Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
A Cruz Mutilada
A Cruz Mutilada
Alexandre Herculano
Amo-te, cruz, no vrtice, firmada
De esplndidas igrejas;
Amo-te quando noite, sobre a campa,
Junto ao cipreste alvejas;
Amo-te sobre o altar, onde, entre incensos,
As preces te rodeiam;
Amo-te quando em prstito festivo
As multides te hasteiam;
Amo-te erguida no cruzeiro antigo,
No adro do presbitrio,
Ou quando o morto, impressa no atade,
Guias ao cemitrio;
Amo-te, cruz, at, quando no vale
Negrejas triste e s,
Nncia do crime, a que deveu a terra
Do assassinado o p:
Porm guando mais te amo,
cruz do meu Senhor,
, se te encontro tarde,
Antes de o Sol se pr,
Na clareira da serra,
Que o arvoredo assombra,
Quando luz que fenece
Se estira a tua sombra,
E o dia ltimos raios
Com o luar mistura,
E o seu hino da tarde
O pinheiral murmura.
*
E eu te encontrei, num alcantil agreste,
Meia quebrada, cruz. Sozinha estavas
Ao pr do Sol, e ao elevar-se a Lua
Detrs do calvo cerro. A soledade
No te pde valer contra a mo mpia,
Que te feriu sem d. As linhas puras
De teu perfil, falhadas, tortuosas,
*
No! Quando, em p desfeita, a cruz divina
Deixar de ser perene testemunha
Da avita crena, os montes, a espessura,
O mar, a Lua, o murmurar da fonte,
Da natureza as vagas harmonias,
Da cruz em nome, falaro do Verbo.
mato variado,
De rosmaninho e murta entretecido,
De cujas tnues flores se evapora
Aroma delicado,
Quando s por leve aragem sacudido,
Em ti minha alma a eterna cruz adora.
mar, que vais quebrando
Rolo aps rolo pela praia fria,
E fremes som de paz consoladora,
Dormente murmurando
Na caverna martima sombria,
Em li minha alma a eterna cruz adora.
Lua silenciosa,
Que em perptuo volver. seguindo a Terra,
Esparzes tua luz ameigadora
Pela serra formosa,
E pelos lagos que em seu seio encerra,
Em ti minha alma a eterna cruz adora.
Debalde o servo ingrato
No p te derribou
E os restos te insultou,
veneranda cruz:
Embora eu te no veja
Neste ermo pedestal;
s santa, s imortal;
Tu s a minha luz!
Nas almas generosas
Gravou-te a mo de Deus,
E, noite, fez nos cus
Teu vulto cintilar.
Os raios das estrelas
Cruzam o seu fulgor;
Nas horas do furor
As vagas cruza o mar.
Os ramos enlaados
Do roble, choupo e til