O artigo discute a recusa do autor em aceitar a coleta de impressões digitais para entrar nos Estados Unidos. Ele argumenta que essa prática marca uma nova era de controle biopolítico dos corpos pelos Estados, que tende a tratar os cidadãos como criminosos. A tatuagem digital é vista como precursora da normalização da inscrição forçada da identidade nos cidadãos, o que deve ser combatido.
O artigo discute a recusa do autor em aceitar a coleta de impressões digitais para entrar nos Estados Unidos. Ele argumenta que essa prática marca uma nova era de controle biopolítico dos corpos pelos Estados, que tende a tratar os cidadãos como criminosos. A tatuagem digital é vista como precursora da normalização da inscrição forçada da identidade nos cidadãos, o que deve ser combatido.
O artigo discute a recusa do autor em aceitar a coleta de impressões digitais para entrar nos Estados Unidos. Ele argumenta que essa prática marca uma nova era de controle biopolítico dos corpos pelos Estados, que tende a tratar os cidadãos como criminosos. A tatuagem digital é vista como precursora da normalização da inscrição forçada da identidade nos cidadãos, o que deve ser combatido.
No possvel ultrapassar certos limiares no controle e na manipulao
dos corpos sem penetrar em uma nova era biopoltica, sem dar mais um passo em direo ao que Foucault chamava de animalizao progressiva do homem implementada pelas tcnicas mais sofisticadas. No Tatuagem Biopoltica GIORGIO AGAMBEN ESPECIAL PARA O "LE MONDE" Os jornais no deixam margem a dvidas: de agora em diante, quem quiser viajar aos Estados Unidos com visto ser fichado e ter de deixar suas impresses digitais registradas ao entrar no pas. Pessoalmente, no tenho inteno nenhuma de me submeter a tais procedimentos, e foi por isso que cancelei de imediato os cursos que deveria dar em maro na Universidade de Nova York. Eu gostaria de explicar aqui a razo dessa recusa, ou seja, por que, apesar da simpatia que h muitos anos me liga a meus colegas americanos, assim como a seus alunos, considero essa deciso ao mesmo tempo necessria e inapelvel e quanto eu gostaria que ela fosse compartilhada por outros intelectuais europeus. No se trata apenas de uma reao epidrmica diante de um procedimento que h muito tempo vem sendo imposto a criminosos e acusados polticos. Se o problema fosse apenas esse, evidente que poderamos aceitar moralmente a idia de compartilhar, por solidariedade, as condies humilhantes s quais tantos seres humanos so submetidos hoje. No isso o essencial. O problema extrapola os limites da sensibilidade pessoal e diz respeito, pura e simplesmente, ao estatuto jurdico-poltico (talvez fosse mais simples dizer biopoltico) dos cidados nos Estados supostamente democrticos em que vivemos. Procura-se, h alguns anos, nos convencer a aceitar como sendo as dimenses humanas e normais de nossa existncia certas prticas de controle que sempre foram vistas como excepcionais e, na realidade, inumanas. Assim, ningum ignora que o controle exercido pelo Estado sobre os indivduos por intermdio do uso de dispositivos eletrnicos, como cartes de crdito ou telefones celulares, j atingiu limites antes inimaginveis. Mas no possvel ultrapassar certos limiares no controle e na manipulao dos corpos sem penetrar em uma nova era biopoltica, sem dar mais um passo em direo ao que Foucault chamava de animalizao progressiva do homem implementada pelas tcnicas mais sofisticadas. O fichamento eletrnico de impresses digitais e retinas, a tatuagem subcutnea e outras prticas do mesmo gnero so elementos que contribuem para definir esse limiar. As razes de segurana que so evocadas para justific-las no devem nos impressionar: elas no tm nada a ver com isso. A histria nos ensina at que ponto prticas que, num primeiro momento, eram reservadas a estrangeiros acabaram sendo aplicadas ao conjunto dos cidados. O que est em jogo aqui no nada menos que a nova relao biopoltica supostamente "normal" entre os cidados e o Estado. Essa relao no tem mais nada a ver com a participao livre e ativa na esfera pblica, mas diz respeito ao
registro e fichamento do elemento mais privado e incomunicvel da subjetividade:
falo da vida biolgica dos corpos. Assim, aos dispositivos de mdia que controlam e manipulam a palavra pblica correspondem, portanto, os dispositivos tecnolgicos que inscrevem e identificam a vida nua. Entre esses dois extremos de uma palavra sem corpo e um corpo sem palavra, o espao daquilo que antes chamvamos de poltica se torna cada vez mais reduzido, mais exguo. Assim, ao aplicar ao cidados -ou, melhor dizendo, ao ser humano como tal- as tcnicas e os dispositivos que inventaram para as classes perigosas, os Estados, que deveriam constituir o espao da vida poltica, fizeram dela o suspeito por excelncia, a tal ponto que a prpria humanidade que se tornou a classe perigosa. Alguns anos atrs eu escrevi que o paradigma poltico do Ocidente no era mais a cidade, mas o campo de concentrao -que havamos passado de Atenas a Auschwitz. Tratava-se, evidentemente, de uma tese filosfica e no de uma narrativa histrica, j que no seria o caso de confundir fenmenos que, pelo contrrio, convm distinguir. Quero sugerir que a tatuagem sem dvida surgiu em Auschwitz como a maneira mais normal e mais econmica de organizar a inscrio e o registro dos deportados nos campos de concentrao. A tatuagem biopoltica que os Estados Unidos nos impem neste momento para podermos penetrar em seu territrio pode muito bem ser o sinal precursor daquilo que, futuramente, nos ser exigido aceitar como a inscrio normal da identidade do bom cidado nos mecanismos e engrenagens do Estado. por isso que devemos nos opor a ela. Giorgio Agamben filsofo e professor na Universidade de Veneza e na Universidade de Nova York. Traduo de Clara Allain EM mdiaindependente.org
O estado interventor no Brasil e seus reflexos no direito administrativo e constitucional (1930-1964): Themistocles Cavalcanti e sua contribuição doutrinária