O documento analisa os mecanismos utilizados pelo filme "Os Anos JK" para construir a narrativa histórica sobre o período da presidência de Juscelino Kubitschek. O filme usa três mecanismos principais: 1) cria uma continuidade histórica positiva entre JK, Getúlio Vargas e outros líderes; 2) estabelece paralelos entre eventos do governo JK e da ditadura militar; 3) desenha uma trajetória individual harmônica entre o destino de JK e o da nação brasileira.
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Título original
Os anos JK, como fala a história - Jean Claude Bernadet
O documento analisa os mecanismos utilizados pelo filme "Os Anos JK" para construir a narrativa histórica sobre o período da presidência de Juscelino Kubitschek. O filme usa três mecanismos principais: 1) cria uma continuidade histórica positiva entre JK, Getúlio Vargas e outros líderes; 2) estabelece paralelos entre eventos do governo JK e da ditadura militar; 3) desenha uma trajetória individual harmônica entre o destino de JK e o da nação brasileira.
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O documento analisa os mecanismos utilizados pelo filme "Os Anos JK" para construir a narrativa histórica sobre o período da presidência de Juscelino Kubitschek. O filme usa três mecanismos principais: 1) cria uma continuidade histórica positiva entre JK, Getúlio Vargas e outros líderes; 2) estabelece paralelos entre eventos do governo JK e da ditadura militar; 3) desenha uma trajetória individual harmônica entre o destino de JK e o da nação brasileira.
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falar. Os Anos JK, uma Trajetria Poltica, de Slvio Tendler, segue o percurso polti- co de Juscelino Kubitsthek, atravs do qual desponta um perodo recente da vi- da poltica brasileira. Quais os mecanis- mos que Slvio Tendler aciona para fazer falar este perodo da histria do Brasil? Apontarei para alguns desses mecanismos que me parecem bsicos para a construo da histria nesse filme. O filme parte da premissa de que o re- gime poltico atualmente vigente no Bra- sil ruim. O que ele no precisa demons- trar, pois dirige-se implicitamente a um pblico que pensa dessa forma. Bastaro algumas imagens grotescas e sinistras de presidentes militares (por exemplo, a de Costa e Silva com Castelo Branco) para confirmar esse dado. Em oposio ao atual regime, dado co- mo negativo, propem-se o governo e a figura de Juscelino como positivos. De que forma isto se d? Um bloco de seqncias parece dese- nhar a imagem que Os Anos JK pretende transmitir do presidente. Comea com a revolta de Aragaras, a primeira crise mi- litar do governo JK, e vai at a primeira seqncia de Braslia. No caso de Aragar- as, JK defronta-se com a extrema direita: ele opta pela anistia; sua prudncia e ha- bilidade evitam crise maior, a revolta neutralizada e absorvida. A seguir, o ento presidente da UNE conta seu en- contro com JK: JK sabe demover o estu- dante do movimento que a UNE estava desenvolvendo, JK esvazia a crise estu- dantil em nome da nao. Um lder sindical conta que JK fez promessas aos operrios de So Paulo e as cumpriu, mas os operrios perderam na justia; falando NOVOS ESTUDOS N. 1
serenamente, JK evitou que o movimento operrio se radicalizasse. O advogado de Lus Carlos Prestes explica como o lder comunista saiu da cadeia e ficou em liber- dade durante todo o governo JK, que ele qualifica de liberal. Mrio Martins, ex- deputado da UDN, conta como JK pediu ao Congresso autorizao para processar Lacerda, foi derrotado, e JK respeitou o Congresso. Esta srie de situaes e relatos selecio- nados pelo filme valorizam a imagem de um presidente liberal, que sabia lidar com os vrios setores da sociedade e as v- rias foras em presena no jogo poltico. De um presidente que absorve e neutrali- za os conflitos dentro da legalidade, in- clusive quando hostilizado. Fica acima dos interesses particulares, sabe harmoni- zar contradies e antagonismos. Funcio- na como um regente da Nao. essa imagem positiva de Juscelino que o filme constri. Mas seria ingnuo construir uma ima- gem totalmente positiva. Isso poderia fa- zer de JK um heri, o que acabaria tendo um efeito contraproducente. Assim, o fil- me procura mostrar tambm, pelo me- nos, as crticas que j so feitas a Kubits- chek. JK ser, portanto, alvo de crticas: ele abre o Pas ao capital estrangeiro, no altera a estrutura agrria etc. Mas o filme toma o cuidado de fazer absorver essas cr- ticas de modo a no prejudicar o carter positivo da imagem do presidente. As cr- ticas so formuladas com graa irnica. Comentando a implantao da indstria automobilstica diz-se, por exemplo, que JK confunde a Volkswagen do Brasil com a Volkswagen no Brasil. Um tom de amvel irreverncia j tinha sido usado quando se comentavam as qualidades mundanas de Juscelino: dan- ava bem e era apelidado "p-de-valsa". No momento em que o locutor faz esse comentrio, a imagem mostra Juscelino danando mas esbarrando no casal atrs de si, brincadeirinha que cria uma relao descontrada e prepara o clima para que sejam feitas crticas, amveis, a que no se dar maior peso. A continuidade histrica Como se inscreve essa imagem positiva do regente da Nao dentro da Histria? Tenho a impresso de que o filme monta dois mecanismos bsicos para organizar a Histria e situar JK dentro dela. Um deles consiste em criar uma continuidade hist- rica de que Juscelino Kubitschek um elo, em referir-se a uma tradio histrica, positiva para a Nao, de que o presidente o continuador. A pedra de toque dessa tradio Getlio Vargas. Inicialmente qualificado de caudilho e ditador, Vargas sai da vida e do filme como personalidade positiva. O filme faz, ento, uma associao entre Vargas e Kubitschek. A carreira de Jusce- lino nasce nos anos em que impera Get- lio e se desenvolve a partir da como um processo contnuo. No apenas no incio que a trajetria de JK encontra-se com a de GV. tambm no final: o caixo de Juscelino carregado pelo povo, como o fora o de Getlio. E mais: o suicdio de Vargas ecoa na eventualidade de um sui- cdio de Kubitschek que seus amigos sou- beram evitar "porque a Nao no supor- taria mais um cadver". A tese do suic- dio, o locutor do filme no a encampa, mas a montagem deixa ao depoente M- rio Martins todo o tempo para desenvolv- la. A linha de continuidade, porm, co- meara bem antes, com os bandeirantes: Juscelino retoma o desbravamento inicia- do trs sculos antes comenta o locu- tor, no sem alguma ironia, mas ironia que no chega a desmentir a informao. Essa continuidade "bandeirantes-GV-JK" de carter positivo prossegue com Joo Goulart, que tem a coragem de tocar em problemas que JK no ousara abor- dar. Essa linha positiva (o "sistema de Vargas", "os de dentro", para retomar expresses de Skidmore, que devem ter inspirado, em parte, os autores do filme) sofre interrupes: o filme tratar negati- vamente "os de fora" quando chegam ao poder: o largo sorriso de Caf Filho (quase um primeiro plano) logo aps o suicdio de Vargas, em contraste com a comoo nacional, d desse outro personagem a imagem de um oportunista maquiavlico. O "entreato" Jnio Quadros apresentado de forma quase (?) grotesca. A continuidade individual Ao lado da linha de continuidade his- trica, encontramos outra: a individual. Biografias de homens polticos no raro apresentam a vida poltica do biografado como a realizao de uma vocao pessoal: o filme de Jorge Ileli, por exemplo, detecta na criana Getlio Vargas os sinais do que viria a ser o chefe de Estado. Os Anos JK no segue essa linha. Meca- DEZEMBRO DE 1981
nismos extrapessoais so levados em con- siderao, quando se diz, por exemplo, que a mquina poltica mineira que leva Juscelino presidncia. De qualquer mo- do, aspectos psicolgicos de Juscelino so ressaltados: ele dinmico, entusiasta, prximo ao povo, cordial etc. E h nele algo como uma vocao, uma linha de fora individual: essa trajetria, que vai, sem pausas, do adolescente telegrafista ao presidente da Repblica. As suposies que O locutor faz: em Diamantina, talvez Juscelino j sonhasse com Pampulha, em Belo Horizonte talvez Kubitschek j so- nhasse com Braslia. O gesto poltico aparece ento como a concretizao de um sonho anterior. Tra- jetria individual e trajetria nacional no se contradizem. O locutor sempre pronto a nos indicar como devemos en- tender as coisas nos d a moral da his- tria ao citar uma frase atribuda a Jusceli-no: "Os indivduos, como as Naes, fazem destino". Com JK, destino individual e destino nacional fundem-se harmoniosamente. O sistema de ecos Outro mecanismo a que recorre o filme o que se poderia chamar de sistema de ecos. J falamos de alguns desses ecos: o sui- cdio e o caixo de Getlio ecoam no hi- pottico suicdio e no caixo de Juscelino. So ecos positivos. Em 1964, a linha de continuidade in- terrompida, entra-se na fase negativa. O filme dispe elementos em ecos positivos (JK) e ecos negativos (ditadura militar). Um primeiro elemento evidentemente o militar, positivo na figura legalista e na- cionalista do General Lott, negativo nas figuras dos ditadores ps-64. Outras situaes organizam-se nessa forma de paralelismo. Por exemplo: Ku- bitschek pede ao Congresso autorizao para processar um deputado. Autorizao negada, Governo derrotado, JK respeita a deciso. O Governo militar quer processar um deputado. O Governo derrotado, o Congresso fechado. Ao dilogo de JK com o presidente da UNE, o filme responde com o estudante morto na ditadura militar. anistia con- cedida aos rebeldes de Aragaras, corres- ponde a no aceitao, pelos militares, da anistia concedida por Goulart aos mari- nheiros, e as "punies" infligidas pelos governos militares inclusive ao prprio Kubitschek. No necessrio que cada se- qncia tenha seu eco para que este me- canismo de paralelismo comparativo fun- cione como princpio de organizao da Histria. Bastam algumas. A estrutura de algumas frases da locu- o tambm nos prope uma compreen- so da Histria pelo paralelismo. Por- exemplo quando o locutor fala de "um 11 de novembro s avessas": a metfora refere-se ao 11 de novembro de Lott que assegura a legalidade e a posse de JK (ato positivo) para designar o ato nega- tivo de impedir a tomada de posse de Goulart. Ou quando diz que os tanques substituram os palanques na Central: o golpe (ato negativo) designado atravs de uma referncia ao comcio de 13 de maro (ato positivo). Ou ainda ao afirmar que Juscelino Kubitschek personificou o "oposto" do que Jnio Quadros expres- sou, a "inviabilidade da democracia". A histria do filme organizada em ecos positivos e ecos negativos. O que me parece que sustenta a cons- truo do filme tal como a descrevo que a Histria fornece lies e devemos apren- der com elas. E a Histria, de fato, forne- ce lies, modelos polticos etc., mas ela s fornece as lies e os modelos que se puserem previamente nela. Na medida em que os autores de Os Anos JK elegeram Juscelino como mode- lo, mesmo com ressalvas, eles constroem a Histria de modo a que ela lhes fornea, e a seu pblico, o modelo que eles nela pu- seram. A Histria devolve o que foi inves- tido nela. Poderamos estender a questo e perguntar se seriam esses mecanismos o do paralelismo, o da construo em ecos etc. uma forma de elaborar a His- tria do Brasil no cinema, uma vez que encontramos procedimentos muito pare- cidos em filmes como Rebelio em Vila Rica, dos irmos Santos Pereira, Terra em Transe, de Glauber Rocha, ou Os Herdei- ros, de Carlos Diegues. NOVOS ESTUDOS N. 1
Imagem e locuo Nesse processo, as imagens, catadas no acervo das imagens cinematogrficas do passado, tm uma funo legitimadora, do chancela de autenticidade ao modelo escolhido. As imagens cinematogrficas so cercadas por toda uma mitologia que as qualifica como documento, reflexo, ex- presso do real. Ainda mais no caso brasi- leiro, em que poucas imagens sobrevive- ram destruio do acervo cinematogrfi- co, e em que se julga que no conhece- mos a Histria, que a Histria surripia- da pela educao, pela propaganda e pela ideologia oficiais. O simples resgate de imagens-documento do passado parece ser o prprio reerguimento da Histria so- terrada que falaria por si s. As imagens, de fato, falam muito pou- co. A potencialidade que elas tm de fala enorme, mas sempre to dispersa e to ambgua, que as imagens nunca apresen- tariam o discurso da Histria se no fos- sem rigorosamente domadas e enquadra- das por uma srie de mecanismos (sele- o, montagem, msica, locuo), meca- nismos que as levam a dizer o que se quer que digam. Os Anos JK, como muitos outros filmes histricos, loquaz. O texto (depoimen- tos e locuo) tem como funo dirigir a imagem para a significao pretendida, limp-la de outras interpretaes poss- veis, tir-la de sua ambigidade. O texto, nessa concepo de filme, a muleta da imagem. Os Anos JK oferece inmeros exemplos que comprovam essa afirmao. Peguemos o caso de Aragaras: uma srie de fatos -nos comunicada com o acom- panhamento de sua significao: revolta, anistia, chegada ao aeroporto, o sentido da anistia. Toda a amplitude dos fatos e sua significao nos so transmitidas pela locuo, sem a qual no teramos idia "do que aconteceu". As imagens ilustram as afirmaes da locuo e nos do uma ambincia, uns rostos, umas roupas, uns olhares, que em si no significam nem X nem Y. Mesmo nessa ambincia, a locuo sente necessi- dade de intervir para canalizar-lhe a signi- ficao e expulsar outras no pertinentes "lio" da Histria. Quando vemos ho-
mens, num aeroporto, com bandeiras brasileiras nas costas, a locuo nos infor- ma que estamos vendo revoltosos de volta ao Rio, ''retoricamente" envoltos em bandeiras. A rigor, no era preciso dizer que estavam envoltos em bandeiras, j que o estamos vendo. A redundncia imagem/locuo tem a finalidade de iso- lar determinado elemento, canalizar o olhar e a ateno do espectador sobre ele, e desvi-lo de outros possveis elementos. No s isolar o elemento, qualific-lo tambm: o locutor especifica: "retorica- mente". H por parte da locuo como que o temor de que se estabelea entre o espectador e as imagens uma rela- o no prevista. E a nossa tendncia aceitar essas significaes quase como ex- presses espontneas das imagens. s vezes, pode ocorrer que o especta- dor alcance um relacionamento mais rico com as imagens, subvertendo o filme, isto , escapando s significaes, especifica- es, selees etc., criadas pela locuo e pela montagem. Tal olhar, que os meca- nismos de significao do filme rejeitam ou no destacam, poder ser valorizado por um espectador que o ter detectado por conta prpria. Ou seja, o espectador, acima e alm da construo do filme, poder encontrar outras leituras, ou mesmo entrar no cam- po de ambigidade da imagem. O olhar de Getlio Outro caso: Getlio Vargas discursa, o microfone alto, ou o ngulo da cmera d a impresso de que o microfone to ou at mais alto que o orador, o qual qua- se desaparece atrs dele; Getlio est cir- cundado por pessoas que se comprimem, formando em volta dele uma espcie de parede compacta de roupas e gente. Num determinado momento, Getlio desvia o olho do texto que vinha lendo e dirige um olhar tenso em direo cmera, co- mo que por baixo do microfone. A ima- gem termina com esse olhar. A situao de Vargas periclitante, ele est prestes a perder o poder, o que nos informa a lo- cuo. O locutor no faz nenhuma refe- rncia ao olhar do personagem. Assim mesmo, a significao desse olhar est DEZEMBRO DE 1981
OS ANOS J.K: COMO FALA A HISTRIA
quase totalmente determinada pela signi- ficao global da seqncia em que foi montado. De fato, nessa posio, o que lemos um Getlio cercado, encurralado no palanque, engolido pela situao, e seu olhar interpretado como o de uma pessoa que se sente acuada. O que tam- bm pode ter sido reforado pelo corte. A imagem original talvez se prolongasse aps o olhar, diluindo-se no conjunto do plano; mas o corte logo aps o olhar pode ter lhe dado um realce maior. Aqui, a montagem atribui imagem uma funo metafrica. Esse olhar, que pode ter tido mil causas, desde a tenso provocada pela situao poltica at um rudo ou uma movimentao inesperada perto do pa- lanque, recebe uma significao qual o espectador no consegue escapar: Getlio acuado, em perigo poltico; estar espre- mido no palanque vale por estar espremi- do pela situao. O sorriso j citado de Caf Filho rece- beu um tratamento semelhante. Os temas do poder O material de base de Os Anos JK era provavelmente tedioso. So os Primo Car- bonari, os Canal 100 da poca. No entan- to, o filme no nem um pouco tedioso. que o material fornecido por velhos cinejornais que nos apresentavam discur- sos interminveis, banquetes, assinaturas de documentos, mundanismos foi re- trabalhado pelos mecanismos que apontei e adquiriu novas significaes. Filmes co- mo Os Anos JK so como que a redeno dos aborrecidos cinejornais. Mas eis um novo problema. Qual o ma- terial de base que os cinejornais oferecem a um filme como Os Anos JK? Um histo- riador cunhou uma expresso feliz para designar o cinejornal brasileiro e toda uma modalidade de filmes document- rios: a "crnica dos vencedores". Esse ci- nema s mostra autoridades, polticos, militares, atos oficiais, alta sociedade em exibies etc. Pela sua forma de produ- o, o cinejornal brasileiro no tem como escapar: ou produo estatal (no caso dos jornais do DIP ou da Agncia Nacional), ou algo muito prximo da matria paga. de perguntar que marcas deixa o cine-
jornal nos filmes de montagem histricos, j que os autores no tm outro material documentrio a que recorrer. Dificilmen- te se poder mostrar imagens que no se- jam as das elites ou que no sejam as do ponto de vista das elites. Em que medida as caractersticas desse material j no operam uma seleo te- mtica? O que mostrar da vida operria nesses anos JK, se os operrios nunca fo- ram tema do material cinematogrfico usado pelo filme? Que fatos eventual- mente importantes tiveram que ser elimi- nados ou s brevemente referidos, se no h filmes que os tenham documentado? Como escapar s implicaes ideolgicas das imagens originais, que so imagens tomadas da tica do poder? A quase totalidade dos filmes de mon- tagem histricos feitos no Brasil gira em torno de chefes de Estado: os trs sobre GV, o JK, brevemente JQ, filme ainda inconcluso. Por fazerem biografias de ho- mens polticos, por abordarem a poltica ao nvel da cpula, por aderirem bastante ou totalmente s figuras abordadas, os fil- mes sobre GV e JK circulam na mesma es- fera de seu material de base, mesmo que elaborem significaes diferentes deste: a poltica profissional, a cpula do poder. Por esse motivo e, acredito, s por esse motivo tais filmes so realizveis. Outros temas, como sejam o movimen- to operrio, a represso e o medo durante o Estado Novo ou o Governo Mdici, a vi- da cotidiana etc., no poderiam ser trata- dos atravs do sistema de filmes de mon- tagem com material de arquivo. A recu- perao, a revalorizao, a nova significa- o das imagens cinematogrficas ligadas Histria do Brasil acabam operando pre- dominantemente, seno totalmente, no mbito do poder. Quando se louva to insistentemente a recuperao das ima- gens histricas brasileiras, o que de fato se louva a recuperao das imagens do po- der, mesmo se tratadas com ironia. hovos Estudos Cebrap, 3o Paulo, v. 1, 1, p. 32-36, dez. 81 NOVOS ESTUDOS N. 1