Direito do Trabalho I

Exame – 2.ª turma

9 de Janeiro de 2015

I. De entre os seguintes grupos de afirmações, seleccione a que considera mais

acertada: (1 val. x 6)

1 - Um jovem à procura do primeiro emprego:

a) pode ser contratado por tempo indeterminado ou a termo incerto:
 b) pode ser contratado por tempo indeterminado ou a termo certo;

c) só pode ser contratado a termo certo;

d) só pode ser contratado por tempo indeterminado;
e) pode ser contratado a termo certo ou a termo incerto.

2 - As faltas justificadas:
a) não implicam perda de retribuição, mas implicam sempre desconto na antiguidade;
b) implicam sempre perda de retribuição, mas não implicam desconto na antiguidade;
c) podem implicar perda de retribuição e implicar desconto na antiguidade;
d) não interrompem a contagem do período experimental;
 e) quando atingem a duração de um mês determinam a suspensão do contrato de
trabalho.

3 - O princípio da primazia da realidade significa:

a) que, em regra, o trabalhador não goza do direito de se opor à transmissão do seu contrato de
trabalho em caso de transmissão da empresa;
b) que, em regra, no contrato de trabalho, prevalece a regra da liberdade de forma;
c) que, em regra, o trabalhador, quando o despedimento é declarado inválido, tem direito a uma
tutela de tipo reintegratório;
 d) que, em matéria de qualificação contratual, o juiz deve dar prevalência à vontade real
das partes sobre a vontade declarada;
e) nenhuma das afirmações anteriores está correcta.

4 - O regime jurídico constante do artigo 194.º, n.º 1 do Código do Trabalho, em princípio:

a) pode ser modificado por convenção colectiva de trabalho, mas não pode ser modificado por
contrato individual de trabalho;
b) pode ser modificado por contrato individual de trabalho, mas não pode ser modificado por
convenção colectiva de trabalho;

1
c) não pode ser modificado por convenção colectiva de trabalho nem por contrato individual de
trabalho;
 d) pode ser modificado por convenção colectiva de trabalho e por contrato individual de
trabalho;

e) consagra o chamado “destacamento”.

5 - O prazo de prescrição dos créditos do trabalhador é de:

a) um ano a contar do dia seguinte ao do vencimento do crédito;
 b) um ano a contar do dia seguinte ao da cessação do contrato, em qualquer caso;

c) um ano a contar do dia seguinte ao da cessação do contrato, havendo casos especiais em que
o prazo prescricional é de cinco anos;
d) não há prazo, uma vez que o crédito salarial é imprescritível.
e) nenhuma das hipóteses anteriores é correcta.

6 - O acordo revogatório do contrato de trabalho:

a) é válido, se for celebrado verbalmente;
 b) só é válido, se for reduzido a escrito e assinado por ambas as partes;

c) só é válido, se for reduzido a escrito e as assinaturas forem objecto de reconhecimento

notarial;
d) só é válido, se atribuir ao trabalhador o direito a uma compensação de fim de contrato;
e) só é válido, se a data de celebração coincidir com a data de início da produção dos efeitos;

II. Resolva a seguinte hipótese prática

Emílio é trabalhador da Emex, Lda. desde 2008. No passado dia 20 de Outubro, foi
notificado de uma nota de culpa, enviada pela entidade empregadora, acompanhada da menção
à intenção de despedimento.
Tendo-se concretizado a intenção, o despedimento foi comunicado a Emílio uma
semana depois, apesar de ele não ter respondido à nota de culpa.
O motivo de despedimento invocado pela entidade empregadora foi o seguinte: Emílio
havia desobedecido a uma ordem dada pelo seu superior hierárquico, ordem essa que lhe
impunha assumir as funções de responsável pelo departamento contabilístico, durante a ausência
de Maria, a trabalhadora normalmente incumbida daquelas tarefas; a entidade empregadora
invocou que essas funções estavam incluídas, por afinidade, no objecto do contrato de trabalho
de Emílio, cuja categoria era a de “responsável comercial”, prevista no regulamento interno
aplicável (de acordo com este, caberia aos trabalhadores dessa categoria dirigir a atividade e
verificar os resultados dos técnicos de vendas, apresentando relatórios à entidade empregadora
e, bem assim, definir e propor políticas comerciais e publicitárias).
1. Pronuncie-se, fundamentadamente, sobre a (in)validade do despedimento de Emílio. (4
val.)

Noção de despedimento e identificação do tipo aqui em causa;

Identificação das condições de validade: material (justa causa) e procedimental;
Dimensão material: 1) há infracção disciplinar? O trabaçhador tem dever de obediência e
violou-o, mas há que saber se a ordem é legítima; enquadramento da ordem dada no âmbito dos
poderes do empregador relacionados com a prestação devida pelo trabalhador (objecto);
questionar se as tarefas poderiam considerar-se afins (análise do artigo 118.º); concluir que, se
assim não fosse, o empregador podia lançar mão da faculdade que lhe concede o artigo 120.º,
n.º 1, sob a epígrafe mobilidade funcional; conclusão: se cumpridos os requisitos, a ordem podia
ser legítima, pelo que o trabalhador devia obediência; 2) há justa causa de despedimento, ié, a
infracção reveste os caracteres enunciados no artigo 351.º, n.º 1 (abordar relação entre n.º 1 e n.º
2)? Análise do conceito de justa causa.
Dimensão procedimental: breve descrição do procedimento, nas suas diferentes fases.
Identificação dos vícios sugeridos pelos elementos fornecidos: pelo menos, houve violação do
direito de resposta à nota de culpa; menção ao princípio do contraditório e ao sentido da
resposta à nota de culpa. identificação deste vício como causa de invalidade (artigo 382.º).

2. Se o despedimento viesse a ser considerado ilícito por sentença judicial com trânsito em
julgado no dia 31 de Março de 2015, diga que créditos poderia o trabalhador reclamar,
assumindo os seguintes pressupostos: (i) auferia uma retribuição mensal de 1200€; (ii)
da convenção colectiva aplicável resultava que o subsídio de férias seria no valor de ¾
da retribuição mensal; (iii) Emílio não pretende a reintegração; (iv) no ano do
despedimento já gozara férias e, à data do mesmo, o empregador pagou o subsídio de
Natal correspondente ao período decorrido até ao final de Outubro de 2014. (4 val)

Despedimento ilícito/despedimento inválido – explicação dos conceitos;

Consequências da declaração de ilicitude/invalidade:
-indemnização por prejuiízos sofridos – alusão;
-salários intercalares: noção e cálculo;
-reintegração/indemnização substitutiva: noções e modo de articulação; indicação da forma de
cálculo da indemnização de acordo com os dados fornecidos;
-liquidação da relação, nomeadamente dos montantes devidos a título de subsídio de Natal e de
férias: subsídio de Natal: proporcionais quanto ao ano do despedimento + proporcionais devidos
pelo ano de extinção da relação (data de trânsito em julgado da sentença); férias: férias vencidas
a 1 de Jan. de 2015 (retribuição + subsídio); férias vincendas (proporcionais [3/12] da
retribuição e do subsídio; como pressuposto da resposta: análise da validade da cláusula da cct
acerca do valor do subsídio de férias; como era diferente do da retribuição, o cálculo teria de ser
feito autonomamente.
3. Suponha agora que Emílio havia sido contratado, a 1 de Novembro de 2011, a termo
resolutivo e que esse termo se verificava a 31 de Outubro de 2014. Por essa razão, a
entidade empregadora, descontente com a prestação do trabalhador, ao invés de o
despedir, decidiu denunciar o contrato em termos de ele caducar naquele dia.
3.1. Pronuncie-se sobre esta possibilidade considerando que o contrato havia sido
celebrado verbalmente. (3 val.)

Noção de contrato a termo resolutivo; identificação do mesmo como certo; identificação

do contrato a termo como atípico e excepcional.
Condições de validade formais do contrato a termo resolutivo. Consequência da sua
violação e alcance da mesma no momento da cessação do contrato por força de declaração
do empregador.

3.2. E se, tendo sido celebrado validamente, a entidade empregadora,

diferentemente, pretendesse a sua renovação por mais um ano (a partir de 1 de
Novembro de 2014), seria essa pretensão viável? (3 val.)

O regime do CT e o regime das renovações extraordinárias (Lei n.º 76/2013).