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Análise crítica ao Modelo de Auto-Avaliação

das Bibliotecas Escolares

O modelo de Auto-Avaliação das Bibliotecas Escolares foi desenvolvido


pelo Programa Rede de Bibliotecas Escolares com o objectivo de proporcionar
às escolas um instrumento que permita identificar debilidades e sucessos e
reorientar processos e acções com vista à melhoria, assumindo-se, deste
modo, como veículo promotor da qualidade da Biblioteca Escolar.

Este modelo deriva de uma análise efectuada sobre outros modelos já


existentes e sobre a realidade da escola portuguesa, tendo-se inspirado
grandemente no modelo inglês.

 O Modelo enquanto instrumento pedagógico e de melhoria.


Conceitos implicados.

Os principais conceitos ou ideias - chave subjacentes ao Modelo:

 Noção de valor - o valor está intimamente relacionada com a experiência


e os benefícios que se retiram das coisas, devendo a auto-avaliação da
BE colocar a ênfase nas vantagens traz à aquisição de competências e
à aprendizagem dos alunos.
 Auto-avaliação - entendida como um processo pedagógico e regulador,
inerente à gestão e à procura de uma melhoria contínua, centrada nos
resultados e não nos processos implicados, ou seja, no valor que estes
acrescentam à escola e à aprendizagem dos alunos.
 “Evidence-based practice” - conceito constantemente presente e
transversal à totalidade do Modelo de Auto-Avaliação, uma vez que se
traduz na recolha sistemática de evidências, estando esta presente em
todos os Domínios.
Ross Todd associa este conceito à necessidade de provar o impacto
que as Bibliotecas Escolares têm nas aprendizagens e na diferença que
fazem na escola que servem.
 Práticas de pesquisa-acção - que estabelecem a relação entre os
processos e o impacto ou valor que originam. Durante este processo,
centrado na pesquisa: identifica-se um problema, recolhem-se
evidências, avaliam-se e interpretam-se as evidências recolhidas e
procura-se retirar conhecimentos que orientem futuras acções,
contribuindo, deste modo, para a mudança.
 Eficácia - os resultados que os serviços produziram nas atitudes, valores
e conhecimentos dos utilizadores.
Trata-se, sem dúvida, de um Modelo orientador do trabalho do Professor
Bibliotecário na sua implementação, ajudando-o a balizar a sua acção, a definir
metodologias e caminhos a percorrer e a implementar de forma contínua a
recolha de evidências, assumindo, desta forma, um carácter consistente, fiável
e dinâmico.

 Pertinência da existência de um Modelo de Avaliação para as


Bibliotecas Escolares

"Avaliar é olhar o que foi feito, compreender os erros e acertos e, com


isto, seguir em frente num melhor caminho."
Kowarick (2008)

Actualmente a avaliação tem um papel determinante nas instituições,


permitindo-nos validar o que fazemos, como fazemos, onde estamos e até
onde queremos ir, mas sobretudo as mais-valias que acrescentamos.
Com o aumento exponencial de Bibliotecas integradas e apoiadas pela
Rede de Bibliotecas Escolares, que resultou claramente na melhoria dos
espaços e dos recursos e numa nova forma de gerir e planificar o trabalho,
impunha que se validasse todo o investimento e esforço desenvolvido ao longo
da última década.
Deste modo, a criação de um Modelo para avaliação das Bibliotecas
Escolares surgiu certamente da necessidade de regulação da acção da BE e
da necessidade de dotar as escolas/bibliotecas de um quadro de referência e
de um instrumento pedagógico que indique o caminho a percorrer, a
metodologia e sua operacionalização, perspectivando a melhoria contínua da
qualidade e a transformação das bibliotecas escolares em organizações
capazes de aprender e crescer.
Com a aplicação do Modelo pretende-se, assim, avaliar o grau de eficácia
do trabalho realizado pela Biblioteca Escolar e o impacto desse trabalho no
funcionamento global da escola e no sucesso educativo dos alunos, a partir da
recolha sistemática de evidências.
Como resultado de todo este processo advirá certamente a tão esperada
visibilidade, através do reconhecimento da importância da BE pela comunidade
e a plena integração na escola, articulando-se com os objectivos do projecto
educativo da escola e incorporando-se no processo de auto-avaliação da
própria escola.

 Organização estrutural e funcional. Adequação e


constrangimentos.

O Modelo é constituído por quatro Domínios, divididos em Subdomínios,


representando “as áreas essenciais para que a biblioteca escolar cumpra, de
forma efectiva, os pressupostos e os objectivos que suportam a sua acção no
processo educativo” e que estão identificados como cruciais ao
desenvolvimento e qualidade das Bibliotecas Escolares
São eles:
A- Apoio ao Desenvolvimento Curricular
A.1. Articulação curricular da BE com as estruturas pedagógicas e
os docentes
A.2. Desenvolvimento da literacia da informação
B- Leitura e Literacias
C- Projectos, Parcerias e Actividades Livres e de Abertura à
Comunidade
C.1. Apoio a actividades livres, extra-curriculares e de
enriquecimento curricular
C.2. Projectos e parcerias
D- Gestão da Biblioteca Escolar
D.1. Articulação da BE com a Escola/Agrupamento
D.2. Condições humanas e materiais para a prestação dos serviços
D.3. Gestão da colecção
Dentro de cada Subdomínio identificam-se conjuntos de Indicadores
temáticos, que apontam para os aspectos nucleares de intervenção da
Biblioteca Escolar inerentes a cada Subdomínio.
Os Indicadores desdobram-se em diferentes Factores Críticos de
Sucesso, que constituem actividades ou acções que demonstram sucesso e
que operacionalizam o respectivo Indicador. Estes são orientadores na recolha
de evidências.
Para cada Indicador são identificados vários exemplos de instrumentos
para a Recolha de Evidências que irão validar a avaliação. Impõe-se que as
informações a recolher sejam de tipos diferentes e relevantes. A recolha de
dados deve ser sistemática, abrangendo um período alargado de tempo e os
vários níveis de escolaridade da escola/agrupamento.
Para cada Indicador são ainda apresentadas Acções de Melhoria,
constituindo propostas de iniciativas a implementar, caso seja necessário
melhorar o desempenho da Biblioteca Escolar, no respeitante àquele
Subdomínio.
Por fim, para os diferentes Subdomínios foram estabelecidos Perfis de
Desempenho, materializados em quatro níveis de performance, caracterizados
por um conjunto de Descritores, que ajudam a identificar a situação da BE em
cada Subdomínio e a perspectivar a melhoria.
É irrefutável o carácter holístico/abrangente da acção da BE deste
Modelo, promotor de acções de melhoria constantes e, por isso, ambicioso. De
fácil percepção, ao nível da linguagem e ao nível da estrutura, constitui uma
ferramenta de fácil operacionalização e facilitadora do trabalho. No entanto,
manifesta-se igualmente redundante, verificando-se uma repetição de
informação ao longo do mesmo.
Requer uma constante atitude investigativa, dado fundamentar-se na
recolha contínua e sistemática de evidências, o que ainda não constitui uma
prática corrente no trabalho do dia-a-dia.
Uma vez que o próprio Modelo apresenta propostas de Instrumentos de
Recolha de Evidências, a informação recolhida em diferentes escolas pode
criar alguma uniformidade, facilitando a promoção do benchmarking. Este
aspecto é, sem dúvida, positivo, contribuindo largamente para o reforço do
investimento nas áreas de pior desempenho.
Embora se revele como um instrumento facilitador do trabalho,
manifesta-se igualmente e em contraponto como “pesado”no desenvolvimento
da acção do professor bibliotecário, pela excessiva burocratização do
processo.
A aplicação deste Modelo requer indubitavelmente uma atitude reflexiva,
investigativa e construtiva.

 Integração/aplicação à realidade da escola

O desempenho recente e até inesperado de funções como Professora


Bibliotecária, cargo para o qual fui designada, contribui, para que, apesar da
leitura e reflexão da literatura proposta e outra, seja difícil antecipar a
integração/aplicação deste Modelo à realidade da escola em geral e, mais
especificamente, ao agrupamento onde trabalho.
Parece-me, no entanto, que a maior dificuldade estará na mobilização e
co-responsabilização da escola/agrupamento para a implementação do mesmo
e, consequentemente, para a promoção de um plano de melhoria e
desenvolvimento. Este processo exigirá bastante da capacidade de liderança e
de mediação do professor bibliotecário e da equipa.
Outra das grandes dificuldades incidirá na adopção de práticas
avaliativas centradas nas evidências e, neste âmbito, na aplicação das Grelhas
de Observação de competências, adaptando-as à realidade das bibliotecas e
das escolas/agrupamentos.
Certamente que algumas das dificuldades apresentadas diluir-se-ão com
o tempo, uma vez que o ciclo avaliativo só fica completo ao fim de quatro anos,
permitindo ao longo do mesmo a reformulação de objectivos e adequação de
estratégias, perspectivando sempre os resultados (outcomes) - o valor que as
práticas acrescentam nas atitudes e nas competências dos utilizadores - e não
os processos.
Importante é que no final do processo avaliativo este Modelo se “assuma
como um instrumento agregador, capaz de unir a escola e a equipa em torno
do valor da BE e do impacto que pode ter na escola e nas aprendizagens.”
 Competências do Professor Bibliotecário e estratégias
implicadas na sua aplicação

“How can we ensure that students learn essential information skills? How
can we partner with teachers to provide meaningful learning opportunities? How
can we ensure that school librarians are central players in our schools?
Eisenberg e Miller (2002)

Com um papel central na implementação deste processo, ao professor


bibliotecário exige-se acção, compromisso e responsabilidade, cabendo-lhe,
como Todd (2001) refere, transformar a biblioteca escolar num “espaço de
conhecimento, por oposição a um espaço de informação”, definir “acções, por
oposição a posições”, baseando-se em evidências.
O professor bibliotecário deve ser um comunicador efectivo, proactivo,
com poder de liderança e iniciativa, apresentando capacidade estratégica para
definir prioridades, solucionar problemas e planear a longo prazo. Como
estratega deve ser flexível, no sentido de mudar o rumo das suas práticas,
apresentando um espírito aberto e uma atitude positiva.
Tem um papel determinante como mobilizador da equipa e do seu
esforço no esclarecimento de toda a escola da importância da implementação
da auto-avaliação da BE.
Como mediador por excelência compete-lhe estabelecer constantes
contactos com a Direcção da Escola, apresentar e discutir todo o processo em
Conselho Pedagógico e manter um diálogo aberto e cooperante com os
Departamentos e professores, possibilitando o contributo de todos os
intervenientes. Esta capacidade de envolver os outros na tomada de decisões
é fulcral para a responsabilização de todos no desenvolvimento deste processo
e no impacto que se pretende que venha a ter no funcionamento global da
escola e nas aprendizagens dos alunos.
A capacidade do Professor Bibliotecário de inovar e de alterar
concepções e práticas é inerente à capacidade para a tomada de decisões que
se exigem à realização das mudanças necessárias, em busca da direcção mais
viável e enriquecedora.
Em suma, pretende-se do Professor Bibliotecário um espírito permeável
à mudança, em contínuo processo de aprendizagem, afastando-se do conceito
tradicional de ser e de fazer.

Novembro de 2009
A Formanda,
Elisa Margarida Rodrigues Campos de Morais

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