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para o instrumento
RIBEIRO, Jamerson Farias
jamerson_farias@hotmail.com
Resumo: Este artigo busca refletir sobre a possibilidade de uma escrita idiomática para
a condução rítmica do cavaquinho, possibilitando assim novas formas de registro das
“palhetadas” e novas abordagens no ensino/aprendizagemdo instrumento. A análise de
métodos lançados comercialmente para o instrumento mostra que há um déficit de
conteúdo relacionado à transmissão da condução rítmica e que com a chegada do
instrumento ao nível universitário de ensino, será necessária uma grafia inteligível com
relação à articulação dos movimentos encontrados na execução do cavaquinho. O
estudo preliminar revelou que algumas das alternativas possíveis são osusos da
simbologia utilizada pelos instrumentos de cordas friccionadas para indicar a direção do
movimento do arco (arcadas) e dos métodos para instrumentos de percussão, como o
tamborim. Movimentos como os de meia-palhetada ainda necessitam de melhor
estruturação.
Abstract: This article search to discuss the possibility of an idiomatic writing for the
cavaquinho’s rhythmic conduction, enabling new forms of record of "palhetadas" and
new approaches in teaching / learning for instrument. The analysis methods
commercially released for the instrument show that there is a deficit of content related
to the transmission of rhythmic conduction and with the arrival of the instrument in
university-level education, is required an intelligible spelling concerning articulation
movements finding in the execution of the cavaquinho. The preliminary study revealed
that some of the possible alternatives are the symbols used by the uses instruments
rubbed strings to indicate the direction of the arc of motion (arcades) and methods for
percussion instruments such as the tambourine. Movements as “meia-palhetada” of the
still need better structure.
Introdução
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Formação instrumental de cavaquinho, violões, pandeiro e um solista (flauta, clarinete, bandolim) que
surgiu no rádio na década de 1930.
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Segundo Almada (2009) as fórmulas harmônicas são progressões de acordes encontradas nas
harmonizações dos samba e choros que, de tão recorrentes, foram integradas aos gêneros no âmbito
composicional e prático.
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Nesse período as harmonias eram representadas (quando havia representação) em um sistema de
cifragem diferente do que conhecemos atualmente. Classificavam os acordes de acordo com suas funções
dentro das progressões harmônicas (ex.: “1ª do tom”, “2ª do tom”, se referindo à tônica e a dominante ou
preparação), sendo prática comum nesse período o aprendizado de instrumentos através dos “tons” e das
“posições”, como os músicos mais antigos costumavam dizer.
A partir da década de 1930, com a fixação dos conjuntos regionais nas rádios, o
número de gravações de samba e choro aumentou consideravelmente. A partir da
década de 1950 os discos passaram a ser fonte de aprendizado indispensável (como é até
os dias de hoje) para violonistas e cavaquinistas, principalmente. Vale ressaltar que até
esse período as partituras (editadas e manuscritas) não possuíam cifras, somente a
melodia, reforçando assim a transmissão oral nas práticas de acompanhamento. A partir
da década de 1940 é possível encontrar em algumas partituras uma representação de
cifra diferente do atual que tinha como basea função dentro da tonalidade, indicando um
conhecimento prático de harmonia funcional por partes dos músicos da época.
Segundo Boscarino Junior os primeiros métodos para o instrumento produzidos
no país datam no inicio da década de 1930, onde era possível encontrar as posições dos
acordes desenhadas em pequenas reproduções do braço do instrumento, além de
fórmulas harmônicas das tonalidades maiores e menores (Boscarino Junior, 2002, p.
17). Dentre os métodos para cavaquinho lançados comercialmente podemos citar O
Lunático. Método prático para cavaquinho (1935), de Ivo Duncan; Tupan - Método
prático para cavaquinho (1938), de Aníbal Augusto Sardinha (Garoto); Método prático
para cavaquinho (1953), Waldir Azevedo e Iniciação ao cavaquinho, de Ariovaldo de
Mattos (2000). Há ainda os métodos que aliam a teoria musical ao ensino do
instrumento, como é o caso da Escola moderna do cavaquinho (1988), de Henrique
Cazes e do Primeiro método de cavaquinho por música (2000), de Armando Bento de
Araújo (Armandinho).
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Ver Aragão (2011).
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Recurso utilizado por cavaquinistas onde a palhetada só atinge duas cordas do cavaquinho, sejam as
cordas mais graves ou mais agudas.
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Canhoto (1908 - 1987) foi um dos mais importantes cavaquinistas de nossa música popular e principal
representante da escola de cavaco-centro ou de acompanhamento. Foi integrante dos conjuntos de
Benedito Lacerda até 1950 quando fundou o próprio grupo, o Regional do Canhoto. Para mais ver Farias
(2014).
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Ver Tagg (2003).
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Escola de música fundada por Mauricio Carrilho e Luciana Rabello, localizada no Rio de Janeiro - RJ,
que utiliza a linguagem do choro como suporte didático.
São apresentadas duas linhas rítmicas, assim como na escrita para tamborim, que
parecem ter como objetivo reforçar a informação de articulação dos movimentos já
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Jonas (1934 – 1997) foi integrante do conjunto Época de Ouro, criado por Jacob do Bandolim.
Conclusão
Podemos observar que o ensino/aprendizagem do cavaquinho formalizou-se ao
longo dos anos, adotando práticas de ensino e metodologias utilizadas pelas academias
de música: partindo de uma exclusiva transmissão oral até a utilização da notação
musical como suporte didático no ensino do instrumento em suas diferentes formas de
atuação (acompanhamento rítmico-harmônico e cavaco solo). A instituição do
bacharelado em cavaquinho na Escola de Música da UFRJ também é resultado desse
processo.
Com relação aos métodos para o instrumento, atualmente grade parte tem como
referência a harmonia funcional, focando seu conteúdo em cadências e fórmulas
harmônicas recorrentes na prática do instrumento (Duncan, 1935; Sardinha, 1938;
Azevedo, 1953; Mattos, 2000). Outros se dedicam ao ensino do instrumento aliado ao
ensino da teoria musical (Cazes, 1988; Araújo, 2000), porém com pouca ênfase na
transmissão de palhetadas e condução rítmica. Somente um dos métodos revisados é
totalmente dedicado as palhetadas, porém utiliza uma abordagem audiovisual (Habkost;
Segura, 2005).
Aos poucos o tema passa a ser discutido por pesquisadores e estudantes dentro
da universidade (Farias, 2014; Rodrigues, 2014), fazendo com que as reflexões
caminhem em direção a padronizações com relação a uma escrita idiomática que atenda
as nuances da condução rítmica do cavaquinho. A observação de métodos de percussão
como o tamborim, pode ser importante para resolver questões relacionadas à grafia de
articulações específicas do instrumento, como o abafamento e a meia-palhetada.
Referências
ALMADA, Carlos. Harmonia Funcional. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2009.
ARAGÃO, Pedro de Moura. O Baú do Animal: Alexandre Gonçalves Pinto e o Choro.
RJ: Tese de Doutorado em Música. UNIRIO, 2011.