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Introdução à Semiologia

FRANCISCO LEYDSON F. FEITOSA

"As PESSOAS SE ESQUECEM DO QUE OUVEM; LEMBRAM DO QUE LÊEM;


PORÉM, SÓ APRENDEM, DE FATO, AQUILO QUE FAZEM"
(Adão Roberto da Silva)

INTRODUÇÃO
A constante correlação entre as informações obtidas por anamnese e
exame físico meticuloso conduz, invariavelmente, à elaboração de hi-
póteses diagnosticas, tornando o dia a dia da prática médica, um exer-
cício mental dos mais estimulantes. Dessa forma, a rotina clínica diá-
ria é essencialmente uma atividade que depende da habilidade e do
raciocínio, sendo, cada diagnóstico, um desafio, um problema que precisa
ser solucionado. A semiologia é a parte da medicina que estuda os
métodos de exame clínico, pesquisa os sintomas e os interpreta, reu-
nindo, dessa forma, os elementos necessários para construir o diagnóstico
e presumir a evolução da enfermidade. A palavra semiologia provém
do grego semeion: que quer dizer sintomas/sinais e logos: que significa
ciência/estudo.

SUBDIVISÃO DA SEMIOLOGIA
A semiotécnica pode, ainda, ser subdividida da seguinte forma:
Semiotécnica. É a utilização, por parte do examinador, de todos os
recursos disponíveis para se examinar o paciente enfermo, desde a
2 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico

simples observação do animal até a realização de se revelam no animal (tosse, claudicação,


exames modernos e complexos. É a arte de exa- dispneia). , O sinal, por sua vez, não se limita à
minar o paciente (Fig. 1.1). observação da manifestação anormal apresentada
Clínica Propedêutica. Reúne e interpreta o grupo pelo animal, mas principalmente, a avaliação e a
de dados obtidos através do exame do paciente. conclusão que o clínico retira do(s) sintoma(s)
É um elemento de raciocínio e análise fundamental, observado(s) e/ ou por métodos físicos de exame.
na clínica médica, para o estabelecimento do dia- É um elemento de raciocínio! Por exemplo,
gnóstico. quando se palpa uma determinada região com
Semiogênese. Busca explicar os mecanismos pelos aumento de volume e onde se forma uma
quais os sintomas aparecem e se desenvolvem. depressão que se mantém mesmo quando a
pressão é retirada, é sugestivo de edema
resultando no que se chama de sinal de godet
CONCEITOS GERAIS positivo. O sintoma, nesse caso, é o aumento de
volume, que, por si só, não o caracteriza, pois
pode ser tanto um abscesso quanto um
Sintoma ou Sinal? hematoma. O examinador, utilizando um método
Sintoma também é uma palavra de origem grega físico de exame (palpação), obtém uma resposta e
(sintein = acontecimento), sendo a sua conceitua- utiliza o raciocínio para concluir que se trata de
ção divergente entre as diferentes escolas e, conse- um edema.
qúentemente, entre os diferentes profissionais. Atualmente, na Medicina Veterinária, exis-
Para a medicina humana, sintoma é uma sen- tem diferentes correntes de pensamentos na
sação subjetiva anormal, sentida pelo paciente e dependência da escola que se segue, se america-
não visualizada pelo examinador (dor, náusea, na c/ou europeia:
dormência). Já, sinal é um dado objetivo, que pode
ser notado pelo examinador por inspeção, palpa- • O sintoma é um indício de doença sendo, o
ção, percussão, auscultação ou evidenciado por meio sinal, o raciocínio feito após a observação de
de exames complementares (tosse, edema, cia - um determinado sintoma.
nose, sangue oculto). Na medicina veterinária, o • Sintoma é um fenómeno anormal revelado
sintoma, por definição, é todo o fenómeno anor- pelo animal, ao passo que o sinal é composto
mal, orgânico ou funcional, pelo qual as doenças por todas as informações obtidas pelo clínico
a partir do seu exame.

Determina as Determina as Promove alterações


alterações anatómicas alterações funcionais orgânicas para se
por meios físicos por meio de comprovar o diagnóstico
registros gráficos

Ex: aumento de volume articular Ex: cletrocardiograma Ex: prova de tuherculinização

Figura 1.1 - Divisão da semiotécnica.


Introdução à Semiologia 3

• Não existem sintomas em medicina veteri- mente, a prejuízos de outras funções do organis-
nária, tendo em vista que os animais não ex- mo (neoplasia mamaria com posterior metástase
pressam verbalmente o que sentem. Para os para pulmões). Já, os sintomas principais, forne-
seguidores dessa corrente, todas as manifes- cem subsídios sobre o provável sistema orgânico
tações objetivadas pelo paciente e obtidas por envolvido (dispneia nas afecções pulmonares;
intermédio dos métodos de avaliação clínica alterações comportamentais por envolvimento do
são simplesmente sinais. sistema nervoso). Existem, ainda, os chamados
sintomas patognomônicos ou únicos, os quais só per-
Sem dúvida, esse tipo de discussão confun- tencem ou só representam uma determinada
de, sobremaneira, não só os alunos de graduação enfermidade. Em medicina veterinária, se exis-
como os colegas, visto que a maioria dos profis- tem, são extremamente raros. Um exemplo des-
sionais utiliza os termos sintoma e sinal como crito como clássico é a protrusão da terceira pál-
sinónimos na rotina prática, sem atender a qual- pebra em equinos, nos casos de tétano. Os sinto-
quer linha de pensamento anteriormente descri- mas podem ser classificados como:
ta. Uma padronização dos mais variados termos
médicos pelas diferentes escolas tornaria as vá- • Quanto à evolução:
rias denominações mais facilmente entendidas e - Iniciais: são os primeiros sintomas obser
aceitas. vados ou os sintomas reveladores da doença.
- Tardios: quando aparecem no período de
Glossário Semiologia) plena estabilização ou declínio da enfer
Saúde: "Estado do indivíduo cujas funções midade.
orgânicas, físicas e mentais se acham em situação - Residuais: quando se verifica uma aparente
normal". "Estado que é sadio ou são". recuperação do animal, como as mioclonias
que ocorrem em alguns casos de cinomose.
O correto e oportuno reconhecimento das
enfermidades com o objetivo de adotar as medi- • Quanto ao mecanismo de produção:
das adequadas de tratamento dependem da per- - Anatómicos: dizem respeito à alteração da
cepção dos sintomas. Nesse sentido, deve-se con- forma de um órgão ou tecido (espleno-
siderar as mais variadas facetas que apresentam, megalia, hepatomegalia).
sabendo que um único fator pode culminar no - Funcionais: estão relacionados com a alte
aparecimento de diferentes sintomas e, de forma ração na função dos órgãos (claudicação).
inversa, um determinado sintoma pode se mani- — Reflexos: são chamados, também, de sinto-
festar em decorrência das mais variadas causas. mas distantes, por serem originados longe
Diversos tipos de classificação de sintomas são da área em que o principal sintoma apare-
descritos na literatura, dentre os quais destacam- ce (sudorese em casos de cólicas, taquipnéia
se os sintomas locais, gerais, principais e, por fim, em caso de uremia, icterícia nas hepatites).
os sintomas patognomônicos.

Glossário Semiológico Síndrome


Doença: "Evento biológico caracterizado por
alterações anatómicas, fisiológicas ou bioquímicas, Modernamente, síndrome (do grego syndro-
isoladas ou associadas". mos = que correm juntos)|p o conjunto de sinto-
mas clínicos, de múltiplas causas e que afetam
Os sintomas "locais" são assim denominados, diversos sistemas; quando adequadamente reco-
quando as manifestações patológicas aparecem cla- nhecidos e considerados em conjunto, caracte-
ramente circunscritas e em estreita relação com o rizam, por vezes, uma determinada enfermida-
órgão envolvido (claudicação em casos de artrite de ou lesão (síndrome de Shift-Sherington, sín-
séptica interfalângica distai; hiperemia da conjun- drome cólica). O reconhecimento de uma
tiva palpebral por irritação). Os sintomas "gerais" síndrome constitui o diagnóstico sindrômico.
são manifestações patológicas resultantes do com- Contudo, em algumas situações, a síndrome não
prometimento orgânico como um todo (endoto- revela a entidade mórbida, mas é de fundamen-
xemia), ou por envolvimento de um órgão ou de tal importância na identificação da doença, pois
um determinado sistema, levando, conseqiiente- reduz o número de possibilidades diagnosticas
4 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico

e orienta as investigações futuras. A febre, con- cessos bioquímicos e metabólicos, a descoberta


siderada a síndrome mais antiga c conhecida no dos hormônios e das vitaminas, o progresso da
universo médico, ocorre no carbúnculo hemático, imunologia, entre muitas outras conquistas, cul-
na aftosa, na cinomose, sendo que a sua presença, minaram com a identificação das causas de mui-
por si só, não caracteriza nenhuma dessas enfer- tas doenças, o que tornou possível o diagnósti-
midades, mas é de grande importância para o diag- co etiológico, que nada mais é que a conclusão
nóstico das mesmas. Na verdade, a febre é um do clínico sobre o fator determinante da doen-
conjunto de sintomas, pois em decorrência da ça (por exemplo, botulismo: Clostridium botu-
mesma ocorre ressecamento da boca, aumento linum; tétano: Clostridium tetani). Ao mesmo
da frequência respiratória e cardíaca, perda par- tempo, a utilização cada vez mais frequente dos
cial de apetite, oligúria, dentre outros, sendo a microscópios no estudo dos tecidos, permitiu o
elevação de temperatura (hipertermia), o sinto- diagnóstico histopatológico das lesões. Por sua
ma preponderante. vez, o exame macro e/ou microscópico de peças
cirúrgicas, biópsias ou o examepostmortem, en-
globando os diagnósticos anatómico e histopa-
Diagnóstico tológico, constitui o diagnóstico anatomopatoló-
gico. A utilização rotineira dos raios X como
Pela observação cuidadosa dos enfermos, auxiliar nas rotinas clínica e cirúrgica fez nascer
muitas doenças tornaram-se conhecidas por seus o diagnóstico radiológico. Dessa forma, cada
sintomas e por sua evolução, antes que se conhe- método novo de exame que foi ou vai sendo
cessem as suas causas. Surgiu, dessa maneira, a introduzido na prática médica conduz a novas
possibilidade do diagnóstico (do grego diagnosis = formas de diagnóstico. Fala-se hoje, corrente-
ato de discernir, de conhecer), ou seja, de reco- mente, em diagnóstico laboratorial, sorológico,
nhecer uma dada enfermidade por suas manifes- eletrocardiográfico, endoscópico, entre outros.
tações clínicas, bem como o de prever a sua evo- Entretanto, esses diagnósticos da era moderna
lução, ou melhor, o seu prognóstico. Para o clíni- nada mais são que meios auxiliares de exame
co, cada diagnóstico representa um desafio a ser clínico, já que devem ser precedidos e solicita-
vencido. Para tanto, ele deve identificar, distin- dos para uma suspeita inicialmente formulada
guir e particularizar um determinado estado de ou quando as hipóteses diagnosticas já foram
enfermidade. pré-estabelecidas. Não se deve ter a pretensão
O reconhecimento de uma doença com base de que a suspeita clínica venha a se encaixar
nos dados obtidos na anamnese, no exame físi- em um único tipo de diagnóstico. Ao contrário,
co e/ou exames complementares, constitui o dia- é possível, em muitos casos, o estabelecimento
gnóstico nosológico ou clinico sendo, na verda- de todos ou da maior parte dos diagnósticos
de, a conclusão a que o clínico chega sobre a acima mencionados.
doença do animal (por exemplo, pneumonia, Em várias ocasiões, nem sempre é possível
tétano, raiva). Não são incomuns os casos em estabelecer, de imediato, o diagnóstico exato da
que, tendo-se avaliado o animal e suspeitando- enfermidade que ora se manifesta. Nesses casos,
se de uma determinada enfermidade, realiza- c conveniente se fazer o que denominamos de
se um procedimento medicamentoso e, em caso diagnóstico prováve/, provisório ou presuntivo. Deve-
se, com a evolução do caso, tentar estabelecer o
de resposta favorável, fecha-se o diagnóstico.
diagnóstico por exclusão, eliminando-se, aos
Esse tipo de procedimento é denominado de
poucos, algumas hipóteses diagnosticas inicialmen-
diagnóstico terapêutico (por exemplo, animal
te presumidas, pelas características do quadro
magro, pêlos eriçados, deprimido, mucosas
sintomático apresentado dia a dia e pela realização
pálidas: vermífugo). Determinadas doenças pro-
de exames complementares.
duzem modificações anatómicas que podem ser
Sobre o valor do conhecimento, a capacidade
encontradas no exame macroscópico dos órgãos, de observação e os erros em medicina, o filósofo
permitindo se estabelecer o diagnóstico anató- francês Blase Pascal afirmou, no século XVII,
mico no qual se especifica o local e o tipo de que "a maioria dos erros médicos não se devem
lesão (por exemplo, artrite interfalângica distai, a falhas de raciocínio sobre fatos bem avaliados,
fratura cominutiva do fémur, lesão da válvula mas a raciocínio bem conduzido sobre fatos mal
tricúspide). A descoberta dos microorganismos observados".
por Pasteur, o melhor conhecimento dos pro-
Introdução à Semiologia 5

As principais causas de erro no estabelecimento 7. Não seja demasiado seguro de si.


do diagnóstico são: 8. Não hesite em rever seu diagnóstico, de tempo)
cm tempo, nos casos crónicos.
• Anamnesc incompleta ou preenchida erronea
mente. Percebe-se, claramente, que o diagnóstico não é
• Exame físico superficial ou feito às pressas. pautado cm adivinhações ou em intuições. Ele é
• Avaliação precipitada ou falsa dos achados concebido após a obtenção criteriosa dos dados e a
clínicos. avaliação pormenorizada das hipóteses. Uma suposição
• Conhecimento ou domínio insuficiente dos da importância (em %) das diferentes etapas do exame
métodos dos exames físicos disponíveis. clínico encontra-se no organograma a seguir. A
• Impulso precipitado cm tratar o paciente antes contínua prática médica e a avaliação repetitiva de
mesmo de se estabelecer o diagnóstico. um mesmo paciente ou de vários pacientes com uma
mesma doença são cruciais para a aquisição de
Os procedimentos para a resolução do pro- experiência e confiança. As manifestações de uma
blema clínico emergente envolvem duas fases: 1. mesma doença não são exatamente iguais em
elaboração de hipóteses; 2. avaliação das hipóte- diferentes animais. Tal pensamento levou o médico
ses obtidas. Geralmente, a elaboração de hipóteses brasileiro Torres Homem a descrever que "para um
domina a parte inicial da investigação clínica, ao clínico não existe enfermidade, e sim, enfermos". Por-
passo que a avaliação das hipóteses se sobrepõe tanto, deve-se avaliar a forma particular com que cada
nos estágios finais do exame clínico. indivíduo responde a uma mesma doença.
A elaboração de hipóteses inicia-se, tipica-
mente, quando as infor mações mínimas sobre "O aprimoramento da Semiologia e, conseqiien-
o caso em questão são conhecidas, tais como temente, a Clínica Médica, depende da repetição, sendo,
às vezes, mais conveniente informar menos e repetir
idade, sexo, raça c queixa principal. Quando os
mais, afim de se ter um melhor ensino e aprendizado."
dados da história do animal são reportados
Pró f. D r. Eduardo Harry Birgel
(anamnese) ou observados através dos sintomas
e/ou sinais (exame físico) há, involuntariamente,
a elaboração de hipóteses. A elaboração preco-
ce de uma hipótese de trabalho, logo no início
da tentativa de resolução do problema clínico,
é natural c necessária, já que propicia conduta Anamnese Exame Físico Diagnostico
ou direção que deve ser adotada durante o exame 50% 35% Complementares
clínico.
Durante a avaliação de uma hipótese, algu- Prognóstico
mas indagações iniciais e direcionadas, obtidas na Ao lado do diagnóstico, é importante estabe-
fase de elaboração, são rejeitadas e substituídas lecer o prognóstico, que.consiste em se prever a
por outras mais genéricas. cvoluçãoxla doença e suas prováveis conseqúên-
Sem dúvida, o trabalho mais difícil da práti- ciasjA palavra é oriunda do grego (pró: antes; gnosis:
ca médica é a avaliação dos dados clínicos e dos conhecer). O prognóstico é orientado levando-se
resultados dos exames complementares, quando em consideração três aspectos: /. perspectiva de
solicitados. Fazer diagnóstico c fazer julgamen- salvar a vida; 2. perspectiva de recuperar a saúde ou
to. Por isso, vale a pena relembrar os famosos prin- de curar o paciente; 3. perspectiva de manter a capa-
cípios de Hutchinson, enunciados no começo do cidadefuncional'do(s) órgão(s) acometido(s)t. Muitas
século, mas inteiramente válidos até os dias atuais: doenças evoluem naturalmente para a cura, com
ou sem tratamento. Algumas se tornam crónicas,
1. Não seja demasiadamente sagaz. com reflexos negativos na qualidade de vida. Ou-
2. Xão tenha pressa. tras, infelizmente, evoluem progressivamente até
3. Xão tenha predileções. o óbito. Quando se espera uma evolução satisfa-
4. Xão diagnostique raridades. Pense nas hipó tória, diz-se que o prognóstico c favorável; quan-
teses mais simples. do, ao contrário, se prevê o término fatal ou a pôs-
5. Xão tome um rótulo por diagnóstico.
6. Não tenha prevenções.
6 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico

sibilidadc de óbito, é desfavorável. Nos casos de MÉTODOS GERAIS DE


curso imprevisível, diz-se que o prognóstico é
duvidoso, reservado ou incerto. O prognóstico pode EXPLORAÇÃO CLÍNICA
ser favorável quanto à vida e desfavorável ou
duvidoso quanto à validez e à recuperação integral Semiotécnica e a
do paciente (displasia coxofemoral em cães de
grande porte). O prognóstico deve ser racional, Ciência do Diagnóstico
feito levando-se em consideração os dados obtidos
Aporte humano básico necessário:
(história clínica) e a avaliação física do paciente.
Para o prognóstico, deve-se levar em consideração, • Conhecimento.
além da doença, algumas características pertinentes • Raciocínio.
ao animal, tais como idade, raça, espécie e valor • Visão, audição, tato, olfação.
económico do animal; e, ao proprietário, tais como • Sensatez.
poder aquisitivo, para custear as despesas do • Organização.
tratamento, e condições de manejo disponíveis • Paciência.
na propriedade.
Material básico necessário:

Tratamento ou Resolução • Papel e caneta para anotações.


• Aparelho de ausculta.
E o meio utilizado para combater a doença. • Martelo e plexímetro para percussão.
Do conhecimento do estado do animal pelo exame • Termómetro.
clínico, surge a inspiração das medidas necessá- • Aparelho de iluminação (lanterna).
rias para a solução do processo patológico. Po- • Luvas de procedimento.
demos utilizar meios cirúrgicos, medicamentosos • Luvas de palpação retal.
e dietéticos. Às vezes, ocorre uma combinação • Otoscópio c oftalmoscópio.
desses recursos, outras, o tratamento é feito de • Especules vaginais.
forma individual, dependendo de cada caso. • Frascos para acondicionamento de amostras.
Quanto à finalidade, o tratamento pode ser: • Material específico para contenção (cordas,
cachimbo, mordaças, etc.).
• Causal: quando se opta por um meio que
combata a causa da doença (hipocalcemia: Coube a Hipócrates, meio milénio antes de Cristo,
administra-se cálcio). sistematizar o método clínico, dando à anamnese e
• Sintomático: quando visa combater apenas os ao exame físico — este basicamente apoiado na ins-
sintomas (anorexia: orexigênicos, vitaminas) peção e na palpação - uma estruturação bastante
ou abrandar o sofrimento do animal (analgé- semelhante à observada nos dias atuais. Em uma visão
sicos, antipiréticos). retrospectiva da evolução dos métodos clínicos, os
• Patogênico: procura modificar o mecanismo de seguintes acontecimentos merecem registro, pois
desenvolvimento da doença no organismo
mesmo tendo sido desenvolvidos para a medicina
(tétano: usa-se soro antitetânico antes que as
humana, são inquestionáveis os avanços que a medi-
toxinas atinjam os neurônios).
• Vital: quando procuramos evitar o apare- cina veterinária sofreu após a sua utilização.
cimento de complicações que possam fa- O primeiro deles é a medida da temperatura
zer o animal correr risco de morte (trans- corporal por intermédio do termómetro clínico,
fusão sanguínea em pacientes com anemia proposto por Santório, entre os anos de 1561 e
grave). 1636, que pode ser considerado o ponto de par-
tida da utilização de aparelhos simples que per-
"No diagnóstico, o clínico alcança a afirma- mitem obter dados de grande valor semiológico.
ção de seus conhecimentos; no prognóstico, pre- Em 1761, Auenbrugger publica o trabalho
vendo corretamente a evolução da doença, o clí- Inventum Novum, no qual sistematiza a percussão
nico terá a contraprova do seu acerto e, no su- do tórax, correlacionando os dados fornecidos por
cesso da terapia recomendada, a confirmação da esse método aos achados anatomopatológicos, pro-
sua competência." piciando um grande avanço no diagnóstico das
Prof. Dr. Eduardo Harry Birgel
doenças pulmonares.
Introdução à Semiologia 7

Em 1819, Laennec publica a obraDe/aAusca/- mal. Os principais métodos de exploração física são:
tation Médiate, descrevendo o estetoscópio e as Inspeção, Palpação, Percussão, Ausculta e Olfação.
principais manifestações csteto-acústicas das Cada uma dessas técnicas pode ser aperfeiçoada
doenças do coração e dos pulmões. Por volta de se os três "Pês" do exame clínico forem obedecidos:
1839, Skoda oferece grande contribuição para o Paciência, Perseverança e Prática. Para atingir
progresso do método clínico, correlacionando os a competência nesses procedimentos, o estudante
dados de exame físico do tórax, principalmente deve ''''ensinar o olho a ver, as mãos a sentir, e o
os de percussão e de ausculta, com os achados ouvido a ouvir". Lembre-se: a capacidade de
de necropsia. coordenar todo esse aporte sensorial não é
Samuel von Basch, em 1880, Riva-Rocci, em congénita; é adquirida com o tempo e a prática
1896 e Korotkoff, em 1905, cada um com dife- à exaustão! É interessante que se faça um trei-
rentes contribuições, possibilitam a construção de namento intenso em animais normais e, poste-
esfigmomanômetros sensíveis e precisos c esta- riormente, em pacientes.
belecem as bases para a determinação da pressão O objetivo do exame físico é obter informações
arterial. válidas sobre a saúde do paciente. O examinador
Os registros médicos de Hipócrates e seus dis- deve ser capaz de identificar, analisar e sintetizar
cípulos criaram as bases do exame clínico ao va- o conhecimento acumulado em uma avaliação,
lorizar, principalmente, o relato organizado da antes de tudo, abrangente. Infelizmente, o em-
história clínica do paciente e dos seus respecti- prego de uma única técnica quase nunca é satis-
vos sintomas. Todas essas descobertas foram, pouco
fatório. É necessária, na maioria das vezes, uma
a pouco, aplicadas na medicina veterinária, com
somatória das mesmas, para que o clínico obte-
algumas modificações, na dependência da área
nha algumas informações que serão fundamen-
envolvida.
tais para que se tenha, com uma certa margem de
A medicina é, a um só tempo, arte e ciência. Como
segurança, o(s) possível(is) diagnóstico(s) da(s)
arte, seu êxito depende da habilidade e das técni-
enfermidade(s).
cas empregadas por aqueles que a ela se dedicam.
Como ciência, depende da aplicação dos conheci-
mentos científicos de diferentes ramos do saber
do homem. Por mais entusiasmo que se tenha com Inspeção
os modernos aparelhos ou equipamentos, a pedra "Comete-se mais erros por não olhar que por
angular da medicina ainda é o método físico. A ex- não saber."
periência tem mostrado que os recursos tecnoló-
gicos disponíveis só são aplicados em sua plenitu- Utilizando o sentido da visão, esse procedi-
de e com o máximo proveito para o paciente, quando mento de exame se inicia antes mesmo do início
se parte de um exame físico bem feito. A explora- da anamnese, sendo o método de exploração clí-
ção física é baseada, em grande parte, na utilização nica mais antigo e um dos mais importantes.(Pela
dos sentidos do explorador, ou seja, a visão, o tato, inspeção investiga-se a superfície corporal e as
a audição e o olfato, e tem por finalidade examinar partes mais acessíveis das cavidades em contato
metodicamente todo o animal, a fim de estabelecer com o exterior. Alguns conselhos devem ser lem-
o diagnóstico e, conseqúentemente, a cura do ani-
brados para a realização da inspeção:

Tabela 1.1 - Evolução dos métodos gerais de exploração clínica.


Médico Método clínico Ano
Hipócrates Anamnese, inspeção, palpação 460-355 a. C.
Santório Termómetro clínico 1551-1636
Auenbrugger Percussão, Inventum Novum 1761
Laennec Estetoscópio De Ia 1819
Auscultation Médiate
Skoda Samuel Von Correlação exame físico/Achados de necropsia 1839
Basch Riva-Rocci Esfigmomanômetro Esfigmomanômetro 1880
1896
Korotkoff Método de ausculta para a determinação da pressão arterial 1905
8 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico

• O exame deve ser feito em um lugar bem ilu- Panorâmica. Quando o animal é visualizado
minado, de preferência sob a luz solar. Toda como um todo (condição corporal).
via, em caso de iluminação artificial, utilize uma Localizada. Atentando-se para alterações em
luz de cor branca e de boa intensidade. uma determinada região do corpo (glândula ma-
• Observe o(s) animal(is), se possível, em seu maria, face, membros).
ambiente de origem, juntamente com os seus A inspeção pode, ainda, ser dividida em:
pares (família ou rebanho). Faça, inicialmente, Direta. A visão é o principal meio utilizado
uma observação a distância. As anormalida- pelo clínico. Nessas condições, observam-se prin-
des de postura e comportamento são mais cipalmente os pêlos, pele, mucosas, movimentos
facilmente perceptíveis. Compare o animal respiratórios, secreções, aumento de volume, ci-
doente com os animais sadios e terá um óti- catrizes, claudicações, entre outros. É denominada,
mo parâmetro. por alguns, de ectoscopia, já que se pratica sobre
• Não se precipite: não faça a contenção nem a superfície do corpo.
manuseie o animal antes de uma inspeção Indireta. Feita com o auxílio de aparelhos, tais
cuidadosa, já que a manipulação o deixará como:
estressado. Não tenha pressa!
• Limite-se a descrever o que está vendo. Não a) de iluminação: otoscópio, laringoscópio, oftal
se preocupe, nesse momento, com a interpre- moscópio (utilizados para examinar cavida
tação e a conclusão do caso. des do organismo);
b) de Raios X;
A técnica adequada para a realização da ins- c) microscópios;
peção exige mais que apenas uma simples olhadela. d) aparelhos de mensuração; ,
O examinador deve ser treinado a olhar para o e) de registros gráficos (eletrocardiograma);
corpo do animal de forma sistemática. Com fre- f) de ultra-sonografia.
quência, o examinador neófito tem pressa em usar
o seu oftalmoscópio, estetoscópio ou otoscópio,
antes de usar seus olhos para a inspeção. Na rea- Palpação
lidade, a inspeção talvez seja o método semiológico
mais fácil de ser realizado e o mais difícil de ser "O sentir é indispensável para se chegar ao
descrito de maneira precisa. saber."
Um exemplo do que significa "ensinar o olho António Damás/o
a ver" pode ser demonstrado na experiência
de autoria desconhecida, feita a seguir. Leia a A inspeção e a palpação são dois procedimentos
sentença: que quase sempre andam juntos, um completan-
do o outro: o que o olho vê, a mão afaga. É a utilização
"Finished files are the result of years of scientific do sentido táctil ou da força muscular, usando-se
study combined with the experience of years." as mãos, as pontas dos dedos, o punho, ou até ins-
trumentos, para melhor determinar as caracte-
rísticas de um sistema orgânico ou da área
Responda, sem voltar à sentença, quantas
letras F você contou. A resposta encontra-se na explorada. O sentido do tato fornece informações
nota de rodapé*. sobre estruturas superficiais ou profundas, como,
A observação do animal pode fornecer inú- por exemplo, o grau de oleosidade da pele de
meras informações úteis para o diagnóstico, tais pequenos animais e a avaliação de vísceras ou
como estado mental, postura e marcha, condi- órgãos genitais internos de grandes animais, pela
ção física ou corporal, estado dos pêlos e pele, palpação abdominal e transretal, respectivamente.
forma abdominal, entre outras, que serão abor- Essa última abordagem é denominada palpação
dadas no capítulo de exame físico geral. A ins- por tato ou palpação cega. Nesse caso, o clínico
peção pode ser: tem nas mãos e nos dedos, é bem verdade, os seus
olhos. Para isso, entretanto, é necessário ter em
mente as características da(s) estrutura(s) e sua
Existem seis letras F na sentença citada. A maioria localização dentro da cavidade explorada. É como
dos indivíduos conta apenas três. Não se deve se, de repente, apagassem as luzes na sua casa e
esquecer os "F" dos três "o/'. você desejasse encontrar um objeto, que deve estar
Introdução à Semiologia 9

localizado em um determinado lugar. Fica fácil truturas de maior tamanho (rúmen, abomaso)
encontrá-lo nessa situação, pois é bem provável e para denotar, também, aumento de sensi-
que você conheça "mentalmente" o objeto que bilidade na cavidade abdominal.
deseja e que saiba a disposição da mobília e o local 7. Vltropressão é realizada com a ajuda de uma
onde esse objeto se encontra, em virtude do pré- lâmina de vidro que é comprimida contra a
vio conhecimento da sua residência. No entanto, pele, analisando-se a área por meio da pró
imagine-se em um lugar que você não conhece, pria lâmina. Sua principal aplicação é permi
à procura de um objeto que nunca viu. É quase tir a distinção entre eritema e púrpura (o erite-
impossível, a princípio, ter êxito nessas circuns- ma desaparece e a púrpura não se altera com
tâncias. Já a força muscular ou de pressão é uti- a vitro ou dígito-pressão).
lizada para avaliar estruturas que estejam locali- 8. Para pesquisa de flutuação, aplica-se -àpalma
zadas mais profundamente ou quando se deseja da mão sobre um lado da tumefação, enquanto
verificar uma resposta dolorosa. Pela palpação, per- a mão oposta, exerce sucessivas compressões
cebem-se modificações da textura, espessura, con- perpendiculares à superfície cutânea. Havendo
sistência, sensibilidade, temperatura, volume, du- líquido, a pressão determina um leve rechaço
reza, além da percepção de frémitos, flutuação, do dedo da mão esquerda, ao que se deno
elasticidade, edema e outros fenómenos. Quan- mina flutuação.
do se utiliza somente as mãos ou os dedos para
avaliar uma determinada área, realiza-se a palpa-
ção direta. Entretanto, se for feito uso de algum Tipos de Consistência
aparelho ou instrumento com esse objetivo, a
palpação torna-se indircta. É o que ocorre ao se Mole. Quando uma determinada estrutura
examinar órgãos, estruturas ou cavidades inaces- reassume sua forma normal após cessar a aplica-
síveis à simples palpação externa, utilizando-se ção de pressão à mesma (tecido adiposo). É uma
sondas, cateteres, pinças, agulhas, entre outros. estrutura macia, porém, flexível.
Por exemplo, nos bovinos, como em outras espé- Firme. Quando uma estrutura oferece resis-
cies, o esôfago sofre desvio lateral na entrada do tência à pressão, mas acaba cedendo e voltando
tórax e, às vezes, um corpo estranho fixa-se nes- ao normal com seu fim (fígado, músculo).
se local. Gomo é praticamente impossível fazer a Dura. Quando a estrutura não cede, por mais
palpação esofágica externamente, por sua locali- forte que seja a pressão (ossos e alguns tecidos
zação, passa-se uma sonda esofágica e, se a mes- tumorais).
ma parar nesse ponto, é um forte indício de obs- Pastosa. Quando uma estrutura cede facilmen-
trução. te à pressão e permanece a impressão do objeto
A palpação apresenta inúmeras variantes que que a pressionava, mesmo quando cessada (ede-
podem ser sistematizadas da seguinte forma: ma: sinal de godet positivo).
Flutuante. E determinada pelo acúmulo de
1. Palpação com a mão espalmada, usando toda líquidos, tais como sangue, soro, pus ou urina em
a palma de uma ou de ambas as mãos. uma estrutura ou região; resultará em um movi-
2. Palpação com a mão espalmada, usando ape mento ondulante, mediante a aplicação de pres-
nas as polpas digitais e parte ventra/ dos dedos. são alternada. Se o líquido estiver muito compri-
3. Palpação usando-se o polegar e o indicador, mido, as ondulações poderão estar ausentes.
formando uma pinça. Crepitante. Observada quando um determinado
4. Palpação com o dorso dos dedos ou das mãos tecido contém ar ou gás em seu interior. Tem-sc,
(específico para a avaliação da temperatura). à palpação, a sensação de movimentação de bo-
5. Dígito-pressão realizada com a polpa do pole lhas gasosas. É facilmente verificado nos casos de
gar ou indicador. Consiste na compressão de enfisema subcutâneo.
uma área com diferentes objetivos: pesqui A palpação pode revelar, também, um "ruí-
sar a existência de dor, detectar a presença do palpável", denominado de frémito, que é pro-
de edema (godet positivo) e avaliar a circula duzido pelo atrito entre duas superfícies anormais
ção cutânea. (roce pleural), ou em lesões valvulares acentuadas.
6. Punho-pressão é feita com a mão fechada, É comum a utilização do termo "consistên-
particularmente, em grandes ruminantes, com cia macia" por parte de alguns colegas; entretan-
a finalidade de avaliar à consistência de es- to, deve-se estar atento quando do seu emprego,
10 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico

já que maciez corresponde à "textura", tal como são produzidos pelo examinador, a fim de se obter
áspera e rugosa, não sendo, portanto, a forma mais uma resposta sonora. A inclusão da auscultação
adequada para se designar a consistência de uma com estetoscópio, no exame clínico, na primeira
determinada estrutura. Ambas as consistências - metade do século XIX, foi um dos maiores avanços
mole e pastosa — apresentam uma textura macia, da medicina, desde Hipócrates. Laennec, o fun-
mas que, quando presentes, determinam um signi- dador da medicina científica moderna, desenvol-
ficado clínico distinto. veu seu invento, dando-lhe o nome de estetoscópio,
derivado da língua grega (sthetos = peito e skopeo =
examinar), já que foi desenvolvido em virtude do
Auscultação pudor de examinar uma jovem obesa com pro-
blemas cardíacos (Fig. 1.2).
"Porém não me foi possível dizer às pessoas: O método de auscultação é usado, principal-
'Falem mais alto, gritem, porque sou surdo'. Ai mente, no exame dos pulmões, onde é possível
de mim! Como poderia eu declarar a fraqueza de
um sentido que em mim deveria ser mais agudo evidenciar os ruídos respiratórios normais e os
que nos outros — um sentido que anteriormente patológicos; no exame do coração, para ausculta
eu possuía na maior perfeição, uma perfeição como das bulhas cardíacas normais e sua alterações e
poucos em minha profissão possuem, ou já para reconhecer sopros e outros ruídos; e no exame
possuíram." da cavidade abdominal, para detectar os ruídos
Ludwig van Beethoven característicos inerentes ao sistema digestório de
cada espécie animal. A ausculta pode ser:
A auscultação consiste na avaliação dos ruídos Direta ou imediata. Quando se aplica o ouvi-
que os diferentes órgãos produzem espontanea- do diretamente na área examinada protegido por
mente. Esta é a principal diferença entre a aus- um pano, evitando, assim, o contato com a pele
culta e a percussão, já que, na percussão, os sons do animal. As desvantagens são óbvias, incluin-

Figura 1.2 - Ilustração de diferentes modelos de estetoscópios; (A) aparelho de ausculta com amplificador e filtrador de
ruídos; (B) esteto-fonendoscópio do tipo Sprague, de manguito duplo; (C) peça de ausculta tripla, com um cone e dois
diafragmas.
Introdução à Semiologia 11

do a dificuldade de manter-se um contato íntimo 2. Ausculte em um ambiente tranquilo, livre de


com animais irrequietos e de excluir os sons pro- ruídos acessórios.
venientes do meio externo, além de a pele do 3. Detenha a sua atenção no ruído que está ou
animal estar úmida c conter restos de fezes ou vindo. Procure individualizá-lo, para melhor
secreções cutâneas, entre outras. concluir quanto a sua origem, tempo que ocor
Indireta ou mediata. Quando se utilizam apa- re e características sonoras.
relhos de ausculta (estetoscópio, fonendoscópio, 4. Evite acidentes. Só ausculte quando o ani
Doppler). mal estiver adequadamente contido.
Apesar da auscultação ser realizada direta-
mente, normalmente ela é feita de maneira indi-
reta, valendo-se de instrumentos. O fonen- Tipos de Ruídos Detectados na Ausculta
doscópio é um dos instrumentos mais conheci-
dos e consiste de um aparelho dotado de uma Aéreos. Ocorrem pela movimentação de mas-
membrana em uma das extremidades, que sas gasosas (movimentos inspiratórios: passagem
permite uma ausculta difusa e intensa dos ruídos de ar pelas vias aéreas).
produzidos pelo órgão examinado. Comumen- Hidroaéreos. Causados pela movimentação de
te esse instrumento é chamado de maneira er- massas gasosas em um meio líquido (borborigmo
rónea de estetoscópio. A grande desvantagem intestinal).
da maior sensibilidade produzida por essa Líquidos. Produzidos pela movimentação de
membrana ou diafragma é a interferência dos massas líquidas em uma estrutura (sopro anêmico).
sons produzidos pela fricção entre ele e a pele Sólidos. Deve-se ao atrito de duas superfícies
do animal e a captação de ruídos de outros órgãos sólidas rugosas, como o esfregar de duas folhas
ou do meio externo. O estetoscópio possui cones de papel (roce pericárdico nas pericardites).
para se auscultar. Os cones, também denomi- •
nados de peças de Ford, são adequados para a
ausculta de ruídos graves, ou seja, os de baixa Percussão
frequência, tais como alguns sopros e bulhas car-
"Si venerem manu percusseris, abdómen
díacas; ao passo que os fonendoscópios possu-
resonat" (se a mão percutir o ventre o abdome
em diafragmas - também denominados de peças ressoa).
de Bowles, os quais são ideais para se auscultar Areteo de Capadócia
ruídos de alta frequência, ou seja, os agudos.
Portanto, esses são mais comumente utilizados, Ê o ato ou efeito de percutir.\É um método
haja vista que a maioria dos ruídos passíveis de físico de exame em que, através de pequenos
ausculta e de alta frequência. Vale aqui ressal- golpes ou batidas, aplicados a determinada parte
tar a importância de, ao se utilizar os cones, não do corpo, torna-se possível obter informações sobre
pressionar o estetoscópio em demasia contra a
a condição dos tecidos adjacentes e, mais parti-
pele do animal, pois com isso estaremos dis-
cularmente, das porções mais profundas» O valor
tendendo a mesma, tornando-a semelhante a
do método consiste na percepção das vibrações
um diafragma, dificultando, portanto, a ausculta
no ponto de impacto, produzindo sons audíveis,
de ruídos de baixa frequência. Além disso, de-
vemos sempre realizar a ausculta cardíaca me- com intensidade ou tons variáveis quando refle-
diante o uso de ambos: o diafragma e o cone; tidos de volta, devido às diferenças na densidade
assim, poder-se-á obter um maior número de dos tecidos. A percussão acústica permite a ava-
informações na ausculta. liação de tecidos localizados aproximadamente
Anualmente, muitos instrumentos são pro- a 7 centímetros de profundidade e pode detectar
vidos simultaneamente dos dois tipos de extre- lesões igual ou maiores que 5 centímetros. O prin-
midades (esteto/fonendo). Existem algumas cípio da percussão remonta dos antigos, quando
regras básicas que devem ser obedecidas para era usado para se verificar o nível do líquido em
melhor avaliação dos ruídos produzidos no interi- pipas de vinho e também pelos tocadores de
or dos mais variados órgãos, a saber: garrafas. A percussão foi incorporada à prática
médica no final do século XVIII graças aos traba-
1. Utilize um aparelho de ausculta de boa qua- lhos de Auenbrugger, na Áustria, e de Covisart,
lidade. na França, revolucionando os meios de diagnós-
ticos até então disponíveis.
12 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico

Existem dois objetivos básicos para a utilização são quase impraticável nessas espécies. As
da percussão: seguintes regras gerais devem ser obedecidas para
a realização da percussão:
1. Fazer observações com relação à delimitação
topográfica dos órgãos. • Deve-se praticar várias vezes e familiarizar-
2. Fazer comparações entre as mais variadas se com os instrumentos e os sons obtidos.
respostas sonoras obtidas. • É recomendável se percutir em ambiente si
lencioso.
A técnica da percussão sofreu uma série de • É aconselhável evitar percutir animais que
variações, ao longo do tempo, tanto na medicina estejam em decúbito lateral. Sempre que pos
humana como na veterinária e, hoje, utiliza-se, sível, colocá-los em posição quadrupedal, para
basicamente, a percussão dígito-digital, martelo- melhor posicionamento dos órgãos nas res
pleximétrica e, em alguns casos, a punho-percussão pectivas cavidades. Isso, porém, nem sem
e a percussão digital ou direta. pre é possível.
Quando se percute diretamente com os de- • Deve-se fazer pressão moderada com o ple
dos de uma das mãos a área a ser examinada, de- xímetro ou com o dedo contra a superfície
nomina-se percussão direta ou imediata, sendo mais corporal, caso contrário, haverá um espaço va
comumente conhecida a percussão digital. Para zio entre o plexímetro ou o dedo do exami
tal, o dedo permanece fletido na tentativa de imitar nador e a pele do animal, o que resultará, quan
a forma de um martelo. Entretanto, quando se do se bater com o martelo ou o dedo, em res
interpõe o dedo de uma mão (médio) ou algum postas sonoras inadequadas; o dedo-plexímetro
outro instrumento (plexímetro), entre a área a ser (médio) é o único a tocar a região que está
percutida e o objeto percutor (martelo e/ou dedo), sendo examinada. Os outros dedos e a palma
a percussão é descrita como sendo indireta ou da mão devem ficar suspensos, rentes à su
mediata, onde se destacam a percussão dígito-digital perfície. A mão não deve repousar sobre a
e a martelo-pleximctrica (Figs. 1.3, 1.4 e 1.6). superfície, sob o risco de alentecer as vibra
Para realizarmos a percussão dígito-digital, ções sonoras, deixando-as abafadas. As mes
deve-se golpear a segunda falange do dedo mé- mas considerações servem para o dedo ou o
dio de uma mão estendido, com a porção ungueal martelo percutor.
do dedo médio da outra mão, agora encurvado. • O cabo do martelo deve ser seguro em sua
Na percussão martelo-pleximétrica, golpeamos metade, com certa firmeza, utilizando-se, para
com um martelo o plexímetro colocado na área a isso, os dedos polegar, indicador e médio, man-
ser examinada. Com esse método, conseguimos tendo-o, de preferência, em um nível mais
uma percussão mais profunda; indicado para gran- elevado que o plexímetro. Os movimentos
des animais. Podemos utilizar o martelo ou o punho conferidos ao martelo devem ser originados
para provocar uma resposta dolorosa em bovinos, exclusivamente do punho, o qual proporcio
utilizando, para isso, um martelo apropriado ou a nará batidas rítmicas e precisas.
mão fechada. Por meio desse método, examina- • O ritmo deve ser constante; no entanto, dois
se principalmente a região abdominal de bovinos golpes, um mais forte e outro mais fraco, de
(rcticulites), evitando percutir sobre as costelas vem ser originados, para que se tenha respostas
ou grandes veias subcutâneas pelo risco de ocor- sonoras tanto dos tecidos localizados mais pro
rência de fraturas e/ou hematomas. fundamente como dos situados mais superfi
A percussão dígito-digital é a mais adequa- cialmente. A percussão deve ser feita quan
da, pois há menor interferência dos sons na bati- do o plexímetro ou o dedo estiver posicionado
da de um dedo sobre o outro (Fig. 1.3). Entretanto, e parado na região que se deseja avaliar.
é de pouca penetração e seu uso é mais indicado • A percussão não deve se limitar a um único
em animais de pequeno porte. O valor diagnóstico ponto ou a pontos distintos, mas deve com
da percussão em grandes animais é limitado de- preender toda a área em questão. Não existe
vido ao grande tamanho dos órgãos internos e à um número máximo de batidas a ser reali
espessura dos tecidos que os revestem (múscu- zado em cada um deles. É recomendável
los, gordura subcutânea), por exemplo. A camada que se mude a posição do plexímetro ou
de gordura subcutânea, no suíno, e o revestimento do dedo quando não houver mais dúvidas
lanoso, nos ovinos, tornam a aplicação da percus- sobre as características sonoras da área
Introdução à Semiologia 13

Figura 1.3 - Posicionamento correio dos dedos para a percussão dígito-digilal (simulação da região de campo pulmonar).

Figura 1.4 - Posicionamento incorreto para a percussão dígito-digilal pelo conlalo incompleto do dedo médio com a
superfície corpórea (nolar espaço existente enlre o dedo e a superfície).

Figura 1.5 - Posicionamento inadequado


do martelo à percurssão. Martelo deve
permanecer perpendicular ao plexímelro.
14 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico

Percussão martelo-pleximétrica: de uma placa metálica vibrante, de eco, parecido


Examinador posiciona-se do mesmo lado da com o tinir de uma campainha. Para a detecção
região a ser percutida. desse tipo de som, existe uma técnica que com-
Percussão dígito-digital: bina ausculta indireta com percussão (percussão-
Examinador posiciona-se ao lado oposto da auscultatória), que consiste em posicionar o fonen-
estrutura a ser examinada.
doscópio em uma determinada região do corpo
e percutir simultaneamente. Em caráter
percutida. Deve-se direcionar o plexímetro patológico, é ouvido em cavidades cheias de ar
ou o dedo sempre em sentido craniocaudal ou gás, como nos casos avançados de timpanis-
e dorsoventral, exceto na percussão da re- mo com grande distensão das paredes do rúmen,
gião cardíaca. pois, em lugar do som timpânico, ouve-se o som
metálico. E um tom mais alto que o hipersonoro.
Através da percussão, pode-se obter três ti- Existe um outro som denominado de "panela
pos fundamentais de som: rachada" porque o tipo de resposta sonora lem-
Claro. Se o órgão percutido contiver ar que bra o percutir de uma panela de barro rachada.
possa se movimentar, produz um som de média
Essa resposta sonora é resultante da saída do
intensidade, duração e ressonância, que é o som
claro, o mesmo que se ouve ao percutir o pulmão ar ou gás contida em uma determinada
sadio. É produzido também por gases e paredes cavidade, sob pressão, através de pequenos
distendidas. Quanto menos espessos forem os orifícios, como pode ser verificado em alguns
tecidos que cobrem o órgão percutido, maior será casos de estenose, tais como nos casos de des-
a zona vibratória do mesmo e, portanto, mais alto locamento ou torção do abomaso, com fecha-
será o som. Se o volume vibratório do órgão for mento parcial do piloro.
pequeno, o som será igualmente intenso. Isso
explica a diferente intensidade do som das dis-
tintas zonas da parede torácica. Por isso, o som Olfação
claro do tórax passa gradualmente a maciço, à
proporção que vai se percutindo as regiões supe- Tem-se, ainda, um outro método de explora-
rior e anterior do tórax. ção clínica que se baseia na exploração pelo olfato
Timpânico. Os órgãos ocos, com grandes cavi- do clínico, empregado no exame das transpira-
dades repletas de ar ou gás e com as paredes ções cutâneas, do ar expirado e das excreções. Sem
semidistendidas, produzem um som de maior dúvida é de menor interesse que os outros meios
intensidade e ressonância, que varia segundo a já citados, porém, em certos casos, pode ser de
pressão do ar ou gás contido, como se fosse um grande ajuda no encaminhamento do diagnósti-
tambor a percutir. É o som que se ouve quando co. Por exemplo, as vacas com acetonemia elimi-
se percute o abdome. nam um odor que lembra o de acetona; hálito com
Maciço. As regiões compactas, desprovidas odor urêmico aparece em doentes em uremia; a
completamente de ar, produzem um som de pouca halitose é um odor desagradável que pode ser
ressonância, curta duração e fraca intensidade, determinado por diferentes causas (cáries dentá-
chamado de mate ou maciço, idêntico ao que se rias, tártaro, afecções periodontais, presença de
obtém percutindo-se a musculatura da coxa. Pode corpos estranhos na cavidade oral e esôfago, in-
ser ouvido também na região hepática e cardíaca. fecções de vias aéreas, alterações metabólicas c
Além desses sons fundamentais, não é raro obter, algumas afecções do sistema digestório). O odor
em algumas situações, os sons intermediários. das fezes de cães com gastrenterite hemorrágica
Entre o claro e o timpânico tem-se o hipersonoro e das secreções de cães com hipertrofia da glân-
e entre o claro e o maciço obtém-se o submaciço, dula adanal são suigeneris e inesquecíveis. A téc-
como mostrado no Quadro 1.2. nica de olfação é simples, bastando, para isso, uma
aproximação razoável da área do animal a ser
Sons Especiais examinada. Quando se trata de analisar o odor do
ar expirado, aproxima-se a mão, em forma de
Algumas vezes, as respostas sonoras, à per- concha, das fossas nasais do animal e desvia-se o
cussão, adquirem ressonâncias especiais, como ar expirado para o nariz do examinador, individua-
é o caso do som metálico, semelhante ao ruído lizando-o.
Introdução à Semiologia 15

MÉTODOS COMPLEMENTARES mentar. Esse fato passou a exigir do médico ve-


terinário maior capacidade de optar, dentro do
DE EXAME possível, pelo(s) exame(s) mais conveniente(s).
Se, por um lado, tais exames melhoraram, e
"Atribuir a aparelhos o sucesso da clínica
é o mesmo que atribuir a arte de Picasso à marca muito, o poder de chegar, com precisão e rapidez,
dos seus pincéis." ao diagnóstico, por outro, favoreceram o cres-
Luiz Roberto Londres (Cardiologista — RJ) cimento de um número considerável de
" profissionais que se utilizam exclusivamente de
tais exames com essa finalidade. Os aparelhos,
Os exames complementares, quando realizados que deveriam ser coadjuvantes, roubaram e
posteriormente ao exame físico do animal, aumentam continuam ocupando, quer queira quer não, a
acentuadamentc as possibilidades de se identificar cena principal. É preciso, entretanto, não es-
com precisão e rapidez as modificações orgânicas quecer que a parte mais importante da ativida-
provocadas por diferentes enfermidades. Entretanto, de médica continua sendo o exame clínico,
à medida que os mesmos evoluem, tanto em constituído, basicamente, pela anamnese e pelo
qualidade quanto em quantidade, torna-se necessário exame físico. Talvez se possa dizer que os exa-
saber qual(is) exame(s) solicitar para cada caso es- mes complementares dão apoio substancial, mas
pecífico, tendo em vista seu elevado custo e a capa- quem confere o equilíbrio e a sustentação à
cidade individual de se interpretar seus resultados estrutura diagnostica é, sem dúvida, o exame
de forma consciente e crítica. É importante ressal- físico. Quando uma consulta (anamnese e exa-
tar que o exame subsidiário, como o próprio nome me físico) c bem realizada, o diagnóstico corre-
diz, serve apenas para auxiliar ou complementar os to é atingido em cerca de 90% dos casos. Há
procedimentos clínicos anteriores (anamnese e exame uma frase atribuída a Maimônides (Médico
físico, por exemplo), com o intuito de chegar ao di- espanhol — Século XII) que diz: "uma consulta
agnóstico, seja ele provisório ou definitivo. deve durar uma hora. Por cinquenta minutos aus-
Houve uma época em que os exames com- culte a alma do paciente. Nos outros dez, faça de
plementares disponíveis eram tão poucos que conta que o examina". Somente com dados obti-
não existia o poder de escolha, já que as op - dos no exame físico o médico veterinário estará
ções disponíveis eram bastante limitadas. Hoje em condições de selecionar os exames a serem
se observa justamente o contrário: o número de solicitados, a fim de não submeter o paciente a
exames subsidiários é enorme e continua a au- exames desnecessários, dispendiosos e nem
Quadro 1.1 - Principais causas de erros no
sempre destituídos de risco. De maneira geral,
exame físico.
as principais razões para a realização dos
1. Pobre organização da exames complementares são:
sequência de exame.
2. Ausência ou utilização de
equipamento defeituoso.
• Confirmar a presença ou a causa da doença.
3. Técnica manual incorreta. • Avaliar a severidade do processo mórbido.
4. Uso inadequado do equipamento. • Determinar a evolução de uma doença es
5. Abordagem imprópria do paciente (estresse). pecífica.
6. Considerar um achado fisiológico como anormal • Verificar a eficácia de um determinado trata
ou vice-versa. mento.

Quadro 1.2 - Fusão dos sons.

Timpânico
É encontrado quando se percute áreas repletas de ar ou gás e cujas pa-
Hipersonoro
redes estejam distendidas. É observado, por exemplo, nos casos de pneu-
motórax, fases iniciais de timpanismo gasoso, etc.
Claro
Quando a onda percutora atinge uma área com ar no seu interior, estando
Submaciço sobreposta ou sobrepondo uma região sólida, compacta. E observado com
facilidade na percussão nos limites entre vísceras maciças e ar. Por exem-
plo, porção do fígado, onde o rebordo pulmonar "repousa".
Maciço
16 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico

Figura 1.6 - (A) e (B), modelos de martelo e plexímetro utilizados na percussão de grandes animais; (C), posicionamento
dos dedos polegar, indicador e médio para fixação do cabo do martelo.

Atualmente, vários exames estão disponíveis quados de assepsia. Atualmente, quando realiza-
para o auxílio-diagnóstico, dentre os quais desta- da de forma cuidadosa, é utilizada como procedi-
cam-se os descritos a seguir. mento de rotina, sem trazer maiores complicações
ao animal.

Punção (Centese) Exploratória


Consiste na exploração de órgãos ou cavida- Biópsia
des internas, através da passagem de um trocarte,
agulha, cânula e similar, dos quais é retirado ma- Consiste na colheita de pequenos fragmen-
terial para ser examinado com relação aos seus tos teciduais de órgãos como os pulmões, fíga-
aspectos físico, químico, citológico e bacterioló- do, rins, entre outros, para a realização de exa-
gico. Com esse procedimento pode-se inferir, de- me histopatológico. Os principais objetivos da
pendendo do material obtido, sobre hematoma, biópsia são:
abscesso c derrame cavitário. A centese, antiga-
mente, constituía o último recurso utilizado pelo I. Diferenciar entre as causas de organomegalia
clínico para o diagnóstico, uma vez que oferecia envolvendo os nódulos linfáticos, baço, fíga-
algum perigo para a saúde do animal, principal- do, rins, próstata, glândulas mamarias e ou-
mente quando não se tomavam os cuidados ade- tros órgãos.
Introdução à Semiologia 17

II. Diferenciar entre inflamação, hiperplasia e independentemente de sua enfermidade, para que
neoplasia como causa de tumores de pele, dados relevantes ao caso não sejam esquecidos.
tumores subcutâneos e outros tumores aces- Naturalmente, essa sequência é bastante particular
síveis. e o que se apresenta aqui é apenas uma sugestão.
III. Diferenciar neoplasias malignas de benignas Deve-se, em primeiro lugar, diferenciar o
com propósitos de diagnóstico e de planeja exame clínico do exame físico. O exame clínico
mento terapêutico. reúne todas as informações necessárias para o
IV. Auxiliar na confirmação do diagnóstico de uma estabelecimento do diagnóstico, enquanto o exame
dermatopatia. físico é uma parte do exame clínico do animal,
resumindo-se à colheita dos sintomas e dos sinais
por métodos físicos de exame, tais como inspe-
ção, palpação, percussão, auscultação c olfação.
Exames Laboratoriais O exame clínico é constituído basicamente dos
Nos últimos anos, tem-se observado um con- seguintes procedimentos:
siderável aumento no número de testes labora-
toriais. Os procedimentos laboratoriais incluem 1. Identificação do animal ou dos animais (re
os exames físico-químicos, hematológicos, bac- senha).
teriológicos, parasitológicos e determinações en- 2. Investigação da história do animal (anamnese).
zimáticas. 3. Exame Físico:
• Geral: avaliação do estado geral do animal
(atitude, comportamento, estado nutricio-
Inoculações Diagnosticas nal, estado de hidratação, coloração de
mucosas, exame de linfonodos, etc.) pa
Suspeitando-se de uma determinada enfer- râmetros vitais (frequência cardíaca, fre
midade, inocula-se o material proveniente do quência respiratória, temperatura, movi
animal doente em animais de laboratório, para mentos ruminais e/ou cecais);
verificar o aparecimento da doença. Isso requer • Especial: exame físico direcionado ao(s)
técnica especial para cada um dos processos sus- sistema(s) envolvido(s).
peitos (para diagnosticar botulismo, inocula-se em 4. Solicitação e interpretação dos exames sub
camundongos, por via intraperitoneal, extrato sidiários (caso necessário).
hepático, conteúdo do rúmen, conteúdo intesti- 5. Diagnóstico e prognóstico.
nal ou soro sanguíneo). 6. Tratamento (resolução do problema).

Os procedimentos gerais incluem a identifi-


Reações Alérgicas cação do animal, a realização da entrevista com o
proprietário ou pessoas afins e, também, o pri-
São exames que provocam respostas sensíveis meiro estágio do exame físico que se conhece,
nos animais, mediante a inoculação em seus teci- comumente, como exame preliminar. O exame
dos, de algum antígeno sob a forma de uma pro- preliminar ou geral precede o exame detalhado e
teína derivada de microorganismos específicos que completo de um determinado sistema do corpo.
estejam ou tenham infectado o animal (testes da É de fundamental importância avaliar o animal
tuberculina). como um todo, já que, muitas vezes, uma deter-
Outros exames complementares mais espe- minada enfermidade pode culminar no compro-
cíficos (eletrocardiografia, cletroneuromiografia, metimento de outro(s) órgão(s) ou sistema(s), além
etc.) serão abordados nos capítulos pertinentes. de ser de grande utilidade para que se vislumbre
o fator primário responsável pelo início do apare-
cimento dos sintomas. A importância do exame
PLANO GERAL DE geral preliminar pode ser ilustrada no exemplo a
seguir: Uma vaca é encontrada no período da tarde
EXAME CLÍNICO deprimida, com marcado aumento da frequência res-
É importante que todo clínico tenha, bem defi- piratória, temperatura corporal elevada e ausência
nida, sua própria sequência de exame e, sistema- de apetite. Se, erroneamente, nesse momento, parar-
ticamente, bem realizada em todos os animais, mos de examinar o animal, é de se pensar em um pró-
Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico
cesso respiratório ou digestório. Entretanto, se fosse bovinos, ao passo que, nas outras espécies, não
feito um exame físico geral criterioso observar-se-ia, ocorre com grande frequência.
com certa facilidade, uma alteração no formato do Raça. De maneira geral, as raças mais puras
úbere dessa vaca, com os sinais cardinais do processo são mais suscetíveis a doenças. As raças mistas
inflamatório presentes (aumento de volume, dor, ca- ou os animais sem raça definida (SRD) são ani-
lor, rubor e perda da função). As suspeitas iniciais mais de extrema rusticidade e geralmente reagem
seriam, então, excluídas. Se o exame se baseasse ex- favoravelmente, quando devidamente diagnos-
clusivamente nos dados iniciais não se chegaria, nessa ticados e tratados. Em bovinos, a raça é de fun-
fase do exame, a um provável diagnóstico de mastite. damental importância para se averiguar a finali-
dade ou o objetivo da criação, já que existem
Glossário Semiológico algumas enfermidades que ocorrem dependen-
Mastite: Processo inflamatório da glândula do do tipo de exploração realizada. Com isso, va-
mamaria. cas produtoras de leite são mais propensas a
doenças metabólicas como hipocalcemia e
acetonemia, entre outras. Para outras espécies, a
IDENTIFICAÇÃO DO PACIENTE raça também pode ser de valor. Os cavalos de cor-
rida são mais suscetíveis a cardiopatias c aos pro-
(RESENHA) cessos respiratórios, os de tração e salto apresen-
De maneira geral é importante considerarmos tam, com certa frequência, problemas no sistema
espécie, raça, sexo e idade. locomotor. Em cães, algumas raças como o boxcr
Em alguns casos é conveniente sabermos a e o cocker spanicl, apresentam predisposição ao
coloração da pelagem do animal, já que animais desenvolvimento de miocardiopatias.
de pelagem escura são mais resistentes aos raios Sexo. É evidente que existem certas doenças
solares, ao passo que os de pelagem clara, ou que que acometem somente indivíduos de um mes-
apresentem áreas despigmcntadas são mais sus- mo sexo. Alguns processos febris em fêmeas ocor-
cetíveis ao aparecimento de lesões de pele cau- rem devido ao envolvimento do úbere ou do úte-
sadas pelos raios do sol. A existência de marcas ro; os adenocarcinomas mamários são mais fre-
(tatuagens), que possam ser descritas em algum quentes em fêmeas que em machos; existem
documento, tais como atestados de vacinação, pro- distúrbios hormonais diretamente relacionados a
tocolo de importação, apólices de seguro, também hormônios sexuais, tais como o hipoestrogenis-
devem ser averiguadas. Os pontos mais impor- mo em cadelas. Por outro lado, hérnias escrotais
tantes que podem ser exaltados dentro de cada são frequentes em animais machos, sendo a maioria
um desses aspectos são: dos problemas de estrangulamento observada em
Espécie. A suscetibilidade de uma espécie garanhões.
varia consideravelmente em relação às doenças Idade. Várias doenças ocorrem com maior fre-
infecciosas e/ou parasitárias e ao comprometi- quência em uma determinada faixa etária. E o caso
mento de determinados sistemas ou órgãos. Por dos problemas umbilicais em animais recém-nas-
exemplo, os equinos são suscetíveis à anemia cidos, da verminose-e da parvovirose em cães
infecciosa equina e ao garrotilho, ao passo que jovens. Já as endocardioses adquiridas costumam
os bovinos não o são. Em compensação, os acometer os animais de meia-idade ou velhos. A
bovinos são acometidos por leucose c carbún- idade para o prognóstico é de grande valor, pois
culo sintomático, os equinos não. Nas espécies os animais mais velhos geralmente tem um
domésticas de pequeno porte, somente os cães prognóstico mais reservado quando comparados
podem adquirir cinomose e hepatite infecciosa aos animais jovens.
canina, ao passo que só os gatos são suscetíveis É importante saber, quando possível, o peso
a peritonite infecciosa felina e à leucemia felina. do animal, o que é de grande valia para o cálculo da
Por outro lado, todos os animais desenvolvem
dose do medicamento a ser utilizado e também
raiva, mas a incidência varia nas diferentes
pode ser um parâmetro para indicar se está ha-
espécies. O comprometimento do sistema
vendo emagrecimento associado à enfermidade.
digestório nos equinos, por exemplo, pelo de-
senvolvimento de peritonite, representa um sério A origem do animal também deve ser determina-
risco às suas vidas, ao passo que em bovinos, da, uma vez que algumas enfermidades são mais
não é tão grave. A mamite é mais" comum nos comuns em determinadas regiões, tais como en-
fermidades infecciosas (raiva), enfermidades pá-
20 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico

ou conflitante (quando, por exemplo, duas pes- tir informações importantes. O entrevistador deve
soas participam da entrevista), outras perguntas prosseguir por essas principais seçoes em uma se-
com palavras diferentes podem ser realizadas, quência lógica e direcionar as suas perguntas para
procurando, com isso, elucidá-la da melhor for- cada área cm questão. O formato da história ou da
ma possível. anamnese é o seguinte:
Muitas vezes, a aparência do entrevistador in- ir
fluencia a eficácia da anamnese, já que profissio- i a) Fonte e confiabilidade;
nais que se apresentam mal vestidos, com unhas b) Queixa principal;
grandes e sujas, barba por fazer, passarão uma im- c) História médica recente (HMR);
pressão de descuido, incompetência e irresponsa- d) Comportamento dos órgãos (revisão dos sistemas);
bilidade. A utilização de jalecos, roupas e sapatos e) História médica pregressa (HMP);
limpos e/ou brancos, além da inquestionável ima- f) História ambiental e de manejo;
gem de asseio, transmite uma sensação de confian- g) História familiar ou do rebanho.
ça e de respeitabilidade para os proprietários.
O proprietário deve sempre ser tratado com
respeito e cordialidade. Em algumas ocasiões, prin- FONTE E CONFIABILIDADE
cipalmente quando o prognóstico do animal é re-
servado ou quando ocorre óbito, a abordagem do A fonte geralmente é o proprietário. Se outras
proprietário deve ser feita de maneira cuidadosa. pessoas afins (filho, vizinho, tratador, sogra, etc.)
Lembre-se de que a função primordial do médi- fornecem a entrevista, os seus nomes e a relação
co veterinário não é se defender. É defender o dos mesmos com o animal devem ser anotados
paciente. Contudo, deve-se relatar todos os pro- na ficha de exame. A confiabilidade da entrevista
cedimentos e etapas a que o animal foi ou estará merece, em tais casos, ser checada, procurando-
sendo submetido, deixando claro, em caso de se confrontar as informações obtidas com as
desfecho fatal que, efetivamente, todo o possí- fornecidas pelo verdadeiro responsável.
vel foi feito para salvar a vida do animal.
Não existem regras mágicas ou mirabolantes
para a realização de uma boa entrevista, mas é QUEIXA PRINCIPAL
possível se basear na regra das vogais, de grande
utilidade para ser lembrada na condução de uma É definida como a manifestação imediata da doença
entrevista: do animal que fez com que o proprietário procu-
Atenção. Ouça atenciosamente a história; não rasse atendimento veterinário. Em poucas pala-
despreze inicialmente os detalhes. vras, registra-se a queixa principal que levou o
Estimulação. Estimule o proprietário a falar proprietário a procurar o veterinário, repetindo,
tudo sobre o caso, separando os dados relevan- se possível, quando não utilizadas palavras ou
tes dos inaproveitáveis. Selecione, agora, as in- termos de baixo calão, as expressões por ele uti-
formações. lizadas (o animal tem coceira, e não prurido).
Inquisição. Inquira, tanto quanto necessário, Recomenda-se, nos casos de utilização de termos
sobre os fatos que não ficaram claros ou foram peculiares de uma determinada região ou inerentes
esquecidos. ao indivíduo, a descrição - entre parênteses - do
Observação. Observe se as informações obti- verdadeiro significado do(s) termo(s) em ques-
das são ou não confiáveis, levando-se em conta a tão, adotando-se, preferencialmente, termos téc-
aparência geral do animal e o comportamento do nicos de fácil entendimento (o cachorro está obran-
proprietário. Não hesite em repetir a mesma per- do sangue: notar que é um termo dúbio e que,
gunta utilizando-se de outras palavras para con- dependendo da região do país, pode caracterizar
firmar a informação. hematoquezia - fezes com sangue, ou hematúria
União. Agrupe os dados de importância e - urina com presença de hemácias)*»A queixa
verifique se a história tem início, meio e fim. principal, porém, nem sempre expressa o princi-
pal distúrbio que o paciente apresenta. Não é re-
comendável aceitar, na medida do possível, "ró-
Formato da História tulos diagnósticos" referidos à guisa da queixa
principal. Assim, se o proprietário disser que o
Repetindo: a anamnese deve ser metódica e animal está triste, procurar-sc-á esclarecer o sin-
seguir sempre a mesma sequência, para não omi- toma que ficou subentendido sob uma ou outra
Introdução à Semiologia 21

Quadro 1.3 - Princípios básicos para a Quanto mais informações se souber sobre as
obtenção da anamnese. alterações e o animal, maiores as possibilidades
• Motivação para ouvir o proprietário (consciência de diagnóstico. A cronologia é a estrutura mais
da importância da anamnese). prática para se organizar o histórico, já que propi-
• Evitar interrupções e/ou distrações. cia a compreensão dos eventos que ocorreram
• Dispor de tempo para ouvir o proprietário. desde o início até o momento atual da doença.
• Não desvalorizar precocemente as informações. Algumas histórias são simples e curtas, facilmen-
• Não se deixar levar pela suspeita do proprietário.
te dispostas em ordem cronológica, cuja relação
• Não demonstrar sentimentos desfavoráveis (tristeza,
aparece sem dificuldade. Outras, porém, são lon-
impaciência, desprezo). gas, complexas e compostas de inúmeros sinto-
• Saber interrogar o proprietário.
mas, cujas inter-relações não são fáceis de serem
• Possuir conhecimentos teóricos sobre as enfermi
determinadas. Na maioria das vezes, torna-se difícil
dades (fisiopatologia, terapêutica). evidenciar o momento exato em que apareceu o
primeiro sintoma ou o sintoma precursor do qua-
dro clínico, principalmente quando envolve ani-
mais de rebanho, já que a observação diária por
Quadro 1.4 - Possibilidades e objetivos dê parte do proprietário ou do tratador é, até certo
anamnese. ponto, superficial, sendo essa uma das muitas
• Estabelecer condições para a relação veterinário/ dificuldades existentes na realização da anamne-
proprietário. se. Como orientação geral, o estudante deve es-
• Conhecer a história clínica e conhecer os fatores colher o sintoma-guia, a queixa de mais longa
ambientais relacionados com o paciente. duração ou o sintoma mais observado pelo pro-
• Estabelecer os aspectos do exame físico que mere prietário. Para a grande parte desses casos, algu-
cem maior atenção. mas regras podem ser úteis:
• Definir a estratégia a ser seguida em cada paciente
quanto aos exames complementares. 1. Determine, se possível, o sintoma-guia.
• Escolher procedimento(s) terapêuticos(s) mais 2. Determine a época do seu início.
adequado(s) em função do(s) diagnóstico(s) e do 3. Use o sintoma-guia como fio condutor da
conhecimento global do estado do animal.
história e tente estabelecer as relações com
outros sintomas.
4. Determine a situação do sintoma -guia no
denominação. É um verdadeiro risco tomar ao pé momento atual: evoluiu/estagnou?
da letra os supostos diagnósticos dos proprietários. 5. Verifique se a história obtida segue urna se
Por comodidade, pressa ou ignorância, o veteri- quência lógica.
nário pode ser induzido a aceitar, dando ares cien-
tíficos às conclusões diagnosticas feitas pelos Designa-se como sintoma-guia o sintoma ou
mesmos. É comum o proprietário fornecer dados sinal que permite recompor a história da doença
irrelevantes ao caso, cabendo ao examinador se- atual com mais facilidade e precisão, o que não
lecionar as informações obtidas. No momento em significa que haja sempre um único e constante
que o veterinário começar a conduzir as pergun- sintoma-guia para cada enfermidade. O sintoma-
tas, é conveniente anotar na ficha do animal ter- guia não é, necessariamente, o mais antigo nem,
mos técnicos e, não mais, o vocabulário do pro- obrigatoriamente, a primeira queixa do proprie-
prietário, como foi feito na queixa principal. tário ou o sintoma mais realçado pelo mesmo. Con-
tudo, esses fatores não devem, em hipótese ne-
nhuma, ser desprezados.
HISTÓRICO MÉDICO RECENTE O início do sintoma deve ser caracterizado
primeiro com relação à época, se possível, regis-
O histórico médico atual refere-se a alterações trando-se o dia, a semana ou o mês. A pergunta
recentes na saúde do animal que levaram o pro- padrão pode ser: "Quando o(a) senhoria) começou a
prietário a procurar auxílio médico. Descreve, com observar isso?". O modo de início - gradativo ou
maiores detalhes, a informação relevante para a súbito — também é importante. A duração ficará
queixa principal. Deve responder a três pergun- estabelecida conforme a época do início do sinto-
tas básicas: o que, quando e como! ma. O mesmo é sazonal? (aparece em determina-
22 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico

das épocas do ano; cães que apresentam derma- cial, resume, em termos de sistemas orgânicos,
topatias alérgicas sempre nos meses de verão). A os muitos sintomas que podem ter sido negligen-
relação com outros sintomas é procurada partindo- ciados na história da doença atual, já que é bas-
se de probabilidades mais frcqiientes, quase sempre tante comum o proprietário não relatar um ou outro
se levando em conta as relações anatómicas ou sintoma durante a aquisição da história da doen-
funcionais. Por exemplo, se a queixa for secreção ça atual, por simples e puro esquecimento^A
nasal, devc-se procurar relacioná-la com tosse, principal utilidade prática do interrogatório dos
taquipncia, respiração ortopnéica, tipo respirató- órgãos reside no fato de permitir o conhecimento
rio e assim por diante. O passo seguinte consiste de enfermidades que não apresentam relação com
em investigar a maneira como evoluiu o sintoma, o quadro sintomatológico registrado na história
baseando-se no seu comportamento ao longo dos médica recente.
dias ou semanas e, também, no decorrer do dia, É necessário, para se realizar uma boa anam-
registrando-se as modificações ocorridas nas suas nese especial, seguir um esquema rígido, cons-
características (intensidade, frequência). A situação tituído de um conjunto de perguntas que cor-
do sintoma no momento atual encerra a análise respondam a todos os sintomas indicativos de
da queixa, possibilitando uma visão de conjunto alterações dos vários sistemas do organismo.
desde o seu início. Deve-se registrar todos os sintomas presentes,
Nessa fase da arguição, portanto, alguns pontos como também, aqueles negados pelo proprietá-
devem ser abordados, tais como a localização, o rio. A pesquisa sobre o estado funcional dos órgãos
início e a duração, a frequência e a gravidade, os é feita adotando-se uma mesma sequência de ar-
problemas associados e a progressão da doença, guição, independentemente da queixa principal
como mostra o exemplo a seguir: do proprietário, ou então, questionando-se, ini-
Um rottweiler, com três meses de idade, foi leva- cialmente, o sistema supostamente envolvido e,
do pelo proprietário (fonte e confiabilidade) por de- posteriormente, os demais sistemas da sequên-
senvolver diarreia (queixa principal: sintoma-guia cia, para que nenhuma informação importante
e provável localização: sistema digestório). O pro- seja esquecida. A sequência recomendada é a se-
blema teve início há três dias (início) e persiste até o guinte: 1. Sistema Digestório; 2. Sistema Cardi-
momento (duração). A diarreia ocorre várias vezes orrespiratório; 3. Sistema Genitourinário; 4.
ao dia (frequência) e apresenta sangue nas fezes em Sistema Nervoso; 5. Sistema Locomotor; e 6. Pele
grande quantidade (gravidade). Começou a demons- e Anexos. As informações mais relevantes serão
trar anorexia, vomito, desidratação e febre há um abordadas dentro dos sistemas correspondentes,
dia (problemas associados) e o animal tem ficado cada servindo as questões seguintes apenas como
vez mais apático desde então (evolução). exemplo de algumas perguntas que possam ser
A medicação também deve ser questionada: o feitas.
animal já foi medicado? Por quem? O que foi dado? Sistema digestório. O animal alimenta-se bem?
Qual a dosagem e intervalo? Por quanto tempo a Bebe água normalmente? Está defecando? Qual
medicação foi administrada? (Muitas vezes o o tipo de fezes (duras, moles, pastosas, líquidas)?
medicamento utilizado é adequado à enfermi- O animal apresenta vómito? Qual o aspecto do
dade, mas a medicação foi dada em subdosagem, vómito? Horário em que aparece? Tem relação com
cm intervalos longos, ou por um período muito a ingestão de alimentos? Tem alimentos não di-
curto de tempo.) É bastante comum o proprie- geridos? Sangue?
tário suspender uma determinada medicação Sistemacardiorrespiratório. O animal cansa fácil?
assim que os sintomas declinam, sem respeitar Estava acostumado a correr e já não o faz mais? O
o tempo recomendado pelo veterinário. Mais animal tosse? Qual a frequência? E tosse seca ou
comum ainda é o proprietário medicar o animal com expectoração (produtiva)? É frequente? Piora
antes de procurar assistência veterinária. à noite ou após exercício (alguns animais com
problema cardíaco apresentam tosse seca que piora
à noite em virtude do decúbito)? Qual o aspecto
COMPORTAMENTO da expectoração (cor, odor, volume)? Elimina
sangue pelas narinas? Observou edema ou incha-
DOS ÓRGÃOS ço em alguma parte do corpo (época que apare-
A revisão de sistemas, chamada também de in- ceu; evolução; região que predomina)? O animal
terrogatório sintomatológico ou anamnese espe- lhe parece fraco?
Introdução à Semiologia 23

Sistema genitourinário. O animal está urinan- interesse para o diagnóstico. A data de vacinação,
do? Qual a frequência? Qual a coloração da uri- a dose e o produto utilizado, como também a
na? Qual o odor? Onde o animal urina aparecem conservação das vacinas, devem ser questionados.
formigas? Aparentemente o animal sente dor Da mesma forma, a vermifugação precisa ser
quando urina (posição à micção, gemidos, emis- checada, atentando-se, principalmente, ao prin-
são lenta e vagarosa)? O animal já pariu alguma cípio ativo do vermífugo, à dose e ao intervalo
vez? O parto foi normal? Quando foi o último cio? entre cada vermifugação.
Percebeu alguma secreção vaginal ou peniana?
Qual o comportamento sexual dos reprodutores?
Apresentam exposição peniana prolongada? HISTÓRIA AMBIENTAL
Sistema nervoso. Apresentou mudanças de com-
portamento (agressividade)? Apresentou convul- E DE MANEJO
sões? Apresenta dificuldade para andar? Tem di- O exame do ambiente é parte indispensável a
ficuldade para subir escadas? Anda em círculos? qualquer exame clínico, já que se comporta como
Apresenta tropeços ou quedas quando caminha? abrigo ideal para inúmeros reservatórios e trans-
Sistema locomotor. O animal está mancando? missores de doenças infecciosas e parasitárias, além
De que membro? Observou pancadas ou coices? de determinar, principalmente nos animais pe-
Pele e anexos. O animal coça? Muito ou pou- cuários, alterações metabólicas e nutricionais, com-
co? O prurido é intenso? Chega a se automutilar? prometendo sua produtividade. Em virtude da
Apresenta meneios de cabeça (otite)? Está apre- grande variabilidade ambiental e de manejo nos
sentando queda de pêlos? quais os animais de diferentes espécies são cria-
dos, tendo em vista a enorme diversidade das fun-
ções que os mesmos executam, descreveremos
HISTÓRIA MÉDICA PREGRESSA somente os pontos principais a serem investiga-
A história pregressa constitui a avaliação geral da dos na história.
saúde do animal, antes da ocorrência ou da mani- Em caso de criação extensiva, é interessante
festação da doença atual. De forma geral, inclui verificar a topografia local e o tipo de solo e de
os seguintes aspectos: vegetação em que os animais são criados, visando
detectar a ocorrência de determinadas enfermida-
• Estado geral de saúde. des, tais como: deficiências nutricionais (cobre e
• Doenças prévias. cobalto em áreas arenosas), leptospirose, anemia
• Cirurgias anteriores. infecciosa equina (regiões pantanosas, alagadas,
• Imunizações, vermifugações, etc. úmidas), ectopias e traumas (áreas exageradamente
inclinadas), entre outros. Para aqueles animais
Como uma introdução à história pregressa, o criados relativamente confinados, é conveniente
entrevistador pode perguntar: Como era a saúde perguntar onde o animal permanece a maior parte
do animal antes de adoecer? A informação resultan- do dia, se o chão é áspero (calo de apoio em cães
te do questionamento de doença prévia pode ser de grande porte), se o local é úmido (processos res-
valiosa. Em caso de ocorrência de doenças piratórios), se apresenta boa ventilação ou boa pro-
anteriores, perguntas referentes à faixa etária em teção contra extremos de temperatura (calor/frio);
que ocorreram, à percentagem de animais aco- se o animal tem acesso a oficinas mecânicas (into-
metidos dentro do rebanho (morbidade), ao nú- xicação por chumbo), à rua (atropelamentos), a de-
mero de mortes (mortalidade), às manifestações pósitos de lixo (ingestão de corpos estranhos ou
clínicas observadas, aos achados de necropsia, aos materiais em decomposição), se estão reformando
tratamentos realizados e às medidas preventivas, a casa (cães jovens podem lamber tinta ou outros
são importantes. A realização de cirurgias pode, materiais), as cercas (ingestão de pregos e arames
muitas vezes, indicar a ocorrência de recidivas ou pelos bovinos); quais são as condições de higiene
de complicações posteriores, fornecendo, assim, do local (remoção de fezes e urina, troca de cama,
um prognóstico reservado ao caso em questão (la- lavagem do quintal); quais produtos são utilizados
parotomias, herniorrafias, etc.). O tipo de proce- na limpeza das áreas em que os animais permane-
dimento cirúrgico e a data devem ser lembrados. cem (quintal, estábulos, sala de ordenha, troncos,
As vacinações realizadas são, também, de grande bretes, entre outros).
24 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico

No exame físico, será avaliado o estado nu- tar sobre fatos que ocorreram há pouco tempo (dias,
tricional do animal ou do rebanho. Contudo, um semanas), tais como: Mudou a alimentação há pouco
conheeimento antecipado do manejo nutricional tempo? Entrou algum animal novo na casa ou no
é um ponto crucial no estabelecimento da histó- rebanho? Nos pacientes com enfermidades cró-
ria do animal, determinando-se, principalmente, nicas, a separação entre os sintomas que perten-
seus hábitos alimentares, especificando, tanto cem à doença atual e os que são devidos a doen-
quanto possível, a quantidade c a qualidade da ças antigas constitui, às vezes, problema com-
alimentação que o animal vem recebendo, toman- plexo. A sua solução depende, em grande parte,
do-sc como referência o que seria a alimentação da capacidade técnica do examinador que ob-
adequada para aquele animal em função de sua tém a anamnese e a correta interpretação dos
idade, do sexo e do trabalho que executa. Ten- dados obtidos.
do-se conhecimento de tais aspectos alimentares,
outras perguntas podem ser realizadas como: onde
o animal come? (Vasilhas de plástico podem causar CARACTERÍSTICAS
dermatite de contato na região mentualde cães.) Qual
a localização e a disponibilidade de cochos? Qual a DO PROPRIETÁRIO
origem (qualidade) e disponibilidade (quantidade) Grande parte do prazer e da eficácia da prática
de água? médica vem do conversar com os proprietários.
Cada um deles traz um desafio em especial ao
entrevistador. Assim, como não existem dois en-
FAMILIAR OU DO REBANHO trevistadores iguais, não existem duas pessoas que
entrevistariam o mesmo proprietário de forma
A anamnese familiar ou do rebanho fornece in- similar. Estão demonstrados, a seguir, alguns ti-
formações sobre a saúde de todos os animais per- pos de comportamento mais comuns adotados pe-
tencentes àquela família ou rebanho, vivos ou los proprietários, no intuito de se alertar e orien-
mortos. Quando vivos, deve-se indagar sobre a tar os veterinários menos experientes em como
saúde desses animais no momento atual. Se hou- se deve comportar frente a eles.
ver algum outro animal doente na família ou no
rebanho, o esclarecimento da natureza da enfer-
midade não pode ser esquecido. Se algum ani-
mal morreu há pouco tempo, deve-se determi-
O Proprietário Loquaz
nar, se possível, a causa da morte e os achados O cliente loquaz representa um desafio real
de necropsia. E importante dar atenção especial para o entrevistador principiante. Esses proprie-
a possíveis aspectos genéticos e/ou hereditários tários dominam ou tentam dominar a entrevista,
que poderiam ter implicações para o animal em conduzindo-a da forma que mais lhes convém. O
questão (displasia coxofemoral, miocardiopatia entrevistador dificilmente consegue pronunciar-
congénita). É interessante verificar a ocorrência se. Toda pergunta é seguida, invariavelmente, de
de cruzamentos entre animais da mesma família uma longa resposta. Mesmo respostas objetivas
ou com antecedentes familiares próximos. A como "SIM" e "NÃO" parecem intermináveis.
dens ida de p opulacional ta mb ém deve s er Cada resposta é superdetalhada. Fala e movimenta-
averiguada, já que a superpopulação cria se demasiadamente. Uma interrupção cortês se-
condições desconfortáveis, desfavoráveis e pre- guida por outra pergunta direta enfatizará o tema
judiciais para os animais quando confinados ou da entrevista. O uso de perguntas abertas, facili-
mantidos em um determinado espaço: Quantos tações ou silêncio demorado deve ser evitado, já
animais existem na propriedade ou residência? que essas técnicas apenas encorajarão o proprie-
Quantos estão doentes? Quantos morreram? (A morte tário a continuar falando. Se todos esses cuida -
de um único animal no rebanho ou na família dos forem em vão, relaxe e aceite o seu destino.
geralmente não sugere doença contagiosa; en-
tretanto, a morte de muitos animais ao mesmo
tempo ou em pouco tempo, indica, na maioria O Proprietário Tímido
das vezes, tratar-se de doença infecto-contagiosa.)
Tem conhecimento da ocorrência de canibalismo? Os Esses proprietários são, na maioria das vezes,
animais são agressivos uns com os outros? Pergun- pessoas simples, de baixo poder aquisitivo e/ou
Introdução à Semiologia 25

educacional e muitos deles não possuem autocon- prietários. Considerações como: "Você parece zan-
fiança. Esses proprietários se embaraçam com gado com alguma coisa. Diga-me o que pensa que
muita facilidade e mudam suas respostas com uma está errado?" permite, em algumas situações, que
certa frequência, principalmente quando intimi- o proprietário fique mais calmo ou racional. Lem-
dadas pela postura autoritária do cntrevistador e/ bre-se: nunca se coloque na defensiva. Tente
ou pelas circunstâncias (negligência com o ani- desarmá-lo de maneira sutil e inteligente. Prossi-
mal, ambiente estranho em que se encontra - ar- ga com as suas perguntas vagarosamente, evite
condicionado, secretária, mobiliário moderno, expressões negativas e faça perguntas restritas à
aparelhos sofisticados, ctc.), entre outros. O uso história da doença do animal. A pior conduta con-
de perguntas abertas ou abrangentes com tais siste em adotar uma posição agressiva, revidando
proprietários surte pouquíssimos efeitos, já que com palavras ou atitudes a hostilidade do proprie-
as respostas se limitam a "Sim senhor(a)" e "Sei tário. Não faça o jogo dele. O animal não tem culpa!
não doutor(a)". O questionamento cuidadoso, bem
direcionado c com um linguajar mais simples pode
ser de grande utilidade para tais casos. Algumas O Proprietário Insaciável
palavras amistosas também podem ajudar.
Os proprietários insaciáveis nunca estão sa-
tisfeitos. Fazem muitas perguntas e, apesar de
explicações adequadas, acham que o entrevista-
O Proprietário Hostil dor não respondeu a todas as suas indagações. As
Muito comumente, entrevista-se o proprietário perguntas são as mais variadas e grande parte delas
irado, hostil ou detestável. Alguns são muito não diz respeito à doença atual do animal. Esses
alvitantes ou irónicos, enquanto outros são exigentes, proprietários são mais bem conduzidos com uma
agressivos e ruidosamente hostis. A hostilidade pode conduta firme e não condescendente.
ser percebida à primeira vista, logo após as primeiras
palavras^Alguns permanecem em silêncio a maior
parte da entrevista, enquanto outros fazem comen- O Proprietário Agradável
tários inadequados ou desagradáveis para o princi-
Esse, geralmente, tenta agradar sobremanei-
piante ou até mesmo para o veterinário experiente
ra o entrevistador>iile acredita que todas as suas
durante o transcorrer da anamnese. Muitas si-
respostas precisam satisfazer o entrevistador. Tenta
tuações podem determinar esse comportamento. passar a imagem de proprietário zeloso e preocu-
Doenças incuráveis dos seus animais, principalmen- pado. Acredita que, se o veterinário gostar dele,
te aquelas que requerem um certo trabalho, ope- seu animal será mais bem atendido. Cuidado! Esses
rações mal-sucedidas ou decisões erróneas de ou- merecem uma atenção redobrada, pois desviam a
tro veterinário acompanhadas de gastos exorbitantes, atenção para si e não para o problema do animal.
podem desencadear uma reação de descrença ou Seja objetivo e prático. Lembre-se, o seu pacien-
de desconfiança. O clima criado nesse momento te é o animal, até que se prove o contrário.
não é o que pode ser chamado de agradável, fra-
ternal ou romântico. O entrevistador pode sentir
raiva, ameaça à sua autoridade, impaciência e frus-
tração. Pode haver desenvolvimento de hostilida-
O Proprietário Embratel
de recíproca e uma luta por poder entre ambos. Tenta obter a qualquer custo, pelo telefone,
Como devemos lidar com esse proprietário? O en- o diagnóstico da doença do seu animal e a receita
trevistador deve agir de maneira racional, profis- para o tratamento da mesma. Ê insistente, incan-
sional e, se possível, o mais distante possível das sável e inconveniente. Por mais que se esclareça
indelicadezas do proprietário. Afinal, nem todo que o diagnóstico só pode ser feito após o exame
animal tem o dono que merece, principalmente do animal, não desiste de conseguir, pelo menos,
por não ter tido o poder de escolha. Não temos a uma pequena receita. Geralmente alega falta de
obrigação de gostar dos proprietários, mas, por outro tempo para levar o animal à clínica. É do tipo: o
lado, não se pode transferir as nossas animosidades que pode ser doutor? Tenha calma! Dê, no míni-
para os nossos "pacientes". Eles são vítimas dos mo, umas dez possibilidades da causa da doença
seus donos. Muitas vezes o confronto pacífico pode e, em um fôlego só, umas vinte possibilidades de
ser de grande utilidade para entrevistar tais pro- tratamento. Isso o frustrará em demasia!
26 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico

O Proprietário Anjo-da-Guarda O Proprietário Não-Sei


É o protetor do seu animal e/ou daqueles Esse, invariavelmente, nunca sabe de nada.
outros tantos desamparados. Se for um São Fran- O que o animal tem? "Não sei"; Quando come-
cisco à brasileira, desdobre-se, ele geralmente çou? "Não sei"; Qual a alimentação do animal?
não sabe nada sobre o problema. Vai ser um mo- "p] minha esposa que faz a comida dele"; Foi
nólogo do tipo: "Não sei" ou "Não vi", já que o vermifugado? "Sabe que não sei?". É, antes de
mesmo não teve contato prévio com o animal, tudo, um proprietário omisso e/ou irresponsável.
pois, invariavelmente, o recolheu na rua. Sua pre- Quando seu animal se encontra cm estado debi-
ocupação c o sofrimento do animal. Um ponto litado ou pobre, a primeira ideia que passa em
em comum desses proprietários é a exagerada sua cabeça é levá-lo para sacrifício e, em caso de
proteção que eles dispensam a seus animais, no recusa por parte do clínico, não é difícil abandoná-
intuito de evitar que sintam dor ou desconforto. lo em terreno baldio, ou ainda pior, na porta da
Muitos insistem, por exemplo, para que não se sua clínica.
coloque mordaça no animal porque dói. Geral-
mente dizem: "Não precisa, o animal não mor-
de". Injcção c uma tortura para esses proprietá-
VOCABULÁRIO ÚTIL
rios. Perguntam insistentemente: "Não vai doer O vocabulário utilizado pelos profissionais da área
doutor(a)? Tem-se a impressão, observando-se médica é difícil, complexo e amplo. A memorização
as suas faces, que se administrou iodo a 10% por de um termo é menos útil que tentar determinar
via intramuscular, não nos animais, mas neles seu significado pela compreensão de sua etimo-
próprios. E um sofrimento! E preciso, após o logia, origem ou raízes. Fazendo isso, o significado
término da anamnese, convidá-los a sair da sala dos termos usuais torna-se mais fácil. Na Tabela
senão inibirão, com os seus anseios, os procedi- 1.2 são relacionadas algumas raízes gerais de im-
mentos semiológicos. portância para a rotina prática.

Tabela 1.2 - Raízes de palavras úteis para o médico veterinário.


Prefixo/Raiz Relativo a Exemplo Definição
ab- afastando de abdução Afastando do corpo ,
ad- em direção a adução Em direção ao corpo
aden- glândula adenopatia Doença glandular
an- sem anosmia Sem o sentido do olfato
aniso- desigual anisocoria Pupilas desiguais
contra- oposto contralateral Relativo ao lado oposto
diplo- duplo diplopia Visão dupla
dis- mal-estar disúria Dor à micção
duc- levar abducção Levar para fora
esten- estreitado estenose Dueto de canal estreitado
eu- bom; vantajoso eupnéia Respiração fácil
exo- externo exotropia Desvio ocular para fora
hemi- metade hemiplegia Paralisia de um lado do corpo
hidro- água hidrofílico Absorção imediata de água
hipno- sono hipnótico Indutor do sono
hiper- além hiperemia Excesso de sangue
idio- separado; distinto idiopático De etiologia desconhecida
infra- abaixo infra-orbitário Abaixo da órbita
intra- no interior intracraniano No interior do crânio
ipso- próprio ipsolateral Situado do mesmo lado
neo- novo neoplasia Crescimento novo anormal
poli- vários policístico Muitos cistos
retro- atrás retromamário Atrás da mama
soma- corpo somático Relativo ao corpo
trans- através transuretral Através da uretra
-ectomia remoção de apendicectomia Remoção do apêndice
-fobia temor; receio fotofobia Intolerância anormal à luz
-gnose reconhecimento estereognose Reconhecimento de um objeto pelo tato
Introdução à Semiologia 27

Tabela 1.2 - (Cont.) Raízes de palavras úteis para o médico veterinário.


Prefixo/Raiz Relativo a Exemplo Definição
-grafia algo escrito mielografia Radiografia da medula
-ismo estado; condição gigantismo Estado de crescimento exagerado
-ite inflamação colite Inflamação do cólon
-lise dissolução hemólise Liberação de hemoglobina em solução
-malacia amolecimento osteomalacia Amolecimento dos ossos
-megalia aumento cardiomegalia Aumento cardíaco
-micose fungo dermatomicose Processo patológico da pele causado por fungo
-ologista especialista cardiologista Especialista em cardiopatias
-orna tumor; crescimento fibroma Tumor de tecido fibroso
-orrafia sutura herniorrafia Sutura de uma hérnia
-ose estado patológico endometriose Estado patológico do tecido uterino de localização anormal
-patia doença uropatia Doença das vias urinárias
-plastia reparo valvuloplastia Reparo cirúrgico de uma válvula cardíaca
-plegia paralisia hemiplegia Paralisia da metade do corpo
-ptose queda blefaroptose Queda das pálpebras
-scopio instrumento para exame oftalmoscópio Instrumento para exame do olho
-spamo espamo blefaroespasmo Contração das pálpebras
-stomia abertura ileostomia Criação cirúrgica de uma abertura no íleo
-tomo corte micrótomo Instrumento para cortar fatias finas
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