Cartilha A. P. Paratletas

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CARTILHA

AVALIAÇÃO
PSICOLÓGICA
DE PARATLETAS
2023
CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA

CARTILHA
AVALIAÇÃO PSICOLÓGIC A DE
PARATLETAS

Uberlândia/MG
2023
Curso de Psicologia
Centro Universitário UNA
2023

DISCENTES:
Adeilza Lima da Silva
Breno Reis Alexandre
Grazielle Vitória Nunes Godoi
Miriele Souza Andrade Lima
Paula Moura Pena
William Nogueira

DOCENTES:
Juliana Leonel
Saulo Magalhães
APRESENTAÇÃO

A Cartilha de Avaliação Psicológica de paratletas tem como


principal propósito oferecer informações e reforçar
diretrizes para a realização desse tipo de avaliação. No
documento, disponibilizamos informações abrangentes
referentes ao contexto em questão, orientações quanto aos
procedimentos adequados, tais como entrevistas,
observações e testes apropriados, mas também abordamos
os desafios comuns enfrentados na Avaliação Psicológica
de pessoas com deficiência no esporte.

Além disso, a cartilha disponibiliza, ao final, um


minidicionário para aproximar o(a) psicólogo(a) da
linguagem mais adequada para se referir à pessoa com
deficiência e contextos em que ela está inserida, afastando-
se de expressões preconceituosas e/ou capacitistas.

É fundamental ressaltar a importância do conhecimento


especializado do(a) psicólogo(a) nesse contexto, uma vez
que a competência técnica é elemento crucial para
garantir uma avaliação precisa e ética. Por isso, este
documento disponibiliza referências a estudos relevantes, a
identificação de testes adequados e a entrevista com uma
psicóloga que atua na área. Tudo isso, visando enriquecer a
compreensão e a capacidade do psicólogo(a) no
atendimento de atletas com deficiência
SUMÁRIO

1 7
PESSOAS COM DEFICIÊNCIA MINIDICIONÁRIO DE
E PARATLETAS QUEM SÃO? TERMINOLOGIAS
p. 11 p. 27

2 8
PSICOLOGIA ENTREVISTA
DO ESPORTE p. 29
p. 12

3 9
COMPREENDENDO A ARTIGOS PARA MELHOR
AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA CONHECER
p. 13 p. 34

4 10
AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA PARATLETAS MEDALHISTAS
NO ESPORTE: PARATLETAS PELO BRASIL
p. 15 p. 35

5 11
IMPEDIMENTOS PARA
REFERÊNCIAS
AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA
BIBLIOGRÁFICAS
p. 25
p. 37
6
CONCLUSÃO
p. 26
1. PESSOAS COM DEFICIÊNCIA
E PARATLETAS: QUEM SÃO?

Inicialmente, cabe a esta cartilha esclarecer quem seriam as


pessoas com deficiência e destas quem comporia o grupo dos
paratletas. De acordo com a Lei 13.146/15 são consideradas
pessoas com deficiência:

Art. 2º Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de


longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em
interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e
efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas.
§ 1º A avaliação da deficiência, quando necessária, será biopsicossocial,
realizada por equipe multiprofissional e interdisciplinar e considerará:
(Vigência) (Vide Decreto nº 11.063, de 2022)
I - os impedimentos nas funções e nas estruturas do corpo;
II - os fatores socioambientais, psicológicos e pessoais;
III - a limitação no desempenho de atividades; e
IV - a restrição de participação.
(BRASIL, 2015)

Qualquer pessoa, tendo ela deficiência ou não, pode praticar


esportes. Contudo, conforme mencionado anteriormente, são as
interações com uma ou mais barreiras que podem obstruir o
exercício da atividade física por pessoas com deficiência, sendo
uma delas o preconceito. Entretanto, desconstruindo uma visão
capacitista, os paratletas são pessoas com deficiência que
superam inúmeros limites e se tornam esportistas de alto
rendimento, podendo participar de competições, como os Jogos
Paralímpicos, ou das Surdolimpíadas, que são restritas a pessoas
surdas.

Sobre a prática da atividade em si existem três nomenclaturas


utilizadas, sendo elas esportes adaptados, paradesporto ou
esporte paralímpico, conforme também nos apresenta Corrêa,
Damasceno, Souza e Bosa (2021):

11
O esporte adaptado (EA), por vezes referido como paradesporto ou
esporte paralímpico, corresponde tanto a adaptações estruturais em
esportes convencionais (por meio da modificação de regras, locais,
quadras, materiais), como a criação de novas modalidades desportivas
dedicadas especialmente às pessoas com deficiência (apud CÔTE-
LECLERC et al., 2017, p. 03). Desde seu surgimento e consolidação após
a Segunda Guerra Mundial, a meta principal do EA é a
democratização da prática desportiva para pessoas com deficiência
(apud OLIVEIRA, GONÇALVES, & SEABRA, 2017, p. 03).

Ciente disso, apresentar preceitos para a avaliação psicológica


dos paratletas e atuação do(a) psicólogo(a) do esporte é o
objetivo principal desta cartilha.

2. PSICOLOGIA DO ESPORTE

MAXIMIZAR OTIMIZAR MELHORAR A


RENDIMENTO PERFORMANCE SAÚDE MENTAL

De acordo com a Resolução nº 013, de 14 de setembro de 2007,


do Conselho Federal de Psicologia:

A atuação do psicólogo do esporte está voltada tanto para o esporte


de alto rendimento, ajudando atletas, técnicos e comissões técnicas a
fazerem uso de princípios psicológicos para alcançar um nível ótimo de
saúde mental, maximizar rendimento e otimizar a performance,
quanto para a identificação de princípios e padrões de
comportamentos de adultos e crianças participantes de atividades
físicas. Estuda, identifica e compreende teorias e técnicas
psicológicas que podem ser aplicadas ao contexto do esporte e do
exercício físico, tanto em nível individual – o atleta ou indivíduo
praticante – como grupal – equipes esportivas ou de praticantes de
atividade física. Sua atuação é tanto diagnóstica, desenvolvendo e
aplicando instrumentos para determinação de perfil individual e
coletivo, capacidade motora e cognitiva voltada para a prática esportiva,
quanto interventiva, atuando diretamente na transformação de
padrões de comportamento que interferem na prática da atividade
física regular e/ou competitiva. (...)
(Conselho Federal de Psicologia, 2007) (GRIFO NOSSO)

12
Pesca et al. (2023) apresenta que, está atrelada à função do(a)
psicólogo(a) do esporte compreender sobre a prática esportiva
em si bem como acerca dos fatores emocionais que influenciam
o desempenho do atleta, assim como a correlação entre a saúde
física/emocional e a performance. Um dos principais
instrumentos utilizados pela psicologia do esporte é a avaliação
psicológica, que será aprofundado no próximo tópico.

3. COMPREENDENDO A
AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA
A avaliação psicológica é um processo estruturado, em que serão
aplicados recursos teóricos e metodológicos da psicologia, além
de considerar, obrigatoriamente, o contexto histórico e social
vivido pelo sujeito avaliado. O instrumento está regulamentado
pela Resolução n. 9 de 25 de Abril de 2018 do Conselho Federal
de Psicologia (CFP), que estabelece quais são as diretrizes que
devem ser observadas, assim como esclarece que:

Art. 1º - Avaliação Psicológica é definida como um processo estruturado de


investigação de fenômenos psicológicos, composto de métodos, técnicas e
instrumentos, com o objetivo de prover informações à tomada de decisão, no
âmbito individual, grupal ou institucional, com base em demandas,
condições e finalidades específicas.
§1 - Os testes psicológicos abarcam também os seguintes instrumentos:
escalas, inventários, questionários e métodos projetivos/expressivos, para fins
de padronização desta Resolução e do SATEPSI.
§2 - A psicóloga e o psicólogo têm a prerrogativa de decidir quais são os
métodos, técnicas e instrumentos empregados na Avaliação Psicológica,
desde que devidamente fundamentados na literatura científica psicológica e
nas normativas vigentes do Conselho Federal de Psicologia (CFP).
(CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2018)

IMPORTANTE! A avaliação psicológica não consiste apenas na aplicação de


testes psicológicos, estes, na verdade, podem (ou não) integrar a avaliação. Caso
o(a) psicólogo(a) opte por usá-lo, é de suma importância que possua domínio da
ferramenta para que não incorra em equívocos no momento da execução e
interpretação. Além do mais, o resultado nunca pode ser interpretado de forma
isolada, devendo considerar todo o contexto biopsicossocial do avaliado para não
incorrer em erros.

13
ATENÇÃO!
Escolhendo utilizar o teste psicológico, é
imprescindível que o(a) profissional:

1. Esteja vinculado ao Conselho Federal de


Psicologia (CFP).
2. Verifique junto ao Sistema de Avaliação de
Testes Psicológicos (SATEPSI) quais são os
testes favoráveis ao uso. A utilização de testes
desfavoráveis faz com que o(a) psicólogo(a)
aplicador(a) incorra em falta ética, conforme
disposto no art. 2º, §1º da Resolução n. 9 de 25
de Abril de 2018 do CFP.
3. Realize o registro documental da avaliação,
mantendo-o por, no mínimo 5 (cinco) anos, em
concordância com a Resolução n. 1 de 2009 do
CFP.

Especificamente sobre a avaliação no contexto do esporte,


Garcia e Borsa (2016) nos diz:

De acordo com Fleury (2002), um programa de avaliação psicológica no esporte


deve investigar os seguintes componentes: (a) características dos esportistas -
idade, nível competitivo, histórico esportivo, recursos, apoio social, etc.; (b)
requisitos técnicos do esporte - detalhes da competição, calendário,
adversários, requisitos físicos e psicológicos; e (c) os objetivos específicos do
treinamento. (apud Fleury, 2002) (...) A avaliação psicológica em contextos
esportivos tem como principais alicerces as entrevistas, a aplicação de
questionários, a observação sistemática de treinos e jogos e, com ressalvas,
a aplicação de testes psicológicos
(apud Cozac, 2004; Fleury, 2002; Kornspan, 2009; Rubio, 2011).

(...) Rubio (2007) informa ainda que, dependendo do referencial teórico, serão
empregados métodos próprios de avaliação, considerando, sempre, as
particularidades da modalidade esportiva no país e dos atletas em questão. Além
do referencial teórico, Tavares (2012) confere especial importância ao
conhecimento e habilidade com as técnicas que o profissional irá empregar no
processo da avaliação psicológica.
(apud Rubio, 2007) (apud Tavares, 2012)

A avaliação psicológica, portanto, pode ser utilizada como o


primeiro instrumento de intervenção do(a) psicólogo(a) do
esporte, pois o resultado é capaz de nortear a atuação do
profissional tanto em relação ao indivíduo quanto ao grupo.

14
4. AVALIAÇÃO
PSICOLÓGICA NO
ESPORTE: PARATLETAS
Como dito, a avaliação psicológica no esporte tem como objetivo
examinar a condição mental dos(as) atletas, tendo eles
deficiência ou não. Os resultados da avaliação podem auxiliar a
comissão técnica na preparação para as competições,
aprimorando as condições do treino, assim como amparam o
cuidado da saúde mental do(a) paratleta, direcionando a atuação
do(a) profissional que o acompanha. São considerados sinônimo
do termpo avaliação psicológica no contexto esportivo:
psicodiagnóstico esportivo e perfil psicológico esportivo.

Não existem muitas diferenças na atuação do(a) psicólogo(a) na


avaliação de atletas com ou sem deficiência, mas algumas delas
podem ser vistas abaixo. De acordo com Samulski e Noce:

A avaliação de atletas paralímpicos, no aspecto psicológico, é um


procedimento complexo em função da heterogeneidade do grupo, de seu
perfil e da influência de inúmeras variáveis presentes no contexto.
Capacidade e habilidades básicas avaliadas em um primeiro momento, tais
como a motivação, o estresse, o tempo de reação e a velocidade de
percepção, são essenciais para a definição de um plano de trabalho eficiente
em qualquer modalidade.
(SAMULSKI; NOCE, 2002, p. 158)

Reconhecendo a individualidade das pessoas com deficiência, a


Cartilha de Avaliação Psicológica do Conselho Federal de
Psicologia, traz orientações e alertas para a avaliação psicológica
desta população, veja

15
a) adaptar os instrumentos para pessoas com deficiência não se resume
em alterar um aspecto indistintamente sem avaliar as consequências
na avaliação psicológica como um todo e nos resultados e procedimentos
do próprio teste; b) o uso de certos tipos de adaptações pode modificar o
construto que está sendo medido. Cita-se como exemplo medidas de
compreensão escrita e oral; c) é condição indispensável, considerando a
heterogeneidade da população com deficiência, o conhecimento
profundo sobre o público ao qual o teste é destinado, o tipo de
deficiência e como o público irá manusear os materiais do instrumento;
e d) a(o) psicóloga(o) ao selecionar um instrumento e procedimentos para a
avaliação de pessoas com deficiência deve pautar-se em evidências de
validade que assegurem a adequação das adaptações realizadas em relação
a aspectos de usabilidade, acessibilidade, clareza das tarefas, entre outros
aspectos.
(CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2022, p. 57)

Logo, o(a) profissional da psicologia possui liberdade para definir


quais os constructos serão utilizados para aplicação da avaliação
psicológica. Entretanto, deve possuir conhecimento técnico
suficiente para escolher os testes e técnicas apropriados a cada
situação, pois estes instrumentos devem ser adequados à pessoa
avaliada, assim como também ocorre no caso de crianças, idosos,
analfabetos, entre outros.

O(a) psicólogo(a) que faz avaliação psicológica deve estar


atento(a), pois é ele(a) quem deve se adaptar ao cliente
avaliado e não o contrário. Assim, é indispensável que possua
conhecimentos além da teoria psicológica, é necessário saber,
por exemplo, as diferenças observáveis em pessoas com
deficiência congênita e aquelas que possuem deficiência
adquirida, qual o esporte praticado e suas exigências, entre
outros.

Tratando-se de uma avaliação psicológica voltada para o


desporto, a atuação do(a) avaliador(a) ocorrerá de forma
multidisciplinar, pois os resultados servirão como ferramentas de
melhoria nos treinos, na competição e na vida profissional do
atleta.

16
PROCEDIMENTOS PARA AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA

A princípio, é importante considerar que na psicologia do esporte


várias são as pessoas que influenciam, direta e indiretamente, a
eficiência do(a) paratleta, sendo eles comissão técnica, demais
jogadores, quando o esporte for em grupo, familiares, árbitro,
equipe esportiva, entre outros.

Assim, esses sujeitos também deverão ser considerados no


momento da avaliação psicológica. Logo, percebemos que, nesta
área de atuação, o trabalho envolve, na maioria das vezes, muitas
pessoas. São necessárias algumas etapas para configuração da

O Planejamento
avaliação psicológica, sendo imprescindível a realização de
entrevista, anamnese, observação e, quando o(a) psicólogo
entender necessário o uso de testes, a última etapa será a
devolutiva do resultado.

É importante o estabelecimento de vínculo profissional entre o(a)


psicólogo e o(a) paratleta, porque isso interferirá no empenho do
sujeito na realização da avaliação. Além disso, o(a) profissional
deverá conhecer sobre o contexto do desporto e da deficiência
física e/ou mental, pois o contexto social e individual faz parte da
avaliação. Na entrevista serão feitas perguntas mais superficiais,
enquanto na anamnese há o aprofundamento do que foi dito
inicialmente. Neste momento, inclui-se a oitiva da comissão
técnica, de familiares quando for adolescente ou criança, dos
demais paratletas, tratando-se de esporte de grupo.

IMPORTANTE! É imprescindível que o(a) profissional que esteja aplicando a


avaliação psicológica saiba delinear qual o objetivo da utilização dos
instrumentos e quais características psicológicas serão avaliadas, tendo em vista
que isso é o que ajudará na definição dos instrumentos que serão utilizados.

17
A entrevista ocorrerá individualmente e, normalmente, utiliza-se
da entrevista semiestruturada, isto é, existem algumas perguntas
base, mas há flexibilidade para novos questionamentos, de
acordo com o que está sendo respondido pelo(a) entrevistado(a).
Nesse momento, o vínculo entre o(a) profissional da psicologia e
o(a) atleta é essencial. Para auxiliar na construção desta relação é
importante que o(a) psicólogo(a) se mantenha neutro(a) e o(a)
paratleta seja informado(a) sobre o sigilo do que será dito. De
acordo com Pesca et al. (2023):

Fleury (2002) sugere que a entrevista seja realizada no início do processo de


aplicação dos procedimentos, considerando tempo suficiente para obter e
analisar dados essenciais sobre a história pessoal incluindo situação familiar,
história e atividades acadêmicas/profissionais, histórico de lesões,
organização de rotina, hábitos diários, inclusive de sono, e história de
aspectos esportivos, como representações e significados atribuídos ao
esporte, trajetória, aspirações e objetivos na carreira, sensações e situações
associadas aos bons e maus desempenhos em treinos e competições,
relações interpessoais, desempenho motor, fisiológico e cognitivos, durante e
depois de competições.
(apud FLEURY, 2002, p. 215)

É possível que os demais membros da equipe e pessoas que


possuam influência sobre o(a) paratleta também sejam
entrevistados. “Evidentemente, considera-se que estas impressões
estão baseadas nas percepções particulares dos entrevistados, as
quais devem ser cuidadosamente analisadas pelo psicólogo
avaliador até que chegue às conclusões obtidas no processo.”
(Pesca et al, 2023, p. 216).

No contexto da psicologia do esporte a observação também é


de suma importância, sendo considerada, até mesmo, uma das
principais fontes de coleta de informações. É através dela que
o(a) profissional é capaz de compreender o contexto em que o(a)
paratleta está inserido e suas relações com o esporte e com os
demais membros da equipe.

18
Segundo Pesca et al. (2023) são aspectos que devem ser
observados:

Entre os aspectos a serem observados, que serão previamente definidos com


base no objetivo da avaliação, podem ser elencados alguns considerados de
grande importância: habilidades de comunicação (expressão, captação e
compreensão na expressão e recebimento de informações); relações
interpessoais, principalmente associadas às divergências e conflitos;
reações emocionais, gerenciamento e estabilidade das emoções,
especialmente em situações de adversidades, erros e recebimentos de
críticas; ativação psicológica, pelo nível de energia e comportamentos
ligados ao preparo psicofisiológico em treinos e competições; capacidade
de resolução e de persistência frente aos problemas; atitudes positivas
para com os colegas e sujeitos com quem interage em situações formais
(treinos e situações competitivas) e não formais. Em situações

O Planejamento
especificamente competitivas, é relevante considerar aspectos
comportamentais antes, durante e após. Nesta situação, sugere-se observa
comportamentos em práticas preparatórias e rotinas pré-competitivas;
reações comportamentais com árbitros e ligadas às regras da modalidade;
manutenção e mudanças de conduta em situações de elevado nível de
estresse e pressão, além dos aspectos esportivos mencionados
anteriormente.
(apud FLEURY, 2002, p. 214) (GRIFO NOSSO)

Sendo a presença do(a) psicólogo(a) inédita é importante


entender que há um período de adaptação, pois, nas primeiras
vezes, aqueles que estão sendo observados podem mudar de
comportamento, não agindo com espontaneidade. Assim, a
ambientação entre os(as) atletas e o(a) psicólogo(a) é crucial
para uma avaliação fidedigna.

Os testes psicológicos são considerados instrumentos para


coleta de dados dentro da avaliação psicológica. Entretanto, é
necessário que o(a) psicólogo(a) esclareça às pessoas que se
submetem a ele e, neste caso, aos membros da comissão técnica,
que o resultado apresentado não é analisado de forma isolada,
então as demais etapas da avaliação são fundamentais para a
confiabilidade do apurado, principalmente, no Brasil que os
testes utilizados não foram criados especificamente para o
contexto do esporte, nem mesmo para pessoas com deficiência.
Assim, o(a) avaliador(a) precisa fazer uma escolha consciente e
cuidadosa sobre o uso ou não deste instrumento.

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Uma técnica que também pode ser utilizada no contexto
esportivo e possui grande relevância na avaliação psicológica são
as dinâmicas em grupo. De acordo Pesca et al. (2023):

As dinâmicas de grupo se referem à vivência controlada (i. é, uma situação


planejada pelo avaliador) de uma situação real na qual será possível observar
o comportamento de cada indivíduo em relação ao grupo e à própria
situação. (...) Em psicologia do esporte o objetivo não será de selecionar
pessoas (no caso, atletas), mas sim de propor situações nas quais será
possível observar características comportamentais dos avaliados que estejam
relacionadas aos objetivos da avaliação, a fim de corroborar as informações
obtidas pelos demais procedimentos de coleta de dados.
(apud MÄDER, 2016, p. 218)

Por fim, após a realização de todos os ciclos, a análise e a


interpretação crítica dos dados coletados pelo profissional, o(a)
avaliado(a) retornará para entrevista devolutiva dos resultados.
Referindo-se à psicologia do esporte, a devolutiva será para a(o)
paratleta, sempre com foco nas intervenções passíveis de serem
realizadas a partir do resultado, visando maximizar o rendimento,
otimizar a performance e melhorar a saúde mental.

Para que as informações sejam repassadas aos treinadores e


comissão técnica é necessário autorização e alinhamento com
o(a) avaliado(a). Neste momento é importante esclarecer que,
caso autorizado, as informações compartilhadas sempre terão
caráter geral, que os aspectos sigilosos da avaliação assim se
manterão. O compartilhamento com o restante da equipe visa a
otimização e melhoria do trabalho desenvolvido.

CARACTERÍSTICAS PSICOLÓGICAS AVALIADAS

Após toda a explicação sobre os instrumentos e meios que


poderão ser utilizados para aplicar a avaliação psicológica, é
importante entender quais seriam, então, as características
psicológicas que interessam no contexto do paratletismo.

20
Como as pessoas avaliadas são atletas e a finalidade é a melhoria
da performance e aumento de rendimento combinados com
saúde mental serão consideradas: as habilidades psicológicas,
motivação, resiliência, níveis de ansiedade, estresse e depressão,
atenção, memória, cognição, entre outras.

Ainda existe resistência de parte da população em entender que


o ser humano é biopsicossocial, ou seja, não há possibilidade de
cindi-lo em partes, biológica, psicológica e social. Assim, a
psicologia do esporte adentra nesse contexto reafirmando o
contexto multidisciplinar do sujeito, pois os aspectos psicológicos
afetam direta e indiretamente os resultados do paratleta nos
treinos e competições. Pesca et al. (2023) reforça tal
entendimento, vejamos:

Há amplo respaldo na literatura científica da área que as habilidades e


competências psicológicas são influenciadores do desempenho esportivo
em qualquer que seja o contexto (amador ou profissional) e nível
considerado. O atleta é caracterizado por um conjunto de habilidades
psicológicas das quais algumas podem ser estáveis e, por isto, dificilmente
modificáveis, sendo que outras competências são passíveis de modificação
por meio de treinamentos e competições. Desta forma, podemos verificar
que a prestação de serviço em psicologia esportiva depende das
características intrínsecas do atleta, sendo necessário conhecer tais aspectos,
bem como geri-los e modificá-los)
(apud, SERPA, 2005, p. 212)

Assim, o(a) psicólogo(a) do esporte também possui papel de


educador(a), pois evidenciará a relação indivisível entre corpo,
mente e sociedade para o alto desempenho no esporte. Nesse
mesmo sentido, quanto à avaliação psicológica, Pesca et al. (2023,
p. 212) afirma que tanto os fatores intrínsecos (processos
emocionais, personalidade, função cognitiva, objetivos) quanto
extrínsecos (fatores sociais e pessoais) precisam ser analisados,
pois, só assim, será possível realizar o psicodiagnóstico fidedigno
e, a partir dele, intervir de forma eficaz e efetiva.

21
TESTE PSICOLÓGICO, QUAL APLICAR?

QUAL É O TESTE PSICOLÓGICO


QUAL É O TESTE PSICOLÓGICO
FAVORÁVEL PELO SATEPIS
ESPECÍFICO PARA APLICAÇÃO NO
ESPECÍFICO PARA APLICAÇÃO EM
CONTEXTO ESPORTIVO NO PAÍS?
PESSOAS COM DEFICIÊNCIA,?
NÃO EXISTE
NÃO EXISTE

Caso o(a) pofissional entenda pela imprescindibilidade da

O Planejamento
aplicação do teste como instrumento que integra a avaliação
psicológica, é importante saber qual característica psicológica
será avaliada e qual o teste poderá apresentar a informação
buscada. Por isso, o conhecimento técnico e teórico para seleção
do recurso é primordial.

Ademais, diante da inexistência de testes psicológicos


específicos, tanto para o contexto esportivo quanto para atletas
com deficiência, será necessário um trabalho adaptativo, não do
instrumento em si, mas do profissional em encontrar o teste
aplicável. Nesse caso, o avaliador deverá dominar qual teste
poderá ser aplicado a despeito da deficiência. Logo, exige-se
muito conhecimento do profissional tanto sobre o instrumento
quanto da deficiência.

Os testes abaixo são favoráveis para utilização, segundo o


SATEPSI, sendo, normalmente, utilizados para atletas sem
deficiência, ainda que não sejam o instrumento ideal. Podem
também ser utilizados nos paratletas e avaliam elementos
importantes para a prática do desporto.

22
TESTE PÚBLICO- VALIDADE OBJETIVO
ALVO
QUATI (Questionário 18 a 34
de Avaliação anos 25/10/2023 Avaliação da personalidade
Tipológica)

BFP (Bateria Fatorial 10 aos 75


de Personalidade) 01/08/2029 Avaliação da personalidade
anos

Avalia o perfil da
FIP (Inventário
14 aos 86 personalidade do avaliado,
Fatorial de 24/05/2033
anos baseando-se em necessidades
Personalidade)
ou motivos psicológicos.

16 aos 60 03/09/2024 Avalia as características da


Palográfico
anos personalidade

ISSL-R (Inventário de Identifica a presença de


15 aos 74
Sintomas de Stress 22/10/2042
anos estresse, os sintomas,
para Adultos de Lipp.
intensidade
Revisado)

BAI (Inventário de 18 aos 90 Mede a escala de


30/09/2042
Ansiedade Beck) anos ansiedade do testado

STAXI-2 (Inventário de Afere o


Expressão de Raiva 17 a 67
anos
06/05/2031 estado/traço/controle da
como Estado de
raiva e a frequência
Traço)

BPA-2 (Bateria
06 aos 94 Mensura a atenção
Psicológica para 30/09/2042
Avaliação da anos concentrada, dividida e
Atenção-2) alternada

Baterias Rotas de Mensura a atenção


18 aos 65 21/09/20
Atenção concentrada, dividida
anos 39
e alternada

23
5. IMPEDIMENTOS PARA
AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA
Garcia e Borsa (2016) apontam críticas acerca da utilização dos
testes, veja:

A utilização de testes psicológicos específicos de outras áreas, como a


clínica, educacional, recursos humanos, entre outras, pode, de acordo com
Rubio (2011) resultar em conclusões distorcidas sobre a população avaliada,
tornando a avaliação ineficaz. A Comissão de Esportes do CRP-SP (2000)
alerta, ainda, para o fato de que o uso de instrumentos não específicos pode
prejudicar não só o trabalho do esportista avaliado, mas de toda a comissão
técnica. A respeito desta utilização dos testes psicológicos, Rubio (2011)
comenta que as características individuais relevantes para o desempenho
esportivo (p.ex.: ansiedade, personalidade, vínculo e nível de stress) muitas
vezes são avaliadas de forma isolada, sem conexão com o contexto em
questão. Uma ressalva a este respeito aparece na fala de um (1) dos
respondentes, ao afirmar que: "A maior parte deles [testes psicológicos] vem
da área clínica e, ao se fazer o levantamento é necessário que se faça uma
contextualização, para o ambiente esportivo"
(apud RUBIO, 2011, p. 1556)

Diante da inexistência de testes específicos, é possível perceber


que a entrevista, anamnese e observação são de máxima
importância no contexto da avaliação psicológica dos paratletas.
Além disso, Garcia e Borsa (2016) apontam eventuais problemas
éticos na aplicação de testes que não estão vinculados à
finalidade buscada, pois as pesquisas indicam objetivos
específicos e a validade estaria ligada a eles. Assim, o uso no
ambiente esportista usurpa o propósito da criação do
instrumento.

Este cenário convoca os(as) profissionais da psicologia,


interessados no trabalho de avaliação psicológica de atletas e
paratletas, a investir em pesquisas que possam adaptar os testes
à realidade brasileira.

24
Nesse sentido, Pesca et al. (2023):

Desta forma, os estudos se caracterizam como uma tentativa de superar


limitações da área, como a falta de instrumentos para avaliação dos
construtos de interesses, restringindo a adaptação transcultural, avaliação de
evidências de estrutura interna e precisão. Nesta direção, faz-se necessário o
estabelecimento de laboratórios de pesquisas com o objetivo de dar
continuidade aos estudos para que estes instrumentos possam ser
submetidos à avaliação do Satepsi, e posteriormente sejam disponibilizados
aos profissionais da área através de sua comercialização. Mais
especificamente, é urgente investimentos em estudos de normatização, para
que os escores oriundo desses instrumentos possam tomar sentido
psicológicos (Peixoto & Nakano, 2014), bem como a construção de manuais
técnicos que apresentem o arcabouço teórico que fundamenta esses
instrumentos, reúna os estudos de evidências de validade e precisão e
apresente instruções de aplicação, correção e interpretação dos escores do
teste (CFP,2018). Dessa maneira, a psicologia do esporte dará importante
passo para a transposição das barreiras entre os esforços acadêmicos e a
atuação prática, que ainda se mostram como um importante e preocupante
desafio a ser enfrentado pela área.
(apud PEIXOTO E NAKANO, 2014, e CPF, 2018, p. 219) (GRIFO NOSSO)

Por fim, existem muitos testes internacionais que tratam


especificamente sobre o tema. No entanto, ignorar as diferenças
culturais envolvidas na criação/aplicação dos testes e utilizá-los
sem validação pelo SATEPSI é considerado falta ética pelo CFP.
Portanto, é imprescindível que o profissional da psicologia, para
utilizar os testes na avaliação psicológica, observe a autorização
do Conselho Federal de uso.

25
6. CONCLUSÃO
Diante de tudo o que foi exposto, os esportes adaptados no Brasil
vêm conquistando adeptos(as) e formando muitos(as) atletas de
elite que competem nas Paralimpíadas, conquistando medalhas
e honrando o país. Nessa mesma crescente, destaca-se a
importância e reconhecimento do(a) profissional de psicologia no
contexto esportivo. Assim, para aqueles que têm interesse em
atuar nessa área é fundamental dominar as ferramentas de
trabalho apresentadas nesta cartilha, respeitando os aspectos
éticos e técnicos apresentados para realização da avaliação
psicológica dos paratletas.

Para frisar, é importante lembrar que a avaliação psicológica não


se vincula a um teste, ela também é composta por entrevista,
anamnese, observação, trabalhos em grupo (no caso dos atletas)
e devolutiva. Além do mais, no contexto do paratletismo
conhecer os esportes adaptados e o tipo de deficiência, se ela é
congênita ou não, são partes indissociáveis da avaliação.

26
7. MINIDICIONÁRIO DE
TERMINOLOGIAS
Para o desenvolvimento de um trabalho respeitoso, por parte
do(a) psicólogo(a) que aplicará a avaliação psicológica, é
imprescindível que este(a) tenha domínio dos termos corretos
para se referir à pessoa com deficiência. Assim, desenvolvemos,
com base no site da Câmara dos Deputados (SASSAKI, 2011), o
minidicionário em tabela abaixo, para orientar o(a) profissional no
uso correto das terminologias.

TERMO INCORRETO (NÃO UTILIZAR) TERMOS CORRETOS

pessoa sem deficiência; pessoa não-


pessoa normal
deficiente

aleijado; defeituoso; incapacitado; inválido;


pessoa portadora de deficiência; portador pessoa com deficiência
de deficiência; defeituoso físico

apesar de deficiente, ele é um ótimo ele tem deficiência e é um ótimo


aluno/trabalhador/(...) aluno/trabalhador/(...)

cadeira de rodas elétrica cadeira de rodas motorizada

ceguinho cego; pessoa cega; pessoa com deficiência


visual

criança excepcional criança com deficiência intelectual

deficiência (como nome genérico, sem


deficiência física especificar o tipo, mas referindo-se a todos
os tipos)

deficiência mental leve, moderada, severa, deficiência intelectual (sem especificar nível
profunda de comprometimento)

27
deficiente mental (ao se referir a uma
pessoa com transtorno mental, paciente
pessoa com transtorno mental)
psiquiátrico

doente mental (ao se referir a uma pessoa


com deficiência intelectual), retardo mental, pessoa com deficiência intelectual
retardamento mental

“ela é surda [ou cega] e não tem deficiência


“ela é surda [ou cega], mas não é retardada intelectual”
mental”
“ela teve [flexão no passado] paralisia
“ela foi vítima de paralisia infantil” infantil” e/ou “ela tem [flexão no presente]
sequela de paralisia infantil”

surdo-cego surdocego ou surdocegueira

inválido (quando se referir a uma pessoa


pessoa com deficiência
que tenha uma deficiência)

hanseníase; pessoa com hanseníase; doente


lepra; leproso; doente de lepra
de hanseníase

GRAFIA CORRETA: Libras. TERMO CORRETO:


LIBRAS - Linguagem Brasileira de Sinais língua de sinais brasileira. Trata-se de uma
língua e não de uma linguagem

pessoa com síndrome de Down; criança


mongoloide; mongol
com Down; uma criança Down.

Quando se refere ao surdo, a palavra “mudo”


não corresponde à realidade dessa pessoa -
mudinho
CORRETOS: surdo; pessoa surda; pessoa
com deficiência auditiva.

necessidades educativas especiais necessidades educacionais especiais

pessoa com epilepsia; a pessoa que tem


o epilético (ou a pessoa epilética)
epilepsia.

o paralisado cerebral (ou a pessoa pessoa com paralisia cerebral


paralisada cerebral)

paralisia cerebral é uma doença paralisia cerebral é uma condição

pessoa surda-muda pessoa surda ou, dependendo do caso,


pessoa com deficiência auditiva
PPD - Pessoa portadora de deficiência PcD - Pessoa com deficiência

Necessidades especiais Necessidades específicas

28
8. ENTREVISTA

Nina Ribeiro
Psicoterapeuta clínica e do esporte
Graduada pela Universidade Federal de Uberlândia, Especialista
em psicologia do esporte pelo Instituto Sedes Sapientiae de São
Paulo.

O que é a psicologia do esporte para você?

A psicologia do esporte para mim, hoje, é um pouco mais do


que a função psicológica em si é o cuidado de pessoa. É o
cuidado do atleta, principalmente de alto rendimento, que tem
entrado em sofrimento pela pressão. Então, é o cuidado da
pessoa, desse atleta com o exercício físico, com o objetivo, com a
meta. Se a gente pensar em paciente cardiológico, bariátrico a
psicologia do esporte também se aplica ali.

Você acredita que a avaliação psicológica é parte


essencial na atuação da psicologia do esporte?

Não existe tanto teste. Ela é a observação, o conhecimento do


atleta em si, o teste pelo teste, como se faz na clínica fica muito
generalizado. Então, para buscar a psicologia e entender o
atleta nós precisamos estar onde ele está, no jogo, no treino, na
piscina, na quadra e fazer essas observações. Então, a
avaliação, claro que existem muitos exemplos por aí e cada um
monta o seu, utiliza de questionários, mas, realmente, a
observação é a ferramenta principal para que a gente consiga
atuar. E, claro, a anamnese inicial para saber sobre o atleta, o
nome, a idade, entender o público com que você está
trabalhando, o esporte.

29
Quais características psicológicas são avaliadas?

É interessante que dentro da psicologia do esporte nós focamos


mais na parte de rendimento mesmo, porque quando é da
prática do exercício físico em si já muda um pouco a avaliação.
No esporte de rendimento você vai conhecer quem é o atleta,
onde joga, que esporte faz, se corre, qual posição, vai entender
um pouco do esporte, porque é importante conhecer. Você vai
estudar um pouquinho sobre ele, você vai olhar os
comportamentos, você precisa ter o acesso ao técnico, aos pais
se for adolescente, então é uma avaliação bem global. Depois
vai para a observação, entender o que é importante e o que não
é. É importante saber o que o técnico e o esporte esperam
daquele atleta em relação ao comportamento, o que é exigido
dele, então avaliamos de uma forma global o comportamento
dentro do que o esporte exige.

O que você acha mais importante durante a avaliação


psicológica? Quais procedimentos você normalmente usa?

Nesse caso vai depender, se eu vou trabalhar com um time, a


primeira coisa que eu gosto de fazer é escutar o técnico, qual a
percepção dele sobre o time, o que ele acha. Dependendo das
situações nós utilizamos alguns questionários sobre esporte, de
motivação, de treinamento mental. Eu sempre tento ir depois
assistir aos treinos e logo depois para as competições para
entender como o trabalho entre a equipe está funcionando. É
quando conseguimos fazer um novo procedimento, novas
intervenções. Se é um atleta de esporte individual e eu não sou
da comissão técnica eu também gosto de escutar o técnico ou
o responsável que o acompanha. Porém, a escuta principal é
dos atletas, tentando entender o que esse atleta e o time
precisam, com uma escuta parecida com a da clínica,
buscando entender, também, o que eles acreditam que
precisam melhorar.

30
Quais as maiores dificuldades para proceder a avaliação?
Existem alguns impedimentos?

Não são todos os técnicos que aceitam conversar com você, na


verdade, são pouquíssimos. Muitos dos pais não apoiam a
prática do esporte, porque muitos dos adolescentes acabam
tendo baixo rendimento escolar, o que faz com que muitos
atletas, nesta idade, desistam da prática, então é difícil acessar
esses pais. Outra parte difícil, também, é quando o técnico é
acessível, mas é “dono da verdade”, então é difícil acessar o
time. Muitos atletas também não estão disponíveis para a
intervenção do psicólogo, apenas respeitando o profissional e a
atuação porque ele faz parte da comissão técnica, mas não há
receptividade nas intervenções, acabam participando de forma
obrigatória, porque às vezes querem jogar ou ser titular. (...)
Outra dificuldade é a opinião de senso comum de que psicólogo
é para doido, se eu não estou doido, então não preciso. Mas o
esporte tem se aberto um pouco mais, principalmente agora
com os jogos pan-americanos, com o panamericano, desde
Tókio com a Simone Biles falando que iria para sua prática por
causa de sua saúde mental. A Rebeca da ginástica também
fala muito disso, que ela teve que se cuidar. O próprio Bruno
Fratus, da natação, falou sobre saúde mental. Então, nós temos
tido um pouco mais de abertura sempre que o esporte está em
evidência, mas quando ele sai desse lugar de evidência, se não é
uma olimpíada, panamericano, mundial, rapidinho isso saí e é,
novamente, sucateado até algo acontecer e voltar a esse lugar
de evidência. Outra dificuldade que encontro é por ser mulher
em um ambiente, muitas vezes, composto por maioria
masculina, mas isso está um pouco mais tranquilo.

Você realiza/realizou avaliação psicológica de paratletas?


Percebeu e/ou acredita que existe alguma diferença?

Sim! Já trabalhei um tempo com paratletas na equipe de


natação.

31
Eu comecei na natação, porque eu, inclusive, sou pós-atleta de
natação. Para a psicologia do esporte não existe ex-atleta, mas
sim pós-carreira, por isso a utilização desse termo. Então, eu fiz
algumas avaliações, trabalhei com natação paralímpica, nós
fazemos algumas avaliações, mas sempre focada naquilo que
diz anteriormente, na observação do treino, às vezes eles vem e
falam. Às vezes são aplicados alguns questionários e testes,
como o teste de atenção e concentração, para que possa ir
requintando estes aspectos.
Eu falo de um lugar de terapeuta cognitivo-comportamental
também, mas não gosto muito da ideia de ficar testando atleta
o tempo todo, acredito que é uma ferramenta de tira-dúvidas.
Então, eu uso o teste de forma excepcional, em alguns atletas
mesmo eu nunca apliquei. Às vezes eu utilizo de coisas do dia a
dia para fazer essa avaliação sem ter que, necessariamente,
fazer uso do teste. Jogos da memória, por exemplo, para saber
sobre a memória, “Onde está Wally” para entender sobre a
concentração do atleta, utilizamos alguns jogos online para
treinamentos mentais. Quando pensamos no paratletas
existem diferenças, aumentando o grau de dificuldade da
atuação, pois o próprio esporte é modificado. Então, além de
você ter que entender do esporte e do atleta, o psicólogo vai
precisar entender sobre a deficiência, se o esportista nasceu
com ou não, se é uma deficiência que tem efeitos
degenerativos. Então, a gente tem que entender muito, o
paradesporto também tem diferentes classes, não se subdivide
apenas por idade como a maioria das pessoas está habituada
a ver nos esportes para pessoas sem deficiência. Mas quando
falamos de rendimento a proposta é a mesma, assim como a
pressão sofrida. E são atletas que muitas vezes dependem
muito do esporte, do auxílio que é dado pelo governo, dos
clubes. Inclusive, a vida útil do paratleta é maior, porque eles se
mantêm mais no esporte.,

32
Existe alguma dica que você daria para um profissional que
está iniciando seus trabalhos na área de avaliação
psicológica de paratletas?

É treinar o olhar, além de estudar sobre o esporte em si. Se


estiver na natação, por exemplo, vai estudar, conhecer todos os
detalhes, porque para conseguir fazer a observação, conseguir
fazer a avaliação é necessário estar no setting do atleta, esse é
nosso setting “terapêutico”. Esse paratleta tem que ser
observado no treino, nos dias de competição, porque essa
avaliação só vai ser válida se essas observações forem feitas. É
muito importante fazer anamnese, muito importante também
ter a escuta ativa, escutar e questionar, mas é importantíssimo
ter o olhar muito bem treinado para entender o que está
acontecendo no comportamento. Na psicologia do esporte você
está em contato direto, frequente e ativo com esses atletas, que
são momentos que possibilitam essa observação. Então, é
importante conhecer do esporte, conhecer do atleta, ter a
escuta ativa, conhecer o técnico que você trabalha, que está ao
seu lado e ao lado do atleta, conhecer o que ele faz.

33
9. ARTIGOS PARA
MELHOR CONHECER
Por se tratar de um tema ainda pouco estudado pela psicologia
no Brasil, selecionamos alguns artigos científicos para nortear o
profissional que queira trabalhar com psicologia do esporte
especialmente com profissionais paratletas. Isso porque,
(re)conhecer o contexto em que esses indivíduos estão inseridos
é fundamental para não incorrer em erros e no reforço de
estigmas no momento da avaliação/atendimento.

“Perfil psicológico de atletas paraolímpicos brasileiros”, por


Dietmar Samulski1 e Franco Noce.

“A prática do psicólogo no esporte adaptado: um estudo


de caso”, por Mikael Almeida Corrêa, Betina Vidal Damasceno,
Luciana Karine de Souza, Cleonice Alves Bosa.

“Avaliação clínica dos atletas paraolímpicos”, por Roberto


Vital, Marcelo Bichels Leitão, Marco Túlio de Mello, Sergio
Tufik.

“O Mito Paralímpico: a identidade social do atleta e a


importância do esporte.”, por Antonia Teixeira, Laura
Labanca & Luiza Peña Orientador: Samuel Lins.

“Avaliação dos estados de humor dos atletas paralímpicos


brasileiros do futebol de cinco”, por Vanessa Helena
Santana Dalla Déa, Edison Duarte, José Irineu Gorla,
Humberto Luís de Deus Inácio e Alessandra Paiva de Castro.

“Variáveis psicossociais e o estudo da autoeficácia e da


motivação em atletas paralímpicos: uma revisão narrativa
de literatura”, por Clara de Castro Fajardo.

34
10. PARATLETAS
MEDALHISTAS PELO
BRASIL
Para produzir uma boa avaliação psicológica é essencial ter
conhecimento sobre o contexto histórico-social que o avaliado
está inserido, assim, compreendendo que muitos(as) dos(as)
psicólogos(as) que irão trabalhar no contexto do paratletismo não
possuem deficiência ou contato com pessoas com deficiência,
serão elencados abaixo grandes nomes do paratletismo no Brasil.

DANIEL DIAS
Natação
@danieldias88

Evelyn de Oliveira
Bocha
@evelyn7oliveira

GABRIEL BANDEIRA
Natação
@flag.bill

35
Maria Carolina Santiago
Natação
@mariacarolinasantiago

Petrúcio Ferreira
Atletismo
@petrucio_t47

Silvânia Costa
Salto em distância
@costadoliveira

Lúcia Araújo
Judô
@lucinha_teixeira

36
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA (org.). CARTILHA
AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA. 3. ed. Brasília: Conselho Federal de
Psicologia, 2022. Disponível em:
https://site.cfp.org.br/publicacao/cartilha-avaliacao-psicologica-
2022/. Acesso em: 14 out. 2023.

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Resolução nº 013, de 14


de setembro de 2007. Institui a Consolidação das Resoluções
relativas ao Título Profissional de Especialista em Psicologia e
dispõe sobre normas e procedimentos para seu registro. Brasília.

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Resolução nº 1, de 30 de


março de 2009. Dispõe sobre a obrigatoriedade do registro
documental decorrente da prestação de serviços psicológicos.
Brasília.

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Resolução nº 9, de 25 de


abril de 2018. Estabelece diretrizes para a realização de
Avaliação Psicológica no exercício profissional da psicóloga e do
psicólogo, regulamenta o Sistema de Avaliação de Testes
Psicológicos - SATEPSI e revoga as Resoluções n° 002/2003, nº
006/2004 e n° 005/2012 e Notas Técnicas n° 01/2017 e 02/2017..
Brasília.

CORRêA, Mikael Almeida; DAMASCENO, Betina Vidal; SOUZA,


Luciana Karine de; BOSA, Cleonice Alves. A prática do psicólogo
no esporte adaptado: um estudo de caso. Revista Brasileira de
Psicologia do Esporte, Brasília, v. 11, n. 1, p. 1-22, 01 nov. 2021.
Universidade Católica de Brasília.
http://dx.doi.org/10.31501/rbpe.v11i1. Disponível em:
https://portalrevistas.ucb.br/index.php/rbpe/article/view/11106.
Acesso em: 13 out. 2023.

37
GARCIA, Renata P.; BORSA, Juliane C.. A prática da avaliação
psicológica em contextos esportivos. Temas em Psicologia, [S.L.],
v. 24, n. 4, p. 1549-1560, dez. 2016. Associacão Brasileira de
Psicologia. http://dx.doi.org/10.9788/tp2016.4-20. Disponível em:
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-
389X2016000400020#:~:text=Em%20contextos%20esportivos%2
0o%20processo,escolhida%20(Rubio%2C%202007).. Acesso em:
14 out. 2023.

PESCA, Andréa Duarte et al. Compêndio de Avaliação


Psicológica: Avaliação Psicológica no Contexto do Esporte. 3. ed.
Petrópolis: Vozes, 2023.

Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de


Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com
Deficiência). Brasília, DF: Presidência da República, 2015.
Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
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SAMULSKI, Dietmar; NOCE, Franco. Perfil psicológico de atletas


paraolímpicos brasileiros. Revista Brasileira de Medicina do
Esporte, [S.L.], v. 8, n. 4, p. 157-166, ago. 2002. FapUNIFESP
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Disponível em:
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SASSAKI, Romeu Kazumi. Terminologia sobre Deficiência na


Era da Inclusão. 2011. Disponível em:
https://www2.camara.leg.br/a-camara/estruturaadm/gestao-na-
camara-dos-deputados/responsabilidade-social-e-
ambiental/acessibilidade/glossarios/terminologia-sobre-
deficiencia-na-era-da-inclusao. Acesso em: 13 out. 2023.

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