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Relatório Final
TURISMO RURAL E
DESENVOLVIMENTO LOCAL:
o caso da aldeia de Vale Formoso
16-07-2009
Turismo Rural e Desenvolvimento Local: o caso da aldeia de Vale Formoso 2009
ÍNDICE
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 3
CONCLUSÃO ............................................................................................................ 41
ANEXOS .................................................................................................................... 44
1. Guiões............................................................................................................................. 44
1.1. Guião geral .......................................................................................................... 44
1.2. Partes específicas do guião ................................................................................... 45
2. Entrevistas................................................................................................................... 48
2.1. Grelha das entrevistas .......................................................................................... 79
BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................ 86
BIBLIOGRAFIA DIGITAL:....................................................................................... 89
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Turismo Rural e Desenvolvimento Local: o caso da aldeia de Vale Formoso 2009
INTRODUÇÃO
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João Ferrão faz referência para o facto de persistir a ideia de que a designação de
mundo rural arcaico se encontra “num processo estrutural de marginalização
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económica, social e simbólica” (Ferrão, 2000: 47). Contudo, nem todas as áreas rurais
estão condenadas a esta angústia de mundo tradicional, as fronteiras deslocaram-se
devido a uma forte mercantilização agrícola em massa. O autor evidência áreas rurais
centrais e periféricas, marginais ou profundas, esta última em condições mais
desfavoráveis e que despertam pouco interesse aos citadinos. Este espaço, o mundo
rural, remete-nos para a problemática da “baixa densidade, não só física, associada ao
despovoamento intenso que caracteriza estas áreas” (Ferrão, 2000: 48).
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estruturas para sustentar esta actividade e através destas criando postos de trabalho,
gerando riqueza local.
No entanto, alguns autores apresentam também algumas críticas, defendendo
que o turismo rural não impulsiona o desenvolvimento local. De acordo com Joaquim
Graça, é passível afirmar que o turismo rural, “de um modo ou de outro, acaba por
contribuir para a recomposição – e/ou constituição (...) – das elites locais” (in Ferreira,
2003: 301). Contudo, esta actividade traz possibilidades de informação às populações
locais, já que apenas uma influência urbana a pode proporcionar. Apesar disso, “parece
estar ainda por provar que o turismo rural seja capaz de criar os postos de trabalho
desejados junto das populações locais. Normalmente, utiliza mão-de-obra familiar e,
por vezes, já empregada noutras actividades, também estas fontes de rendimento dos
proprietários das unidades de alojamento” (Ferreira, 2003: 301-302). O turismo rural
parece estar assim aquém das expectativas “tanto em termos de criação de emprego
como geração de rendimentos adicionais para as famílias” (Ferrão, 2000: 48), devido à
dependência do consumo urbano e que não tem tido os efeitos desejados.
Tomamos como exemplo, novamente, as regiões do interior de Portugal
Continental, que apresentam uma carência de dinâmica, de reter e atrair população, de
originar investimento e de se adaptar às novas realidades económicas. De acordo com
Manuela Ribeiro e Luís Mergulhão (2000), estas regiões ainda são dominadas pela
actividade económica agrária, pouco modernizada e pouco competitiva. Contudo,
embora haja um crescimento de implementação do turismo nestas regiões, este “é ainda
um sector incipiente e, consequentemente, o seu contributo (…) continua a ser
modesto” (Ribeiro e Mergulhão, 2000: 2).
De facto existem bastantes debilidades, para além das mencionadas
anteriormente, que dificultam o desenvolvimento local através do turismo. Desta forma,
existem também debilidades no funcionamento desta actividade turística, debilidades
“capazes mesmo de travar a concretização de iniciativas empresariais no sector”, que
“incluem o seu elevado e conhecido deficit de capital humano – a rarefacção
demográfica e empresarial; baixos níveis de qualificação da mão de obra; reduzida
capacidade de iniciativa e um diminuto espírito empresarial; fraca capacidade de
investimento, técnica e de gestão, etc.” (Ribeiro e Mergulhão, 2000: 8).
Não podemos deixar de ter em conta que o “Desenvolvimento Local continua
fortemente dependente de medidas definidas ao nível central” (Monteiro e Simões,
1998: 28). Consequentemente, devido a essa dependência, existe um entrave e uma falta
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Dados recolhidos através da internet e após uma pequena visita de exploração à aldeia
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c) fomentar uma parceria entre as entidades locais com vista a uma articulação com
fins económicos;
d) possibilitar o aproveitamento económico de outros recursos que a aldeia possui;
e) existir um marco de atracção turística.
1. Metodologia de investigação
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pretendíamos era uma análise aprofundada e intensiva para poder chegar a uma
conclusão em relação às dimensões de análise.
Outra das razões para a nossa opção deveu-se ao facto da análise qualitativa ter
como vantagem a flexibilidade, “uma vez que as categorias de análise não são rígidas
nem a análise está restrita a uma fase em que os dados já tenham sido recolhidos”
(Moreira, 1994: 97).
Em suma, e uma vez especificada a metodologia utilizada, optámos por
“seleccionar as técnicas adequadas, controlar a sua utilização, integrar os resultados
obtidos. A metodologia será, assim, a organização crítica das práticas de investigação”
(Almeida e Pinto, 1995: 92). Deste modo, escolhemos as técnicas que mais se adequam
para dar resposta à pergunta de partida e ao objectivo do trabalho. Uma vez
seleccionados os focos principais a analisar, em que esses são compostos por pessoas
que os representam, escolhemos a entrevista como técnica principal, utilizando
entrevistas semi-estruturadas e também a realização de pesquisa documental. Estas
serão semi-estruturadas, ou seja, “o entrevistador faz sempre certas perguntas
principais mas é livre de alterar a sua sequência ou introduzir novas questões em busca
de mais informação. O entrevistador tem, assim, possibilidade de adaptar este
instrumento de pesquisa ao nível de compreensão e de receptibilidade do entrevistado”
(Moreira, 1994: 133).
Já no que diz respeito à pesquisa documental, esta será utilizada para a
exploração inicial do campo de estudo. Esta pesquisa caracteriza-se pela colecta de
dados, “escritos ou não, constituindo o que se denomina de fontes primárias” (Lakatos
e Marconi, 1996: 174). Como forma a complementar este estudo, ao longo do processo
de recolha de dados procuraremos informações documentais que sejam válidas para
futuras conclusões. Contudo, não iremos simplesmente trabalhar com dados primários.
No decorrer do trabalho empírico poderá haver a necessidade de recolher dados
secundários.
A escolha dos informantes, deve ser feita com a máxima atenção, embora
saibamos que esta selecção poderá ser alterada no desenvolvimento da pesquisa, por
falta de tempo, inadequação, entre outras. Tal como Augusto Triviños sustenta, a nossa
escolha seguiu o critério da aproximação e realização de contactos informais iniciais
com as pessoas envolvidas no processo social que queremos estudar (Triviños, 1987).
Desta forma e de acordo com a nossa pergunta de partida e as dimensões de análise
definidas, tendo em conta que o estudo se baseia numa metodologia qualitativa,
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optámos por seleccionar, como já referenciado, alguns representantes das entidades que
determinamos como “vértices” importantes da aldeia. Desta forma, partindo destes
“vértices”, poderemos detectar uma possível existência de uma teia que envolva o
turismo rural na aldeia de Vale Formoso e o seu desenvolvimento local. Assim, o leque
de pessoas a entrevistar, seleccionadas de forma estratégica, é constituído por: o
proprietário da casa; a empregada de limpeza; o proprietário do restaurante; o
proprietário da mercearia; o artesão; o presidente da Junta de Freguesia.
Segundo Platt, será importante “tratar os casos de estudo com base em critérios
explícitos e ordenados. (…) Nas entrevistas qualitativas devem ser colocados os
mesmos tópicos (e respectivas variações) a todos os inquiridos; e devem ser feitos todos
os esforços no sentido de explorar com idêntico pormenor cada ocorrência de
fenómenos significativos” (in Moreira, 1994: 97).
Seguindo este ponto de vista, o guião, que aqui apresentamos, será a orientação
para as nossas questões no estudo empírico. Essas orientações foram formuladas de
acordo com o que queremos compreender e tendo em conta o nosso corpo teórico. As
questões gerais são constituídas por perguntas similares a todos os entrevistados, de
forma a detectar a coerência e consistência das opiniões recolhidas. As questões
específicas a cada pessoa a entrevistar visam adquirir informação sobre a aldeia e a casa
turismo rural, tendo em conta a entidade que representam.
Será importante, para nós, esta diversidade de perspectivas entre as várias
entidades envolvidas, de forma a elaborarmos pistas conclusivas acerca do
desenvolvimento social, económico e cultural da aldeia de Vale Formoso com base no
turismo rural.
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O nosso objectivo passa por responder à pergunta de partida. Desta forma, neste
ponto, pretendemos através das dimensões de análise, aprofundar e explorar através das
informações recolhidas com o intuito de responder à questão em causa e também
perceber o porquê das situações com que nos deparamos. Contudo, como sabemos a
realidade é complexa e diversificada, as dimensões de análise propostas serão apenas
«pontos num universo». Por isso, “uma observação séria revela frequentemente outros
factos além dos esperados e outras relações que não devemos negligenciar” (Quivy,
1998: 211). Deste modo, após a análise empírica, será pertinente, em função dos factos
inesperados, se necessário, elaborar uma revisão às dimensões de análise, propondo
indícios de reflexão para futuras investigações. Para alguns autores, esta noção ganha
mais ostentação quando se trata de interpretar dados numa pesquisa qualitativa. Na
pesquisa qualitativa, a sua dimensão subjectiva “favorece a flexibilidade da análise dos
dados. Isto permite a passagem constante entre informações que são reunidas e que, em
seguida, são interpretadas, para o levantamento de novas hipóteses e nova busca de
dados” (Triviños, 1987: 170). Por «dados» ou «materiais» entendemos, que significam
aquilo que, nós enquanto pesquisadores procuramos em torno do fenómeno social que
queremos estudar (desenvolvimento local).
Para Augusto Triviños, para que os resultados da pesquisa sejam científicos,
devem aglomerar a coerência, a consistência, a originalidade e devem conter a
objectivação (não a objectividade) por um lado, aspectos do critério interno da verdade,
e por outro lado, a intersubjectividade, o critério externo. Deste modo, no que diz
respeito à análise das entrevistas, que nós elegemos como técnica principal na recolha
de informação, estas devem ser analisadas de forma preliminar e com a máxima
atenção, para podermos classificar ou agrupar as respostas, detectar divergências,
conflitos, vazios e pontos coincidentes. Assim, esta análise permitirá proceder a
elaboração de uma lista final das respostas. O material analisado e classificado
permitirá, se necessário, uma proposta, apresentada a partir das nossas conclusões,
como alternativas que nos permitirão elaborar um esquema de interpretação e de
perspectivas sobre o nosso estudo (Triviños, 1987).
De acordo com Diogo Moreira, para o caso das entrevistas qualitativas
“continua-se, por regra, a recorrer ao método mais simples e directo de transcrição”
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(Moreira, 1994: 141). A nossa transcrição, das entrevistas, foi selectiva apenas após
uma audição atenta das entrevistas gravadas, e que detectamos alguns pormenores de
linguagem desnecessários e também algum conteúdo de conversas que não carece de
importância. Assim, embora não se possa dizer que a transcrição das entrevistas tenha
sido integral, no sentido lato da palavra, será necessário deixar presente que não está
longe disso.
1. Análise empírica
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através do modelo territoralista podemos dar resposta aos dois modelos, como havíamos
dito no primeiro capítulo.
No modelo territorialista optamos pelo partenariado, que, como já definimos,
exige a participação activa dos actores. A participação é, assim, fundamental para que o
paternariado se desenvolva. Deste modo, embora possamos dizer que houve alguma
iniciativa na aldeia com o intuito de atingir algumas dimensões do partenariado,
definidas no primeiro capítulo, que eram três dimensões referenciadas por José
Henriques: “a existência de um projecto-esperança referenciador da acção individual e
colectiva, um processo de defesa e de mobilização de recursos tendo em vista a
satisfação das necessidades básicas nas comunidades locais e a animação da
solidariedade activa para a reconstrução da vida sócio-comunitária” (Henriques,
1993: 90). Podemos dizer que a tentativa falhou. A reintrodução das actividades
artesanais não teve efeitos e não constatamos mais nenhuma actividade ou iniciativas,
relacionada com o turismo rural em Vale Formoso que pudesse ser equacionada tendo
em conta as referências atrás expostas.
Não obstante, é sobre esta perspectiva, o modelo partenariado, que iremos
analisar e agrupar os dados recolhidos e tecer algumas conclusões ou focos de análise
para futuras intervenções nesta temática.
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Referência bibliográfica presente na bibliografia digital
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“O presidente da junta, nessa altura, disse-me: «isto ainda tem que ser um
Turismo Rural (…) faça uma candidatura, pode ser que tenha sorte» e numa
brincadeira, eu meti” (Proprietária da casa de turismo).
“Há muitos, que no início, vinham mesmo só para o Ski. E depois tentam
arranjar casa, alojamento e como isto aqui fica perto, daqui até lá são 10 minutos”
(Proprietária da casa de turismo).
“Nem temos apoio de publicidade, que é muito mau, portanto, tem que ser tudo.
Pela internet, nós temos que pagar, não temos apoio de nada porque eu acho, que eles
deviam divulgar, nem tanto os hotéis, mas estas casas pequeninas, portanto, o turismo,
porque se a gente empatou dinheiro e estamos aqui à espera de hóspedes, acho, que
deviam divulgar mais o turismo” (Proprietária do turismo rural).
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Formoso. Mas quando nós vemos pessoas a repetir, tanto no restaurante como na casa
de turismo é porque gostaram, por isso, é muito bom." (Presidente da Junta).
“Um indivíduo entra aqui, e não tem certo acompanhamento, não tem certo
rumo…é mete-se num carro, sobe a zona da Covilhã, desce para Seia, sobe por
Gouveia, desce por Manteigas, viu a Serra mas não teve um acompanhamento, não teve
uma placa a dizer por onde é que está a passar, a que altura está (agora já umas placas
a dizer), não sabe o nome da lagoa por onde passou. Quer dizer, o turista vem e anda
um pouco a deus dará, tem pouca informação, aliás a informação que têm, dão conta
da existência de aldeias históricas, mas não tem aquela informação para ele vir”
(Proprietário do restaurante).
"Existe cá um miradouro que dá para ver o vale e existem duas fontes romanas"
(Artesão).
“Portanto o turista que vem aqui não fica arrependido de conhecer uma aldeia
histórica, creio que passaram cá os romanos, há vestígios calçada romana e havia
também um forno romano, mas não foi possível recuperar e então meteu-se areia e
terra e está tapado, vieram cá o EPA. (...) Era muito complicado, era muita despesa,
casas deitadas a baixo, aquilo não se sabe bem se era um forno para fazer cerâmica ou
para aquecimento de águas" (Presidente da Junta).
No que diz respeito à procura turística, denota-se que teve alguma influência,
principalmente, na pista de Ski artificial, que se situa no concelho de Manteigas e o
proprietário é o Presidente da Junta de Vale Formoso, como também a neve na Serra da
Estrela. Outra influência, menos visível, mas que se constata através das entrevistas, é o
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restaurante da aldeia. Neste estudo de caso não é visível, tal como tínhamos referido no
primeiro capítulo, a procura pelo modo de vida rural por aqueles que frequentam a casa
de turismo. Os turistas procuram esta casa de turismo por ser um espaço rural, mas não
com a intenção de viver esse espaço de forma rural. Assim, a definição de Marc
Mormont (in Ferreira 2003) da ruralidade não se encaixa no nosso estudo.
De referir também, de acordo com os relatos da proprietária, que os turistas que
procuram o turismo rural em Vale Formoso, caracterizam-se maioritariamente por
pertencerem à classe alta.
“Vêm de todas as idades. (…) Graças a deus, têm vindo pessoas de todas as
profissões, desde arquitectos, a advogados, engenheiros, de todas as classes, (…) mas
geralmente vem uma classe assim mais média-alta. Estrangeiros também vêm muitos”
(Proprietária da casa de turismo).
"É a neve, a nossa atracção aqui é a neve. Caso contrário, não há outro
atractivo, que é pena não haver na nossa zona outros atractivos sem ser na altura da
neve, porque a nossa época alta é o inverno e no verão os preços vão para baixo."
(Proprietária da casa de turismo).
Para além da Serra da Estrela, os marcos turísticos mais assinaláveis ficam numa
cidade próxima, Belmonte. É outro dos locais de destino dos turistas da casa de turismo
rural. Outra ideia do que poderia ser um marco turístico local, embora seja uma festa
sazonal, é a descoberta da moura, que é designada pelo presidente da junta como um
marco turístico local. Assim, podemos ver que poderia haver mais divulgação de alguns
locais da aldeia ou festividades que deveriam ser mais publicitados de forma a trazer
mais pessoas para aldeia e, talvez, proporcionar mais estadias na casa de turismo rural e/
ou até mais crescimento económico na aldeia.
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“Agora vou tentar reavivar um marco teatral, fiz há dois anos, a descoberta da
moura já a 49 anos que não era feita e este ano vamos tentar fazer novamente”
(Presidente da Junta).
No que diz respeito à primeira dimensão, podemos observar que houve criação
de postos de trabalho. Foram criados seis ou sete postos de trabalho, dependendo da
existência ou não de hóspedes na casa de turismo rural. Assim, a casa de turismo rural
criou um posto de trabalho directo e possivelmente um trabalho informal de uma
empregada de limpeza.
“Não, é só meu (…). As pessoas que trabalham, para mim nunca podem, só
vinham às vezes cá a casa fazer limpeza. Mas agora não é sempre porque, quando
tenho hóspedes, ela (a empregada) vem porque tenho acesso, como ela está na escola,
que faz quatro horas na escola, portanto, se eu de manhã tiver hóspedes, das nove ao
meio-dia, tenho acesso à moça e, então, é a única agora que tenho. (...) Só vem aqui
como um hobbie" (Proprietária da casa de turismo).
Podemos ver que para uns as auto-estradas foram benéficas porque criaram mais
acessos ao interior do país, mas para outros as auto-estradas serviram para as pessoas se
afastarem da aldeia, já que não necessitam de passar pela entrada da aldeia para poder ir
para outros locais, como antigamente o faziam.
Aqui podemos ver que a resposta sobre as infra-estruturas criadas na aldeia foi
algo desviada para assuntos mais ligados ao exterior da aldeia. Por esse motivo nota-se
que as únicas infra-estruturas associadas ao turismo rural foram a iluminação e algumas
placas indicadoras da existência de Turismo Rural. Contudo, as auto-estradas não foram
construídas no intuito de servir o turismo da aldeia. Este enviesamento de respostas
leva-nos à conclusão de que se tornou uma questão complicada de resposta, ou pela
quase inexistência de factos ou pela dificuldade de os relacionar com o turismo rural da
aldeia. Deste modo as infra-estruturas foram escassas, tal como tínhamos referido no
primeiro capítulo, com alguns exemplos passivos de servirem juntamente com o turismo
rural, para promoverem desenvolvimento local, quintas pedagógicas, parques de
campismo, etc. Não se registou qualquer tipo de infra-estruturas do género, embora
possamos dizer que o restaurante se poderá incluir neste caso, devido à sua
implementação ter sido posterior e estar relacionada com o turismo rural da aldeia.
“Não, antes do turismo rural não havia nenhum restaurante, nasceu primeiro o
turismo rural e em seguida houve, (…) havia aqui uma antiga padaria, e os netos do
padeiro, eram jovens e gostam muito da aldeia, e eles quiseram fazer o restaurante.
Tiveram muitas dificuldades, o restaurante é de um nível muito bom para receber já os
turistas, portanto estamos no bom caminho” (Presidente da Junta).
Contudo, será importante referir este aspecto, de que não nos parece suficiente
para afirmarmos que houve uma grande aposta. Poderíamos avançar com uma possível
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“Não, agora não pode vender nada disso…o queijo tem que ter um rótulo…há
muita coisa que não se pode vender” (Mercearia II).
Esta situação para ela traz bastantes encargos, já que as despesas são maiores
que os lucros. Por exemplo as mercearias não podem vender fruta da aldeia, porque não
existe nenhum armazém capacitado para tal. A fruta dos agricultores vai então,
maioritariamente para Lisboa. Assim, a compra de fruta é feita a uma empresa de
distribuição nacional, em que os produtos vêm todos de um armazém da área de Lisboa.
Por este motivo, os produtos da terra não são vendidos na loja, porque não têm
certificado de qualidade. Segundo o dono da mercearia, era necessário que existisse um
armazém, onde se pudesse ir buscar os produtos da aldeia.
O aproveitamento dos recursos poderia resultar de uma cooperação entre mais
elementos da aldeia. Contudo, devido à dificuldade de condução à cooperação, como no
caso dos agricultores, esta cooperação não se tem conseguido atingir devido a terem
uma atitude individualista. Podemos observar a falta de parcerias por parte dos
agricultores para que possam ter o produto da aldeia a ser vendido na aldeia. O
Presidente da Junta já manifestou, segundo a entrevista, a vontade de tentar implementar
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Turismo Rural e Desenvolvimento Local: o caso da aldeia de Vale Formoso 2009
De acordo com os dados recolhidos e tendo em conta o nosso corpo teórico, não
se pode dizer que a aldeia de Vale Formoso se caracteriza por mundo rural não agrícola.
A actividade agrícola é dominante na aldeia, emprega grande parte da população.
Também nesta linha, não existe a valorização do património nem protecção do
património histórico e cultural. Assim, como podemos observar pelas palavras do
presidente da junta, existe um grande pedido de mão-de-obra por parte da agricultura, já
que é o tipo de trabalho mais recorrente na aldeia. Ainda continua a ser a grande
possibilidade de emprego de alguns indivíduos na aldeia.
“(...) empregam muita gente, mesmo até das aldeias aqui à volta. Muitos
trabalham nas confecções, mas também muitos na agricultura.” (Presidente da Junta).
“Eu já tentei por aqui, fazer os meus doces. As pessoas no início compravam, as
pessoas vinham e queriam levar alguma coisa da zona, como as mantas serranas, mas
hoje já não levam nada, as pessoas vêm dormir, tomar o pequeno-almoço, ir passear,
mas não levam nada" (Proprietária da casa de turismo).
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"Sim, temos produtos artesanais aqui expostos, para venda. São feitos por uma
senhora em Belmonte." (Proprietário do restaurante).
Uma das explicações para isto pode ser o desaparecimento dos artesãos, a
proibição de vender alguns produtos tradicionais em mercearias, devido à falta de
certificação de qualidade. Podemos ver também que não há uma gastronomia própria da
aldeia. No entanto, aquilo que os entrevistados consideram ser gastronomia tradicional,
são na verdade pratos regionais.
"Aqueles que vêm (às festas) têm os familiares e vão para a casa deles. Para
aqui praticamente não vem ninguém" (proprietária da casa de turismo).
“Conforme, a Aldeia tem duas festas grandes anuais (Festas do Santo Antão e
da Senhora da Saúde). A de Santo Antão é mais para os locais, até porque foi agora em
Maio, é noutra altura do ano. A da Senhora da Saúde é a que trás mais gente porque é
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nas férias, é quando os emigrantes cá estão, quando vêem aqueles que se deslocaram
para Lisboa, para o Porto ou para outras partes do país. Temos de 2 em 2 anos a
descoberta da Moura que já é um evento grandioso demais para a aldeia que é…e
então é isso, ai vêem muita gente de fora, Guarda, Belmonte, Covilhã, gente da região
já. Estas festas trazem contributo” (Proprietário do restaurante).
"Os doces são feitos todos cá na quinta, todos os dias há doces diferentes"
(Proprietária da casa de turismo).
Devido ao problema destes produtos não poderem ser vendidos nas mercearias,
eles não existem em todo o lado.
Tendo em conta ainda os produtos feitos com fruta da região, podemos observar
o mesmo que na situação anterior. A casa de turismo rural dá aos seus hóspedes sumos
de fruta da aldeia, enquanto a mercearia não o pode fazer devido à imposição de compra
nos armazéns.
"Eu dou aos hóspedes no inverno o sumo de pêssego, e eles adoram. Eles dizem
que enquanto eu tiver pêssego para não dar de laranja" (Proprietária da casa de
turismo).
“Os sumos que tenho aqui, vêm todos da Grula, que é uma casa fornecedora.
Os produtos vêm todos do armazém. (...) nós somos obrigados a comprar ao armazém."
(Mercearia I).
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Turismo Rural e Desenvolvimento Local: o caso da aldeia de Vale Formoso 2009
“Sim, não temos protocolos assinados, não temos nada do género. Estas coisas
às vezes é um símbolo de amizade, já nos conhecemos, sabemos que o turismo é uma
mais-valia e o restaurante também é uma mais-valia” (Proprietário do restaurante.)
“Eu pronto, eu tive muitas dificuldades para abrir o restaurante não é, isto aqui
é uma Aldeia e poucas pessoas têm capacidade económica para vir a um restaurante e
então as pessoas têm que se virar para outros lados virar para outros mercados, mas
um ponto bastante forte do meu restaurante é o turismo rural de Vale Formoso que os
senhores já visitaram, é a casa da Figueira Grande de Teixoso e alguns hotéis que
mandam para cá clientes. E isto é possível porque?!...o meu restaurante tem se mantido
nessas dificuldades porquê?!...porque tenho essas cooperações com estes tipos de
pessoas que vão mandando cá gente e fazem com que a casa vai rodando e vai tendo
clientes” (Proprietário do restaurante).
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De referir também que toda esta cooperação poderá ter origem na administração
local. Pelo que entendemos, como já vimos anteriormente, partiram daí as ideias do
turismo rural, pela existência de uma pessoa que possuía uma casa para tal e também
pela vinda de muitas pessoas de fora para a pista de Ski artificial, e a criação de
estruturas de apoio (o restaurante).
Desta forma, tal como tínhamos referido no primeiro capítulo, a retórica que
sustenta a abordagem contratual das políticas públicas continua a dar primazia às acções
integradas de base territorial, utilizando expressões como «redes sociais», «parcerias»,
«partenariado», etc. (Ferreira, 2004). Portanto, é nesta linha que temos que seguir a
nossa análise, as redes sociais. Embora não tivéssemos desenvolvido nenhuma
definição, estas redes são fundamentais para esta temática. Para haver organização entre
os actores à priori existirá uma rede, que circulará informação entre outros factos
importantes. Para António Fragoso, parece não existir dúvidas, “no facto de que muitos
aspectos da vida social estão, efectivamente, organizados como redes; e o ponto mais
central nesta forma de investigação será no estudo das relações estabelecidas entre as
entidades sociais – em vez de se analisarem comportamentos individuais, atitudes,
crenças, etc.” (Fragoso, 2004: 14). Desta forma, podemos afirmar, então, que as
parcerias existentes entre as entidades presentes na aldeia são informais e muitas vezes
ligadas a redes de amizade. Ainda que não tenhamos abordado esta perspectiva de
forma aprofundada, as redes sociais, no corpo teórico do nosso projecto, nesta fase
tornou-se pertinente ter em conta esta noção, já que agora, após o trabalho empírico esta
noção torna-se mais lúcida e faz todo o sentido. Por isso, embora quando seleccionamos
os informadores não o fizemos tendo em mente que eram esses que consistiam a
principal rede da aldeia, embora seja uma rede informal, a existência da rede na aldeia
tornou-se evidente, e até mesmo a forma de análise se enquadra nesta perspectiva. No
que respeita à rede de desenvolvimento da aldeia, em que analisamos apenas a parte que
concerne ao turismo rural, que é o propósito do nosso estudo, assim, esta caracteriza-se
mais por uma sub-rede, baseando-se praticamente em três focos principais, o Presidente
da Junta, o proprietário do restaurante e a proprietária da casa de turismo rural, todos
eles representantes de entidades económicas e no caso do Presidente, social, cultural e
política.
Contudo, de acordo com António Fragoso, devemos ter em conta que a
necessidades das pessoas não basta para a iniciação de tais processos, porque, na grande
maioria dos casos, as próprias populações têm ideias confusas dos lugares onde vivem.
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Teremos que ter consciência, que “os problemas comunitários, ou problemas que
mesmo que apontados por elementos externos sejam capazes de ser sentidos pelos
internos como seus” (Fragoso 2004: 13). De acordo com António Fragoso, o acto de
participação das pessoas permite-lhes, de forma gradual, ganhar consciência, de algo tão
simples e tão complexo. Assim, “através da sua participação é possível mudar alguma
coisa. É aqui que a participação exerce as suas virtudes, quando permite o crescimento
dos indivíduos para estados de conscientização organicamente superiores, que
demandam novos ciclos participativos ao mesmo tempo que permitem que sejam
enfrentados desafios de complexidade superior” (Fragoso, 2004: 14).
António Fragoso defende a importância de acreditar “ainda que é fundamental
em desenvolvimento local considerar a mudança. Levando o raciocínio ao extremo, sem
mudança social não haveria desenvolvimento local” (Fragoso, 2004: 13). Para o autor
seria mais vantajoso ter conhecimento “donde partem as dinâmicas de mudança,
sabendo que nem sempre é possível que sejam as populações a apresentá-la – e aliás,
fosse esse o caso e não seria necessário promover nenhum processo de
desenvolvimento local!” (Fragoso, 2004: 13). As tensões sociais estão “entre a tradição
e a modernização, a desarticulação dos modos fundamentais de reproduzir padrões
sociais, económicos e culturais, são alguns destes problemas” (Fragoso, 2004: 15).
Perante as alterações sociais, quem fica fora da zona sensibilizada, são “os que vieram a
constituir como focos de resistência á mudança – aumentando as dificuldades nalguns
processos, traduzindo-se num esforço extra dos actores envolvidos nos processos de
desenvolvimento local” (Fragoso, 2004: 17).
“Isto foi através de um amigo que conhecia e optamos pelo melhor programa.
Em termos de orientação, nós primeiro temos que fazer um projecto de restaurante e
um projecto de segurança e essas coisas todas, e depois é que apresentamos o projecto
a estes fundos para sermos reembolsados” (proprietário do restaurante).
2000: 1). Segundo os mesmos autores, apesar desta visão positiva e de todos os esforços
das entidades públicas administrativas, na criação de infra-estruturas de apoio e
complementaridade, o turismo apresenta-se ainda como um sector nos seus primeiros
passos. De acordo com os autores para os responsáveis pelo desenvolvimento das
regiões do interior do país, o turismo centra-se como uma actividade altamente
apelativa, sendo os primeiros responsáveis a Administração Local como podemos
constatar ao longo do trabalho também é evidente esta conotação na aldeia Vale
Formoso, já que podemos eleger o Presidente da Junta de Freguesia, não como o único
responsável e interessado, mas com um papel fundamental na implementação do
turismo rural na aldeia. Não obstante, através das dimensões de análise, podemos
verificar que se torna um facto incontornável esta perspectiva atrás definida, ou seja,
apesar de tudo o que foi feito e da vontade dos intervenientes, o turismo rural não teve
os efeitos desejados.
O interessante, no que diz respeito à análise turística, poderá ser também a nova
forma de encarar o turismo. Por coincidência até o nosso estudo enveredou, por um
rumo que já iremos abordar de forma curta, embora isso tenha acontecido, mais uma
vez, de forma não intencional. Dito isto, podemos reflectir, após todas as leituras
realizadas e também uma observação do senso comum sobre o que se passa em todo o
mundo. O turismo actual, no nosso entender e sem querer desviar da nossa temática,
demarca-se pela oferta e procura cultural. Hoje, de uma forma geral e pouco consistente,
a cultura torna-se objecto de atracção turística, é a cultura que está no centro,
assemelha-se a muitos factos da actualidade, como a identidade, a globalização, etc. A
cultura torna-se o objecto de prospecção por parte de todos os analistas, nesta caso
relacionados com o turismo. No nosso estudo, seguimos também por estas temáticas,
procurando produtos culturais e justificando, com a existência deles, o potencial para
desenvolvimento, quer da prática turística, quer da promoção de desenvolvimento local.
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Turismo Rural e Desenvolvimento Local: o caso da aldeia de Vale Formoso 2009
CONCLUSÃO
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ANEXOS
1. Guiões
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PROPRIETÁRIO DA CASA:
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ARTESÃO:
EMPREGADA DE LIMPEZA:
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2. Entrevistas
Proprietário do restaurante
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procurar um trabalho e entretanto isto foi uma oportunidade que foi se criando, foi se
falando, foi avançando e quando demos conta estava pronto”.
P7: E então é o único proprietário, ou tem um sócio?
R: “Tenho um sócio”.
P8: Também são os únicos no activo?
R: “Somos dois sócios e três empregados a volta do restaurante estão cinco pessoas”.
P9: Quanto tempo tem o restaurante?
R: “Faz em Agosto três anos”.
P10: Acha, que o turismo rural teve alguma influência?
R: “Quando abriu o turismo rural já existia e é uma mais-valia, porque a Aldeia não tem
nada para visitar, tem pouco. Não é uma aldeia que tenha uma grande muralha, um
grande castelo, é uma aldeia muito de passagem. Pode ter um turismo rural com a
qualidade que o nosso tem, que é procurado para descansar ou para visitarem a serra,
estão afastados dos grandes centros, mas acabam por estar no centro da serra da estrela.
O turista procura coisas deste género, aliado à qualidade que tem, e prontos, para nós é
uma grande vantagem. A proprietária da casa quando tem gente, normalmente indica-os
a nós”.
P11: Houve uma cooperação entre vocês?
R: “Sim. Não temos protocolos assinados, não temos nada do género, estas coisas às
vezes é um símbolo de amizade, já nos conhecemos, sabemos que o turismo é uma
mais-valia e o restaurante também é uma mais-valia. Temos uma festa nos dias dos
namorados e sorteamos um fim-de-semana no turismo rural. Também para
agradecermos pelos clientes que ela manda para nós durante todo ano e não só, é mais
publicidade, as pessoas levam folhetos do turismo rural, é uma forma de cooperarmos e
termos mais conhecidos, tanto uns como os outros”.
P12: Sempre foram três empregados ou houve um aumento? Foi desde o início
sempre assim?
R: “Foi sempre assim, sabe que a realidade económica do país não dá para muito mais,
ainda por cima, um restaurante como este que é afastado dos grandes centros, as pessoas
já fazem contas, já têm que aliar a despesa da deslocação à despesa da refeição”.
P13: Normalmente as pessoas que vêm cá são estrangeiras, fora do eixo, do norte?
R: “Olha, temos os turistas como toda serra da estrela tem, o turista português que vem
na altura da neve, e no verão já vêm procurando mais a serra. Já há mais gente no verão
a visitar a serra da estrela. Depois temos os clientes regionais, que vivem entre a
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Turismo Rural e Desenvolvimento Local: o caso da aldeia de Vale Formoso 2009
Covilhã e a Guarda, nas alturas turísticas, claro, há muitos turistas a visitar a Serra da
Estrela, as nossas infra-estruturas da região não estão assim tão desenvolvidas, não há
um projecto serra da estrela, normalmente eu costumo dizer que a serra da estrela vive
órfã de pai, isto é, não temos ninguém que nos ensine, precisamos de uma orientação, a
região turismo por si só, da serra da estrela, engloba vários conselhos, milhares de
pessoas, já temos milhares de camas, centenas de restaurantes, mas a verdade é que não
há uma política de turismo, uma coisa minimamente organizada para atrairmos os
clientes ou darmos a melhor comodidade de deslocações de conhecerem os melhores
restaurantes, os melhores hotéis, quer tudo, quer as melhores atracções. Temos, assim,
falta de uma estrutura, de uma organização bem pensada para atrair ainda mais os
clientes”.
P14: Você acha, que devia haver mais informação, mas divulgação mais
publicidade?
R: “Sim. Sim. Pois, qual é a publicidade que põe à Serra da Estrela nas revistas ou na
televisão? É a nível individual, as empresas e quantas empresas é que temos na serra
sem capacidade para andarem durante o ano com publicidade na televisão? Ninguém!
Então, todos juntos com uma dinâmica própria desta região de turismo, de tudo, cria-se
uma campanha publicitária para atrair as pessoas, a gente vê campanha publicitária para
o Algarve, vê campanha publicitária às vezes, até já, para o Gerês, e a Serra da Estrela
não tem, não estamos preparados, não estamos organizados para que isso aconteça.
Acho, que falta uma grande organização, até porque temos tudo para andar. Temos neve
e mais ninguém tem, e depois temos uma serie de eventos que já vai trazendo muita
gente, mas acaba por ser pouco. Repare, tivemos aqui a bem pouco tempo a rampa da
Serra da Estrela, quer dizer, acaba por ser um evento, uma rampa internacional que tem
cá os melhores hotéis, acaba por ser um evento só para os de cá, lá vêem meia dúzia de
espanhóis porque, os espanhóis normalmente vêem sempre atrás dos pilotos deles, não é
verdade, e depois aqui na região você encontra com dificuldade uma pessoa que veio do
Porto de propósito para vir a rampa, ou que veio de Lisboa de propósito para ver a
rampa, ou que veio de Viseu. Já falando de sítios mais perto, falando de Viseu ou
Castelo Branco, que são aqui as regiões mais próximas, pouca gente vem de propósito
para um evento desta natureza, isto é preciso publicitar, isto é, e depois temos também
um grande evento que este ano também se calhar não se vai realizar. Lá está, por falta
de capacidade de organização, que é o Festiva Serra da Estrela, em que o ano passado
em três dias, passaram por lá 15 mil pessoas, dá uma média de 5 mil pessoas por dia, o
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Turismo Rural e Desenvolvimento Local: o caso da aldeia de Vale Formoso 2009
que é muito bom aqui para a região. Portanto, 15 mil pessoas, já são o concelho de
Manteigas, o concelho de Belmonte e essas aldeias todas que unem Belmonte e
Manteigas. Por isso, este ano, não vai haver em princípio o festival. Porquê? Falta de
apoios, falta de capacidade das principais instâncias da região, das principais
instituições da região em congregar a tal dinâmica que eu tenho falado e tal organização
para que estas coisas nunca acabem está a perceber? Falta estas capacidades todas. A
Serra da estrela, nós, as pessoas dos restaurantes, as pessoas dos hotéis, Presidentes de
Câmaras, directores das principais associações existentes e o ponto principal, a região
turismo serra da estrela. Esta gente toda, se não tiver uma capacidade para termos um
sentido de orientação daquilo que queremos para Serra, daqui amanhã a Serra da Estrela
é uma ilusão, presume-se a neve, mas já não tem cá neve. Nos anos em que não houver
cá neve, a Serra da Estrela é o quê?! Esta a perceber, não há capacidade organizativa
nem um modelo em que toda a gente caminhe na mesma direcção para atrairmos mais
clientes. Eu pronto, eu tive muitas dificuldades para abrir o restaurante não é, isto aqui é
uma Aldeia e poucas pessoas têm capacidade económica para vir a um restaurante e
então as pessoas têm que se virar para outros lados virar para outros mercados, mas um
ponto bastante forte do meu restaurante é o turismo rural de Vale Formoso que os
senhores já visitaram, é a casa da Figueira Grande de Teixoso e alguns hotéis que
mandam para cá clientes. E isto é possível porque?!...o meu restaurante tem se mantido
nessas dificuldades porquê?!...porque tenho essas cooperações com estes tipos de
pessoas que vão mandando cá gente e fazem com que a casa vai rodando e vai tendo
clientes. Não é? Isso tudo só para lhe dizer que só com cooperação, só com a capacidade
para, é que se lá vai, e nós não podemos andar cada um a lutar a e puxar cada um para o
seu canto, um dia a corda estala e depois cada um puxa por si, aliás lá na Serra já está
um bocado assim. Só para lhe dar um exemplo de como as coisas estão bastante
desgovernadas. Aqui há uns anos, não sei se conhecem Belmonte, tem 5,6 ou 7 museus,
à 5 anos tinha uma média de 5 a 6 mil visitantes por ano, quando foi para lá este Senhor
que é agora o Presidente da empresa Municipal de Belmonte, responsável dos museus e
tudo, quando eles adoptaram uma linha para trabalhar com os hotéis da Covilhã e da
Guarda, para fazerem programas para as pessoas virem ao Hotel por duas noites com
refeição e visitas ao museu, ele passou de 5 ou 6 mil por ano para 50 mil turistas por
ano. Isto é aquilo pelo que tenho vinda a bater, a cooperação que é bastante importante e
a Serra tem falta desta dinâmica. Eu já trabalhei também em Serpa e lembro-me que,
uma vez estava numa região em que ia haver um evento muito grande, os próprios
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Turismo Rural e Desenvolvimento Local: o caso da aldeia de Vale Formoso 2009
hotéis, entre eles, organizaram-se, através dos seus directores para dividirem os clientes
mediante as exigências dos restaurantes e hotéis, e isso é que é cooperação, porque a
própria organização chega desta cooperação e vê este sentido de dar e receber, faz com
que as pessoas se apaixonem pelos locais, se apaixonem pela região e depois,
futuramente volta. Quando estiverem novamente de férias podem pegar na família e
vir.”
P15: Não há estes tipos de iniciativas aqui na zona, já tentou fazer isso, uma
cooperação com o presidente da junta de freguesia ou com alguma associação
daqui da região?
R: “Olhe, nós aqui trabalhamos também uma pequena dinâmica, trabalhamos em
cooperação com casa de turismo rural, a casa de Figueira Grande a Junta de Freguesia
(mais até a titulo individual, o presidente da junta que nos ajudou a tratar dos
documentos, enfim, pelo seu conhecimento) é graças a estes tipos de cooperação que a
Aldeia desenvolva, e presidente da junta vai trazendo pessoas, vai convidando pessoas a
virem, e pronto tem sido também uma grande publicidade para nós. E depois resume-se
a isso porque tudo o resto de iniciativas são muito pouco. Isto também é próprio do
país”.
P16: Sobre a gastronomia da Aldeia, existe um prato específico da aldeia ou da
região?
R: “A aldeia em si, e visto que está inserida na Serra da Estrela, a gastronomia acaba
por ser um pouco a gastronomia da Serra da Estrela, temos as cherovias, o arroz doce,
as papas de carolo, o cabrito, a truta, prontos pratos próprios da região”.
P17: As festas sazonais que costumam haver aqui na Aldeia trazem turistas,
trazem dinâmica para o restaurante?
R: “Conforme, a Aldeia tem duas festas grandes anuais (Festas do Santo Antão e da
Senhora da Saúde). A de Santo Antão é mais para os locais, até porque foi agora em
Maio, é noutra altura do ano. A da Senhora da Saúde é a que trás mais gente porque é
nas férias, é quando os emigrantes cá estão, quando vêem aqueles que se deslocaram
para Lisboa, para o Porto ou para outras partes do país. Temos de 2 em 2 anos a
descoberta da Moura que já é um evento grandioso demais para a aldeia que é, e então é
isso, ai vêem muita gente de fora, Guarda, Belmonte, Covilhã, gente da região já. Estas
festas trazem contributo. Repare, nem que a pessoa venha 4 ou 5 da tarde e ainda tenha
hipótese de vir ao restaurante, porque a esta hora não se servem almoços nem jantares, a
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Turismo Rural e Desenvolvimento Local: o caso da aldeia de Vale Formoso 2009
verdade é que vai consentido que viu e que está aqui um restaurante, isto é uma forma
de publicidade, é uma forma de divulgar o próprio restaurante”.
P18: Na sua opinião o que é que acha, que poderia melhorar, já percebi que é a
cooperação, mas o que é que acha, que poderia fazer para que esta cooperação
fosse adiante, de que forma é que seria esta cooperação entre as entidades?
R: “Esta é difícil. Não. É difícil porque, repare, nós estamos na zona, esta região toda é
denominada e tem um pólo turístico que é a região turismo Serra da Estrela. Terá que
ser pelo turismo que deve começar esta campanha, porque, quem melhor aqui na região
do que eles. Eles recebem os apoios, recebem as próprias verbas para dinamizar uma
região, e depois têm as próprias candidaturas, ao PIC, ao CREM, têm n candidaturas,
têm montes de facilidades. Agora também há o PENT (Plano Estratégico Nacional
Turístico). Mediante estas coisas protocolares que têm bastantes cuidados pela natureza,
quem melhor do que nós para explorar a natureza que temos. Temos uma natureza
totalmente diversificada, temos a parte do inverno, temos a parte depois a seguir ao
inverno, que se começam o degelo e formam cascatas de água. E depois, temos a
primavera, o verão e o Outono (que se calhar seria a altura mais complicada). Agora
nestes conjuntos todos é preciso termos uma estratégia, um plano de iniciativa, de
inventos, portanto, é praticamente isso, iniciativa de empreendimento, haver uma
cooperação entre as associações locais ou entre os próprios restaurantes, ou entre os
comerciantes para fazermos um plano, para sabermos onde nos podemos direccionar.
Acho, que o grande mal passa logo por ai, não temos uma estratégia, não temos
publicidade, a Serra da Estrela neste momento está morta, está fechada, não tem
capacidade para. E isto, é difícil porque, não me diga que nós com a natureza que temos,
com todas as potencialidades que temos, não podemos trazer mais gente no verão?
Claro que podemos! É preciso dar condições e não estarmos à espera, porque isto, vindo
de um cliente que eu tenho, que portanto já se tornou um amigo desde que eu estou
aberto tem vindo cá sempre. Ele diz que o problema é que na Serra da Estrela, um
indivíduo entra aqui, e não tem certo acompanhamento, não tem certo rumo, é mete-se
num carro, sobe a zona da Covilhã, desce para Seia, sobe por Gouveia, desce por
Manteigas, viu a Serra mas não teve um acompanhamento, não teve uma placa a dizer
por onde é que está a passar, a que altura está (agora já umas placas a dizer), não sabe o
nome da lagoa por onde passou. Quer dizer, o turista vem e anda um pouco a deus dará,
tem pouca informação, aliás a informação que tem, dão conta da existência de aldeias
históricas, mas não tem aquela informação para ele vir. Os turistas, hoje em dia,
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Turismo Rural e Desenvolvimento Local: o caso da aldeia de Vale Formoso 2009
também, ao sair de casa, vai consultar a internet, vai ver onde pode visitar, onde pode
dormir, onde pode comer. Depois disso, enquanto cá está, se não tirou uma cópia
daquilo que está na internet, há uma certa falta de acompanhamento para que o turista
ande e sinta sempre que está a ver algo diferente”.
P19: O presidente da câmara não devia ter uma certa influência nesta orientação
dos políticos?
R: “A Câmara tem o seu concelho e divulga o concelho. Ninguém pode trabalhar na
Serra da Estrela individualmente, fazem parte dela. O concelho de Belmonte, o
concelho da Covilhã, o concelho de Fundão saiu e fundou a sua própria rede de turismo,
temos Penamacor, o concelho da Guarda, o concelho de Gouveia, o concelho de Seia, o
concelho de Celorico da Beira e o concelho de Fornos de Algodres. Repare, estamos a
falar de 10 concelho, isto requer um grupo superior, porque não adianta uma câmara da
Covilhã trabalhar para a direcção oeste de um caminho e a câmara da Guarda trabalhar
com o turismo para o outro lado. A região turismo congrega os Presidentes da Câmara,
o Presidente da Região Turismo, as associações, principalmente as associações dos
comerciantes, alguns representantes dos comerciantes - estes é que pagam os impostos
municipais mais alto do que os outros – estes é que devem ser ouvidos, devem estar no
centro da questão. Agora, só por si, eles não podem fazer nada, quando há instancias
mais altas (câmaras e região do turismo) e estes sim, é que deviam fazer um
planeamento para publicidade e divulgação da Serra da Estrela”.
P20: Existe um plano de desenvolvimento regional que pertence a Coimbra?
R: “Sou um bocado a favor da regionalização, isso é impossível, estamos a falar de duas
cidades que são rivais Guarda e Covilhã e depois temos Covilhã e Fundão. Há aqui uma
rivalidade enorme, o próprio Governo já houve uma vez que levou um chumbo quando
tentou juntar as freguesia não foi. Aqui há uns anos tentaram juntar as freguesias.
Historicamente isso é quase impossível fazer essas coisas numa só, há aquela rivalidade
histórica numa só porque há aquela rivalidade histórica que hoje já não é como
antigamente, mas há sempre aquela cultura, aquela história que fez com que nos divide.
Há uma coisa que se pode fazer que é real que é fazermos não um distrito, mas algo do
género, que fica entre concelho, distrito e região autónoma da Serra da Estrela, dividida
pelos concelhos na mesma para haver uma descentralização de poderes e todo o cenário,
todo o plano territorial que pertence a Serra da Estrela, fazer-se uma espécie de região
autónoma. E só fazendo uma região autónoma, um distrito, ou um concelho enorme
(mas isso já é mais difícil porque já há vários). Não se pode mexer com facilidade na
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Turismo Rural e Desenvolvimento Local: o caso da aldeia de Vale Formoso 2009
estrutura do país, mas em vez de estarmos ligados a Coimbra, estarmos ligados a nós
próprios e a Serra da Estrela por si só, e, assim, podemos falar neste tal programa de
desenvolvimento, porque, o que é que Coimbra ou as pessoas que trabalham em
Coimbra, têm a ver com a estratégia e com a capacidade que têm a Serra da Estrela.
Coimbra que era um distrito, grande parte dele urbano, não tem campos, não tem terra, é
um distrito muito concentrado em cidade. Já tem cidades grandes, qual é o local, as
pessoas com uma organização destas em Coimbra têm para uma Serra da Estrela, onde
temos natureza, onde temos serra, onde temos neve, onde temos rios, lagoas, n praias
fluviais, n coisas. Nós, a nossa maneira de estar na vida é de saber receber, por isso
somos um país obrigatoriamente turístico. É preciso fazer um artigo sobre Portugal, a
dinâmica que o país vive é condicionar os têxteis, dizerem que temos estradas mais ou
menos, dizerem que temos estradas mais ou menos para o nível superior, em de dizerem
que temos um país que tem um interior muito abandonado, dizerem que temos um
interior pobre próprio de quem está fora dos litorais montar um bocadinho a
comunicação, os jornalistas acabaram o artigo com uma frase do género, coisa mais
espectacular que tem, vocês podem estar a ver um jogo no Norte às 3 da tarde, e acaba o
jogo e vai dar um mergulho em menos de uma hora ou duas, como pode estar uma
semana no Algarve e vai para a Serra no ponto mais alto, eles a dizerem que era a
facilidade para que as pessoas não vinham para o futebol, vinham por causa do turismo,
para passar férias. Agora bem podemos estar no ponto mais alto do país como podemos
estar na praia a tomar banho. No meu ver, tenho e associado às minhas ideias que tenho
sobre o turismo e que tenho do país, Portugal tem auto-estradas até dizer chega, faltará
uma ou duas se calhar, Portalegre ligada directamente ao Algarve, aqui na nossa região
acho, que estamos bem de estradas, até porque as pessoas deslocam-se em auto-estradas
e depois acabam por entrar nas estradas rurais, estradas camarárias, nas estradas
nacionais mais ou menos boas (estas é que devem estar sempre em condições). Não
convém termos auto-estradas tendo estradas nacionais ou camarárias como devem ser.
Você mete-se em duas horas de Lisboa a aqui e para seguir para Serra da Estrela você
demora quase tanto devida a degradação das estradas. Temos duas locomotivas, que é
Covilhã – Castelo Branco e Covilhã – Guarda. Repare que no meio da Serra que tem
vistas lindíssimas e propriamente este tipo de turismo não está divulgado, não há
capacidade para, como fazem por exemplo na linha do Tua”.
P21: Em termos de políticas do programa do fundo de desemprego. Acha, que
estão acessíveis, foi fácil trabalhar a burocracia?
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Turismo Rural e Desenvolvimento Local: o caso da aldeia de Vale Formoso 2009
R: “Neste aspecto, sabe aqui a uns anos largos, daqui a uns 10, o meu pai também se
candidatou a um fundo destes, na altura o FEDER, e este faculta mais dificuldades e eu
acompanhei este sistema. Neste aspecto melhoramos quer a nível de rapidez, quer a
nível de burocracia”.
P22: A informação que teve foi dada por iniciativa própria, ou foi dada pela
câmara ou onde se dirigiu?
R: “Isto foi através de um amigo que conhecia e optamos pelo melhor programa. Em
termos de orientação, nós primeiro temos que fazer um projecto de restaurante e um
projecto de segurança e essas coisas todas, e depois é que apresentamos o projecto a
estes fundos para sermos reembolsados. A fim ao cabo você tem que fazer tudo, e
depois antes de começar as obras é que levam o projecto para aquilo que acha deve ser
assinado.”
P23: E estes passos já sabia, já tinha conhecimentos que tinha de fazer isso?
R: “Não, pronto, a gente depois fez o projecto, depois fomos ver as linhas de
orientação, depois lemos e seguimos uma orientação mediante aquilo que queremos
receber, a ajuda que precisávamos, a rapidez com que precisávamos e optamos portanto
por este rumo do centro de emprego.”
P 24: Os produtos que normalmente proporciona aqui devem ser daqui da aldeia?
R: “Sim, quando é altura do pêssego, há sempre um agricultor ou outro que nos dá uma
caixa ou duas e depois a gente faz uma sobremesa com este pêssego. Umas entradas
com este pêssego, uns acompanhamentos. Tentamos sempre gastar produtos de cá,
porque essas coisas as vezes…só assim é que se desenvolve e crescemos. Eu compro
aqui, você ganha comigo vai deixar ao amigo do café. O amigo do café ganha comigo,
vem ao restaurante…prontos! Talvez 90% são do concelho da Covilhã. Isto é pouco
mas ajuda a dinamizarmo-nos uns aos outros. Compramos do nosso concelho e a pessoa
do nosso concelho, vendedor está a ganhar mais, possivelmente poderá vir a gastar
algum no nosso restaurante. Isto faz com que a economia voltasse aos tempos em que
éramos bastantes pequeninos em que eu matava um porco você vinha me comprar 7 ou
8 morcelas, depois eu para agradecer, quando você andasse lá a arrancar batatas eu lhe
comprava um saco de batatas, e fazia disto as trocas comerciais. A noite juntávamo-nos
café para bebermos um copo. Porquê, andávamos os dois a ganhar um com o outro. O
senhor do café ficava contente porque ganhava com os outros. Por isso é que
antigamente o interior era mais pobre noutros aspectos de desenvolvimento e tudo, mas
a nível económico as pessoas ainda iam aos cafés. Agora cada vez mais vêm-se menos
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Turismo Rural e Desenvolvimento Local: o caso da aldeia de Vale Formoso 2009
gente nos cafés, porque deixou de haver essas coisas, quer dizer, também já não é fácil,
as leis e tudo não permitem matar porco em casa, estes tipos de coisas.”
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Turismo Rural e Desenvolvimento Local: o caso da aldeia de Vale Formoso 2009
jeito para fazer plantas e fez, fez-me uma planta, sem compromisso nenhum, para meter
no LEADER, na RUDE e foi aprovado. Depois tive que meter outro arquitecto, porque
este não podia assinar o projecto, ele fazia isso porque era um hobbie dele, ele gostava
de fazer e entretanto, depois tive de contratar um arquitecto para me fazer isto como
devia ser. E foi assim que começou o Turismo Rural, numa brincadeira. Mas este mês
não fiz para a minha caixa”.
P6: O presidente da junta tem tomado essas iniciativas?
R: “Sim, ele tem ajudado muito a aldeia, ele é muito dinâmico, gosta mesmo disto. Ele
está metido também no LEADER, na RUDE. Por isso é que ele tenta sempre puxar
alguma coisa de bom para a aldeia, mas está complicado, este mês não tive ninguém, já
viu o que é se eu tivesse aqui o encargo de uma mulher? Mas eu não posso, é
impossível. Mas eu gostava de abrir mais postos de trabalho porque era bom para a
aldeia e era bom para mim”.
P7: Mas podia fazer a recibos verdes, não é?
R: “Mas isto é um hobbie para ela, eu tenho dias e semanas que ela não vem, é mesmo
quando tenho gente. Não dá, isto está complicado, este mês nem para a minha caixa
deu. Isto se continua assim, não sei se vou aguentar. Vamos ver como é que vai ser o
Verão”.
P8: Há quanto tempo é que tem a casa?
R: “Há nove anos”.
P9: Quando abriu, preocupou-se em saber se havia um marco turístico na aldeia
ou fez mais em relação à Serra?
R: “É a neve, a nossa atracção aqui é a neve. Caso contrário, não há outro atractivo, que
é pena não haver na nossa zona outros atractivos sem ser na altura da neve, porque a
nossa época alta é o inverno e no verão os preços vão para baixo”.
P10: E, os turistas que vêm aqui também é, devido à estância de Ski artificial?
R: “Sim, o primeiro ano foi uma loucura”.
P11: Mas eles vêm por parte de lá ou quando vêm para cá interessam-se pelo ski,
ou acontecem as duas coisas?
R: “Acontecem as duas coisas. Há muitos, que no início, vinham mesmo só para o Ski.
E depois tentam arranjar casa, alojamento e como isto aqui fica perto, daqui até lá são
10 minutos”.
P12: Mas estamos a falar do Ski na Serra?
R: “Não, é do Ski Parque, o artificial”.
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Turismo Rural e Desenvolvimento Local: o caso da aldeia de Vale Formoso 2009
P20: Mesmo para meter nesses sites também tem que pagar?
R: “Sim, é tudo a pagar. Mas é muito complicado, é uma coisa impressionante. Podiam
ser preços mais risonhos e agora na internet é publicidade e publicidade, querem todos
que lhes mandem dinheiro para nos mandar pessoas, é complicado. Ainda agora me
telefonaram da Alemanha, que queriam fazer publicidade da minha quinta, para eu
mandar 170 ou 190€, mas não vou fazer contrato nenhum com eles porque eu não os
conheço de lado nenhuma. Eu tenho a Booking, em que tenho contrato com eles, mas é
assim, eles mandam-me os hóspedes, mas de mês a mês eles mandam-me o total da
comissão deles. Assim compensava, agora estes indivíduos da Alemanha que riam 170€
para fazer publicidade na página deles e depois? Há tempos telefonou-me um indivíduo
que queria vir passar o fim-de-semana, ele, a mulher e os filhos, e perguntou-me qual
era o preço e eu disse-lhe. À tarde volta-me a ligar e diz-me assim: “olhe, eu posso fazer
um contrato com a senhora. A senhora não está ligada a agências”, “sim estou” e disse-
lhe que estava ligada, “ah, mas nós é outra, olhe, a senhora faz um contrato comigo de
1000€, mais IVA. A senhora não fica prejudicada em nada. Eu encho-lhe a casa, tem
sempre gente e eu vou descontando esse dinheiro dos 1000€ em estadia minha, minha e
dos meus filhos e da mulher” e eu disse-lhe “mande-me lá isso por e-mail para eu e o
meu marido e a minha filha vermos bem o que é que o senhor quer, porque eu não estou
a compreender bem o que o senhor quer” e ele mandou, daí a um bocado já estava. E eu
chamei o meu marido e disse: “este gajo deve estar a gozar connosco”, acho que esta
gente quer fazer de nós parvinhos. Era uma estadia de 1000€ que ele cobrava, vinha cá,
comia, dormia, passeava os dias que queria e nós íamos descontando e ele depois
mandava-me hóspedes. Como é que eu tinha a certeza que ele me mandava os
hóspedes? Daí a um bocado liga-me outra vez: “então a senhora já viu?”, “Sim, mas não
quero, porque é assim, com as agências eles mandam-me os hóspedes e depois pedem a
percentagem ou tiram-na directamente no dinheiro que os hóspedes pagam, agora eu
assim não faço”, “ah e tal! Mas assim era uma mais-valia para a senhora, eu enchia-lhe
a casa”, acho, que é mesmo fazer de nós parvinhos. Eu digo-lhe, às vezes, apanhamos
cada uma no turismo que é de uma pessoa ficar”.
P21: Então tem contratos com agências de turismo?
R: “Contrato, mesmo, é com a Booking, o resto das agências, às vezes, telefonam. Mas
tenho muito pouco porque hoje não há procura”.
P22: Que tipo de turistas costumam frequentar a casa? A idade, famílias, grupos?
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Turismo Rural e Desenvolvimento Local: o caso da aldeia de Vale Formoso 2009
R: “Novos, da vossa idade, grupos, pessoas mais idosas, portanto, vêm de todas as
idades”.
P23: Costumam vir mais famílias ou grupos de amigos?
R: “De amigos, no Verão sim, e de todas as idades”.
P24: Costumam dizer as razões para vir para aqui?
R: “É diferente dos hotéis. É mais familiar, o atendimento mais personalizado, é tudo
feito aqui na quinta. Eles andam à vontade, eu dou-lhes a chave, entram à hora que
querem, portanto não precisam de estar no quarto, vêm para aqui (sala), convivem
connosco, fazemos um magusto no inverno com as pessoas. É essa a razão que eles nos
dizem que o turismo é diferente, porque é assim, os hotéis, entram para os quartos e não
conhecem ninguém, saem, pagam e vão embora. Aqui não, mesmo às vezes com os
próprios hospedes, várias pessoas fazem amizade, é engraçado”.
P25: E que tipo de profissões é que eles costumam ter?
R: “Graças a deus, têm vindo pessoas de todas as profissões, desde arquitectos, a
advogados, engenheiros, de todas as classes”.
P26: Mas por exemplo, um operário já não?
R: “Não é tanto, porque os preços do turismo, embora estejam iguais aos do hotel, no
inverno são um bocadinho diferentes, para a gente ter um nível. Não é a questão de
fazermos diferenças, é uma questão das pessoas também saberem estar, porque pode ver
alguém que não se enquadra no grupo e é muito chato e às vezes temos que pôr o preço
um bocadinho mais elevado para fazermos a diferença. Mas não é a questão... eu tanto
recebo um operário como recebo um doutor e é tudo igual aqui, o atendimento é todo
igual, não faço diferenças com ninguém. Eu, aqui há uns anos, tive cá a jornalista, a
Conceição Lino, teve cá uns quatro dias, pediu-me uma noite e depois sentiu-se bem e
perguntou-me se podia ficar mais, e eu disse que sim, porque foi durante a semana. Ela
e o marido perguntaram-me se eu recebia toda a gente como os estava a receber a eles e
eu disse que sim, aqui na minha casa é toda a gente tratada da mesma maneira. Eu não
me esqueço do pequeno-almoço, todos os dias é um bocadinho diferente. Eu dou
compota feita cá na quinta, todos os dias os bolos são diferentes, os doces são
diferentes. Eu sei todos os dias aquilo que eu ponho, eu não me engano, é muito raro
enganar-me porque é para toda a gente igual e se não fosse, podíamos correr o lapso de
nos enganarmos, portanto, eu trato toda a gente por igual, tanto faz serem operários
como... mas geralmente vem uma classe assim mais média-alta. Estrangeiros também
vêm muitos”.
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Turismo Rural e Desenvolvimento Local: o caso da aldeia de Vale Formoso 2009
ordem do presidente porque ele estava metido nos dois lados, portanto, não tive razão
de queixa da Câmara da Covilhã. Às vezes também demoravam algumas coisas e às
vezes precisavam desta e daquela papelada e às vezes íamos lá e um dia pediam uma
coisa e noutro dia pediam outra, mas isso eram os funcionários ou eles diziam:
“recebemos hoje isto e nós não estávamos a contar”, pronto”.
P35: Mas pediram alguma informação do que era preciso fazer ou foi sabendo à
medida que ia à Câmara e que diziam “agora é preciso este papel...”?
R: “Eu fui fazendo e depois chegava lá e eles diziam que era preciso mais esta
papelada, é preciso aquela, é preciso o registo da casa, depois era da quinta”.
P36: Nunca tentou pela internet, procurar saber?
R: ”Não, nem ainda tínhamos internet”.
P37: Quando passa para Coimbra, ainda tem acesso ou já não tem nada a ver
consigo? Ou é a Câmara que faz com que o processo se desenrole?
R: “Em primeiro foi com a Câmara. Depois de estar tudo feito, vem a vistoria de Lisboa
e só ao fim de muito tempo é que passou para Coimbra. Nós andámos sempre em
Lisboa. Em primeiro foi para Lisboa mas agora já pertencemos a Coimbra. A segunda
vistoria já foi com pessoal de Coimbra, porque eu tive que mudar o nome da quinta,
porque era Quinta dos Mortórios e as pessoas assustavam-se e uma pessoa quando não
vem gente, pensa em tudo e mais alguma coisa e eu andei num curso e as pessoas
diziam: “a senhora tire o nome da quinta”. E depois eu tive que tirar o nome e foram, só
para mudar o nome, 500€. É tudo assim”.
P38: E, as vistorias são de quanto em quanto tempo?
R: “Não, vieram a primeira vez para ver se a mobília estava toda adaptada à casa, o gás,
a canalização, tudo. Eles metem o bedelho em todo o lado. E depois veio a segunda
vistoria porque eu mudei o nome à quinta”.
P39: E, nunca mais houve apoios nenhuns?
R: “Não, nunca mais. Só no inicio é que houve. Aliás, no ano passado ou há dois anos é
que tive um apoio outra vez da RUDE por publicidade. Eu não sabia e uma vez em
conversa falei que gastava muito dinheiro em publicidade e disseram-me: “e porque é
que não meteu, que a RUDE ajudava?” e então é que meti”.
P40: E onde ficou a saber disso?
R: “ Foi na RUDE”.
P41: E não perguntou se havia outro tipo de apoios?
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Turismo Rural e Desenvolvimento Local: o caso da aldeia de Vale Formoso 2009
R: “Não, porque eles depois começaram a dizer. Tive apoio para a piscina, porque
houve outra possibilidade e eles disseram: “aproveite, faça agora a piscina porque agora
vai haver apoios” e eu aproveitei. Eu ainda queria fazer uns anexos para animais porque
eu queria meter aqui burros na quinta porque acho que era giro para as crianças, pronto,
haver um chamamento, um atractivo e para as crianças terem contacto com os animais e
com as galinhas, com os pombos, com os pavões. Eu gostava de fazer isso aqui na
quinta, mas não há dinheiro. Eu queria fazer umas casinhas aqui, para as pessoas que
queriam ficar uma semana e que queria cozinhar, para terem acesso a essas casinhas,
mas está muito difícil”.
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Turismo Rural e Desenvolvimento Local: o caso da aldeia de Vale Formoso 2009
Presidente da Junta
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Turismo Rural e Desenvolvimento Local: o caso da aldeia de Vale Formoso 2009
P4: Tem conhecimento de pessoas que tenham saído da aldeia por não terem
postos de trabalho?
R: “Exactamente, a saída pelo menos houve nos anos 60 e mais nesta região, porque as
condições eram péssimas, era o trabalho do campo e tudo isso. Eu tive na marinha,
cumpri o serviço militar, e eu próprio fui para França, tive lá 14 anos e gostei tanto que
trouxe uma mulher francesa e os filhos, tenho três que nasceram lá. Já há trinta nãos que
cá estou. Portanto, houve aqui um tempo muito bom devido às confecções daqui de
Belmonte”.
P5: Em relação à implementação da casa de turismo rural, deu alguns apoios?
R: “Parte logística, estiveram à vontade, e apoiei bastante a parte logística, depois teve
apoio do programa líder, 60% de fundo perdido e um de que eu apoiei porque faço parte
da direcção, um programa de desenvolvimento regional e local”.
P6: Para além dos benefícios que o turismo rural trás como trazer pessoas de fora,
tem algum conhecimento de outros benefícios?
R: “O benefício que temos, é dar também a conhecer a nossa aldeia a nossa região. È
um prazer falar na minha aldeia, e por isso é que tenho gosto em ser presidente da
junta”.
P7: É uma forma de divulgação?
R: “Sim, das pessoas e creio que está bem entregue às pessoas que estão a desenvolvê-
la”.
P8: Acha, que há bastante divulgação da casa de turismo rural?
R: “A divulgação é sempre complicado, com as novas tecnologias é muito fácil saber o
que há nas regiões, eu creio que sim, que está bem divulgado, com folhetos. Agora para
se fazer uma casa com muita fama e fazer do seu trajecto por Vale Formoso. Mas
quando nós vemos pessoas a repetir, tanto no restaurante como na casa de turismo é
porque gostaram, por isso, é muito bom”.
P9: Em relação à aldeia, existe aqui algum marco turístico, alguma coisa com
história, algo ligado à cultura?
R: “O marco turístico (…) não se esqueçam na altura da cereja na altura da cereja,
aquilo é um espectáculo depois vem a vinha depois as pessoas agora a colheita da
cereja. Está tudo muito ligado à fruticultura. Agora vou tentar reavivar um marco
teatral, fiz à dois anos, a descoberta da moura já a 49 anos que não era feita e este ano
vamos tentar fazer novamente. Os únicos dados que tínhamos era algumas fotografias e
as documentos a contar como foi e dei aos técnicos para eles fazerem. A moura aparece
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Turismo Rural e Desenvolvimento Local: o caso da aldeia de Vale Formoso 2009
no bosque numa cabana, vestida de branco cheia de ouro. Nessa altura isso significava
para os romanos e para nós um vale bom, uma aldeia boa para viver, temos a serra na
encosta e o vale com o rio e nessa altura os romanos valorizavam muito os rios, e foi daí
que nasceu uma festa em homenagem, quando foi a primeira vez não se sabe, não
significa um milagre mas transmitir que se trata de um vale fértil magnífico que é esta
região. Portanto o turista que vem aqui não fica arrependido de conhecer uma aldeia
histórica, creio que passaram cá os romanos, há vestígios calçada romana e havia
também um forno romano, mas não foi possível recuperar e então meteu-se areia e terra
e está tapado, vieram cá o EPA”.
P10: Mas isso podia ser uma atracção turística?
R: “Mas isso era muito complicado, era muita despesa, casas deitadas a baixo, aquilo
não se sabe bem se era um forno para fazer cerâmica ou para aquecimento de águas”.
P11: Em relação à gastronomia, existe algum prato tradicional?
R: “A gastronomia, na nossa freguesia, e posso-lhe dizer que a região mesmo daqui é o
cabrito, é o bacalhau, os enchidos, porque se fazia a matança do porco mas agora é
proibido, os espanhóis continuam a ter os bocadilhos, os franceses continuam a ter o
queijo e nós cá é tudo proibido. A tradição vai se perdendo”. A ovelha da bandeira da
minha junta é uma ovelha preta, para não estar a por santos, como as outras têm.
Antigamente quando vinha o inverno, os rebanhos tinham que descer as planícies e
aqui, Vale Formoso, que na altura era Aldeia do Mato, e então vinham aqui e ficavam
uma semana ou duas e depois continuavam para o Alentejo. E nesta aldeia ficavam
muitos rebanhos, por isso é que eu pus na bandeira uma ovelha porque é o grande
símbolo da nossa aldeia. Quando iam e quando regressavam passavam aqui alguns dias.
Isto para vos dizer que o nosso queijo que é magnífico, foram-lhe criadas complicações
horríveis, para queijarias e tudo isso. Mas isto, os políticos mais graúdos lá saberão,
porque os políticos pequeninos não têm voz activa para falar, mas tenho a voz activa do
povo e defender aquilo que está. Portanto, perdemos muitas características da aldeia”.
P12: Em relação a infra-estruturas que se construíram, por exemplo, o restaurante
foi uma delas, houve mais alguma coisa?
R: “A questão que concerne à Junta de Freguesia, tenho uma escola, posso-lhe dizer que
não estou de acordo quando vejo ao fim do ano as médias nacionais, que só os colégios
é que têm melhores médias e que a parte estatal que não tem, não sei porquê. Eu, na
minha escola, porque a parte física é comigo, por isso é minha, posso-lhe dizer que se
pode por ao lado de qualquer colégio. Já tenho agora que andam aí que vender ou a
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Turismo Rural e Desenvolvimento Local: o caso da aldeia de Vale Formoso 2009
brincar com uma caixinha chamada Magalhães e de internet e Vale Formoso já tem
internet há mais de dez anos, ligada aqui, via satélite. E isso deve-se muito também ao
presidente da Câmara da Covilhã. Nenhum pai ou mãe em Vale Formoso não pode dizer
que não pode trabalhar por causa do filho, porque às 7h30 da manhã está uma
funcionária a receber as crianças na escola, até ás seis da tarde. Um pai está
descansadinho porque a criança está bem guardada e tenho a escola toda fechada com
gradeamento, com fecho eléctrico e tem um gimnodesportivo atrás, com refeitório. Tem
o centro de dia, onde também sou presidente, fornece à escola o almoço, gratuitamente.
Tudo pago pela Junta de Freguesia. Tem uma boa caixa de multibanco na aldeia,
também”.
P12: E em relação à casa de turismo, abriu mais alguma coisa que viesse depois da
construção da casa e que apoia-se o turismo rural?
R: “Após a construção da casa, não. Quer dizer, meteu-se lá iluminação”.
P13: Acha, que há cooperação entre as entidades (mercearias, restaurante, cafés)?
R: “Eu creio que sim. Vocês não são de aldeias, mas nas aldeias é complicado, porque
se um sobe mais um bocadinho já há inveja. E em Vale Formoso isso tinha que existir,
senão, não era uma aldeia. Na cidade não se nota porque as pessoas não se conhecem
umas às outras. No mesmo prédio o do andar de cima não conhece o de baixo. Aqui as
pessoas, também criticam uns e outros, mas se alguém necessitar, que tenha um
problema qualquer, toda a gente ajuda. Há sempre a sua parte positiva. Se por acaso
houvesse um incêndio por aqui, imediatamente toda a gente corria. A sensibilidade das
pessoas é muito maior.
P13: Também existe uma competição entre essas entidades?
R: “Existe. Cada uma tem que apresentar o seu melhor produto”.
P14: Mas se cooperassem todos, podiam ganhar todos com isso, não é?
R: “Uma das coisas que há bocadinho estava a falar com um professor universitário, era
mesmo sobre isso. Falando do produto que mais temos aqui, os agricultores, se tivessem
mais unidos, podiam em grande, comprar o mesmo produto e em vez de comprarem
cem litros, compravam um milhão de litro. Fazendo uma espécie de cooperativa. Mas é
complicado. Há aí já uns jovens mais unidos, como o Chico do Turismo Rural, o
Firmino ou o Micha, com mais uma abertura e estou convencido que daqui a meia dúzia
de anos estarão muito mais unidos e a defenderem-se. Eu gostaria imenso de ver aqui
um bom armazém. A grande parte que fará falta aqui é a comercialização. Nós temos as
cooperativas, mas a cooperativa, pode funcionar muito no país de leste, mas em
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Turismo Rural e Desenvolvimento Local: o caso da aldeia de Vale Formoso 2009
Portugal não funcionaram grande coisa. É a minha maneira de ver, porque o dinheiro
não é deles, é o “manel” que tem lá uma cota, é o “jaquim” que tem lá mais uma cota e
dá confusão. Se nós tivéssemos os nossos agricultores, pelo menos de Vale Formoso,
Aldeia de Souto e Orjais, este vale todo bem unido, garanto-vos que teriam muito mais
lucro, porque poderíamos trabalhar com a comercialização. Em relação aos turistas, no
Inverno temos maior movimento do que no Verão. No Verão temos os emigrantes, que
vêm passar o mês de Agosto, mas o maior movimento, mesmo do turismo rural, será
com certeza o Inverno. Temos a Serra, temos um produto, falo nisso porque sou um
homem ligado à Serra e à neve, e no Inverno está vendida, mas no Verão não temos
praia e o grande problema é esse. É complicado. Não estamos perto de Espanha, isto é
na fronteira, e estamos mais divididos para aqui. Estamos um bocadinho desviados.
Ninguém costuma vir passar por Vale Formoso e ficar muito tempo. Portanto, eu estava
a ligar mais para a indústria da fruta. Aqui na zona, cada vez é mais procurado um
bocado de terreno. Na parte deles (agricultores) eu estou convencido que se houver
maior união, e eu poder ajudá-los, para fazer pelo menos um armazém de recolha aqui.
Há muitos pequenos agricultores que têm três mil metros quadrados de pomar, com cem
pessegueiros, eles deixam cair tudo ao chão porque não dá para a comercialização e se
houver um local de recolha, sempre se pode receber qualquer coisa.
P15: E os agricultores empregam muita gente ou é só da família?
R: “Não, empregam muita gente, mesmo até das aldeias aqui à volta. Muitos trabalham
nas confecções, mas também muitos na agricultura. Todos os dias quando é a época
alta, andam na recolha. Agora andam a deitar fruta a baixo porque tem fruta a mais e é
preciso seleccioná-la”.
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Turismo Rural e Desenvolvimento Local: o caso da aldeia de Vale Formoso 2009
Artesão
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Turismo Rural e Desenvolvimento Local: o caso da aldeia de Vale Formoso 2009
R: “Eles vinham cá busca-las, eu sei lá quem eram. Sei lá se era para turistas ou para
quem eram”.
P15: Se calhar até eram pessoas que vendiam a turistas?
R: “Isso, eu não sei, sabia que havia um indivíduo que vinha do Teixoso, que vinha cá
buscar muitas para levar para o Algarve. Que era para andar lá nas praias. Uma vez até
me trouxe uma carrada delas que estavam podres da água salgada e queria que eu as
concertasse. Eu disse-lhe: deite isso para o lume. Havia cá muitos artesãos, agora já não
há cá ninguém. Muitos imigraram, eu tenho as mãos todas tortas por causa disso, dava
muito trabalho, e isto já não dava nada. Mas até era uma vida boa, estava aqui sentado à
fresquinha, embora com muito trabalho”.
P16: Você nunca vendeu cadeiras para a casa de Turismo?
R: “Ainda não existia”.
P17: Então nessa altura já tinha deixado de fazer cadeiras?
R: “Sei lá, então eu reformei-me, tinha 59 anos, ainda andei muito tempo de baixa”.
P18: E nas festas nunca chegou a vender nada?
R: “Não, não”.
P19: Há aqui uma festa sazonal?
R: “Não, antigamente, no tempo do meu pai, quando eu ainda era novo íamos assim
para as feiras corríamos tudo por aqui, com uns burritos, chegamos a ir para Penamacor.
São ainda uns 40 e poucos Km”.
P20: Então era mais nas feiras que vendia e não nas festas?
R: “Não, não, mas isso no tempo do meu pai, quando trabalhava com ele”.
P21: Isso já vai praí à 50 anos?
R: “Pois eu ainda era garoto, ainda nem tinha ido à tropa. Isso foi só até aos meus 15
anos, porque eu não gostava, estava sempre aqui preso, os meus colegas iam sair e
tinham sempre dinheiro e eu nunca tinha nada, o meu pai a mim não me dava nada”.
P22: Tinha que vender uma por fora.
R: “Se fosse agora. Agora, naquele tempo espancava-me logo. Em 74 casei me e fui até
à França, mas cheguei lá e não sabia dizer uma, regressei à base. Então fiquei sempre aí
e foi quando me agarrei a serio nas cadeiras”.
P23: Você não queria, mas lá teve que fazer as cadeiras.
R: “Oh pá, embora eu não gostasse assim muito da coisa mas comecei a ver… o meu
pai ficou sempre assim na coisa. Mas ainda cá estive um tempo a trabalhar para ele, mas
depois via-o a fazer a féria, tantas cadeiras tanto dinheiro, isto assim não pode ser, falei
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Turismo Rural e Desenvolvimento Local: o caso da aldeia de Vale Formoso 2009
com ele, pai isto assim não está bem, então eu estou aqui a trabalhar para si dia e de
noite e você fica com o dinheiro todo. Depois começamos então a trabalhar a meias,
comprávamos a madeira a meias, pronto era tudo a meias, depois infelizmente deixou
de trabalhar, morreu e fiquei eu sozinho. E assim foi, e já não há cá ninguém”.
P24: Já não faz há muito tempo então?
R: “Já então. Não podia, não podia estar sentado, tenho duas hérnias na coluna, por isso
é que me reformaram se não era só agora aos 65. E assim, foi a vida e vai-se andando”.
P25: Mas tinha uma oficina?
R: “Trabalhava aqui (casa) ”.
P26: E tinha máquinas?
R: “Tinha e ainda e estão. Tenho duas, e o resto era à mão, mas agora por fim porque
antigamente era tudo à mão. Mesmo a furar era tudo à mão. Ainda vieram cá para tentar
modernizar isto, mas eu tinha que investir e depois é que davam algum, através da
câmara. E davam mas não era tudo era uma pouco e eu não quis”.
74
Turismo Rural e Desenvolvimento Local: o caso da aldeia de Vale Formoso 2009
Dono da mercearia I
P3: E quem é que estava aqui, era uma empregada ou você e a sua mulher?
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Turismo Rural e Desenvolvimento Local: o caso da aldeia de Vale Formoso 2009
R: “Era eu mais a minha mulher. Esta é a minha segunda mulher, a primeira faleceu. A
minha mulher ficava aqui na loja e eu andava por fora a trabalhar, está a perceber? A
sachar batatas, a sachar milho e feijão e trigo, carregava as camionetas. Eu trabalhava
muito, lutava muito. Tinha uma retroescavadora, que ainda hoje tenho e tenho um
compressor. Andava um empregado com a máquina e eu andava com o compressor a
furar as pedras e a dar fogo naquelas pedras, a lutar na vida. De maneiras que
empregada aqui na loja nunca tive, quer dizer, ainda cá tive uns rapazitos a aprender,
naquele tempo ganhavam pouco, também era pouco o dinheiro, em sessenta e cinco,
havia pouco dinheiro. Ganhavam pouco, mas os rapazes daqui começavam-se a
desenrascar, está a perceber? Com aquilo que aprenderam aqui na minha casa e com a
visão geral, hoje são homens. Tenho um sobrinho que esteve aqui comigo que hoje tem
uma boa padaria em Orjais, um rapaz que está a vingar na vida muito bem. Este rapaz
que está aqui em baixo no café, ao pé da Igreja foi o primeiro empregado que eu tive e
hoje o homem tem uma vida boa também. Lá está, nesse tempo as pessoas vinham
trabalhar, não eram aqueles que vinham ganhar muito, não tinham caixa como hoje,
pronto, andavam a ganhar menos e a gente ia-os aguentando, dávamos de comer e casa
para dormir, mas cá estavam, ganhavam pouco mas aprendiam a trabalhar. Hoje já não
há nada disso, hoje querem vir para uma casa assim, um empregado qualquer, só dá
prejuízo e ainda ganham um balúrdio, depois querem caixa, e depois querem isto e
querem aquilo e não se pode ter empregados, está a perceber?”
P4: Você leva, para a casa de turismo, doces para os pequenos-almoços?
R: “No turismo não há pequenos-almoços. Ela (a dona) leva pão e, de vez em quando,
fiambre, para dar o pequeno-almoço de manhã aos hóspedes, mais nada”.
P5: E os doces que ela dá não os leva de cá?
R: “Os doces? Eu não sei se ela põe doces. É capaz de pôr lá compotas que ela faça,
mas doçaria acho, que não põe”.
P6: Aqui na mereceria vendo produtos tradicionais? Bolos caseiros, produtos de
artesanato, lembranças.
R: “Não. Antigamente vendia-se”.
P7: E vende aqui sumos de fruta destas empresas que têm aqui de fruta?
R: “Os sumos que tenho aqui, vêm todos da Grula, que é uma casa fornecedora. Os
produtos vêm todos do armazém”.
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Turismo Rural e Desenvolvimento Local: o caso da aldeia de Vale Formoso 2009
Mercearia II
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Turismo Rural e Desenvolvimento Local: o caso da aldeia de Vale Formoso 2009
Dimensões de análise
"As pessoas que trabalham para mim nunca podem, só vinham às vezes cá a casa fazer
Proprietária limpeza. Mas agora não é sempre porque, quando tenho hóspedes, ela (a empregada)
vem porque tenho acesso, como ela está na escola, que faz quatro horas na escola,
da casa de
turismo portanto, se eu de manhã tiver hóspedes, das nove ao meio-dia, tenho acesso à moça e,
então, é a única agora que tenho. (...) Só vem aqui como um hobbie"
"Ainda não existia (turismo rural). (...) eu reformei-me, tinha 59 anos, ainda andei muito
Artesão
tempo de baixa"
“Somos dois sócios e três empregados, à volta do restaurante estão cinco pessoas”
Proprietário "Foi uma oportunidade. Foi também uma mudança de vida. Eu já tenho um curso ligado
do restaurante às técnicas de hotelaria, e trabalhava já em hotelaria. Já trabalhei no norte, já trabalhei
no sul e conheço minimamente a hotelaria em Portugal e, então, com um sócio
começamos a falar e conseguimos aqui um espaço”
"Era eu mais a minha mulher. (...) A minha mulher ficava aqui na loja e eu andava por
fora a trabalhar (...). De maneiras que, empregada aqui na loja nunca tive, quer dizer,
ainda cá tive uns rapazitos a aprender, naquele tempo ganhavam pouco, também era
Mercearia I pouco o dinheiro, em sessenta e cinco, havia pouco dinheiro. (...) Hoje já não há nada
disso, hoje querem vir para uma casa assim, um empregado qualquer, só dá prejuízo e
ainda ganham um balúrdio, depois querem caixa, e depois querem isto e querem aquilo
e não se pode ter empregados".
"Eles vinham cá busca-las (as cadeiras), eu sei lá quem eram. Sei lá se era para turistas
ou para quem eram."
Artesão
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Turismo Rural e Desenvolvimento Local: o caso da aldeia de Vale Formoso 2009
“Quando abriu o turismo rural já existia e é uma mais-valia, porque a Aldeia não tem
nada para visitar, tem pouco. Não é uma aldeia que tenha uma grande muralha um
grande castelo. É uma aldeia muito de passagem, pode ter um turismo rural com a
qualidade que o nosso tem, que é procurado para descansar ou para visitarem a serra.
Proprietário Estão afastados dos grandes centros mas acabam por estar no centro da serra da estrela.
do restaurante O turista procura coisas deste género, aliado a qualidade que tem, e para nós é uma
grande vantagem. A proprietária da casa quando tem gente, normalmente indica-os a
nós.”
"Vêm, vêm buscar queijo, chouriço... Alguns, não são todos. Compram principalmente
Mercearia I
o queijo da Serra."
"Quando fizeram a A23 tivemos uma queda muito grande porque os estrangeiros
vinham, apanhavam a A23 e seguiam para Lisboa, Porto ou Coimbra ou o Algarve e
antigamente não. Saiam em Vilar Formoso, metiam-se na Nacional 18 e passavam pelas
Proprietária placas e entravam, agora não é tanto porque não nos deixam por informação nas auto-
da casa de estradas, é só o convento de Belmonte. Uma vez perguntei e fizeram-me à volta de
turismo 2000€ ou 1000 e não sei quantos euros só para fazer os painéis. As placas de turismo
rural que existem na aldeia foram postas pelo presidente da junta, a meu pedido. (...)
mais atractivos. O presidente queria fazer aqui a rota dos carvoeiros, mas ainda não fez.
Isso era muito bom, fazer passeios ou de jipe ou a pé, acho, que era bom."
"No meu ver tenho e, associada às minhas ideias, que tenho sobre o turismo e que tenho
do país, Portugal tem auto-estradas até dizer chega, faltará uma ou duas se calhar,
Proprietário Portalegre ligada directamente ao Algarve…aqui na nossa região acho que estamos bem
do restaurante de estradas…até porque as pessoas deslocam-se em auto-estradas e depois acabam por
entrar nas estradas rurais, estradas camarárias, nas estradas nacionais mais ou menos
boas (estas é que devem estar sempre em condições). Não convém termos auto-estradas
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Turismo Rural e Desenvolvimento Local: o caso da aldeia de Vale Formoso 2009
tendo estradas nacionais ou camarárias como devem ser. Você mete-se em duas horas
de Lisboa a aqui e para seguir para Serra da Estrela você demora quase tanto devida a
degradação das estradas. Temos duas locomotivas, que é Covilhã – Castelo Branco e
Covilhã – Guarda. Repare que no meio da Serra que tem vistas lindíssimas e
propriamente este tipo de turismo não está divulgado, não há capacidade para, como
fazem por exemplo na linha do Tua."
"(…) Parte logística estiveram à vontade, e apoiei bastante a parte logística, depois teve
Presidente da apoio do programa LEADER, 60% de fundo perdido e um de que eu apoiei porque faço
Junta de
parte da direcção, um programa de desenvolvimento regional e local. (...) meteu-se lá
Freguesia
iluminação."
c) fomentar uma parceria entre as entidades locais com vista a uma articulação com fins
económicos;
" (...) entretanto o presidente da aldeia, como estava metido no LEADER, às vezes
fazíamos aqui patuscadas, que isto estava tudo tosco. Isto, era do Conde da Covilhã, era
uma adega particular do Conde da Covilhã. E o presidente da junta, nessa altura, disse-
me: “isto ainda tem que ser um Turismo Rural”. Mas eu não tinha possibilidades para ir,
já que o meu marido na agricultura não ganha... isto está muito difícil. Entretanto
abriram concursos e ele (o presidente da junta) disse-me: “faça uma candidatura, pode
ser que tenha sorte” e numa brincadeira, eu meti. (...) por acaso eu mandava os meus
hóspedes para Valhelhas porque há lá dois restaurantes com comida regional e então sei
que eles são muito bem servidos. Em nove anos nunca tive nenhuma reclamação do
restaurante e isso é muito bom para nós, eu mandar um casal e dizer assim: “olhe, vá a
tal sítio”, e isto não tem nada a ver com o restaurante. É um restaurante só de comida
regional. Agora mando para os três (o terceiro é o da terra) e as pessoas optam por o que
quiserem. Eu no inverno fartei-me de mandar gente aqui para o restaurante. (...) Eu
Proprietária mando para ajudar o restaurante. Veio só um casal de Lisboa que eram amigos dele (do
da casa de
dono o restaurante). De Valhelhas sim, têm-me mandado para cá gente, mas também já
turismo
não é tanto. Mas mandavam e quando estão cheios telefonam a perguntar se tenho
possibilidade de receber um casal, ou assim. O restaurante de Valhelhas, por acaso...
mas já há nove anos. Eu aqui deste não posso dizer que nunca me mandaram ninguém
porque só há dois anos é que está aberto. Está difícil, também para eles. A comida é
muito bem confeccionada, também estão com comida regional, mas também tem estado
difícil para eles e eu tento sempre no inverno mandar para eles, eu falo nos de
Valhelhas, mas tento mandar para aqui para a aldeia, porque é bom para nós, começa a
haver mais gente, e também para os ajudar."
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“Sim, não temos protocolos assinados, não temos nada do género. Estas coisas às vezes
é um símbolo de amizade, já nos conhecemos, sabemos que o turismo é uma mais-valia
e o restaurante também é uma mais-valia. Temos uma festa nos dias dos namorados e
sorteamos um fim-de-semana no turismo rural, também para agradecermos pelos
clientes que ela manda para nós durante todo ano e não só, é mais publicidade. As
pessoas levam folhetos do turismo rural, é uma forma de cooperarmos e termos mais
conhecidos, tanto uns como os outros. (...) Olhe, nós aqui trabalhamos também uma
Proprietário pequena dinâmica, trabalhamos em cooperação com a casa de turismo rural, a casa de
do restaurante Figueira Grande, a Junta de Freguesia (mais até a titulo individual, o presidente da junta
que nos ajudou a tratar dos documentos. Enfim, pelo seu conhecimento). É graças a
estes tipos de cooperação que a Aldeia desenvolva, e presidente da junta vai trazendo
pessoas, vai convidando pessoas a virem, e pronto, tem sido também uma grande
publicidade para nós. E depois resume-se a isso porque, tudo o resto de iniciativas são
muito pouco. Isto também é próprio do país.”
"Ela (filha e dona da casa de turismo rural) leva pão e, de vez em quando, fiambre, para
Mercearia I
dar o pequeno-almoço de manhã aos hóspedes, mais nada."
Presidente da "Eu creio que sim. (...) Aqui as pessoas, também criticam uns e outros, mas se alguém
Junta de
necessitar, que tenha um problema qualquer, toda a gente ajuda."
Freguesia
“Nem temos apoio de publicidade, que é muito mau, portanto, tem que ser tudo. Pela
internet, nós temos que pagar, não temos apoio de nada porque eu acho, que eles
deviam divulgar, nem tanto os hotéis, mas estas casas pequeninas, portanto, o turismo,
porque se a gente empatou dinheiro e estamos aqui à espera de hóspedes, acho, que
Proprietária deviam divulgar mais o turismo (...) É muito bom e temos a nossa página, a página do
da casa de turismo da Serra da Estrela, que também tem e tem aquele site que é:
turismo portalserradaestrela.biz. Um senhor é que levou esse dinheiro (para pagar a publicidade
na internet), mas acho, que não tenho assim grandes vantagens (...) Podiam ser preços
mais risonhos e agora na internet é publicidade e publicidade, querem todos que lhes
mandem dinheiro para nos mandar pessoas, é complicado.”
“A Serra da estrela não tem…não estamos preparados, não estamos organizados para
que isso aconteça…acho que falta uma grande organização…até porque temos tudo
Proprietário para andar…temos neve e mais ninguém tem, e depois temos uma serie de eventos que
do restaurante já vai trazendo muita gente…mas acaba por ser pouco… as pessoas dos restaurantes, as
pessoas dos hotéis, presidentes de câmaras, directores das principais associações
existentes e o ponto principal, a região turismo serra da estrela, esta gente toda não tiver
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uma capacidade para termos um sentido de orientação daquilo que queremos para
Serra…daqui amanhã a serra da estrela é uma ilusão…presume-se a neve, mas já não
tem cá neve. Um indivíduo entra aqui, e não tem certo acompanhamento, não tem certo
rumo…é mete-se num carro, sobe a zona da Covilhã, desce para Seia, sobe por
Gouveia, desce por Manteigas, viu a Serra mas não teve um acompanhamento, não teve
uma placa a dizer por onde é que está a passar, a que altura está (agora já umas placas a
dizer), não sabe o nome da lagoa por onde passou. Quer dizer, o turista vem e anda um
pouco a deus dará, tem pouca informação, aliás a informação que têm, dão conta da
existência de aldeias históricas, mas não tem aquela informação para ele vir".
"A divulgação é sempre complicado, com as novas tecnologias é muito fácil saber o que
Presidente da há nas regiões, eu creio que sim, que está bem divulgado, com folhetos. Agora para se
Junta de fazer uma casa com muita fama e fazer do seu trajecto por Vale Formoso. Mas quando
Freguesia nós vemos pessoas a repetir, tanto no restaurante como na casa de turismo é porque
gostaram, por isso, é muito bom."
"Artesanato, não dá. Eu já tentei por aqui, fazer os meus doces. As pessoas no início
Proprietária compravam, as pessoas vinham e queriam levar alguma coisa da zona, como as mantas
da casa serranas, mas hoje já não levam nada, as pessoas vêm dormir, tomar o pequeno-almoço,
ir passear, mas não levam nada."
"Fazia e vendia. (...) Era para quem calhava. Em geral tinha um freguês certo, que era
ali de... era o Gonçalo que me as vinha cá buscar e depois as ia vender no mercado. (...)
Artesão Era cadeiras. (...) Mais nada. (...) Havia cá muitos artesãos, agora já não há cá ninguém.
Muitos imigraram, eu tenho as mãos todas tortas por causa disso, dava muito trabalho, e
isto já não dava nada."
Proprietário "Sim, temos produtos artesanais aqui expostos, para venda. São feitos por uma senhora
do restaurante em Belmonte."
“Não, agora não pode vender nada disso. O queijo tem que ter um rótulo. Há muita
Mercearia II
coisa que não se pode vender.”
“A aldeia em si, e visto que está inserida na Serra da Estrela, a gastronomia acaba por
Proprietário ser um pouco a gastronomia da Serra da Estrela, temos as cherovias, o arroz doce, as
do restaurante
papas de carolo, o cabrito, a truta, prontos, pratos próprios da região.”
“Olhe, eu não sou daqui, não conheço muito bem qual é mas, quando é no tempo das
vindimas, toda gente vai a praça da Covilhã comprar cherovias (espécie de cenoura,
Mercearia II
parecido com uma raiz branca que se come frito) que é o prato tradicional daqui, acho
eu que é este.”
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Presidente da "A gastronomia, na nossa freguesia, e posso-lhe dizer que a região mesmo daqui é o
Junta de cabrito é o bacalhau, os enchidos, porque se fazia a matança do porco mas agora é
Freguesia proibido. (...) A tradição vai-se perdendo."
Proprietária "Aqueles que vêm (às festas) têm os familiares e vão para a casa deles. Para aqui
da casa de
praticamente não vem ninguém."
turismo
“Conforme, a Aldeia tem duas festas grandes anuais (Festas do Santo Antão e da
Senhora da Saúde). A de Santo Antão é mais para os locais, até porque foi agora em
Maio, é noutra altura do ano. A da Senhora da Saúde é a que trás mais gente porque é
nas férias, é quando os emigrantes cá estão, quando vêem aqueles que se deslocaram
para Lisboa, para o Porto ou para outras partes do país. Temos de 2 em 2 anos a
Proprietário descoberta da Moura que já é um evento grandioso demais para a aldeia que é…e então
do restaurante
é isso, ai vêem muita gente de fora, Guarda, Belmonte, Covilhã, gente da região já.
Estas festas trazem contributo. Repare nem que a pessoa venha 4 ou 5 da tarde e ainda
tenha hipótese de vir ao restaurante, porque a esta hora não se servem almoços nem
jantares, a verdade é que vai consentido que viu e que está aqui um restaurante…isto é
uma forma de publicidade, é uma forma de divulgar o próprio restaurante.”
"A mercearia está aberta nos dias de trabalho, aos domingos não. (...) ainda há dias
houve aí uma festa, o Santo Antão. (...) Na festa da Senhora da Saúde, que é em Agosto,
Mercearia I é que vem mais gente de fora, de Lisboa. (...) não, são de cá da terra, vêm de Lisboa
para passar a festa, que é a festa tradicional da aldeia, que é a Senhora da Saúde, e esta
que agora foi feita há quinze dias é o Santo Antão."
Proprietário
da casa de "Os doces são feitos todos cá na quinta, todos os dias há doces diferentes."
turismo
"Quando é altura do pêssego, há sempre um agricultor ou outro que nos dá uma caixa
Proprietário ou outra e depois a gente faz uma sobremesa com este pêssego, umas entradas com este
do restaurante
pêssego, uns acompanhamentos. Tentamos sempre gastar produtos de cá"
Proprietária "Eu dou aos hóspedes no inverno o sumo de pêssego, e eles adoram. Eles dizem que
da casa de
enquanto eu tiver pêssego para não dar de laranja."
turismo
"Os sumos que tenho aqui, vêm todos da Grula, que é uma casa fornecedora. Os
produtos vêm todos do armazém. (...) nós somos obrigados a comprar ao armazém."
Mercearia I
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“Temos aqui atractivos, temos aqui Belmonte que nos ajuda bastante, tem os museus,
tem o castelo, eu mando sempre para Belmonte, para Sortelha, que é lindíssimo, é para
onde eu mando os meus hóspedes, vão ver os museus judaicos ali de Belmonte e é para
Proprietária a pista sintética, para a serra.”
da casa de
“No inverno são mais de cá por causa da neve. No verão já vêm mais estrangeiros.”
turismo
"É a neve, a nossa atracção aqui é a neve. Caso contrário, não há outro atractivo, que é
pena não haver na nossa zona outros atractivos sem ser na altura da neve, porque a
nossa época alta é o inverno e no verão os preços vão para baixo."
Artesão "Existe cá um miradouro que dá para ver o vale e existem duas fontes romanas."
"O marco turístico (…) não se esqueçam na altura da cereja na altura da cereja, aquilo é
um espectáculo depois vem a vinha depois as pessoas agora a colheita da cereja. Está
tudo muito ligado à fruticultura. Agora vou tentar reavivar um marco teatral, fiz há dois
anos, a descoberta da moura já a 49 anos que não era feita e este ano vamos tentar fazer
novamente. Os únicos dados que tínhamos era algumas fotografias e as documentos a
contar como foi e dei aos técnicos para eles fazerem. A moura aparece no bosque numa
cabana, vestida de branco cheia de ouro. Nessa altura isso significava para os romanos e
Presidente da para nós um vale bom, uma aldeia boa para viver, temos a serra na encosta e o vale com
Junta de o rio e nessa altura os romanos valorizavam muito os rios, e foi daí que nasceu uma
Freguesia festa em homenagem, quando foi a primeira vez não se sabe, não significa um milagre
mas transmitir que se trata de um vale fértil magnífico que é esta região. Portanto o
turista que vem aqui não fica arrependido de conhecer uma aldeia histórica, creio que
passaram cá os romanos, há vestígios calçada romana e havia também um forno
romano, mas não foi possível recuperar e então meteu-se areia e terra e está tapado,
vieram cá o EPA. (...) Era muito complicado, era muita despesa, casas deitadas a baixo,
aquilo não se sabe bem se era um forno para fazer cerâmica ou para aquecimento de
águas."
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