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UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU

Faculdade de Ciências Humanas e Sociais


Curso de Psicologia

Alex Pereira Leite


Bruna Inocêncio Marques de Oliveira
Damaris Meira Santos

Implicações psicológicas das lesões esportivas

São Paulo
2011
UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU
Faculdade de Ciências Humanas e Sociais
Curso de Psicologia

Alex Pereira Leite


Bruna Inocêncio Marques de Oliveira
Damaris Meira Santos

Implicações psicológicas das lesões esportivas

Trabalho de conclusão de curso a ser apresentado para


banca de avaliação como composição para avaliação final
do curso.

Orientadora: Profª Drª Maria Regina Ferreira Brandão

São Paulo
2011
Implicações psicológicas das lesões
esportivas

Autores: Alex Pereira Leite


Bruna Inocencio Marques de Oliveira
Damaris Meira Santos
Orientadora: Profª Drª Maria Regina Ferreira Brandão

Nota: ____________
DEDICATÓRIA

Dedicamos este trabalho a todos esportistas do país que se esforçam para


alcançar melhores resultados em cada competição.
Aos profissionais da área de Psicologia do Esporte que têm se dedicado a
desenvolver novas técnicas em sua área de atuação, colaborando para um novo
conceito sobre a prática esportiva, pois em dias em que a perfeição física é fator
comum entre atletas de alto nível, o trabalho psicológico tem sido citado como um
diferencial para o rendimento esportivo.
Dedicamos também à nossa professora orientadora, que nos ajudou durante a
elaboração do trabalho e esteve sempre disponível quando solicitamos, e aos
nossos familiares e amigos, pelo apoio durante todo o curso.
Gostaria de agradecer primeiramente à professora orientadora,
por nos ajudar a desenvolver este trabalho e à maioria dos
professores que nos ajudou em nossa formação, aos meus
familiares que sempre me apoiam e aos colegas de dentro e
fora da faculdade, que me apoiam e entendem os momentos
que me dedico aos estudos.
Alex Pereira Leite

Agradeço aos meus colegas Alex e Damaris e à professora


orientadora, que contribuíram para fazer acontecer este
trabalho. Também agradeço aos meus pais, familiares,
namorado e amigas pelo carinho, paciência e apoio durante
todo a extensão do curso.
Bruna Inocencio Marques de Oliveira

Agradeço a Deus, aos meus pais, namorado e amigos pelo


apoio efetivo durante esses anos, aos meus colegas Alex e
Bruna que colaboraram com a realização deste trabalho, à
orientadora Profa. Dra. Maria Regina Ferreira Brandão, que
contribuiu ativamente com as orientações e pacientes
correções. A todos meu sincero agradecimento.
Damaris Meira Santos
Resumo

O presente trabalho propõe um estudo mais aprofundado sobre a relação entre os


aspectos psicológicos e as lesões esportivas, através de uma revisão de literatura.
Devido à freqüência com que as lesões ocorrem no meio esportivo há uma
preocupação quanto aos profissionais envolvidos, principalmente devido ao
afastamento do atleta das suas atividades, sejam treinos ou competições, que
prejudica seu rendimento e, em alguns casos, à incapacidade permanente para o
esporte proveniente de um processo de lesão. Há de se considerar que alguns
esportes, podem predispor os atletas a sofrer uma lesão, em virtude de suas
próprias características. Neste contexto, o aspecto psicológico foi relacionado tanto
como uma possível causa para o desencadeamento das lesões no esporte, como
uma reação à lesão esportiva. Dentre as causas das lesões foram identificados
fatores individuais e fatores situacionais, sendo alvo de estudos o comportamento
pré-lesão, que seria um de seus fatores desencadeantes, e a contribuição de
intervenções preventivas nestes casos. Alguns autores, ainda, identificaram que
algumas crenças comuns em atletas incidem diretamente com o aumento da
probabilidade de ocorrência de traumas e lesões. Já as conseqüências negativas
das lesões ultrapassam claramente a saúde física dos indivíduos, afetando seu bem
estar psicológico e podendo comprometer seu equilíbrio e saúde mental. E sobre a
reação do atleta frente a este processo, foram encontrados dois modelos
explicativos aceitos neste campo de estudos: o primeiro, de Kübler-Ross (1993),
sobre os cinco estágios da morte, adaptado para o contexto esportivo, e o segundo,
de Nata (1998), que diz respeito ao Modelo de Avaliação Cognitiva.

Palavras-chave: Psicologia, esporte, lesões.

Abstract
This paper proposes a further study on the relationship between psychological issues
and sports injuries through a literature review. Due to the frequency of injuries there
is a health care professionals’ concern, mainly from the sport due to their activities,
whether training or competition, which affect their performance and, in some cases it
causes permanent removal from sport process. It should be considered that some
sports may predispose athletes to suffer an injury due to its own characteristics. In
this context, the psychological aspect was related both as a possible cause for the
onset of injuries in Sport and as a reaction to sports injury. Among the causes of the
injuries were identified individual and situational factors. Some studies focus pre-
injury behavior, which would be one of its triggers, and the contribution of preventive
interventions in these cases. Some authors also found that some commonly held
beliefs have a direct impact on increasing trauma and injuries probabity. Negative
consequences of the injury clearly outweigh the physical health of individuals,
affecting their psychological well-being and may compromise their balance and
mental health. About the athlete's reaction to this process, two explanatory models
are acceptaded in this field of studies: first, Kübler-Ross (1993), about the five stages
of death, adapted to the sporting context, and second, Nata (1998), about Model
Cognitive Assessment.

Keywords: Psichology, sport, injury.


Sumário

1. Lista de figuras........................................................................................... 9
2. Introdução................................................................................................... 10
2.1. Justificativa........................................................................................ 11
2.2. Objetivo...............................................................................................12
2.3. Objetivos específicos.......................................................................... 13
3. Método..........................................................................................................13
4. Revisão de Literatura.................................................................................. 14
4.1. Causas e consequências psicológicas das lesões esportivas............. 14
4.2. Categorias esportivas e tendências à lesão........................................ 19
4.3. Psicologia e reabilitação de atletas lesionados................................... 21
5. Discussão..................................................................................................... 22
6. Considerações finais.................................................................................... 29
7. Referências bibliográficas............................................................................ 30
9

1. Lista de figuras

Figura 1: Modelo de avaliação cognitiva............................................................... 16


Figura 2: Modelo de estresse e lesão esportiva.................................................... 19
Tabela 1: Relação de artigos utilizados para levantamento de dados e origem das
publicações............................................................................................................ 23
Tabela 2: Principais aspectos psicológicos auxiliares de uma lesão e reações
psicológicas apresentadas no momento pós-lesão............................................... 24
10

2. Introdução

No Brasil, a Psicologia do Esporte é considerada como um ramo emergente na


Psicologia o que pode ser observado tanto em congressos científicos de Psicologia,
com a presença de palestrantes da área, como em cursos de graduação que já
possuem a disciplina em sua grade curricular. (Oliveira, Vieira, Vieira & Vissoci,
2010). Segundo Cillo (2002) a história da Psicologia do Esporte se confunde com a
da Psicologia uma vez que os primeiros estudos relacionando “aspectos
psicológicos” e atividade física datam do final do século XIX e início do XX, época do
desenvolvimento da ciência Psicologia. Até o início de 1990 a Psicologia do Esporte
em países como França, Austrália, China e Brasil era bem modesta. A exceção
ficava para os Estados Unidos, antiga União Soviética e Alemanha oriental, países
considerados precursores da área e nos quais já a partir de 1960 a Psicologia do
Esporte começava a se diferenciar e passava a ser vista como uma ciência
independente da psicologia geral (Brandão, 1995).
Entretanto, a história da Psicologia do Esporte no Brasil não é nova. Desde
1950 podemos encontrar trabalhos inovadores e surpreendentes realizados pelo
professor João Carvalhaes no São Paulo Futebol Clube por 19 anos e na Seleção
Brasileira de 1958 e pelo professor Athayde Ribeiro da Silva nos anos de 1962 e
1963 também na seleção Brasileira de Futebol. Do início destes primeiros trabalhos
até os dias de hoje a Psicologia do Esporte no Brasil veio se desenvolvendo
gradativa, porém muito lentamente (Brandão, 1995).
Em 1965 essa ciência obteve reconhecimento com a fundação da Sociedade
Internacional de Psicologia do Esporte e a publicação do International Journal of
Sport Psychology, impulsionando as pesquisas sobre o assunto e a evolução
técnico-científica que ocorreu na área nesses últimos 40 anos. A Psicologia do
Esporte como um campo aplicado da psicologia que busca entender, explicar,
predizer e influenciar comportamentos se aplica não só ao trabalho no sentido de
ajudar atletas da elite esportiva a terem um desempenho nas competições cada vez
melhor, mas também em ajudar os atletas a lidarem com o dia a dia dos
treinamentos, com o estresse advindo das competições e com os riscos a que os
atletas estão sujeitos, como as lesões, tão comuns ao meio esportivo e que quando
presentes implicam não apenas em complicações físicas, mas alterações
11

emocionais importantes que exigem um treino de habilidades psicológicas para


enfrentá-las.
Conforme Silva, Rabelo e Rubio (2010), a busca incessante pela vitória não
é condicionada somente pelo nível de habilidade técnica apresentado pelo atleta,
mas é resultado de uma somatória de fatores físicos e mentais que aliados a essas
habilidades e a tecnologia contribuem para que os objetivos mais altos sejam
alcançados. No entanto, em seu caminhar o atleta deve transpor muitos obstáculos
dos quais as lesões são causas freqüentes de afastamento temporário ou definitivo
de atletas de suas equipes, nas mais diferentes modalidades e níveis técnicos Cillo
(2002).
Uma lesão isola o atleta das atividades, ou, pelo menos, o coloca em
condições que não pode levar a efeito, com toda sua amplitude, os requerimentos da
execução desportiva. Por isto, as lesões desportivas, em qualquer parte do corpo
que ocorram, influirão, sempre, em toda a pessoa do desportista. A influência
disruptiva da lesão sobre a vida de um atleta é evidente porque existe uma perda
temporária da habilidade para participar de atividades de alto rendimento e um
significativo temor de continuar a ter sucesso como esportista (Brandão, 1999).
Ao sofrer uma lesão que deriva em perda ostensiva no rendimento
desportivo imediato ou futuro, o desportista pode apresentar uma série de reações
emocionais negativas tais como: raiva, ansiedade, medo, depressão, incerteza
acerca de seu futuro no esporte, mudanças de hábitos alimentares e de sono,
obsessão pelo retorno, negação da gravidade ou mesmo encoberta da lesão, lesões
traumáticas freqüentes, queixas de dor sem causa clínica, alterações de humor e
ausência ou cumprimento parcial das sessões fisioterápicas (Brandão, 1999;
Brandão e Agresta, 2008).
Por este motivo, este trabalho propõe um estudo mais aprofundado da
relação entre aspectos psicológicos e as lesões esportivas e entender suas causas,
conseqüências e as implicações psicológicas e sociais das lesões nos atletas.

2.1 . Justificativa

“Eu não tenho condições de fazer aquilo que fazia antes. A


insegurança é grande. Não estou conseguindo fazer todos
os movimentos certos, tenho um problema no tornozelo
12

que incomoda” (Jogador Adriano em entrevista à Folha de


S. Paulo, 08/11/2011, sobre sua cirurgia no tendão de
Aquiles).

Apesar de as lesões esportivas possuírem suas causas primeiras em fatores


físicos, ou seja, poderem ser entendidas como dano ou trauma (Weinberg e Gould,
2001), a dor proveniente de uma lesão não é tomada como um elemento primeiro de
uma relação causa-efeito, mas como uma experiência presente e latente na vida da
pessoa, neste caso o atleta lesionado. Assim, a dinâmica subjetiva não é
considerada como um elemento que escapa do diagnóstico comprobatório objetivo-
interventivo, mas como elemento existencial, ou seja, aquilo que é vivido e posto em
foco na vida do sujeito (Ottoni et al, 2008).
Um atleta lesionado pode apresentar uma série de reações emocionais
negativas. As respostas psicológicas ou emocionais aos traumas físicos são
determinadas por um processo dinâmico de avaliação cognitiva acerca da situação
da lesão e de outros fatores relevantes.
De acordo com o modelo fenomenológico, ser um atleta tem a ver com uma
forma inteiramente diferente de encontrar o mundo e, deste modo, uma lesão
esportiva não é meramente algo que atrapalha um atleta a cumprir um objetivo ou
satisfazer uma aspiração (...). Uma lesão esportiva é responsável por alterar o
caminho que um paciente-atleta encontra seu mundo, freqüentemente no contexto
das suas mais importantes e significativas experiências (Lurie, 2006, p. 208 apud
Ottoni et al, 2008).
Compreender relação entre aspectos psicológicos e emocionais e a lesão
esportiva é importante, primeiramente, porque tal entendimento poderá facilitar o
delineamento de programas preventivos e, segundo, porque a ênfase atual em uma
abordagem holística do atleta considera que o suporte psicológico contribui para a
recuperação integral de seu ser físico e psíquico.

2.2 . Objetivo

Diante do exposto acima esse trabalho tem como objetivo fazer um


levantamento da literatura brasileira dos últimos dez anos acerca da Psicologia do
13

Esporte no que tange aos estudos sobre as causas, conseqüências e repercussões


psicológicas das lesões esportivas.

2.3 . Objetivos específicos

a) Verificar a quantidade de artigos nacionais publicados nos últimos dez anos sobre
a relação entre psicologia e lesões esportivas,
b) Verificar quais foram os principais aspectos psicológicos estudados,
c) Identificar quais as causas mais citadas na literatura relacionadas às lesões
d) Identificar as conseqüências das lesões na vida pessoal e esportiva dos atletas
d) Identificar o papel do Psicólogo no processo de reabilitação

3. Método

Foi realizado um estudo com base na produção nacional de artigos científicos


relacionados à psicologia do esporte e que abordassem temas sobre os aspectos
psicológicos oriundos de lesões em atletas.
Os artigos foram coletados na base de dados Scielo - Scientific Electronic
Library Online, biblioteca eletrônica que abrange uma coleção selecionada de
periódicos científicos e em revistas eletrônicas de Ciências do Esporte, Psicologia e
Educação Física, tais como: Revista Brasileira de Ciência e Movimento, Revista
Brasileira de Educação Física, Revista Brasileira de Medicina do Esporte, Revista
Brasileira de Psicologia do Esporte, Revista Ciência e Cognição, Revista Mackenzie
de Educação Física e Esporte e Revista Motriz. A busca pelos artigos foi limitada às
publicações entre os anos de 2000 e 2010. Além disto, utilizou-se de consulta à
literatura branca, disponível na Biblioteca da Universidade São Judas Tadeu.
A partir das bases de dados selecionadas foram coletados os artigos de
interesse resultando em um recorte para o desenvolvimento da pesquisa. A busca
foi realizada com as seguintes palavras-chave: “psicologia do esporte”, “lesões
esportivas”, “psicologia e lesões” relacionando 14 artigos.
Assim, a partir das produções arroladas à psicologia do esporte e as lesões
esportivas, foram selecionadas 4 (quatro) produções científicas e mais 4 (quatro)
livros que abordavam assuntos pertinentes aos objetivos da pesquisa, tendo em
vista a investigação dos aspectos ligados aos objetivos específicos do trabalho.
14

Desse modo o presente estudo se caracteriza como uma pesquisa teórica


sendo que para sua composição o objeto de estudo foi analisado à luz de uma
revisão de literatura e de teorias existentes.

4. Revisão de Literatura

4.1 . Causas e Conseqüências psicológicas das lesões esportivas

Rotella e Heyman (1986) apontam que algumas crenças comuns em atletas


incidem diretamente com o aumento da probabilidade de ocorrência de traumas e
lesões. Crenças do tipo “lesionado eu não irei valer nada” ou “preciso ser firme,
suportar a dor e dar 110% de mim” muitas vezes são frases ou idéias de técnicos
que acabam tornando-se verdades absolutas para os esportistas, que não
encontram outra maneira de tornar-se “valiosos” aos olhos de seus superiores, se
não pela sobrecarga ou supertreinamento.
As características e implicações desta sobrecarga nos atletas foram
definidos por Alves, Costa e Samulski (2006) da seguinte forma:

“O supertreinamento é caracterizado pelo desequilíbrio entre estresse e


recuperação. Além disso, os fatores de estresse podem ser
encontrados não apenas em situações do treinamento e da
competição, mas também naquelas relacionadas a extratreinamento e
extracompetição. Por sua vez, os atletas, na tentativa de alcançar altos
níveis de desempenho com o treinamento, podem tornar-se
excessivamente treinados, exibindo sinais e sintomas do
supertreinamento. Esses sintomas podem manifestar-se por queda no
desempenho, fadiga crônica, infecções respiratórias e alterações do
humor. Embora não exista indicação de que o supertreinamento cause
danos irreversíveis ao atleta, o risco de lesão, doenças ou retirada
prematura do esporte é aumentado, diminuindo sobremaneira as
expectativas e a qualidade de vida dos atletas no esporte.” (p.254)

Quanto às reações do atleta diante de uma lesão, assim como diante do


processo de cura, elas podem variar. Segundo Samulski (2009) e Veloso e Pires
15

(2007), um dos modelos aceitos para explicar como o atleta reage diante da lesão é
chamado Grief Reaction, adaptado do modelo proposto por Kübler-Ross (1993)
sobre os cinco estágios da morte para o contexto esportivo, conforme segue:

 Estágio de negação: fase em que o atleta não acredita que a lesão


aconteceu e nega seu estado.
 Estágio de raiva: após compreensão de seu estado, a raiva se
instala, podendo gerar alguma agressividade no atleta,
 Estágio de Barganha: passa-se então à fase de barganha, onde o
atleta “negocia” consigo mesmo na tentativa de se recuperar mais
rápido. Por um momento, pode prometer a si mesmo treinar mais
intensamente ou ser gentil com as pessoas que convive caso se
recupere mais rápido.
 Estágio de depressão: o atleta passa por um período de depressão e
incerteza, pois se conscientiza da falta de participação no esporte.
 Estágio de aceitação: por último, na fase de aceitação, o atleta aceita
a lesão e passa a estar pronto para a reabilitação e retorno à
atividade.

A maioria dos atletas passa por essas fases, variando de velocidade e


facilidade para a transição, podendo durar dias ou meses (Veloso e Pires, 2007).
Brandão e Agresta (2008), no entanto, afirmam que tal modelo tem sido criticado,
tendo em vista que as diferentes formas de reação ao trauma e as manifestações
emocionais não são lineares, mas randômicas, ou seja, não seguem uma seqüência
única. Nata (1998, apud Brandão e Agresta, 2008) apresenta o Modelo de Avaliação
Cognitiva (Figura 1), baseado na teoria de Lazarus que compreende que diante de
um estressor o atleta avalia cognitivamente a situação como ameaçadora ou não,
dependendo da sua percepção sobre a gravidade da sua lesão e as possibilidades
de recuperação. Como resultado, tem-se uma resposta emocional e os
comportamentos conseqüentes do esportista diante de seu processo de reabilitação,
sua aderência ao processo e a determinação para cumprir o processo fisioterápico.
Esse modelo tem vantagens em relação ao modelo anterior, uma vez que, leva em
consideração as experiências anteriores do atleta com lesões, os processos
cognitivos e afetivos e admite a reentrada no processo caso o processo de
16

recuperação do atleta seja atrasado ou ele sofra uma nova lesão, significando que o
esportista recebe novas informações que influenciarão sua percepção e sua
resposta emocional, não é, portanto, um modelo estático.

Estressor (lesão) Avaliação Cognitiva


- História - Percepção Severidade
- Severidade - Recursos Pessoais
- Situação Esportiva - Habilidade para lidar

Resposta Emocional
Reentrada no processo
- Reações psicológicas
- Nova informação médica - Reações emocionais
- Piora da lesão ou retrocesso - Reações fisiológicas

Conseqüências comportamentais

- Performance, saúde ou comportamento Psicológico


- Resposta de coping negativa ou positiva

Não recuperação ou atraso Recuperação da lesão

Figura 1: Modelo de avaliação cognitiva. (Nata, 1998, apud Brandão e Agresta,


2008)

Ottoni, Rainier e Barreira (2008) observaram que o atleta consegue


problematizar sobre suas condições no momento do abandono temporário do
esporte – gerado pela lesão – e, neste momento, segundo Nunes et al. (2010) o tipo
de lesão, seu nível de gravidade, o prognóstico de reabilitação e as conseqüências
prováveis da lesão para a vida do atleta são parâmetros objetivos para a
identificação de possíveis distorções cognitivas; isto é, erros de compreensão dos
processos e conseqüências da lesão e da reabilitação, que podem levar a respostas
emocionais disfuncionais e/ou manutenção do foco de atenção para fatores
irrelevantes ou prejudiciais à própria reabilitação.
17

Veloso e Pires (2007) determinaram dez sinais de um ajuste potencialmente


problemático a uma lesão desportiva: sentimento de confusão e raiva, obsessão
com o regresso ao esporte, retorno precoce que leva a uma lesão reincidente,
reclamações exageradas sobre as tarefas relativas ao processo de reabilitação,
queixas repetidas sobre pequenos problemas físicos, sentimento de culpa por não
poder colaborar com a equipe, afastamento de pessoas significantes, súbitas
alterações de humor e afirmar que, independente do que seja feito, nunca se vai
recuperar. Os autores afirmam que a identificação desses fatores em um processo
de recuperação aponta para uma reação psicológica inadequada à lesão desportiva.
As conseqüências negativas das lesões ultrapassam claramente a saúde
física dos indivíduos, afetando seu bem estar psicológico e podendo comprometer
seu equilíbrio e saúde mental. Sintomas psicológicos resultantes de uma lesão, tais
como ansiedade, depressão, medo, desespero, impaciência e a não adesão ao
plano de tratamento caracterizam esse comprometimento (Veloso & Pires, 2007).
Esses sentimentos negativos podem ser observados em diversas situações
acometidas aos atletas. Podemos observar no estudo de Brandão, Agresta e Barros
Neto (2008) que os atletas que se aposentam no esporte podem desenvolver
sentimentos negativos, como tristeza, medo, tensão, raiva. Esses sentimentos foram
observados nesses atletas apesar de a maioria ter se aposentado de forma
espontânea. Os atletas lesionados que são obrigados a se aposentar cedo podem
ter esses sentimentos aumentados.
Ottoni, Rainier e Barreira (2008) apontam para o fato de que alguns dos
estudos sobre o tema estão voltados para comportamentos pré-lesão, como
possíveis fatores desencadeantes da lesão e as possíveis contribuições das
intervenções preventivas, mas também consideram que:

“Se por um lado as pesquisas apontam para o interesse dos aspectos


antecedentes à lesão, seja a partir de uma perspectiva fisiológica,
como a ocorrência de um trauma, seja por fatores psicológicos, por
outro lado, revelam também ser possível encontrar fontes específicas
de estresse durante a fase de reabilitação. Essas fontes, mencionam
Weinberg e Gould (2001), são consideravelmente mais presentes como
respostas psicológicas do que como aspectos físicos inerentes à lesão
propriamente dita; por exemplo, ‘medo de nova lesão, sentir que
18

esperanças e sonhos foram despedaçados, assistir os outros atuando


e também preocupações sociais como falta de atenção, isolamento,
relacionamentos sociais’” (p.256)

Além desses fatores, outras características como possíveis aspectos


psicológicos que propiciam a lesão de um esportista, dentre eles: características de
personalidade, história de estressores e recursos de controle psicológico. Já os
resultados relacionados aos níveis de estresse indicam que quanto mais altos os
níveis de estresse de vida, maior a probabilidade de desencadeamento de lesões
entre os esportistas. Com base nestes dados identificou-se a importância de apoio
social e emocional da família, amigos e técnicos e habilidades de controle para que
se diminuía a probabilidade de lesões decorrentes do estresse (Weinberg & Gould,
2001).

Essas três características (personalidade do atleta, história anterior com os


estressores e recursos de controle/enfrentamento disponíveis) estão demonstradas
na Figura 2 conforme Modelo de Estresse e Lesão Esportiva proposto por Smith
(1986), relacionando o estresse físico e psicológico à lesão (William e Anderson,
1998, apud Brandão e Agresta, 2008). O modelo sugere que as lesões, sua
incidência, tipo, intensidade e resposta, podem ter dependência em variáveis
psicossociais, por exemplo, o atleta que convive com fontes estressoras não possuir
muitos recursos para lidar com essas situações e, possui características de
personalidade de alta ansiedade competitiva, tende a demonstrar uma reatividade
significativa diante das situações de estresse, dessa forma, ele se torna mais
vulnerável às lesões.
19

História dos
Personalidade Recursos de
estressores
enfrentamento

Resposta de Estresse
Situação Lesão
Avaliação Mudanças
Estressante
Potencial Cognitiva Fisiológicas/Concentração

Intervenções

Figura 2: Modelo de estresse e lesão esportiva (Anderson & Williams, 1988 apud
Brandão e Agresta, 2008)

Weinberg e Gould (2001) ainda consideram que o aspecto psicológico das


lesões pode estar envolvido com diversos fatores como, por exemplo, uma situação
esportiva considerada estressante, como um treino forçado ou uma competição, que
podem causar no atleta uma sensação de ameaça. Nesse caso, são observadas
reações fisiológicas como tensão muscular, sintomas de ansiedade, alteração no
foco de sua atenção e isso, por conseqüência, eleva a chance da ocorrência de uma
lesão.

4.2 . Categorias esportivas e tendência à lesão

Alguns esportes podem predispor o atleta a sofrer uma lesão, em virtude de


suas próprias características, tal como no caso da força que a articulação é
submetida em determinados esportes como o tênis, voleibol e handebol, que
demandam uma grande biomecânica do ombro (Silva, 2010). Em estudo recente
com ginastas e esgrimistas, o dado mais significativo entre os seis atletas avaliados
foi o medo de lesionar-se ou "medo de adoecer" e ainda, especialmente na Ginástica
Olímpica, haja visto o alto índice de lesões nesta modalidade, o medo de uma lesão
é um temor real (Valle, 2007). O sentimento de impotência gerado pela lesão e/ou
20

por adoecer antes de uma competição é grande, pois muitas vezes, no que diz
respeito à ginástica olímpica, é a chance do ano de buscar um resultado importante
já que não há muitas competições de alto nível no Brasil (Valle, 2007).
Weinberg e Gould (2001), afirmam que as lesões esportivas possuem suas
causas primeiras em fatores físicos, ou seja, podem ser entendidas como dano ou
trauma. No entanto, a complexidade do fenômeno lesão no esporte demandou o
posicionamento científico de outras áreas do conhecimento, tal como a psicologia,
pois, segundo os mesmos autores, também há influência de fatores psicológicos na
lesão no esporte.
Segundo Brandão e Agresta (2008):

“as lesões esportivas podem ser divididas em micro e macrotrauma. O


macrotrauma é uma lesão causada por um evento específico e, nesse
caso, a dor é facilmente reconhecida, facilitando o processo de
recuperação do atleta. No microtrauma, no entanto, ocorre uma
degeneração progressiva no desempenho do atleta. A dor é sentida há
muito tempo e pode ser resultado de meses ou até anos de estresse.
Nesse caso não há uma explicação clara sobre o problema, podendo
gerar diversos sentimentos negativos, pois a frustração e a depressão
aumentam, uma vez que o atleta treina para melhorar o desempenho e
os resultados mostram um declínio no desempenho.”

A idade também pode ser um fator determinante de lesão. Um estudo feito


por Alves e Lima (2008) analisou o impacto da atividade física e esporte em crianças
e adolescentes. Concluiu-se que uma prática leve ou moderada da atividade física
tem efeito benéfico no desenvolvimento ósseo e o crescimento estrutural, porém, a
intensificação dessa atividade pode causar um atraso puberal e diminuir a
mineralização óssea. A exigência do alto rendimento para esses atletas que ainda
estão se desenvolvendo pode ser refletida na fase adulta, no momento em que o
atleta está no seu máximo rendimento, pois conforme os autores, o excesso de
atividade física pode ter um efeito oposto, promovendo osteoporose e aumentando o
risco de fraturas.
Para Nunes, Jaques, Almeida e Heineck (2010), o esporte de rendimento, na
maioria das vezes, está relacionado a execuções de movimentos rápidos e
21

repetitivos, e à ocorrência de fortes impactos, o que submete os atletas a condições


propiciadoras de lesões como contusões, fraturas, estiramentos musculares,
luxações e entorse e, segundo Silva, Rabelo e Rubio (2010) um dos eventos
largamente apontados como limitante do desempenho (e, portanto, barreira à
obtenção do sucesso) é a dor que, conforme Machado (2006) interfere no estado de
ansiedade do atleta.
Em algumas carreiras esportivas a taxa de atletas lesionados chega a ser
48%, como vemos em Samulski (2009) e, ainda segundo o autor, essas lesões
trazem consequências negativas para a saúde do atleta, prejudicando seu
treinamento e desempenho.
Silva, Rabelo e Rubio (2010), em seu estudo, revelam que as mulheres,
quando comparadas aos homens, tendem a ignorar mais a dor e o desconforto da
lesão durante a competição e utilizam mais estratégias mentais na tentativa de lidar
com a dor. Ainda, Machado (2006) diz que alguns atletas omitem algumas
contusões ou dores, para que não pareçam acovardados diante de disputas.

4.3 . Psicologia e reabilitação de atletas lesionados

Weinberg e Gould (2001) detalham o papel do psicólogo na recuperação das


lesões com técnicas que podem ser empregadas aos atletas para facilitar o
processo de reabilitação.

“Estudos descritivos mostram claramente que uma abordagem holística


deve ser recomendada, uma abordagem que complemente a
fisioterapia com estratégias psicológicas para facilitar a recuperação de
lesões. Os aspectos psicológicos da reabilitação derivam do
entendimento das respostas à lesão. Entretanto, entender o processo
de resposta à lesão não é suficiente. Vários procedimentos e técnicas
psicológicas facilitam o processo de reabilitação, incluindo
desenvolvimento de contato com o atleta lesionado, instruí-lo sobre a
lesão e o processo de recuperação, ensinar habilidades psicológicas
de controle específicas, prepará-lo para lidar com retrocessos,
incentivar apoio social e aprender com outros atletas lesionados.”
(p.257)
22

Para Brandão e Machado (2008), analisar a lesão e a possibilidade de um


tratamento eficiente, além da possibilidade de um retorno em tempo adequado,
afasta o pessimismo que ronda os atletas afastados do esporte. A análise da
situação, a re-elaboração das metas e o re-planejamento para seu retorno às
atividades esportivas e à competição serão atuações que o psicólogo do esporte
poderá exercer para uma determinada atribuição interna do atleta, que se sentirá
confiante em sua recuperação e possibilidade de retorno à prática esportiva
competitiva imediata ou não.
As avaliações psicológicas que objetivam embasar as intervenções focadas
na reabilitação devem fundamentar-se sobre o seguinte conjunto de fatores: a) a
identificação do estado psicológico do atleta anterior à ocorrência da lesão; b) o tipo
e nível de gravidade da lesão; c) o prognóstico de recuperação; d) as conseqüências
prováveis da lesão para a vida do atleta; e) as cognições apresentadas pelo atleta
sobre a lesão e a reabilitação; f) as respostas emocionais apresentadas a partir da
experiência de lesão; e g) como o atleta organiza suas ações para enfrentar o
processo de reabilitação (Nunes et al., 2010).

5. Discussão

No levantamento de dados para a elaboração desta revisão de literatura,


pode-se identificar que em nível nacional a Psicologia do Esporte ainda é uma
área emergente, e a atuação do psicólogo no esporte, apesar de necessária e
com amplo campo para atuação, ainda é pouco difundida.
Dentre os artigos nacionais publicados e levantados para composição desta
revisão de literatura, apenas quatro abordavam especificamente o aspecto
psicológico nas lesões esportivas. A maior parte das publicações são da área de
medicina, e educação física, conforme listado na tabela abaixo:
23

Tabela 1. Relação de artigos utilizados para levantamento de dados e locais das


publicações.

Artigo Publicação Ano


A competição como fonte de estresse no Revista Brasileira de Ciência e 2002
esporte Movimento
O imaginário da derrota no esporte Revista Psicologia e Sociedade 2006
contemporâneo
Alterações de estados de ânimo presentes Revista Psicologia em Estudo 2007
em atletas de voleibol
Conflitos vivenciados por atletas quanto a Revista de Estudos de Psicologia 2002
manutenção da prática esportiva de alto
rendimento
Situações estressantes nos atletas de Revista Brasileira de Educação 2005
basquetebol de alta competição Física e Esporte
Emoções, "stress", ansiedade e "coping": Revista Brasileira de Educação 2010
estudo qualitativo com treinadores de nível Física e Esporte
internacional
Exploração de fatores de risco para lesões Revista Brasileira de Medicina do 2010
no atletismo de alta performance Esporte
Excelência na Produtividade: A performance Revista Psicologia: Reflexão e 2002
dos jogadores de futebol profissional Crítica
Monitoramente e prevenção do Revista Brasileira de Medicina do 2006
supertreinamento em atletas Esporte
Causas e consequências físicas e Revista Brasileira de Medicina do 2008
emocionais do término da carreira esportiva Esporte
Artigos Selecionados
Processos e intervenção psicológica em Revista Brasileira de Psicologia do 2010
atletas lesionados Esporte
Dinâmica e Intervenção Psicológica em uma Revista Brasileira de Educação 2006
equipe de voleibol masculina Física e Esporte
Crenças esteriotipadas acerca de atletas Revista Ciência e Cognição 2009
que sofreram lesões
A contribuição da intervenção psicológica na Revista Mackenzie de Educação 2008
recuperação do atleta de voleibol lesionado Física e Esporte

Total 14

Tais dados correspondem ao estudo realizado por Oliveira, Vieira, Vieira e


Vissoci, (2010) no qual relatam que no Brasil a Psicologia do Esporte ainda está
em processo de consolidação enquanto campo de atuação profissional,
educacional ou de investigação científica, sendo que este processo tem origem
nos cursos de graduação em Educação Física e Psicologia e na pós-graduação,
principalmente em Educação Física.
Há uma escassez de produção científica nacional nesta área do saber se
comparada às produções a nível internacional, que disponibilizam grande acervo
24

de publicações científicas sobre a psicologia no esporte, sobre o papel do


psicólogo na equipe e sua participação ativa na recuperação das lesões
esportivas, evidenciando a emergência em qualificação de profissionais da área
da Psicologia para o contexto do esporte e do exercício físico.
Nos artigos selecionados, verificou-se que o aspecto psicológico foi
relacionado como uma possível causa para o desencadeamento das lesões no
esporte e, em contrapartida, foi mencionado também como uma reação à lesão
esportiva, como exemplificado na tabela 2, a seguir:

Tabela 2. Principais aspectos psicológicos auxiliares de uma lesão e reações


psicológicas apresentadas no momento pós-lesão

Estresse Psicológico Reações


Psicológicas
Adversas
Causas associadas a momentos pré- lesão Alterações
identificadas no
momento pós- lesão
Medo do fracasso Cinco estágios
Excesso de competição emocionais:
Treinamento não adaptado ao nível do atleta negação, raiva,
Filosofia do treinador barganha, depressão
Cobranças por vitórias e aceitação
Perda de autocontrole
Cansaço mental Perda de identidade
Estresse
Medo e ansiedade
Queda de motivação, concentração e rendimento
Falta de confiança
Frustração

Pode-se observar nos artigos pesquisados que as lesões podem ser


desencadeadas por uma conjuntura que vai desde aspectos psicológicos a sintomas
físicos, como relatado também por Weinberg e Gould (2001) que consideram que
uma situação esportiva estressante, como um treino forçado ou uma competição,
que podem causar no atleta uma sensação de ameaça. Nesse caso, são
observadas reações fisiológicas como tensão muscular, sintomas de ansiedade,
alteração no foco de sua atenção e isso, por conseqüência, eleva a chance da
ocorrência de uma lesão.
25

A filosofia do treinador e o treino não adaptado do atleta foram mencionados


como possíveis causas de interferência nas lesões, pois um treinador que passa
idéias de que o atleta deve render sempre mais do que pode implica numa
sobrecarga ou supertreinamento.
Weinberg e Gould, (2001) exemplificam essas conseqüências na tentativa
dos atletas de alcançar altos níveis de desempenho com o treinamento, treinando
excessivamente e exibindo sinais e sintomas do supertreinamento. Esses sintomas
podem manifestar-se por queda no desempenho, fadiga crônica, infecções
respiratórias e alterações do humor e conseqüentemente, aumento do risco de
lesões.
O atleta que está lesionado se sente impotente por não ter controle direto
sobre a situação, processo de reabilitação e retorno à rotina de treinos. Surgem,
portanto, conforme textos pesquisados, sentimentos como ansiedade, medo,
desespero, impaciência, tristeza, tensão e raiva. A seguir, encontram-se algumas
frases de atletas que exemplificam o sofrimento emocional envolvido nas lesões:

“Estou realmente preocupado e não sei quando estarei


novamente apto a jogar. Não sei mais o que fazer. Eu senti a
mesma dor que havia sentido da outra vez. Ouvi um barulho e
agora estou no mesmo lugar onde estava. Não sei quando isso
passará”. (R.L em entrevista para O Jornal Globo Esporte em 16
de março de 2009)

"Tenho que dar um passo de cada vez, estou voltando de lesão,


tenho jogado alguns jogos, e reconquistando confiança. No
momento certo, por méritos, eu vou voltar à Seleção. Estou
recuperado da lesão, mas nem sempre é só uma lesão física,
tem a lesão psicológica. Você não sabe como vai voltar, quando
vai voltar, e é isso que eu estou recuperando agora”. (R.L em
entrevista para o canal SporTV, 14 de fevereiro de 2011”

“Chorei um dia sim, outro não. Quando você está machucado


parece que fica meio deprimido. As vezes eu via TV e começava
26

a chorar, minha filha falava que me amava e eu começava a


chorar” (L.F – Folha de São Paulo, 01 de outubro de 2011)

“Há um tempo, eu queria dar um tempo no futebol, era um


momento difícil, mas hoje sei o que é uma dificuldade para voltar
a jogar. O incentivo vem da minha mãe, da minha família, filhos
e amigos. Foi difícil para mim tentar voltar a sorrir no começo.
Quando fiz a segunda operação fiquei bastante triste, mas o
apoio da minha família e da minha namorada me fortaleceu
bastante. Vi que dependia só de mim”. (A.L.R – em entrevista
para UOL esporte em 07 de outubro de 2011)

Nesta última fala, destaca-se a importância do apoio social ao atleta durante


todo o processo, desde a lesão até sua recuperação. O apoio de colegas da equipe,
técnico, amigos e família pode contribuir para que esse período seja menos
doloroso, promovendo acolhimento e motivação para o atleta.
Nos artigos pesquisados o psicólogo foi mencionado de extrema importância
nos processos de recuperação de lesão e intervenção, no qual trabalha para instruir
o atleta sobre sua lesão, o processo de recuperação e ensinar habilidades
psicológicas para controle desse processo de recuperação (Oliveira, Vieira, Vieira &
Vissoci, 2010). O suporte psicológico visa contribuir para a recuperação integral do
atleta tanto física quanto psicologicamente. O psicólogo deve proporcionar uma
reabilitação psicológica da lesão melhor e mais rápida, com um retorno favorável às
atividades, prevenindo futuras lesões.
Além destes papéis, também foi citada a importância do psicólogo na
conscientização do atleta sobre o processo de lesão e reabilitação, no auxílio ao
estabelecimento de metas, identificando quais são as suas expectativas de sucesso,
como estabelece o controle e aderência as atividades que lhe permitirão alcançar
suas metas de recuperação.
Verificou-se dois modelos propostos para essa preparação, o modelo dos
cinco estágios Grief Reaction em Samulski (2009) e Veloso e Pires (2007), e o
modelo de avaliação cognitiva em Nata (1998, apud Brandão e Agresta, 2008).
Dentre eles, o segundo modelo leva em consideração a individualidade de cada
atleta, pois sua própria avaliação sobre a lesão importa para o processo de
27

recuperação, esse modelo abre a possibilidade para que o atleta receba novas
informações durante a reabilitação que alterem sua resposta emocional.
Em relação ao trabalho prático realizado pelo psicólogo do esporte, foram
mencionadas diversas técnicas e pontos importantes a serem trabalhados com os
profissionais lesionados.
Um passo importante é a identificação da percepção do atleta acerca
da lesão, ou seja, analisar suas cognições sobre sua experiência e as respostas
emocionais evocadas, e de acordo com elas, expor de forma transparente
informações reais sobre seu estado, esclarecendo a gravidade da lesão, o processo
de retorno da atividade esportiva e expor as estratégias de enfrentamento da
situação que serão utilizadas.
Esse dado vai ao encontro das considerações de Weinberg e Gould que
afirmam que quando bem informado sobre todos os aspectos relevantes associados
à lesão, à reabilitação e às implicações sobre a carreira desportiva o atleta tende a
diminuir a possibilidade de evocar fantasias de natureza ansiogênica.
Segundo os mesmos autores, este passo torna-se importante para que o
atleta fique menos propenso a distorções cognitivas que poderiam prejudicar o
processo de recuperação.
Também foram mencionadas as técnicas descritas por Smith et al (1990)
que incluem:
a. Relaxamento, utilizada para inibição de tensões musculares;
b. Visualização, que consiste em treinos de imaginação, que
podem ser realizados por três modos distintos:
i. o atleta se imagina realizando movimentos os quais está
impedido ou tem dificuldades de execução;
ii. imagina-se fisicamente recuperado, com bom
condicionamento, obtendo as recompensas típica do
esporte (reconhecimento, vitória em competições, boa
performance etc); e
iii. imagina-se em processo de cura.
c. Reestruturação cognitiva que visam organizar as cognições do
atleta, para que avalie a experiência de acordo com a realidade
e de modo funcional, a fim de gerar respostas mais eficazes ao
processo de recuperação e
28

d. O diálogo interno, sendo este o aprimoramento da


autoconversação, que visa aumentar o controle sobre o próprio
desenvolvimento de suas capacidades esportivas e se
estabelecer parâmetros de autoreforçamento.
Já no estudo feito por Sakamoto et al (2006), destacou-se a importância de
um trabalho com uma equipe multidisciplinar completa e bem relacionada, sendo o
psicólogo deve prezar pelo desenvolvimento de um bom vínculo com o atleta,
fornecer informações realistas ao atleta sobre sua lesão e se engajar no
estabelecimento conjunto de metas que é um fator essencial na melhora de
desempenho em um programa de reabilitação, e neste caso é importante que haja
aderência do atleta no processo de recuperação e engajamento tarefas que lhe for
proposta.
Sakamoto et al (2006) relatou a importância de uma atenção mais
direcionada do psicólogo do esporte durante os períodos competitivos, por haver
uma maior exigência técnica e física.
Em situações de treinos constantes, o cansaço físico e mental, pode
desmotivar e levar o atleta a uma situação de estresse, afetando diretamente seu
rendimento e o deixando até mesmo mais suscetível a lesões.
Já nos estudos de Simões et al (2006) o enfoque da intervenção psicológica
mencionada foi direcionada ao clima ambiental das equipes. Os autores defendem
que a relação entre os membros da equipe, o estilo de liderança praticado pelo
técnico e seus padrões de relacionamento, podem intervir diretamente no resultado
da equipe.
Para os autores, o psicólogo deveria auxiliar aos técnicos no
desenvolvimento de condutas que favoreçam a manutenção de boas relações
humanas, bem estar social e psicológico dos atletas, produzindo conseqüentemente
bons resultados, que serão mais facilmente alcançados com uma equipe coesa.
29

6. Considerações Finais

Com esta revisão de literatura foi possível identificar que não há uma única
maneira de explicar o fenômeno das lesões, e que há uma influência de múltiplos
aspectos psicológicos e fisiológicos no desencadeamento destas. Sendo assim, é
importante que o psicólogo atue também para a sua prevenção, através de treinos
de habilidades psicológicas nos atletas, como a resolução de problemas, tomada de
decisões, auxílio em técnicas de relaxamento e incentivo de bons vínculos sociais.
Tais habilidades podem diminuir o aparecimento de lesões e fornecer subsídio aos
atletas que porventura venham a passar por um processo de lesão, de modo a
ajudá-los a enfrentar o processo de recuperação de uma maneira menos
estereotipada, e mais estruturada.
A prática do esporte já predispõe os atletas às lesões, por suas
características de movimentos repetitivos e utilização excessiva de determinados
membros do corpo. Deste modo, consideramos que o psicólogo também deve
intervir na orientação dos atletas, para que os desconfortos físicos e dores sejam
interpretados de maneira real, ou seja, sem superestima ou subestima.
Foi possível observar também as diferentes formas de atuação do psicólogo
dentro do contexto do esporte, que mesmo sendo considerada como uma atuação
multidisciplinar, ainda não conta com muitos profissionais atuando nesta área da
psicologia, deixando transparecer a importância da qualificação de profissionais para
este campo.
Por fim, considera-se que a produção científica no Brasil, nesta área do saber,
ainda é demasiadamente escassa, apesar de observar-se certo crescimento nos
últimos anos. No âmbito esportivo há diversos conflitos psicológicos que podem ser
vivenciados por seus integrantes, o que o torna um campo fértil para estudos que
objetivem a pesquisa sobre a relação de fatores psicológicos como as lesões e o
processo de reabilitação.
30

7. Referências Bibliográficas

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