpopulação de um ambiente por dadeira raridade, tal a intensidade de seu extermínio. O resultado, na
falta de predadores. Um caso muito conhecido é o dos coelhos na Aus- forma de desequilíbrio ecológico, não se fez esperar. Várias regiões co-
trália. Durante a colonização desse país, os ingleses, sentindo falta de meçaram a ser invadidas por milhões e milhões de besouros ou de mari-
um animal rápido e esperto que substituísse a raposa européia na prática posas. Isso não apenas incomodou terrivelmente seus habitantes — por-
de seu esporte predileto — a caça à raposa —, levaram para lá o coelho que esses insetos entravam nas casas ou se acumulavam nas ruas, princi-
da América do Sul. Acontece, porém, que na Austrália não havia ani- palmente em volta dos postes de iluminação —, como também causou
mais capazes de caçar o coelho, isto é, animais carnívoros, espertos e enorme prejuízo às plantações, pois as larvas dos besouros são brocas
traiçoeiros como a nossa onça, o cachorro-do-mato, a jibóia etc. Ora, de árvore, e as lagartas das mariposas devoram folhas. Por causa disso,
todos sabem que o coelho é um animal que se reproduz muito, gerando foi decretada a proibição da matança e exportação de peles de sapos
inúmeros filhotes por ano. Resultado: em poucos anos os coelhos for- no Brasil.
maram uma população tão grande que não havia plantação que resistis-
se a eles. Tornaram-se um verdadeiro flagelo! Outros fatores de equilíbrio das populações
Até hoje, muitas tentativas têm sido feitas para controlar a popula- Naturalmente, existem vários fatores que impedem a superpopulação
ção de coelhos ou mesmo erradicar, isto é, eliminar completamente o do mundo — ou de qualquer tipo de ambiente — por uma determinada
coelho da Austrália, sem resultado satisfatório. Uma das tentativas con- espécie de animal ou vegetal. Além dos predadores, controladores ati-
sistiu numa verdadeira e desumana guerra biológica. Disseminou-se no vos, há os fatores limitantes, passivos, que são os alimentos disponíveis.
continente um tipo de peste de coelho, causada por um vírus altamente É claro que uma espécie de formiga jamais poderia chegar a ter uma
destruidor, que provocava morte por hemorragia interna, bastante dolo- população do tamanho da massa da Terra, pois não haveria alimento
rosa. Milhões de coelhos morreram dessa forma, mas, algum tempo de- suficiente para mantê-la. Em geral, a espécie que melhor consegue so-
pois, eles começaram a desenvolver anticorpos e se tornaram imunes à breviver em um determinado ambiente é aquela que dispõe de maior
ação do vírus. Hoje esse método já não produz efeito, e os coelhos con- capacidade para aproveitar as formas de alimento nele disponíveis.
tinuam a proliferar e a destruir plantações na Austrália. A disponibilidade de alimento em um ecossistema — ambiente po-
Aqui no Brasil também há muitos exemplos desse tipo de fenôme- voado por várias espécies em equilíbrio — é geralmente garantida pela
no. O episódio com as içás é um deles e vem ocorrendo com freqüência atividade dos seres denominados produtores, ou seja, pelos organismos
cada vez maior porque a vegetação natural da região, o cerrado, vem vegetais capazes de produzir ou sintetizar compostos orgânicos. Como
sendo substituída por imensos bosques de eucaliptos. Ora, todos nós todos os seres vivos de um ecossistema dependem de compostos orgâni-
sabemos que os pássaros, tamanduás e outros habitantes do cerrado não cos para sua própria constituição, podemos dividi-los em dois grupos
se adaptam à floresta de eucaliptos. Mas a saúva sim. Dessa forma, os distintos: os que produzem (produtores) e os que consomem (consumi-
formigueiros ficam livres de seus agressores, e as saúvas reproduzem- dores) matéria orgânica.
se à vontade. Seria necessário conservar espécies de árvores e arbustos Se não houver produtores, todo o ecossistema perecerá ou terá de
nativos em meio aos eucaliptos, para favorecer a manutenção dos preda- receber alimento “de fora”. Muitas regiões no fundo de mares e lagos, as-
dores naturais. sim como cavernas profundas, possuem ecossistemas que são alimentados
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Robert Malthus, escreveu um livro muito interessante, que despertou lembrado, já em meados do século XX, quando os problemas de
enorme polêmica. Como era costume naquela época, tinha um título superpopulação, poluição, industrialização, uso de agroquímicos etc.
colossal: Um ensaio sobre o princípio da população; como ele afeta o começaram a se avolumar. Hoje novamente se discute — e agora com
êxito futuro da sociedade. Com observações sobre as especulações do muito mais vigor — a questão da limitação da natalidade, do uso de
Sr. Godwin, Sr. Condorcet e outros escritores. Nesse livro, Malthus aler- anticoncepcionais e até da legitimação do aborto. O que você pensa de
ta os governos para um fenômeno curioso que ele havia observado: as tudo isso?
populações humanas tendem a crescer em proporções geométricas, en-
Fonte: BRANCO, Samuel Murgel. O meio ambiente em debate.
quanto a produção de alimentos cresce apenas em proporção aritmética.
Coleção Polêmica. São Paulo: Moderna, 2004.
Isso significa que, se as populações humanas crescerem livremente, elas
acabarão morrendo de fome. Isso só não acontece, segundo ele, porque
existem alguns fatores que concorrem para que a mortalidade humana AUTO-SUSTENTAÇÃO
seja muito alta: doenças infantis, epidemias, guerras etc. Ilhas de ordem num oceano de caos, os organismos são muito supe-
Malthus, compulsando dados demográficos da época, de todas as riores às máquinas construídas pelo homem. Ao contrário da máquina a
partes do mundo, pôde verificar — principalmente nos países mais no- vapor de James Watt, por exemplo, o corpo concentra a ordem. Ele se
vos, na América — a tendência geral de as populações duplicarem a refaz continuamente. A cada cinco dias, temos um novo revestimento
cada 25 anos, aproximadamente. Ele afirma que, mesmo com a evolu- interno do estômago. Ganhamos um novo fígado a cada dois meses.
ção dos métodos de cultivo e a derrubada de matas para a formação de Nossa pele se repõe a cada seis semanas. A cada ano, 98% dos átomos
novas áreas para plantio, era impossível admitir um aumento da produção de nosso corpo são substituídos. Essa substituição química ininterrupta,
de trigo e outros alimentos nessa mesma proporção indefinidamente. o metabolismo, é sinal seguro de vida. E a “máquina” requer uma entra-
De acordo com o princípio de Malthus existem, entretanto, dois da contínua de energia e de substâncias químicas (alimentos).
tipos de bloqueio ao crescimento indefinido das populações: os positi- Os biólogos chilenos Humberto Maturana e Francisco Varela vêem
vos (que na verdade poderiam ser chamados “efetivos”, ou de “efeito no metabolismo a essência de algo realmente fundamental para a vida.
imediato”) e os preventivos. Os bloqueios positivos são aqueles de que Dão-lhe o nome de “autopoese”. Proveniente de raízes gregas que signi-
já falamos, isto é, todas as causas que tendem, de algum modo, a encur- ficam “si mesmo” (auto) e “fazer” (poiein, como em “poesia”), a
tar a duração da vida humana, tais como ocupações insalubres e perigo- autopoese refere-se à produção contínua de si mesma pela vida. Sem o
sas, pobreza e subalimentação, vestuário insuficiente, ausência de cui- comportamento autopoético, os seres orgânicos não se sustentariam –
dados com as crianças, todos os tipos de excesso, vida em grandes cida- não permaneceriam vivos.
des, doenças e epidemias, guerras, pragas e fome. Uma entidade autopoética efetua continuamente o metabolismo;
Os bloqueios preventivos são o celibato temporário ou permanente perpetua-se através da atividade química, da movimentação das molé-
— isto é, não se casar ou se casar tarde, tendo, portanto, menor número culas. A autopoese acarreta um gasto de energia e a produção de alimen-
de filhos — e os métodos que hoje chamamos anticoncepcionais. Na- tos. Na verdade, ela é detectável pela incessante química biológica e
quela época esses eram severamente condenados como imorais, uma fluxo energético que é o metabolismo. Somente as células, os organis-
vez que a união conjugal deveria ser feita única e exclusivamente com a mos feitos de células e as biosferas feitas de organismo são autopoéticos
finalidade de ter filhos — qualquer outro tipo de relação entre homem e e podem efetuar o metabolismo.
mulher era considerado vício. O DNA é uma molécula de importância incontestável para a vida na
Terra, mas a molécula em si não tem vida. As moléculas de DNA se
A explosão demográfica do século XX replicam, mas não metabolizam nada e não são autopoéticas. A replicação
Atualmente, o problema do crescimento demográfico — isto é, do não é, nem de longe, uma característica tão fundamental da vida quanto
aumento das populações — tem se agravado muito, uma vez que inúme- a autopoese. Consideremos: a mula, resultante do cruzamento de ju-
ros bloqueios positivos são atenuados pelos progressos da medicina e mento com égua, não pode “replicar-se”. Ela é estéril, mas seu metabo-
dos conhecimentos científicos em geral. A descoberta de vitaminas, an- lismo funciona com o mesmo vigor que o de seus pais; sendo autopoética,
tibióticos e vacinas e a introdução de uma série de medidas de caráter ela tem vida. Falando de algo que nos é mais próximo, os seres humanos
social e de assistência aos recém-nascidos e à velhice vêm reduzindo que já não podem, ou que nunca puderam, ou que simplesmente optam
muito a mortalidade infantil e prolongando a vida dos idosos. Isso faz por não se reproduzir não podem ser relegados, por uma exatidão for-
com que as populações cresçam muito depressa, a não ser que sejam çada da definição biológica, ao campo dos não-vivos. É claro que tam-
adotadas medidas de bloqueio preventivo: limitação da reprodução e da bém eles vivem.
natalidade. Em nossa opinião, os vírus não têm vida. Não são autopoéticos.
Por outro lado, muitos avanços têm sido alcançados na agricultura e Pequenos demais para se sustentar, não metabolizam nada. Os vírus não
na pecuária, permitindo maior produção de cereais, frutas, carne e leite fazem coisa alguma até entrarem numa entidade autopoética: uma célula
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Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
parto, formação de esporos ou outros processos similares do que o nú- espécie humana e de muitas outras espécies pode ficar comprometido a
mero capaz de sobreviver. Os que resistem por tempo suficiente para se menos que haja uma melhora significativa na administração dos recur-
reproduzir são “naturalmente selecionados”. Dito em termos mais dire- sos hídricos terrestres”.1
tos, não é propriamente que os sobreviventes sejam selecionados por O acesso à água já é um dos mais limitantes fatores para o desenvol-
seu sucesso, mais sim que os seres que não conseguem reproduzir-se vimento socioeconômico de muitas regiões. “A sua ausência, ou conta-
antes de morrer são excluídos pela seleção. minação, leva à redução dos espaços de vida, e ocasiona, além de imen-
A identidade e a auto-sustentação requerem o metabolismo. A quí- sos custos humanos, uma perda global de produtividade social.2 A com-
mica metabólica (comumente chamada de fisiologia) precede a reprodu- petição de usos pela agricultura, geração de energia, indústria e o abas-
ção e a evolução. Para que uma população evolua, seus membros têm tecimento humano tem gerado conflitos geopolíticos e socioambientais
que se reproduzir. No entanto, para que um ser orgânico possa reprodu- e afetado diretamente grande parte da população da Terra. Mais de 2,6
zir-se, primeiro ele precisa se sustentar. Durante a vida de uma célula, bilhões de pessoas carecem de saneamento básico e mais de um bilhão
cada uma das aproximadamente cinco mil proteínas diferentes faz um continuam a utilizar fontes de água impróprias para o consumo. Por fal-
intercâmbio completo com o meio circundante, milhares de vezes. ta de água limpa, metade dos leitos hospitalares disponíveis no mundo é
As células bacterianas produzem DNA e RNA (ácidos nucléicos), ocupada e cerca de 5 milhões de pessoas3, na sua maioria crianças, mor-
proteínas de enzimas, gorduras, carboidratos e outras substâncias quí- rem anualmente. Apesar destes dados assustadores, a crise da água é
micas complexas de carbono. Os corpos de protoctistas, fungos, ani- uma crise silenciosa.
mais e plantas também produzem, todos eles, essas e outras substân- A qualidade e quantidade de água têm impactos diretos nos meios
cias. Contudo, o mais importante e espantoso é que qualquer corpo de vida das populações mais pobres, na sua saúde e na sua vulnerabilidade
vivo produz a si mesmo. a crises de todos os tipos. Também afetam grandemente o estado do
Essa manutenção energética da unidade, enquanto os componen- meio ambiente, a capacidade dos ecossistemas de fornecer serviços
tes, em caráter contínuo ou intermitente, são rearranjados, destruídos ambientais e a probabilidade de desastres ambientais. Em todo o mun-
e reconstruídos, partidos e consertados, é o metabolismo, que precisa do, a falta de medidas sanitárias e de tratamento de esgotos polui rios e
de energia. De acordo com a segunda lei da termonidâmica, a auto- lagos; lençóis freáticos são rapidamente exauridos e contaminados por
sustentação autopoética só preserva ou aumenta a ordem interna me- métodos de exploração inadequados; águas superf iciais são
diante uma contribuição para a “desordem” do mundo externo, con- superexploradas pela irrigação e poluídas por agrotóxicos; populações
forme os restos metabólicos vão sendo excretados e há uma emissão de peixes são sobre-exploradas, áreas úmidas, rios e outros ecossistemas
de calor. Todos os seres vivos têm que realizar o metabolismo e, por reguladores de águas são drenados, canalizados, represados e desviados
conseguinte, todos precisam criar uma desordem local: calor inútil, sem planejamento4. Os estoques de água doce estão sendo intensamente
ruído e incerteza. Assim é o comportamento autopoético, que reflete o diminuídos pelo despejo diário de 2 milhões de toneladas de poluentes
imperativo autopoético necessário a qualquer ser orgânico que viva, (dejetos humanos, lixo, venenos e muitos outros efluentes agrícolas e
que continue com suas funções. industriais) nos rios e lagos. A salinidade, assim como a contaminação
A visão autopoética da vida difere dos ensinamentos padronizados por arsênico, fluoretos e outras toxinas, ameaçam o fornecimento de
da biologia. A maioria dos autores de textos dessa área deixa implícito água potável em muitas regiões do mundo.
que o organismo existe independentemente de seu meio, e que o meio é Uma das conseqüências mais perversas deste mau uso é a exclusão
sobretudo um pano de fundo estático e sem vida. Entretanto, os seres hídrica. Hoje, apenas metade da população das nações em desenvolvi-
orgânicos e o meio ambiente acham-se entrelaçados. O solo, por exem- mento tem acesso seguro à água potável. A escassez de água aumentará
plo, não é isento de vida. É uma mistura de fragmentos de rochas, pólen, significativamente nos próximos anos, devido ao aumento do impacto
filamentos de fungos, cistos de ciliados, esporos bacterianos, nematódeos combinado resultante do aumento do uso per capita de água e dos efei-
e outros animais microscópicos e suas partes. “A natureza”, observou tos das mudanças climáticas. O aumento da população e da renda reflete
Aristóteles, “avança paulatinamente das coisas sem vida para a vida ani- diretamente no aumento do consumo de água e na produção de resíduos
mal, de tal maneira que é impossível determinar a linha de demarcação poluentes. A população urbana dos países em desenvolvimento aumen-
exata”. Independência é um termo político, não científico. tará dramaticamente, gerando demanda muito além da capacidade, já
Desde a origem da vida, todos os seres vivos têm estado ligados, inadequada, de infra-estrutura para fornecimento de água e saneamento.
direta ou indiretamente, conforme seus corpos e populações vão cres-
cendo. As interações ocorrem conforme os organismos se ligam pela
água e pelo ar. Darwin, em Origem das espécies, comparou a comple- * Doutor em Meio Ambiente e Desenvolvimento, Coordenador da Unidade de
Meio Ambiente, Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento —
xidade dessas interações a “um banco em dificuldade” – complexo PNUD/Brasil
demais para nós, seres humanos, sequer comecemos a decifrá-lo: “Se ** Doutor em Ecologia, Analista de Projetos, Programa das Nações Unidas para o
jogarmos um punhado de penas para o alto, todas cairão no chão de Desenvolvimento — PNUD/Brasil
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Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
seres vivos.” A posição de Wally N’Dow (12) , para quem grande parte sapropriação da vida aquática em aquários e zôos. Todavia, esta ativida-
dos conflitos políticos e sociais no futuro deixarão de ter como causa o de é usada simplesmente para conhecer uma complexa necessidade do
petróleo e serão provocados pelas disputas em torno da água, é hoje organismo aquático de forma a torná-lo capaz de sobreviver sob deter-
praticamente um consenso. minadas condições de cativeiro.
O alerta feito por Bouguerra não pode ser ignorado. Necessitamos, A maior proposta para esta atividade é os estudantes reconhecerem
hoje, da formulação de uma política global para a água, fundada sobre o e apreciarem a complexidade da vida aquática, usando como enfoque as
plano da ética, e que sirva de guia para definir uma partilha equilibrada condições de vida em zôos ou aquário.
dos recursos. “Dessa maneira se poria fim aos embates indignos que os
detentores do poder e alguns grupos de pressão exercem sobre este re- I – Objetivo
curso. Se a política da água precisa ser integrada à viabilidade econômi- 1. Identificar os componentes do hábitat essenciais à sobrevivência
ca, não é menos indispensável que ela englobe também a solidariedade da maioria dos animais aquáticos.
social, a cooperação com os países mais desprovidos, a responsabilida- 2. Reconhecer e apreciar a complexidade da vida aquática.
de ecológica e a utilização racional desse recurso, para não comprome- 3. Escolher um hábitat adequado à vida aquática.
ter as necessidades das gerações atuais e futuras e dos demais seres vi-
vos que partilham conosco a água do globo.” II – Material
1. J.W.Maurits la Rivière – “Threats to the World’s Water” – Scientific American, • cartões 3 cm x 5 cm
special issue – Managing Planet Earth, 1989.
2. Ladislaw Dobor. In “A Reprodução Social” Volume 2 Política Econômica e • canetas
Social: os desafio do Brasil. 2001. • papel machê
3. Dados do relatório da Força-tarefa da ONU. Água e Saneamento do Projeto do
Milênio. 2005. Na literatura especializada, estes dados variam muito, com nú- • argila
meros até cinco vezes maiores.
4. WWF-Brasil “Programa Água para a Vida – Conservação e Gestão de Água Doce”. • barbante
5. UN/WWAP (United Nations/World Water Assessment Programme). 2003. UN
World Water Development Report: Water for People, Water for Life. Paris,
• papelão
New York and Oxford: United Nations Educational, Scientific and Cultural • caixas de papelão
Organization and Berghahn Books.
6. Instituto Socioambiental – ISA. Almanaque Brasil Socio-ambiental, 2004. • galão
Relatos de diferentes conflitos entre, intra e inter nações, bem como resultan-
tes do crescente processo de privatização dos serviços de águas e saneamento III – Procedimento
pode ser visto em Evaristo Miranda. Água na natureza e na vida dos homens.
Idéias e Letras. 2004 e em Mohamed Bouguerra. As Batalhas da Água: por um 1. Prepare os cartões com o nome de um dos seguintes animais:
bem comum da humanidade. Editora Vozes, 2004. truta, tubarão, dourado, tilápia, cavalo-marinho, gaivota, lontra,
7. The United Nations World Water Development Report 2003, UNESCO-WWAP.
tartaruga marinha, jacaré, sapo, atobá, baleia.
8. Ministério das Cidades 2004. Saneamento Ambiental. Cadernos MCidades, vol. 5.
9. Centro de Pesquisa de Opinião Pública – DATAUnB. Relatório Nacional ODM 2. Divida a classe em grupos de 2 a 4 alunos. Cada grupo retira um
7 “Garantir a sustentabilidade ambiental”. UnB, 2004. cartão da caixa.
10. Estima-se que sejam necessários apenas 4% dos gastos militares com arma- 3. Peça a cada grupo que seja responsável por desenhar um hábitat
mentos no Mundo para prover água potável e saneamento adequado para toda artificial, no qual seu animal possa viver com sucesso. Instrua-os
a humanidade.
11. Mohamed Bouguerra. As Batalhas da Água: por um bem comum da humani-
para pesquisarem em bibliotecas, por exemplo, sobre a necessi-
dade. Editora Vozes, 2004. 238p. dade de cada animal e as características do seu hábitat natural.
12. Ex-secretário-geral da Conferência das Nações Unidas sobre Habitações Hu- 4. Quando o estudo se completar, cada grupo estará apto a cons-
manas (Hábitat II). truir um modelo ou pequena réplica de um zôo ou aquário, que
Fonte: Disponível em: http://www.pnud.org.br/noticias poderia ser importante para a sobrevivência e conforto desse
impressao.php?id01=1067. Acesso em 05 maio 2005. animal, em cativeiro.
5. Uma vez completo o modelo, peça ao grupo que o apresente ao
resto da classe. Cada exposição deverá incluir uma descrição das
Sugestões de atividades necessidades básicas do animal, assim como uma descrição das
características de seu hábitat natural.
DESENHANDO UM HÁBITAT 6. Peça aos estudantes que sumarizem os componentes do hábitat
As condições básicas de alimento, ar, água e espaço desejáveis que lhes pareçam essenciais à sobrevivência do animal pesquisado:
aos animais parecem óbvias, quando se consideram os zôos. Todavia, alimento, água, refúgio, espaço etc.
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• vidro de boca larga, com tampa e transparente (vidro de conser- (consumidores primários) e C – jaguatiricas (consumidores secundários).
vas, por exemplo) I – Objetivo
• pinça de fabricação caseira (pode ser de bambu)
1. Analisar a relação produtor / consumidor.
• pedrinhas
2. Analisar a relação presa / predador.
• terra e areia
3. Entender como se processa a transferência de matéria e energia
• plantas de pequeno porte (dar preferência para plantas que neces-
nas cadeias alimentares.
sitem de pouca luz direta)
II – Material
III – Procedimento
• fitas de três cores diferentes (o número de fitas de cada cor deve
1. Observe a figura durante a execução da atividade. ser superior ao número de integrantes do jogo)
• apito, que poderá ser substituído por assobio, dependendo de quem
PAULO MANZI
comandar a atividade
• tabela para acompanhar o desenvolvimento do jogo, conforme
modelo
Modelo da tabela
Figura: Modelo de
um ecossistema GERAÇÕES PLANTAS PREÁS JAGUATIRICAS
artificial em
recipiente de vidro. 1·
Representação
esquemática (sem 2·
escala). 3·
4·
5·
6·
7·
8·
2. Lave bem o vidro que será utilizado para evitar fungos e outros
9·
microorganismos indesejáveis; utilize detergente (biodegradável),
preferencialmente, e deixe secar ao Sol. 10·
3. Separe uma quantidade de terra que corresponda aproximadamente
a 1/4 do vidro. Peneire a terra e deixe-a secar, se estiver úmida. O III – Procedimento
ideal é que seja terra seca. 1. A classe deverá ser dividida em 3 grupos, deixando-se, porém, o
4. Lave também as pedras e a areia. grupo das plantas com um número ligeiramente maior que os
5. Despeje dentro do vidro uma camada de pedrinhas com, aproxi- demais. Da mesma forma, o grupo dos preás deve ser maior que o
madamente, 2 cm de altura. Em seguida, cubra as pedras com das jaguatiricas. Por exemplo, caso a classe possua 30 alunos, o
uma camada de areia da mesma espessura. Coloque, então, 3 cm melhor seria dividi-la da seguinte forma: 14 plantas, 10 preás e 6
da terra peneirada. jaguatiricas.
6. Uma vez feita essa preparação, está na hora de fixar as plantas 2. As fitas devem ser amarradas na cabeça ou no pulso de cada um
nesse substrato, com o auxílio da pinça de bambu. Aqui, não dos integrantes. Cada cor representa um elo da cadeia.
existem muitas regras em relação ao arranjo das plantas den- 3. As plantas ficarão espalhadas pelo pátio, os preás deverão ser
tro do vidro. É importante apenas não se esquecer de que as dispostos em círculo, ficando distantes 5 a 6 metros das jaguatiricas,
plantas irão crescer e se desenvolver dentro do vidro, embora que também estarão dispostas em círculo, envolvendo o círculo dos
lentamente. preás, conforme mostra a figura.
21
4. O jogo terá 10 rodadas. Para iniciar uma rodada, o professor de- Bibliografia específica (para os professores)
verá apitar 1 vez, e para terminá-la, 2 vezes. ALBERTS, Bruce; WATSON, James D. et al. Molecular Biology of the
cell. New York: Garland Publishing, 1994.
Regras do jogo BAINS, Willian. Biotechnology — From A to Z. Oxford: Oxford
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
University Press, 1998.
1. Plantas
BECKER, Wayne M. et al. The world of cell. Menlo Park: The Benja-
As plantas deverão ficar espalhadas pelo pátio ou no lugar escolhi-
min/Cummings Publishing, 1996.
do para o jogo, e permanecer nos seus lugares. Quando apanhadas pelos
BEIGUELMAN, Bernardo. Citogenética humana. Rio de Janeiro:
preás, deverão permanecer no local onde foram apanhadas até a próxi-
Guanabara Koogan, 1982.
ma rodada, e depois ir para o grupo dos preás.
BERKALOFF, André et al. Biologia e Fisiologia celular. São Paulo:
2. Preás Edgard Blücher, 1975.
Cada preá deve procurar apanhar uma planta e evitar ser capturado BRITISH MEDICAL ASSOCIATION. Our genetics future. Oxford:
por uma jaguatirica. A única defesa possível dos preás é abaixar-se. Oxford University Press, 1992.
Abaixando-se, estarão escondidos das jaguatiricas. Quando apanhados BURNS, George W. & BOTTINO, Paul J. Genética. Rio de Janeiro:
por uma jaguatirica, os preás deverão permanecer no local onde foram Guanabara Koogan, 1989.
capturados até o término da rodada. Na rodada seguinte, estes preás pas- CAIRNS-SMITH, A. G. Seven clues to the origin of life. Cambridge:
sarão a ser jaguatiricas. Cambridge University Press, 1985.
CONN, Eric E.; STUMPF, P. K. Introdução à Bioquímica. São Paulo:
3. Jaguatiricas Edgard Blücher, 1975.
As jaguatiricas deverão tentar capturar um preá. DAWKINS, Richard. A escalada do monte improvável. São Paulo: Com-
Os preás e as jaguatiricas que não conseguirem alimento voltarão panhia das Letras, 1998.
na rodada seguinte, como plantas. Explicação: os animais que não con- ––––––––––––. O rio que saía do Éden. Rio de Janeiro: Rocco, 1996.
seguem alimento morrem de fome. Seus corpos são decompostos e de- DE ROBERTIS, E. D. P.; DE ROBERTIS. Jr., E. M. F. Bases da Biolo-
les só restam os sais minerais que as plantas incorporam. Por isso vol- gia celular e molecular. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1989.
tam como plantas. FARRINGTON, Benjamin. What Darwin really said. New York: Scocken,
Os preás e as jaguatiricas que conseguirem alimento continuarão 1982.
como tais. Explicação: preás e jaguatiricas que conseguem alimentos FOX, Sidney W. et al. The origin of life and evolutionary biochemistry.
são bem-sucedidos. Isso permite que se mantenham saudáveis e se New York: Plenum, 1974.
reproduzam, garantindo novos indivíduos para a geração seguinte. FROTA-PESSOA, Oswaldo et al. Genética clínica. Rio de Janeiro: Fran-
As plantas que foram capturadas voltam como preás. Os preás cap- cisco Alves, 1984.
turados voltam como jaguatiricas. Explicação: quando um ser vivo ser- –––––—-––––. Genética Humana. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1984.
ve de alimento para outro, as substâncias que formam seu corpo passam GARDNER, Eldon J.; PETER, Snustad D. Genética. Rio de Janeiro:
a fazer parte desse outro ser. Por isso, as plantas capturadas pelos preás, Guanabara Koogan, 1986.
voltam como preás e estes, quando capturados, voltam como jaguatiricas. GOULD, Stephan Jay. O polegar do panda. São Paulo: Martins Fontes,
Fonte consultada: http://educar.sc.usp.br/ciencias/ecologia/ativida.html. Acesso
1989.
em 18 abr. 2005. HARTL, Daniel L. Essential Genetics. Sudbury: Jones and Barlett
Publishers, 1996.
JUNQUEIRA, Luis C.; CARNEIRO, J. Biologia celular e molecular.
Unidade II – A unidade da vida Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1991.
Dentro do vasto conhecimento biológico, duas áreas têm a proprie- __________. Histologia básica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
dade de aglutinar informações sobre quase todos os seres vivos. Uma é 1974.
a Ecologia, que trata das relações entre os seres vivos e entre eles e o KLUG, William S.; CUMMINGS, Michael R. Concepts of Genetics.
ambiente; outra é a Citologia, que lida com as células, unidades que New Jersey: Prentice Hall, 1997.
constituem a maioria dos organismos. O estudo das células é uma das KROUGH, David. Biology — A guide to the natural world. New Jersey:
“portas de entrada” no mundo da Biologia. Prentice Hall, 2000.
Nesta obra, nossa proposta é ver a célula como uma estrutura dinâmi- LEHNINGER, Albert L. et al. Principles of Biochemistry. New York:
ca: um labirinto ocupado por água, onde as reações acontecem de forma Worth Publishers, 1993.
organizada, eficiente e econômica. A célula é a menor estrutura capaz de LIMA, Celso P. Genética humana. São Paulo: Harbra, 1984.
executar as atividades que caracterizam os seres vivos, razão pela qual o MONOD, Jacob. O acaso e a necessidade. Petrópolis: Vozes, 1971.
estudo da célula é fundamental para compreendermos a Biologia. NOVIKOFF, Alex B.; HOLTZMAN, Eric. Células e estrutura celular.
A vida não pode ser encarada como algo imutável e pronto. Ela está São Paulo: Interamericana, 1977.
em permanente e intensa mudança, embora assim não pareça aos nossos PASSARGE, Eberhard. Color Atlas of Genetics. New York: Tieme
olhos apressados. Tudo evolui e se modifica com o transcorrer do tempo. Medical Publishers, 1995.
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Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
grandes avanços foram conseguidos, sobretudo pela Empresa Brasileira de lagartas. A principal vantagem no emprego desses transgênicos, so-
de Pesquisas Agronômicas (Embrapa), por exemplo, nas modificações bretudo do ponto de vista ambiental, está na diminuição da necessidade
introduzidas na soja, adaptando essa planta exótica ao nosso clima e ao do uso de inseticidas, principalmente para o controle das lagartas que se
nosso solo, o que permitiu que nos tornássemos um dos maiores produ- abrigam no interior das folhas e dos ramos da planta. Isso permite o
tores e exportadores dessa leguminosa em todo o mundo. Mas além da aumento natural das populações de insetos não-nocivos, favoráveis ao
Embrapa, as universidades brasileiras contribuíram significativamente controle biológico, bem como a diminuição dos inseticidas residuais
para o progresso das técnicas mais avançadas de engenharia genética. nos alimentos, nocivos à saúde.
Foi somente a partir do início dos anos de 1980, no entanto, que Uma das primeiras plantas transgênicas desenvolvidas pela enge-
surgiram os primeiros resultados de transgênese em plantas. Com o apoio nharia genética foi um tomate resistente aos vírus do mosaico, em 1988.
financeiro, finalmente, de grandes empresas produtoras de sementes e Depois, várias plantas cultivadas foram objeto dessas transferências
agroquímicos, assim como de laboratórios de produtos farmacêuticos, gênicas, impedindo a multiplicação dos vírus no interior de suas célu-
essas pesquisas foram intensificadas ao longo daquela década, dando las: tabaco, abobrinha, melão, pepino, alfafa, batatinha, melancia, ma-
seus primeiros resultados em dez anos, isto é, em meados dos anos de mão, mandioca etc. A maior parte desses transgênicos, porém, continua
1990. Em 1994, a sociedade Calgene, dos Estados Unidos, coloca no a ser objeto de pesquisas aprofundadas sobre a sua persistência, sobre a
mercado uma variedade de tomate transgênico com amadurecimento disseminação indesejável dos genes transferidos por meio dos vírus re-
controlável, evitando, assim, que o amadurecimento rápido da fruta pre- sistentes, bem como sobre a sua difícil aceitação pública, em se tratando
judicasse o seu transporte e armazenamento, deteriorando-se antes de de legumes.
chegar ao consumidor. Logo em seguida, porém, começam a aparecer O tomate e o melão foram as primeiras plantas em que se realiza-
transgênicos voltados a aspectos ambientais, como os resistentes aos ram experiências de transgênese visando ao amadurecimento controla-
herbicidas, aos insetos daninhos, aos vírus, assim como também ao me- do e, assim, ao melhoramento da qualidade nutricional dos seus frutos.
lhoramento das qualidades nutricionais dos produtos, como é o caso do Os frutos obtidos amadurecem mais lentamente, o que permite a sua
anunciado “arroz dourado”, rico em vitamina A, destinado a populações colheita mais tardia, e isso dá lugar à obtenção de produtos com melhor
carentes com alta incidência de cegueira em virtude da avitaminose. qualidade gustativa e nutricional nas condições de transporte e
Um dos primeiros objetivos dessas transgêneses consistiu no de- armazenamento atuais. Nos Estados Unidos, foi desenvolvida uma
senvolvimento de resistência das plantas cultivadas aos chamados batatinha transgênica com teor modificado de amido, permitindo menor
herbicidas totais, como o glifosato, o glufosinato e a fosfinotricina. Os absorção de gorduras durante a fritura, o que representa vantagens sob o
herbicidas totais são produtos que destroem indiferentemente quaisquer aspecto dietético. Também na colza (variedade de couve comestível e da
tipos de plantas, ao contrário dos herbicidas seletivos, que matam ape- qual se extrai óleo) e na soja foram introduzidas modificações visando
nas certos tipos de vegetais, considerados “ervas daninhas”, e poupam ao aumento do teor de ácido oléico e à redução do ácido linoléico, im-
as plantas cultivadas. Estes últimos, porém, não são muito eficazes, obri- portante no controle de doenças causadas pelo excesso de colesterol.
gando o agricultor a empregá-los em altas dosagens, em misturas de Há pouco tempo, diante da constatação da Organização Mundial da
vários tipos de herbicidas, geralmente muito tóxicos. Este procedimento Saúde (OMS) de que a carência de vitamina A afeta entre 100 milhões e
faz com que tais herbicidas permaneçam nas plantas e acabem sendo 200 milhões de crianças nos países subdesenvolvidos, provocando gra-
ingeridos pelas pessoas ou por animais. Além disso, para alguns tipos de ves deficiências de visão (cerca de 500 mil casos de cegueira infantil
lavoura, não existem herbicidas seletivos, e uma remoção insuficiente constatados, além da morte de mais de 1 milhão de crianças em idade
de ervas daninhas leva a um baixo rendimento e a uma diminuição da pré-escolar por ano, por avitaminose A), um grupo de cientistas da Suí-
qualidade do produto agrícola. Quanto aos herbicidas totais, estes são ça e da Alemanha conseguiu desenvolver uma variedade transgênica de
altamente eficazes na destruição das ervas daninhas, mesmo em baixas arroz rica em betacaroteno, formador dessa vitamina. Por causa dessa
dosagens, porém matam também a planta cultivada, a não ser que esta substância, esse arroz possui uma coloração amarela, tendo sido
seja semeada após a destruição daquelas. Alguns produtos possuem um apelidado de “arroz dourado”. Considerando que o arroz é um dos ali-
bom efeito herbicida, ao mesmo tempo que são de pouca permanência mentos mais utilizados — e baratos — do mundo, essa constituirá, sem
no solo — graças a uma rápida biodegradabilidade —, permitindo que dúvida, uma forma de fazer chegar a esses povos carentes as quantida-
o cultivo se inicie após algumas semanas. des necessárias da vitamina A, a fim de permitir um desenvolvimento
Os glifosatos são herbicidas totais cuja ação sobre as plantas se dá normal das crianças.
por meio de reações exclusivas dos vegetais, não afetando, pois, a vida No Brasil, a Embrapa realiza experiências de engenharia genética
animal. Assim sendo, a transferência para as espécies cultivadas de um desde 1980. Um importante trabalho já concluído foi o de produzir ba-
gene que lhes conferisse resistência à ação desse herbicida teria duas nanas transgênicas resistentes ao mal de sigatoka, uma doença que ame-
vantagens principais: uma alta eficácia na destruição das espécies noci- aça extinguir as bananeiras de todo o mundo. Muitos outros projetos,
vas e uma baixa nocividade ao ambiente, seja pela ausência de efeitos entretanto, estão em andamento, como o feijão resistente ao caruncho,
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de outra forma a seleção natural não poderá agir. códons parecidos. Por exemplo, o ácido aspártico e o ácido glutâmico
Os seres vivos possuem não uma, mas duas linguagens desse tipo. são quimicamente semelhantes: o ácido aspártico é codificado pelos
Existe a familiar linguagem genética baseada na replicação dos ácidos códons GAU e GAC e o ácido glutâmico pelos códons GAA e GAG.
nucléicos, DNA e RNA, e existe a linguagem mais familiar ainda, restri- Uma análise mais geral confirma que, a esse respeito, o código está
ta aos humanos, que estamos utilizando neste momento. A primeira é a longe de ser aleatório. Por que deveria ser adaptativo que aminoácidos
base da evolução biológica e a segunda, da mudança cultural. Neste en- parecidos sejam codificados por códons parecidos? Duas razões plausí-
saio iremos discutir a origem de ambas. veis têm sido sugeridas. Primeiro, se um erro é cometido durante a sín-
Na verdade, não discutiremos a origem da replicação dos ácidos tese protéica, o efeito na função da proteína provavelmente será bastante
nucléicos, embora esse fosse um passo crucial — talvez o passo crucial pequeno. Segundo, é menos provável que as mutações sejam deletérias.
— da origem da vida. Em vez disso, vamos tratar da origem do código Uma segunda característica não-aleatória do código diz respeito à
genético. Nos seres vivos existe uma divisão de trabalho entre ácidos sua redundância. Aminoácidos podem ser codificados por um, dois, três,
nucléicos e proteínas. Os ácidos nucléicos contêm a informação genéti- quatro ou seis códons diferentes. Em geral, os aminoácidos que são co-
ca, que é transmitida por meio da replicação. As proteínas determinam o muns entre proteínas tendem a ser especificados por mais códons: por
fenótipo do organismo. A conexão entre as duas se dá pelo código gené- exemplo, leucina e serina (ambas com seis códons) são mais freqüentes
tico, onde a seqüência de bases de um ácido nucléico corresponde à em proteínas do que o triptofano (um códon). Mas provavelmente seria
seqüência de aminoácidos de uma proteína. É nesse processo de tradu- errado interpretar isso como uma característica adaptativa do código. É
ção que os ácidos nucléicos adquirem o que chamamos de seu sentido: mais provável que seja uma conseqüência não selecionada do código ser
ao especificar proteínas, eles influenciam suas chances de sobrevivên- como ele é. Portanto, haverá mais mutações para serina e leucina do que
cia — sua “aptidão”. O mecanismo de tradução é ao mesmo tempo tão para triptofano. Se pelo menos algumas modificações de aminoácidos
complexo e universal que fica difícil pensar como ele se originou, ou forem seletivamente neutras, a observada associação entre abundância
como a vida poderia ter existido sem ele. de proteínas e redundância será previsível. Há também evidências níti-
O segundo desses problemas, a existência da vida sem o código, das de que a seleção impediu que a abundância de proteínas correspon-
que parecia um mistério quase impenetrável há 10 anos, não é mais tão desse precisamente à redundância. Por exemplo, as freqüências dos
misterioso. A descoberta crucial é que, mesmo nos organismos existen- aminoácidos ácidos (ácido aspártico e ácido glutâmico) e básicos
tes, algumas enzimas são feitas de RNA e não de proteína (Zaug & Cech, (arginina e lisina) são aproximadamente iguais, como seria previsto, na
1986). Isto levou à idéia de um “mundo de RNA” onde as mesmas mo- medida em que o pH intracelular é neutro. Mas, considerando a redun-
léculas de RNA eram fenótipo e genótipo, simultaneamente enzimas e dância de códons, esperaríamos que os aminoácidos básicos fossem duas
armazenadoras da informação genética. Dado este quadro, que aceita- vezes mais freqüentes que os ácidos.
mos, é possível ter vida sem proteínas, e portanto sem o código. Tam- Permanece a questão sobre a existência ou não de alguma razão
bém fica mais fácil imaginar como o código poderia ter se originado. química para determinados códons terem se associado com determina-
A característica essencial do código é que cada seqüência de três dos aminoácidos. A alternativa é que as designações foram quimica-
nucleotídeos ou triplet — cada “códon” — corresponde a um de vinte ami- mente arbitrárias, assim como a atribuição de sentidos às palavras na
noácidos. Essa designação é ocasionada pela ligação de determinados linguagem humana é essencialmente arbitrária. Segundo este pressu-
aminoácidos e determinadas moléculas de RNAt, cada qual integrando o posto, pode haver uma razão para o fato de os dois primeiros nucleotídeos
códon relevante. A ligação é realizada por enzimas específicas que pode- nos códons do ácido glutâmico e do ácido aspártico serem os mesmos,
mos chamar “enzimas designadoras”. A especificidade do código depen- mas é apenas por mero acidente que eles são GA e não, por exemplo,
de da especificidade dessas enzimas. Nosso problema é explicar como tal AU. A questão permanece em aberto, mas é claro que qualquer especi-
especificidade surgiu. ficidade química que possa ter existido não foi, por si mesma, suficiente
Antes de abordar essa questão, entretanto, vamos revisar brevemente para determinar o código: a evolução de enzimas designadoras perma-
o que pode ser deduzido da natureza do código existente. Há algumas nece um passo crucial a ser explicado.
variações: por exemplo, nas leveduras e na maioria das mitocôndrias de A idéia básica (Szathmáry, 1993) é que o primeiro envolvimento
animais, o códon AUA codifica a metionina em vez da isoleucina. Outras dos aminoácidos com processos da vida foi como co-fatores de ribozimas.
diferenças como esta são conhecidas e outras mais serão provavelmente Ao recrutar co-fatores de aminoácidos, o alcance catalítico e a eficiên-
descobertas. A variabilidade é limitada, no entanto, e é compatível com a cia das ribozimas puderam ser muito ampliados. Cada co-fator corres-
pondia a um aminoácido ligado a um oligonucleotídeo — provavelmen-
te um trinucleotídeo, em cujo caso o código visto de fora era organizado
* Department of Biology, Biology Building, The University of Sussex, Falmer,
Brighton, Sussex BNI 9QC, UK.
em triplets. A função do oligonucleotídeo era ligar o co-fator à ribozima
** Department of Plant Taxonomy and Ecology, Eötvos University, Budapest, por pareamento de bases. Cada tipo de co-fator poderia ter agido em
Hungary. conjunção com muitas ribozimas diferentes.
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Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Fonte: MURPHY, Michael; O’NEILL, Luke (Org.). O que é a vida? 50 anos de largatixas; todos os vertebrados mais próximos uns dos outros do que
depois. São Paulo: Editora Unesp, 1997. p. 83 a 88. de um inseto – um fato amplamente reconhecido, considerado ao mes-
mo tempo belo e misterioso, muito antes de a evolução oferecer uma
resposta). As explicações anteriores eram insatisfatórias porque não po-
TRÊS ASPECTOS DA EVOLUÇÃO diam ser testadas (o toque criativo de Deus originando cada espécie por
Stephen Jay Gould decreto, com as relações taxonômicas representando a ordem do pensa-
O que a evolução não é mento divino) ou eram obscuras (as espécies como unidades naturais,
como os elementos da tabela periódica, ordenando a matéria orgânica).
De todos os conceitos fundamentais nas ciências da vida, a evolu-
A explicação evolutiva para o sistema natural é maravilhosamente sim-
ção é o mais importante e também o mais mal compreendido. Mas como
ples: a relação é a genealogia; os seres humanos são parecidos com ma-
podemos entender um assunto melhor ao reconhecer aquilo que ele não
cacos pois partilhamos um ancestral comum recente. A ordem taxonômica
é, e o que não pode ser, devemos começar com algumas refutações, re-
é um registro histórico.
conhecendo para a ciência aquilo que G. K. Chersterton considerou tão
Mas a existência de genealogia e mudança – descendência com
importante para as humanidades: “Arte é limitação; a essência de cada
modificação – não basta para caracterizar a evolução como uma ciência.
pintura é a moldura”.
A ciência possui duas missões: (1) registrar e descobrir os aspectos
Primeiramente, a evolução, assim como qualquer área de ciência, factuais do mundo empírico e (2) propor e testar explicações sobre por
não é capaz de sondar a questão das origens fundamentais ou significa- que o mundo funciona de uma forma particular. A genealogia e a des-
dos éticos. (A ciência, como um empreendimento, busca explicar fenô- cendência atendem à primeira meta – uma descrição do fato da evolu-
menos e regularidades do universo empírico, sob o pressuposto de que ção. Precisamos também conhecer os mecanismos pelos quais a mudan-
leis naturais são uniformes no espaço e no tempo. Essa restrição delimi- ça evolutiva ocorre – explicar as causas da descendência com modifica-
ta um infindável e fascinante mundo dentro do “quadro”; a maioria das ção, que é a segunda meta. Darwin propôs o mecanismo mais famoso e
questões relegadas à “moldura” são impossíveis de responder, de qual- documentado para a mudança na forma do princípio que chamou de
quer forma.) Assim, a evolução não é o estudo da origem primordial da “seleção natural”.
vida no universo ou do significado intrínseco da vida entre os objetos da O fato da evolução é tão bem documentado quanto qualquer coisa
natureza; essas questões são filosóficas (ou teológicas) e não fazem par- que conhecemos na ciência – tão seguro quanto nossa convicção de que
te do domínio da ciência. (Também desconfio que não possuam respos- a Terra gira ao redor do Sol, e não o contrário. Porém, o mecanismo da
tas universalmente satisfatórias, mas isso é assunto para outro momen- evolução permanece o centro de empolgantes controvérsias – e a ciência
to.) Esse aspecto é relevante pois fundamentalistas fervorosos, disfarça- é mais animada e frutífera quando há importantes debates sobre as cau-
dos de “criacionistas científicos”, afirmam que a criação deve ser equi- sas de fatos bem documentados. A seleção natural de Darwin foi confir-
parada à evolução e receber tempo proporcional nas escolas, uma vez mada por copiosos e elegantes estudos como um mecanismo poderoso,
que ambas são igualmente “religiosas” ao lidar com mistérios primordi- especialmente na evolução de características que tornam os organismos
ais. Entretanto, a evolução não trata desses assuntos de modo algum, e adaptados ao seu ambiente – aquilo que Darwim chamou de “o aperfei-
portanto permanece plenamente científica. çoamento de estruturas e a co-adaptação que merecidamente incitam
Em segundo lugar, à evolução foi acrescentado um conjunto de con- nossa admiração”. Mas a história da vida numa escala maior inclui fe-
ceitos e significados que representam mais antigos preconceitos sociais nômenos que talvez necessitem de outros mecanismos (efeitos aleató-
e crenças psicológicas da cultura ocidental do que uma descrição da rios, por exemplo, são fundamentais na definição da história da vida –
realidade natural. Tal “bagagem” pode ser inevitável em qualquer cam- quais grupos sobrevivem e quais morrem, em episódios de extinção ca-
po que se relacione de modo tão íntimo com preocupações humanas tastrófica).
profundas, mas esse forte viés social impediu-nos de levar a termo a
revolução de Darwin. O mais pernicioso e limitante desses preconceitos Que diferença isso faz para nós?
é a idéia de progresso, a noção de que a evolução possui uma motivação A resposta mais profunda e visceral para essa questão encontra-se
ou manifesta uma poderosa tendência de caminhar em direção à maior na psique humana, e por razões que mal consigo começar a compreen-
complexidade, ao projeto biomecânico mais eficiente, a cerébros maio- der. Somos fascinados por elos físicos de ancestralidade; sentimos que
res ou alguma outra definição paroquial de progresso. Esse preconceito nos entenderemos melhor, saberemos quem somos de um modo funda-
baseia-se num antigo desejo que os seres humanos têm de se colocar no mental, quando descobrirmos nossa origem. Rondamos cemitérios e re-
ápice do mundo natural – e dessa forma afirmar um direito natural de gistros de paróquias, mergulhamos nas bíblias familiares e procuramos
dominar e explorar nosso planeta. parentes idosos, tudo isso para preencher lacunas de nossa árvore
Evolução, na formulação de Darwin, é adaptação a ambientes que genealógica. A evolução é o mesmo fenômeno numa escala muito mais
mudam, não “progresso” universal. Elefantes que evoluem para uma ampla – nossas raízes muito além da família. A evolução é a árvore
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vida, e não o ápice predestinado da escada do progresso. Afaste a certe- freqüências alélicas. Estes argumentos sofreram forte oposição de
za complacente e desperte as chamas do intelecto. geneticistas de populações, que argumentam que o efeito do fundador,
Fonte: BROCKMAN, John; MATSON, Katinka (Org.) As coisas são assim. usualmente, não é eficiente para mudar populações em direção a novos
São Paulo: Companhia das Letras, 1997, p. 95 a 100. picos adaptativos (Lande 1980; Barton e Charlesworth 1984) e que o
fluxo gênico é raramente suficiente para se contrapor à seleção forte
(Charlesworth et al. 1982). Variação geográfica substancial dentro da
EQUILÍBRIO PONTUADO espécie, muitas vezes através de curtas distâncias, demonstra que a evo-
Os depósitos nos quais são encontrados sucessivos fósseis, de uma lução pode ocorrer sem especiação. Enquanto os que advogam o equilí-
linhagem em evolução, são muitas vezes separados por interrupções de brio pontuado propõem que a evolução é mais rápida em populações
pelo menos 50000-100000 anos, de forma que as flutuações de curto individuais, pequenas e localizadas, a teoria de Wright (1977), do balan-
período nas características de uma espécie raramente são evidentes. Li- ço instável, sustenta que a evolução adaptativa progressiva é mais pro-
nhagens com registro dos fósseis irregular freqüentemente mostram pouca vável em espécies de distribuição ampla, compostas de muitas popula-
mudança substancial por milhões de anos. Além disso, não é raro, que ções locais, entre as quais existe um baixo nível de fluxo gênico. Wright
seus descendentes morfologicamente distintos (com diferentes nomes (1982) acredita que a evolução está concentrada em eventos ocasionais
específicos) apareçam subitamente, virtualmente sem nenhuma evidên- rápidos que não correspondem à especiação, mas sim às mudanças nas
cia de formas de transição intermediárias, depois de longos períodos de condições ecológicas (especialmente, disponibilidade de novos nichos
pouca mudança. Exceto em seqüências de fósseis raramente completas, ecológicos).
a impressão é de aparente ESTASE por longos períodos, “pontuadas” por Deve-se concluir que a teoria e os dados da genética de populações
períodos de mudança muito rápida para uma nova morfologia estável. não sustentam a noção de que a evolução dos caracteres requer especiação.
Eldredge e Gould (1972) chamaram este padrão de EQUILÍBRIO Além disso, para mostrar no registro dos fósseis que mudança rápida é
PONTUADO em oposição ao GRADUALISMO FILÉTICO: mudança acompanhada por especiação, seria necessário mostrar que uma forma
anagenética constante. Para explicar o padrão, invocaram a teoria de ancestral não alterada persiste simpatricamente com seu descendente
Mayr (1954) de especiação parapátrica e propuseram que a maioria das modificado. Poucos, se algum, de tais exemplos têm sido documenta-
mudanças evolutivas se propaga rapidamente em populações pequenas dos. Entretanto, a especiação pode ter um papel no avanço anagenético.
e localizadas, em uníssono com a aquisição do isolamento reprodutivo Populações locais de uma espécie de distribuição ampla desenvolvem
(i.é., especiação verdadeira) — uma idéia que o próprio Mayr (1954, adaptações diversas aos seus respectivos ambientes, mas a espécie como
1963) havia prenunciado. Tendo atingido isolamento reprodutivo, a nova um todo irá se tornar fixa somente para alelos que são uniformemente
forma se expande do seu lugar de origem para o território da espécie vantajosos em toda sua distribuição e que são espalhados pelo fluxo
parental que não sofreu mudança e torna-se suficientemente abundante gênico. Mas, provavelmente, tais traços “geralmente adaptativos” (Brown
e amplamente distribuída para ser documentada no registro dos fósseis. 1959) raramente aparecem; é provável que eles sejam uniformemente
Nesta teoria, portanto, a maior parte da mudança evolutiva está associa- vantajosos apenas se alterações nas condições ecológicas forem exten-
da e é contingente com a especiação (i.é., bifurcação de linhagens). sas. Mais ainda, avanços adaptativos em populações locais podem ser
Eldredge e Gould (1972) e Stanley (1975) chegaram a argüir que devido efêmeros ao longo do tempo geológico, já que populações locais se ex-
às espécies individuais serem estáticas, tendências de longa duração na tinguem e mudanças na distribuição geográfica de hábitats podem per-
morfologia são conseqüências não da mudança anagenética dentro de mitir cruzamento entre populações anteriormente isoladas e diferencia-
linhagens individuais, mas de seleção entre espécies. Caracteres asso- das. Atingir o isolamento reprodutivo permite a uma população com
ciados com baixas taxas de extinção ou altas taxas de especiação irão se caracteres divergentes se tornar simpátrica com a espécie parental sem
tornar predominantes dentro de um clado e estabelecerão uma tendência perder sua identidade por meio de intercruzamento; portanto, a espe-
de longa duração, mesmo se a direção da mudança morfológica durante ciação, apesar de não necessária para a evolução de novos caracteres,
o processo de especiação varie ao acaso com respeito à tendência. Stanley pode permitir sua retenção (Futuyma 1986).
(1975) concluiu corajosamente que “a macroevolução está desligada da Os dados do registro dos fósseis permitem várias interpretações.
microevolução” e Gould e Eldredge (1977) argüíram que “a anagênese Existe algum debate, antes de tudo, sobre se algumas seqüências mos-
é apenas cladogênese acumulada e filtrada pela força direcionadora de tram gradualismo ou estase com pontuação. [...] Isto é, a distinção entre
seleção de espécies”. mudança gradual e pontuada não está bem definida. O problema mais
A teoria do equilíbrio pontuado inclui os processos neodarwinistas geral é que se as seqüências dos fósseis parecem mostrar rápidas mu-
tradicionais de evolução gradual: dentro de populações que estão se danças de uma morfologia estável para outra, a especiação pode ter ocor-
especiando, os caracteres se alteram de forma gradual, ainda que rapida- rido ou então pode ter existido apenas um avanço anagenético, através
mente, sob a influência da deriva genética e seleção individual. A pro- de uma série de passos, em uma única linhagem, sem especiação. Even-
posta de que caracteres mudam por saltos macromutacionais descontínuos tos geologicamente “instantâneos”, aos olhos de um paleontólogo,
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Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
cor e pequenas diferenças nas dimensões esqueléticas (Wake et al. 1983). nhadas desde os Hyracotherium até aos Equus, mas Equus é o único gêne-
Ocorreu especiação abundante, apesar da divergência morfológica subs- ro que não se extinguiu. Nossa noção de tendências na evolução dos cava-
tancial ter ocorrido apenas em uma linhagem, a qual se tornou adaptada los seria muito diferente se, digamos, Anchitherium ou Stylohipparion ti-
a uma zona adaptativa arbórea e que é reconhecida como um gênero vessem sobrevivido. Não sabemos por que apenas Equus sobreviveu: se
distinto (Aneides). Estase em Plethodon seguramente não é atribuível ao por causa de aspectos estruturais que o distinguia de outros gêneros ou se
fluxo gênico, que é extremamente baixo nestas salamandras. teve a “sorte” de seu hábitat ter persistido.
Do ponto de vista da genética de populações, a explicação mais Todas as mudanças morfológicas na história dos Equidae podem
plausível para a estase é a seleção estabilizadora, mas como pode a sele- ser explicadas pela teoria neodarwinista de microevolução: variação ge-
ção favorecer a mesma morfologia face à mudança ambiental? É preci- nética, seleção natural, deriva genética e especiação. Apesar disso, esta
samente neste contexto que devemos reconhecer que os organismos não teoria, por não incluir a extinção, não explica por que os cavalos atuais
são meramente objetos passivos das influências ambientais, mas que têm apenas um artelho em cada pé. A compleição atual dos Equidae é,
eles definem e criam seus ambientes (Lewontin 1983). Tendo evoluído na sua totalidade, uma conseqüência da extinção versus sobrevivência
para usar um certo microhábitat, ou determinados tipos de alimento, de linhagens, assim como de mudança adaptativa dentro da população.
uma linhagem pode estar tamponada em relação a mudanças Neste sentido, a macroevolução não é mesmo ligada à microevolução, já
macroscópicas adicionais, das quais está, assim dizendo, felizmente que eventos microevolutivos não têm conseqüências a longo prazo se
desavisada. Drosophila, dentro de uma garrafa, não pode escapar à sele- forem obliterados por extinção. Para se entender a evolução em um perío-
ção artificial para tolerância a altas temperaturas, mas Drosophila, numa do longo, é necessário tanto se estudar a história dos eventos de espe-
floresta, pode escapar encontrando microhábitats frescos. Salamandras ciação e extinção quanto se estudar os processos da microevolução. Uma
Plethodon, habitantes da úmida serapilheira das florestas e empregando visão abrangente da evolução deve ser, portanto, hierárquica na sua es-
um mecanismo de alimentação muito generalizado para capturar peque- trutura (Gould 1982), englobando a dinâmica das espécies e dos táxons
nos invertebrados, podem ter experimentado poucas pressões de seleção superiores, assim como a dos genótipos e genes que eles incluem.
novas desde que as florestas úmidas e os artrópodes do húmus aparece- Fonte: FUTUYMA, Douglas J. Biologia evolutiva. Ribeirão Preto: FUNPEC,
ram (Wake et al. 1983). O ambiente de qualquer localidade em particu- 2002, p. 422 a 429.
lar muda continuamente no decorrer do tempo geológico, mas hábitats
persistem; eles mudam de lugar e as espécies associadas mudam junto
com eles, enquanto as populações que colonizaram os hábitats modifi-
cados simplesmente se extinguem. Por exemplo, a distribuição de espé- MITO, RAZÃO E CIÊNCIA
cies norte-americanas como o abeto (Picea) mudou em conjunto com o Fundada na razão e na experimentação, a análise científica dos
seu hábitat: através do Pleistoceno. Populações do norte se extinguiram fenômenos naturais, inclusive os biológicos, vem fornecendo in-
durante períodos glaciais e populações do sul se extinguiram durante os contestáveis evidências que contrariam visões de mundo baseadas
períodos interglaciais quentes; não existem abetos adaptados ao calor ao em mitos, como as religiosas. A comprovada evolução da vida na
longo do Golfo do México, onde eles já existiram. Terra, por exemplo, é contestada pelo chamado criacionismo, que
defende a veracidade da versão estática do mundo, pregada pela
Seleção a nível de espécies e a natureza hierárquica da evolução religião católica. A inclusão das teses criacionistas no currículo de
A especiação não parece necessária para a mudança anagenética, escolas públicas, como vem ocorrendo no Brasil, viola o princípio
mas pode, entretanto, ter um importante papel na evolução de longa du- constitucional da separação entre Estado e Igreja no país, é danosa
ração. A variação entre um grupo de espécies, em um ou mais caracteres, à mente de jovens em formação e abre espaço para o fanatismo e a
pode ser muito maior que dentro de uma única unidade panmítica, por- intolerância.
que a recombinação dentro da população restringe a variância dentro de
limites bastante estreitos. O isolamento reprodutivo permite o aumento “Para o outro lado saem os jovens-homens, correndo em fila, cala-
da variância, de forma que um grupo de espécies pode ocupar muitos dos, diretamente para o rancho do oxim. Arrombam a palhoça ao mes-
picos adaptativos, enquanto uma única população pode ocupar apenas mo tempo, por todos os lados. Agarram, levantam e estraçalham o oxim
um (Hutchinson 1967). Portanto, a especiação é um pré-requisito para a ali mesmo. Só com as mãos.” Esse trecho do romance Maíra, do an-
radiação adaptativa dentro de diferentes nichos simpátricos. Se um novo tropólogo, educador e escritor Darcy Ribeiro (1922-1997), ilustra bem o
fenótipo é favorecido por mudanças nas condições ecológicas, um ou pensamento mágico que prevalece em populações de estruturas pré-cien-
outro membro de um grupo de espécies terá mais probabilidade de evo- tíficas. No romance, ambientado entre indígenas brasileiros e baseado em
luir em direção à condição mais favorável do que uma única espécie, já sua considerável experiência entre eles, a menina Cori morre, mordida
que a variância genética do grupo como um todo é maior do que a de por uma cascavel, e seu pai Epecuí tenta ressuscitá-la com o auxílio do
qualquer espécie (Arnold e Fristrup 1982). Portanto a especiação pode curandeiro — o oxim. A incapacidade de curá-la é fatal a este.
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personagem paradigmático é Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona, universal. Esse ancestral não deve ser concebido necessariamente como
na atual Argélia, que adotou a doutrina do persa Mani ou Maniqueu (216- uma entidade discreta definida: o microbiólogo norte-americano Carl
274?), segundo a qual o universo foi criado e é dominado por dois princí- Woese tem apresentado evidências de que, no início, teria existido uma
pios antagônicos e irredutíveis: Deus, ou o bem absoluto, e o Diabo, ou o comunidade de células, isto é, um agregado supramolecular.
mal absoluto (esta, aliás, é a origem da palavra maniqueísta). A teoria da evolução só tomou foros estritamente científicos após a
Para se ter uma idéia do clima que reinava na Idade Média, pode-se obra seminal do naturalista inglês Charles Darwin (1809-1882), deno-
recorrer novamente à literatura, através do romance O nome da rosa, do minada Sobre a origem dos espécies por meio da seleção natural ou a
filósofo e escritor italiano Umberto Eco. Ele retrata de maneira excelen- preservação das raças favorecidas na luta pela vida e publicada em
te as intermináveis discussões sobre detalhes, às vezes ínfimos, da dou- 1859. Diz-se que o mundo nunca mais foi o mesmo após a sua divulga-
trina, que podiam resultar em acusações de heresia e julgamento pela ção. A reação ao livro de Darwin, especialmente por parte de elementos
Inquisição, o temível tribunal eclesiástico criado pelo Papa Gregório IX conservadores, foi imediata. Entretanto, um a um, todos os argumentos
em 1231. Segundo o médico Carlos Antonio Mascia Gottschall, no livro contrários à teoria foram sendo descartados. Pela relação de Fritz Müller
Do mito ao pensamento científico, a Inquisição representou, por cerca (1822-1897) com o Brasil — ele radicou-se em Santa Catarina — deve
de sete séculos, a maior mordaça ao conhecimento racional organizado ser lembrado o livro que esse naturalista alemão publicou em 1863, Für
no mundo ocidental. Darwin, do qual existe uma edição em português (Fatos e argumentos a
favor de Darwin), editada em 1990 por Hitoshi Nomura, com uma série
O surgimento da razão e da ciência de anotações adicionais.
Obviamente, tal estado de coisas não poderia se eternizar. Define- Os eventos posteriores mais importantes ocorreram dos anos 30 aos
se razão como a faculdade que tem o ser humano de avaliar e julgar anos 50 do século passado, com a síntese entre os conhecimentos gené-
idéias universais e de estabelecer relações lógicas entre os eventos rela- ticos e os evolutivos. Um dos líderes desse trabalho esteve também inti-
cionados com o seu dia-a-dia e o mundo exterior. Essa faculdade foi mamente vinculado ao Brasil — esteve aqui por vários períodos, a partir
inicialmente cultivada pelos gregos da Antigüidade clássica, exem- dos anos 40, sendo fundamental na formação de uma geração de cientis-
plificados por Aristóteles (384-322 a.C.). tas. Trata-se do geneticista russo (naturalizado norte-americano)
Mas razão só não basta. Ernst Mayr (1904-2005), biólogo Theodosius Dobzhansky (1900-1975) cuja obra magistral A genética e a
evolucionista alemão (naturalizado norte-americano) e uma das figuras origem das espécies, publicada em 1937, é considerada um marco deci-
mais importantes do século em que viveu, expressou em livro publicado sivo no processo que levou a essa síntese.
A segunda metade do século 20 é caracterizada pelo que se denomi-
no ano passado: “O que não compreendo é por que a maioria dos filóso-
nou ‘revolução molecular’. A descoberta da estrutura física do material
fos da ciência acredita que os problemas da filosofia da ciência possam
genético (o DNA ou ácido desoxirribonucléico), o esclarecimento de
ser resolvidos pela lógica.” E concluiu: “Um enfoque empírico parece
como funciona e de como poderia ser manipulado, abriu amplos hori-
um melhor caminho.”
zontes para os estudos evolucionários. Alcança-se assim a era da
O que faltava para compreender razoavelmente o mundo era a ciência,
genômica, com o estudo comparativo da totalidade do DNA (genoma)
que pode ser definida como um conjunto de registros sistematizados que
de diferentes espécies.
visam ao conhecimento de uma parcela da realidade através de método pró-
Se há alguma lição que a moderna genética evolutiva forneceu, esta
prio, a metodologia científica. Esta desenvolveu-se através de esforços de
seria a de que somos todos irmãos. Nada menos do que 50 genes de uma
uma tríade exemplar: o inglês Francis Bacon (1561-1626), o italiano Galileu
levedura, que nos auxilia a fabricar pão e cerveja, têm similaridade sig-
Galilei (1564-1642) e o francês René Descartes (1596-1650).
nificativa com genes causadores de doenças em humanos. Existem 300
Estabilidade ou mudança? genes mapeados na galinha que têm contrapartida humana, e a diferença
genômica média entre humanos e chimpanzés é de apenas 1%. O con-
Na interpretação de nossa existência podem-se distinguir duas filo- ceito de fraternidade universal deixou de ser, portanto, uma idéia abstra-
sofias, uma que dá ênfase à estabilidade, à manutenção do status quo, e ta, para tornar-se uma fria realidade científica.
outra que coloca como importante a mudança.
De acordo com a visão de religiosos ortodoxos, o mundo está prefi- Sobre fanatismo, tolerância e ética
xado através da criação divina. No que se refere ao mundo biológico, Devido à sua universalidade, é provável que o comportamento reli-
deve-se acreditar literalmente na versão da Bíblia, documento que regis- gioso seja um produto secundário dos processos que moldaram a mente
trou histórias orais apresentadas há mais de dois mil anos. Nessa versão, humana. Tentativas de erradicá-lo não tiveram êxito. Na União Soviéti-
as espécies são as mesmas desde a sua criação por Deus; nada se modi- ca, as igrejas foram transformadas em museus e os religiosos eram con-
ficou desde então. siderados com desconfiança pelos poderosos dirigentes do partido co-
Nem todos os religiosos, no entanto, estão de acordo com essas munista, que comandava o país. Em vão. Após a queda do regime, vol-
idéias. O padre jesuíta francês Pierre Teilhard de Chardin (1881-1955) tou tudo ao que era antes.
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Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
recomendando a inclusão da doutrina do Desígnio Inteligente (uma das O exemplo clássico utilizado para explicar a teoria lamarckista é o do
denominações do criacionismo) nos cursos dessas escolas; (b) planos de pescoço das girafas. Costumamos ler nos livros didáticos que, segundo
encorajamento aos estudantes, para que examinem as ‘fraquezas’ da te- Lamarck, os ancestrais das girafas teriam pescoço curto. A necessidade de
oria da evolução; (c) reexame dos padrões do ensino de ciências que alcançar a copa das árvores, em especial em épocas de escassez, quando
tratam da evolução; e (d) clara intimidação aos professores que lecio- só restariam as folhas mais altas, teria provocado o constante exercício de
nam essas matérias. esticar o pescoço, e essa característica – “pescoço alongado” – seria trans-
Ora, o Brasil está sendo cada vez mais influenciado, em todos os mitida à descendência. O resultado, após milhares de anos, teria sido o
aspectos de sua vida econômica, social e cultural, pelos Estados Unidos, que vemos hoje: girafas com pescoço longo e musculoso.
Nada mais natural, portanto, que esse movimento também chegasse ao Em geral, os mesmos livros apresentam o contraponto darwinista:
Brasil. Senão, vejamos: (a) a Sociedade Criacionista Brasileira já tem indivíduos nasceriam com pescoços de tamanhos ligeiramente diferentes.
33 anos (foi fundada em 1972), realiza encontros nacionais periódicos Os “privilegiados” teriam vantagem na hora de alcançar as folhas mais
(está no quinto) e edita uma revista; (b) no Centro Universitário Adventista altas, o que, em épocas de escassez, seria decisivo para a sobrevivência.
de São Paulo existe um Núcleo de Estudo das Origens de tendência se- Assim, girafas nascidas com pescoço mais longo teriam maior chance de
melhante: (c) uma lei estadual do Rio de Janeiro criou cargos de profes- sobreviver e de transmitir a característica à prole. Belo e didático exem-
sores de religião, e os dirigentes de sua Secretaria de Educação preconi- plo, não fossem alguns senões. O primeiro deles é que Lamarck jamais
zaram o estudo do criacionismo em toda a rede escolar estadual, em
deu a esse exemplo o destaque que tem recebido há quase 200 anos.
oposição ao evolucionismo; e (d) aparentemente medidas equivalentes
estão sendo adotadas no estado da Bahia. Tentando achar o fio da meada
Ninguém é contra que sejam ministradas aulas de uma determinada
religião em instituições financiadas por instituições religiosas. Entre- O estranho caminho seguido pelo exemplo do pescoço da girafa, de
tanto, desde a Proclamação da República, há 116 anos, vigora no Brasil mero parágrafo a “carro-chefe” da teoria lamarckista, foi detalhado pelo
o princípio de separação entre Estado e Igreja. Se cultores de determina- paleontólogo e divulgador da ciência Stephen Jay Gould (1941-2002)
da fé desejam propagá-la no âmbito da rede pública de ensino, poderão no ensaio “The tallest tale” (alusão à expressão tall tale, história cujos
ser reservados espaços para esse fim, desde que não haja favorecimento detalhes são difíceis de engolir), publicado originalmente na Natural
de qualquer religião no procedimento. Usar dinheiro público para con- History Magazine (p. 18, maio de 1996). Nele, Gould tenta retomar o
tratar professores de religião, porém, é claramente inconstitucional, e fio da meada. Observa que, na Philosophie zoologique, o parágrafo so-
propagar doutrinas contrárias a conceitos científicos firmemente esta- bre as girafas aparece em um capítulo em que estão muitos outros exem-
belecidos é danoso, especialmente para a mente de jovens em formação. plos a que Lamarck possivelmente atribuiu maior importância.
Tem-se enfatizado muito os direitos éticos individuais e coletivos Quanto a Darwin, a primeira edição do seu A origem das espécies
no que se refere às suas relações com a ciência. Um dos menos lembra-
(1859) não faz qualquer menção ao pescoço da girafa, mas à sua cauda!
dos, no entanto, é o direito das pessoas, independentemente de seu es-
Gould especula que o pescoço da girafa teria assumido importância gra-
trato social, condição biológica ou país, de usufruírem não apenas os
benefícios gerados pela ciência através do desenvolvimento tecnológico, ças ao naturalista inglês Saint George Mivart (1827-1900), que, em crí-
mas também a visão do mundo proporcionada pela ciência. É dentro tica ao darwinismo publicada em 1871 (The genesis of species), usou
desse contexto que a ética dita uma posição frontalmente contrária a esse exemplo em sua argumentação. Em reação ao ataque de Mivart,
qualquer tipo de fanatismo ou intolerância. Darwin acrescentou à sexta e última edição de A origem das espécies
Considerando a moda atual, é possível que já se esteja articulando um (1872) um capítulo em que discorre sobre o assunto. Assim a história
movimento para pleitear cotas de ingresso nas universidades para os ateus ganhou os livros escolares – e em muitos deles ainda é mantida.
ou racionalistas científicos. O que ilustraria o princípio dialético da con- Outros dados, resultantes da observação de girafas em seu hábitat
tradição (racional/irracional) tão característico da personalidade humana. (as savanas africanas), ajudam a derrubar o “conto” das folhinhas mais
Fonte: SALZANO, Francisco M. Departamento de Genética, Instituto de altas em tempos de escassez. Na verdade, a importância do tamanho e
Biociências, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Revista Ciência Hoje. da robustez do pescoço desses animais reside em outras áreas. Entre os
Rio de Janeiro: SBPC, 2005, vol. 36, nº 215. machos, o pescoço é uma “arma” de dominação e uma garantia da pre-
ferência das fêmeas, sendo usado em duelos às vezes fatais. As girafas
Nota dos autores: O texto a seguir põe em discussão o uso didático também usam o pescoço como “torre de observação”, para vigiar a apro-
que se faz de exemplos consagrados no ensino de Biologia. Em nossa ximação de predadores, por exemplo. Esses dois usos já representam,
obra, optamos por citar alguns deles, ainda que com ressalvas, e o segundo os cientistas, fatores relevantes para a importância do compri-
fizemos não apenas por sua utilidade pedagógica, mas também como mento do pescoço. Darwin, aliás, os cita no capítulo mencionado, ao
testemunho do aspecto temporal e histórico da Ciência, ou seja, de afirmar que “a preservação de cada espécie raramente é determinada
como o conhecimento em qualquer área pode ser modificado e aper- por apenas uma vantagem, mas pela associação de todas elas, grandes
feiçoado. e pequenas”. Gould fecha seu ensaio explicando que a velha história do
30
var a memória de um cientista. Segundo Coyne, o livro de Majerus é o primeiro a reunir os pontos
Quando falamos em atualizar as informações em materiais de divul- criticáveis no trabalho de Kettlewell. O mais grave é que as mariposas
gação científica, cursos e livros didáticos, falamos em pôr em evidência Biston, em condições naturais, provavelmente não repousam sobre tron-
um problema maior: o da “cristalização” de conceitos, em ciência e em cos – em mais de 40 anos de estudos sobre seus hábitos, apenas duas
outros campos. Falamos, ainda, do problema crônico da não-ventilação foram vistas fazendo isso. O local preferido continua um mistério, mas
das informações a que professores e autores de material didático têm acesso acredita-se que seja o alto das copas das árvores. Só isso, afirma Coyne,
– ambos têm formação superior, mas em geral não são cientistas. invalidaria os experimentos, já que colocar as mariposas sobre os tron-
Falamos do risco de apresentar a ciência como instância sagrada e cos as tornaria altamente visíveis, o que aumentaria artificialmente a
fechada, que permanece imutável, a salvo de reavaliações e, ao mesmo predação. Além disso, Kettlewell expôs as mariposas durante o dia, quan-
tempo (como revela) a ponto de cair em “armadilhas”, pela perda da do em geral elas escolhem locais de repouso à noite.
perspectiva histórica. Falamos, ainda, do comodismo excelentes, não fos- Mas outro fator compromete a história: na verdade, o novo aumento
sem eles inconsistentes como modelos. na proporção da variedade clara ocorreu bem antes da recolonização
À luz dos conhecimentos genéticos atuais, contrapor, em um livro, dos troncos pelos liquens (que supostamente favoreceriam a camufla-
a explicação de Darwin para o pescoço da girafa à de Lamarck significa gem das mariposas claras). E mais: o aumento e depois a redução de
ridicularizar o segundo, também evolucionista, sem levar em conta o mariposas escuras também ocorreram em áreas industriais dos Estados
momento histórico em que viveu. Ou seja, conduz o leitor à adesão ime- Unidos, onde, porém, não houve alteração na incidência de liquens – é o
diata ao darwinismo, sem lhe dar chance para reflexão, por falta de maio- que relativiza bastante o papel destes na história toda.
res subsídios. É, em outras palavras, manipulação. No Brasil, isso se Em resenha sobre o livro de Hooper no The New York Times (18 de
torna mais grave pela morosidade da divulgação, aqui, das vozes junho de 2002), o editor de ciência Nicholas Wade compara o “empur-
dissonantes publicadas lá fora. rão” de Kettlewell a uma “piada” do grupo inglês Monty Python: as
mariposas, mortas, não passavam de ex-mariposas.
As “ex-mariposas”: outro exemplo clássico
E agora: descartar ou não o exemplo?
A jornalista Judith Hooper lançou, em 2002, na Inglaterra (e depois
nos Estados Unidos), o livro Of moths and men (Sobre mariposas e ho- Majerus, em seu livro, admite as inúmeras falhas do modelo, mas
mens). A obra utiliza outro exemplo clássico de evolução para lançar luz ainda assim o considera didaticamente útil. Jerry Coyne, entretanto, pon-
sobre um tema antes restrito ao círculo dos que defendem as idéias dera que esse não é o melhor exemplo a ser usado em sala de aula, devi-
criacionistas – mais modernamente, os teóricos do “design inteligente”. do a seus pontos fracos. Essa posição fez de Coyne, à sua revelia, uma
Nas aulas de ciências e biologia, aprendemos que o chamado “arma” dos criacionistas contra a teoria da evolução. Ele sugere como
“melanismo industrial” teria alterado o padrão de cor de populações de mais apropriado o trabalho mais recente dos ecólogos Peter e Rosemary
mariposas do gênero Biston, encontradas na região de Manchester (In- Grant sobre a evolução do bico dos tentilhões das ilhas Galápagos –
glaterra). Antes da Revolução Industrial, grande quantidade de liquens tema de um livro de leitura fácil e agradável, já traduzido para o portu-
(associação entre algas e fungos) cobria as árvores das florestas habi- guês: O bico do tentilhão: uma história da evolução no nosso tempo
tadas por tais mariposas, conferindo aos seus troncos uma cor esbran- (Rocco, 1995), do jornalista Jonathan Weiner.
quiçada. O padrão de cor predominante nessas mariposas, na época, era O debate sobre usar ou não o exemplo das mariposas para fins didá-
claro, e elas facilmente se confundiriam com a cor dos liquens, ao re- ticos está longe de uma solução fácil. O biólogo evolucionário David
pousar sobre os troncos. Rudge, da Universidade Western Michigan, escreveu que manter a his-
Com o advento das indústrias, a partir de 1850, o ar carregado de tória no espaço escolar teria inúmeras vantagens. Enquanto Coyne diz
fuligem e outros poluentes provocou a morte dos liquens e o escureci- que suas contradições inviabilizam o uso pedagógico, Rudge acredita
mento dos troncos. Como resultado, a vantagem proporcionada pela cor que ela constitui excelente veículo para apresentar a estudantes o con-
clara teria se invertido: ao repousar sobre troncos escurecidos, as mari- ceito de seleção natural. Para ele, expor as discrepâncias envolvidas no
posas seriam avistadas facilmente por predadores (no caso, alguns pás- assunto permitiria mostrar a natureza da ciência como processo.
saros). Com isso, a variedade de cor escura, em menor proporção, teria Novamente, trata-se de uma questão delicada, na qual estão em jogo
passado a predominar, graças ao fato de se camuflar nos troncos escuros aspectos como corporativismo da comunidade científica, necessidade
e passar despercebida aos predadores. de controle, manipulação, de um lado, e desinformação, de outro. Como
A partir de 1950, a adoção de leis de controle da emissão de poluentes no exemplo da girafa – perfeito, didático, mas falso –, recorrer às mari-
inverteu novamente o padrão: troncos com novas populações de liquens, posas de Manchester é tentador: permite trabalhar, de modo simples,
portanto mais claros, passaram a esconder melhor mariposas de cor cla- conceitos complexos como evolução e seleção natural. Mas insistir ne-
ra. Nos livros didáticos, esse exemplo costuma vir acompanhado da les é falsear informações e, de quebra, passar a alunos e professores uma
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www.sbbq.org.br/revista/artigo • cola instantânea
I – Objetivo • cola do tipo epóxi
1. Construir um modelo de citoesqueleto revestido por “membra-
• alicate
nas” de sabão. Neste modelo, a bolha de sabão representa a mem-
brana, a estrutura de arame e o fio de náilon representam o citoes-
queleto; a forma da bolha representa a forma da célula. II – Procedimento
2. Facilitar a percepção da forma celular como uma característica 1. Fure a bola de isopor com o palito de dente e fixe os canudinhos
dependente do citoesqueleto. de refrigerante, usando cola epóxi. Os canudos devem partir ra-
dialmente, todos ligados ao isopor central.
II – Material
2. Corte um feixe de canudinhos com 3 cm e cole próximo ao isopor
• fio metálico rígido (por exemplo, fio de cobre com 1,5 mm de para simbolizar o centríolo.
diâmetro, ou um arame fácil de dobrar) 3. Corte os canudinhos fixados na bola de isopor de tal maneira a
• fio de náilon fino (linha de pescar) dar uma forma ao modelo.
• cola instantânea 4. Faça uma rede externa de fios de náilon, como foi feito no mode-
• cola do tipo epóxi (como durepoxi) lo anterior, só que agora o fio de náilon é colado nas extremida-
• alicate des dos canudinhos ou em outro fio de náilon.
• recipiente com água e detergente 5. O modelo está pronto e pode ir direto para a água com detergente.
Veja Figura 2.
III – Procedimento
1. Com um alicate, dobre um fio de cobre, conforme a Figura 1A, (Obs.: Se ficarem espaços muito grandes entre os fios de náilon, a
para formar um cubo. As dimensões das laterais dependem ape- membrana terá dificuldades de se formar; quando isso acontecer, acres-
nas do tamanho desejado para o modelo. Um modelo de 15 cm cente mais fios de náilon.)
PAULO MANZI
funciona muito bem por ser fácil de manusear. Arame servindo
2. Corte mais 3 fios metálicos para formar os 3 lados que faltam para de suporte
completar o cubo; esses fios devem ser um pouco maiores que o
tamanho do modelo, para poder dobrar e fixar as pontas, como a
Figura 1B.
3. Cole com cola epóxi todas as emendas dos fios.
4. Amarre o fio de náilon em uma das arestas do cubo e enrole-o no
cubo, colocando um pingo de cola instantânea em todos os pon-
tos de contato do fio de náilon com o fio de cobre. A colagem do
fio de náilon vai formar uma “tela” ao redor do modelo, confor-
me a Figura 1C.
PAULO MANZI
A B C
Canudinhos partindo
Cabo Cabo Cabo do isopor ao centro
(microtúbulos)
Rede de fios
1 2 de náilon
5 (microfilamentos)
4
Figura 2: Esquema do modelo em que os canudinhos de refrigerante
6 9
3 representam os microtúbulos, com distribuição radial na célula, e os
fios de náilon representam os microfilamentos de actina, com
distribuição paralela e logo abaixo da membrana plasmática.
7 8 Fonte: Lenira Maria Nunes Sepel e Elgion Lúcio da Silva Loreto.
Departamento de Biologia, CCNE; Universidade Federal de Santa Maria –
Figura 1: Montagem de um modelo simples para demonstrar a Revista Brasileira de ensino de Bioquímica e Biologia molecular
relação entre citoesqueleto, membrana plasmática e forma celular. Disponível em: http://www.sbbq.org.br/revista/artigo . Acesso em 14 abr. 2005.
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4. Multiplique os números indicados na ocular e na objetiva para 3. Observe a preparação ao microscópio, inicialmente em objetiva
calcular quantas vezes está ampliada a imagem observada. de menor aumento. Como a folha é muito fina, permite que se
5. Substitua a água da preparação por lugol e observe novamente ao veja o seu interior. (Veja item IV, questões 1 e 2).
microscópio. 4. Em seguida, com a objetiva de aumento médio, observe as célu-
IV – Questões las: seu contorno regular e os cloroplastos dentro delas.
5. Veja como eles se movimentam no interior da célula. Varie as
1. As células têm contorno bem definido? condições de luz e a temperatura e observe se os movimentos se
2. O que se observa no interior das células? alteram.
3. Que estrutura se observa nas células coradas?
4. O que se nota na região que fica entre a parede celular e o núcleo? IV – Questões
5. Esquematize a célula vegetal observada ao microscópio. 1. Desenhe o que você vê. Indique quantas vezes está ampliada a
imagem em observação.
[Comentários/Respostas das questões do item IV: 1. O contorno bem 2. O que justifica o contorno bem definido e a regularidade das for-
definido deve-se à presença da parede celular, facilmente visualizada. 2. mas das células observadas?
É possível que algum aluno visualize o núcleo. (Obs.: Apesar da am- 3. Desenhe uma célula indicando as partes observadas. Indique
pliação não se observa muita coisa da estrutura celular. Uma técnica que quantas vezes está ampliada a imagem que você observou.
permite observar melhor a célula consiste em corá-la com substâncias 4. Os cloroplastos não apresentam movimento próprio. Apresente
especiais. Oriente seus alunos para substituírem a água da preparação uma justificativa que explique a causa desse movimento.
por lugol.) 3. O núcleo. 4. Provavelmente os alunos observarão granu-
lações circundando espaços aparentemente vazios. • Informe que as zo- (Comentários/Respostas das questões do item IV: 1. O aluno deverá
nas que apresentam granulações constituem o citoplasma e que os espa- representar um conjunto de células com contorno regular e bem defini-
ços aparentemente vagos são, na realidade, o vacúolo. • Explique que do. A ampliação do que está sendo observado será obtida multiplicando-
nas células vegetais há geralmente um grande vacúolo, que ocupa gran- se os números encontrados na ocular e na objetiva usadas. 2. O contorno
de parte da célula. 5 (a seguir)] bem definido e a regularidade da forma das células observadas se deve à
presença da parede celular. 3. Os alunos devem representar uma célula
de contorno regular e identificar as presenças da parede celular, do
PAULO MANZI
Membrana FOTOSSÍNTESE
vacuolar
I – Objetivo
1. Identificar que no processo da fotossíntese há desprendimento de
um gás.
2. Determinar, em função do volume de gás oxigênio desprendido,
a relação entre taxa de fotossíntese e intensidade luminosa.
Fonte: Secretaria da Educação do Estado de São Paulo. Coordenadoria de
Estudos e Normas Pedagógicas. Subsídios para a implementação de proposta II – Material
curricular de Biologia para o segundo grau. SE/CENP/CECISP/1980.
• tubo de ensaio ou tubo de pequeno diâmetro de vidro ou plástico
• rolha perfurada
OBSERVAÇÃO DE CLOROPLASTOS EM ANACHARIS SP.
• retângulo de madeira coberto com papel milimetrado
(Obs.: Anacharis sp. – planta de água doce comumente usada em aquá-
rios e conhecida vulgarmente por elódea.) • cola
33
III – Procedimento
Suporte 1. Encha as garrafas com o suco de uva e em uma delas coloque,
também, uma colher de café de fermento de padaria.
Escala
graduada 2. Tampe as garrafas com as rolhas perfuradas e coloque em um dos
orifícios um dos tubos de vidro e, em outro, um termômetro, cuja
Termômetro
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
ponta deverá ficar mergulhada no suco de uva.
Béquer 3. Encaixe uma das extremidades do tubo de plástico no tubo de
Elódea vidro e a outra em um copo cheio de água. Rotule as duas garra-
fas indicando o que existe em seu interior. Construa um gráfico
Tubo de colocando tempo no eixo horizontal e temperatura no vertical.
ensaio Anote a temperatura no início da experiência e faça outras obser-
vações, anotando sempre a temperatura encontrada.
PAULO MANZI
quase cheio com uma solução de bicarbonato de sódio a 1%.
Termômetro
4. Tampe esse tubo com a rolha e prenda-o em um suporte.
5. Coloque-o dentro de um copo ou béquer com água, e um termô-
metro (temperatura da água deve ser constante).
6. Ilumine a preparação com uma lâmpada de 40 watts, situada a 30
cm de distância do tubo de ensaio (o manuseio da lâmpada deve Tubo de vidro
ser realizado exclusivamente pelo professor). Observe se há va-
riações no manômetro. Marque o tempo de início e fim de suas
observações. Registre sua observação. Modifique a distância da
fonte para 45 cm. Faça as mesmas observações anteriores no mes-
mo período de tempo. Faça outras modificações de distância, sem-
pre anotando o que foi observado.
IV – Questões Nível do suco
1. Após um certo tempo, o que você observou? de uva
2. Pesquise em seu livro de Biologia e responda que processo deve
estar ocorrendo no vegetal?
3. Considerando o resultado de sua pesquisa justifique:
a) O papel do bicarbonato de sódio nesta atividade sobre
fotossíntese. Garrafa
b) Que gás está sendo eliminado? térmica
4. Crie uma forma de evidenciar que gás está se desprendendo da Água
planta nesse processo.
5. Qual a relação observada (ver procedimento 6) entre intensidade
luminosa e taxa de fotossíntese? (Deve-se cuidar para que duran-
te o desenvolvimento da atividade a temperatura da água do béquer,
onde está o tubo de ensaio, se mantenha constante.)
Figura: Representação esquemática dos elementos utilizados nesta
atividade.
[Comentários/Respostas das questões do item IV: 1. A presença de bo-
lhas de gás no interior da solução. E a gota colorida do manômetro se IV – Questões
movimentou. 2. Fotossíntese. 3. a) O bicarbonato de sódio aumenta a
1. O que se formou na água do copo?
concentração de gás carbônico da água e, conseqüentemente, a intensi-
2. Por que foram usadas duas garrafas térmicas nessa experiência?
dade da fotossíntese; b) Oxigênio. 4. Para identificá-lo, deveríamos dei-
3. Analise o gráfico construído e explique o que foi observado. Qual
xar um fósforo em brasa, abrir o tubo e, rapidamente, colocar esse fósfo-
sua conclusão?
ro em brasa em contato com o gás do tubo. Como o oxigênio é combu-
rente, deve surgir uma chama, o que demonstra que o gás desprendido é [Comentários/Respostas das questões do item IV: 1. Bolhas de gás; 2.
o oxigênio. (Obs.: Esta atividade deve ser realizada com a ajuda do pro- Porque a garrafa sem fermento constitui a garrafa controle. 3. Na garra-
fessor. Não deve haver materiais inflamáveis nas proximidades.). 5. Os fa térmica onde há o fermento a temperatura é mais elevada que na gar-
alunos devem observar que há uma proporção direta entre a quantidade rafa controle. No processo da fermentação ocorre desprendimento de
de oxigênio que as plantas eliminam e a intensidade luminosa] energia. (Obs.: As observações de temperatura devem ser freqüentes,
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I – Objetivo
DIVISÃO CELULAR – MEIOSE
1. Concluir que nem todos os tipos de aminoácidos entram na for-
mação das proteínas. Modelo de divisão celular – Meiose
2. Perceber que um mesmo aminoácido pode combinar-se com di-
I – Objetivo
ferentes tipos de RNAt.
1. Reconhecer que os gametas só têm um cromossomo de cada par
II – Material de homólogos.
• cartolina 2. Reconhecer que os gametas originam-se da meiose.
• fita adesiva 3. Reconhecer que a meiose compreende duas divisões sucessivas
do núcleo celular, durante as quais há duplicação dos cromossomos
• clipes e redistribuição dos homólogos nas células-filhas.
• xerox com figuras de RNAt 4. Caracterizar os principais eventos de cada divisão da meiose.
• cola 5. Reconhecer que os núcleos resultantes da meiose são iguais dois
a dois, quanto aos cromossomos e alelos que apresentam.
III – Procedimento 6. Concluir que os alelos de um mesmo par se separam na meiose.
7. Identificar os principais eventos da meiose por meio de um modelo.
1. Recorte 24 cartões de 1 cm x 3 cm e numere-os de 1 a 24, para
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
III – Procedimento
(Obs.: No modelo, apenas as transformações dos cromossomos são con-
Figura 1 sideradas.)
1. Pegue dois fios de lã para representar dois cromossomos. Ponha,
3. Cole a Figura 2 (página seguinte) numa cartolina e recorte as em cada um deles, um pedaço de massa de modelar, de cores
representações de moléculas de RNAt, identificados por 3 letras, diferentes, para representar os alelos A e a.
que representam a seqüência de três bases nitrogenadas. 2. Trace um retângulo ou um círculo em uma folha de papel, para
4. Distribua os cartões retangulares, que representam os aminoácidos, representar o contorno da célula, e coloque os modelos no inte-
sobre a mesa. Ela representará o citoplasma de uma célula, com rior dessa figura.
vários tipos de aminoácidos. Distribua também os cartões que • Antes de a célula entrar em divisão, o que acontece com os
representam as moléculas do RNAt. cromossomos e genes?
5. Ligue com clipe o aminoácido 1 do RNAt; o aminoácido 2 ao 3. Usando dois outros fios de lã e massa de modelar, duplique seus
RNAt 2, e assim por diante, como mostra a Figura 3. “cromossomos”, unindo as “cromátides-irmãs” com fita adesiva,
que representará o centrômero. Coloque os modelos sobre o papel.
PAULO MANZI
a A a
A A a
1
B B B
Figura 3 B
B B
A A A c C c
C c
C
d D D d D
IV – Questões d
1. No modelo, quantos tipos de aminoácidos estão ligados a RNAt?
2. Quantos RNAt não se ligam a aminoácidos?
3. Que números eles têm e com que aminoácidos poderiam ter-se li-
gado? A a A a
4. Esse resultado mostra que um aminoácido:
a) só pode ligar-se a um único RNAt;
B B B B
b) pode ligar-se a pelo menos dois RNAt.
5. No modelo apresentado, os aminoácidos 21, 22, 23 e 24 não se C c C c
ligaram a nenhum RNAt. Para explicar esse acontecimento, há
d D d D
duas hipóteses possíveis:
a) nem todos os aminoácidos entram na composição de proteínas.
b) no modelo não foram incluídos todos os tipos de RNAt; entre Figura 1: Esses cromossomos, fortemente pareados, vão para o
estes estariam os que poderiam se unir aos aminoácidos 21 a 24. equador do fuso.
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A A A A G A G A A G G A A C A
1 2 3 4 5
A U A G C G G U C C A A C G G
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
6 7 8 9 10
G A U U G A C C G C U G U U A
11 12 13 14 15
U U G A C C G U C G U U C U C
15 16 17 17 18
C C U U U U U U C C A U
18 19 19
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PAULO MANZI
PAULO MANZI
R r
Figura 4a
A
A
a
sentam?
• O que aconteceu com os cromossomos homólogos durante a
primeira divisão da meiose? R r
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Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Freqüência do alelo a ções. Pode também acontecer que, por mutações, as freqüências gênicas
Nº de genótipos dos descendentes dessas populações se tornem tão diferentes que elas passem a constituir
variedades de uma espécie ou mesmo espécies diferentes.)
AA Aa aa AA Aa aa AA Aa aa
Fonte consultada: Série: A prática pedagógica (2º grau) – Química e Biologia.
1 Secretaria da Educação do Estado de São Paulo. CENP, 1992.
2
3
Unidade III – A diversidade da vida
Por décadas, o estudo dos seres vivos resumiu-se quase exclusiva-
mente a aspectos sistemáticos, como se todas as categorias taxonômicas
12
fossem “gavetas” de um enorme armário. Atualmente, porém, tais gave-
tas encontram-se entrelaçadas por um importante elo: a ancestralidade
TOTAIS comum. Como os ramos de uma grande árvore, os seres vivos evoluem
continuamente, adaptando-se às exigências ambientais e adquirindo ca-
2. Usando seis pinos da mesma cor, represente os três indivíduos
racterísticas anatômicas e funcionais peculiares.
AA. Com seis pinos (3 de cada cor), represente os indivíduos aa.
A diversidade das formas de vida, na Terra, é enorme e os critérios
Unindo pinos das duas cores, represente os seis indivíduos Aa.
de classificação sempre arbitrários. Optamos, por exemplo, pela classi-
Coloque esses “indivíduos” na caixa ou no saco de papel.
ficação em cinco reinos, proposta por Robert Whittaker, embora alguns
3. Anote, na tabela, as freqüências iniciais dos alelos A e a (0,5).
autores apresentem classificações em seis, sete ou até oito reinos. Futu-
4. Tire, simultaneamente, dois “indivíduos” da caixa, ao acaso, para
ramente, essa nossa opção deverá ser revista. Quanto à classificação dos
representar o primeiro cruzamento. Ao retirar os pinos, segure-os
primatas, utilizamos a proposta do Museu de Zoologia da Universidade
por uma das extremidades e considere as cores dos pinos que está
de Michigan (1999), que poderá provocar alguma estranheza. Sabemos
segurando, como indicadores dos alelos que formarão o descen-
que escolhas sempre têm um lado pessoal, embora tenhamos nos
dente. Por exemplo, se pinos vermelhos representam o alelo A, e
escudado na mais recente bibliografia a respeito. A classificação de
pinos brancos, o alelo a, e se obtém um dos pares segurando um
protistas (ou protoctistas), e entre eles das algas, baseou-se em extensa
pino vermelho e outro branco, o descendente será Aa (Figura 1).
revisão bibliográfica, apoiada principalmente por Lynn Margulis e
Karlene Schwartz (Cinco reinos – Um guia ilustrado dos filos da vida).
PAULO MANZI
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Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Protist Image Data — Informações e ilustrações (inclusive fotos colori- As opiniões em relação aos reinos da vida começaram a mudar na
das) de protistas, como algas e protozoários, tratando, ainda, de década de 1960, principalmente devido ao conhecimento obtido pelas
questões relacionadas com a ecologia desses organismos, como o novas técnicas bioquímicas e da microscopia eletrônica. Estas técnicas
modo de vida e a associação com seres humanos. revelaram afinidades e diferenças fundamentais no nível subcelular, que
http://megasun.bch.umontreal.ca/protists/protists.htm encorajaram uma enxurrada de novas propostas para sistemas de múlti-
Seres Vivos — Classificação Geral dos Seres Vivos. É do que trata esta plos reinos. Entre estas propostas, um sistema de cinco reinos (plantas,
página, evolução, vírus, nomenclatura, além de outras informações. animais, fungos, protoctistas e bactérias), primeiramente propostos por
Robert Whittaker em 1959, e grandemente baseado no trabalho anterior
www.logic.com.br/prof.cynara/news.htm
e altamente original de Herbert Copeland de quatro reinos (plantas, ani-
Sociedade Botânica do Brasil — Da Sociedade Brasileira de Botânica, mais, protoctistas e bactérias), tem consistentemente se sustentado por
esta página possui uma série de elementos dentro da Botânica, como mais de três décadas. Com algumas modificações provocadas por dados
eventos, cursos, textos, entre outros. mais recentes, o sistema de Whittaker é o usado neste livro. Resumida-
www.botanica.org.br mente, nossos cinco reinos são Bacteria (com seus dois sub-reinos,
The Eletronic Zoo — Outra página do Laboratório de Biologia Marinha Archaea e Eubacteria), Protoctista (algas, protozoários, mofos-de-lodo
de Woods Hole, Massachusetts. Muito didática, com informações e outros organismos aquáticos menos conhecidos e parasíticos), Animalia
diversificadas a respeito de metazoários (classificação, aspectos (animais com ou sem espinhas dorsais), Fungi (cogumelos, fungos e
ecológicos etc.). leveduras) e Plantae (musgos, fetos e outras plantas portadoras de esporos
http://netvet.wustl.edu/e-zoo.htm ou sementes). Em relação ao reino das plantas, para distribuir os 12 filos
The Tree of Life — A “Árvore da Vida”, projeto da Universidade do entre dois grandes grupos, usamos Bryata, para todas as plantas
Arizona (EUA), contém informações sobre relações filogenéticas e avasculares (musgos, hepatófitas e antocerófitas) e Tracheata, para to-
características de organismos, ilustrando a diversidade e, ao mesmo das as outras — isto é, as plantas vasculares, seguindo a sugestão de
tempo, a unidade da vida. Fundamental para o desenvolvimento dos James Walker (Universidade de Massachusetts, Amherst; comunicação
conceitos iniciais sobre filogenia e taxonomia. pessoal). Embora Walker use “Anthocerophyta” para o grupo de plantas
avasculares, chamamos somente as antocerófitas de Anthocerophyta,
http://phylogeny.arizona.edu/tree/life.html
mantendo a política deste livro de simplificação dos nomes quando pos-
The University of Michigan (Museum of Zoology) — Coleção de fotos e
sível. Agrupamos nossos cinco reinos em dois super-reinos: (1) Prokarya,
informações a respeito de animais. Inclui dados sobre hábitats, his-
contendo somente o reino procariota, as bactérias, e (2) Eukarya, con-
tória natural, conservação e importância econômica. São apresenta-
tendo os outros quatro reinos, que englobam todos os eucariotas. Reco-
das sinopses de alguns grupos taxonômicos de maior importância. nhecemos que os termos sócio-políticos como reino, classe, ordem e
www.oit.itd.umich.edu/projects/ADW família são anacronismos que eventualmente serão substituídos. Contu-
The Virtual Library — Uma biblioteca para pesquisa em várias áreas do do, o seu uso atualmente generalizado torna conveniente para nós conti-
conhecimento, como Medicina, Agricultura, Biotecnologia, nuar a usá-lo na nossa classificação de toda a vida na Terra.
Entomologia, etc. Dispõe de links para imagens, artigos, universi- A única ameaça séria para qualquer dos esquemas de cinco reinos é
dades e conferências. o sistema de três domínios dos microbiologistas, liderado por Carl Woese
http://golgi.harvard.edu/biopages.html da Universidade de Illinois. Usando critérios moleculares, especialmen-
U. S. Food and Drug Administration — Site da FDA, organismo norte- te seqüências nucleotídicas de RNA ribossômico, esses microbiologistas,
americano de proteção ao consumidor, relacionado com o controle advogam por três grandes grupos: dois domínios (Archaea e Bacteria)
da qualidade de alimentos, drogas e medicamentos. consistindo em células procarióticas e um domínio (Eukarya) contendo
http://www.fda.gov todos os outros organismos. Os fungos, as plantas e os animais são três
dos reinos do domínio Eukarya, da mesma forma como eles estão no
Visible Man Project — Mostra fotos e ilustrações precisas referentes à
nosso esquema de cinco reinos. Contudo, dentro de cada um dos três
anatomia humana.
domínios há numerosos reinos adicionais — muitos correspondentes aos
www.nlm.nih.gov/research/visible filos no esquema de cinco reinos.
Zoo Barcelona — Pertencente ao Zoológico de Barcelona (Espanha), Embora sejamos profundamente devedores a Carl Woese (Universi-
esta página traz informações e funcionamento desse zoológico, pos- dade de Illinois), Mitchell Sogin (Laboratório Biológico Marinho em
sui passeios virtuais e câmeras vinte e quatro horas por dia em de- Woods Hole) e outros analistas de seqüências moleculares por suas con-
terminados recintos, como o do Copito de Nieve, que é o único go- tribuições inigualáveis à reorganização do mundo vivo, rejeitamos o es-
rila albino do mundo. quema de três domínios bacteriocêntricos em bases biológicas e pedagó-
www.zoobarcelona.com gicas. Biologicamente, esta trifurcação falha em reconhecer a simbiogênese
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Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
miolitoautotróficas. Um quimiolitoautótrofo é uma bactéria auto-
alimentadora que usa energia liberada por oxidações químicas inorgânicas
ANIMALIA
como fonte de energia para seus processos vitais, incluindo a síntese de
(Do latim anima, respiração, alma) moléculas orgânicas a partir de CO2. Os animais de fontes e de chami-
nés ou digerem as bactérias diretamente ou absorvem as moléculas or-
[Organismos diplóides que se desenvolvem de embriões (blástulas) gânicas sintetizadas por seus parceiros simbióticos. Essas comunidades
e que se formam por fusão (fertilização: citogamia e cariogamia) de de chaminés são raras hoje mas foram típicas do ambiente terrestre de
óvulos e espermatozóides haplóides (anisogametas). A meiose de 3 bilhões de anos atrás.
gametas produz anisogametas.] Os animais exibem diversos padrões comportamentais, tais como
atração à luz, repulsão a produtos químicos nocivos e detecção de gases
Na classificação de dois reinos (animais e plantas) — mais antiga e
dissolvidos e temperatura. Tais comportamentos são encontrados em
não usada neste livro — os animais compostos de muitas células
membros de todos os cinco reinos, mas os animais têm este tema mais
(multicelulares) eram referidos como Metazoa para distingui-los dos
elaborado. No início da história do reino animal, mas de meio bilhão de
Protozoa (animais unicelulares). No nosso sistema, não há animais
anos atrás, os sistemas nervosos, incluindo os cérebros, evoluíram em
unicelulares; os protozoários tradicionais estão colocados no Reino
diversos ramos. Os organismos de nenhum outro reino têm sistemas
Protoctista. Definimos animais como organismos heterotróficos,
nervosos ou cérebros.
diplóides, multicelulares, que normalmente (exceto as esponjas) se de-
senvolvem a partir de uma blástula. A blástula, um embrião multicelular Quanto à forma, os animais são os mais diversos de todos os orga-
que se desenvolve do zigoto diplóide, produzido pela fertilização de um nismos. Os menores animais ainda são chamados de micróbios. Meno-
grande óvulo haplóide por um pequeno espermatozóide haplóide, é ex- res do que muitos protoctistas, estes animais exigem um microscópio
clusiva dos animais. para poderem ser vistos. Muitas destas espécies de animais diminutos
Devido aos gametas animais — o óvulo e o espermatozóide — di- formam a fração heterotrófica do plâncton (do grego planktos, nadan-
ferirem em tamanho, eles são chamados anisogametas. O zigoto diplóide do); animais planctônicos — junto com as espécies planctônicas
produzido por fertilização se divide por divisões celulares mitóticas, re- fotossintetizadoras — constituem a base das teias alimentares marinhas
sultando numa massa sólida de células, que normalmente se torna oca e de água doce.
para se transformar numa blástula. Em muitos animais, a blástula desen- Os maiores animais atualmente são as baleias, mamíferos na nossa
volve uma abertura chamada de blastóporo, que é a abertura para o de- própria classe (Mammalia) e filo (Craniata). Os membros da maioria
senvolvimento do trato digestivo, e será o local da boca em animais per- dos filos animais habitam águas rasas. As formas de hábito verdadeira-
tencentes a alguns filos, ou o ânus em animais pertencentes a alguns mente terrestre são encontradas em somente quatro filos: os quelicerados,
outros filos. Certos animais em alguns filos não apresentam nenhum como as aranhas; os mandibulados (unirremes), como os insetos; os crus-
destes padrões; em vez disso, estes animais com segmentação espiralada táceos, como os tatuís; e craniatos, como os répteis, aves e mamíferos.
produzem um blástula (estereoblástula) que é uma massa sólida de célu- As espécies que vivem no solo (por exemplo, os vermes terrestres) per-
las — suas afinidades permanecem obscuras até que se descubra mais tencem a diversos filos, mas, como exigem umidade constante, não se
acerca de sua biologia. Os moluscos cefalópodes, que têm muita gema livraram propriamente do ambiente líquido. De fato, os animais da mai-
no seu ovo, não possuem blastoceles (cavidades embrionárias). A dife- oria dos filos são vermes aquáticos de um tipo ou outro, exceto insetos e
renciação e as migrações celulares transformam a blástula numa gástrula, outros do Filo Mandibulata. Provavelmente, mais de 99,9% de todas as
um embrião com uma invaginação fechada, que é o trato digestivo em- espécies de animais que já viveram estão extintas, e são estudadas na
brionário na maioria dos animais. Paleontologia e não na Zoologia.
Os detalhes de desenvolvimento embrionário posterior diferem lar- De todos os organismos, somente os animais foram bem-sucedidos
gamente de filo para filo. Contudo, padrões de desenvolvimento co- em invadir ativamente a atmosfera. Representantes de todos os cinco rei-
muns proporcionam pistas para as relações entre os filos. Em muitos nos (por exemplo, esporos de bactérias, fungos e plantas) gastam frações
filos, os detalhes do desenvolvimento são conhecidos para muito pou- significantes de seus ciclos de vida suspensos na atmosfera, mas nenhum
cas espécies até o momento; em alguns filos, para nenhuma das espé- em qualquer reino para a sua vida no ar. O vôo ativo evoluiu somente nos
cies. Como o desenvolvimento é intricado e complexo, não podemos animais. A locomoção dos animais através do ar evoluiu de forma inde-
resumi-lo em poucas palavras. Por razões semelhantes, definições con- pendente diversas vezes, mas em somente dois filos: Mandibulata, Classe
cisas e precisas dos filos nem sempre poderão ser dadas. Nossas descri- Insecta, e Craniata, Classes Aves (aves), Mammalia (morcegos) e Reptilia
ções são mais informais. (diversos dinossauros voadores extintos).
A multicelularidade não é privilégio dos animais; organismos Por muitos anos, e mesmo agora, alguns biólogos associam ani-
multicelulares são abundantes em todos os reinos. Exemplos incluem a mais a um de dois grandes grupos: os invertebrados — animais sem
maioria das Cyanobacteria e Actinobacteria no Reino Bacteria; espinhas dorsais, e os vertebrados — animais com espinha dorsal. To-
42
gibão
Recentemente, comparando-se seqüências dos cromossomos Y e
hominidae: homens e seus fósseis mitocondriais e recuperando-se em alguns casos o DNA de ossos e
outros fósseis, tem sido possível analisar a história das populações hu-
Os primatas surgiram no início do cenozóico, há 60 milhões de anos. manas. Essas pesquisas indicam a existência de apenas quatro linha-
Quinze anos depois de Darwin ter publicado seu famoso livro A Descen- gens de DNA entre os ameríndios, que devem ter resultado de migra-
dência do Homem (1871), foram descobertos em Neanderthal, na Ale- ções da Ásia Oriental (Mongólia), através do estreito de Bering, cerca
manha, fragmentos ósseos que um professor identificou como um ho- de 20 mil anos atrás, num período glacial que permitiu a passagem a
mem de pequena estatura. Esse fóssil foi investigado e apresentado como pé, chegando até a Patagônia. Não se confirmam as idéias de que a
um precursor do homem. Todavia, um dos mais famosos professores de América do Sul teria recebido migrações da África ou de vikings e de
patologia, Virchow, contestou que se tratava de um indivíduo com doen- que o Brasil teria sido ocupado há mais de 12 mil anos. As mais anti-
ça deformante. Só em 1880 o “homem de Neanderthal” foi aceito como gas populações brasileiras são os fósseis da Lagoa Santa, que viveram
um precursor do homem. Outros crânios e esqueletos semelhantes fo- há 10 mil anos e desapareceram. A América do Sul foi o último conti-
ram descobertos mais tarde em outros pontos da Europa. nente a ser povoado pelo homem.
As origens Fonte: RAW, Isaias; MENNUCCI, Leila; KRASILCHIK, Myriam. A biologia e
Época em que o homem. São Paulo: Edusp, 2001, p. 328 a 333
Fósseis Características
viveram
Proconsul 21 000 000 a Ereto, é o ancestral dos CONSCIÊNCIA E DOGMA –
10 000 000 chimpanzés e gorilas. A ORIGEM DO HOMO SAPIENS
Dente canino grande.
A história do surgimento do homem – a partir da evolução gra-
Provavelmente não fazia
dual de um antigo ancestral, que também deu origem aos grandes
artefatos para se defender.
macacos – está bem documentada por evidências científicas acu-
Vivia na África.
muladas desde que Darwin e Wallace ousaram defender uma versão
Ramapithecus 14 000 000 a É provavelmente o mais diferente da registrada no texto bíblico. O confronto entre o conhe-
12 000 000 antigo primata cimento e o mito, porém, permanece vivo, como mostra o cresci-
semelhante ao homem. mento, inclusive no Brasil, do movimento criacionista. Os textos
Arco dental curvado. religiosos são belos em sua força simbólica e valiosos para a cultu-
Provavelmente vivia em ra, mas sua interpretação dogmática representa um sério obstáculo
árvores. à compreensão do mundo e, portanto, à própria compreensão da
Australopithecus 4 000 000 a Volume encefálico 450 ml. espécie humana.
900 000 Ereto. Usava o fogo.
Olhando em volta nos vemos diferentes dos outros animais. Muitas
Homo erectus 800 000 a Volume encefálico 1 000 ml. vezes, até, nos achamos tão afastados deles que falamos como se eles
Homem de 400 000 Vida comunal, usava o fogo pertencessem à natureza e nós, os Homo sapiens, não. Falamos com
Pequim e fazia ferramentas freqüência na dicotomia ‘o homem e a natureza’, embora esta seja ape-
primitivas de pedra. nas aparente. O que acontece é que, como humanos, vemos o mundo
Homo sapiens 300 000 a Crânio espesso com através de nossa ótica. O que nos aponta alguma semelhança são as nos-
Java 50 000 sobrancelhas salientes e sas necessidades básicas, metabólicas.
testa inclinada. Na verdade, o que nos distinguiu dos demais seres vivos foi a nossa
Homo sapiens 200 000 a Volume encefálico maior capacidade de desenvolver uma linguagem articulada, que permite com-
Neanderthal 40 000 do que 1 500 ml. binar palavras seguindo uma gramática e assim construir frases que ad-
Fabricava ferramentas quirem um sentido mais amplo que a simples adição dessas palavras. É
avançadas. Enterrava os uma linguagem de dupla articulação, já que se utiliza das palavras e dos
mortos e aparentemente sentidos. Essa linguagem, surgida não se sabe quando, deu-nos uma nova
tinha uma religião. capacidade que não parece ser encontrada em nenhum outro ser vivo: a
consciência. Somos animais que temos consciência da morte, que vive-
Homo sapiens 40 000 a Pintava cavernas e esculpia
Cro-Magnon 10 000 figuras; inventou a
mos as aflições do futuro, que encontramos a nossa identidade no passa-
agulha de costura. do. Olhamos o mundo com um olhar próprio e podemos enxergar além
do horizonte.
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Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Próximo pode ter dado origem ao H. sapiens. não admitia que as diferentes espécies presentes tivessem surgido na
A capacidade de articular uma linguagem e de desenvolver a cons- criação, como afirma a Bíblia, e se mantido estáticas desde então, pois
ciência permitiu ao H. sapiens procurar soluções para a sua adaptação a se isso tivesse ocorrido elas não poderiam sobreviver às alterações
lugares inóspitos e a condições climáticas adversas. O homem é capaz ambientais. Sua conclusão foi a de que as espécies se transformavam
de sobreviver ao calor dos desertos e ao frio gélido das regiões polares. continuamente para poder sobreviver a um ambiente que se altera o tem-
Podemos viver em regiões áridas ou em áreas de umidade elevada. A po todo.
sobrevivência é possível adaptando-se ou criando-se novos hábitos ali- Uma das mais importantes descobertas no campo da geologia foi
mentares adequados aos recursos disponíveis. Essa capacidade está di- feita pelo inglês William Smith (1769-1839) no início do século 19. Smith
retamente relacionada à possibilidade de transmitir informações e expe- descobriu que as camadas de sedimentos são registros de tempos anti-
riências de uma geração para a outra. Vivemos na natureza, dela depen- gos, e isso o levou a concluir que a Terra não foi, no passado, semelhante
demos, mas, em diversas épocas, consideramo-nos além dela. E de fato ao que é hoje. Ou seja, a própria Terra tem uma história. A interpretação
estamos além dela, no sentido de que podemos pensar sobre ela, buscar das camadas sedimentares mostrou que o planeta é muito mais antigo do
interpretações e significados. que se poderia supor. Sua história ultrapassa muito a marca de alguns
De início coletores-caçadores, os H. sapiens começaram a criar as- milhares de anos. De fato, pelas observações atuais, a Terra surgiu a
sentamentos maiores e, por volta de 3 mil a.C., as primeiras cidades partir da aglomeração de átomos e moléculas, quando o sistema solar se
apareceram na Mesopotâmia, região que corresponde aproximadamen- formou, há uns 4,5 bilhões de anos. A vida, por sua vez, parece ter surgi-
te ao atual Iraque. A capacidade de articular uma linguagem permitiu o do apenas uns 500 milhões de anos após a formação do planeta.
desenvolvimento de uma consciência e o surgimento de ritos que garan- Nessa nova percepção do tempo de existência da Terra, existe tem-
tiam a manutenção da identidade dos indivíduos no seu grupo. Com o po para que os mecanismos que atuam sobre a transformação do ser
surgimento das primeiras cidades nasceu uma nova ordem política. vivo possam ocorrer. Trata-se, portanto, de uma visão radicalmente di-
versa daquela vivida por Darwin em sua viagem, quando ele tinha como
O mito e a matemática dogma a cronologia de Ussher. De fato, em seis mil anos seria impossí-
vel pensar em mudanças dos seres vivos. Mas nesse período tão curto
Os mitos têm duas funções essenciais para a preservação da cultura. também seria impossível pensar nas transformações geológicas obser-
Em primeiro lugar, eles respondem às nossas perguntas existenciais mais vadas, como havia mostrado outro geólogo, o escocês Charles Lyell
primárias — Como surgiu o mundo? Como, e quando, ele acabará? Quem (1797-1875), amigo de Darwin. Para Darwin, era fundamental reformular
foi o primeiro homem? O que ocorre depois da morte? A outra função é sua idéia do tempo de origem da Terra e do surgimento do homem no
a de justificar um sistema social existente e dar sentido a costumes e planeta. E, sem dúvida, esse foi um dos obstáculos que ele teve que
ritos tradicionais, criando, assim, um sentido de pertencimento ao gru- ultrapassar para poder formular uma teoria de evolução por seleção na-
po. A linguagem simbólica dos mitos exige uma permanente interpreta- tural. Em sua autobiografia, Darwin deixa claro que teve muita dificul-
ção e uma adequação aos acontecimentos que caracterizam a história da dade em abandonar sua visão ortodoxa da religião.
cultura.
Grande parte dos mitos inicia sua narrativa afirmando que no início
Espécies em transformação
era o ‘caos’, ou o ‘nada’, e que em dado momento alguma entidade
sobrenatural criou tudo o que viria depois. Esse elemento comum pode A evolução por seleção natural, proposta por Darwin e Alfred Russel
estar relacionado ao fato dos mitos de origem serem, em última instân- Wallace (1823-1913) em 1858, tem como elemento essencial o tempo.
cia, mitos fundadores de culturas. Eles nos dizem quando se começa a Wallace realizou uma expedição à Amazônia no período de 1848 a 1852,
ter consciência do mundo, ou seja, quando a linguagem de dupla articu- quando manteve contato com outro naturalista inglês, Henry Walter Ba-
lação permitiu ordenar e classificar o mundo sensível, dando a este um tes (1825-1892), que esteve na mesma região de 1848 a 1859. É prová-
significado. vel, como aponta o bioquímico Ricardo Ferreira, da Universidade Fede-
Interpretar um mito sem levar em conta sua linguagem simbólica ral de Pernambuco, que a semente da teoria da evolução por seleção
nos leva a uma posição delicada, que desfaz a força do próprio mito. Um natural tenha nascido ainda em 1850, quando do último encontro de
exemplo marcante dessa apropriação do mito, retirando dele seu valor Wallace e Bates em uma região próxima a Manaus (ver ‘A natureza bra-
simbólico, ocorreu no século 17. A ciência moderna mal iniciava sua sileira e a teoria da evolução’, em CH nº 127).
trajetória. O físico e astrônomo italiano Galileu Galilei (1564-1642) ha- Quando de seu retorno à Inglaterra, em 1852, Wallace sofreu um
via publicado os seus diálogos e mostrado que a matemática era a lin- naufrágio e perdeu todas as suas anotações e coleções. Sem poder apre-
guagem que se podia usar para compreender os fenômenos naturais, sentar seu trabalho, ele seguiu para a Indonésia em 1854, onde perma-
anunciando uma revolução de maiores conseqüências que iria transfor- neceu até 1862. Lá, Wallace escreveu dois artigos sobre a idéia de
mar por completo a maneira ocidental de se olhar o mundo. Nesse evolução por seleção natural. O primeiro, On the law which has
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ria pensar, a um estrangulamento que levaria à sobrevivência de apenas devem ser lidos com a mente aberta para que se entenda o simbolismo,
uma espécie. uma das mais fortes características de nossa linguagem articulada. Não
Nem Darwin nem Wallace poderiam dizer como os caracteres alte- devemos errar como o reverendo Ussher ou o vice-chanceler de
ravam-se, pois nenhum dos dois tinha conhecimento dos princípios da Cambridge e racionalizar o simbólico. Seria uma perda irreparável.
genética — segundo a qual as mutações ocorridas nos genes são respon-
Fonte: BARROS, Henrique Lins. Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas. Revista
sáveis por essas alterações. A genética, em particular a genética molecular, Ciências Hoje. Rio de Janeiro: SBPC, vol. 36, nº 215.
só iria aparecer muitos anos depois da publicação dos trabalhos iniciais
sobre a evolução por seleção natural. Hoje, com o desenvolvimento de
técnicas extremamente precisas, é possível comparar a informação ge-
nética de diferentes espécies e estabelecer seu grau de parentesco. A SAÚDE GLOBAL
A teoria da evolução por seleção natural teve de imediato uma enor-
me resistência, pois via-se nela uma negação frontal ao caráter particu- Por que global?
lar e divino do homem. As maiores críticas vieram dos setores mais É possível que o adjetivo global venha a ser equivocadamente en-
conservadores. Como, estes perguntavam, podia-se afirmar que o ho- tendido como saúde perfeita e total, como ausência de qualquer doença,
mem, feito à imagem e semelhança de Deus, vinha do macaco? defeito ou imperfeição. Essa utopia encontrou algum respaldo na defi-
Essa questão, uma entre as muitas que perduram há mais de um nição cunhada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), segundo a
século, revela uma leitura superficial e equivocada das idéias que apare- qual a saúde é “um estado de completo bem-estar físico, mental e soci-
cem na teoria da evolução por seleção natural. O Homo sapiens é apenas al”, que contribuiu para ampliar (até demais, às vezes) o horizonte mui-
um parente de gorilas e chimpanzés. Os estudos em genética e em tas vezes puramente organicista da biomedicina. Nos corredores da OMS
paleontologia mostram que essas três espécies devem ter se originado a em Genebra, porém, às vezes ouviu-se sussurrar: “Se alguém vier aqui e
partir de um ancestral que viveu há mais de 10 milhões de anos, muito afirmar que se encontra num estado de completo bem-estar etc., etc.,
antes do surgimento de qualquer cultura. Essa espécie, extinta há mi- etc., vamos interná-lo no manicômio”. Na verdade, a saúde não é um
lhões de anos, deu origem a espécies diferentes que, por sua vez, acaba- estado e não é perfeição. É uma condição em equilíbrio variável, que
ram originando as três atuais. Gorilas, chimpanzés ou homens não con-
diferentemente do passado pode-se hoje mudar notavelmente para me-
seguiriam sobreviver às condições ambientais em que viveu o seu an-
lhor. Parece-me também pouco provável que se possa atingir a perfeição
cestral comum, nem este se adaptaria ao mundo de hoje.
humana por meio da higiene e da medicina; às vezes, essa tentativa in-
A vida vem mudando permanentemente, embora muito lentamente.
duz as pessoas a realizar excessos, os médicos a tratar o supérfluo e os
Mas nem gorilas nem chimpanzés foram capazes de desenvolver uma
Estados a perpetrar abusos.
linguagem articulada. Já foi demonstrado, por exemplo, que os grandes
Assim, entendo por saúde global aquela de todos os sujeitos huma-
macacos podem aprender quase mil palavras, mas são incapazes de for-
nos, e penso que existam motivos válidos para pôr esse conceito no cen-
mar uma frase. Os macacos podem, sem dúvida, construir instrumentos
tro da reflexão bioética sobre a relação entre saúde e doença. O motivo
rudimentares e, como muitos outros animais, conseguem se comunicar
principal é que a saúde, a qual é ao mesmo tempo um dos processos
com eficiência. Mas a gramática só foi desenvolvida pelo homem. E
mais íntimos da pessoa e um dos fenômenos mais ligados à vida coleti-
isso é o que nos diferencia dos demais animais.
va, tem um caráter duplo no plano moral: intrínseco, como presença,
limitação ou ausência de capacidades vitais (no limite, como antítese
Razão, simbolismo e dogma
entre vida e morte), e instrumental, como condição essencial para viver
A extrapolação das idéias evolucionistas para o campo social mos- em liberdade. De fato, a liberdade substancial fica reduzida quando a
trou-se, como era de se esperar, um desastre. Não se pode pensar em doença predomina: a) porque o indivíduo normalmente fica impedido
evolução em tempos históricos. A evolução é um processo que precisa em uma ou mais das suas faculdades de decidir e de agir; b) porque a sua
de tempo — de muito tempo — para agir. Um fato importante que deve- sorte é confiada a poderes estranhos, sobretudo se ele não é mais consi-
mos ter em mente é o de que a compreensão da teoria da evolução por derado, enquanto doente, um cidadão detentor de direitos; c) porque a
seleção natural, uma teoria elaborada, exige um grande conhecimento doença, quando é grave e persistente, freqüentemente lança o indivíduo
de suas bases. Uma leitura superficial leva à não compreensão das idéias (assim como as nações) para baixo, para um círculo vicioso de uma
que formam a base dessa teoria. regressão que pode se tornar irreversível. Isso foi o que ocorreu muitas
Como entender, sem essa compreensão, que as espécies têm vezes no passado, e que está acontecendo agora. Para muitos campone-
caracteres, que existem variedades ou estados, que os genes atuam no ses chineses, por exemplo, desde que foi reduzida ou eliminada a assis-
processo de seleção? Como compreender que a informação da vida está tência pública, adoecer tornou-se a causa principal da sua precipitação
contida em quase todas as células do corpo humano em uma molécula na pobreza, como acontecia nos campos há um ou dois séculos. Em
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Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
rência à questão crucial da eqüidade na saúde, às tendências atuais da Hipócrates em diante, graças à sua negação em reconhecer a presença
globalização e as escolhas morais que seguem a isso. direta e pessoal do divino na natureza, e também da crença de que a
epilepsia, por exemplo, fosse um male sacro: “Acerca do mal sacro, essa
Prólogo: a “unificação microbiana” do mundo é a realidade. Por nada é mais divino ou mais sacro do que as outras
doenças, mas tem estrutura natural e causas racionais”. Entretanto, mes-
A globalização das doenças, ou seja, a difusão dos mesmos quadros mo quando as muitas causas foram reconhecidas, o mito se perpetuou.
mórbidos por todas as partes do mundo, começa em 1492, com a desco- O outro mito consiste em atribuir a origem das doenças ao “inimi-
berta (ou conquista) da América, que assinalou a passagem dos povos e, go” ou ao estranho diferente, hostil e, portanto, suspeito, e se manifes-
portanto, das suas doenças, da separação à comunicação global. tou claramente na outra margem do Atlântico quando apareceu a sífilis.
Mesmo antes, na história, as doenças epidêmicas já se haviam di- Proveniente do Novo Mundo, a doença explodiu na Europa pela primei-
fundido de um continente a outro, seguindo os deslocamentos das popu- ra vez em 1495, de forma epidêmica, durante o assédio e a conquista de
lações e a troca de mercadorias, como a peste e o cólera que viajaram Nápoles pelos exércitos franceses de Carlos VIII. Atingiu de modo igual
diversas vezes entre a Ásia e a Europa. Porém, antes de 1492, as muitas os dois exércitos, mas os italianos logo a denominaram mal franzes (ou
condições diferentes determinadas pelo ambiente, pela nutrição, pela em linguagem mais douta morbus gallicus), enquanto os franceses a
organização social e cultural e sobretudo pela presença ou ausência de chamaram mal napolitain. Quando chegou ao Oriente, os japoneses a
germes, de vetores biológicos e de doenças infecciosas, que em todos os definiram como mal português, e assim por diante, a cada vez culpando
lugares eram a principal causa de mortalidade, tinham criado quadros outras nacionalidades. Foram registradas mais 12 diferentes “denomi-
epidemiológicos notavelmente diferentes entre o Velho e o Novo Mun- nações de origem” da sífilis, todas estigmatizantes, provenientes de ou-
do. Nas Américas, por exemplo, não existiam a varíola, o sarampo, a tros tantos povos e países. Quando se começou a intuir que a doença
febre amarela, a malária perniciosa e provavelmente a difteria, a coque- proviesse da América, obviamente não faltou a tendência a atribuir a
luche, a varicela, a febre tifóide, a escarlatina e a gripe. Na Eurásia e na culpa aos índios vitimados pela doença, porque “não tinham conhecido
África não havia a sífilis. a palavra de Cristo”, e aos transmissores dela, porque tinham “hábitos
Também por isso, após 1492, o impacto das novas doenças foi de- particularmente libidinosos”.
vastador, principalmente no continente americano, cujas populações não Antes e também depois da sífilis, aliás, a tendência a inculpar “os
apresentavam nenhuma defesa imunológica contra elas. Essas resistên- outros” pelas epidemias foi uma componente constante da história das
cias imunitárias desenvolveram-se sempre como resultado de longa se- doenças. Os judeus foram acusados como transmissores da peste negra
leção, convivência, lutas e adaptações entre os microorganismos e o hós- na Europa, os irlandeses pelo cólera em Nova York, os italianos pela
pede; apenas em épocas recentes a resistência humana também foi cria- poliomielite no Brooklyn. Enfim, deve-se recordar que a primeira defi-
da como produto da ciência. nição da AIDS, formulada pelo Centro de Controle de Doenças (CDC)
Alguns outros aspectos daquilo que ocorre no Novo Mundo im- de Atlanta, quando identificou a doença, foi “imunodeficiência adquiri-
põem reflexões morais. Estas nascem da simultaneidade e da sinergia da relacionada aos homossexuais” (Gay-related immune deficiency),
entre as doenças, então incontroláveis, e a perda da identidade, da segu- porque os primeiros focos epidêmicos tinham sido observados entre a
rança e do poder das populações americanas, tudo isso causado pelo comunidade gay; posteriormente, a doença foi associada aos haitianos.
extermínio deliberado, pelo trabalho escravo e letal nas minas, pela que- É óbvio acrescentar que as investigações epidemiológicas não podem
bra dos equilíbrios alimentares, pelo colapso psicológico e cultural que negligenciar locais, focos epidêmicos, ambientes e comportamentos que
contribuiu para reduzir a resistência às doenças e provocou até mesmo possam contribuir para a difusão das doenças; mas são justamente os
epidemias de suicídios. mitos que descrevi que dificultam essas pesquisas.
A primeira denúncia da “história mais longa de massacres e devas-
tações que poderia e deveria ser redigida” foi escrita pelo bispo Bartolomé
Primeiro ato: a saúde torna-se internacional
de Las Casas em 1552. As análises mais aprofundadas são aquelas reali-
zadas nas últimas décadas do século XX, como efeito de uma radical Depois da unificação microbiana do mundo transcorreram quase
revisão historiográfica sobre o “equívoco de Colombo”. Ao longo dos três séculos antes que a humanidade (povos, governos, cultura e ciência)
séculos, que separam essas duas datas, o julgamento que prevaleceu foi tomasse consciência dos riscos comuns e começasse a encará-los com
aquele correspondente à tradição da “história escrita pelos vencedores”, um empenho que ultrapassasse as fronteiras. Porém, não foram séculos
pelo menos quanto a dois aspectos. Um deles está na ênfase quase ex- obscuros, mesmo porque desde o século XVII já começara a afirmar-se
clusiva sobre as doenças, verificada em todos livros, manifestando a o valor do conhecimento científico e da experimentação. No século
tendência a encobrir as outras causas de extermínio, provocadas e em XVIII, reconheceu-se que “salvar as almas não é mais o único dever das
razão das culpas humanas. O outro consiste em subestimar as perdas de- famílias e das autoridades civis e religiosas. Salvar os corpos é um com-
mográficas ocorridas no continente americano. A cifra global da queda promisso igualmente importante”, e foram feitos grandes avanços no
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siste na “cegueira epistemológica” e na arrogância profissional dos mé- mais controversos (e ao se substituir a palavra micróbio pela palavra
dicos europeus, que julgavam não ter nada a aprender com pessoas que gene reporta-se à atualidade) foi a influência relativa dos micróbios, do
os seus preconceitos induziam a considerar como três vezes subdesen- meio ambiente, da natureza e da cultura na origem e na disseminação
volvidas intelectualmente: porque mulheres, porque curandeiras e por- das doenças. Houve na Itália, por exemplo, ásperas polêmicas entre dois
que turcas. A outra está no debate teológico sobre o próprio princípio da grandes estudiosos da malária, Giovanni Battista Grassi e Angelo Celli:
vacinação: de um lado, aqueles que se opunham a ela porque contrariava o primeiro tendia a reduzir o ciclo patogênico da doença à equação ho-
os desígnios da providência divina, único árbitro da vida, da doença e da mem doente + anófeles = malária, enquanto o segundo acrescentava a
morte. A isso acrescentava-se um duplo “agravante específico”: o fato esta equação outros fatores que são determinantes na epidemiologia da
de que o remédio era uma invenção dos turcos infiéis, aperfeiçoada e malária, como as condições de vida e de trabalho, a água, a nutrição, a
difundida na Europa pelos médicos da Inglaterra protestante. Do outro instrução; e afirmava que para combater a doença era necessária a parti-
lado, aqueles que a justificavam, também em nome de Deus. Na Itália, cipação de pelo menos três pessoas: o médico, o encanador e o profes-
teve muita repercussão o parecer de três conhecidos teólogos toscanos, sor. Como observou Bernardino Fantini, a equação de Grassi era válida
os quais sustentavam que quem desafiava Deus eram aqueles que rejei- quanto à causalidade específica da malária, mas em relação ao sucesso
tavam a vacinação, pondo em risco a vida dos homens; e afirmavam que contra a endemia não podiam ser ignoradas as indicações de Celli.
o Senhor ensina a aceitar serenamente da sua mão as doenças, mas não Outro tema controvertido, que nos reporta diretamente à saúde glo-
proíbe de acautelar-se contra elas. A batalha desenrolou-se usando tam- bal, nasce dos resultados insatisfatórios da decisão de criar barreiras de
bém a arma das citações bíblicas: “Non tentatibis Dominum Deum controle, destinadas a conter a chegada de epidemias exóticas na Euro-
vostrum” contra “Honora medicum propter necessitatem, etenim illum pa. Identificou-se, como escreveu Fantini, a exigência de “repensar o
creavit Altissimus”; e a medicina, felizmente, venceu a partida. Posteri- conjunto das estratégias defensivas contra as doenças epidêmicas. Já
ormente, na encruzilhada entre a afirmação de que doenças e sofrimen- não bastava proteger as fronteiras dos países ocidentais ou os assenta-
to são um dom do Senhor e a vontade de utilizar a ciência médica para mentos dos colonos brancos contra os riscos de invasão”. Em 1896,
socorrer os aflitos, depois de muita discussão, a Igreja Católica Robert Koch falou à Sociedade Alemã para a Saúde Pública, critica-
freqüentemente elegeu a via mais humanitária, baseando-se na tradição mente, sobre as orientações destinadas a impedir a difusão do cólera
de beneficência e contribuindo para difundir sentimentos e práticas de mediante os cordões sanitários: “Sou da opinião que esses esforços in-
solidariedade. ternacionais sejam totalmente supérfluos, dado que a melhor proteção
A época de maior progresso na luta contra as doenças epidêmicas internacional seria que cada Estado fizesse aquilo que nós fazemos, ou
foram as décadas entre os séculos XIX e XX. Descobriram-se muitos seja, pegar o cólera pelo pescoço e aniquilá-lo para sempre”. Poucos
micróbios, os agentes de infecções letais como a tuberculose, a peste e o anos depois, Angelo Celli observava, nas suas Lições de higiene, que
cólera, assim como foram comprovados os canais da sua transmissão desde os tempos da primeira Conferência Sanitária Internacional a in-
por meio de artrópodes vetores ou alimentos e água contaminados. Fo- tenção limitava-se “a impedir a importação da peste bubônica e do cóle-
ram introduzidos soros e vacinas. Muitas cidades foram saneadas. Vota- ra”, doenças causadas por germes que não eram normalmente presentes
ram-se leis para reduzir a jornada de trabalho de 12/14 horas para 8, dar nos nossos territórios: “Os conceitos predominantes na epidemiologia
garantias às mulheres grávidas, impor limitações aos trabalhos dos me- do cólera eram muitos, diferentes dos atuais: tinha-se uma grande confi-
nores. Formou-se a idéia de que, mesmo sendo o livre mercado um fator ança em poder manter o cólera distante fechando as fronteiras dos Esta-
decisivo para o progresso econômico, algumas coisas não poderiam sujei- dos, levantando em terra e no mar barreiras de quarentena que alguns
tar-se inteiramente a ele: os seres humanos, antes de mais nada, pois de países, tomando ao pé da letra, prolongavam por quarenta dias. Depois,
outro modo a segurança e a dignidade de todos seriam comprometidas. viu-se que isso é perfeitamente inútil”.
Nessa base, foram formuladas as regras universais contra a escravidão e, É interessante recordar, como exemplo de interesses contrastantes
posteriormente, as leis nacionais sobre o trabalho. Proliferaram os segu- que podem convergir a favor da saúde, que entre o final do século XIX e
ros sociais e outras formas coletivas de proteção à saúde, promovidas ou o início do século XX, em vários continentes, muitas descobertas de
garantidas pela ação dos Estados. Enfim, firmaram-se acordos entre na- agentes biológicos e de vetores de doenças epidêmicas foram feitas por
ções contra a transmissão de doenças de uma parte do mundo a outra. médicos coloniais ou por comissões científicas militares que trabalha-
A primeira tentativa nessa direção foi feita com a Conferência Sani- vam após as ocupações realizadas pelos exércitos: no norte da África, o
tária Internacional de 1851, à qual estiveram presentes onze países euro- plasmódio da malária (Laveran, 1880); na China, o micróbio da peste
peus mais a Turquia, quando ainda conheciam-se apenas a distribuição (Yersin, 1894); na Índia, o papel das pulgas e dos ratos na transmissão
geográfica e a alta capacidade letal das epidemias mais graves (cólera, dessa doença; na América Central, o papel do mosquito Aedes aegypti
peste e febre amarela), ao passo que a etiologia e a transmissão perma- (já assinalado pelo cubano Carlos Finley em 1891) como vetor da febre
neciam ignoradas. A vontade de agir precedeu assim a certeza científica. amarela, na época da abertura do canal do Panamá.
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Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
A organização foi denominada mundial em vez de internacional
ção africana a não ser depois da Primeira Guerra Mundial”. Certamen-
como uma forma de mostrar que não era apenas o resultado de um acor-
te, contudo, durante o longo período, muitos outros e, às vezes, popula-
do entre Estados, mas principalmente uma exigência dos povos; e esta-
ções inteiras, foram beneficiados tanto pelas descobertas científicas como
beleceu como finalidade a saúde e, não apenas as atividades sanitárias
pelas medidas preventivas e pelas redes assistenciais, mais ou menos
em sentido estrito. Assim, acentuou-se o empenho global e ressaltou-se
rapidamente e de maneiras mais ou menos universais. A proteção à saú-
que o melhoramento da saúde não depende apenas da medicina, e que é
de humana começou assim a ser considerada, desde as primeiras déca-
preciso pôr em jogo “todos os fatores de melhoramento físico e psíquico
das do século XX, uma tarefa da política e um objetivo da comunidade
dos indivíduos e dos povos”, como afirma o estatuto da OMS. As suas
internacional.
tarefas foram notavelmente ampliadas e passaram a compreender a luta
contra velhas e novas doenças, a nutrição, a infância, as vacinas e os
Segundo ato: afirma-se o direito à saúde
fármacos, a saúde pública. Os pontos mais altos da atividade da OMS,
A saúde começou também a ser considerada como um direito. Isso nos quais essa adquiriu prestígio como “sujeito moral” e como patroci-
ocorreu, como proclama e freqüentemente como realidade, no clima de nador autorizado da saúde global, foram provavelmente dois: a campa-
esperança e de fervor que se seguiu à conclusão da Segunda Guerra nha contra a varíola, uma doença que em 1967 ainda era endêmica em
Mundial. Esse direito foi sancionado em muitas constituições e, na Itá- trinta e um países e afligia de 10 a 15 milhões de pessoas, e que foi, pela
lia, com a incisiva formulação “direito fundamental do indivíduo e inte- primeira vez na história das infecções humanas, completamente
resse da coletividade” (artigo 32). E esteve na base do ato constitutivo erradicada; e a Conferência de Alta Ata (1978), que numa polêmica con-
da OMS, assinado em 7 de abril de 1948. tra o predomínio das altas tecnologias médicas lançou com argumentos
Discute-se, do ponto de vista histórico, se tal direito nasceu já no século convincentes e com uma forte motivação moral a centralização dos cui-
XIX como uma extensão dos direitos de primeira geração, isto é, dos direi- dados primários com a saúde (primary health care), a ser estendidos por
tos “negativos” do cidadão tendentes a limitar o arbítrio do poder, como todo o mundo, como síntese entre prevenção, nutrição adequada, dispo-
uma espécie de “cidadania sanitária” protegida do ataque das doenças epi- nibilidade hídrica, assistência à infância, vacinações, controle das doen-
dêmicas; ou então se pertence aos direitos de segunda geração, os direitos ças localmente endêmicas, tratamentos adequados, fármacos essenciais.
sociais, para cuja aplicação o poder deve agir intervindo com ações positi- Como resultado de fatores múltiplos, do clima político e moral que
vas em vez de simplesmente furtar-se a realizar ações coercitivas. prevaleceu sobretudo depois de 1945 e da independência conquistada
Na verdade, foram muitas as motivações e os argumentos que con- por muitas nações, no século XX, houve, pela primeira vez, uma regres-
tribuíram para o seu reconhecimento, antes mesmo que juristas e filóso- são estável dos flagelos “eternos” da humanidade e um melhoramento
fos o interpretassem e o legitimassem. Segundo Roy Porter, nas nações muito profundo dos níveis de saúde, e acelerou-se a jornada para um
industriais afloraram duas idéias. Uma era que notável aumento da expectativa de vida da espécie humana. Esse fato,
mesmo tendo ocorrido de maneira bastante diferenciada no tempo his-
o funcionamento harmonioso e eficiente de complicadas economi- tórico e no espaço geográfico do globo, mantendo iniqüidades substan-
as de produtores e consumidores exigisse uma população que fosse ciais entre os povos, os gêneros e as classes, representa indubitavelmente
saudável e capaz de ler e escrever, qualificada e respeitadora das um extraordinário progresso social e biológico do século XX. Todos
leis; e nas democracias em que os trabalhadores eram também elei- sabem que tal século comportou duas guerras mundiais, inumeráveis
tores, o amplo desenvolvimento dos serviços de saúde tornou-se guerras locais, genocídios e violências. Mas também é válido o julga-
um dos meios para arrebatar os descontentes, mento de Toynbee:
impedindo-os de escolher rumos arriscados. A outra idéia era a de que O século XX não será lembrado apenas como uma época de confli-
“prevenir fosse melhor que corrigir; muito melhor determinar antes o tos políticos e de inovações técnicas, mas principalmente como o
que tornava as pessoas doentes e depois — guiados pela estatística, pela período no qual a sociedade humana ousou pensar na saúde de toda
sociologia e pela epidemiologia — tomar medidas capazes de construir a espécie humana como num objetivo prático atingível.
uma saúde positiva”.
Deve-se acrescentar que essas idéias freqüentemente foram uma
segunda escolha, uma reconsideração, após uma revolução industrial que Terceiro ato: a globalização dos riscos
fora acompanhada por formas selvagens de exploração e após as ten- Mesmo assim, não estou seguro de que as últimas décadas serão
dências eugênicas hostis ao progresso da saúde pública e da saúde para lembradas do mesmo modo. Essa sensação deriva, antes de mais nada,
todos, pela idéia de que “a medicina preventiva estava salvando os fra- dos fatos: do fim de muitas esperanças, da retração do progresso sanitá-
cos ao mesmo tempo em que os robustos, conduzindo assim ao suicídio rio, do crescimento das diferenças e da iniqüidade na área da saúde e no
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ca, todos os órgãos lesados serão substituídos por uma peça de reposi- No quadro evolutivo da espécie, assim como os seres humanos sem-
ção, e promessas em diante). Tal ramo da globalização parece hoje cada pre tenderam a colonizar novos territórios, os germes que podem causar
vez mais claro. Embora outros pudessem ser acrescentados, enquadrei doenças (sejam bactérias, vírus, príons, protozoários ou metazoários)
em quatro campos os principais riscos potenciais e danos atuais à saúde têm um irrefreável impulso endógeno de colonizar novos hóspedes. Hans
e à integridade individual e coletiva; trata-se de doenças ou “patologias Zinsser, num livro curioso e precursor intitulado Ratos, piolhos e histó-
sociais” que produzem conseqüências nocivas ao ser humano: a recru- ria, publicado em 1934, escreveu:
descência de antigas infecções e o aparecimento de novas; as implica-
ções da degradação ambiental para a saúde; a universalização das dro- Por mais que a vida civilizada possa tornar-se segura e bem controla-
gas; as violências destrutivas e autodestrutivas. da, bactérias, protozoários, vírus, pulgas infectadas, piolhos, carrapa-
tos, mosquitos e percevejos estarão sempre emboscados na sombra
Antigas e novas infecções para saltar sobre as presas quando negligência, pobreza, fome ou guerra
reduzem as defesas. E mesmo em tempos normais eles atacam os
A extraordinária redução da mortalidade por doenças infecciosas pobres, os mais jovens e os mais velhos, vivendo ao nosso lado numa
em todos os países e em todas as idades alimentara, nas últimas décadas, obscuridade misteriosa, esperando a sua oportunidade.
a esperança de um mundo sem epidemias. Infelizmente, a persistente
vulnerabilidade das populações diante dos micróbios e dos vírus foi de- O fato de que por um longo tempo os comportamentos, conhecimentos
monstrada, nos anos 1970 e 1980, pelo aparecimento e identificação do científicos, medidas preventivas e políticas sociais tenham obstado a
vírus da AIDS, que se disseminou rapidamente por quase toda parte. Foi sua tendência invasiva (mostrando assim que as leis da natureza ou a
então que, como escreveu Laurie Garrett num livro que fala dos riscos punição divina não eram subjacentes às doenças causadas ou veiculadas
de futuras pestes, “os limites e os imperativos da globalização da saúde por eles), e que agora, contrariamente, a realidade biossocial e as ações
tornaram-se evidentes, num contexto mais amplo que o das vacinações e e omissões humanas levem ao crescimento das suas oportunidades de
do controle das diarréias da infância”; foi então que se fizeram eviden- agredir o ser humano, traz inquietantes interrogativas morais sobre a
tes “as hipocrisias, as crueldades, as falências e inadequações das sacras responsabilidade de cada um.
instituições da humanidade, incluídos o establishment médico, a ciên-
Fonte: BERLINGUER, Giovanni. Bioética cotidiana. Brasília: Editora
cia, as religiões organizadas, os sistemas da Justiça, as Nações Unidas e Universidade de Brasília, 2004.
os governos de todas as orientações políticas.”
Depois da AIDS, foram identificados outros 29 vírus e bactérias
capazes de disseminar-se globalmente, mas que, até agora, permanecem
SEXUALIDADE
felizmente circunscritos a algumas áreas. Foi constatada a transmissão
intercontinental de doenças que eram consideradas persistentes apenas Sexualidade é o conjunto de caracteres próprios de cada sexo, que
em alguns países, como o cólera, que reapareceu depois de quase um se expressa e é visível de acordo com a construção cultural e as possibi-
século na América Latina. Acirrou-se a endemização da malária, que a lidades de orientação sexual. A sexualidade existe e se realiza no corpo
cada ano faz milhões de vítimas na África e em outras áreas do hemisfé- humano, logo está relacionada a todos os aspectos da vida humana.
rio sul, e que se estendeu até o estado da Virgínia, nos EUA. Verifica- Quase todas as sociedades ditas civilizadas têm encarado a sexuali-
ram-se uma recrudescência e uma maior virulência de micróbios como dade como um aspecto muito importante da vida social, a ponto de o
Mycobacterium tuberculosis, com um aumento dos casos também na exercício da sexualidade ser cercado de “ritos de passagem”, de tabus e
Europa e nos Estados Unidos. ser alvo de regulamentações.
A explicação mais freqüente desses fenômenos refere-se ao aumen- A sexualidade feminina através dos tempos recebeu duas formas de
to exponencial e à rapidez dos deslocamentos de homens e mulheres em tratamento, ambas discriminatórias e reforçadoras da inferioridade da
todas as partes do mundo. É uma verdade que príons, vírus, micróbios e mulher:
parasitas viajam sem passaporte e sem visto pelas fronteiras, uma verda- • reafirmação da sexualidade masculina (mulher como parte ou ins-
de que já fora enunciada pelo historiógrafo Henry Sigerist em 1943, já trumento da satisfação masculina);
então acompanhada de uma advertência: “Desde quando o mundo tor-
• negação da sexualidade feminina como fonte de prazer e sua afir-
nou-se menor como conseqüência dos atuais meios de comunicação (…)
mação como prática necessária apenas à procriação/“reprodução”
a solidariedade humana na área da saúde não pode ser negligenciada
da espécie.
impunemente”.
Mas existem outras razões, sem as quais não se explicaria o surgi- Tais maneiras de tornar pública a sexualidade evidenciam a forma di-
mento ou o recrudescimento atual de muitas doenças. A Encefalopatia ferenciada como historicamente mulheres e homens vêm sendo tratados:
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Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
supressão do estímulo da hipófise para o ovário, e em tais condi-
de SEPARAR sexualidade de procriação/“reprodução”, via métodos
ções a ovulação não acontece.
contraceptivos modernos, “eficazes”. Essa possibilidade colocou para
as mulheres situações novas e conflituosas, em particular na área de c) Métodos hormonais
saúde (os métodos são inócuos?) e sobre “o que fazer com essa tal Consistem na utilização de hormônios sexuais sintéticos para impe-
liberdade”. dir a ovulação e, por decorrência, a concepção. Em outras palavras, são
É importante destacar que existe o desejo das mulheres de controlar um mecanismo que “tapeia” o organismo feminino para suprimir a ovu-
a fecundidade. A prova disso é que hoje são raras as que “aceitam” pas- lação. A elaboração desse mecanismo foi simples para os cientistas. Co-
sivamente parir “até quando Deus quiser”, isto é, até que seus óvulos nhecedores da fisiologia do organismo feminino, imaginaram uma ma-
acabem. Há uma demanda real por um “jeito” que permita à mulher não neira que impedisse a hipófise de estimular os ovários a desencadear a
engravidar quando não quer! ovulação mensal, para que assim se evitasse a gravidez. É isso que a
Em face de tudo isso, urge que compreendamos que há uma conver- pílula hormonal faz, pois utiliza hormônios similares aos que os ovários
gência de desejos: a aspiração das mulheres (de controlar a sua secretam normalmente. Assim, o setor da hipófise que secreta os esti-
fecundidade) e a imposição da sociedade (de controlar a natalidade) para mulantes dos ovários fica desativado. A mulher não se ressente dessa
determinados agrupamentos humanos. O que é ético é questionar até inatividade de parte da hipófise e dos ovários, pois os hormônios sinté-
que ponto hoje em dia o conteúdo das aspirações das mulheres é influ- ticos suprem a “cota hormonal”, mas… e depois? Hipófise e ovários,
enciado e/ou determinado pelo aumento da consciência do direito à au- após longos períodos de repouso forçado, readquirem a capacidade de
todeterminação e até onde as pressões da sociedade capitalista induzem funcionar?
ou anulam as aspirações libertárias. Os contraceptivos hormonais possuem ainda a capacidade de en-
A verdade é que, por outros motivos que não os desejos das mulheres, grossar o muco cervical (para dificultar a motilidade do espermatozóide)
o capitalismo respondeu a uma demanda delas. Essa é a razão pela qual o e afinar o revestimento do útero para que, mesmo ocorrendo a fertiliza-
mercado de contraceptivos sempre será muito rentável e terá consumi- ção, o ovo não consiga se implantar e se desenvolver.
doras(es) fiéis, mesmo arriscando-se a saúde e até a própria vida. No caso do organismo masculino, os contraceptivos hormonais atu-
am impedindo a produção de espermatozóides ou destruindo-os.
A procriação humana Atualmente, os métodos hormonais existem nas seguintes apresen-
Procriar é gerar um ser semelhante. Historicamente a procriação tações:
humana apresenta duas dimensões de desejos contraditórios: a vonta- • contracepção oral: pílulas;
de de ter e a de não ter uma prole, em dado momento da vida. Para • injeções de progesterona;
contemplar as faces diferentes dessa aspiração, a humanidade viabilizou • implantes subcutâneos;
a concepção e a contracepção artificiais. Ambas possuem histórias in- • anéis vaginais;
teressantes e reveladoras do quanto são insondáveis os conflitos do
• DIU hormonal;
agir humano.
Não conceber quando não se desejar fazê-lo é um sonho muito an- • vacina antifertilidade, cujo objetivo geral é produzir a infertilidade
tigo das mulheres. Talvez por essa razão o aborto seja uma prática milenar temporária mediante a “reorientação” do sistema imunológico,
em todas as sociedades estudadas até hoje. para atuar contra a produção de espermatozóides (vacina mascu-
lina) e/ou a maturação dos óvulos, ou de hormônios da gravidez
• Contraceptivos contemporâneos (vacina feminina). Não podemos deixar de assinalar que a vacina
Os contraceptivos estão agrupados em três métodos principais: de antifertilidade é uma abordagem distorcida da gravidez, como se
barreira, naturais e hormonais. ela fosse uma doença contra a qual as mulheres precisassem ser
a) Métodos de barreira imunizadas;
Consistem em artefatos que impedem fisicamente a passagem do • RU-486, molécula antiprogesterona que possibilita a interrupção
esperma para o útero e em produtos químicos que objetivam destruir os da gravidez a partir do oitavo dia. Trata-se de uma substância
espermatozóides, associados a uma base de substância espessa que di- química abortiva, logo, conceitualmente não é um método
minui a motilidade dos espermatozóides e assim impede sua passagem. contraceptivo, pois não impede a concepção; atua após a concep-
Esses métodos existem na forma de espumas, geléias, cremes e suposi- ção. Sua ação acontece via bloqueio da taxa normal de progeste-
tórios. São comercializados sob a forma de espermicidas ou esperma- rona uterina secretada e por aumento das prostaglandinas natu-
ticidas, esponja contraceptiva vaginal, diafragma, capuz cervical, cami- rais — substâncias que agem naturalmente na estimulação das
sa-de-vênus ou condom, e DIU (dispositivo intra-uterino). contrações uterinas durante o trabalho de parto; e
50
São muitos os fatores que levam uma mulher a se esterilizar, desde Em 1993 dois médicos americanos, especialistas em reprodução as-
a opção livre e consciente até a necessidade econômica ou os problemas sistida, anunciaram a bipartição de um embrião humano — a geração de
de saúde. De acordo com esses fatores, a esterilização feminina pode ser gêmeos idênticos pela “força bruta”, como feito em gado desde a década
classificada em: de 1980. Apesar de ter sido somente um teste e os embriões humanos
• voluntária — quando a mulher opta por encerrar definitivamente bipartidos não terem sido implantados no útero de uma mulher, essa expe-
a sua vida reprodutiva, apesar de conhecer outros métodos riência causou uma enorme comoção nos Estados Unidos. Pela primeira
contraceptivos e de ter acesso a eles; vez falou-se seriamente sobre clonagem humana e a fantasiosa geração de
exércitos de indivíduos idênticos, reacendendo o medo da eugenia, que
• induzida — quando a mulher é levada a se esterilizar por causas
andava esquecida desde o final da Segunda Guerra.
que exercem pressão direta ou indireta sobre a sua vontade. Essas
O impacto social negativo dessa experiência fez com que a bipartição
causas, que podem atuar isoladamente ou em conjunto, são: o
de embriões humanos fosse temporariamente abandonada, e durante al-
discurso de que “pobre não deve nem precisa ter filhos”; a impo-
guns anos o assunto de clonagem de seres humanos ficou esquecido.
sição patronal, que exige atestado de laqueadura para obtenção
Isso até 1997, com o anúncio da Dolly… Logo em seguida, um grupo
de emprego (no Brasil é crime, mas os patrões pedem); desco-
americano declarou ter clonado macacos a partir de células embrioná-
nhecimento ou dificuldade de obter métodos contraceptivos re-
versíveis; pressão social na área da maternidade (falta de creches rias, gerando dois animais geneticamente idênticos. Apesar de o interes-
e outros equipamentos sociais que diminuam a dupla jornada de se de clonar macacos ser exclusivamente o da pesquisa, as imagens da-
trabalho feminino); queles seres-quase-humanos clonados ressuscitou imediatamente a idéia
da clonagem de seres humanos na população em geral.
• involuntária ou compulsória — quando a mulher é levada a se
esterilizar por problemas de saúde, independentemente de sua von-
Para que clonar humanos?
tade, ainda que esteja de acordo com isso. Ou quando pessoas ou
governos obrigam uma mulher a se esterilizar independentemen- Pois bem, se a clonagem é possível em diversas espécies e está che-
te de sua vontade e até sem o seu consentimento, por problemas gando tão perto do homem, eu pergunto: Para que clonar humanos? As
de saúde ou não. razões apresentadas até hoje são as mais variadas. Algumas delas — por
Ao contrário do que muitos dizem, essa cirurgia apresenta riscos, exemplo, “Para produzir doadores de órgãos” ou “Para produzir exérci-
como os da anestesia e da infecção hospitalar. Os efeitos físicos da este- tos de indivíduos superiores” — são bizarras e reminiscentes do nazis-
rilização na mulher, dependendo do grau de mutilação causado pela téc- mo e da sociedade descrita no clássico Admirável Mundo Novo, de Aldous
nica utilizada e da habilidade de quem a realiza, podem ser: alterações Huxley.
menstruais, menopausa precoce, aumento de peso, aderências dos ór- Teoricamente, se por um acidente ou doença você viesse a necessi-
gãos internos do abdome e dores freqüentes no “baixo-ventre” (pé da tar de um transplante de algum órgão, um clone seu seria de fato o me-
barriga). Também poderão surgir efeitos emocionais, tais como: frigi- lhor doador — os órgãos do clone seriam perfeitamente imuno-compa-
dez, complexo de castração, sentimento de culpa e perda ou aumento do tíveis com você, uma vez que esse indivíduo seria uma cópia genética
prazer sexual. sua. Mas seria moral e eticamente aceitável gerar um ser humano com o
Não poderíamos encerrar este capítulo sem dar voz à feminista e intuito de ser repositório de órgãos-estepe? Quando um desses órgãos
demógrafa Elza Berquó, especialista em demografia da população ne- fosse necessário, estaríamos preparados para retirá-lo do clone em detri-
gra brasileira, que há anos tem sido no Brasil o esteio da discussão que mento de sua vida? Acredito (pelo menos espero) que essa proposta seja
empreendemos aqui. Vejamos o que ela disse ao jornal O Estado de S. consensualmente inaceitável.
Paulo, no artigo “Evitar filhos é prática comum a mulheres de todas as Quanto à criação de exércitos de indivíduos superiores, a clonagem
classes sociais”. tem na verdade produzido exércitos de animais malformados e uns pou-
cos animais normais — tanto que na prática a idéia de gerar rebanhos de
Os elementos colhidos na pesquisa do Cebrap (Centro Brasi- animais comercialmente interessantes parece não ser comercialmente
leiro de Análise e Planejamento) levam a pensar em uma rede fami- viável… No entanto, pode ser que daqui a alguns anos as técnicas de
liar e social envolvida no processo de difusão da esterilização, e clonagem tenham se aprimorado o suficiente para gerar esses exércitos
igualmente presente entre negras e brancas. (…) Há uma cultura da de indivíduos superiores. Vamos então começar a pensar o que é um
regulação da capacidade reprodutiva através de uma prática: 52% indivíduo superior — para alguns Mozart, para outros Hitler — e se
das já esterilizadas são filhas ou irmãs de esterilizadas, e quase 2/3 devemos começar a tratar a raça humana como gado, programando cru-
delas aconselhariam outras mulheres a recorrerem ao método. (…) zamentos e produzindo “rebanhos” geneticamente selecionados.
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Mas a maior peculiaridade dessa pequena fração do nosso genoma
contida nas mitocôndrias é sua herança. Como falei no início do livro,
O clone será um clone? nosso genoma é formado pela união de meio genoma materno e meio
genoma paterno, vindos do óvulo e do espermatozóide, respectivamen-
Ser vivo = genética + meio ambiente te. Já a fração do genoma contida nas mitocôndrias é herdada exclusiva-
mente da mãe! Por quê? Quando um espermatozóide fecunda um óvulo,
O clone será mesmo idêntico à sua matriz? Eles terão o mesmo
ele introduz nesse óvulo o seu núcleo, contendo a metade paterna do
físico, o mesmo tipo de cabelo, cor de olhos, temperamento, inteligên-
genoma. Porém, não introduz nenhuma mitocôndria no óvulo. Assim, o
cia, gostos, aptidões? Sim, não, não sei…
embrião formado possui somente as mitocôndrias que estavam no óvu-
Recapitulando: o clone possui exatamente os mesmos genes que
lo, ou seja, as mitocôndrias maternas. Estas vão se multiplicar e dar
sua matriz. Se os genes determinam todas as nossas características físi-
origem a todas as mitocôndrias presentes no indivíduo adulto — exclu-
cas e quem sabe até psíquicas, o clone será sim idêntico à matriz, certo?
sivamente maternas!
Não. Estamos esquecendo de uns temperos muito importantes, que não
Como o clone é gerado a partir do núcleo de uma célula da matriz
estão escritos nos genes mas dão uma graça toda especial a cada um de
inserido em um óvulo qualquer, suas mitocôndrias serão derivadas das
nós: o meio ambiente, nossas experiências de vida.
mitocôndrias daquele óvulo. Por isso, se formos analisar rigorosamente
Alimentação, quantidade de exercício, tempo de exposição ao sol,
a genética do clone, apesar de seu genoma nuclear ser idêntico ao da
quantidade de ingestão de álcool e de nicotina são exemplos de fatores
matriz, o DNA de suas mitocôndrias não será.
ambientais que influenciam diversas características nossas, desde a al-
Mas qual será o impacto dessa diferença genética entre o clone e a
tura e a cor da pele até a suscetibilidade a doenças e o QI. Junto com
matriz? Não sabemos ainda, mas, dado o pequeno número de genes nas
nossos genes, esses fatores moldam cada um de nós.
mitocôndrias (37 dos aproximadamente 30 mil genes humanos), imagi-
Se você não está muito convencido do efeito do meio ambiente nas
namos que essas diferenças serão sutis. Nossa melhor chance de desco-
características de cada um de nós, vamos pensar nos clones naturais que
brir será estudando clones de modelos animais mais simples, como os
conhecemos: os gêmeos idênticos, ou univitelinos. Gêmeos univitelinos
camundongos. [...]
possuem genomas absolutamente idênticos, certo? Logo, possuem os
mesmos genes que determinam a altura e a quantidade de músculos no Fonte: PEREIRA, Lygia da Veiga Pereira. Clonagem – Fatos & Mitos. Coleção
corpo. No entanto, se um deles se alimentar melhor durante a infância e Polêmica. São Paulo: Moderna, 2004.
fizer mais exercícios que o outro, será mais alto e forte que seu irmão,
mesmo possuindo os mesmos genes que ele.
Sim, mas e se reproduzirmos para o clone as mesmas condições de PLANTAE
vida de sua matriz, eles não serão idênticos? Teoricamente sim. Porém,
vamos voltar ao exemplo dos gêmeos univitelinos: mesmo sendo cria- (do latim planta, planta)
dos pelos mesmos pais, no mesmo lar, ao mesmo tempo, esses clones [Organismos haplóides de sexos complementares crescem de esporos
naturais possuem sua individualidade. Apesar de terem muito em co- produzidos pela meiose (meiose esporogênica) que ocorre no adul-
mum, podem ter gostos, aptidões físicas e intelectuais, características to diplóide. Estes haplóides produzem gametas por meiose. A ferti-
físicas e de personalidade diferentes. lização por espermatozóides (citogamia e cariogamia) ou núcleos
Ainda é difícil estimar quanto a genética e quanto o meio ambiente do pólen (cariogamia) conduz a embriões diplóides retidos pelo or-
influenciam cada uma das nossas características, mas sabemos que mes- ganismo haplóide feminino durante o desenvolvimento inicial. Os
mo diferenças sutis de experiências de vida são suficientes para impri- registros fósseis se estendem desde a Era Paleozóica Inferior (450
mir características individuais em pessoas com genomas idênticos. milhões de anos atrás) até o presente.]
Em resumo, somos um produto da nossa genética e do nosso meio
ambiente; inúmeras características são mais ou menos influenciadas por Os membros do reino das plantas se desenvolvem de embriões —
esses dois fatores. Assim, apesar de o clone ser uma cópia, genetica- estruturas multicelulares envolvidas em tecido materno. Devido a to-
mente idêntica, da matriz, suas experiências de vida particulares influ- das as plantas formarem embriões, elas são todas multicelulares. Além
enciarão uma série de características de uma forma que não podemos disso, devido aos embriões serem os produtos da fusão sexual de célu-
prever. Pense só em todos os parentes, amigos, professores, enfim todas las, todas as plantas potencialmente têm um estágio sexual em seus
as pessoas que passaram por sua vida. Em tudo o que aconteceu perto de ciclos de vida (embora isso nem sempre ocorra). No estágio sexual, o
você e no mundo durante a sua vida. Eles deixaram diversas marcas, gameta masculino (núcleo espermático, haplóide) fertiliza o gameta
influenciando muito quem você é hoje em dia. Reproduzir sua genética feminino (oosfera, ou núcleo do saco embrionário, haplóide). Muitas
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I – Objetivo
1. Construir um modelo de sistema respiratório humano.
Sugestões de atividades 2. Relacionar o modelo construído com a biomecânica do sistema
respiratório dos mamíferos.
OBSERVAÇÃO DE CULTURA DE PARAMECIUM 3. Reconhecer a importância do diafragma no mecanismo da inspi-
E OUTROS ORGANISMOS MICROSCÓPICOS ração e expiração.
53
IV – Questões
DRAMATIZAÇÃO
1. Puxe a membrana que representa o diafragma para baixo e para
cima. O que acontece? Tema: Deve-se limitar a natalidade?
2. Relacione o que foi observado na realização dessa atividade com
a biomecânica do sistema respiratório dos mamíferos. I – Objetivo
Levar o aluno a analisar o problema da limitação da natalidade.
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[Comentários/Respostas das questões do item IV : 1. Quando a mem-
brana é puxada para baixo, a bexiga que representa os pulmões enche-se II – Procedimento:
de ar. Quando empurrada para cima, a bexiga elimina o ar. 2. Somente 1. Divida a classe em grupos. Cada um representará uma das perso-
os mamíferos possuem diafragma, músculo que separa a cavidade torácica nagens citadas abaixo. Todos os alunos dos grupos defenderão o
da abdominal. Ao se contrair, o diafragma desloca-se em direção ao ab- posicionamento da personagem designada para o grupo. Os dados refe-
dome, aumentando o volume da caixa torácica. Ao mesmo tempo, entre rentes a essas personagens devem estar impressos e entregues aos parti-
as costelas existem os músculos intercostais, que, ao se contraírem, cipantes de cada um dos grupos na aula que preceder a atividade. É
tracionam as costelas para a frente, aumentando ainda mais o volume importante recomendar aos alunos que preparem em casa sua argumen-
da caixa torácica. Com o aumento de volume, a pressão interna torna-se tação. No dia destinado a essa atividade, cada grupo formará um semi-
círculo voltado para o centro da sala. Antes de iniciar a discussão, um
menor que a pressão atmosférica, forçando a entrada de ar nas vias aé-
representante de cada grupo falará, expondo rapidamente o ponto de
reas (inspiração). Com o relaxamento dos músculos intercostais e do
vista do seu personagem. A discussão terá início quando o médico anun-
diafragma, há diminuição do volume da caixa torácica, forçando a saída
ciar que, no Posto de Saúde onde trabalha, começará a ser distribuído
de ar pelas vias aéreas.] anticoncepcional gratuitamente.
23
11 Personagem 5 – Padre
Você é padre e acredita que qualquer tipo de interferência no con-
22 12
trole da natalidade, como a doação de anticoncepcionais, é contra a na-
21 13
tureza humana. Na sua opinião, deve-se cuidar das crianças, dando es-
colas, assistência médica, trabalho para os pais etc., pois a vida é um
14
20
dom divino e não cabe a nós decidir quantos devem nascer e viver.
19 15
18 17 16
(Obs.: Professor, não deixe que sua opinião pessoal influencie a dos
alunos. A coordenação é do professor, mas a opinião dos alunos deve ser
Figura: Representação esquemática (sem escala) do ciclo menstrual. respeitada.)
54
ATIVIDADE DE CAMPO
(Obs.: Caso a escola não tenha microscópio, pode-se fazer a cultura
e observar sua germinação.) Uma atividade de campo é um estudo realizado em um ambiente
natural. Esse tipo de atividade permite contextualizar o conteúdo
III – Procedimento conceitual que estamos desenvolvendo; vivenciar valores saudáveis que
1. Ponha uma folha ou pedaço de folha de samambaia com soros colaboram na aquisição de atitudes de respeito, como também melho-
dentro de um saco plástico. rar as relações interpessoais aluno — aluno e aluno — professor. A
2. Agite o saco vagarosamente e observe se os esporos estão se sol- atividade de campo presta-se à realização de trabalho interdisciplinar,
tando. o que permite uma visão mais abrangente do conteúdo desenvolvido.
3. Coloque um pouco de água em um pires e dentro dele um pedaço Pode também ser desenvolvida como parte de um projeto maior onde
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de telha ou tijolo. O pires deve ser mantido sempre com água para um tema é escolhido e desenvolvido pelas diferentes disciplinas den-
que a telha ou o tijolo se mantenham úmidos. tro do enfoque específico de cada uma das áreas. Por exemplo: a reali-
4. Coloque sobre a telha ou o tijolo os esporos retirados dos soros. zação de um projeto de educação ambiental na escola objetiva instru-
5. Para evitar a evaporação da água, cubra o pires com um copo de mentalizar o aluno, a fim de que possa intervir nos problemas
vidro. Após alguns dias, a superfície do tijolo ou da telha come- ambientais de sua comunidade, visando uma melhoria da qualidade de
çará a ficar verde. vida. Para que esse projeto, assim como outros, atinja essa meta, tor-
6. Retire com o pincel alguns esporos que estão germinando e colo- na-se necessário: ter um caráter multidisciplinar, e, sempre que possí-
que-os na lâmina com uma gota d’água. Cubra com a lamínula e vel, que haja uma vinculação do conhecimento científico com a reali-
observe ao microscópio. dade cotidiana do aluno, e que este esteja mais perto do objeto de estu-
7. Desenhe sua estrutura. do por meio de uma metodologia mais dinâmica, como, por exemplo,
8. Continue observando periodicamente até o prótalo tornar-se adulto. o trabalho de campo e as entrevistas.
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analise onde crescem. Justifique onde são encontrados e por quê? As 8. a) O gavião, que, ao mesmo tempo, é consumidor secundário e
fezes dos animais, se existirem, também constituem uma forma de de- terciário. b) As plantas são os produtores e fornecem energia para
tectar os tipos de animais existentes, seu tamanho e muitas vezes sua todos os demais componentes da teia.
alimentação. 9. b
Essas são algumas das observações que podem ser feitas, porém, 10. a) A quantidade total de energia química acumulada nos membros
muitas outras acontecerão durante o percurso, que devem ser anotadas daquele nível trófico. b) Porque os componentes de cada nível trófico
por você ou debatidas com seus colegas e o professor, se necessário. gastam grande parte da energia na respiração celular aeróbia, en-
Todas as anotações realizadas serão usadas para a confecção final do quanto uma outra parcela é perdida na forma de calor.
relatório do seu grupo, em sala de aula. Posteriormente, os grupos rela- 11. c
tarão o que observaram e será construído um texto coletivo da atividade 12. a
desenvolvida. 13. Não. Em uma floresta em equilíbrio, a quantidade de oxigênio libe-
rada pela fotossíntese é praticamente igual à consumida na respira-
Observação para o professor: ção celular aeróbia. A maior produção líquida de oxigênio ocorre
Todos os conceitos relativos às possíveis observações existentes neste nos oceanos, pela atuação do fitoplâncton (algas marinhas).
roteiro devem ter sido desenvolvidos no período anterior à sua realiza- 14. a) Folhas → insetos → rãs → jararaca → gavião. b) Folhas (produtor);
ção em sala de aula. insetos (consumidor primário); rãs (consumidor secundário); jararaca
(consumidor terciário); gavião (consumidor quaternário). c) O sabiá,
Avaliação que atua como consumidor primário (ao se alimentar de folhas e se-
A avaliação de uma atividade de campo não pode ser restringida ao mentes) e consumidor secundário (ao se alimentar de insetos).
relatório apresentado pelo aluno ou grupo. A avaliação deve iniciar no 15. Planta (produtor) → camundongo (consumidor primário) → cobra
momento em que a atividade começa e terminar após a construção do (consumidor secundário) → perdiz (consumidor terciário) → rapo-
texto coletivo. A postura, a responsabilidade, o compromisso na realiza- sa (consumidor quaternário).
ção da atividade são dados que não podem ser desprezados e que devem 16. c
ser considerados. 17. Porque, à medida que os níveis tróficos se afastam do nível trófico
dos produtores, a quantidade de energia disponível para o nível
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11. a)
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Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Óxidos de Com a expansão das áreas de clima tropical, esses transmissores
Irritação das vias aéreas, dos olhos e da boca. (insetos, moluscos e roedores, entre outros) ocupariam lugares que
enxofre
Óxidos de O monóxido de carbono dificulta o transporte de antes não ocupavam, levando consigo agentes infecciosos (como os
carbono oxigênio pelo sangue. causadores de encefalite viral, dengue, malária, febre amarela ou da
esquistossomose) para regiões onde eles não existem atualmente,
Saturnismo (lesões do sistema nervoso, dos rins
Chumbo difundindo essas moléstias em populações que hoje se encontram
e anemia).
fora das áreas de risco.
18. d 19. a
3. a) Inversão térmica. b) No inverno, o ar fica mais frio e mais denso, 20. a) O significado será a redução da quantidade de oxigênio dissolvi-
acumulando-se sobre as cidades como um “manto de partículas de do na água, que poderá acarretar a morte de peixes, moluscos, crus-
poluentes”. A entrada de luz solar é dificultada, retardando o aque- táceos e outros organismos aeróbios. b) O aumento da temperatura
cimento do solo e, conseqüentemente, do ar. Diminuindo a movi- reduz o coeficiente de solubilidade dos gases em líquidos. (O pro-
mentação ascendente do ar, a camada de poluentes permanece mais fessor de Química poderia explicar superficialmente o conceito de
tempo sobre as cidades. coeficiente de solubilidade.)
4. b 21. e
5. a) É a capacidade que determinados gases atmosféricos têm de apri- 22. a) Quanto maior é a porcentagem da população com acesso a água
sionar calor, mantendo a atmosfera e a superfície do planeta relati- potável de boa qualidade, menor é a taxa de mortalidade infantil. b)
vamente aquecidas. b) É o gás carbônico (CO2 ou dióxido de carbo- Acesso a água potável de boa qualidade reduz a chance de contato
no). c) Ocorreria elevação do nível médio dos oceanos graças ao com agentes infecciosos veiculados por água e alimentos contami-
derretimento de geleiras (de calotas polares e cordilheiras) e à dila- nados, como vírus, bactérias e outros organismos causadores de di-
tação da água (pelo aumento da temperatura). Quanto à produção arréia (uma das principais causas de mortalidade infantil em países
agrícola, apesar do aumento da concentração atmosférica de CO2 pobres). Além disso, acesso a água potável de boa qualidade sugere
(que é matéria-prima da fotossíntese), a elevação da temperatura que a população seja servida por saneamento básico, tenha condi-
comprometeria o funcionamento das células, afetando a produtivi- ções satisfatórias de nutrição e moradia, acesso a serviços de saúde,
dade. Além disso, a elevação dos oceanos poderia alagar áreas cos- recebimento de medicamentos ou condições financeiras para ad-
teiras atualmente utilizadas pela agricultura. quiri-los etc. Esses mesmos fatores contribuem para que as crianças
6. d 7. d, a, e, b, c tenham boas condições de vida, reduzindo a taxa de mortalidade
8. a) É a eutrofização (ou eutroficação). b) III → V → IV → II → I. c) infantil.
Reduzir a liberação de produtos fosfatados (detergentes, por exem-
plo) nas águas coletadas; adotar formas alternativas de destinação Capítulo 6
dos dejetos humanos (por meio de fossas sépticas) nos locais não 1. e, b, a, d, f, c 2. c
servidos por rede de esgoto; exigir que os governos, em diferentes 3. a) Compostos inorgânicos nitrogenados (nitrogênio também pode
níveis da administração pública, estendam as redes de saneamento ser aceito como resposta). b) Pela denitrificação (graças à ação de
(água tratada e esgoto) a toda a população. bactérias denitrificantes), na forma de N2 (nitrogênio gasoso). c) A
9. a 10. a associação com bactérias ocorre em nódulos que se formam nas
11. São plausíveis apenas as explicações I e II. I. A queda matinal da raízes das leguminosas.
concentração de NO é acompanhada de elevação da concentração de 4. Copépodes → manjubas → pescadas → atobás. O DDT tende a se
NO2, sugerindo a conversão de um gás em outro. II. A alta da concen- concentrar nos níveis superiores das cadeias alimentares, fenômeno
tração de CO ocorre nos “horários de pico”, quando o movimento de chamado magnificação trófica.
veículos é maior (início da manhã e final da tarde). III. Apesar de 5. d 6. c, e, b, a, d 7. b 8. b 9. c
haver elevação da concentração de NO2 acompanhando a queda da 10. a) X: bactérias denitrificantes, pois liberam nitrogênio gasoso para
concentração de NO (sugerindo a conversão), nota-se alguma con- a atmosfera. Y: decompositores, que são praticamente os únicos or-
centração daquele gás ao longo de todo o dia. IV. Se houvesse deslo- ganismos que digerem a quitina da carapaça de artrópodes. Z: pro-
camento de O3 da estratosfera para camadas mais baixas, sua concen- dutores (autótrofos), porque realizam a fotossíntese e liberam oxi-
tração total na atmosfera permaneceria constante. gênio. W: consumidores de primeira ordem, pois digerem o amido
12. c e, portanto, devem alimentar-se de algas ou plantas. b) Os organis-
13. a) Os gases que, ao se combinarem com a água, são os responsáveis mos Z, que são os produtores e estão na base da pirâmide de energia
pela formação de ácidos (óxidos de nitrogênio e óxidos de enxofre) e, em geral, na de biomassa.
são lançados na atmosfera e levados a longas distâncias pelos 11. d
58
4. a) Polissacarídio de reserva animal: glicogênio (encontrado no fíga- ciosos, como bactérias (em animais).
do e nos músculos). Polissacarídio de reserva vegetal: amido (en- 14. Com o rompimento da membrana lisossomal, as enzimas hidrolíticas
contrado em raízes e caules). b) Os animais alternam períodos de destroem os macrófagos, extravasam e acabam por destruir o tecido
alimentação com intervalos relativamente longos durante os quais pulmonar.
eles dependem dos estoques de glicose, armazenada na forma de 15. b
glicogênio. 16. Durante as quarenta semanas da gestação humana, o útero aumenta
5. a consideravelmente, passando de 7,5 cm de comprimento e 50 g de
6. b, e, f, d, c, a, g massa para 30 cm de comprimento e 1.100 g de massa. É pela atua-
7. b ção das enzimas digestivas (hidrolases) presentes em lisossomos
8. a que ele diminui após o parto, readquirindo seu tamanho normal em
9. a cerca de dez dias.
10. Soma = 53 (01 + 04 + 16 + 32) 17. d
11. No tubo 1 nada ocorrerá; no tubo 2 ocorrerá formação de bolhas 18. a) São eucarióticas as células A e B, que possuem envoltório nucle-
(correspondentes ao oxigênio liberado na degradação enzimática ar; a célula C, que não o possui, é procariótica. b) Bactérias: célula
da água oxigenada); no tubo 3 ocorrerá formação de bolhas; no C (não possui envoltório nuclear nem organóides citoplasmáticos, a
tubo 4 ocorrerá intensa formação de bolhas, pois a trituração au- não ser ribossomos). Animal: célula A (eucariótica, sem parede ce-
menta a superfície de contato da água oxigenada com as enzimas lular nem cloroplasto). Vegetal: célula B (eucariótica, dotada de
presentes no fígado; no tubo 5 não haverá formação de bolhas, parede celular e cloroplastos).
pois a fervura prévia desnaturou irreversivelmente as enzimas do 19. c
fígado. 20. e
12. c
13. a
Capítulo 9
14. e 1. g, d, e, f, c, a, b, h
15. Há uma associação direta entre a porcentagem de gorduras saturadas 2. Os pigmentos fotossintetizantes estão em organóides chamados
na dieta e a incidência de doenças cardíacas em seres humanos. cloroplastos (estruturas microscópicas), no interior dos tilacóides
16. a) A presença de glicina (ou de valina) na dieta é essencial para o (estruturas submicroscópicas). No vegetal, a maior quantidade se
desenvolvimento normal de larvas de moscas do gênero Heliothis. encontra nas células das folhas (órgãos), no parênquima clorofiliano
b) Servir como grupo-controle (ou referência) para comparação com (tecido). Esta localização é particularmente vantajosa porque as fo-
os grupos experimentais (sem glicina e sem valina). lhas, com pequena massa de tecido, conseguem grande área de ex-
17. F, V, F. É importante destacar que apenas a afirmativa II é demons- posição à luz solar.
trada pelo experimento, independentemente de as afirmativas I e III 3. a) Fotossíntese e respiração celular aeróbia. b) As substâncias pro-
serem ou não verdadeiras. duzidas em cada um desses processos são consumidas no outro
18. V, V, V, F (glicose e O2 são produzidos na fotossíntese e consumidos na respi-
19. No tubo I, há substrato (gorduras do leite) e a enzima correspon- ração celular aeróbia; gás carbônico e água são produzidos na res-
dente; ocorre a hidrólise e a formação de ácidos graxos e, por- piração celular aeróbia e consumidos na fotossíntese).
tanto, o meio se torna ácido, mudando a cor do indicador que se 4. a
torna azul. No tubo II, há substrato, mas não há enzima; conse- 5. c
qüentemente, não se formam ácidos graxos e o indicador perma- 6. a) Deve permanecer parado, pois a quantidade de gases liberados é
nece rosa. No tubo III, está presente a enzima, mas não o igual à quantidade de gases absorvidos. b) É o gás oxigênio, produ-
substrato; então, o indicador permanece rosa, pois não se for- zido na fotossíntese.
mam ácidos graxos. 7. d, b, c, h, f, a, e, g
20. d 8. d 9. d
10. e
Capítulo 8 11. c
1. c, h, g, e, i, a, f, d, j, b 12. a) A substância é o gás carbônico. A seqüência é: fitoplâncton,
2. a) É procariótica, pois não possui envoltório nuclear nem organóides moluscos filtradores, peixes carnívoros e decompositores. A subs-
citoplasmáticos membranosos. b) 1. membrana plasmática; 2. tância liberada será o gás carbônico. b) Os processos de captação e
nucleóide (ou cromossomo circular); 3. ribossomo; 4. parede celular. liberação são, respectivamente, a fotossíntese e a respiração. So-
3. a mente o fitoplâncton faz os dois processos.
59
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
de esverdeada da luz que atinge o solo, depois de atravessar as fo- pelo centrômero). 5 – Anáfase (cromossomos-filhos já separados,
lhas (que se comportam como um “filtro” verde), lembrando que a sendo tracionados). b) Condensados durante a divisão celular, os
luz verde é mal absorvida pela clorofila. cromossomos podem ser tracionados, com menor probabilidade de
19. O ponto x corresponde ao ponto de compensação luminosa, intensi- sofrer fraturas e perdas de fragmentos. Descondensados na intérfase,
dade luminosa em que a taxa da fotossíntese se equivale à da respira- permitem a transcrição e, assim, comandam a síntese de proteínas.
ção celular aeróbia, e as trocas gasosas globais entre a planta e o am- 8. a
biente são nulas. Na área A, a respiração celular aeróbia predomina 9. A figura mostra a duplicação do material genético (DNA). Vemos
sobre a fotossíntese; a planta consome matéria orgânica, libera gás um filamento de cromatina que, em determinado segmento, encon-
carbônico e absorve oxigênio. Na área B, ocorre o inverso: a taxa de tra-se duplicado. No gráfico, a duplicação do DNA está indicada
fotossíntese supera a da respiração celular aeróbia, a planta incorpora pela letra S (período S da intérfase). Nota-se a passagem da quanti-
matéria orgânica, consome gás carbônico e libera oxigênio. dade de DNA de 2C para 4C.
20. a) Ácido láctico. b) Havendo déficit de oxigênio, as células muscu- 10. a
lares degradam moléculas orgânicas por meio da fermentação láctica, 11. Resposta pessoal.
que origina ácido láctico. É o acúmulo dessa substância que acarre- 12. c, e, a, f, d, b
ta dores musculares, fadiga e, eventualmente, câimbras. 13. a) Meiose, pois há emparelhamento e posterior separação de
21. F, F, V, V, F cromossomos homólogos. b) As etapas ocorrem na seqüência 3, 4,
22. Soma = 45 (01 + 04 + 08 + 32) 1, 2 e 5.
23. b 14.
24. a
PAULO MANZI
Capítulo 10
1. b, e, g, d, h, i, f, a, c
2. b
3. d
4. Podem ser UGAGGCGAAUCC ou ACUCCGCUUAGG. Os dois
15. a) É a anáfase II, pois mostra a separação das cromátides-irmãs. b)
filamentos que compõem essa molécula de DNA transcrevem ca-
O número haplóide é igual a 6, pois são quantos cromossomos terão
deias diferentes de nucleotídios em moléculas de RNA mensageiro.
cada célula resultante da meiose representada na figura.
5. O HIV possui RNA como material genético, sendo chamado retrovírus
16. d
por determinar a síntese de DNA, tendo o RNA como modelo.
6. d, a, b, c, e 17. e
7. Trata-se de um organismo procarionte, pois há contato direto entre 18. a
o DNA e os ribossomos, indicando que estão no mesmo comparti- 19. Soma = 11 (01 + 02 + 08)
mento celular (no citoplasma) e que não há carioteca. 20. V, F, V.
8. d 21. e
9. Não obrigatoriamente. Como o código genético é redundante (ou 22. Soma = 22 (02 + 04 + 16)
degenerado), dois ou mais códons diferentes podem codificar o mes- 23. e
mo aminoácido. 24. a) Podemos destacar, como condições propícias à elevada ocorrên-
10. c cia de doenças infecciosas no país em desenvolvimento, a falta de
11. a saneamento básico adequado, as más condições de nutrição e a pe-
12. A: 19,6%; B: 29% quena cobertura da população pelos esquemas de vacinação. b) A
13. a) CAUCGGAUC. b) Não, pois o RNA mensageiro formado a par- menor porcentagem de casos de morte por câncer no país em desen-
tir do filamento complementar a este não teria a mesma seqüência volvimento deve-se ao fato de que os habitantes morrem em grande
de nucleotídios. número por outras causas (como as doenças infecciosas), e um me-
14. Proteínas (A); RNA mensageiro (D); RNA ribossômico (F); ATP (G). nor número atinge as faixas etárias mais avançadas, nas quais a ocor-
15. a rência de câncer seria maior.
25. a) Reprodução assexuada. b) Vantagens: maior número de descen-
16.
dentes gerados e menor tempo entre duas gerações consecutivas.
17. Foi a valina, pois a décima base nitrogenada pertence ao quarto códon Desvantagens: menor variabilidade genética e maior risco de de-
(agrupamento de três em três nucleotídios). Portanto, haverá altera- saparecimento da espécie em face de novos desafios da seleção
ção no quarto aminoácido. natural.
60
em decorrência das condições da Terra primitiva. e) Teria sido a capacidade de dobrar a língua em “U” é condicionada por alelo do-
fermentação de substâncias orgânicas obtidas no ambiente. minante. b) A resposta deverá ser analisada caso a caso.
5. b 17. a) A forma das folhas do tomateiro pode ser determinada por um par
6. Pertence à hipótese da abiogênese (ou geração espontânea). É fa- de alelos, sendo a variedade normal condicionada por alelo domi-
lha porque não impede que ratos previamente existentes alcancem nante (B) e a “batata” pelo alelo recessivo (b).
o material (camisa suja e grãos de trigo) e depositem nele seus b) I. BB ⫻ bb; II. Bb ⫻ Bb; III. bb ⫻ bb; IV. Bb ⫻ bb; V. BB ⫻ B_
filhotes. 18. A mulher albina tem genótipo aa e seu marido tem genótipo Aa, pois
7. d já tiveram uma criança albina (genótipo aa). Portanto, a probabili-
8. A primeira equação resume a fotossíntese e relaciona-se com a hi- dade de nascimento de outra criança albina é igual a 50%.
pótese autotrófica, que afirma terem sido autótrofos os primeiros 19. a) 100% inflorescência mista (genótipos NN ou Nn). b) 75%
seres vivos. A segunda equação resume a fermentação e relaciona- inflorescência mista (genótipos NN ou Nn) e 25% inflorescência
se com a hipótese heterotrófica, que afirma terem sido heterótrofos pistilada (genótipo nn).
fermentadores os primeiros seres vivos. 20. Basta cruzar o animal preto (genótipo BB ou Bb) com uma fêmea
9. e
branca (genótipo bb). Sendo ele homozigoto BB, todos os descen-
10. b
dentes serão pretos (genótipo Bb); sendo heterozigoto Bb, seus des-
11. b
cendentes poderão ser pretos (genótipo Bb) ou brancos (genótipo
12. e
bb).
13. a
21. b
Capítulo 13 22. a) 99 brancos e 33 amarelos. b) 66 heterozigotos.
1. d, f, e, b, a, g, c, h 23. a) Alelo recessivo (veja o casal II-1 ⫻ II-2). b) A mulher III-1, sendo
2. e normal e filha de heterozigotos, pode ser homozigota dominante ou
3. e heterozigota.
4. a) A escolha da calça e da camisa são eventos independentes, cuja 24. a) Recessivo (veja o casal 3 ⫻ 4). b) I-1: AA; I-2: Aa. c) P = 1/64.
probabilidade de ocorrência é dada pelo produto das probabilidades
de ocorrência de cada evento: P = P (calça jeans) · P (camisa azul) ⇒
Capítulo 14
⇒ P = 3/5 · 5/20 ⇒ P = 15/100 = 0,15 (15%). Conclui-se que a 1. a, e, f, d, b, c
probabilidade de você escolher calça jeans e camisa branca é de 2. a
15%. b) A escolha da camisa bege ou verde são eventos mutuamen- 3. a) 50% azuladas e 50% brancas. b) 50% pretas e 50% azuladas.
te exclusivos, cuja probabilidade de ocorrência é dada pela soma c) 100% azuladas.
das probabilidades de ocorrência de cada evento: P = P (camisa 4. Soma = 01 (01)
bege) + P (camisa verde) ⇒ P = 5/20 + 6/20 ⇒ P = 11/20 = 0,55 5. a) Polialelia ou alelos múltiplos. b) CC, Ccch, Cch e Cca. c) Aguti
(55%). Portanto, a probabilidade de você escolher camisa bege ou (50%), himalaia (25%) e albino (25%). d) Cch (25%), Cca (25%),
camisa verde é de 55%. chca (25%) e caca (25%).
5. a) A probabilidade de que a primeira criança seja um menino é de 6. a) AA, Aan e Aa. b) 50% ana (flor normal) e 50% aa (flor rainha).
50%, independentemente de quantos filhos o casal pretende ter. b) 7. e, f, b, a, g, d, c
A probabilidade de nascimento de uma menina é igual a 50%. Como 8. e
3 nascimentos são eventos independentes, temos: 9. a
P = 0,125 (12,5%). A probabilidade de nascimento de 3 meninas é 10. d
igual a 12,5%. 11. a) O casal Lucchesi — B (genótipo IB_) e AB (genótipo IAIB) – não
6. b, f, a, d, c, g, e poderia ter um filho como o bebê nº 1, do grupo O (genótipo ii),
7. a) O ovário retirado da cobaia preta produzia óvulos com o alelo mas poderia ter um filho do grupo A (genótipo IA_), desde que a
que condicionava a pelagem preta, mesmo depois de implantado na Sra. Lucchesi fosse heterozigota (genótipo IBi). Analogamente, o
cobaia albina. b) Fêmea preta: genótipo AA; descendentes: genótipo casal Hart — B (genótipo IB_) e B (genótipo IB_) — não poderia ter
Aa. c) O resultado não seria o mesmo, pois o ovário da fêmea albina um filho como o bebê nº 2, do grupo A (genótipo IA_), mas poderia
continuaria produzindo apenas óvulos portadores do alelo para ter um filho do grupo O (genótipo ii), desde que ambos fossem
pelagem albina. heterozigotos (genótipo IBi). b) Considerando que, de fato, ocorreu
8. a a troca de bebês, e que o bebê nº 2 é filho do casal Lucchesi, a
9. b. Cuidado com seus cálculos! Como o carneirinho é branco, a pro- probabilidade de que este casal (genótipos IBi e IAIB) tenha outra
babilidade de que tenha genótipo Pp é de 2/3, pois exclui-se a criança do grupo A é igual a 0,25 ou 25%.
61
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
19. a) 15 combinações. b) Apenas dois, pois são dois locos gênicos a ab
serem ocupados no par de cromossomos homólogos.
45% AB 45% Aa Bb
20. 50% 21. c
22. a) Porque uma mulher do grupo A pode ter filho do grupo O, sendo 45% ab 45% aa bb
o pai dos grupos A (genótipo IAi), B (genótipo IBi) ou O (genótipo
ii). b) Se o homem fosse do grupo AB (genótipo IAIB), seguramente 5% Ab 5% Aa bb
ele não seria o pai dessa criança. c) Porque o teste de DNA determi-
na seqüências de nucleotídeos de DNA e permite determinar se a 5% aB 5% aa Bb
seqüência encontrada na criança é proveniente daquele homem.
23. AB Rh positivo.
24. Os indivíduos II - 1 e II - 3. 25. b 13. A possível seqüência é a –– c –– b –– d.
14. c
Capítulo 15 15. a) Não. Eles estão em pares diferentes de cromossomos, pois se-
1. d, b, c, a gregam-se independentemente. Isto se verifica pela observação
2. e da proporção fenotípica de 9:3:3:1, característica do diibridismo.
3. a) Não há uma resposta única; todavia, devem ser aceitas como vá- b) Primeiro cruzamento: Aa Bb ⫻ Aa Bb. Segundo cruzamento: aa
lidas somente as respostas que colocarem cada par de alelos em um Bb ⫻ AA Bb.
par diferente de cromossomos homólogos. b) O quinto par de alelos 16. a) 1/16 (6,25%). b) Pai: IAi Dd. Mãe: IAIB Dd. Filho: IBi D_. Filha:
(Ee) está obrigatoriamente no mesmo par de cromossomos ocupa- IA_ dd.
do por um dos outros quatro pares (qualquer um deles). 17. P(lóbulo solto e redemoinho horário) = 3/4 · 3/4 = 9/16.
4. c P(lóbulo preso e redemoinho anti-horário) = 1/4 · 1/4 = 1/16.
5. a) Macho: Dd Mm; fêmea: dd Mm. b) Filho preto e branco (Dd mm) Como não importa a ordem de nascimento dos filhos citados, te-
e fêmea de genótipo igual ao da mãe (dd Mm). Probabilidade de mos 3 possibilidades de ocorrência dos nascimentos considerados.
nascimento de um filhote igual a ele (preto e branco) = 25%. Portanto:
6. a) Macho: pelagem preta. Fêmea: pelagem amarela. Geração F1: P = 9/16 · 9/16 · 1/16 · 3 = 243/4.096 (⬵ 5,93%).
100% pelagem preta (genótipo Bb Ee). b) No cruzamento entre 18. c
machos Bb Ee e fêmeas Bb Ee, encontraremos, na geração F2, as 19. A presença de quatro alelos aditivos contribui com um acréscimo
seguintes proporções genotípicas (com os fenótipos corresponden- de 20 g no fenótipo residual. Logo, cada alelo aditivo acrescenta 5 g
tes): 9/16 B_ E_ (pelagem preta); 3/16 bb E_ (pelagem chocolate); ao fenótipo residual, que é de 20 g. Uma planta com genótipo AA
3/16 B_ ee (pelagem amarela); 1/16 bb ee (pelagem amarela). c) É o Bb, por possuir três alelos aditivos, terá frutos com 35 g.
cruzamento amarelo ⫻ amarelo. Animais de pelagem amarela 20. Em (a), nota-se que a geração F1 expressa o mesmo fenótipo de
(genótipo ee), cruzados entre si, sempre originam descendentes uma das classes fenotípicas da geração parental P; na geração F2,
amarelos (genótipo ee). os indivíduos agrupam-se nitidamente em duas classes fenotípicas,
7. a) cujos fenótipos repetem aqueles verificados na geração P, na pro-
porção aproximada de 3:1. Deve-se tratar de um caso de
Dd EE x dd Ee monoibridismo com dominância completa. Em (b), a geração F1
apresenta fenótipo intermediário entre os encontrados na geração
P; já a geração F2 apresenta-se distribuída em curva de Gauss, em
dE De fenótipos que variam entre os dois encontrados na geração P. Se
DE Dd EE Dd Ee
estivéssemos diante de um caso de monoibridismo sem dominância
completa, a geração F2 exibiria 3 classes fenotípicas, com propor-
dE dd EE dd Ee ção de 1:2:1. Concluímos, então, que se trata de um caso de he-
rança quantitativa.
21. x –– y –– z (ou z — y — x) 22. a
Surdos
23. 42% AB; 42% ab; 8% Ab; 8% aB
24. a) Ab/aB (ou heterozigoto “trans”). b) TR = 20%.
A probabilidade é igual a _ (ou 50%). 25. d
b) P(sexo feminino e normal) = P(sexo feminino) · P(normal) = 26. e
0,25 ou 25%. 27. o –– n –– m –– q –– p (ou p — q — m — n — o).
62
A probabilidade de nascimento de uma criança afetada é igual a 1/4 na água (nadadeiras de peixes, asas de pingüins, nadadeiras de ba-
(0,25 ou 25%). b) XAY, XAXa, XAXa e XaY. leias, focas e golfinhos).
9. b 16. Não. O alongamento do pescoço decorre de um fator ambiental (co-
10. O DNA mitocondrial passa, através do gameta feminino, da avó locação dos aros de metal) e não de alteração do material genético
para os pais, e da mãe para os filhos. Na ausência dos pais, o DNA (mutação). Assim sendo, não é transmitida para as gerações se-
do neto pode ser comparado com o da avó. guintes.
11. As fêmeas possuem constituição cromossômica XX, sendo que um 17. b 18. e
desses cromossomos X é inativo. Como o cromossomo inativo pode 19. c 20. e
ser o de origem materna ou o de origem paterna, as fêmeas 21. Soma = 46 (02 + 04 + 08 + 32)
heterozigotas manifestarão o fenótipo malhado em três cores (bran- 22. e
co, amarelo e preto, o que se denomina fenótipo calicó ou “casco de 23. a) A razão é a deriva dos continentes, que vem deslocando grandes
tartaruga”). Já os machos só apresentam um cromossomo X, sendo, massas continentais, ao longo de milhões de anos. Como os seres
portanto, branco e preto ou branco e amarelo, e nunca apresentando ancestrais existiam em massas de terras antes unidas (África e Amé-
as três cores. rica do Sul, por exemplo), os grupos atuais que deles descenderam
12. c são encontrados em continentes afastados. b) A ocorrência de mu-
13. 25% tações e a atuação de pressões diferentes de seleção natural.
14. 100% das fêmeas cinza; 100% dos machos amarelos. 24. a) A pelagem branca atua como eficiente camuflagem no ambiente
15. Não, porque o alelo determinante da hemofilia é transmitido da mãe coberto de neve, permitindo aos animais escapar de predadores (no
para os descendentes do sexo masculino, os quais receberam, do caso dos coelhos, por exemplo). Na primavera, com o derretimento
pai, o cromossomo Y. da neve, a coloração escura passa a desempenhar o mesmo papel de
16. a) (25%). b) 1/2 (50%). “disfarce”. b) Esta adaptação é encontrada, geralmente, em animais
17. a venenosos ou peçonhentos. A coloração destacada funciona como
18. Entre os machos, seriam todos carijós (50% com genótipo ZBZB e um alerta aos eventuais agressores sobre o risco que eles correm
50% com genótipo ZBZb). Entre as fêmeas, seriam 50% carijós caso resolvam atacar o animal.
(genótipo ZBW) e 50% brancas (genótipo ZbW). 25. A frase adequada é a I. A frase II expressa o pensamento
19. a
lamarckista, de que os indivíduos se modificam atendendo a uma
20. b
exigência ambiental. A frase III é inadequada porque os organis-
Capítulo 17 mos que vencem a “luta pela sobrevivência” só ditam o rumo da
1. f, g, a, c, e, d, b evolução caso gerarem descendentes, para os quais transmitirão
2. a) O texto conceitua a mutação gênica. b) A mutação gênica pode as suas características.
determinar o surgimento de novas características, sendo um dos 26. A mudança foi decorrente da alteração no critério de seleção natu-
mecanismos responsáveis pelo aumento da variabilidade genética ral. Com os troncos das árvores claros e cobertos de liquens, sobre-
intraespecífica. A diversidade, submetida aos critérios da seleção viviam em maior proporção (e podiam gerar mais descendentes) as
natural, promove modificações graduais no conjunto de caracterís- mariposas claras, que escapavam da visão dos predadores. Com o
ticas da espécie. Variedades adaptativas tendem a ser selecionadas e desaparecimento dos liquens e o escurecimento dos caules pela fu-
a se manter, enquanto as variedades não adaptativas tendem a desa- ligem, passaram a ser beneficiadas as mariposas escuras.
parecer. 27. Entre as bactérias, existem aquelas geneticamente resistentes e as
3. a 4. a sensíveis ao antibiótico. O uso da droga atua como agente de sele-
5. c 6. a ção: as bactérias resistentes sobrevivem à sua presença, podem se
7. a reproduzir e transmitir suas características às gerações futuras, que
8. Freqüência do alelo dominante = 0,4 (40%). Freqüência do alelo poderão se constituir predominantemente de bactérias resistentes.
recessivo = 0,6 (60%). Freqüência do heterozigoto = 0,48 (48%). 28. a) Estaremos nos referindo ao lamarckismo. b) O lamarckismo afir-
9. b ma ser o ambiente o fator determinante do aparecimento de caracte-
10. a) São os casais [Sarah ⫻ Josiah de Etrúria] e [Emma ⫻ Charles rísticas adaptativas e que tais características (adquiridas em decor-
Robert Darwin]. b) Casamentos consangüíneos aumentam a proba- rência da exigência ambiental) são transmitidas aos descendentes.
bilidade de que alelos recessivos deletérios e raros ocorram em 29. O ataque intenso dos insetos selecionou um maior número de plan-
homozigose, manifestando-se. c) Chamemos Dd o genótipo de Josiah tas que se defendiam com a produção de alcalóides, na região tropi-
de Maer e de Susannah. Pela raridade do alelo d, Elizabeth e Robert cal, eliminando as que não produziam essas substâncias.
63
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
mais homogêneos. b) É o nível de raça (ou subespécie), pois não há
18. a) Formam-se pela associação entre fungos e algas ou entre fungos
isolamento reprodutivo entre seus membros. Ainda que mediante
e cianobactérias. b) Trata-se de um caso de mutualismo (benefício
raças intermediárias que atuam como “pontes genéticas”, pode ha-
mútuo com interdependência obrigatória).
ver fluxo gênico entre os membros de todas as raças de cães. c) Ao
19. d
longo de milênios, foram sendo selecionadas linhagens de cães re-
sistentes aos mais diversos agravos ambientais (agentes infeccio- 20. V, V, V, V
sos, intempéries, escassez de alimentos etc.). Capítulo 20
5. a) Anêmonas e orelha-de-pau são eucariontes, pluricelulares e 1. b, a, d, c
heterótrofos (embora existam cogumelos unicelulares). b) As 2. b
anêmonas (reino Metazoa) são digestores (incorporam os alimen- 3. A produção líquida de gás oxigênio é elevada apenas nas florestas
tos e os digerem no interior do corpo); reproduzem-se geralmente jovens em rápida expansão, o que não é o caso da maior parte da
por brotamento ou por meio de gametas. As orelhas-de-pau (reino Floresta Amazônica, um bioma em equilíbrio e que consome quase
Fungi) são absorvedores (lançam no meio as enzimas digestivas e tudo o que produz. A maior produção líquida de gás oxigênio, na
absorvem os nutrientes previamente digeridos); reproduzem-se ge- Terra, ocorre nos oceanos, graças à atividade fotossintética das al-
ralmente por meio de esporos. gas e cianobactérias que compõem o fitoplâncton.
6. Soma = 99 (01 + 02 + 32 + 64) 4. e
7. Soma = 13 (01 + 04 + 08) 5. Episódios de maré vermelha decorrem da proliferação excessiva de
8. e dinoflagelados, variedade de algas que possui algumas espécies ca-
9. d pazes de liberar na água uma potente toxina. Animais aquáticos
10. b (moluscos e crustáceos, por exemplo) podem absorver e concentrar
11. d (Cuidado! O enunciado diz “podem possuir”. A alternativa b é essa toxina, que afeta o sistema nervoso de outros animais (como
falsa, pois elas certamente pertencem à mesma classe.) peixes ou seres humanos) que deles se alimentam.
12. e 6. a, d, b, c
13. e 7. Soma = 15 (01 + 02 + 04 + 08)
14. a) Os espermatozóides do jumento têm 31 cromossomos; os gametas 8. F, F, V, V
femininos da égua, 32 cromossomos. Portanto, os zigotos resultan- 9. a) Iriam romper-se por causa da entrada excessiva de água, por
tes da fecundação têm 63 cromossomos. b) Não, pois o descendente osmose. b) Porque a solução salina do frasco 5 deve ser isotônica ou
(o burro) é geralmente estéril, ou seja, entre égua e jumento há iso- hipertônica em relação ao meio intracelular das amebas. Em solu-
lamento reprodutivo. ções isotônicas, há equilíbrio hídrico entre os meios intra e
extracelular; em soluções hipertônicas, as amebas não absorvem,
Capítulo 19 mas perdem água, por osmose, para o meio extracelular. c) Ao rim.
1. d, e, c, b, a 10. Cissiparidade, uma forma de reprodução assexuada.
2. Porque os vírus são parasitas intracelulares obrigatórios, ou seja, a 11. a
sua existência pressupõe haver células que eles possam invadir e 12. a) É um caso de mutualismo, pois há benefício mútuo e
parasitar e nas quais se reproduzem. interdependência obrigatória. b) Os animais são beneficiados por-
3. c que aproveitam parte da matéria orgânica produzida pelas algas,
4. F, V, V, F, V por meio da fotossíntese. Elas, por sua vez, recebem proteção e ex-
5. a) É uma célula procariótica, pois o material genético (cromossomo) posição adequada à luz solar.
encontra-se disperso no citoplasma, e não envolvido pela carioteca. 13. V, V, F.
Além disso, não se observam outras estruturas citoplasmáticas 14. b
membranosas. b) 1. membrana plasmática; 2. nucleóide (ou cromos- 15. F, F, V
somo circular); 3. citoplasma; 4. parede celular. c) Benéficas: fixação
do nitrogênio atmosférico; reciclagem da matéria; controle biológico Capítulo 21
de pragas agrícolas; produção de alimentos (p. ex. iogurtes); produ- 1. g, b, d, c, f, i, a, e, h
ção de alguns antibióticos (p. ex. a polimixina B). Prejudiciais: doen- 2. a) São cnidários (filo Cnidaria). b) Em seus tentáculos, esses ani-
ças em seres humanos (p. ex. difteria, sífilis e tétano); doenças em mais possuem cnidócitos, que são elementos de defesa e captura de
animais (p. ex. brucelose) e plantações (p. ex. amarelinho) de interes- alimentos. Quando um cnidócito é mecânica ou quimicamente esti-
se econômico; contaminação de alimentos (p. ex. botulismo) e de mulado, o opérculo do nematocisto abre-se e o filamento urticante
reservas de água para uso da população (p. ex. contaminação de ma- desenrola-se para fora, eliminando em sua extremidade uma subs-
nanciais com cianobactérias que produzem toxinas). tância tóxica.
64
8. a) Ao filo Arthropoda (artrópodes), animais que se caracterizam pela artrópodes têm exoesqueleto com quitina, que, além de proteção,
presença de apêndices articulados e exoesqueleto com quitina. b) Em funciona como estrutura de fixação dos músculos. b) São os peixes
florestas pluviais tropicais: insetos (classe Insecta), que possuem res- cartilaginosos ou condrictes (classe Chondrichthyes).
piração traqueal e excretam resíduos nitrogenados insolúveis (ácido 6. d, c, e, a, b
úrico), ambas características adaptativas à vida em ambiente terres- 7. e
tre. Em ambientes oceânicos: crustáceos (subfilo Crustacea), que 8. Respiração pulmonar: adequada às trocas gasosas entre o sangue e
têm brânquias e nadadeiras, adaptações à vida aquática. o ar atmosférico; revestimento espesso e queratinizado: impermeá-
9. a) Ambos possuem celoma e corpo segmentado. b) De anelídeos: vel, restringe a perda de água pela superfície corporal; excreção de
corpo vermiforme, sistema cardiovascular fechado e nefrídios. De resíduos metabólicos pouco tóxicos (como o ácido úrico), cuja eli-
artrópodes: revestimento com quitina, sistema cardiovascular aber- minação é menos dependente de diluição em grandes volumes de
to e traquéias. água; fecundação interna: prescinde de ambiente líquido no deslo-
10. a) Insecta: corpo com três segmentos (cabeça, tórax e abdome),
camento dos gametas masculinos em busca dos gametas femininos.
três pares de patas, um par de antenas, asas (em muitas espécies).
9. a) Músculos peitorais desenvolvidos, ossos pneumáticos, formato
Arachnida: corpo com dois segmentos (cefalotórax e abdome),
aerodinâmico, ausência de reto e de bexiga urinária. b) Proteção
quatro pares de patas, ausência de antenas e de asas. b) Proteção
contra o dessecamento e traumas mecânicos; fixação da musculatu- térmica. c) Os pêlos.
ra e, conseqüentemente, potencialização da ação muscular. 10. a) Aves. b) Répteis. c) Peixes. d) Mamíferos.
11. a) Cnidários: animais 1 e 2; crustáceos: animais 5 e 6; moluscos: 11. a) B (anfíbios), E (mamíferos), C (répteis), D (aves) e A (peixes). b)
animais 3 e 4. b) Animais 1 e 2: diblásticos; animais 3, 4, 5 e 6: Respiração branquial na fase adulta (A); excreção de ácido úrico (C
triblásticos. e D); ectotermia (A, B e C). c) Tegumento espesso e impermeável,
12. a) Esponjas (filo Porifera); cracas e caranguejos (filo Arthropoda); pulmões desenvolvidos, excreção de ácido úrico, fecundação inter-
gastrópodes e mexilhões (filo Mollusca); ouriços-do-mar e estre- na, embrião no interior de um ovo com casca e outros revestimen-
las-do-mar (filo Echinodermata). b) Esponjas e cracas (sésseis ou tos. d) Durante a vida embrionária, presença de um tubo nervoso
fixos); gastrópodes, mexilhões, ouriços-do-mar, caranguejos e es- dorsal, notocorda e fendas branquiais na faringe.
trelas-do-mar (móveis). Esponjas, cracas e mexilhões (filtradores); 12. Soma = 45 (01 + 04 + 08 + 32)
gastrópodes (herbívoros); ouriços-do-mar, caranguejos e estrelas- 13. e 14. Soma = 15 (01 + 02 + 04 + 08)
do-mar (predadores). c) Poderiam ter sido encontradas algas verdes 15. a) Fase larvária: respiração branquial; fase adulta: respiração pul-
macroscópicas, pertencentes ao filo Chlorophyta (lembramos que monar e respiração cutânea. b) Durante a fase larvária, os anfíbios
não se recomenda o uso de “divisão”, em lugar de “filo”). apresentam respiração branquial, adaptada à vida aquática. Com a
13. d, c, a, b, e, f metamorfose e a transição para a vida terrestre, passam a apresentar
14. Fase III. respiração pulmonar e respiração cutânea, formas mais adequadas
15. Soma = 22 (02 + 04 + 16) à ocorrência de trocas gasosas entre o sangue e o ar atmosférico.
16. a) Pólipo e medusa, respectivamente. b) Forma I: hidra; forma II:
16. Soma = 47 (01 + 02 + 04 + 08 + 32) 17. c
água-viva.
18. a) O acidente deve ter sido causado por cascavel. b) A peçonha
17. d
crotálica tem ação hemorrágica (causa sangramento) e miotóxica
18. a
19. A: faringe (funciona como uma “bomba de sucção” de alimentos). (provoca lesão muscular e, em conseqüência da liberação de
B: papo (armazenamento temporário dos alimentos). C: moela (tri mioglobina do tecido muscular, deixa a urina escura).
turação dos alimentos). D: intestino (absorção dos nutrientes). 19. 1) Presença de envoltório nuclear (são eucariontes). 2) Ausência de
20. d, e, c, b, a parede celular. 3) Incapacidade de sintetizar substâncias orgânicas a
21. a) Anelídeos. b) Metameria, sistema cardiovascular fechado, respi- partir de substâncias inorgânicas (são heterótrofos); 4) Pluricelu-
ração cutânea. laridade. 5) Organização corporal com tecidos diferenciados e siste-
22. a) Trata-se de um invertebrado. Os vertebrados apresentam cresci- mas de órgãos. 6) Presença de celoma (são celomados). 7) Presença
mento relativamente regular, enquanto os invertebrados dotados de de sistema cardiovascular . 8) Presença de sistema nervoso. 9) Pre-
exoesqueleto (artrópodes) passam por períodos de parada de cresci- sença de esqueleto (exoesqueleto em insetos; endoesqueleto em
mento, o qual só acontece na época da substituição do exoesqueleto equinodermos, anfíbios e aves).
(muda ou ecdise). b) Nos períodos 1 e 5 (épocas de muda), quando 20. a) Mamíferos (classe Mammalia); b) produção de leite e presença
o animal se encontra pouco protegido por um exoesqueleto ainda de pêlos; c) répteis (classe Reptilia), desenvolvimento embrionário
mole e pouco resistente. externo no interior de ovos.
65
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
(ou alcalino) delgado
formas infectantes do parasita pelas fezes.
12. e
13. a) É a ascaridíase. b) Porque, em seu ciclo evolutivo, o parasita rea- 10. a) A secreção foi extraída do estômago. b) Foi a pepsina, enzima
liza o chamado ciclo pulmonar. As larvas, presentes no sangue, rom- que hidrolisa proteínas em meio ácido.
pem os capilares e a parede dos alvéolos pulmonares e caem nas 11. b 12. e
vias aéreas, causando inflamação e tosse. c) Educação sanitária, 13. a) O rúmen está indicado pelo nº 2. Nele estão os microorganismos
saneamento básico, com ênfase para o destino adequado das fezes (bactérias e protozoários ciliados) que digerem a celulose, produ-
humanas, tratamento da água usada para consumo humano, cuida- zindo substâncias que são absorvidas e utilizadas também pelos ru-
do no preparo dos alimentos (particularmente de verduras), higiene minantes. b) A moela está indicada pelo nº 3. Corresponde ao estô-
pessoal, combate aos insetos domésticos, pois moscas e baratas po- mago mecânico, responsável pela trituração dos alimentos.
dem veicular os ovos, tratamento das pessoas parasitadas. 14. Soma = 21 (01 + 04 + 16) 15. a
14. a) São nematódeos (filo Nematoda) das espécies Ancylostoma 16. Respostas pessoais.
duodenale e o Necator americanus. b) Educação sanitária (cuida- 17. Com o nascimento do segundo filho de um casal pobre, o primeiro
dos com as fezes e como evitar sua eliminação no solo), saneamen- bebê, até então saudável graças à amamentação, perde seu lugar no
to básico (rede de esgotos, construção de fossas etc.), uso de calça- seio da mãe e, conseqüentemente, sua cota de leite materno, princi-
dos (é através da pele dos pés que as larvas em geral penetram), pal fonte de aminoácidos, e passa para uma dieta pobre, baseada em
práticas de alimentação que melhorem o estado nutricional das pes- carboidratos (principalmente o amido).
soas, tratamento das pessoas parasitadas (pois são a fonte de parasi- 18. a) Não. O soro caseiro — preparado com 1 litro de água fervida, 1
tas para o ambiente). colher de chá de sal (NaCl) e 8 colheres de chá de açúcar — é pobre em
15. e potássio e tem excesso de carboidrato; o chá de funcho é pobre em
16. Soma = 58 (02 + 08 + 16 + 32) sódio e em cloretos; o chá de goiabeira é pobre em sódio, potássio,
17. Podem ser citadas a malária e a febre amarela; a primeira é causada cloretos e carboidratos; a água-de-coco é pobre em sódio e em cloretos
por plasmódios (protozoários do gênero Plasmodium); a segunda, e apresenta excesso de potássio e carboidratos. b) O chá de funcho,
por vírus. Os dois agentes etiológicos são transmitidos para os seres que pode ter ajustadas as concentrações de sódio e cloretos (pela adi-
humanos pela picada de mosquitos (respectivamente, do gênero ção de sal de cozinha) e a de carboidratos (pela adição de açúcar).
Anopheles e Aedes). Os mosquitos proliferam em coleções de água, 19. a) IMC = 64/(1,6)2 = 64/2,56 = 25. De acordo com a tabela, a mu-
como a que se acumula em bromélias, e podem penetrar com facili- lher é classificada como levemente obesa. b) Para não ser considera-
dade em casas de pau-a-pique. do obeso, o homem deve ter IMC < 30. m/(1,80)2 < 30 ⇒ m < 30 ·
18. a) Porque no ser humano (hospedeiro intermediário) ocorre a fase (1,80)2 ⇒ m < 30 · 3,24 ⇒ m < 97,2. O homem deve ter massa de,
assexuada da reprodução do parasita, cuja reprodução sexuada acon- no máximo, 97,2 kg.
tece no sistema digestório do mosquito (parasita definitivo). b) O 20. É importante que o total calórico e a distribuição sejam compatíveis
desmatamento altera o hábitat dos mosquitos transmissores da ma- com as atividades diárias de um jovem. Uma das respostas possí-
lária (gênero Anopheles), que passam a encontrar nas moradias uma veis pode ser a seguinte: Total calórico: 3.200 kcal. Distribuição:
fonte alternativa de alimento. 480 g de carboidratos (1.920 kcal, ou seja, 60% do total), 105 g de
19. d lipídios (cerca de 950 kcal, ou seja, 30% do total) e 160 g de prote-
20. d ínas (640 kcal, ou seja, 20% do total).
21. b 21. a) A mastigação tritura os alimentos; com isso, facilita a deglutição
22. T. vaginalis: contato sexual; P. falciparum: picada de mosquito do e aumenta a área de contato dos alimentos com as enzimas digesti-
gênero Anopheles; S. mansoni: penetração ativa de cercárias através vas. b) É o amido, cuja hidrólise se completa no intestino delgado.
da pele. 22. a) Animais que possuem tubo digestório completo não precisam
23. Sim, um único miracídio pode originar centenas de cercárias. aguardar a eliminação dos restos de uma refeição para se alimenta-
24. a) Porque muitos caramujos predados pertencem ao gênero rem novamente. b) Quando os alimentos se deslocam em um único
Biomphalaria, nos quais os miracídios do S. mansoni se desenvol- sentido pelo tubo digestório, formam-se regiões especializadas, cada
vem e originam cercárias (formas infestantes do parasita). b) Aque- uma com características anatômicas e fisiológicas peculiares, que
las cujos mosquitos têm larvas que se desenvolvem em reservató- facilitam o processamento dos alimentos, a secreção de substâncias
rios de água. É o caso da malária e da leishmaniose. e a absorção de nutrientes.
25. b 23. e
66
cavalo, o jumento e a zebra), em coelhos e em térmitas (cupins). de apresentar os antígenos (fragmentos desses agentes infecciosos)
30. A dieta da tilápia é rica em fibras, que dificultam a digestão. O para os linfócitos T. Por isso, são chamadas células apresentadoras
intestino mais longo permite que os alimentos sejam submetidos a de antígenos. Os linfócitos T comandam a resposta imune, enquan-
maior tempo de digestão. A digestão da carne é mais rápida, o que to os linfócitos B estão associados à produção de anticorpos.
explica o intestino curto da traíra. 9. a) Trata-se de imunidade ativa artificial (vacinas). b) A primeira
aplicação do antígeno estimula a produção de anticorpos e o desen-
Capítulo 25 volvimento de células de memória imunológica. Em uma segunda
1. g, f, d, e, a, h, c, b aplicação, a produção de anticorpos é mais rápida e mais intensa
2. A respiração celular aeróbia é a degradação intracelular de molécu- devido à presença dessas células.
las orgânicas, que disponibiliza a energia química dessas substân- 10. a) Síndrome da imunodeficiência adquirida. b) Geralmente os
cias para a realização de atividades metabólicas. Esse processo con- linfócitos T, embora outras células também possam ser parasitadas.
some gás oxigênio e elimina gás carbônico, cujas concentrações no c) Porque o HIV parasita células importantes do sistema imunológico
meio interno se mantêm relativamente estáveis, graças às trocas (de defesa), como os linfócitos T. d) Micoses, tuberculose e infec-
gasosas ocorridas entre o sangue e o ar que penetra nos pulmões. ções por Pneumocystis carinii. e) Uso de preservativos, testes ade-
Portanto, a respiração pulmonar viabiliza a respiração celular aeróbia. quados de amostras de sangue usadas em transfusões, não compar-
3. a) Na água: I e IV; no ar: II, III e IV. b) Minhoca: IV; barata: III; tilhar agulhas ou seringas.
crocodilo: II; camarão: I; porífero: IV. c) É a respiração cutânea, 11. É o tecido conjuntivo, que se caracteriza por diversidade de tipos
que acontece através da superfície do corpo (sistema IV). celulares, abundância de material intercelular, com presença de fi-
4. d bras protéicas e rica vascularização.
–
5. a) Íons bicarbonato (HCO 3) e íons H+ formam ácido carbônico 12. a) A medida IV, por elevar a ingestão de ferro. b) Cáries dentárias,
(H2CO3) que, por ação da enzima anidrase carbônica, origina água e osteoporose e hemorragias podem se associar à deficiência de cál-
gás carbônico, eliminado pelos pulmões. b) A respiração forçada cio, evitada pela medida I, pois no leite e em derivados esse mineral
remove mais gás carbônico do plasma sangüíneo para o ar. A redu- se encontra em grande quantidade. Cáries dentárias também podem
ção da concentração desse gás eleva o pH do plasma, tornando-o ser evitadas pela medida II (fluoretação da água). Hemorragias po-
mais básico (elevando o valor do pH para acima de 7,44). c) A ele- dem ser previnidas pela medida V, pois frutas e verduras contêm
vação do pH (denominada alcalose) inibe o centro respiratório e, vitamina K.
conseqüentemente, reduz a freqüência e a amplitude dos movimen- 13. b
tos respiratórios. 14. d
6. e, a, c, d, b 15. a) HIV: linfócitos; plasmódio: hemácias. b) HIV: transfusão de san-
7. a) Urina. b) Porque a glicose é reabsorvida à medida que o filtrado gue, agulha ou seringa contaminada, relações sexuais sem prote-
glomerular percorre o túbulo do néfron. ção, outras formas de contato com fluidos humanos etc. Plasmódio:
8. b picada do mosquito-vetor.
9. Figura 1: ultrafiltração glomerular e secreção tubular. Figura 2: 16. b
ultrafiltração glomerular e reabsorção tubular. Figura 3: ultrafiltração
glomerular e reabsorção tubular. Figura 4: ultrafiltração glomerular. Capítulo 27
b) Água: figura 2; glicose: figura 3; ácido úrico: figura 1.
1. h, c, e, f, d, a, g, b
10. O aquecimento da água pode provocar a morte de moluscos, crustá-
ceos, peixes e outros organismos aeróbios. A tabela mostra que a 2. b
solubilidade do oxigênio diminui com o aumento da temperatura da 3. A seqüência correta é: 3 → 1 → 2. Com a separação completa do
água. ventrículo, não há mistura de sangue arterial e sangue venoso, au-
11. a mentando a oxigenação dos tecidos.
12. a) No período de 1920 a 1960, houve um nítido aumento do uso de 4. b
cigarros (avaliado pelo número de cigarros consumidos per capita), 5. a) Sístole (pressão máxima) e diástole (pressão mínima). b) Pressão
que foi acompanhado por evidente elevação do número de mortes de 12 por 8 indica que, na sístole, a pressão arterial equivale a uma
provocadas por câncer de pulmões. b) Já no período de 1960 a 1980, coluna de mercúrio com 12 cm de altura (pressão sistólica ou máxi-
nota-se a estabilização tanto do consumo de cigarros quanto do nú- ma) e, na diástole, a uma coluna de mercúrio com 8 cm (pressão
mero de mortes provocadas por câncer de pulmão. diastólica ou mínima).
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Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
11. A inibição do desenvolvimento de vasos sangüíneos diminui a nu- 16. Só ocorre contração muscular no recipiente 2, em que existe ATP
trição e a oxigenação do tumor, cujas células morrem. (fonte de energia) e cálcio (que permite o fracionamento do ATP, a
12. Soma = 1 (01) liberação de energia e o deslizamento das fibras de actina e miosina).
13. a) Dos peixes: duas cavidades (um átrio e um ventrículo); dos ma- 17. O aumento da capacidade de utilização do oxigênio (chamada “ca-
míferos: quatro cavidades (dois átrios e dois ventrículos). b) Por- pacidade aeróbia”) ocorre por aumento do volume-minuto respira-
que, nos peixes, o sangue completa a passagem pelo sistema tório e do volume-minuto cardíaco.
cardiovascular com apenas uma passagem pelo coração, ao passo 18. O exercício físico redistribui o fluxo de sangue, desviando-o dos
que, nos mamíferos, o sangue passa duas vezes pelo coração. Em órgãos da digestão para os músculos. Com isso, a digestão e a ab-
outras palavras, nas circulações dos peixes há apenas um circuito sorção ficam prejudicadas.
(coração → brânquias → tecidos do corpo → coração), enquanto
nos mamíferos há dois circuitos (coração → pulmões → coração e Capítulo 29
coração → tecidos do corpo → coração). 1. e, d, j, h, i, b, c, f, a, g
14. Não. As artérias pulmonares conduzem sangue venoso (pobre em 2. a) O sistema nervoso da hidra é difuso, ou seja, não apresenta ne-
oxigênio), enquanto as veias pulmonares conduzem sangue arterial nhum grau de centralização (ou cefalização). b) No animal C, au-
(rico em gás oxigênio). menta o grau de cefalização. c) A existência de centros nervosos
15. a) Porque a parede muscular do coração é espessa, impedindo a bem definidos e centralizados aumenta o grau de controle sobre as
difusão de gases e nutrientes do sangue às células. b) A irrigação diversas funções, principalmente a contração muscular e a produ-
sangüínea do coração ocorre a partir dos ramos das artérias ção de determinadas secreções. Além disso, a cefalização associa-
coronárias, que se originam da aorta e, portanto, conduzem sangue se à concentração, na região anterior do corpo, de estruturas senso-
ricamente oxigenado. riais, que permitem a melhor exploração dos ambientes.
16. Quando os seres humanos estão em pé, a gravidade dificulta o re- 3. d
torno do sangue dos membros inferiores para o coração, pelas vei- 4. d
as. Com o fluxo mais lento, o sangue acumula-se e as veias dilatam- 5. a
se, afetando a função das válvulas. Com o tempo, as veias tornam- 6. c
se dilatadas e deformadas, constituindo as varizes. Pessoas que per- 7. e
manecem muito tempo em pé, como dentistas e professores, sofrem 8. f, d, h, i, b, c, e, a, g
de varizes com freqüência maior que a população em geral. Nas 9. e
mulheres, a gestação representa um outro fator desencadeante, pois 10. b
o útero aumentado comprime a veia cava inferior, dificultando o 11. A glândula é a tireóide, e a substância é o iodo.
retorno venoso. 12. a) O hormônio é a insulina; a glândula é o pâncreas. b) A insulina
17. a) Sangue venoso: ponto 1 (sangue com pressão parcial de gás oxi- diminui a concentração de glicose no sangue porque estimula a cap-
gênio baixa). Sangue arterial: ponto 2 (sangue com pressão parcial tação desse monossacarídio pelas células, principalmente muscula-
de gás oxigênio alta). b) A hemoglobina fetal tem maior afinidade res e do fígado.
pelo gás oxigênio que a hemoglobina do adulto. Essa diferença é
13. I – C; II – B; III – A; IV – D.
necessária, pois o sangue fetal retira gás oxigênio do sangue mater-
14. e
no. c) Após o nascimento, o sangue da criança passa a recolher o
15. a
gás oxigênio do ar atmosférico e não mais do sangue materno.
18. a) O paciente III, cuja contagem de plaquetas é inferior ao padrão 16. b
normal. b) O paciente III, cuja contagem de eritrócitos (ou hemácias) 17. a
está abaixo do normal. 18. c
19. e
Capítulo 28 20. a) Risco de seção da medula espinhal, que provoca perda da sensi-
1. c, a, g, b, e, f, d bilidade e dos movimentos voluntários nas regiões do corpo abaixo
2. I, II, III e IV. do nível da lesão. b) Deitado e imobilizado sobre uma superfície
3. c plana e rígida.
4. c, a, g, h, b, f, d, e 21. e
5. e 22. e
68
69
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
estruturas que aparecem só a partir desse tipo de ovo são o cório
vantajosa a presença de flores vistosas, que se destacam do ambiente.
(letra b), o âmnio (letra c) e a alantóide (letra e). b) A ocorrência de
12. Porque frutos suculentos, ricos em matéria orgânica e geralmente
fecundação interna.
doces, atraem animais, que deles se alimentam e dispersam as se-
6. a) A placenta. b) A placenta realiza com mais eficiência atividades
mentes. As plantas resultantes tendem a se estabelecer afastadas
desempenhadas por outros anexos embrionários presentes no ovo
umas das outras e da planta-mãe.
de aves e répteis, como as trocas gasosas, a nutrição e a excreção.
13. O corpo ramificado dos vegetais associa-se à disposição das folhas,
7. a) É a placenta. b) O líquido amniótico evita o dessecamento do
que, assim expostas, aumentam a área de captação da luz solar. Já
embrião, além de oferecer proteção contra choques mecânicos e au-
os animais, que são heterótrofos e em geral se deslocam em busca
xiliar na manutenção da temperatura.
de alimentos, são beneficiados pela forma mais compacta, que faci-
8. Sapo: fecundação externa; saco vitelínico; uréia.
lita a movimentação.
Jacaré: fecundação interna; saco vitelínico, âmnio, cório e alantóide;
ácido úrico. 14. a) Há pelo menos 400 milhões de anos. b) Devem ser as plantas
Coelho: fecundação interna; saco vitelínico, âmnio, cório, alantóide vasculares sem sementes, como as pteridófitas. c) Foram os frutos,
presentes apenas nas angiospermas.
e placenta; uréia.
9. Porque o embrião da vaca (animal mamífero) depende nutricional- 15. a) São as briófitas. b) Porque não possuem sistemas eficientes de
mente das reservas do gameta feminino apenas durante os primei- transporte e distribuição de água. c) É a ausência de vasos conduto-
ros dias de seu desenvolvimento. Após concluída a implantação do res de seiva, presentes em pteridófitas.
embrião no útero, a placenta permite a passagem de nutrientes da 16. c
circulação materna para o embrião. Já o embrião de galinha é nutri- 17. a) Esporo e zigoto, respectivamente. b) A geração esporofítica (ou
do durante todo o seu desenvolvimento a partir das reservas alimen- esporófito) da samambaia tem raízes, caule e folhas, em cuja face
tares recebidas do gameta feminino. inferior encontram-se os soros, que são agrupamentos de esporângios
10. a (estruturas produtoras de esporos). A geração gametofítica (ou
11. a) São, respectivamente, o sistema nervoso central e a coluna verte- gametófito) é o prótalo, pequena plântula clorofilada, com poucos
bral. b) A gástrula. milímetros, com gametângios (estruturas produtoras de gametas).
12. VI, I, IV, V, III, II 18. a) Na Região Sul (mais especificamente, na paisagem fitogeográfica
13. a denominada Mata de Araucária). b) A gralha-azul alimenta-se de
14. c sementes (pinhões) do pinheiro-do-paraná. c) A gralha-azul é o prin-
15. 1 – âmnio; 2 – alantóide; 3 – saco vitelínico. cipal agente de dispersão das sementes de araucárias.
16. a) Anfíbios: 3 câmaras cardíacas (2 átrios e um ventrículo); aves: 4 19. a) No ciclo de vida das plantas, gametófitos são os indivíduos res-
câmaras cardíacas (2 átrios e 2 ventrículos). b) Anfíbios: somente o ponsáveis pela produção de gametas. b) Não. Gametófitos serão
saco vitelínico; aves: saco vitelínico, âmnio, cório e alantóide. formados apenas nos procedimentos I (que dá origem a prótalos) e
17. c II (que formará tubos polínicos, que são os gametófitos masculinos
18. a) O âmnio evita o dessecamento do embrião, além de oferecer pro- maduros). O procedimento III formará uma planta duradoura, que
teção contra choques mecânicos e oscilações intensas de tempera- nas angiospermas (como é o caso do feijoeiro) é o esporófito.
tura. b) Está presente em répteis, aves e mamíferos. 20. Porque o crescimento do tubo polínico coloca o gameta masculino
19. a (núcleo gamético) diretamente em contato com o gameta feminino
20. F, F, V (oosfera), diferentemente do que ocorre em plantas criptógamas
(briófitas e pteridófitas), nas quais o gameta masculino (o antero-
Capítulo 33 zóide) nada até alcançar o gameta feminino (oosfera).
21. a
1. d, e, c, j, b, i, f, a, g, h
2. I – Presença de vasos condutores de seiva. II – Presença de
cloroplastos. III – Presença de tecidos verdadeiros. IV – Presença Capítulo 34
de sementes. V – Presença de frutos. 1. g, d, f, b, c, a, i, e, h 2. b, d, e, a, c
3. c 3. Esclerênquima e tecido ósseo são tecidos responsáveis pela susten-
4. Os vasos condutores de seiva, que permitiriam uma rápida e efici- tação dos organismos (plantas e vertebrados, respectivamente). Por
ente distribuição de materiais (principalmente água) por toda a planta. sua vez, pele e súber são estruturas de revestimento, com importan-
5. a) X – zigoto; Y – esporo; Z – gameta. b) I: gametófito; II: esporófito. te papel na proteção dos organismos.
70
mudas). b) As plantas resultantes são cópias genéticas da planta- 8. a) A – pêlo absorvente; B – epiderme; C – floema; D – xilema. b)
mãe e apresentam as características favoráveis que se quer preser- Xilema: transporte de seiva bruta; floema: transporte de seiva ela-
var (por exemplo, o sabor dos frutos, a produtividade etc.). borada; epiderme: revestimento e proteção; pêlo absorvente: absor-
13. a) Na área B, as plantas foram obtidas por meio de propagação ção de água e sais minerais. c) No floema: elementos de tubos cri-
assexuada. Portanto, eram cópias genéticas da variedade original e vados; no xilema: traqueídes e elementos de vaso lenhoso.
apresentavam elevada produtividade, exatamente a característica 9. A água com o corante foi absorvida pela planta e atingiu as pétalas
genética que se queria preservar. Na área A, as plantas exibiam va- através dos vasos condutores do xilema.
riabilidade genética (devido à reprodução sexuada), com produtivi- 10. d
dade variando de planta para planta. b) Na área A, as plantas origi- 11. a) A árvore deve morrer, pois a retirada de um anel completo da
naram-se por reprodução sexuada; logo, havia variabilidade genéti- casca interrompe o floema, bloqueando o fluxo de seiva elaborada
ca, que permitiu a sobrevivência de plantas geneticamente resisten- (substâncias orgânicas) das folhas para as raízes. O bloqueio do flu-
tes ao ataque da praga recém-surgida. Trata-se de um exemplo de xo provocará espessamento do tronco por acúmulo de seiva acima
seleção natural. da região de onde se retirou o anel da casca. b) Neste caso, não
14. a ocorrerá a morte da árvore, cujas raízes continuarão recebendo a
15. a) São os tecidos meristemáticos, responsáveis pelo crescimento e seiva elaborada proveniente de outros ramos. Os frutos do ramo do
pelo desenvolvimento das plantas. b) Os meristemas são encontrados qual foi retirado o anel da casca deverão se desenvolver mais, devi-
nas extremidades do caule e da raiz (meristemas apicais) e nas gemas do ao acúmulo de matéria orgânica conseqüente à interrupção do
laterais. O câmbio e o felogênio também são tecidos meristemáticos. fluxo de seiva elaborada para fora do ramo. c) A produção de maté-
16. a) Ambos são tecidos de sustentação. O colênquima é formado por ria orgânica se reduz por diminuição da taxa de fotossíntese, em
células vivas; o esclerênquima, por células mortas. b) Ambos são razão da queda das folhas e da menor disponibilidade de luz.
tecidos indiferenciados, com grande capacidade de divisão celular. 12. a) Folha. b) O tecido 1 é a epiderme, tecido de revestimento que
Os meristemas primários surgem diretamente dos tecidos embrio- protege a folha de agressões ambientais e, graças a um revestimen-
nários; os meristemas secundários surgem por desdiferenciação de to pouco permeável à água, restringe a perda de vapor d’água da
tecidos previamente diferenciados. folha para o ambiente. c) A estrutura 2 é um estômato.
17. a 13. a
18. O coração entalhado permanece a um metro do solo, porque o cres-
14. b
cimento longitudinal do caule ocorre por ação do meristema da gema
15. b
apical, que se encontrava acima do coração entalhado.
16. O revestimento das folhas com vaselina obstrui os ostíolos (abertu-
19. a) No caule, os vasos do xilema e do floema agrupam-se em feixes
ra dos estômatos), reduzindo a entrada de gás carbônico no mesofilo.
liberolenhosos, enquanto na raiz os vasos do xilema e do floema
Com isso, pode ocorrer redução da taxa de fotossíntese do
estão separados, com disposição alternada, no cilindro central. b)
parênquima clorofiliano, que se tornará menor que a das plantas do
Em um corte transversal de caule de monocotiledôneas, vêem-se os
grupo controle. Também limita-se a transpiração e, conseqüente-
feixes liberolenhosos dispersos por toda a extensão do corte; em um
corte transversal de caule de dicotiledôneas, os feixes liberolenhosos mente, interfere-se no fluxo de água pela planta.
arranjam-se em um anel. 17. a) Os pulgões atingem o floema, de onde sugam seiva elaborada,
20. Ampla área de exposição à luz solar e grandes espaços aéreos inter- rica em matéria orgânica (alimento). b) Os pulgões são parasitas
nos que permitem a circulação de gás carbônico. das plantas, das quais retiram alimento. Portanto, trata-se de um
21. a) Trata-se de uma angiosperma monocotiledônea, que tem folhas caso de parasitismo.
paralelinérveas, sistema radicular fasciculado e flores trímeras. b) 18. a) Porque a falta da clorofila impede a ocorrência da fotossíntese,
É um feixe de vasos condutores. que produz matéria orgânica (alimento). b) As plantas sobrevivem à
22. a) Fixação da planta ao solo e absorção de água e sais minerais. custa da matéria orgânica que recebem dos tecidos de reserva das
b) Do caule: presença de gemas, feixes vasculares contendo xilema sementes.
e floema, juntos. Da raiz: presença de pêlos absorventes, vasos do
xilema e vasos do floema dispostos alternadamente, ramificações Capítulo 36
endógenas (originadas do periciclo). 1. f, d, b, e, c, a
23. F, V, F, V, F 2. V, F, F, F
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Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
vo); disponibilidade de água (abertura e fechamento de estômatos).
12. a
13. e 20. V, V, F
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