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1.3.

A complementaridade e a interdependência nas ciências sociais

Todas as ciências sociais estudam a mesma realidade social, mas fazem-no


de formas diferentes, segundo perspectivas diferentes.

Cada uma das ciências sociais fornece-nos um código de leitura da


realidade social que nos dá uma visão parcial e incompleta dessa mesma
realidade, pois a sua riqueza e complexidade não se esgota na explicação
dada por uma única ciência social.

Para termos uma visão e compreensão total de um fenómeno social, é


necessário que as várias análises parcelares e unilaterais se completem
umas às outras.

Deste modo, as ciências sociais são reciprocamente complementares, pois a


leitura que cada uma faz da realidade social completa ou complementa as
leituras efectuadas pelas outras.

Quanto à interdependência, se os múltiplos aspectos dos fenómenos sociais


não são mais do que diferentes aspectos de uma só realidade social, eles
não podem ser independentes uns dos outros, não podem existir à margem
uns dos outros. Pelo contrário, eles interferem uns nos outros.

Nenhuma ciência social, isoladamente, pode explicar o que se passa na


sociedade. A sua explicação estaria incompleta. Só em complementaridade
e interdependência com os conhecimentos das outras ciências sociais se
pode ter um conhecimento integral dos fenómenos sociais.

"Embora privilegiando uma determinada instância da vida social, as


diversas Ciências Sociais (Sociologia, Psicologia, Economia, Demografia,
etc.) têm como objecto comum o estudo da realidade social, que, sendo
única, se manifesta de forma pluridimensional e é, portanto, susceptível de
uma multiplicidade de abordagens. Partindo de perspectivas teóricas
particulares e de metodologias específicas, cada uma dessas ciências
procurou delimitar, ao longo do seu processo de formação, a respectiva
área de observação e de análise, buscando a compreensão de um
determinado nível do real, que será tanto mais profundamente apreendido
quanto maior for a aproximação interdisciplinar.

Nas décadas de 20-30 do século XX, e recorrendo ao conceito de


“fenómeno social total”, Marcel Mauss alerta para a complexidade e
pluridimensionalidade dos comportamentos e experiências sociais,
insistindo que qualquer facto pode ser apreendido a partir de grelhas de
leitura distintas, cada uma delas focando apenas algumas das suas
dimensões.

Reconhecida a interdependência de todas as Ciências Sociais, a


complementaridade de perspectivas e o intercâmbio de conhecimentos
científicos revelam-se processos indispensáveis no sentido da
descomplexificação do real e do acesso à sua globalidade."

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