Além da presença destes dois personagens centrais na narrativa do filme, pode-
se indicar a cidade e sua estrutura arquitetônica repleta de "irregularidades estéticas e éticas" como terceira personagem, visto que tanto metaforicamente quanto na realidade constitui-se de diversos prédios que formam barreiras, afastando e isolando as pessoas em seu próprio mundo – nascendo assim, os diversos males enunciados por Martin e evidenciando o impacto da metrópole sobre o ser humano. Esta realidade de pânico e solidão é tão comum atualmente que o filme poderia muito bem se passar em qualquer outra grande cidade que não seja Buenos Aires, por exemplo.
O filme também aborda sobre a expansão da tecnologia e da internet, onde
Martin e Mariana encontram-se situados dentro desta realidade, onde a solidão que surge como consequência de um mundo cada vez mais tecnológico, onde a internet que nos conecta ao mundo nos afasta da vida, nos fazendo viver dentro de seus universos particulares, cada vez mais solitários e fóbicos, cada vez mais necessitados de contato humano. Martin e Mariana refletem este mundo onde conectar-se não é necessariamente se relacionar com o outro, onde o que é virtual é perfeito, mas na realidade, nada funciona. A história acaba nos fazendo remeter em pelo menos algum pedaço da nossa vida.
Através do bom humor e de uma crítica exposta, Medianeras é uma narrativa
repleta de metáforas, tais como esta presente no título do filme. Tal nome é, precisamente, o espaço dos edifícios que não servem de nada, ocupado geralmente por propaganda, uma parede lisa e sem janelas. E quando os personagens decidem quebrar parte desta medianera, abrindo um buraco que de certa forma abre espaço para a luz da esperança adentrar em suas vidas, o clima do filme passa a ser menos melancólico. A abordagem da melancolia no filme não é feito como na maioria dos outros – bebidas, drogas, compulsividade – e sim através do retrato da solidão vivida em casa, da solidão anônima nas ruas de Buenos Aires.
A ideia e o propósito por trás do livro “Onde está Wally?” é no mínimo
inteligente e dá um toque interessante ao filme. Mariana se perde lendo as páginas do livro e se frustra por nunca conseguir encontrá-lo. Wally é qualquer um entre milhares que passam por nossas ruas e praças cotidianamente e se, para a personagem encontra-lo no livro parece difícil, imagina na vida real. A comparação sintetiza a ideia do filme, pois Martin está presente ali ao lado dela, esta que é incapaz de ver isto. E o filme apresenta diversas situações de encontro casual entre ambos.
Medianeras: Buenos Aires na Era do Amor Digital é um filme de humor leve,
mas que trata da sua maneira o crescimento urbano e tecnológico. Um reflexo de nossa vida urbana atual onde a falta de confiança no próximo e o medo da solidão estão cada vez mais presentes. Ponto positivo para as cenas e o ambiente criado para repassar-nos uma melancolia específica do filme. Medianeras é simples, mas inteligente e igualmente emocionante.