Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
:INIO IST1-1812
A QUEM LER
a U n bom pesiodista vale inais, n'estii occasiáo, para se
adjffuridir a verdilde, i10 q~ie'iirnprbgador; náo deve por-
atanto causar alliniração o ca escrever muilas cartas, para
((louvar, ariimar e a11cric;oaras follias catliolicas: »estas pala-
vras forain proferidas péla bocca dc Pio IX, que ullimamen-
'te proliibiil a leitura doi pcriodicos, que le\lám o erro, a des-
creaca e a dcsrnor:ilis:içfio ao sein das familins; por isso, quem
s e (li a cssa leitura, ou a urna Ieilur'a qiialqiicr scm saber
0 qtie lt! oil duvidando se essa Icilura B boa, alómde se ex-
p b r ao risco de se crivenonar, transgride um preccilo d o
melhor dos paes, do primeiro e mais aiictoriçado- mestre da
'verrladcir a doi] trina.
2 verdudc que Iioje clciasi ~lihgucinquer subrnetter a seu
pensamcrito aos ciiclames do born sonso. Cada uin julga-se
com direito a pensar e a crer, como entende, e por isso a
proceder, segnndo pcnsil ou c r i ; de modo qiic, sendo di-
versos o pensar e a crença dc tilntos, não admira que se-
jam desonconLrados os proccdirncritos de muitos, resullan-
d o d'uma tal divcrçi~ladeessa clesordcm, que esta dominali-
d o o, n-iiindo, que se diz civilisado.
.I$iriuito natural qim OS prelados, imilando o siiccessor
do I'edro, tambem probibam, cada um ao seu robaatio, as
mtis leituras, porque elles teem por obrigação imitar o su-
premo paslor e ser ecco fiel da siia voz.
A França leu muito, leu tudo, o tanto leu que trosleu, e
e m poucos mezes se viu reduziila 4 triste condição d e ven-
cida, accaitando as duras condiçpcs de paz r1ue.a vencedor
quiz impor-liio. Ainda não livre clas garras do inimigo ex-
terno, converle contra si rnesmo as arnias, que foram im-
potentes para oxpulsir do solo da patria os exorcitos ipva-
sores, e com ellas se rasga o proprio seio, fazendo esform
60s incrivcis por se arruinar complclamento : tristes GonSo-
quencias do abuso da liberdade de iniprensal
61 LEVUqAB POPJJCARES
Brttre nòs tambem s e tgm abusado muito e muito se es-
tá abusando d'uma tão santa e proficua instituição. Sur-
gçm, como que por encartlo, publiceçõee por toda a p+iri,e9
escriplas e encaminhadas por quem quer que se lembra d e
escrever o que lhe vem 5r cabeça, quando não é de propo-
sito e muito calculadamenla que prelondem levar a des-
crença e a indifferenç.3 aos incautos que v30 insensivelmen-
te, altrafiidos por quem liics afaga as paixões, asrirando o
veneno qug I[l$s Sa de piinar a existençia dos bons sentimen-
tos, que bebera com 0 leile, e aos quaes deve o ter sido
~ i r hqmem
~i de bem.
As mGs l ~ i t u r a ssso tão prejudiciaes como as m$s com-
panhias.
$e os paes entendem por obriga-ção desviar seqs:filhos das
m;jly compaohias, nqp devem julgar [nonos rigorosa a de Ihes
vedarem a leitura de livros e de piiblicaç'?es, cuja pureza
da doplrina t: 06 inlengijes não esleja complelamente reta-
nhecidq.
Ninguem lha seyn saber o que lê, porque pode insqnsi-
velmenle envenenar o proprio espirito, ue facilmente se ar-
9
xuina, ÇOMQ s e estrbgq O estopago tan o mais facilmente,
quanto mais saborosos são os acipipes e iguíirias, c 0 4 que
se lisongeia o paladar.
Porque nps daem as tristes consequencias resultaptes do
abusa da liberdade de irqprensa, nos seus tristissirnos ef-
feitos, votdmo-no? 6 çrgsad;i sania da publiçação d e boas
leituras, que iqstruem pn boa doutrina e que, por issp ro-
cream sem offenderem a innoçencia pen: os bons costiimes.
Anlielaqdo sempre por dar maior desanvolvimepto ;Icru-
zada, santa, $ qual nos ~ u b m e l l e m o sqiicr-nos
~ parecer que
não e$tqremos longe de vermos realisados os nossos dese-
jos e o d e todas aqiiellas pessoas que ,se interessam pela
vylgarjqaçãn à# leiliij-9s. que ~onkribqempara que a socie-
dade 4 a familia se solidiiiquem, repassando-se do cimento
d9s pripcipios igaraes e moralisadores,+ uniço elemento de
vida g de força par4 s çgnstiluiqb sacial.
Talvez que, em breve, ai6 possamos offorecer a o publi-
$0 portuguez uni j ~ r n a ldiario, que venha supprir urna fal-
i54 tão sensivel. Appel/aremos então para todos o s portu-
guezos amantes d;is santas ginstituiefies, que teem por ba-
so OS s a g r a d ~ sEvan~clhos,e estamos ce.rtos da que accu-
LEITUR+S POPULARES
dirão todos, cada qual como poder ao nosso charnairrento.
Pensando qiie j.l o poderiamos fazer, demorimos atB aqui
a publicação d'eçta primeira folha, qiie devia ter appareci-
do em maio e sb agora apparece; mas ainda bem quo ap-
parece j i conio prenunciadora da realisaçáo da grande idea
que 6 misler que se desenvolva em l'orlugal para bem dos
portuguezes, que tiveram nome e nacionalidade desde que,
tendo por pendão a cruz do Redemptor, começaram a con-
quistar, no miindo todo, o s p o ~ o s ,qtie jaziam na ignoran-
cia da luz evangelica, d'essa iinica luz de salvação,. que,
n'esses tempos, era descoriliecida e igriorada, e hoje e des-
presada e combatitla por outras Iiizes subterrarieas acreiidi-
das no infcrno, e que, n'umii lucta de dczenove seculos,
ainda n30 poderam extinguir o brillio certo e seguro, que,
tendo por horisonle Delem, onde nasceu, e o Calvario, on-
d e se arvorou em farol de salvação. para totlos que, :ia via-
gem ila vida terrestre, tomassern aquelle ftinal, como nor-
te da sua derrota, ainda fulgcira Iioje, como tem fulgurado
sempre, e ha de continuar a fulgurar, emquanto no mundo
as gerações se succederern umas i s oi~trase precisarem ser
allumiadas por aquella unica luz de salvaçáo.
As riijadas violentas e incessantes podem diminuir e dei-
xar apenas bruxuleante por momentos, essa luz divina, mas
não podem apagal-a nem extinguil-a, porqiie ella i: indeled
vel, porque foi acendida por aqiielle que desceu do Ceo.
Tào loucos erarn os que pretendiam apagal-a, apenas 01-
la se apresentou brilhante no seu llorisonte, corno insensa-
tos tem sido e eçtHo sendo todos, os que, durante a SUC-
cessáo dos seculos, e hoje teem igual pretençHo, como lou-
cos e iiisensatos hão de ser no clecurso dos tempos todos
que se imposerem tarefa tão manifesiamente inulil porsmui-
to explorada que taem sido e sempre inulilmerite.
Dizemos inulilmento, attendendo a que náo teem podido,
não podem, nem poderão jíimais extinguil-a; mas jd não di-
remos outro taiito, se, considerando, tivermos qiio iarnentar
as victimas que se deixaram fascinar e se perderam ri'çssas
luctas seculares e interminaveis; inlerminavcis, porque, tian-
tem como hoje, e hoje como Binanli4, a soberba humana
suscitara inimigos figadaes dc Jeslis.
Mas h50 de passar todos, os iiltirrios como os primeiros,
LEITURAS POPULARES
e aT palarras d e Jesus, isto 15, a luz da verdade nHo passar5
nunca.
Assim o devemos crêr sem perigo de errar. Quasi deze-
nove seculos nos servem de giranlia segura a ~ - ~ deixa-
ue
mos dito.
Quem não v4 que os males, que o muudo estci soffren-
do, teem por origem o abandono das santas maximas evan-
gelicas?
Máes de familia, que estremeceis os t70ssos filhos, dae-
lhos com o leite o santo amor e temor de Deus; velae pe!a
sua educação, não Ihes deixeis chegar ás mãos esses livros
e publicações que apparecem por loda a parte. Aciinse-
lhae-os a que náo leiam livros maus, assim como os aùmoes-
taes para que evitem as más companl~ias.
Emquanto não cliega o mal em toda a siia força, é que
é dever de lodos trabalhar por ergiier-lhe formidavel bar-
reira, c para que nâo chegue até nOs.
Todos teein obrigsçáo rigorosissima d e tomar parte n'es-
ta empresa láo salular, porque o interesse I5 geral.
Reunamo-nos pois em comniiins esforços para propagar
e ensinar o bem e combater o mal.
De hoje em diante, cada assignstura das LEITU~AS POPU-
LARES consta de a12 numeros, ou folhas d e 32 paginas cada
ama, contendo materia eqiiivalente i qiie até aqui se dis-
tribuia em 52 numeros cle 8 paginas cada um. A ordem das
materias ser4 quasi a mesma.
As assignatuaas só s e fazem por 12 nameros ou folhas,
quer seja para receberem 4s follias conforme estas so fo-
rem publicando, quer seja para so receberem em volume
brochado, o que tudo se deve declarar quando se faz a as-
signalura, cuja [baga é adiantada; e porque não se cumpre
esta condição essencial, se dão as demoras, de que, com
justa razão, se queixam os que são pontuaes nos seus pa-
gamen tos.
ANKOS COBHENTES AS POLIIAS, Moeda forte e porte franco
Portiigal Brazil
... ... .
Uma assignatura custa.. ... . . .
N. B. O assignqnte de dez poder&pagar
rbis
D
360
300
GOU
500
Dez nrrsignaturns (com direito areceber 1 2) 1 88000 4$70(6
Rm D 1 # 120) a 298000 46t000
ANNOS FINDOS E CORRENTES, EM VOLUAIES Moedaf ortc e porte saiico
UROC~IADOS Portugal Ijrazil
. ....
Cada volume broxado ouata.. . . . .
N. B. O assignantq dc dez poderd pngar
n 600
450
700
650
.. .
u
Dez volumes brochados custam.. . . . u 4t500 6&200
Cem n n O 40fiOOO 57POOO
Todas as remessas silo feitas (porke franco) pelo correio.
Na garganta tenebrosa
D'ilm vulc3o. excandescenle
Cahiu do Ceo uma Roza
Atravez do fumo ardente.
Na cratera sulfurosa
Caliiu do Ceo uma Rosa!
...
No calios.., ali ... pendida
Suave luz espargindo,
Branca Rosa adormecida
Sentia as lavas rugindo.
Sem temer o fogo homecida
Branca Bosa adormecida.
N'aquelle momenlo o ahysmo
Solfureas onde lançou,
E a Rosa do Clirislianismo
Serena. intacta Ecou
Sobranceira ao cataclismo,
A Rosa do Christianismo.
CIm seu perfume sublil
Qual flor d'eterna eleiçao,
A minha Rosa gentil
Apagou negro viilcão.
Foste escolhida entre mil
O minha Rosa genlil.
Yre2ita por Esaias
Fòra esta flor de Jessé,
E a Rosa das profecias
Entre nós, em fim, jP 6.
Vem trazer serenos dias
A Rosa das profecias.
D'entre os Videntes, um só,
Ho Calvario, ao longe, via
LEITUHIS l'OPULAl\Ch
A Rosa de Jericci
Que horriilel seiida subia
Coberta de sangue e pó
A Rosa de Jericb!
0 ílUr, de d'onde vieste
-4estas plagas d'borror?
Candida Rosa, nascesle
Li nos hortos do Senhor?
N'essa campina celeste,
Candida Rosa, nasceste?
Ou nasceste embalsam:itla
Nos pcrfumes do Oriente
Minha Rosa immaculada,
N'iim jardim sempre virente
Pelas auras embalada?
Miril-ia Rosa immaculada.
Que pranto, qu'incrivel dôr
Te inunda a face mimosal
Oh Rosa do meu amor.
Mesmo assim 6s 180 formosa
Velada pelo terror,
Oh Rosa do meu amor?
Corno Llôr do redempção
Espargindo pura luz,
!asa d o meu coraçáo,
Es plantada ;o pi? d a Cruz.
Emmorgida e m afíiicção,
Rosa d o meu coração.
E, ali, Rainha ès chainada
D o s martyres da nova lei:
Rosa d o rosas coroada,
A0 lado d o Excelso Rei
Pelos Anjos acclamada.
Rosa d e rosas coroada.
11 4. L E I ~ R A SPOPULARES
Erguida Q face de Deus,
L i na mansão d'hlegria,
Rosa dos affectos meus,
Eleva-me ao Cbu, um dia,
Segura nos braços teus,
Rosa dos affectos meus.
D. Maria Candida Collaço JblcQo,
DEUS
O homem é dotado de tanta soberba, que nem por 80
me dizer, ha tantos mil annos, que existe um creador da
todas as cousas, deixa de par em duvida, quando não nega
abertamente, uma verdade tão velha, tão contestada e tão
verdadeira e cabalmente demonstrada.
Mas por isso mesmo que o homem 6 teimoso por sua
soberba e para seu mal, e que não quizemos dar comeco a
este segundo decennio do nosso jornal, sem rebatermos,
ainda mais uma vez, a soberbia petulante, corri que uma
vil creatura se atreve a dizer não ha Deus!
Pois bem, não ha Daiis, senhor homem ; açsim o quer
assim o tenlia ; mas vamos fazer umas averiguações, se me
faz favor.
-De quorn procedeu, de quem nasceu, d'onde veiu o
seahor homem; faz obsequio de me dizer?
-De meu pae e de minha mãe, ou de minha m3e e de
mu pae, 18 isso como quizer.
-8im senhor, muito bem; não quero fazer questão, E
seu pae e sua mãe d'onde vieram, de quem nasceram?
-De meus dois avbs e de minhas duas avós.
-Quer dizer qua riada menos de Seis pessoas tiveram
parto na existencia dá sua pessoa; mas os seus av0s todos
quatro d'onde vieram ?
-Dos meus oito bisavós.
-E os seus oila bisavbs?
1 D'estx. mesma Senhbra b A NULHER IIIm CELEDRE quO ComqsmW
a publicirr, Folgamos poder mimoscar se nossas leitora8 com urn*
obrinha, que tto juatamentc tom merecido os maiores elogioe. M v l b
guilcermos ter nempre mimos t3o delicados para offorecer.
-Ora P isso não tem resposta ; mas em13m sempre direi
...
qrie nasceram dos paes d'elles e assim ascendentemente atb
-AtB ao primeiro homem e ii 11rirneira mulher, qnc sai-
rarn das mãos de Deus aptos para s e irem i'eproduzindo nos
seus filhos, nos seus netos e nos seus bisrielos atb el~egar
ao senhor liomem, que não quer que os seus primeiros paes
l;aiasem das mãos de Deus.
-Certamente isso é uma liistoria; a natureza sempre es-
teve assim constituida; a natureza 6 turlo, porque ella tudo
cria e reproduz: assim tein sido sempre e assim continuari
...
a ser até
-Ate ao fim, náo é verdade7
-Ack ao fim, sim senhor.
-8iuito bem ; o Ljm jd nós c i temos, talvez qno agora
s e possa achar o principio do senhor liomem.
-Qual principio, nem meio, nem fim?! Isto sempre as-
sin: foi, como 8, e sempre assim ha de ser.
-Foi, 6, ha de ser ... e eu então digo: não fi~i, 6, mas
ha de deixar d e ser.
-Porte maravilha que não fui, sou, e hei de rleixar ds
ser! sim; mas isso 6 que C a natureza a fazer as suas fraw-
cões de crear, reproduzir e aniquilar, o11 secliizir a nada.
-A natureza a crear e aniquilar! mas a que é EIUC O Se-
nhor homem chama natureza?
-A esta força que cria e conserva para depois aniqui-
lar e que estil sempre exercendo estas iuncr$?s, como sem-
pre tem estado, e coiitinuarii a exercer a\&..
-Atè onde?
-Constantemente, sem cessar', por quanto, na natureza,
tudo se move, pois que ella, a natureza, tem crn s i urna
causa primaria do universal movimenlo de todas as cousas.
-I[-, essa causa do universal movimento de todas as cou-
sas como se cliama?
-Chame-lhe Iâ como quizcr, e11 chamo-lho nalurozn.
-Mas a natureza 0 todo isto que s e movo, apparecendo
0 desapparocendo, nascendo e morrendo, o11 B a to\ força
ou causa primaria d'esse movimento universal?
-Eu entendo que tudo I$ o mesmo, porque são cousas
que estão unidas e combinadas para osse fim; tiiclo mais 6
qnestãa ds nome...
-Não senhor, não 8 questão de noma; todo a etfoitot
46 LPITCBAS POPULARES
suppue uma causa; ora este universo visiveil evidentemente
que 6 effeito, logo suppõe uma causa: esta causa é produ-
zida ou não. Se 6 produzida, certamente que o foi por ou-
tra, e esta por outra, e est'outra ainda por outra ...
-Até...
-Até chegar a uma causa suprema, não produzida, ne-
cessaria, independente de tudo, só dependente d e si mes-
m o pois que uma serie iofinita de causas produzidas 12 im-
possivel, é um absurdo admittil-a. Para haver machina foi
mister que houvesse machinista ; para haver geração, foi
mister que houvesse gerador; para haver creação, foi mis-
ter que houvesse creador; para haver producção, foi neces-
sario que liouvesse quem produzisse.
S e a esse principio eterno, a esse ente necessario, crea-
dor, que tudo creou e que tudo póde, não querem chamar
Daus, dêem-lhe o nome que quizerem, mas confessem que
elle existe, e não levem a mal que nós lhe chamemos DEUS.
Tambem outros lhe chamam Providencia; outros o Ser
Infinito; outros o Ente Supremo; outros a Natureza, porém
esses confundem o creador com a creatura, o producto com
o productor; outros lhe cl~amamtambem o Szcpremo Ar-
chitecto: o que tudo vem a dar na mesma, e tudo prova
que existe uma causa de todos os effeitos que nós vemos,
sentimos, ouvimos, percebemos e apalpamos, uma causa
sem causa, uma causa necessaria, principio eterno e immu-
tavel, que alem de ser creador de tudo, B premisdor dos
que fazem Bem, como 6 castigador inexoravel dos que fa-
zem mal e não se arrependem. Ora eis aqui est8 porque ha
tanto quem queira que não Iia,ia Deus, porque lhe repugna
a id6a de que as suas maldades podem ser punidas ; ne-
gam por isso o que temem, e temem-n'o porque n'elle
meem.
Bois era bem melhor que o ser\-issem e amassem, que
ji O,R%O temiam.
Parece-me que assim esth provada em termos bem da-
ros a existencia de Deus.
-Parece, sim, senlipr ; mas o que isso significa é qus
sabe mais do que eu, a por isso me confunde e embrulha
com os seus argumentos, a que eu não sei responder.
---Pciis n3o se fie nos meus argumentos, 0i.a todos os
homens, Ida todos os livros, qae teem tratado da materia
LEITUIIASIJOPULAnES 17
a favor e contra, e depois compare, avalie e tire uma con-
clusão ; que isto 6 negocio milito serio, e bem merece as
iallimas investigações.
-Fallare~iios corn mais vagar.
BOA E MA VENTURA
Todos sabem que o Grã-Senhor toma por dirertimento
andar, algumas vezes dc noite, disfarçado pelas roas de
Constantinopla, como, n'oulro tempo, costciinaila fazer Ba-
roun-al-Raschid em Bagdad.
N'uma linda noite de luar, o Sult5o acompanhado do seu
grã-visir, tinha percorrido muitas das principaes ruas da
cidade, sem encontrar cousa que lhe despertasse a atlenção,
quando, ao* passar por' defronte d'uma loja de cordoeiro,
lembrou-se do conto arabe de Cogia-I-Iassan-al-I-IIabal, o cor-
doeiro e dos seus dois amigos Saad e Saacli, que tinhain
opiniões tão oppostas a respeito da fortuna nos negocios
humanos.
-Que dizeis a isto, e qual 6 o vosso parecer ? pergun-
tou o sultão ao seu grnn,vizir.
-Eii inclino-me a crer, s a l ~ oo acertado parecer de vossa
magestade, que n'estc qiindo o bom exilo das cousas de-
pende mais da prudencia do quo d'isso, a que se chama a
boa ou md fortiina.
-E eu, replico11 o sultzo, estou con\~cncidoqae os 110-
mens alcançam mais pela fortuna, do que pela prudencia.
Não se ouve dizer, todos os (lias, que tal ou tal pessoa é
feliz ou iiifeliz ? E como so poderia cslabelccer geralmente
esta opinião, s e ella não fosse comprovada pela ex[ieriencia?
-Eu não ouso contradizer a vossa mageslado, replicou
O vizir.
-Dizei com franqueza o vosso parecer ; desejo e quero
sabel-o, disso o sultão.
, -Pois bem ; parece-me, continriou o vizir, que muitas
pessoas se persuadem de que os felizes oii inrelizes o são,
porque nSo se conhecem os ponlos priticipacs da sua liisto-
rja, e porquo se ignoram as circumstancias da sua vida, om
22 LEITWAS POPULARES
qae teem dado provas de prudencia, ou do imprudencia.
Tenho ouvido dizer, por exemplo, que actiialmente existem
n'esta cidade dois homens notaveis pela sua tjoa e pela
sua má fortuna: um chama-se Mo?trud o JvfelU, o 0utt.o
Sàladifi o Feliz. Ora, eu imagino que, se conhecessefnos
toda a sua vida, achariamos qiie um é d'iim caracter grave
e clrcumspecto, o o11ti.o imprudente e inepto.
-Onde moram esses homens, ii~lerrompeu o sultão,
quero o u ~ i rde sua propria bocca a sua historia antes da
entrar no serraltio.
-!Mourad o Infeliz, mora na praça visinha, respondeu o
vizir.
No mesmo instante, dirigiu-se para ali o sultão. Apenas
tinba chegado i praça, logo soaram aos SOdS ouvidos gri-
tos e rilidosos larnentos. Guiados pelo som chegaram de-
fronte rl'uma casa, qiie tinlia a porta aberta ; viram ali um
homem entregue 6 desesperação, que rasgava o seu tur-
bante e derramara torrentes do lagrimas. Perguntam-lhe
pela causa de tão grande desgosto, e esle Iiomem aponta-
llie para o cháo, onde jaziam alguns fragmentos d'uma jarra
d e porcelana.
-Na verdade, era um vaso magnifico, disse o sullão,
apanhando um dos bocados, mas porque motivo ha de uma
jarra de porcelana ser causa de tamantia descspertição?
-Ali ! senhores, disse o dono do \mo, interrompendo
as suas IarneiiEaçÕas, pelo vosso traje vejo que sdis corn-
rherciantes eslrangeiros: por isso igrioraes quantos motivos
tenho para me desesperar! NGo sabeis que fallaes a Mou-
r%d,o Infeliz. Se soubesseis quantas infelicidades mo perse-
guem ~desrleqiie vim a este mundo até este momento, tal-
vet vos coudoesseis de tniin e desseis razão ao meu deses-
ijoro.
Estas palavras ainda excitaram mais a curiosidade do
sdltão, e Mourad, esperando encontrar alguma sy~npatliia
por causa do suas penas, decidiu-se a satisfszer-lhe esla du-
flosidade, narrando-lhe as suas aventuras.
-Senlioi*es, se 170s quereia sujeitar a entrar em casa do
dm ente t3o infeliz, como eu sou, e u passar uma noite de-
bdirio das minhas telhas, ouvireis, i vossa vontade, a his-
tória dos meus infoi-tunios.
O sultão e o vizir desculparam-se d e não pdder passar
LEITURAS POPULXLES 23
a aoite com Mourat, dizendo que se viam obrigados a vol-
tar para o seu Irhar (logar da venda) onde, sem duvida, os
esperavam os seus companheiros. Pediram lho que os dei-
xasse descançar ali só rinia hora, e que, rloranlo ella, lhgs
contaria a hisioria da sua vida, se comiudo esta lembrança
não lhe renovasse muito os seus desgostos.
Poucos liomens lia, por muito infelizes que seajam, que não
goslem de fallar nas suas desgrüças, quando elles teem, ou
julgam ter a certeza de qua alguem s e interessa n'ellas.
Por isso logo que os suppostos negociantes s e seritaram,
Maurad principioi~a sua Iiistoria pelo morlo seguinte
aRleu pae era mercador d'esta cidade. Na noite, qiie pre-
cedeu o meu nascimanto, sonhou que e11 vinha ao muqdo
com cabeça de c30 o cauda de drapuo, e que, procurando
occullar a todos a minha disformidnde, me embrulhava em
um pedaço de pano, que desgraçadamenio se corilieceu ser
o turbante do gran-senlior, o qual despeilado por causa d8
insolencia do profanador do seu tnrbante, mandou quo irn.
mediatamcnto Ilie cortassem a cabeça.
aMeu pae acordoii antes de ter perdido a cabeça, Pilas
não sem ter perdido parte do juizo em conseqiiencia tlo
terror, que Ilie causoii este sonho extraordinario. Era um
acerrimo crente do dngma da predistinação c por isso per-
suadiu-se que ep seria para elle a causa de grandes des-
graças, e isto fez com qiie elle me tivesse aversão, mesrn9
antes de eu nascer. Tinha este sonlio como uma adverten-
cia do ceu; nunca me quiz ver; nem mesrno se qutz certi-
ficar se eu Linha vipdo mundo com tima cabeça de cão
e cai-idri de dragão, e no dia seguinte do rncw nascimento
partiu para Alepo.
aEslevo ausente mais dc. sete annos e cluranle csle tcmp0
a minha educação esteve totalmente desprezada. Perguntei
um dia a minha mas, porqiie motivo me tinhain poslo o
noine d e Rlourad-o-Tnfcliz. Ilespondeu-me que esto nomq
provinha do sonho de meu pae; mas accrescentou, que ,$a-
ria facil fazel-o escluecer tornando-me fcliz; no decurso cla
minha vida. A mirilia velha ama, que se acliava proseate,
desta occasião, abanou a eaheça com iim niodo do que ep
nunca me esquecerei, e fallou em voz baixa a minha mgp,
qias não lão baixo qiie eu náo oiiviçsa:-Ello foi, e, 8 ser&
sempra infeliz. Aquolles que nascem sob a inllilencia (l'urna
24 LEITURAS POPULARES
m i estreita, nunca podem conseguir nada, e não ha nin-
guem no niando, ainda mesmo que fosse o grande propheta
&Iahomet, que resista a esta influeccia. I3 uma loucura d e
uma pessoa infeliz o querer lular contra o seu destino ; é
melhor ceder logo.
@Estaspalavras fizeram uma impressão terrirel no meu
espirito, ainda que então era muito creaoça ; e cada acci-
denle que depois me aconteceu, confirmou a minha crença
no prognostico da minha ama. Contava oilo annos, quando
meu pae regressou das suas viagcns. No anno seguinte nas-
ceu o meu irmáo Saladin, a quem pozeran? o nome de Sa-
ladin-o.i?eliz, porque no dia do seu nascimento entrou fe-
lizmente no por10 um navio carregado de ricas mercadorias
para meu pae.
aNáo vos relatarei a serie d e todos os acontecimentos
menos importantes, que fizeram brilhar a feliz eslrella de
meu irmão, mesmo na sua primeira infancia. A medida que
crescia em idade, todas as cousas que emprebendia sarliam
táo bom efftito, como era mio o de lcidas aquellas que eu
tentava fazer. Desde a chegada do navio que viviamos na
abundancia, e a supposla prosperidade de meu pae era na-
t~lralrnenteattribuida ri influericia da feliz eslrella de meu
irrriIo Saladin.
(~Saladintinha yuasi vinte annns, quando meu pae adoe-
ceu perigosamente : coino conlleceu que se aproximava o
termo da sua vida, mandou chamar meu irrnão para perto
do seu Icilo, e corn grande surpresa para elle Ilie declaroil
que a inagnificericia em qoe viviamos tinha esgotado as soas
riquezas ; que os seus negocios estavam em grande confu-
são, porque se tinha Gado na esperança d'uma continuidade
d e fortuna, e tinha enlrado em especulaçGes superiores aos
seus meios.
aEm summa, para dizer tudo em poucas palavras, só
deixava a seus filhos duas grandes jarras de porcelana, no-
taveis pela sua bellezs, porem o qne llies dava maior apre-
ço eram uns cerlos versos escriplos na superficie em cara-
cteres desconhecidos, e que elle suppunlia terem uma vir-
tude, OU uin enkanto mysterioso ern fdvor dos seus possui-
dores.
aitIeii pae legou estas duao jarras a meu irmão Saladin,
declarando que não poùia deixar este proo,ioso deposito e m
LEITORAS POPGLARES 2s
meu poder, porque, como eu era tão infeliz, corria o risco
de se quebrarem em minhas máos. Comtudo depois da sua
morte, meu irmão Saladin. que era dotado d'um generoso
oaracler, dei]-me a cscolha d'uma das jarras, e fez todos
os esforços para me animar, repetiudo militas vezes, que
não tinha&, nem acreditava na boa ou wzri uentzwn.
(Continha.)
OS ALIENISTAS
Tal era o titulo de um artigo do sr. Francisquí? Parcey,
o qual póde resumir-se em poucas palavras. Fallando dos
insurgentes de Paris, empregados na triste tarefa de tudo
alienar, oii aniquilar, se expressava assim: «Os insurgentes
não teem o seu livre arbitrio, são impellidos por uma lou-
cura contagiosa; em quanto 9s petroleadoras (mulheres que
s e empregavam em andar deitando petroline por toda a
parte), ellas obram sob a influencia de uma doença epide-
mica da nionomania incendiaria.))
Parece que o arbiciilisla queria chegar a esta conclusão:
Se os insurgentes estavam loucos náo podiam ler culpabi-
lidade pelos seiiç actos; se as mulheres estavam debaixo da
influencia de uma doença epidemica, era uma barbaridade
fuzilal-as, oir atolliar d'ellas as prisões.
Tambem por cá temos quem desculpe e defenda os com-
munistas e ate os incendiarios; Deus queira que não passe
para cA a epidemia ou triste mania.
O sr. de Skgoyer, cornmandante de caçadores n . O 26, dis-
poz o seu batalli80, á esquina da rua de Santo Antonio de
modo que ficasse a coberlo dos fogos da primeira barricada'
da praça da bastilha. Antes de mandar atacar, avançou elle
sbsinho a fim de reconhecer as posiçóes do inimigo. Seguia
pela rua adiante, fumando o seii charuto, e em tlirecçáo á
praça; mas apenas tinha saido debaixo das vistas do bata-
lhão, 8 acommettido pelos insurgentes, que saem das ruas
laleraes, e O levar10 preso. Conduziram-n'o at8 ao c:inal de
S. Martinho, untaram-n'o muito bem de pelroleo e o quei-
maram. llabilidades dos alienistas! ou eifeilos de uma ter-
rivel doença epidemical!
Os habilantes d'aguelle sitio 6 que presenciaram e refe-
riram o caso.
26 LIIITURAS POPULARES
Diz-nos uma senhora muito affecta á medecina homcepa-
thica que para a terrivel moleslia do aniel tismo é remedio
lahilivel a hontrepcrtkia, e que, applicando a aos enfermos
de t;il doença, dando-lhes banhos de petroleo e pondo.lhes
fogo, ficam completameiite Livres.
BOH COMMUNISTA
Em ofHcinl da guarda nacional se apresenta, de rnadxiu-
@da, em certa cornmunirlade. Pergunta por frei X. O res-
ip'eí'%vgl frade se apressa a receber a visita.
--Meu IrrnSo, diz o oficial, denlro n'nma hora virão
prender-vos. Tenho esta noticia de parte cerla. Eu que es-
tou incumbido de desempenhai' esta importante diligencia.
É nccessario fugir e qual110 antes.
-Como poilerei faze1.0 ? clisse o frade ; não serei capaz
de dar quatro passos que não seja logo preso, por causa
do meu liabito.
-Aqui eçli outro fato, que eu vos trago; ú veslil-o quanto
antes.
-filas para onde hei de fugir?
-Por tal porla; aqui esta urn passaporte em fhrma, que
é o nneu. Assim que tiverdes transposto a porta da cidade,
dirigi-vos a casa de; madame P., mãe d e dois antigos disci-
pulos vossos. Ella já esta prevenida, o espera por v6s.
-Mas, querido senhor meti, este passaporte dá os vos-
sas signaes. Os vossos cabellos são pretos e os meus s20
brancos.
-Aqui temos com que os tingir, e hareis d e permittir
qus eù vos faça esta serviço.
Em policos minutos, se faz a operação e o bom frade s e
apresenton desconliecido,
Parte, e o oficial foi para o seu poSto.
D'ahi a uma hora, voltou á frenle da sua escoltd, deu
busca casa deSda a disperisa at6 ao cèleiro, gritou, ber-
ri1
PALAVRAS DE PIO IX
Repelimos u n ~ a spalavras que nos foram ditas pelo sr.
abbade da sé de hlraga, e que p0r elle, mais tl'oina vez,
forarn ouvidas da psopria boca de Pio 4X: Uniiio, o~~açdo;
o Lrizl?,zplio é certo, e czt hei de vcl-o; iuas o di(6 77iFo o sei.
É de suppor e miiito para crer que o Sarilo Padre qui-
zesse dizer que, cslando elie ainda na terra \,cri o ilcsoja-
do e ccrto triumplio cla Enrejii; mas t;iml)etn pode scr que
do cco é quc clle coiito \ J C ~a Egreja lriurnphanie na terra.
Uliidos em oraçao c siicriIicio n3o cesseinos c10 implorar>
a fnisericordia do Sacordolo eterno, Victima pura d'uiu podd
44 LCITUR.AS POPULIRES
A ECREJA EDIFICADA
Emprehendeu uin rei virtuoso levantar uni templo 5 Vir-
gem, e como queria clle sO ter os merecimentos e a fama,
fez annunciar por todo o reino qiie nenhum dos subditos
estava aiictorizado para concorrer nos gastos d'aqiiella fa-
])rica. .4 proliibição era atS concebida no tom mais ahsoluto.
Edificoa se pois a Egreja de exclusivo bolsinl~odo so-
berano ; e construida, ella designo11 por uma inseripçáo d s
letras de ouro que a dcspeza toda correra apenas por sua
conta. A noite immediata, mão, qiie ningriem distingue,
apaga o nome do rei, e substitue-o pelo nome de uma po-
bre, d e extrema niiseria; pela manbá cedo accorrem a con-
tar ao soberano, que se apresta a restituir o seu nome na
jnscripção de l e t r ~ sile ouro. O dia seguinte igual troca, e
identico reparo, e assim tres dias da enfiada. Inquieto de co-
lera, ordena o Rei que lhe conduzam a pobre, q u e era uma
velha, bem velha, a quem exprobra a violação do decreto.
- Senhor, responde a pobre a tremer, respeitei os vos-
sos decretos, Deus bem sabe quanta pena qtie eii tinha de
não poder dar lambem a minha esmola em honra de Nos-
sa Senhora; mas como eu me senti desconsolada e triste
por nHo poder nada, e me pareceu que assim não desobe-
decia a Vossa mrigestade, diminui na minlia comida para
comprar um pouco (le feno, que levava ás escondidas aos
animaes, que acarretavam as pedras para as obras do templo.
O rei então respondeii-lhe que o merecimento d'elle era
maior, e que o seu noma mais que o d'elle merecia ser
collocado na inscripção de letras de ouro.
Mas a noite immediata a mão invisivel escreveu de novo
0 nome do rei; e então 4, que elle ficou escripto para sempre,
LEITURAS POPULARES 48
Viclor 1-Iugo.
De quuni fala elle?
Dos frades, dos monges.
Um monge é um christáo que foge do mundo, para tra-
balhar com mais segilrança na stia salvação eterna. E um
homem que se retira dos outros Iiomens, n2o por odio, ou
porque os despreze, mas por amor de Deus e do proximo,
e para melhor os servir conforme melhor tiver regulado
e disposto a sua alma.
Esta idéa de retiro, de solidão, é mesmo a raiz da pala-
vra monge, que [em d'uma palavra grega que significa so-
litario. Mas como muitos cbristáos toem em todos os tem-
pos obedecido ao mesmo impulso, estes solitarios tem-se
encontrado; deste modo toem reconstitiiido a vida commum
a que pareciam fiigir, e esta vida, fundada sobre uma com-
rnunidade absoluta np pensamento e na acçso, fez a baze o
a força do estado monastico, diz o conde de Montalembert.
Mas não hasta só ao monge o separar-se do miicdo, e
preciso tambem que elle se abstei~tia do que e licito no
mundo. O monge e pois essencialmente um homem que se
priva do que poderia gosar sem o mais leve escrupulo.
Toma do Evangelbo não só o preceito, mas tambem o con-
selho. Para evitar o que é prohibiclo, renuncia an que 6
permitido; para conseguir o bem, aspira 4 perfeição; para
estar mais certo da sua salvação, quer fazer mais clo que 0
preciso para se salvar. Submette-se a um genero de cast,i-
dade, d e submissão e de pobreza, que não se exige a todos
os cliristãos. Reguncia por um esforço generoso do seu li-
vre arbilrio aos vinculos do matrjmonio e da familia, á proa
priedade individiial e .ti voutade pessoal, e póe este lri-
plice sacrificio sob a protecçiío d'urna promessa irravoga-
vei, d'um voto. Tendo assim triumphado r10 seu corpo pc-
la conlineacia, da sua alma pela obediencia, o do mundo
pela pobrcza voluntaria, vem, tres vezes vencedor, entregar-
$e a Deus e tomar logar na flar desto exercito que se cha-
m a Egreja.
Mas é ao Evangolbo que llerlenca fecundar e perpetuar
estes exemplos, As palavras do Redemptor, Filho de Daus,
eram formaes. Ella tinha dito iqoelle rnallcebo a quem ti-
nha amado, tendo-o visto s6 uma vez e que Ilie perguntam
.qual era o caminho para a vida etsrna: ((Urna só cousa, te
1,CITVRAS POPULARCJ 42'
falta para seres perfeito: vende tudo o que poçsues e da-o
aos pobres, terás um theçouro no ceo; depois \.em e se-
gue-mo.» E ainda mais: «Todo aquelle que abaodonar por
mim, e pelo meu Evangeltio, a sua casa, os seus irm3os,
suas irmás, o seu pae, a sua m'ie, os seus filhos, e os seus
bens, será recompensado com o centuplo; desde logo acha-
ra cem vezes tantas casas, irmãos, irmns, filhos, bens, com
persegzci~ões, e depois possuir$ a vida eterna.^ Desde que
esta palavra divina se espallloii pelo nniverso, tem-se visto
lioinens, que, longe dc se descorçoarem pela .força d'esta
linguagem, ou co~itristncloscomo aqaelle que primeiro ri
ouviu, leem pelo contrario acliado n'ella uma suavidade e
um attractivo, que escedg todas as sedtlc~õcsd'cste milndo,
e qile, correndo apressurados no estreilo caminho, se Icem
encarregado de clemonstrnr que nada ha 110s consellios da
perfeição cvangelica impralicavel a fraqueza liumalia.
MUITO E@ POUÇO
Talvez que nunca fosse pregado iim scrrqZ,o mais conciso
e mais completo, e que bem pocla dizer-se que é a esscn-
cia da essencia dos sermões.
homom nasce para o trabalho
ao a &vepnrn voar.
(Job, cap. v, v. 7).
« $orvindo-me cl'este texto, dividirei o meu cliscurso em
tres pqrtes:
56 LEITIIRAS POPULARES
F A I A E INFAMIA
PrBgava na capella real, em 4055, o padre Antonio Viei-
Ta. Dizia elle: o prégador ha de saber prégar com fama e
sem fama. Mais diz o Apostolo: Ra de prégar com fama e
com infamia.
Pregar o prógador para ser afamado, isso 6 mundo: mas
para ser infamado e pregar o que convem, ainda que seja
em descredito, isso B ser prégador de Jesu-Christo.
Pois o gostarem, ou náo gostarem os ouvintes ! ... 0h1
que advertencia tão digna! ... Qual o medico, que repára no
gosto do enfermo, quando trala de 1110 dar saude? Sarem,
e não gostem; salvem-se e amargue-lhes, que para isso so-
mos medicos das almas. Aqui está o que dizia o grande
orador.
Bom seria que os pregadores considerassem que teem d e
dar contas a Deus do zelo e do interesse com que prégarn,
porque assim attencleriam mais ao bem das almas do que
4 fama e á bolsa.
O TBESOURO ESCONDIDO
I
Dois homens, que moravam em paiz mui distante d a
nosso, compareceram um dia cm presença do rnagistraclo.
O primeiro se expressou n'cstcs termos:
-Esta aqui o meu visinlio, que me vendeu uma peça de
fazenda; porem achei um thesouro, c a minha consciericia
n2o me permitle que cu fique com elle, por isso que eu com-
prei o terreno, mas não os valores que l i podessem estar
escondidos.
O segundo falou assim:
-Eu lambem n5o posso apropriar-me do thesot~ro.Não
fui eu que o l i escondi, por conseguinte não mc pertence.
De mais, eu vendi a terra tal qual estava serri condição al-
guma. Compete pois a decisão d'este negocio ao respcitavel
juiz.
O homem da lei respondeu a estes dois homens tão pro*
bos :
-Soilbe que vosso íilho e vossa filha teem inclinapão u m
para o outro, dae-lhes o thesouro e que se cazem, vistoaque
taem oom que s e estabelecer.
60 LELTUBAS POPULLRES
--
guem !
Imitemos a violola.
Agora olhemos para os passarinhos e escutemol.os que
cantam tão bem!
(Continiia.)
AMIZADE
aAgora, meu nufino, conheço S. custa de uma penosa ex-
qeriencia quanto é certo o que, muitas vezes, m e ensinaram
a s sagradas Escripturas; isto 8, que Deus, em algiimas oc-
asiões, dA mais do que se lhe pede, concede-nos o que os
olhos não podiam vêr, nem os ouvidos ouvir, nem o cora-
qão sentir.
72 LEITUDAS POPULARES
JESUS I E N D I G O
PODRES E RICOS
BOI E M A VENTURA
(Continuado da pagina 55)
CARIDADE
A caridade d a Sidr mimosa e sublime de todas as virtu-
des - e a abnegação do inleresse e commodidade propria,
para utilirlade do proximo - 6 a consola~ãolevada ao que
soffre despida dc qualquer lucro - ej o auxilio ao preci:
sado sem pretenção a agradecimento-e obeneficio sincero
e franco ao necessitado ainda mesmo que nos haja offendik
do-i: o perdão das maldades, affrontas e prejmizos que nos
hajam causado- e finalmente o conjuncto de lodos estcs
preceitos para desempenlio do mandamonto dcvillo arnar a
Deus sobre todas as causas, e ao proxirxio como a nós
mesmo.
A caridade não i: sb dar esmola ao pobre,reparlinclo com
elle unia pequena parte do muito que nos sobeja; não i: soc-
correr o indigente, por ostentação eií'avor, O mais:olevada esta
virtude, e a sua pralica táo variada conio extensa,&% olevo
cançar nern constranger aquelie que a faz, seguindo os verrl:~.
d ~ i r o spreceitos; podendo todos e em todas as condições da
sociedade opulentos ou humildes~desempenbaremesla vir-
lude santa e beneflca.
O rico com o seu ouro pode alliviar a desgraça o preve-
nir males grapdos e atC crimes.
O poderoso pode sem dispotider, fazer grandes Benefi-
cios, empregando a sua protecção e valia.
Assim tarnbcini o que vivo parcamente, o ata o pabro,
100 LEITURAS POPUI. \nES
O DEFUNTO E O MATERIALISTA
Principiando o padre Lacordnire as conferencias que, so-
b r e a irrimortalidade da alma, ha alguns annos, fazia aos
alumnos de Sorèze, contou-llies o faclo segiiirite, que vamos
reproduzir, o mais fielmente que nos for pnssivel.
O principe polaco X.'** increùulo e materialista rlecedi-
do, acabava de cornpbr unla obra contra a immortaliclrttle
d a alma; estava quasi a niandal-a imprimir, quando, uiri
dia, passeando no seu jardim se Ilie lançou aos pks Ira-
nhada em lagrimas uma mulher, que Ilie disse com a mais
profuiida dor:
-Rleu bom principe, meu marido acaba d'espirnr. N'es-
t e momento, l a l ~ e zque a sua alma esteja no purgalorio; cl-
le soffre. Eu sou tão pobre que riem ao nienos tenho com
que lhe possa mandar dizer uma missa. Sois tão bom, va-
lei-me para que eu possa dar este alitlio i alma do meu
marido.
Ainda qcie esle principe estava convencido d e que esta
mulher estava enganada em consequencia da siia crediilida-
de, não se atreveu comti~doa desprezal.a, procurando en-
tre o dinheiro, enconlrou uma mooda de ouro o deu-lli'a;
102 LCITUDAG POPULARES
PERGUNTAS E RESPOSTAS
Qual 6 a cauza que s e semêa n'um logar e s e colhe n'ou-
t r o ? O l ~ e mque s e faz n'este mundo, p o r q u e n7io se colhe
o fructo senáo no onlro.
Quando se parece a irt tu de com a mentira? Quando u m
vell-io conta as proezas da sua mocidaile, ou qilnndo um
p o b r e s e lembrii das sccões geuerosas dos seus dias felizes.
Com que s e parece cnl filho dege~ierndo?Coní aquellc
q u e tcm seis iledoi, porque, s e Ihe cortam cstc dedo d e
mais, causa-lhe dor; se Ili'o deixam, íica com uin aleijSío.
AS DOZE FOLHAS
O POVO ERRANTE
povos que faz designar nos primeiros artigos das suas cons-
tituições a crença a que deve pertencer o soberano; 6 at6
uma lei fundamental imposta sob p7na d e exclusão na suc-
cessão ao Ihrono. Um priricipe calholico por mau qiie seja
não pode ser prejudicial 4 fb de seus suhditos catholicos no
mesmo grau em que o pbde ser um protestante, ainda que
este seja menos mau. Alem d'isso esse mau principe catho-
lico passa, e p6de ter um successor fiel 4 Egreja, mas a s
dynasti~sficam.
VI E porem justo que se reconheça que no actual reina-
do a Prussia não tem sido perseguidora. Ella deixou aos
bispos a liberdade de desempenharem o seu rninisterio, e
se se quizer por exemplo comparar o que a I3,oreja tem
soffrido na Bariera com a situação, em que se acha na I'rus-
sia, não será a Baviera quem ganhe na comparação.
O partido patriotico bavaro, que qiieria salvar a indepen-
dencia da patrin e que ao mesmo tempo C fervente catho-
lico, acl-iava-se na mais estranha e mais dolorosa posição,
tratando com um govertio, que s6 cuidava em feril-o lia
sua fé, e com iim rei que parecia desejar tornar-se vassallo.
O rei e o governo tiniiam por apoio os mações, os judeus
e algumas pessoas dedicadas i Prussia. A reunião cl'esks
diversas forças foi tão poderosa, que a voz rlos patriotas
calholicos ficoii abafada.
No ducado de Bade os catholicos faziam ouvir graves e
justas queixas; a situação dos seus irmãos c10 Wurtemborg
e de Ilesse era muito preferivel; e se os catholicos submet-
tidos A casa cattiolica de Wittetsbatir gemerem por passa-
rem a soilrer a alta auctoridade do casa protes1:lnledeIIo-
henzollerri, a sua dar O si~avisndapela esperança da vBr se
náo a justiça,pelo menos a politica, impedir que sua condi-
ção se torne peior. Elles contam com as prorriessas,que 1110
foram feitas, de deixar- intactas as leis respeclivas ao rnatri-
monio e ao ensino, e além d'isto dizem comsigo quo os ca-
tliolicos, achando-se d'lioje em diante em maior numero n o
parlamento de Berlim, poderão defender os seus direitos
mais eficazmente.
N6s mal partilhamos as suas esperanças, a o que s c estq
hzendo e que agora so deixa fazer em Roma, centro o co-
ração da vida callialica, longe de tranquillisar confirma as
nossas appl.eliensões.
LEITURAS POPULARES 119
Seria facil i Prussia dissipa1 as; fal-o-ha? Restabeleceri
ella nos seus direitos a ordem nioral e social subverlida na
Europa? Não o sabemos. Uma s6 cousa é certa, pode-o fa-
zer, e pnde-se mesino accrescentar que o seu proprio inte-
resso O prescreve.
Os catholicos submettidos 'uo,je ao seu sceptro, directa ou
indirectamente, excedem a 13 milhões e são as fortes raças
catbolicas da Baviera, do Rbeno e da Westpbalia acostiima-
dos a nada ceder quando se irata rla sua fé. Mas esta razão
não é a mais grave. Esla Europa feita peclaços pela revo-
luç50, esses thronos táo facilmente derribados para .dar
logar a oulros, que certamente não duraráo mais, esses tra-
tados que não são mais do que vãs formulas, esses povos
agitados pela revolução, como navios sem leme no meio das
ondas do Oceano, pedern ordem e paz. Não sQ os 200 mi-
lhões d e calholicos, aias todos os homens de coração, mes-
m o entre as outras religiões, pedem que se ponha um termo
As perseguições de que e victima o depositario da mais au-
gusta aucloridade moral, que reside sobre a terra. Totlos
sentem que, se 6 necessaiSio levantar o eclificio moral, é
preciso coiner,ar por esta pedra fundamental.
Segundo o partido que a Prussia tomar, assim a geraçiío
presenlo c as futi~rasdevem considerar a elevacão d'esta no-
va polencia, uma calamidade nova ou um grande bem para
a humanidade. Mas a Prussia não tomarri a iniciativa a fa-
vor do Calliolicismo, que, embora pareça esmagado debai-
xo de todas as pressões, ha d e um dia apparecer livre e de-
saffrontado. Hão d e passar os seus perseguidores de hoje,
como j i se sumiram os d'outras eras.
Qiie morra Pio IX, o Papa não morre. Se não fora divi-
na a Egreja Catliolica, não seria mister locta incessante 0
tão pertinaz, porem ella, assim como tem o Soberano I1ori-
tiEce na terra, tem o sacerdote eterno, o seu divino í'undo-
dor, no Cko.
CARIBALDINO CONVERTIDO
E m 48 de agosto de 6869 morreu na prisão polilica d e
S. &ligue1 em Roma, Joáo ~lazangorii, de Mantua, um d'a-
quelles que se introduziram n'aquella cidade, e m 1867, pa-
120 LPITUR iS POPULARES
FARTAR RAPAZES
D. Alvaro Vaz de Almada, conde de Arronclies, aclian-
clo.se na batalha da Alfarrobeira e sabendo que tinham mor-
128 L E I I U R A POPULARES
~
ANECDOTA
Cerlo inrlividuo, cujo caracler era gerrrlrndnte conhecido por
jndigno, pôde conseguir por intervenção do duque de Ne-
w r s uma honrosa condecoraç7io.
Qiiando os cavalleiros recebem as irisignias da Ordem,
dizem estas palavras: Do?ni?ze non sztm diynzcs.
Tendo o novo condecorado repetido estas palavras, o rei
llie respondeu. Sei isso mzlito bem, e não julgzteis qfle se
nlio fossem as szippZicas do Duqzie de Nevcrs, mezc primo,
824 VOS adrniltisse.
-8sSw
ANNUNCIOS
O RUIALIIETE110 CBRISTÁO tem-se publicado regularmen-
te, todas as semanas, contenrlo uma gravura na frenle de
cada numero e artigos de diversos escriptores, sob a direc-
ção do rer.O Padre Pregador Prior de Nossa Senllora da
Ajuda. O preto da assignatura i! de 500 rs. por 113 nume-
ros, SG ditos lj$OOO, por um. arino ou 32 nurneros, ",000;
numero avulso 8 0 rs. A correspondcnçia deve ser dirigida
ao Director-Lisboa, rya da Atalaia n . O 63.
((n~-iiiroNXCIOSBLD é O t i l \ ~ !do
~ nosso novo jornal, ciija
publicai:,áo fomos obrigados a encetar, inovidos pelas ins-
tanaias de muitas pqssoas, que, comnosço pretendiam que,
no campo (Ia imprensa, havia uma Iaobna a preencher.
Confiddos em que incitacues e instencias ser50 traduzidas
em soccurros para a nova publicac50 c em inleresse por el-
Ia, ó;nimino-nos a dar-lhe começo.
C) nosso progrzmma e simples e m b e mexplicito, e ha de
ser lielrnente descmpenliado. DTO dia, em que tiver de por
termo ;i sua carreira, agradeceremos a todos que o acolhe-
ram.
0 Sr. Josk Joaqiiim Ferreira Lobo, proprietario e halri-
lissimo empregado publico no Tribiinal de Contas, dignou-
se accilar a direcção tla redacçao; o Sr. Carlos O. Rovere,
representante (Ia ni~iito antiga casa editora de livros Rol-
laizd & Sirrieo~zdé o adn~iriistrndor.
A iniciativa da realisa~nod'esla cmpreza c a superinton-
dencin h do director das L~r~rrrn;lsPOIV.JLBRES, que espora
em Deus que nunca Ila de o novo jornal seguir carninho
diverso d'aquelle, q ~ aso 1I,~rrunesPoilu~anssteem seguido.
O UDIARIO Nscro;u,i~~un9o i: exclusivamerile religioso, poli-
tico, inilustrial, cornnierc!nl, o11 noticioso; C iwn jornal que
ha de ser redigido por inoclo que, no campo da rnoralidrttls
e da deceocia, satisfaça a todos os leitores.
.
- .- - ....-.. I
\
O NARTYR DO G O L G O T H A
(Continuavão)
CAPITUI.0 I 1
CONTRACTO fi COSTnACTO
A dar, b e m como o prazer, teem seli termo, e esgotam-
s e quando o coração se enfastia ou calleia.
O pobre orpliáo acabou por náo enconlrar lagrimas nos
0llios.
Tres mezes esquecido dos homens, permaneceu n'um liu-
mido e sombrio calabouço, sonhando sempre com a hora
apetecida d a vingança.
Uma manhã ealrou o carcereiro para notificar-llie que es-
tava livre.
Dimas correu a sua casa, e então soube por um visint~o
q u e o cadaver d e seu pae tinha permanecido insepullo seis
dias, e que por fim os enierradores o linliani deitado n'uma
esterc~ueira, onde s e de1)ositavarn os cadaveres dos lepro-
sos.
Dimas ouviu a repugnante narrativa sem descerrar o s
olhos.
Nem uma lagrima lhe assomou aos olhos; o seu coração
estava callejado, mas o desejo d e vinganca crescia-lhe no
peito como u m a vermellia papoula no meio d'um Lampo es-
teril c abrasado pelo sol do Egypio.
Durantu o resto do dia e a noite, vagueou sem rumo pe-
las ruas d e .Jerusalem.
Ao amanliecer viu que se achava no bairro do Bezeta ou
.cidade nova.
Aquellas r u a s estreitas, sujas, Lartiiosas, pei tenciam á
rica, A opulenta Serusalem; mas nem o canto de Sion, nem
os perfumes dos jardins de Ilesodes, nem o luxo da cidadu
d e David, chegavam a ella.
IIabitavam-n'a inodeslos negociantes d e lã, industriosos
armeiros, e gerite, emíim, dedicada ao Lrabaltio e ao com-
mercin.
Dimas cançado, sem saber dirigir os passos, se recostou
a uma porta que permanecia cerrada.
Seus oltios filavam-se niaquinalmenle nas reluzentes fo-
lhas, que pendiam d'uma especie do nioslraJor, fosmarlo com
fios de canhamo.
Dimas pensou em comprar um d'aquelles punhaes, e o
seu olhar, fitando-se no abundante mostrador, começou a
procurar a folha que devia ser executora da sua vingança.
-Quanto vale esta faca? perguntou elle, apontarido para
uma larga folha de Damasco, qiie pendia d'um rlos fios.
-Dois siclos de prata (I); é uma follia exce!lente; res-
pondeii o cutileiro, desprendendo-a do mostrador.
Dimas examinou-a um momenlo; mas, lembrando-se d e
que náo possuia nem um miseravel obolo, disse ao vende-
dor:
-Queres fiar-me esia arma e dar-te-hei, antes que a lua
nova banlie com seus raios o alto minarele da torre d e Da-
vid, vinte onças romanas por ella?
-E quem me responde porque cumprirás a tua palavra?
-Responde-te a memoria de meu defunto pae, a quem
vou vingar com esta arma, e sobre cuja cabeça juro entre-
gar-le esta quantia que e, como sabes, vinte vezes maior
do que a que me pediste, se não morrer lia empreza.
As palavras de Diinas tinham um scllo de verdacle inex-
plicavel.
O cutileiro compreliendeu que alguma cousa estranha s 0
passava no coração d'aquclle mancebo, e por u ~ i id'aqiiel-
les impulsos, que não se explicam n'iim judeu, fiou-se nas
palavras do matutino comprador, vendo um negocio soher-
bo n'aquella eslranlia venda.
-Se me enganas, peior para ti; lhe disse, entregando a
arma; s e tens palavra, Jehova te proteja c salve dos peri-.
gos, a que pode expor-te a tua vingança,
(1) Noyecentos e cincoenta réis,
1>?3ITURA9 POPULAIIES 141
-Agradecido, meu amigo; murmurou o orphão; mas an-
tes de separar-rios devo dizer,le o meu nome para que co-
nhecas o teu devedor. Chamo-me Dimas, lu o ouviria al-
guma vez, porque é o nome que ha de soar liaslanle nas
doze iribiis; e, sem esperar resposta, tomou pela rua adian-
te, e poi~codepois, sainclo da porta de Gados, foi senlar-se 4
sombra cl'um robiisto sgcoinnro, de cujo fsiicto comeu com
appetlite, pois havia muitas horas que não tomava alimento.
Depois empunhou o bornido cabo da espada, e fescarregou
um terrivel golpe rio tronco do riodoso arbiisto: Duns pul-
legadas d e folha se enterraram na annosa casca d a ar-
vore.
-01i! lem boa tempera, disse para si, a ponta nem se-
quer vergou; bern pode entrar toda a follia d'iim sO golpe
na gailgarita o i ~no coração do que lançou o cadarer de meu
pae aos cáes da esterqueisn.
Dois dias depois, junto ri torre Silnb, os soldados de Ilo-
rodes acharam o cadaver d'unr relho. Tioha uma profunda
ferida ria garganta, e outra exactamente egiial no coração.
Sobre a fronte, preso por uni grosso alfinete, via-se um
pedaço d e pripyro, ein que se achavam escriplas com sari-
gue eslas palavras:
aDimas tinga o insepiilto cadnver cle seu pae com a mor-
te d'esle phariseu, e jura pela sua memoria perseguir os
seus descendenles atk d quinta geraçáo.~
Depois d'esto atlenlado, o j o ~ e norplião fiigia da cidade
sacerdotal, refugiando-se nos montes de Hama.
O cadaver de seu pas calcado aos pks o impelliu a com-
melter o primeiro assassinio; a fome o obrigou a executar
o primeiro roubo.
Dimas arrebatou um cabrito aos pastores.
Desde enlão começoii a vaguear pelo mais fragoso dos
bosques.
De noite abandonava as siias inciillas guaridas para as-
saltar os indefesos caminhantes; mas o desgraçado orph30,
que aborrecia o sangue por iristincto, nunca enipregava ou-
Iras armas alem da ameaça para despojar as soas victimas.
Entretanto a lua nova aproximava-se, e Dirnas aindli n30
tinha pago ao cutileiro as vinte onças romarias que lhe de-
via.
Jnr;\ra pagal-as pelo insepulto cadaver do seu pae, era
preciso cumprir o juramento. Mas como, quando nem um
miseravel dinheiro de cobre gossuia?
Dimas, sentado B borda d'iim auguslo barranco, começon
s reflectir sobre a sua sorte futura.
Tirilia dado o primeiro passo na carreira do crime. As
suas façantias vandalicas ainda rião passaram de miseraveis
despojos commelridos nos indefensos pastores com o i ~ n i c o
fim de aplacas a fome; enlao ali, sO, eiicerrado conisigo mes-
mo, cornpreliendia o que tinha feito.
Era irnpwsivel relrocecer; mas lambem compreliendia que
era indispensavel que as suas aventuras fossem em maior
escala.
-Ladrão por ladrão, disse comsigo, biisquemos ouro; a
vida tanto se arrisca, roubando um sestercio (#), coma um
talento (2) hebreu; a honra tanto se perde roubando uma
ponnl~acomo um boi.
Tomada esta rosoliiç~o,Dimas pbz-se em pé, e agitando
os longos cabellos com um movimenlo energico de cabeça,
lançou u m olliar altivo pcr aquellas soledades que o cerca-
vam, e afagando o grosseiro cabo da faca, inurrnurou estas
pslavras:
-Quando a vida se estima em pouco, o 'tioinem podo
'chegar a sei* muilo; sim, é preciso que e u seja o rei d'es-
tes bosques, o terror d e Israel.
Vagueava então :ias montes de Samaria uma quatlrillia
do salteadoras que, i sombra das contendas civis, que agi-
tavam as tril~usde Israel, commetliam toda a casta d e cri-
mes com rima aiiilacia incrivel.
Em oão l[Ierodes enviava os seus soldados para os esler-
minar; os barididos de Samaria eram invisiveis, e sem e m 4
bargo o tliealro das suas vandalicas scenas era o coraç3o da
H-'atestina.
Os mercadores do Egyplo, de Damasco, de Tyro o du
Sydon, viarridse coin fsequencia assaltados i luz do dia, no
meio das estradas.
A audacia dos bandidos samaritanos não tinha limites. A&
,ruas d e Jeriisalern presoticearam mil vezes scenas de repu-
(9 Mooda de cobre de pouco valor.
(?) Talento hebreu cquivalo a um conto quinhentos e tanto8 mil
sEis da nossa moeda.
gnanle barbaridade, levadas a cabo 11elo punlial homicida
dos iridorriilos habilantes do monle Flebal.
AS suas de~asladoras correrias estenderam-se des-
de a tribii d e Judá 3 ti-ibu de Assor, e não poiicas vezes,
passando o Joi.dSo, tinham levado o terror e o siiqüe attj ao
bosque dYEplirairn.
Os montes (10 Samaria com suas psoriind;is cavcrnas llics
serviam de refugio para burlar as perseguições (10s Iiero-
dianos.
O tetrico e solitario c;istello, cloe coroava o cume de 110-
bal, servia-lhes de quartel tle in\lerrio.
D i m s era valente; desesperando dc ericonirar a socieda-
de dos Iiomens, decidiu s e a buscar os dos ferozcs baridi-
dos de Samaria.
Depois de qiiatro dias d e nia~~clias forçadas, cliegoii tis
faldas do terrivel monte.
Ningriem s e teria atrevido a tanto n'aquelles ternpos.
A clescsperação centuplicava o anirno d o Tillio clo ourives
jerosoliinitano.
Dinins parou a uns trinta passos (Ia solilaria fortaleza.
A subida era espinliosa e iiigremc; desfallecido pcla fa-
diga, sentou-so ri'uma pedra.
Achava-se sU; nem o canto das aves, nem a TOZ litima-
na interi~ornpiania profunda solicl8o dos furidos prccipi~ios,
qile o rodeavam.
Dimas parecia o genio do mal, qiiantlo, depois da sua
qneda, se sentou Ii borda d o abysino n conteniplar pois iim
instante a horrivel niansão, cluo Deus Ilio coriceilia e m cas-
tigo da sua louca soberba.
(Contiiifia.)
A MENINA E AS SETTAS
FAUULA
CANTIGAS
IREDES E VIREDES
CAMILLA DE MONT'ALTO
RIandira o Papa Xisto v buscar da aldca, onde se criara,
para a corle, uma irmá, que tinha chamada Camilla, com
duas filhas e rim fillio, que fez carrleal de ii'l'ont'alltl. Na
vespera foram os cardcaes Rledicis, Este o Alexandrino, p'or
lisongearem o Papa, esperal-a para a conduzi rem e acompa-
nharem ao paço. Poren~,corno vinha vestida mui liumilda-
mente, quizeram que descnnçasse f6ra de Roma n'uma
quinta, e ali se vestisse e ornasse como princeza, para che-
gar A presença d e seu irmáo; o qual verido-a vestida tão
magnificamente, fingiu que a não conhecia o perguntou por
ella. Respondeu-llie o cardeal Alexaridririo, que a trazia pe-
la m2o:-Aqui esta, santissimo Padre.
Voltou Xisto corn severidade e desprezo, dizendo :- Eu
não tenho mais que uma irmã, pobre aldeá das Grotas de
Jfonl'alto, que não pode trajar. como princeza romana; nem
a conhecerei, sem me apparecer como se veste na aldha.
E voliou as costas. despedindo-a assim e aos cardeaes,
que ficaram tão confusos, como sentidos. Veiii a irmã no
dia seguinte vestida coino costumara, e Xisto, vendo-a, a
recebeu affavelmente e lhe disse:-Agora sim, que sois mi-
nha irmá, e niio pretendo que outrem vos faça princeza,
senão eu.
JIandou-a logo aquartelar no seu paço, consignando-lhe
renda mediocre para o seti trato, e Itie.poz preceito de não
se metter cm negocios da corte nem pedir-lhe graça parti-
cular.
O PAE DA RAINHA
O famoso Mitridates, rei do Ponto, amava com excesso a
musica, premiando generosamente aos qiie se distinguiam
n'esla arle dificil. Entre os mais famigerados musicos d o
seu tempo era um ancião,rque ia todas as noites ao palacio
e que com uma filha sria, jdven e formosa, dava o que agora
chamamos concerios. entretendo ao principe e A cbrte com
peças escolhidas.
Mitridates colmava-o de disiinc(ões o tralava-o com cari-
nho; um dia porèm que elle e sua lilha liaviarn crido exce-
der-se a si mesmos, no momento, em que o pobre ancião
esperava o premio merecido, observou que o rei náo fazia
caso algum d'elle e o tratava, senão com despreso, ao me-
nos com indiíferença.
Susceptivelpor extremo, como todos os pobres honrados,
LEITURAS~ O P U L A ~ C S 149
volton para sua casa na maior desesperapio, ficando siia E-
Ilia no palacio no quarto das miilheres que a tinham intro*
duzido, corno silccedia algumas vezes. Que seri islo ? meu
Deus! dizia o ancião; el-rei náo se dignou sequer ver-me. e
sem embargo mintia filha cantou, como uma deusa, e eu m e
esforcei a sustentar-me na maior altura i qual jdmais havia
chegado antes; ameaça-me alguma, desgraça? que serA d e
mim? que serh de niinl-ia pobre íillia?
SO e abatido pelo terror, passou a mais espantosa noite
da sua vida, e com ell'eito linha raeBo. O rei n30 Itie falou,
o rei de\lia estar offeudiclo, e o enfaclo d'um rei equivalia
entáo 5 morte, porqiie a vida dos homens eramiiito menos
para elles que o para nós a vida d'iim passaririlto.
Raiava ja a aurora no horisonle, qnatido o terror e a an-
gustia d e toda a noite haviam rrostrado o ancião do tal sorte,
q u e veiu a final a adormecer. Este somno reparador foi d e
poucos momentos, porque um grande ruido ,que se ouviu
na riia e i porta saa casa, despertou-u logo d'aquelle 18-
thargo. Abriu os olhos sornnolenios e viii distinclamente
que a sua casa estava cheia de soldados e de pessoas eslra-
nfias, que lhe cercavam o leito obrigando-o a levantar-se.
O ancião sobresaltado poz-se de joelbos; alçou as mãos e
exclamou cheio d e terror:-Supplico-vos, soldados, emno-
m e dos deuses immortaes, que m e poupeis a vida.
Uma gargalhada estridente foi a resposta.
-Levanla-te, anciáo, disse-lhe o chefe d'aquella turba;
levanta-te e não temas.
-Quem vos manda?
-El-rei.
-Que exige d e mim?
-Por ora, que obedeças e te cales.
Dirigindo depois a palavra aos que estavam i porta, dts-
se-lhes:
-Escravos e eunucos, vinde e fazei o que deveis. Os es-
cravos aproximaram-sa do ancião e o despiram cornpleta-
mente, e envolvendo-o logo em lençoes alvissimos de linho
Bnissimo, levaram-n'o aos Iiombilos e o metteram n'um ba-
nho de alabastro com agua saturada de essencias e perfu-
mes.
Dizia o anciTio entre si:--Vou morrer; sim, aviclima mais
agradavel aos deuses immortaes e a mellior perfumada; com
2% L E I T U R I S POPULARES
-
I-, caiu desmaiado rios braços da Tillia.
-Viva a rairilia! exdamo~ia rniiltirlão.
Estrato~iica,que foi boa íilba, foi tambern boa esposa, e,
a mais querida do todas que tinha 1Iilridales.
BOA E MA VENTURA
(continuado da pag. 12b)
Quando passou a primeira commoção, não pode conter o
T~SO,vendo-me assim estirado no chão ; depois com um modo
d e tanta boridade que ainda aggravava mais ii minlia lou-
cura, desceu a escada, e, dando-me a máo, disse-me :-
Desculpa-nie, irmão, se lia pouco te faloi com aspereza ....
Estou irilimamorite convencido que n3o tivcstn nenliunia culpa
d'isto ; mas coino B que aconteceu isto 7...
a Em qoanlo Saladin fallava, senti a mesma bulha, que me
852 1,EITlJRAS POPULARES
O AVARENTO E O RECATO
Certo avai'cnto giiarcla\>a escondidos seus tliesouros ao
sop6 d'uma coltina, e ~ericloque um regaio corria nlravez
do prado contigtio, banharido-o com suas frescas e cristali-
nas nguas, ilic faloti ri'estes termos:
-I-'ar-a que malbaratas, ern serviço alheio, a lymphn pura
e fresca? Qiie pserriio ou çalardáo esperas rcceber no dia,
em que estiveres esliaiistii? Qiic recompensa esperas das fld-
res, das arvorcs, dos p:issarinlios c d'essa campina? ?il:iis t0
valera, nas entranhas dii terra, abrir iim de[joçito profun-
do, e ahi, i s escondiilas de tortos, ir juntando tiias agiias,
neg;il-as a essa campina ingrata e devorril-as eniio, mais
prudente, com Iiyùropica \lista.
-Cila-to, veltio egoisla, cala-le, Itie tlissc o llrgoto, que
náo serei lentado pela t ~ i navareza. Não yiiero as luas noi-
tes perdidas; prefiro que a minha correrile socegada mur-
mure sem ciiid;iOo I)or eiilre a relva do campo; antes 9110-
ro semear Iierieficios por onrlu quer qiie voii piissando. Di-
zes que não 1150 do ler prcmio as miiihas fadigas: como te
enganas.
Olha; não v6a como as espigas so curvam reverentes
quando passo, como as fldres me beijam e os rouxiaoes mo
deleitam com suas harmonias.
E quando se actiam esgot:iclas as minhas aguaspormuilos be-
neficios, que tenlio feito, o COO beriigno entorna suas nuvens e
m e envia aguas a jorros. Guarda pois todo o teu ouro, e,
entretanto passas tua vida agitada noite e dia e vives em
LEITURAS POPULARES i59
continua tortura; eu tranquillo atravez d'este vergel corre-
rei murmurando orgullioso e alegre.
A avareza L! o vicio detestavel qzce faz dos coracões vis
um inferno; a cartdade 4 fonte ine:cgotavcl e a virtude por
excellencia, que, nas al~tzas~zobres,imprime a nzão da di-
vina 13rovidencia.
O FIDALGO E O RENDEIRO
GRAÇAS A DEUS 1
A verdade e a justi~a vão tendo, por toda a parte, do-
nodados campeões. E' porém mister qae todas as pessoas,
amantes dos principíos de ordem, se convençam, por uma
vez de qiie t6em em consciericia rigorosissima obrigaçio d e
promoverem, quanto e m suas forças couber, o dosenvolvi-
mento da leitilra sã e moral, quer seja por meio de livros,
recorihecidamente bons, quer seja por meio dos jornaes, que,
gragas a Dezcs, vão apparecendo em Portugal. Se os escri-
ptores teein obrigação e dever d e empregarem a sua irilel-
Iligencia no derramamento das boas doutrinns, os quo não são
160 LEITURAS POPULABBS
OH QUEM DERA
A TESTA DA NATUREZA
P O R J O Ã O D E LERIOS
IIOAS NOITES
POR JOhO DE DEUS
CANTIGAS
BOA E M A UENTURA
(Continuado dc pag. -168)
Era um homem inteltigente, aclivo c que acordava facil-
mente, bem differeutc n'isto de alguns de nossos compa-
triotas, que gastam uma hora para acordarem completamente.
L E I T U R A S POPULARES 181
Tinha um genio expedito, resoluto, e os seus escravos se
pareciam com elle, Etiviou logo um mensageiro ao sultão
para o avisar, e outros aos magistrados de diversos bairros.
Os giganlescos tambores da torre dos janizaros espalharam
o alarma em todas as riias, e em menos rle meia hora do-
pois manifestou-se o incandio nos quartos inferiores de Da-
mal-Zade; por detraz d'uma das portas tinham sido lan-
çadas materias inflamaveis.
((0s miseraveis, que tinham planeado este crime, corre-
ram logo para se apoderarem dos moveis e para se entre-
garem li pilhagem; mas ficaram do todo admirados c enga-
ilados, ~ e n d o - s eprezos nos seus proprios laços, sem atina-
rem como tinham sido descobertos. Prevenitlo a tempo, o
meu amigo extinguiu sem muito trabalho o fogo em sua
casa; o mesmo aconteceu em diversos bairros da cidade,
onde torla a gente estava prevenida: rebentaram rnuilos in-
cendios de noite, mas houveram poucos prejuizos, e a agua,
que se conservara nas fontes, foi sufficiente para os apagar
por toda a parte.
aNo dia seguinte, logo que appareci no Bezestein (mer-
cado publico) todos os negociantes me cercaram e abraça-
ram ctiamando-me o seu bemfeitor, aquelle que tinlia sal-
vado as suas vidas e as siias fortunas. Damat-Ladé offere-
ceu-me uma gezada bolsa ctieia de ouro, e mattcu-me no
dedo um anne1 com um diamante d'um viil~rconsideravel;
todos os negociantes imitaram o seu csemplo e fizeram-me
ricos presentes; os magistrados enviaram-me provas da sua
satisfação, e o grã-vizir miinílou-me um diamante da mais
bella agua,, com estas lialavras escriptas pelo seu psoprio
punlio: ~Aqzcelleq u e snlvou Cowsta~ztinopla.~
~Desculpae, senhores, a vaidade, que pareço ter relatan-
do-vos todas osias circiimstancias. Quizestes conliecer a mi-
nha vida, o eu 1130 podia omittir o que n'ella Iiavia de mais
notavel. N'estas vinte e quatro lioras, achei-me elevado pela
munificencia e gratidão dos habitantes da cidade, a um grau
d e riqueza, que nunca me veiu d idéa que eu podesse ji-
mais conseguir.
aTomei entao tima casa, qae estivesse em harmonia com
a minha fortuna, e comprei alguns escravos. Conduzindo-os
para minha casa, encontrei um judeu que me disse com um
tom adocicado :-Senhor, vejo que vindcs d e comprar es-
182 LEITURAS P O P U L A n E S
A CURA DO CANCRO
FBBULA
A GALLINHA E O PAPAGAIO
ALBARDAS EM LATIM
ANECDDTAS
ASBFIYIBLÉA
DOS ESCRIPTORES E ORADOAES CAPBOLECOS POBTUGUEZES
Primeira Commissão
Dará o seu parecer sobre o modo de melhor e mais pro-
mover a confecção, traducção, e edição de bons livros.
O BARTY'R DO,G O L O O T H A
(Continiiado d ~ pap
t 178)
(i) Isaac significa riso. Assim se chamou o menino que Sara pariu,
pois tendo 80 annoe da edado quando o anjo do Senhor lhe annunciou
queeeria mue, @opon: a rir, crendo qu0 mofava ù'ella.
E02 L E I T U R i S PUPULAREY
O baptismo de sangue
.
O
"
1 osto por Dcus.
Uma noite, os bandidos tiveram noticia pelos espiões de
que uma caravana, que conlluxia a Jerusalem as mercado-
rias de Tyro, acarnpira n'uma quebrada das cordilllciras de,
Joppe.
Abbadon dispoz cair sobro ella e saiu da sua giiaridn se-
guido dos terriveis comparitieiros.
A noite era clara e serena; hrancas e vaporosas nilvens,
como pequenos flocos de neve se deslisavain pelo limpido
horisonte, salpicantio o diaphano azul do cco com suas poe-
tic- e çapricliusas oscillações.
As vezes, a lua escondia a sua prateada fronte atraz dos
fluctuantes veos, que se agitavam rio espaço, rnostrando
de vez em quando a clara luz dos seus raios pnr. erilro as
arrendadas orlas das nuvens, e como as virgeris de Sion lan-
Cavam seus alhares alrnvez clo seu fino e delicaclo veo.
Noi~e formosa e poetica, cheia de encanto, mysterio e
doçura, em que o ceo sorria e a torra exhalava os perfurnes
do seu seio.
Porqiio uma noite serena dirige ;i alma o immenso tlie-
souro de encantos, emquanto quc a belleza do dia so nos
fala aos sentidos.
O sol arranca lagrimas dos olhos; e a lua suspiros do
coraçio.
A noite representa a bondadc e doçura do Creador, e o
dia o poder e a força de Deus; por isso, euiquanto uma
chora lagrimas doces e perfiimarlas como o rbcio, o astro
fecunda e abrasa corn os raios d a siia pyra de fogo.
Sem as deliciosas brisas d n noite, sem o perfumado so-
pro do zephyra noctiirtio, o mundo seria urn abrazirdo de-
serto, urrr pararno irihabitavel.
A lua é a amavel confidente, a doce amiga, a terna com-
panheira das almas sensiveis e apaixonadas.
A sua lua tenue e delicada pode-se contemplar com ex-
tase como os ollios do ser que amamos, e o corsçio dilata-
$e no seu estreito carcere, admirando a molancolica poesia
que brota tla siia fronte casta e radiante.
Ella 6 a m3e bontlosa (10s filllos do iiifortonio. Os 1-10-
meps mais altivos iião se envergonliam de cliorar arilc a
sua presença, clesafoganclo as dores do c o r a ~ ã o ,as pGnas,
da vida, porque os raios, que o seli disco derrama sobra a
terra, estão impregnados da inexgotavel bondade de Deus, 6.
208 LEITURAS POPULARES
25 DE JULHO
CANTIGAS
CASO INTRINCADO
E m 4834 a condessa de B... saliia de Maux em magni-
fico carro de viajem, acompanhada pela siia aia e iim cria-
do; dirigia-se a Bordeus para ahi, em casa da familia do
marido, dar 1 luz o fructo do seu casto amor.
A Providencia talvez não quiz que os seus planos se rea-
lizassem; a condessa, quando ia nas proximidades de Poi-
tiers, senliu-se insommodada e sc viu obrigada a recolher-
s e na primeira pousada que o acaso lhe deparou. Achava-se
ella então náo longe d'uma pequena aldêa, que ficava 5
beira da estrada. Procurou em váo uma casa coinmoda para
s e recolher, n'aquella ald6a não s e encontravam commodida-
des de especie alguma. Mandou procurar iim cirurgião pa-
r a lhe assistir, e esta preciosidade em terra tão miseravel
apparoceu. Vem o cirurgião; a condessa pergunta-lhe se
era possivel encontrar-se uma casa, na qual podesse pas-
sar a,quelle transe com alguma commoclidade; respondeu-
lhe este que perlo havia uma cabana muito aproveitavel,
attendenào ao estado da condessa, e que o alvcrgue per-
tencia a uma pobre viuva, mullier Iionesta, que estava tam-
bem proxima a dar á luz. Em taes circunstancias não va-
cillou a condessa no partido que tiriba a tomar; decide-se a
utilisar-se da cabana da pobre viova e eil-a em breve ins-
tallada ao pobre cazobre. Mas a dona da casa vd-se tambem,
como a condessa, em occasião proxima do dar ao mundo
mais uma creatura humana; o cirurgião mal sabe para qua
LEITURA8 POPULAnEB 217
lado s e ha d e voltar; e ora presta soccorros a uma, ora a
outra.
Momentos depois viam a luz do dia mais dois innocenti-
nhos, deixando as mães sem sentidos. Foi ainda o doutor
q u e os limpou e deitou no unico berço que havia.
A condessa, apenas recupera os sentidos, pergunta pelo
filho.
- Senhora, respondo-lhe o cirurgião todo embaraçado,
desculpe-me; eu devo dizer toda a verdade: - Estes dois
nascimentos foram quasi ao mesmo tempo, e vi.me tão
atrapalhado que fui deitar as duas crianças no mesmo her-
ço, porque n'esta misera\rel casa havia sb um. Os dois re-
cemnascidos são meninos, mas qual d'elles e o seu declaro
q u e o não posso dizer.
A condessa, depois de ter medilado algum tempo, volveu:
-Em casa de quem estou eu?
- ,TA iiie disse, senhora, que esth e m casa d'uma boa
mulher, pobre e viuva, ha poucos mezes, mne de tres me-
ninas, e d'este menino que decerlo vem augmentar-lhe a
miseria e não a alegria.
-Pois bem, doulor, concluiu ella; n'esse caso ambos os
meninos serão meus filhos.
Escreveu a o marido, informando-o do que lhe occorrera;
sste pouco depois achava-se ao lado d'ella.
Expoz-lhe quanto acontecera e yoal a sua resolução em-
quapto As crianças; o conde ouviu-a, sorrindo, e admirou
n'ella o amor de mãe. Pouco depois entrou em negociações
com a viuva e por fim acordaram ern que os recernnascidos
passassem para o poder da condessa, a qual, depois de
restabelecida, partiu com o maritlo para Bordeus, levando
comsigo as duas crianças. Esperava ella que a nalureza se
encarregaria d e desfazer posteriormente aquella confusão do
acaso, indicando pela parecença das feições o verdadeiro
filho.
Mas não foi assim. Nenl~uma das crianças dava a mais
leve id6a do pae ou da mãe.
Continuava a incerleza ao mesmo tempo que a ternura e
o amor da condessa se repartiam egualmente pelos seus
dois filhos não do sangue, mas do coraç30.
Morre o conde e 6 nomeado um tutor para os menores.
A condossa continua a ser egualmente estremosa para olles,
218 LEITURAS POPULAIICS
A MARAVILHA DE VENEEA
O SANTO E O TABERNEIRO
Foi um laberneiro queixar-se a S, Viconte Perreiru d e
que muitos dos seus freguezes Ihs levavam o vinho fiar10 e
não faziam caso de lh'o pagar, senão mal, tarde ou nunca,
o pediu que falasse o santo no pulpito sobre esla materia
pois era de corisciençia. Disse-lhe o santo:-Trazei-me aqui
do vinho quo vcndeis.
Leroo o taberneiro uma porção de virilio, que o padre
aparou no seu oscapulario dizendo: vazae aqui.
O homem liesitiou, mas o santo insistiu dizendo:
-Vazae, qiio assim convem ao vosso negocio.'
$24 LEITURAS P O P U L A n E S
ANNUNCIOS
ONDEESTA~IOS?-Estudos sobre os acontecimentos actuaes
i870 e 1871, obra escripta por illgr Gaume e vertida em
portugaez, precedida d'nrna dedicatoria a S. Santidade Pio
IX. Para os nossos assignantes o preço é 350 reis porte
franco.
---
PROPHECIAS sobre a Egrejn e a Revolu~iio,O Antichristo
e os Ullimos tempos, piiblicados em Londres por EIenrique
D. Langdon - traùucção feita sobre a 8." edição ingleza,
Para os nossos assignantes o preço é 200 rs. porte franco.
Terço e visitas ao Sanlissimo Sacramento, 40 reis porte
franco.
O nrm DE JESUSou o MEZ DE JANEIRO.Consagrado a Je-
sus Christo, compilação de RIeditações, orações e exemplos
para todos os dias do mez de janeiro. Segunda edição, palo
padre Jos4 d e Sousa Amado. Vende-se na Livraria Calho*
lica. Preço 300 reis.
---
MANUALno C r i a r ~ ~ . & ~ . uso dos meninos da escdla e
Para
d o calhecismo e m Varatojo. Com a competente licença
ecclesiastica. Vendeise na Livr5aria Calholi~a,rua dos Ca-
pellistas 78. Preço 160 reis.
N." 8
SUBSCRIP~BOA FAVOR DO SANTO PADRE RIO BX
Incluindo as parcellas aqui mencionadas, monla a reis
2:136635320.
P.O Joaquim Fernandes, Porto de Ovelha, 1d940. -As
Recolhidas do Bea terio d e Bosba, 600.-Anonyma, 28 -4 6,
-71, 500.-JosédJAlmeida Ratado, 500.-Manuel Rotlrigues
cle Carvalt~o,do Lustoza, B$Y3O.-D. hnna Emilia da Cosla,
de Gomisi, 960. -Um anonymo de Villar-maior, 40. - D.
Suzana, BOO. - D. Manuela do Carmo Pamplona, "10. -
Uma sr." tle Torres Vedras, SOO.-Unia filha d e Maria, cle
Lisboa, iG0.-Um anonyrno, do GaviSo (Abranles) 2$000.
-U. I., 200.-Santa Cruz do Castello, 800.-A. Ferreira,
de jullio a dezembro de 4871, GO0.-.Castro, idem, i$",O.
- W. id. G00. - Valenle, iil. 300. -D. Maria Beianarda,
id. 1d000.--hl. C . , id. 600.-RI. Jesus, id. 600.-Lsitt~ras
Pop?(lares, id. 34000. - Maniiel l[aodrigues Fi eixo, 400.-
Marialina Silva, 80.- João Alexandre, 400. - iilanuel Do-
mingos Maia, 500.-Antonio d'0livait.a Pilippe, 200.-3030
Asseimpç50, 320.-João dc Paiia, 40.-P.O José Loiirenço,
300.-Joáo Lopes, 40. - hfanucl Leitáo da Silva, 200. -
José, Redrigues Manso, 300.-Manuel d'bbreii, 100.-Josb
Rodrigues Martello, 500. - I'.P Dento Ilodrigues Martello,
200.-Pac Joaquim B. d e S. R. 800.
3 C
CAI'ITULO VI11
Um golpe em falso
-Enlão lu asfirmas, amigo Uries, qiia a caravana egy-
pcia, apesar do sei1 aspeclo pobre e miseravel, conduz urn
thesouro? perguntou Dimas a um dos bandidos que cami-
nhava a seu lado.
-O seu carregamento é trigo fecandado com as aguas
do Nilo; mas entre os saccos, que conduzem os cereaeu so
occultam cluas caixinhas construidas em Alosaridria, I i i E
quaes s e encerra um thesouro. Uma vem repleta de p6 do
ouro fino, a outra de pedras preciosas, e ambas são clesti-
nadas ao Cesar. Os seus condtictores ignoram que entre o
loiro grão, que transportam, se esconde uma riqueza. O
carregamento vao consignado a um rico negociante do Ce-
sarea, em cujo posto se acha ancorado iim navio romano,
que deve transportal-o h cidade dos consules.
-Boa ha d e ser a presa, para que os meus lobos malto-
zes te não maldigam por Ihes teres feito abandonar o covil
n'uma noito à'cslas. Mas por Deus vivo que me admira quu
tão precioso thesouro não seja escoltado por gente armada.
-Os negociantes egypcios são desconfiados, odoiam os
romanos o temelri ser despojados nas viagens pelos mesmas
a quem confiam, mediante um salario, a guarda das suas Q-
zendas.
-Mas não te i e r i s enganado?
-S6 Deus i? infallivel. Sem embargo espero um fcliz
exito.
-Que parte olfereceste ao que te revelou o segredo'?
228 LEITURAS POPULARES
25 DE JULHO
Batalha de Campo de Ourique
AS JANEIRAS
INFANCBA DE JESUS
Estando Maria
B borda do rio,
lavando os paninhos
do seu bento Fillio.
Maria lavava,
Jos6 estendia,
chorava o Memioo
com frio qiie tinha,
Não choreis, Menino,
1150 choreis, amor,
isso são peccadns,
que cortam sem dôr.
Os filhos dos homenz,
em berços dourados,
s6 vos, meu htenino,
em palhinhas deitado!
O NOSSO H E R ~ E
1578 - 159%- 1622
SUA INFANCIA
CAPITULO I
Um castello, uma d'essas habitaçoes, que ao mesmo tem-
po eram fortalezas, e que, por terem sido jB descriptas ve-
zes sem fim, nos queremos dispensar agora de compro-
rnetter a nossa penna, tenlando fazer uma pintura d'aquillo
que ella mal saberia esboçar, e o palaoio, aonde conduzi-
mos hoje os nossos leitores, e que era situado sobre uma
collina a pequena distancia de Thorens e a quatro legoas
bem medidas da cidade, quo hoje e capital do deparlamen-
to da Alta-Saboia.
Do cimo do torre20 do castello s e descobria um d'esses
pontos de vista esplepdidos, que são privativos da Saboia.
d'essa rival da Suissa. D'um lado s e descobre uma immensa
cadêa do montanhas coroadas d e agulhas e picos recortados
e d e bellas explanadas, onde tambem .se veem cupulas dis-
lormes: os Freleç, a Pedra Parmeaã, o monte Pithon e o
LEITUnAS POPULARES 239
Pescy. Da massa principal se destacam dois enormes con-
trafortes, entre os quaes s e profundam, n o meio d e suas
muralhas de granito, extensos valles e pequenas veigas.
Cada um d'esses contrafortes tem o seu termo em dais
elevados cumes: a Cabeça Negra e a Cabeça de Chamlai-
tier. Ao Poente, no fundo do valle, se veem desenhadas as
montantias que dominam o valle de Tliônes, e por d e traz
d'estas se erguem as que cercam o lago d'knnecy. E um
encadeamento d e colossos, muitos rochedos amontoados
eriçados de arestas agudas, muitos terrenos cultivados, im-
mensiílade d e montes coroados de settas pontagudas e de
agulhas, que fendem os cèos, um cahos, que involuntaria-
menti: faz lembrar o monte Peliou cavalgando o Ossa. Ao
Norte, o valle de Tliorens se apresenta obstruido por au-
tra grande amontoaçio, que deixa uma abertura enorme
desde Plat ate ao castello de .Boiay, uma brecha muito mais
estreita d o lado d'Evires.
Emfim, quasi no centro do valle se ergue u m monticulo
d e mediana elevaçgo, onde assenta um castello e palacio.
Devemos accrescentar que o valle B atravessado pela
corrente sinuosa da Filliere, e que cerca de cincoenta loga-
res e cazaes cobrem a planicie, sobrè a falda das monta-
nhas, no meio dos bosques, ao abrigo dos montes e dos
rochedos; mas a penna não pbde nunca bem descrever com
todas as circumstancias a obra maravilliosa d e Deus. Seria
mister um grande volume para esboçar apenas quadro tão
magnifico, quanto admiravel, e para escrever esse livro de-
veria ser empregada a penna d'iim poeta d e grande estro.
Em 20 d e setembro do anno da graça 4578, não se pen-
sava, n'esse nobre solar, senão em contemplar a paizagem
magnifica, a que referimos o pouco que deixamos dito. A
vasta sala dos Cavalleiros, que constituis a principal peça
do castetlo, retinia com os grilos alegres d'uma meia duzia
de jovens, a mais velho dos quaes contava apenas os pri-
meiros dias da sua decima quinba primavera. Temos ii frente
dais rapazotes uniformemente vestidos d e giliiões e calções
azuos golpeados d e escarlate, dais pagens d o palacio, Ma-
nuel de Thiollaz e Fernando de Couzie. Depois seguia-se
um adolescente d e figura delicada, trajando a s mesmas co-
res, porem mais ricarnerite vestido. Todos o tratavam c o ~ '
aquella curtezia tradicional d'esse tempo: misser Luiz dB:
$40 LEITUHAS POPULARES
NECERANI
Sobranceiros As hortas de Asacaia, mas um tanto abaixo
d o sitio, onde era o conveoto dos frades d e S. Bento e m
Santarem, aguardavam os Portuguezes, a pé, com os caval*
10s pela rédea, praticando em voz baixa, e recebendo do
rei D. Affonso llenriqucs as ordens do que haviam de fazer.
Jb parecia não estar longe a hora de executar e empreza, quan-
do de repente appareceu uma estrella muito grande e muito
inflammada, a qual por grande espaço de tempo esteve pa-
rada, illuminando uma grande parte da terra, até que vaga-
rosamente se encaniinhou da parte de Noroeste em direcção
ao Tejo até que se perdeu de vista. Não era cousa ordinaria
um signal assim, e pelo rei D. Affonso foi tomada uma tal
apparição como um aviso e bom presagio de victoria. Este
e outros signaes que para os Portuguezes eram motivo de
animação, produziam nos mouros grande desalento.
Sohre o quarto d'alva, que G. quando o somno costuma
ser mais pesado, parliu d'aquelle sitio el-rei com seus sol-
dados, deixando ali ficar os criados com os cavallos. A pb
atravessaram o olival de Montirds, e, descendo ao valle, que
fica entre a calçada de Santa Clara e a d'iltamarma, toma-
ram pelo valle acima com grande silencio e cautela, indo
adiante filem Moniz, que muilo bem sabia as melhores par
ragens para a entrada, e logo atrds el-rei seguindo-lhe o s
passos. PorSm aqui se lhe desvaneceu (por um bom accor-
do) o &o, que levavam direito ao logar do muro, a que que-
r i a m ~subir; pois ahi viram duas velas em theatros feitos d e
novo, as quaes vigias se estavam espertando um ao outro;
a viram mais q u e a ronda dos Mouros andava por cima d o
muro, requerendo 4s velas q u e não dormissem e que vigias-
sem. Os Portuguezes se deixaram estar quietos, lançados
de b r u ~ o sem terra enbe uma seara d e pão, que ali estava,
atb entenderem que as vigias todas estavam dormindo.
*Depois d'isto, a pouco espaço de tempo, abalou Mem
Moniz com os que o seguiam, indo muito pezaroso do que
tinha visto e ouvido, chegou.^^ ao pé da muralha, e tre-
pando por u m Lolliado d'um oleiro, q u s estava contiguo á
muralha, passou 4 mesma muralha a encaminhar uma es-
cada sobre uma hastea d'ella. E como a escada se não sus-
teve bom no muro, correu pela haslea abaixo e deu n'aquellb
248 LEITURAS POPULARES
A CIDADE SUBMERSA
O PRIUIEIRO FURTO
(Fabula)
GRANDEZA
Nada tia grande uma vez qiie taniia fim; c quem quizer
que lhe pai8eçani pequenas as cousas, que a outros se re-
presentam mui grandes, ponha-as diante da eternidade e
tão pequenas ficarao, que totalmente as perca de vista, co-
mo se perde a terra a quem olha para baixo rlescle o fir-
mamento.
ANECDOTAS
NECROLOCIO
ANNUNCIOS
sobra a Eg~*cjne
PROI~IIECIAS (1 Rcqokccão. O Anticliris-
256 L E I T U R I S POPULARCS
CINCO BANDEIRAS
Quando el-rei D. Affonso iv passou n Caslolla com o fim
de soccorrer o Caslelhrino corilra o Mouro, quo infeslava
aquelle reino, fazendo-se conscllio, yotaram os capitaes cas-
telhanos que se desse Tariia aos Riouros, para (lu0 dusis-
tissem da guerra. Oppoz-se cl-rei gencrosamcnto a csta ro-
solução dizendo: Eu não salii do iiicu reino corn gente tiío
262 LEITURAS DOPULAAES
O IIIARTYR D O G O L B O T B A
(Continuado da pagina 214)
LIVRO I1
E i t r e l l a do mar
Uma virgem conceber4 c: dai&8,
luz um Filho, por nome Etnmsnuel,
isto 6 , Deus romnosco. Este Filho,
dado milagrosxmcnte ao munao, serti
um renovo do tronco de JcssB, uma
flor nascida da BUU raiz. SerA clia-
mado o Deus Forte, O Fae do seculo
futuro, Principc do Paz. SerA levnn-
tado como um estandarte ti vista doa
povos ; as naç0ca vlri2o offerecer-lhe
as suas homenligens, e o sou sepiil.
ehro será glorioso. - (Proplaeciade
Isaiss.)
CAPITULO I
Maria
Vou dar começo ao livro da Virgem. A penna de Zorrilla,
o pincel de Murillo se tornam pequenos ante a formosura
da Mãe afílicta, que clioroa no cume do Golgotha a morte
de seu Filho.
A grandeza de Maria B divina ; por isso não chega a ella
o talento humano.
Perdoa, pois, se, a minha insuEciencia s e atreve a narrar
a tua dolorosa hisloria. A f6 christã alenta minhas escassas
LEITURAS POPULABES 263
forças ; o teu glorioso nome d6 côr ás minhas palidas idóas ;
em Ti confio, para levar ao cabo a penosa peregrinaqão que
me impuz.
Nazaretli, patria de uma Virgem, borco d e um Deus, en-
volta ainda nos ultimos crepes da noite, dorme tranquilla
n'um extremo do pictoreçco valle d'Esdrelon.
A suprema vontade do Creador a collocou no seio de
duas collinas, que, qiiaes mães carinliosas, a estreitam com
seus robiistos braços para a livrar das tormentas outonaes.
Nazareth, azulacla pomba do Oriente, t u fizeste o teu rriinlio
i sombra do IIermon para te embriagares com o perfume
que te enviam os floridos campos de Chonaan, que foram,
em tempo, o cobiçado jaimclim da tribu israelita d e %a-
bulon.
O rócio celeste cae sobre os teus campos ; JeliovA te sailda
d o seu throrio de luz, e os anjos cantam o hymno d e bem-
vinda, porque as propliecias vão cumprir-se.
Uma meiiina formosa, coii~oa estrella da manhã, acaba d e
respirar o primeiro sopro da vida, e de seu peito virginal
sae um geinido de dor.
o primeiro d'um Ser que nasce ; il'iim Ser que vem ao
mundo interceder eternamente por nOs.
O seu berço não se cobre çorn as ricas colçlias d o Egy-
pto, nein se adorna com o ouro da I'erçia.
As suas marililhas não se perfumam com a esscncia d o
nardo, nem s e accende myrrha e oleo balsainico nos perfu-
madores de praia, como fazem os principes liebreus.
Pobre o grosseiro linlio lhe cobre as delicadas carnes. Uma
pobre casinha lhe serve d e albergue, e Liumílílos mulheres
d o povo rodeiam o seu berço e recebem o seu primeirosor-
riso.
E, sem embargo, aquella rlebil crcatura nasceu destinada
a ser a Iiainlia dos ceos, a Mãe dos Anjos, a Esposa d e
Deiis.
Os conquistadores deporão os sceptros a seus pks ; os reis
curvar50 ante Etla as altivas frontes, e os afflictos, irnplo-
rando a sua prolecção, irão adoral-a de joellios anla os al-
tares levanlndos pela f6 cliristá.
Porque Ella serh o balsamo universal das dores huma-
Das; a esperanSn do naufrago, a consolação do tristo.
O seu glorioso nome serli invocado nas occasiõos amargas
264 LEI I I: i 8 POPULARES
Aos tres annos era olliada com respeito por todos os hu-
mildes habitantes de Nazareth.
Em seus olhos, azues como o ceo do Oriente, brilhava
uni reflexo de luz divina.
Seus labios, nacarados como o cerrado c a l i ~dos cravos
de Jericb, tinham sempre um sorriso de indefini~eldoçura
para totlos quantos s e aprosirnavam d'ella.
Os abundantes anneis da sua loira cabelleira caiam, como
uma chuva de ouro, sobre a modesta tunica de lã azul que
cobriu seu delicado corpo.
Algumas tarcles, nas pictorescas estacões vernaes, sou pae
a levava a passear pelos floridos jardins do valle d'Es-
drelon.
A formosa Menina, sentada á sombra d'um d'aquelles cor-
polentos salgueiros, que tantas vezes acoitam debaixo dos
seus melancolicos ramos as caravamas arabesl, se compra-
zia em eslender o doce olhar pelo claro e diaphano coo d e
Galilea.
Seu pae não se atrevia a interrompel-a, durante aquelles
momenlos de celeste contemplação, çrenclo-a inspirada por
alguma revelação divina.
Depois, ao regressar a casa, com as mãosinhas, brancas
e Bnas, como a flor do llierebinto, fazia um ramo de nar-
cisos, anemonas e açucenas, e, durante o caminho, se de-
leitava em aspirar o seu delicado perfume.
Muitas vezes o pae Itie colhia o dourado fructo, que lhe
apreseniavani ao passar o sycomoro e o platano, e a Me-
nina o guardava com as flores, e, ao chegar ao seu povo,
offerecia a sua mãe aquella preciosa fructa e aquellas lindas
flores, dizendo :
-O pae lembrou-se de ti : traz-te isto.
Maria chegou ii eclade prefixada por seus paes para a en-
tregarem, conforme tinham promettido, ao templo sagrado,
como uma das virgens d71srael.
Os parentes de Joaquim dispozcram-se a acompanhal-a,
pois, segundo os hebreus deviam prescnciar a sagrada ce-
remonia.
A Virgem de Sião
Alguns dias depois, os paes, seguidos de seus numerosos
parenles, alaviados com o trajo de gala, se encaminharam
para o templo.
Joaquim Levava nos braços o cordeiro sem macula, que
devia ufferecer ao Senhor.
Anna sua esposa conduzia sua Filha.
A santa Menina levava nas mãosinhas, embrulhada n'um
pedaço de branco linho,.a flor de farinha indispensavel para
o sacrificio.
Ouçamos o que diz da apresentação de Maria o abbade
Orsini :
« Atravessando o pateo exterior, em que o eslrangeiro
devia deter os seus passos sob pena de morle, o sequito
augmentou com bom numero de empregados do rei, de pha-
riseiis doutores e damas illustres, que uma disposição se-
creta da I'rovidencia reunira por casualidade sob os porti-
cos de Salomão.
a Parou um momento a comitiva nos degraus de marmore
do Clbal.4 Ali os ptiariseus estenderam os seus t~philim.~
2 Espaço de dez covados entre o pateo dos gentios e 5s mulheres.
3 Tephilim, pequeno pedaço de pergaminho, no qual escreviam com
tinta feita de proposito quatro aeutengaa da Escriptura, c os judeus ü
levavam collocnd~no bravo direito ou no meio da testa. Estava muito
l distincç"ao. -
em voga no ternpo de Jeau Cliricito a era um ~ i g n a dc
(Besnage, Hz'storia dos judeus, liv. VII, cap. VII.)
268 LEITUnAÇ POPULARES
O ANNELn'ouno
Moyahs tinha dito: O qzco não d e i x n ~ .descendonch enz
Israel, seja maldito. A lei, pois, obriga Maria a tomar es-
poso.
Os pites do Baptista, d'esso martyr do capricho d'uma
rainha impura, viviam em Ain, pequerio povo que se acha-
va situado duas legoas ao Sul d e Jeruaalem, e desattenden-
do as repetidas supplicas da sua afilliada, que se obstinava
em permanecer pelo resto dos seus dias no templo de Sião,
convocaram todos os parentes da raça do David e da tribu
de Judii.
Uma descendente d e David não podia subtraliir-se ao jti-
go do matrimonio. Os propl-ietas tinliaxn annunciado que
Este jejum era n abmtincncin completa de todo a qualquer ali-
mento por espago de vinte e quatro horas.
LEITURAS POPULAREN 275
d'um ramo verde e frondoso sahiria o Messias desejado, o
Salvador dYIsrael,o qual devia collocar o verde estandarte
dos Machabeus sobre os templos pagãos da impura Roma,
e os judeus regosijavam-se vendo nos seus sonhos dc vin-
gança o assombro e espanto com que os escravos do Tibre
leriam estes vermellios caracteres da sua gloriosa bandeira:
Qual da entre os deuses I' sirnilhaszte a ti, oh Eterizo?
Isto era a esperança do povo hebreu, desde que o assy-
rio, derrotando-o com suas vencedoras legiões, o transpor-
tou captivo Qs margens do Euphrates.
Israel chorou lagrimas de dar na impura Babylonia. -4s
harpas de JudA perderam as suas doces melodias, e os va-
sos sagrados do templo d e Si50 foram depositados aos pés
d o deus Belo, como se Jehovi podesse render vassalagern
a o idolo sangrento dos babylonios.
Maria, pois, era uma espdrança para o povo d'hbrahão.
A perfumada violeta de Nazareth, o verde renovo do rei
dos cantares, devia unir-se com uni homem da sua raça,
cuja limpeza de sangue fosse tão pura, tão immaculada co-
mo o que girava pelas azuladas veias da Estrella do Mar.
Segundo as sagradas tradições, vinte e quatro aspirantes
se apresentaram Q mão da joven Virgem.
Entre elles achava-se Jqsé, o carpinteiro de Nazareth, e
AgabiJis, o nobre jerosolimitano.
Jose era pobre, humilde, e ganhava o sustento com o
modesto trabalho das suas mãos.
A sua edade orçava pelos quarenta annos 5 e a sua ve-
neranda cabeça ji corneça\la a cobrir-se de cans.
Agabi~sera moço, rico e bello.
Um offerecia uma vida de privações; outro uma existen.
cia de luxo e abundancia.
Jose o humilde sb lhe poderia dar o duro pão do jorria-
leiro; Agabus teria lançado aos p6s de Maria preciosas te-
las do Egypto, e adornado seus braços com ouro e pero-
las da Persia.
(Continha.)
1 Algiina esçriptoren attribuem R S. JosO oitente annos de edadc
na epoca du seu casamento; ma8 entre os hebreus a iiniBo d'um Ve-
lho com urna joven era prohibido. nos termori mais humilhantes c ver-
gonhosos, e B de crer qu? os tutores da Virgem n l o haviam de faltar
a uma lei que tanto respeitavam; pelo que em virtude de varios pa-
receres e tendo em conta a lei firanios quarenta rinnos de edade.
Supportoo grandes tormentos
duros ruartyrios na cruz,
morreu para nos salvar;
seja bemdito Jesus.
CORO
25 D E JULHO
VOBALAMMA
MA LVAS
CHRONICA
O soborano'Pontifice recebeu seiscentas miilheres trans-
teverinas cjue lhe foram manifestar a sira'dedicação; Pio IX,
respondendo, Ilies fez recordar que vinte e quatro annos
antes, tinha recebido no Quirinal, uma deputação de Trans-
tevere. Depois respondendo a esta pergunta: Quando aca-
barão os males que afligem a Egreja de Roma?-O Santo
Padre falou assim :
-O inunclo sempre foi hostil a Jesu-Christo e i sua Egre-
ja, contra quem tem combatido sempre ; mas as persegiii-
$8es cle todos os tempos passaram, e a Egreja immortal
triumphou sempre. Os incredulos e os impios a teem des-
pojado, insultado e maltratado por mil formas ; mas todos
elies passaram--defzazcti szcnt-e a Egreja ainda perrnane-
ce e permaneceri sempre, porque acima do Senlior n3o ba
forca nem sabedoria. Emquanto ii rcsposta a vossa pergun-
ta: Quanrlo i: que isso tera Bm? EsLe qun?zdo náú o sei eu,
mas o que eu sei S que nOs o poderemos abreviar por meia
das nossas oraçáes e da maisescrupulosa observaçáo da lei
d e I)eus.
BIBLIOGRAPHIA
0 l l o r t ~ do
? ~ Golgotha-Tradigões do Oriente por IIenri-
gzcc Peres Escre'ch.
Esti-se imprimindo uma esmerada traducção d'esta bel-
lissima obra, a qual estamos dando n'esta folha, e que nqo
abstante isso, merece ser possuida impressa em separado.
Constari de dois grossos volumes em 8.' francez; cada um
dos quaes custará 600 rs. dor assignatura e 800 rs. avul-
288 LEITURAS POPULA~ES
NECROLOGIO
Pedimos suffragios pela alma do Sr. J. J. Amado, Belem.
ANNUNCIOS
PROPHECIBS sobre a Egreja e a Revolz~ç~o. O ilntichris-
to e os ultimos tempos, piiblicaçáo foita em Loridres por
Henrique E). Langdon, em ingiez, e agora traduzida da h.*
edição: para os nossos assignarites se remeite por 150 rs.
Setenario de Nossa Seriliora das Dores, por Fr. Ray-
mundo dos Anjos Beirão, GO rs.
O Poder temporal dos Pcrpns, 800 rs. porto franco.
O mez do Sagrado Co~*cr$ãode Jesz~s,200 porte franco.
Nouissimo ililez de Jfuria, ou &Jaz das Fiorcs,
Lindas pl~otograpliins de uma bella imagem de S. Jose:
grandes a 14000 rs.; mais pequenas a 600 rs. em quarto
200 rs. tamanho regular 1100; pequenas com orações em
portuguez; ditas com a commemoração do Santo em latim,
conforme o decreto ultimamente publicado, e proprias para
os reverendos sacerdotes trazerem nos breviar!os, 40 rs.
NOSSA SENHORA DA SOLEDADE EEB ALVARENGA
CAPITULO 111
O Annel de Ouso
Mas os sacerdotes disprezararn a riqueza, e escollieram
o pobre carpinteiro íle Nozarelli, porqno Deus Ilies liavia
recordado o va ticinio d'Isaias qui: dizia assim : S a l ~ i ~zarzn
á
vara da r a i z de Jcssd, e da szin raiz szcbt~-ciacaza por p m -
ciosa.
Vints e qualro varinhas de ainendneira clepositaram no
templo, ;inoite depois ile orarem, os liretenilenles.
Uma tradiçzo nriliga relatittla por S. Jeronymo refcre quu
a secca vara d e JossB, Tillio de Jacob, fillio da Nathan, s e
enconlron verdo e iloricla no [lia seguinte.
Agabiis, desesperado por este proíligio que lhe mostrava
o ceo fecliando toda a pnrta 3 sua esperança, quebro11 re-
signado a sua vara, e correu a encerrar.se n'uma gruta do
Carmelo com os discipulos de Elias.
A siia (10r foi immerisa ; mas a sua fb, tão grande como
a sua dbr, o fez clirist2o G morre11 com as lionras da san-
tidade.
Os lutoros manifestaram a Maria o nome e a classe do
esposo escolhido.
Ella acceitou-o sem proniinciar a mais lavo queixa.
Os clolicados Iraballios do Templo, os perfumes da Santa
Casa, iam trocar-se em breve pelas rudes o penosas Pddigas
da mulher do pobre.
Porem, Maria, for10 de espi~ilo,confiava quo o Sonlior
lho daria forcas pare supporlar tão pesada carga.
Ainda qua dostinarla a ser esposa d'am carpintoira, ri'db
se julgoli degradada, ?orqile todo o Israelita era artista, p o i ~
296 LEITURAS P O P U L A ~ E S
O anjo Gabriel
SEPULTURA D E D A V I D
DESGOBER'Eh
Clermont.Gauneau, emprega110 rio consulado francez em
Jerusalern, acaba d0 fazer uma iinpwrtante descoberta arcl~eo-
logica, qual è a de um monolito c~iiadrado perlencenle n o
teniplo de Salomão, reectiílcado poi.F-lerodes o Grancla. Tem
aquelie monolito gravado, n'um dos lados, em ~ 3 ~ i l i f i ~ O s
caracleres d'essa egocn, um? extensa inscripqào, na qiial $0
prohibe sob poria de morle aos ~:cní,ins,penetrar no intorior
dos recintos sagrados que cercam o templo. Esla itiscripç3o
deslinaila exclusivainenie a servir do aviso aos estrangeiros,
esta recligida erri grego, isto e, rio idioma que eolão erii arl-
bptado 1101- Lodos OS POI'OS pagáos da Syriii. O qiie ali se 14
6 int~iramente conforme com as ~iolicjtls s ~ i b ~ ~ i r ~ i ~ l ~ ~ d i l ~
pelo historiador Josepho.
O NOSSO IEBOE
O MONGE BISPO
Nem os prcjuizos do tempo, nern os respeitos liumaiios+
foram capazes d e impcrar no estadista que pri:side ao goa
verlio cla França, quando riorneou para bispo de Quimper
e tlc LBon o monge benerliclirio Anselmo Nouvel do conq
vento fliridado, ha vinle e dois annos, no ceritro das flores-
tas d e l'lorvand na formosa Bretanha, pelo 1). RiIuard, q u e
confiou aquella casa aos Sagrados Corações do Jesus e Ma-
ria Immaculacla. Sobre [Irna d'essas vellias anl,as que serd
viam aos Druidas para inimolarern victimas Iiiiinatias c o l l o ~
cou elle uma eslatua da Mãe (le Deus, ciijo semblante oilla
e protege o piecloso asylo da oraçáo, d a penitciicia e d o es-
tudo.
N'esla solidão abençoada i? quo O excellente espirito, q l l ~
a n i h a os filhos do P. Miiard, torna facil e amauel a prati-
ca da obediencia e 'da cariclade íraternal, fazia as dolicias
d'aquelle qiie o presidenle da repob!ica frariceza, s c ~ n c c i o ~
nnndo e co7zstigrntzdo o princ!~~iod a liberdade dos institzt-,.
tos snonasticos, escolheu para pastor d'aquella dioceso. E
náo const\a que o sr. Tliiers fosse interpallado no parla-
menlo por ter feito uma tal escollia, nem tarui pouco que as
LEITURAS POPULARES 307
instituições ropublicanas d e França corressem o menor pe-
rigo.
Diz o Jlonde que uma tal n o m e a ~ ã oé iim facto que ha
seculos s e não tem dado em França: ir ao claustro tirar um
monge para ser elevado ao Episcopado.
Quando o novo hispn entrou na sua cidade eliiscopal pa-
ra o q u e era esperado solernnemenle, a fim d e s e r coiidu-
zido i i:atliedral com todas as honras do estylo e totnar
posse da sua diocese, nljresentou s e cqm o seu lisbitu do
monge, som outro distinclivo mais d o que a cruz peitoral
e barretinho (solideo) roxo, a receber as insignias episco-
paes, a mi1,i.a e a cruz. Depois a multirláo o felicilou e s e
mostro11 dcsejosa de receber as priiiiicias das bançáos q u e
elle eslll enrarregado d e derramar em nome d e Deus sobre
u m rebanlio celebro pela firmeza d e sua fé.
Pio IX, no principio r10 sei1 glorioso poritiíicadn dizia
que n s ordens rciligiosns sno tropns rtztxiliarcs sscoll~irlas
d o exercito de Jcm-Christo. scnzpre fdleis ao ur?aaaze~ztoe ci
defeza cla oociec~nde cioil e cla ~epzrblicnchriutü.
-->
VOBALAMIIA
(Continuado da pau. 286)
- Paulo, disse-lhe ella logo qtie o viu, eis-mo Tóra d o
palacio; a occasião náo porlia ser inell-ior; aritla, conduze-nie
di egreja, porqiio desejo que o baptismo corbe esta cari-
rnonia.
E, dirigindo se em seguida a todos quo podiam cnadjii-
val-a na sua prelençãô, siipplicou-lbes e conjnrou.os p:is;i n
arixiliareni: mas foi c m vão. Il:sta alma cti~iílidiie piira era
o alvo rl'uina indigna vileza c. d'umn verdadeira porlirliti. A
promessa, que Ilie haviam fcito sinceramente oii d e mii fú,
foi dosprezad:~no pnlticio; e todos os dias illiitliarn a inno-
acntn coin viirios pretexlos, som fazerem caso d:is repelidas
e tocantas si~pplicas da prínceza para que cumprissem o
quo Ilic tiriliam promettido.
Bom do1)ressa se dusmnscaron a Iiypocrisia; toda a fami-
lia iIe Vobali~inm:~spi rcoriin para a ol~rigareina ahsndonar
o desejo qiie a devorava. Debalde loi eiriliregiiila a voz da
persuaç3o; os malvados Ianqliraln pois rnáo rlo rnoios violen-
308 LEITURAS POPULARES
A ANDORINHA E O GATO
O MAIOR COIYIETA
SOMBRAS
M'EDO GASTO
RECEITAS
CRRONICA
HISTORIA NATURAL
O M A R T Y R DO G O L G O T H A ,
(Continuando de pag. 300)
O anjo illuminou a Virgem com um celeslial olhar, e de-
pois, estendendo a mão em sigrial de acalamerito, lhe disse
com doce e harmoniosa voz:
- Ez'zc te sazldo: e's cheia de ginpa: o Senhor 6 conltigo:
Tu e's bemditn entre todas as m.zclhsres.
Maria, com os oltios fitos rio cháo, n l o se atrevia a des-
pregar os lahios.
Como a flbr, quo, ao receber a gota de orvalho, que lhe
envia o ceo, abre as siias pelalas, dobra as siias folhas, as-
sim a pudibunda Virgem de Nazaretl~, om quanto o seu
amoroso coração se abria para albergar n'elle as rngste\rio-
sas palavras do enviado do ceos, curvava a fronte, receiosa
d e offendel-o com o seu olhar, ou talvez temesse como
MoysBs uêr o sezc Dezts e azorrcr.
-Nada tomas, Maria, tornou a repetir o anjo com do-
çura, inclinando a sua radiosa fronte, porque achaste grapa
LEITURAS POPULARES 329
diante de Dezcs; conceberús no teu seio e darcis á lzcz 26m
filho a qziem porás o nome de .Teszcs; Blle será grande e
chanzado o filho do Altissinzo. Deus Ihe dará o throno de
seu pae; reinara eternnmente sobre a casa de Jacob, e o
seu reino 17ão terci fim.
- Como se fard isso, pois eu não c o n h e ~ ovarão? disse
singelamente Maria, não sabendo como conciliar o tilulo de
mãe com o voto de virgem offerecido junto da ara d e Sião.
A Virgem não duvida, diz S. Agostinlio: Ella s6 deseja
instruir-se pa maneira corno deve operar-se o milagre.
- O Espirito Santo descerá sobre Ti, continuou o anjo,
e a uirtzide do Allissbno te cobrira com a szca sombra; eis
aqui porque o santo fructo que de ti ha de nascer será
chamado o filho clc Deus.
O mensageiro de Jehovi qniz deixar uma prova da ver-
dade das suas palavras iqiiella Virgem escolhida nos cecs,
como a urria sarita que devia ser por nove mezes a depo-
sitaria do Verbo divino.
-1zabel lua prima, lhe disse, concebezc urn plho na szca
scnectude, c este d o sexto mez da gravidez da qztc é repzl-
tada esteril, porqzce nada i ~ nirnpossiz)el a Deus.
Maria, anriiqiiilada ante os beneficias de Deus, crendo-se
na sua modestia indigna da escolha com que o Eterno a
honrava, baixou a fronte com htimildacle, dizendo:
-Eis aqui n escrava do Senhor; fuga-se em mim segun-
do a tua pnlavra.
O anjo desappareceu, e o Verbo divino fez-se carne para
padecer por nós o martyrio cruento da Cruz.
Maria, desde aquelle instante, conccbeu o pensamento d e
visitar sua prima, a quem tanto devia.
Isabel era mili entrada em annos, e Maria cheia d e cari-
dade.
Ser iilil aos seus similhantes era o seu maior prazer; se-
mear o bem, o gozo mais delicado e querido da siia alma.
Antes de transpormos os iimbraes clos ricos paranles da
Rosa cle Nazareth, diremos duas palavras do pae de S.
João Baptista.
Ouçamos o que diz Ataulfo de Saxoriia referindo-se ao
texto de S. Lucas:
UNOSdias de Ilerodes, rei de Jiidka, tiavia um sacerdote
Chamado Zacharias, da familia sacerdotal de Abea, uma d'a-
330 LEITURAS POPULARES
CAPITULO V
OS ALPES NA PRIMAVERA
... Os Alpes da Saboya envolvemse d'alvas nuvens, que
por momentos se dissipam para deixar vCr o magostoso
LEITURAS POPULABES 333
amphitheatro: a sua imponente immobilidade forma um con-
traste sublime com o turbilhão das nuvens e com o movi-
mento das aguas, que dá a todo o lago' o aspecto de um
immenso rio com uma corrente impetuosa.
E assim que a fiel natureza nos annuncia os seus bene-
ficio~.Antes de derramar sobre os campos as chiivas d a
primavera, envia os seus mensageiroslevar ao mundo a no-
ticia, e o murido sorri d'esperança e ù'alegria. Felizes ou
desgragados os Iioniens adoram e abençoam a s ~ b e r a n amão
que obra estes eternos milagres ; e conhecendo uma vez
mais q i ~ eella não os abandona, voltam com confiarir,a para
os trabalhos que dispõem a terra para receber no seu seio
as influencias ~ l e s t e s .E qual seri aquelle d'entre tibs que
não se entregue com affan aos seus misteres, quando ve-
mos, quando observamos que Deus traballia comriosco e
para nbs?
Com razão dizem os poetas clne a natureza i o templo
do Eterno, e nbs todos que, segiindo as nossas forças, tra-
balliamos com sentimentos de respeito e de amor, n'este
magnifico sanctuario, somos os sacerdoles e os sacrificado-
res.
Mas comprehenderão os liomcns a grandeza e a santida-
d e da sua missão e compenetrar-se-hão d'esta sublime ver-
dade? O especlaculo da nalureza que nol-a devia revelar,
exerce sobre todas as alinas a sua divina influencia? pa-
ra lastimar, mas 6 preciso confessar que uma grande par-
te dos viventes atravessam' a vida sem verem o logar d a
scena. Encerrados dentro dos muros das cidades, mettidos
em occultos rotiros, nunca veein o c60 nem a terra o o s
seus pensamentos se limitam como o seu horisonte. São
para lamentar estes infelizes reclusos ; é preciso desejar-
lhes, de tempos a tempos, alguns dias bons, ou ao menos
algumas horas ao ar livre, oride ellas pousam contemplar
as maravilhas da creaçáo e alegrar-se com o espectaculo da
sua belleza. Elles voltariam talvez com saiidade para as suas
tristes habitações, mas levariam comsigo lembranças conso-
ladoras. Voltarão para os seus obscuros trabalhos, com p
sereno pensamenbo de que a Proviclencia, que para com ei-
les tem sido tão benefica, que tanto poder e gloria lhes
tem dado nos seus risonhos campos, não se esquece d'el-
les na sombra em que se passa a.sua vida; cercados das
3m LEITURAS POPULARES
DEUS
A ESCADA DE ,OURO
A caridade e uma escada de ouro; e esta escada t e m
oito degraus.
442 LEITlJRAS POPULARES
PROPHECIA
O NOSSO HEROE
CANTIGAS
ANECDOTB
N'um livro recentemente publicado em Inglaterre se114 o
seguinte caso, acontecido com a sr." Rothschild, mãe do
grande capitalistii d'este nome. A boa velha senliora, achan-
do-se perigosamente enferma dizia ao seu medico:.
-Faça, meu bom doutor, alguma cousa, algum esforço
por mim.
--Mas é que, minlia senhora, eu não posso fazel-a mais
moça.
-Nem eu lhe peço tal, doutor; dar-me-hei por mui sa-
tisfeita, se me fizer mais velha; e tanto mais satisfeita quanto
mais velha conseguir que eu seja.
COIEDIAS
O BARTYB DO G O L G O T B A
Trndiq6as do OrTenJs
(Continuado da pagina 388)
LIVRO I1
O edicto do Cesar
Donzellinhas formosas de Nazarelh que abris o postigo
das vossas janellas, quando a luz indecisa d'alva vos envia
do Oriente os bons dias : v6s não madrugaes tanto como
a casta Esposa d e JosC o carpinteiro. Olhae a,.. li vae...
Sobre a sua divina cabeça, que ha de ver-se coroada do
anjos, descança o pesado canto das nazarenas.
Os seus pks, a que a lua ha de servir de pedestal, des-
lisam-se pela vereda que conduz 6 fonte, ligeiros como os
d e uma gazella.
Sangue dc reis corre pelas suas veias : mas o throno dos
seus maiores desfez-se sob as garras da aguia romana, e a
coroa dos seus illiistres antepassados repousa sobre a fron-
te de um senlior estrangeiro.
A siia estirpe real náo a ensoberbece; modesta e labo-
riosa, occupa-se dos que-fazeres da casa como ;i ultima das
mulheres liebreas. Porque Maria recorda as palavras do Psal-
mista seu antepassado : Toda n Iionra da filha de 2tm prin-
cipe consiste no interior d e sua casa.
A Virgem chega 4 fonte ; algumas nazarenas quc a se-
guem, chegam tambem e trocam a saudação dos israelitas.
- A paz seja comtigo, lhe dizem.
- h paz seja comvosco, Ihes responde ; e pondo a pe-
sada urna sobre a cabeça, torna a encaminliar-se para Na-
zareth pela tortuosa senda dos Nopaes.
Então as nazarenas se reunem em redor da fonte. 0 es-
tado da Virgem não escapou aos curiosos olhares das mu-
lheres.
Uma d'ellas faz observar i s outras que Maria esth gra-
vida, e ainda qiie rião se atreveram a da,r l1.e os parabens,
s e regosijam no seu interior, e tencionam propagar a nova
pelo povo.
Entretanto, JOSE trabalha na sua pequena loja. O nobre e
962 LEITURAS POPULARES
WEGOLOIARTYR
Assim chamam os gregos n S. Jorge, e quer dizer esta
palavra - o Grã-Martyr ; - isto e marlyr por excellencia.
Na vida d'esle santo se 16 que, estando preso pela F6 e
ja deslinado para a fogueira, os tyrannoa se recearam que
não ardesse (como a outros muitos martgres tinha succedi-
372 LEITURAS P O P U L ~ R E B
E P I T A P B I O DE UH RELOJOEIRO
Um relojoeiro hespanhol compoz para si mesmo o se-
guinle epitaphio :
LEITURAS POPULARES 37.3
u Aqui jaz em posiçzo horisonsnl o corpo do relojoeiro
a honra fi~ia msla real cfe sua vida e a pruclcncia o regu-
...
lador de suas acções. Os seus movit~~entos foram sempre
bem regz6lados, e o temor de Dcus e 13 amor do proximo
foram sempre a chave da sua cori(1ucta. Dispnntia tão bem
do seu tentpo que as horas, para elle deslisavani n'urna
larga osphera de praser e delicias, at6 que a cordu de seas
dias se lhe quebroii aos cincoenta e sele annos ; levou com-
sigo a esperanca de comparecer livre d e loda a imperfeição
perante o grande relojoeiro do universo.
O NOSSO HEROE
(Continuado de pag. 318)
O duque de Nemours yuiz que a sua riova esposa visi-
tasse o seu apanagio, do qual Anuecy era a capital.
Enviou-a pois a esta cidade aconipa~iliadados cardiaes d e
Lorena e de Guise, seus ciinhados, e d'uma nunierosa co-
mitiva liouve, como era natural, grandes feslas e toda a
nobreza da provincia correu a Annecy para \,e[-a.
Possuia a Saboia um monumento Iiislorico e religioso d e
valor iiicoinparavel. Era o leriçol de Nosso Senlior, conhe-
cido pelo nome de Santo Sudario e qiie Iioje se conserva
na capella do palacio real de Turim. Diremos como é q u e
esta inextimavel reliquia veiu para a Soboia.
Nicodemos, foi quem primeiro o possuiu e o tinha
deixado em herança ao mestre de S. Paiilo, o doutor Ga-
maliel. Depois passou para as mãos de diversos discipulos
do Redemptor. Quando Tito foi pôr sitio á cidade d e Daviù
0 d e Salomão, os christãos subtrahiram ao roubo o precio-
so lençol e o trouxeram comsigo, quando voltaram a reedi-
ficar, suas casas. Em 1187, o famoso Salah.Ecldin, a quem
chamamos simplesmente Saladin, tomou Jerusalem, e Guy
d e Lusignan fugiu para o seu r'eioo d e Cliypre, levando
comsigo todos os seus thesour'os, entre os quaes s e encon-
r o u CI Santo Sudario.
Como E que elle d'ali foi para a Borgonha? 2 isto qiie
s e ignora. O caso 6 que uma nobre seuliora, Margarida d e
Cliarney, mulher de Huberto de Villarsexel, conde da no-
374 LEITORAS POPULARES
1 Uma vpa por todas deve dizer-se que tudp o qiio diz respeito ao
Sarito Sudario, a S. Frnncisco de Salet, soa principea de Sltboia, hs fa-
miliaa nobiaes cittidaa n'este'traballio, foi bebido nas mais authenticas
e reepeitaveia fonteo conta mo^ a LiieWria, e este romance nbo C mnie
do que uma suporfetaçào ?c bordado apresentada sobre um esboço in-
teiramcntc hi~t,~rico.-A este prop~aito6 que erit~ndemosdever ao?-
teatar soa histoiiudorea de S. 1C"raneisco de Sales esta trnneferencin
do Santo Sudurio para Annecy. E ~ t srigrada a reliquia apenas foi rem
movida tr:s vezea. A ùuqueza Claudia de Snboia o teve algum tempo
QO aastello de Billiard em Bugey ; o duquk Oarlos 1 11, obrigudo p~Ja
guercti a deixar a 6abo a, o levou par* Servil, Niza e finalmente,,
1478, o duque Mauiiel Philibert o fez trairnportnr para Turim, onde
tem estado, não obstante a promessa que se tinha feito dc o enviar B
Çhambeily.
Z pqsgon, oura de Chiipeiry, Memoires pozlr Z'l~istoireeccl~ricuiti-
pzlel @c;. U ~ C L I X . - O cardeal Billiart, Mvqoires pour sei.i~irá 2'fi.i~-
toire ecclraid~ti~ue du dinceee de Chambery. Augley, 1CI2360ire du d i o ~
cese de Maurieane.
376 LEITURAS POPULARES
tomal-o á siia conta, como uma cousa que lhe pertencia, fa-
zer-lhe todo o bem e contribuir para que elle s6 vivesse
para honrar e fazer ' h g r a r os mysterios adoraveis d e sua
paixão e morte.
Deus ouviu-a.
O menino naplceu em quinla feira, 21 de agosto d e 1557,
entre as nove e as dez horas da<noilc,no castello d e Tho-
rens, n'um aposento a que chamavam a Camara de S.
Francisco &Assis.
Foi baptisado no dia s e p i n t e e >teve por padrinho D.
Francisco de Ia Flechkre, prior de Saleuzy e a mãe de sua
mãe que tinha contriihido segundas nupcias com messire
Boaventi~rada Flkchere. O menino recebeu o nome de Fran-
cisso Boaventiir;.
Devia chamar-se, um dia, S. FRANCISCO ...
DE SALPS
As primeiras palavras, que sua boca proferiu foram es-
tas : Deus e minha mãe rnzrito me querem!
A primeira falta que elle commelteu foi um rocibo. Ti-
nha lirado a um operario um atacador de seíla de muitas
cores. O operario o procurou por torla a parte. Então o
menino foi ter com seu Iiae e Ilio disse :
- Meu pae e meu seotior, aqui es16 o atacador d'aquella
pobre homem. Fui eu que Ihio tirei ; estou arrependido a
peço perdão, esperando que m'o haveis de concetler.
. O Senhor de Sales foi inexoravel. Francisco foi flagella-
do em presença de todos de casa. Perdoem as nossas lei-
toras ao pae de S. Francisco de Sales este crime t i o ...
conveniente.
Impossivel seria referir aqui todas as acções da sua fn-
fancia. Um grande volume não chegaria para cornprehender
tudo. Basta dizer que, desde os seus mais tenros annos, se
divisava n'elle o qrie viria a ser.
Na idade de G annos sru pne o mandou para o collegio
da Roche fundado em 1304 por João d'Angeville sob a.di-
rêcção de Pedro Bataillard. Elle fez a admiração de seus
condiscipulos, de seus mestres e das familias d'aquelles
jtios.
Dois annos depois, tendo o se~iliorde Boisy abandonado.
inomentaneamenle o seu caslello do Sales,,retirou Francisco
do collegio da Rocfre e o poz no d e Aiinecy com o fllho
'o senhor de Breus seu irmão.
LEITURAS POPULARES
CAPITULO ,IV
Seja feita a. tua vontade
APPELLAÇÃO
Notificando-se ao delfim de França, quo depois, foi Car-
10s VII, a sentença assignada por el-rei, sqii pae, e pelo de
Inglaterra seu iniinigo, na qnal o tleclaravam por incapaz
de succeder na coroa, rcspondeti que appollava. Instaram-
lhe com admiraçán que tlissesse para qiiein. -
Para a gran-
delia do meu coração e para a ponta da minlia espada. -
E não se enganou.
=s3s%-
BAGO D A R E P U B L I C A
Ao tliesouro do principe chamava o imperador Trajano
- Baço da republica; porque., assim como, crescendo o
baço, se COnSOmb o corpo, assim quanto mais cresce o the-
souro do principe, tanto mais s e vae destruindo e desfal-
lecendo o reino.
D. F R E I M I G U E L B A N G E L
Este illastro varão, natural de Aveico, foi religioso da
ordem de S. Domingos, professo no convento da sua patria.
Logo que complelou os seus estudos, foi nomeado professor
de Escriptura Sagrada e, pouco depais, mestre de noviços;
d o convento de Bemfica, logar que exerceu dignamenta at8
que foi exercer eguai emprego na universidade da ordem
dos pregadores, em Lisboa. Não se sabe ao certo o anno e m
que nasceu ; sabe-se que em 161lh chegou. a Goa, enviado.
pelo prelado da sua ordem. ,Conhecia este, havia jCi muito
tempo, a necessidade de reformar os conventos do oriente,
cuja metropole era em Goa, Falou a tal. respeito com frei
LEITURBB POPULAnEG 319
Miguel Rangel, que promptificou a ir li India, para tratar
das necessarias reformas. Ahi se demorou, como vigario
geral, por espaço de qualro anrios, findos os quaes, deixou
a India para ir empregar-se nas n~issões de Solor. Derno-
rou-se n'esta ilha ate i02ti, voltando n'este mesmo auno a
Goa, onde foi prior do convento da sua ordem e professor
de Theologia. O seu zelo pela salvação das almas não lhe
permiltiu que permanecesse por inuito tempo em Goa ; por
isso partiu de novo para Solor, onde chegou ein 1628. Ahi
viveu tão austeramente qrie seus exemplos, mais efficazes
ainda que siias doutrinas, converteram muitas almas e cha-
maram muilas a alistarem.se na milicia do christianismo.
Sete annos duraram os seus trabalhos n'aquellas paragens,
aLB que lhe foi dada a mitra d o Cochim, de cuja diocese
foi o setirno bispo. Elevatlo a tão alto cargo, foi pela sua
humildade menos bispo do que simples monge. A sua ca-
ridade levava-o a disperider lodos os seus liaiferos com os
pobres, chegando algiirnas \ezes a dar a propria cama. Rurica
o afliigiani os trabalhos, as mortificações, as contrariedades !
Larneolava a falta de meios, não por amhição, nias porque
desejava ler mais recursiis p;ira dar esmolas, de sorle que,
por mais rendosa que fosse a milrn, semprc! o seria pouco,
para quem tarilo qiieria fazer beni aos pobres I Fez todas
as reformas que na sua diocese julgou necessarias. Visilan-
do a, ebegori li cosla de Tuciitiirim, onde os Iiollandezes
pescavani grande quantidade de aljcfares. Nolou que a am-
bição dos mesmos hollaiidezes era o causa da oppreusão,
qu& as clirislãos solfriarn. Iridigriado eom isso e cheio de
ze'ió pelos filhos de Cliristo, frei Miguel Rangel amaldiçoou
aquelles mar;es, onde desde então nunca mais se ericontra-
ram riqucaas. Falleceiido D. frei Sebastião de S. Pedro, ar-
oebispo de Goa, foi cliamado, para governar iriteriria~neote
esta diocese, D. frei hliguel Rangel, que a regeu por espaço
de dois ariaos, findos os quaes, se retirou a Cochim; onde
falleceu em sexta feira 44. de selembro de ,1G46. A sereni-
dade de espirito acompanhou-o durante a sua doença ar&
sollar o ultimo suspiro.
Seus re8los rnortaes foram sepultados na Se de Cocl
sondo acbados incorruplos um anno depois da sua m ú i c ~ .
P a s s a d ~ sannos, os religiosos de S. Francisco transporta-
ram-os para o collegio de S. Boaventura, de Goa. Em 1666,
foram d'ali transladados; Qpm grande pompa, para a egreja
d e S. ,Domingos da mesma cidade, onde jazem em mausoleu
magnifico. Este varão, que illustroil a. ordem a que per-
tencia, a patria que Ilie deu I, berço, a diocese de qiiefdra
prelado e as lerras onde missiorijra, escreveu uma obra re-
lativa 6s missõ$s (10 oriente, em que revela que a intelli-
gencia e aptidão para a litteratara eram tambem dotes que
ornavam o seu espirito magnanimo e bemfilaejo.
Na vida e morte cl'este irisigne.uafio deu-se uma nolavei
coincidencia. Fora elle muito devoto da Exallaçáo da Santa
Cruz. Tomou o vliabito de noviço' no dia ern que a Kgreja
resa d'est'a solerrinidade : professou em iglial dia : em igual
dia morreu e, firialmente foi bispo de Cochim, diocese cuja
-
invocação B Santa Cruz.
FILHA DE P H A R A O
Os jcrnaes inglezes annunciam o oasamento da mulher
mais ext~aordinaria~ que balvea existe aclrialmenl na Europa.
Trala-se de RiIahcl Gray, rainha dos Isohemios (ciganos).
Mabel Gray, adíniravel donzella de lvirrle e qu'atrio ou+vinte
e cinco anaos, 6 a rainhaAlieradilariad@JodJosbs'boliemios
de Inglaterra, Escossia o Irlancla, e, Deus sabe se os ha'!
Diz-se descendente directa dos Pharaós do Egyplo e, como
elles, adora Isis e Osiris: O seu7poder ~ ã Bopara se desde-
nhar'd'elle. Ella reina com effeito sobre tres oii quatro~rnil
mendigos de sacco e corda, catraeiros, pickpoooclcets, tr
Yi-
e elixires e marialas de t da
cegamente. Se Mabeli Gray
~ r a dqile dt?seja4a mor1e:lcle uma
metleram ( o assassino 'sem faze-
elebre ledora de sinas do R'eino-
00 reis) ~1la"iiz o vosso passa-
ro. O mancebo que com ella vae
rtence a uma exdeilente fami-
na em terras. *Ir$ser filho dw
Ptfarabs e rei dos bohemios? Isso &que ninguem pbde dizer,
~isto;quese ignoram os tepmosl &o seai contrato de casa-
&&dto&
canunAs POPULA~EE 881
E porem certo que o dia da boda ser8 um grande dia d e
festa para todos os mendigos e saltimbancos dositres rei-
nos-unidos.
CANÇÃO DA ENGEITADA
CANTIGA
AIIORISMOS
Abril, aguas mil coadas por um niandil.
- Abril frio e molhado, enche o celeiro e farta o gado.
-No priiicipio ou no fim abril vae sem ser ruim.
A PIOMA E O CRAVO