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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS

Faculdade de Arquitetura e Urbanismo


Mestrado em Urbanismo

V SEMINÁRIO DE HISTÓRIA DA CIDADE E DO URBANISMO


“Cidades: temporalidades em confronto”
Uma perspectiva comparada da história da cidade, do projeto urbanístico e da forma urbana.

SESSÃO TEMÁTICA 3:
PROJETOS E INTERVENÇÕES URBANISTICAS
PLANOS E PROJETOS URBANÍSTICOS I
COORDENADORA: CÉLIA FERRAZ (PROPUR-URFRGS)

A “haussmannização” e sua difusão como modelo urbano no Brasil.

Eloísa Petti Pinheiro

A “haussmannização” é um tema que se mantêm atual através da produção de novos


estudos que apontam para novas interpretações sobre as intervenções realizadas em
Paris entre 1853-1870: sua forma de implantação, seu momento histórico, suas
consequências e, principalmente, sua difusão como modelo de cidade moderna.
Novos estudos analisam as reformas buscando definir um modelo que se “exporta” e
se adapta em muitas cidades espalhadas pelo mundo. No Brasil, uma provável
primeira haussmannização, pode ser identificada na reforma urbana realizada por
Pereira Passos no Rio de Janeiro (1902-1906) onde o modelo se adapta
transformando a cidade colonial em uma cidade moderna. Uma análise da adaptação
deste modelo nas cidades do Rio de Janeiro e de Salvador é o tema de nosso
trabalho.1
Para se caracterizar como uma haussmannização é preciso mais do que um prefeito
autoritário, mais do que a abertura de novas ruas e de construções monumentais.
Além destes pontos a haussmannização possui outras características fundamentais.
Sua forma de ação se baseia na capacidade de intervir em um tecido urbano
existente, introduzindo elementos alheios a este, mudando sua imagem, expulsando
a população residente e dotando-o de monumentalidade. A haussmannização
engloba, além dos aspectos urbanos, os sociais, os econômicos e os políticos.
Dependendo do rigor com que se conceba o termo haussmannização podemos
considerar a Paris haussmanniana modelo para algumas cidades ou apenas uma
interpretação das intervenções realizadas na capital francesa. As novas discussões
sobre o tema levantam novos pontos tais como se podemos considerar como
haussmannização a aplicação de alguns dos critérios de Haussmann ou se é
necessário a utilização de todos os elementos para ser considerado como tal.
A cidade haussmanniana resulta ser a cidade da moderna sociedade burguesa, uma
vitrine da modernização, que se executa sob uma determinada conjuntura que se cria
quando se encontram a forma autoritária de gestão da cidade e as novas estruturas
do capitalismo. É um momento singular que se produz num tempo justo, nem antes
nem depois.
1
1. A haussmannização
Se conhece como haussmannização a reforma urbana realizada em Paris durante o
Segundo Império (1853-1870) por ordem de Napoleão III e sob a direção do Prefeito
do Sena Georges-Eugène Haussmann. Para alguns autores representa o conjunto
das obras realizadas em Paris, para outros, define uma forma de intervir no tecido
urbano denso. A haussmannização pode ser um estilo urbano, um episódio histórico
ou um modelo de cidade.
Considerando o tipo de intervenção realizada, a forma de implantação e a criação de
um espaço urbano monumental muitas intervenções, mesmo anteriores ao Segundo
Império francês, podem ser classificadas como haussmannianas. Demolições
urbanas para a abertura de novas vías, retas e largas, em centros urbanos
densamente construídos, les percées, não são uma invenção de Haussmann. Obras
desta mesma natureza se realizam em Paris pelos prefeitos parisienses Rambuteau
(1833-1848) e Berger (1848-1853). A própria urbanística francesa já considera a rua
reta e larga superior às sinuosas e estreitas desde o século XVI. Este “urbanismo
haussmanniano” se reconhece na abertura da rue de Rivoli sob o comando de
Napoleão I e continua nos bulevares da Terceira República.
Algumas interpretações consideram que as intervenções comandadas por
Haussmann criam um estilo. Segundo Kostof2 todas as reformas realizadas nos
mesmos moldes de Paris, sejam antes ou depois do Segundo Império, onde
predominem a abertura de avenidas, a demolição de velhas edificações e a expulsão
da população residente sem que o Estado se responsabilize por elas podem ser
classificadas como haussmannizações.
Apesar das obras parisienses serem conhecidas como haussmannização, elas não
se realizam por mérito somente de Haussmann. Napoleão III planeja as intervenções
durante seu exílio e ao regressar traz um plano elaborado para transformar Paris.
Mas é ao nome de Haussmann que se faz referência quando se pensa na reforma
urbana que tem sua maior atuação nas aberturas, les percées, e nas demolições.
Para todos os efeitos, a transformação de Paris é obra de Georges-Eugène
Haussmann.
Antes de discutir se Paris se transforma em um modelo para outras cidades que
realizam suas reformas urbanas com um estilo semelhante ao de Haussmann,
perguntamos se existe um modelo para Paris. Muitos autores acreditam que sim, que
Londres, cidade que abriga Napoleão III em seu exílio, seria o modelo. Outros não
consideram Londres pois ali não existem aberturas no tecido medieval da urbe uma
vez que este foi destruído no incêndio ocorrido em 1666. Pode ser a Roma de Sisto
V, a tradição clássica, os modelos renascentistas ou considerar o estilo
haussmanniano uma expressão tardia do barroco. O tipo de arquitetura e a arte
urbana já estão definidos antes de Haussmann, desde Luis XIV, e continuam para
além do Segundo Império. Hoje se fala de um pós-haussmannismo na Terceira
República e um neo-haussmannismo quando, nos últimos anos, o descobrem nos
novos estudos sobre a história das formas urbanas.3
Afinal, o que é a haussmannização? Pelos escritos de Haussmann não se pode dizer
que seja uma teoria uma vez que não propõe uma doutrina de melhorias urbanas.
Segundo Françoise Choay4 é o leitor atual que busca decifrar um método e principios
gerais para a organização do espaço urbano em seu trabalho; é o pesquisador o que
procura nas entrelinhas das obras de transformação de Paris um estilo que influencia
a quase todas as capitais européias. O próprio Haussmann denomina seu urbanismo
2
de “uma regularização”, que não pretende uma universalidade científica, não se
baseia em uma crítica social nem propõe um modelo espacial.
O estilo haussmanniano se forma por intervenções autoritárias sobre uma malha
existente onde se sobrepõe uma rede viária nova, composta por ruas largas e retas,
e avenidas equipadas com os serviços de infra-estrutura modernos, adornadas por
fileiras de árvores, espaçosas calçadas e um novo mobiliário urbano. As abertura, les
percées, se projetam para passar através de quarteirões insalubres onde se
concentra uma população considerada “perigosa”, pobre, que vive em habitações
insanas as quais se quer destruir e assim expulsar seus habitantes para longe do
centro. As novas ruas são desenhadas com monumentalidade, criam uma harmonia
de grandes massas com construções uniformes, formam novas prspectivas,
destacam os monumentos históricos e outros novos são construidos. As
consequências destas intervenções são a segregação social e funcional, o
aburguesamento do centro da cidade e a criação de um espaço monumental
esteticamente estandardizados.
Finalmente, existe um modelo haussmanniano? Se é um modelo se supõe exportável
e que seja composto por idéias gerais, por métodos e ações específicas. Primeiro
vamos definir esse modelo para depois verificar sua possível exportação para outras
cidades, inclusive no Brasil.

2. A implantação de um modelo
Muitas das grandes cidades passam por intervenções e na busca de sua
modernização, abrem grandes eixos, largas avenidas e destroem quarteirões
insalubres do centro. Mas são os trabalhos realizados em Paris por Haussmann que
se tornam o símbolo deste tipo de intervenção. Por que? As obras realizadas por ele
impressionam tanto pela grandeza dos trabalhos executados como pela rapidez com
que se realizam. Por outro lado está a originalidade do conjunto que B. Marchand 5
define em três pontos: a importância dos equipamentos coletivos, a criação de uma
cidade burguesa e a produção de um conjunto coerente.
Paris se transforma em uma cidade haussmanniana entre os anos 1853-1870 quando
passa por um processo de reforma urbana comandada pelo Barão Haussmann,
prefeito do Sena durante o Segundo Império de Napoleão III. Para realizá-la o capital
privado e o capital público se unem com o intuito de intervir no tecido urbano com
base num modelo funcional de cidade. São levadas a cabo obras de instalação de
infra-estrutura e de serviços necessários para o funcionamento de uma cidade que
passa por transformações estruturais produzidas pela industrialização e pelas novas
necessidades modernas. São obras públicas como a rede de esgotos, a iluminação
pública a gás, a rede de abastecimento de água, a construção de aquedutos, a
implantação de serviços de transporte, a abertura de grandes parques e a construção
de edifícios públicos.
Haussmann introduz os equipamentos coletivos recuperando o atraso em relação a
Londres. A formação da cidade burguesa é seu principal mérito, uma forma urbana
nova e original. A harmonia haussmanniana se consegue pela uniformidade das
grandes massas e a variedade dos detalhes, uma combinação que forma um
conjunto esteticamente coerente. A cidade está concebida por hierarquias que
controlam os volumes, unidades distintas, mas umas pensadas em relação às outras:
os imóveis, as ruas, os cruzamentos, os jardins e os quarteirões.
Neste projeto de transformação o elemento principal é a rua. Uma nova malha viária

3
composta por um tecido arquitetônico que se superpõe ao antigo. Projetada sobre
bairros insalubres com ruas estreitas e sinuosas, expulsa a população residente
considerada “classe perigosa”. Usando o argumento da melhoria da circulação e da
higiene, a malha viária do século XIX destrói e modifica o tecido medieval.
O projeto introduz um sistema de circulação e de respiração com uma trama
hierarquizada baseada em uma rede em estrela. Ruas se alargam, outras se abrem,
fachadas se redesenham e o tecido urbano irregular é substituido por um desenho
geométrico e regular. A projetação zenital, própria do engenheiro, abstrai a rede da
paisagem urbana e se apóia na perspectiva de estilo clássico e na harmonia dos
volumes.
Segundo Roncayolo 6, a rua e o bulevar comandam o imóvel, a abertura pública
agencia os espaços privados. Adota-se uma nova forma de construção da paisagem
urbana. As intervenções no núcleo central da cidade tratam o conjunto dos espaços
heterogêneos como uma entidade única7, construindo uma imagem urbana mais
coerente, com um tipo de arquitetura definida onde o imóvel haussmanniano se
integra ao espaço público através de uma projetação regulamentada. 8 Mas não
resulta em um espaço homogêneo uma vez que a divisão social entre leste e oeste,
entre periferia e centro se acentua, mas ainda não caracteriza uma cidade por
setores. A hierarquia do sistema de comunicação muda a ordem de valores.
O espaço haussmanniano é o espaço público, as vias, os passeios, as praças, o
espaço da mobilidade. Os novos bulevares de Haussmann são artérias criadas para
o novo tráfico da cidade, diferentes dos bulevares de Luis XIV implantados no local
da antigas muralhas e que se destinavam ao lazer.
A cidade passa por uma metamorfose nunca vista que resulta na melhora da higiene
e da circulação, muda a imagem do centro e prepara a cidade para um novo modo de
vida. Novas vías são abertas tanto na periferia como no centro histórico,
monumentos são isolados e ruas existentes recebem novo alinhamento. A
intervenção ocorre dentro das possibilidades políticas, financeiras e técnicas da
época. 9 Sua realização só é possível devido a vontade política do chefe de Estado
que conhece a necessidade da transformação e da modernização da cidade
delegando-a a um operador competente que busca a ordem social, o prestigio, o
desenvolvimento e, quem sabe, até uma reforma da sociedade. O resultado deste
movimento é o ajuste da forma urbana e da forma de convivência. Mais que uma
vontade de mudança, é uma resposta à realidade.
Em sua visão, Roncayolo10 não considera a haussmannização um acidente, um
capricho de um regime ou de um príncipe. É antes de tudo uma resposta. A
haussmannização tem suas raízes nas múltiplas pressões que agitam a cidade do
início do século, pressão demográfica e pressão econômica que empurram o jogo de
valores urbanos, o preço do solo e dos imóveis. A doença e o medo social, o cólera e
o motim não representam a parte mais vistosa de uma cidade que quebra por todos
os lados. Devido aos problemas com a salubridade, os higienistas reclamam
reformas no centro, considerada a área mais insalubre da urbe.
Haussmann considera os problemas da grande cidade como um problema técnico
cujos pontos essenciais são sanear, transportar e equipar. A estrutura urbana se
adapta para receber os novos equipamentos e Haussmann se apoia nos engenheiros
para levar a cabo sua proposta. Belgrand é o responsável pela rede de esgotos e a
construção do aqueduto; Alphand é o responsável pelos parques e jardins; e
Deschamps projeta o plano geral e o traçado das ruas.
Mas, será a haussmannização uma intervenção no tecido urbano densamente
4
construido do núcleo central da cidade, transformando-o, cambiando seu aspecto,
expulsando de suas ruas sua população, executada por um regime autoritário com o
argumento da modernização? De forma geral, sim. Mas ainda existem outras formas
de interpretar este processo.
Na definição de L. Bergeron11 a Paris haussmanniana é antes de tudo a Paris das
grandes artérias, das belas perspectivas e dos cruzamentos em estrela sobre uma
herança histórica com grande significado estético, simbólico e social, dos quais tudo
já foi dito.
Para Roncayolo12 o modelo haussmanniano se fundamenta num tipo de operação
bem definida que se compõe da aliança da intervenção pública, das sociedades
imobiliárias e de crédito cujo objetivo de atuação são as intervenções no tecido
construido.
Já Christiane Blancot 13 define a haussmannização como o símbolo da autoridade
administrativa contra a democracia, da norma arquitetural contra a livre criação,
como o símbolo da burguesia que pasa por cima do proletariado mudando a cidade a
sua imagem e semelhança, com uma arquitetura cínica e pretenciosa e uma estética
de novo rico.
Sem dúvida é uma experiência de intervenção autoritária na cidade e se identifica
com a transformação burguesa da mesma. Seu principal campo de atuação são os
centros tradicionais onde se realizam cortes em seu tecido urbano, rasgando ruas e
isolando edificios antigos de grande valor histórico e situado-os como ponto focal das
novas perspectivas urbanas. Mas estas intervenções não destroem todo o centro,
apenas introduzem novos elementos alheios a este e mudam sua malha urbana.
“... al menos en el centro de la ciudad, las calles – calles-pasillos, anchas avenidas o
cruces – se superponen al antiguo tejido urbano que subsiste bien que mal (parcelas
y trazados) fragmentado o conectado con el nuevo. Salvo excepciones, la
haussmannización no hace tabla rasa: es trabajo sobre la ciudad. Crea de este modo
una especie de mixtura de contacto (...).”14
O sistema planejado por Haussmann é mais complexo e ao mesmo tempo mais
esquemático que a cidade existente. O novo traçado tem autonomia com relação ao
anterior. C. Blancot rebate as críticas de que Haussmann abre suas vias as cegas,
sem ter em conta a cidade existente e parte do princípio que o novo traçado é um
projeto claramente definido, tendo em conta as vias públicas existentes e as
possibilidades de ligamento dos imóveis novos às construções mais antigas.15
É neste novo traçado que se introduz o espaço da burguesia, esteticamente
comportado, limpo, sem a presença de uma população indesejada. Apesar desta
população continuar presente na parte que não se modifica, continua na parte de
trás, nos quarteirões que não sofrem intervenção durante as reformas. Ainda restam
pedaços da antiga Paris.
Além da população a cultura popular também é excluída dos novos espaços: os
teatros populares se derrubam e os pobres perdem seus espaços de lazer. As
demolições no centro provocam uma crise de habitação, favorecem a especulação e
agravam a segregação social. Uma das maiores consequências das reformas
haussmannianas são as separações: Paris de um lado e a periferia de outro; os
quarteirões ricos do oeste versus os quarteirões pobres do leste; a rive gauche
contra a rive droite. Muda a segregação vertical das edificações pela segregação
horizontal dos bairros. O centro consolida suas funções comerciais, administrativas e
financeiras. Também passa a ser um local de ócio com teatros e locais para passear.

5
Em seu entorno mais próximo estão os bairros residenciais de luxo, como a área da
l’Etoile. Mais além estão os bairros proletários.
A cidade a que chamamos haussmanniana é a cidade burguesa por excelência, o
local institucional da moderna sociedade burguesa, um espaço que se configura de
acordo com a sua lógica e se supõe um modelo espacial concreto. É uma vitrine da
modernização antes de ser um centro de produção que se aciona pelo encontro entre
um urbanismo autoritário e as novas estruturas do capitalismo.
Sempre que pensamos em Paris, a imagem que nos vem a cabeça é a de uma
cidade com grandes artérias, belas perspectivas e grandes cruzamentos em estrela.
Uma cidade onde o bulevar e a edificação fazem um conjunto indisociável. Um
modelo para muitas outras cidades que querem se adaptar às necessidades da vida
moderna. A haussmannização se associa muito mais à estética da cidade que a
funcionalidade de seu projeto. A cidade se transforma num exemplo de experiência
estética, de um espetáculo público sem igual. Kostof considera que os que se
inspiram em Paris o fazem menos pelos aspectos funcionais de seu programa do que
por sua urbanidade e o cosmopolitismo que o exemplo parisiense confere a suas
cidades.16
Por fim este é o paradoxo da haussmannização: seu projeto de funcionalidade acaba
muito mais conhecido pela criação de um belo conjunto, pela concepção de uma
cidade como uma obra de arte.

3. A difusão de um modelo
Algumas cidades tem a capacidade de se converter em exemplo e influenciar as
demais que passam a tê-la como modelo. Cidades míticas exercem sua influência
fora de seus domínios geográficos.
No século XIX, Paris é considerada como um modelo de modernidade, uma
modernidade que se divulga nas exposições universais que abriga em suas ruas.
Uma imagem de modernidade que se obtêm depois das intervenções
haussmannianas com as quais se processa a modernização de suas ruas. Paris se
transforma em uma cidade distinta das demais urbes européias após passa por
intensas transformações para adaptar-se às novas condições econômica e sociais,
construindo um novo espaço mais de acordo com os novos tempos e com uma nova
sociedade. Suas transformações são apreciadas pelas outras cidades. Na visão de
alguns autores a Paris haussmanniana tem a capacidade de se transformar em
exemplo e modelo não só para algumas cidades francesas como também para outras
muito distantes da Europa como Cairo, Saigón ou Rio de Janeiro. Um desses autores
é Marc Gaillard17 que considera os urbanistas e os arquitetos do Segundo Império
criadores, sem dúvidas, da cidade mais coerente do mundo, modelo de outras
capitais até meados do século XX. Uma cidade onde encontramos por todos os lados
o gosto pelo embelezamento do espaço público, através da clareza e a regularidade
dos traçados com os pontos singulares sublinhados pela arquitetura ou a escultura.
Mas de que se constitui o modelo? Serão os métodos utilizados nas intervenções ou
a forma final da cidade? Serão as ações de Haussmann ou as ruas de Paris? Ter
Paris como um exemplo de cidade que se reforma para transforma-se em um
monumento que desperta a admiração de todos é diferente que tê-la como exemplo
aplicando seus métodos de implantação buscando parecer-se ou metamorfosear-se
em uma nova Paris.
Para Pierre Pinon18 ser caracterizada como um modelo significa ser exportável, e ele
6
não considera a haussmannização totalmente exportável. Para ser um modelo
exportável, a cidade que o adota deve reunir as mesmas condições que Paris no
momento em que suas intervenções acontecem. Pinon prefere falar de um “tipo
haussmanniano” que é diferente de falar de um “modelo haussmanniano”.
Não há dúvidas de que a grande repercussão das obras parisienses fazem com que
estas sejam admiradas seja pela magnitude de suas artérias que melhoram as
condições de circulação, seja pela capacidade administrativa francesa para enfrentar
obras públicas tão grandes. Certamente a admiração não se dá pelas demolições e
desapropriações efetuadas no centro. Se admira a força das obras realizadas e a
harmonia geral resultante. Suas avenidas e bulevares passam a ser objeto de
inspiração para muitos outros projetos urbanos. Por isso Pinon afirma que se o
modelo parisiense assombra todos os espíritos, é primeiro como imagem de uma
grande metamorfose, como empreendimento financeiro e não como procedimento
específico, não como uma rede de aberturas brutais.19
Apesar disso, uma característica comum entre a haussmannização e as outras
cidades que realizam reformas urbanas é o espaço onde se intervêm, o centro
histórico denso e confuso. Essas reformas classificadas como haussmannianas
também tem sua base em intervenções em quarteirões insalubres ou considerados
como tal tendo como argumento melhorar a circulação e o enlace entre estações de
trem ou pontos importantes da estrutura urbana e centros históricos, além de
questões higiênicas.
Para exemplificar alguns dos casos onde se identificam processos semelhantes a
haussmannização seguimos a divisão de André Lortier20: o modelo que se avalia nos
países limítrofes à França; o que se impõe nas antigas colonias; e o que seduz em
outras cidades do mundo. Não esquecemos as cidade francesas que sofrem a
influência de Paris ainda no Segundo Império.
M. Roncayolo 21 afirma que é a reforma parisiense que se constitui em modelo, não
Lyon ou Marseille que realizam suas reformas urbanas entre 1850-60, ao mesmo
tempo que Paris. Outras cidades francesas realizam suas reformas neste mesmo
período: Lille em 1850, Rouen em 1859-60, Montpellier a partir de 1861, Toulouse em
1864, Nantes em 1866, entre outras.
Em todas se pode evocar o modelo haussmanniano ao realizarem suas reformas
através de um acordo entre as entidades públicas e as privadas construindo uma
renovação urbana que se concentra na reprodução de um modo específico de
intervenção que se materializa nas aberturas no tecido construido. Nas cidades
francesas, pequenas ou médias, as operações consistem em traçar grandes vias
classificadas como haussmannianas com um duplo objetivo: permitir a circulação e
transformar a morfologia urbana. Também são erguidas novas edificações para
impedir o deslocamento da burguesia.
Na Europa as cidades italianas realizam intervenções na malha urbana justificando
os sacrificios necessários com a importância das melhorias que se produzem. D.
Calabi22 analisa a fascinação dos técnicos e políticos italianos pela capital francesa a
qual consideram um exemplo de modernidade. O autor considera Paris o exemplo
para o projeto de Cesare Beruto para Milão em 1884; para o de Florença onde
Giuseppe Poggi define cortes haussmannianos nas zonas centrais do Mercato
Vecchio e do gueto; e também para Roma tanto no quarteirão Prati di Castello de
1872 quanto no projeto da via Nazionale de 1871.
Em Bruxelas as reformas acontecem entre 1865 e 1880 na parte baixa da cidade, um
tecido antigo e muito denso habitado por uma população operária. Yvon Lebliq 23
7
analisa esta reforma e faz um paralelo com Paris considerando que Anspach acentua
a vontade política de fazer triunfar o haussmannismo. Os trabalhos executados se
constituem certamente no exemplo mais próximo do modelo parisiense da
haussmannização de uma cidade não francesa na época do Segundo Império. As
intervenções em Bruxelas se justificam pela má situação do rio Senne, muito poluido,
uma vala negra a céu aberto, e a necessidade de enlaçar as duas estações de trem
construidas nas extremidades desta parte da cidade. Aqui também se encontram os
argumentos da circulação, do saneamento e do embelezamento.
Em Londres, a abertura das vías Kingsway e Aldwych entre os anos 1889-1935
representa uma nova fase do desenho urbano londrino onde se combina a estética
francesa com a imagem britânica imperial e edificios comerciais influenciados pelos
novos métodos norte-americanos de construção. Ainda que as aberturas sejam
similares a algumas executadas por Haussmann, tem o estilo e a ideologia
vinculadas ao movimento City Beautiful e sua intenção é transformar Londres em
uma poderosa capital do Império Britânico.
Na Indochina, colonia francesa, a imposição do modelo se deve a necessidade de
reunir as condições locais em um ambiente familiar para os que vão viver ali por meio
da criação de um novo ambiente urbano onde convive a paisagem das cidades
francesas com uma arquitetura de pavilhões regionais. A cidade tem a função de
representar o poder colonial e portanto se concebe um espaço totalmente
controlável. O espaço público se organiza estratégicamente através da localização
dos estabelecimentos institucionais. O sistema viário se compõe de ruas retas,
perpendiculares, largas, com passeios arborizados e dotadas das necessárias redes
de infra-estruturas como água, esgotos e iluminação pública. Entre os objetivos está
o enlace entre os monumentos e os locais mais significativos da cidade colonial.
Longe da Europa e de suas colonias, Paris seduz outras cidades que se propõem a
realizar suas reformas urbanas. Sawsan Noweir 24 não dúvida em afirmar que o Cairo
sofre diretamente a influência dos trabalhos realizados por Haussmann. Esta
sedução começa com a visita do Khedive do Egito a Paris para participar da
Exposição Universal de 1867 e tem o próprio Haussmann como cicerone na cidade.
Após este reconhecimento de Paris decide adotar a mesma imagem na
modernização do Cairo para as comemorações da abertura do Canal do Suez. O
projeto consiste em estabelecer um sistema de ruas e praças que fazem a
articulação entre os quatro centros ou nós principais da cidade: a estação central,
Azbakiyya, a Cidadela e o Palácio Abdine. Dois bulevares cortam a cidade antiga em
diagonal junto a um sistema de novas ruas, sempre pensadas e orientadas para
valorizar e destacar em perspectiva os monumentos, principalmente os do poder: a
Cidadela e o Palácio Abdine.
O projeto de Lutyens de 1912 para a nova capital do Império das Índias em Delhi é
outro exemplo da adoção do modelo haussmanniano, não tanto pelo traçado mas
pelo processo e formas de implantação.25
Mais que servir de modelo para intervenções em outras cidade, a haussmannização
é a base de um novo movimento, o City Beautiful, um movimento que revoluciona o
desenho urbano nos Estados Unidos a finais do século XIX e que se considera como
a versão norte-americana dos embelezamentos haussmannianos.
Seja ou não um modelo de intervenção urbana, o certo é que a Paris haussmanniana
simboliza uma experiência de intervenção autoritária, uma imposição de um projeto
urbano em uma determinada realidade. Sem dúvida as novas interpretações do que
seja a haussmannização mudam. Deixa de ser apenas o símbolo de uma intervenção

8
realizada sob um poder autoritário para representar a capacidade de intervir em uma
estrutura existente, seja para maquiá-la seja para dialogar com ela, mas nunca para
negá-la. Cada vez mais a haussmannização está vinculada à monumentalidade e ao
embelezamento de cidades, à estética e à criação da cidade como uma obra de arte.
No Brasil as reformas urbanas acontecem a partir do início do século XX e,
observando o modelo haussmanniano, nos perguntamos se ali também a Paris do
Segundo Império desperta a fascinação e nos seduz.

4. A haussmannização no Brasil:
4.1. o modelo no Rio de Janeiro
A reforma urbana implementada por Pereira Passos, prefeito do Rio de Janeiro
durante o governo do Presidente Rodrigues Alves, no Distrito Federal entre
1902-1906 é comparada às reformas parisienses de Haussmann. Mas, como duas
cidades com realidades tão diferentes podem realizar reformas semelhantes? Nos
perguntamos se foi a importação de um modelo ou sua adaptação à realidade
brasileira.
A influência de Paris no Brasil não se limita às reformas da sua capital federal. O
predomínio da cultura gala no Rio remonta a princípios do século XIX com a chegada
da Missão Francesa e de Grandjean de Montigny. Rio e Paris se unem mais a partir
da divulgação de uma nova tecnologia e de uma cultura moderna através das
exposições universais. Tendo a Europa como modelo de civilização e vivendo uma
crise com seu passado colonial, se busca em Paris um exemplo de embelezamento e
um suporte ideológico para o discurso da modernização que sirva de contraponto ao
atraso da sociedade carioca.
Muitos são os autores que já estudaram e compararam as intervenções cariocas com
as parisienses, analisando o processo, o projeto e suas formas de implantação. Já a
princípios do século, Pereira Passos é comparado com Haussmann pelo Barão do
Rio Branco que o chama de “Haussmann brasileiro”. Também é apelidado de
“Haussmann tropical” e o Rio chamado de “a Paris da América”.
Giovanna del Brenna 26 considera o projeto urbanístico realizado por Pereira Passos
uma montagem de projetos e propostas anteriores com ajustes, mudanças em alguns
traçados e novas orientações. O projeto para o porto está baseado no da Cia de
Melhoramentos do Brasil elaborado entre 1890-1900. A abertura da avenida Central,
uma artéria que corta a cidade de norte a sul, tem precedentes em outros projetos,
sendo o principal deles o projeto elaborado em 1875 pelo próprio Pereira Passos. A
autora considera que este projeto de 1875 está, sem dúvidas, influenciado pelas
obras haussmannianas uma vez que o próprio Pereira Passos acompanha as
intervenções parisienses durante sua estada na capital francesa entre 1857-1860.
Encontramos esta mesma opinião em outros autores e se pode dizer que o projeto de
1875 realmente contém uma série de elementos evidentemente baseados nas
aberturas das ruas parisienses. Em 1902 se adapta este projeto mas não
percebemos nenhuma nova influência apesar do tempo que os separa e das muitas
teorias que se desenvolvem neste período. Por exemplo, não existem referências a
Camillo Sitte, Patrick Geddes, Ebenezer Howard ou outros teóricos do urbanismo
moderno.
Para Jeffrey Needell27 a inspiração em Haussmann se dá de forma consciente e bem
fundamentada, decidida por um grupo profissional. O autor se baseia em documentos
do engenheiro e publicações da época que confirmam a importância de Haussmann
9
em Pereira Passos e em seus companheiros que participam das reformas. Em sua
análise, o autor compara as demolições da cidade velha do Rio com a destruição dos
bairros proletários de Haussmann. A melhoria da iluminação e a ventilação através
de ruas mais largas e novas vias são fundamentais nos dois projetos. O sistema
viário das duas cidades passam a ser compostos por ruas e avenidas que conduzem
o tráfico dos limites da cidade ao Centro, e outras que retiram o trânsito de dentro do
Centro. O autor ainda encontra semelhança entre alguns cruzamentos do Rio com as
places-carrefours de Paris e até de um cruzamento em ângulo reto no centro da
cidade.
Outro autor que compara os dois projetos é Norma Evenson28 observando que o
mais importante são as avenidas monumentais, abertas depois da expulsão da
população, das demolições e reconstruções. Afirma que o projeto de Haussmann
introduz melhorias tecnológicas e modernizadoras, e o de Pereira Passos uma
reorganização geral da urbe, mas, no final, os dois são conhecidos por seus
bulevares, largos, retos, arborizados, símbolos da modernidade e da burguesia. A
autora considera que não só o projeto dos dois é semelhante como a forma ditatorial
de implantação.
Podemos ainda citar vários outros autores que consideram Paris e Haussmann os
inspiradores de Pereira Passos e da nova capital federal. Por exemplo para o
historiador José Murilo de Carvalho29 as obras de saneamento e embelezamento da
cidade se executam com a eficiência e a rapidez permitida pelo estilo autoritário e
tecnocrata inaugurado pelo República com Paris como modelo. E Bruant para quem
é
“... indiscutível a imitação de Haussmann: mesma atividade transbordante, mesmo
renome cuidadosamente cultivado de destruidor sistemático e sem escrúpulos (...),
mesmo princípio das grandes artérias com árvores arrasando impiedosamente tudo
que estava no caminho e desembocando nos monumentos que servem como
perspectivas finais; chegou-se até a retomar, para a largura da Avenida Central, peça
chave do dispositivo, as dimensões dos bulevares parisiense (33 metros).” 30
O fato é que o processo se leva a cabo de forma ditatorial e Pereira Passos não
mede esforços e nem se intimida diante das críticas recebidas e dos ataques dos
insatisfeitos com suas ações. São quatro anos para transformar a cidade colonial
numa cidade moderna. Com seus poderes destrói e reconstrói a cidade a sua
vontade. Como em Paris por trás de toda esta movimentação podemos encontrar
também a intenção de inibir possíveis manifestações populares. Também no Rio, nas
entrelinhas do discurso da modernidade e da higiene, existe a preocupação de uma
revolta social e a decisão de retirar o proletariado do Centro e devolvê-lo à burguesia
para seu desfrute, renovado e valorizado. Com base neste argumento, Barbosa 31 não
acredita na transposição de um modelo parisiense, mas na tradução de uma
estrutura urbana cada vez mais universal. Em Paris Haussmann ataca a era das
revoluções e inclui em seus planos de eficiência, saúde e beleza, planos de natureza
contra-revolucionária atacando os baluartes da classe trabalhadora. No Rio, Pereira
Passos golpeia a tradição da sociedade da casa-grande e dos sobrados atacando os
baluartes de um ambiente de cultura afro-brasileira.
Analisando e comparando as duas reformas podemos encontrar muitos pontos em
comum, mas também existem muitas particularidades de ambos os lados. Preferimos
dizer que mais do que um modelo que se importa, a haussmannizaçao no Brasil é um
modelo que se adapta. Se consideramos a haussmannização como o
aburguesamento da cidade, a produção de um conjunto coerente construido sob o
princípio da harmonia racional, uma forma urbana nova e original distinta da cidade
10
clássica, concordamos que Rio passa por um processo de haussmannização. Mas
não é só isso.
Um dos objetivos de Paris é transformar-se em uma grande capital de um império
destinado a expandir-se, valorizando sua vocação comercial e financeira. No Rio
encontramos o objetivo de mudar a cidade para que assuma sua posição de capital
de uma nova república que quer esquecer seu passado colonial e inserir-se no
capitalismo internacional, devolvendo-lhe a hegemonia como cidade capital,
transformando-se na cidade mais importante da América do Sul, cidade com vocação
financeira e comercial, centro de importação e exportação.
Nos dois projetos a rede viária é esquemática, sem estar diretamente vinculada com
a cidade existente. As novas avenidas passam por cima de ruas, becos, praças e
construções, formando uma nova rede viária que se superpõe à antiga. Alguns
traçados são aproveitados, apenas retificados e modificados em sua largura. Como a
nova rede viária é um elemento alheio que se sobrepõe ao tecido já existente, ruas
do antigo sistema mantêm a mesma forma, o traçado e o aspecto anteriores. Nas
novas vias, tanto em Paris como no Rio de Janeiro, é introduzido um novo
parcelamento.
Existe uma clara intenção de consolidar no Centro as funções comerciais, financeiras
e administrativas. Também se criam áreas de lazer, diversão e passeio com árvores,
largas calçadas, cafés, modernas lojas, teatros e outros equipamentos de
entretenimento. Já em outras partes da cidade se observa uma nova orientação das
funções que valorizam os bairros residenciais e se implanta a infra-estrutura
necessária. Em ambos os casos nos bairros burgueses e da classe mais alta os
benefícios se implantam antes mesmo da chegada dos seus habitantes enquanto os
bairros proletários densamente habitados tem que esperar por sua vez.
Outro ponto em comum é a melhoria da circulação, seja de pessoas seja de
mercadorias. Em Paris as estações de trem são as portas de entrada da cidade e elo
entre a capital e o resto do país e da Europa. Assim a conexão entre as distintas
estações é de fundamental importância para uma melhor comunicação entre os
pontos. Da mesma forma no Rio o novo traçado das ruas fazem a conexão do porto
com as zonas industriais, comerciais e financeiras. Aqui é a atividade econômica que
dá o tom necessario para uma nova rede viária que melhore a circulação.
Por fim, a forma ditatorial e a total liberdade que recebem dos governantes iguala as
atividades em Paris e no Rio. Se Haussmann tem carta branca de Napoleão III para
implantar o projeto esboçado por ele, no Rio Pereira Passos também tem autorização
do Presidente de República para desenvolver os trabalhos de reforma urbana.
Além das partes em comum também podemos enumerar alguns pontos entre as duas
intrvenções que são completamente díspares. O primeiro ponto é o espaço onde se
produzem as intervenções. Em Paris, a cidade amuralhada, a cidade construída, uma
cidade já consolidada com mais de um milhão de habitantes e um importante centro
econômico e cultural da Europa. No Rio, a princípios do século XX, que tem uma
população em torno de 800.000 habitantes, uma cidade que cresce, que amplía sua
área urbanizada e conquista novos espaços. Uma cidade ainda por fazer.
Em Paris, um plano de reformas muda sua rede viária, funcional e espacial com a
população se redistribuindo e hierarquizando os espaços. No Rio, apesar de um
plano de reformas que transforma o centro colonial em um centro moderno, conta
também com um plano de expansão que se caracteriza pelo surgimento de novos
vetores de crescimento da cidade. A nova estrutura urbana inclui bairros novos e
áreas com uma baixa densidade demográfica. Estas novas áreas, fora do núcleo
11
central, são dotadas de uma estrutura viária, funcional e espacial onde a participação
dos meios de transporte e das concessionárias dos serviços públicos é fundamental.
Não negamos a importância de Paris nem a influência de Haussmann na reforma
carioca, mas pensamos que o projeto do Rio não se resume a uma
haussmannização. Fazendo uma retrospectiva do século XIX, com os planos de
Grandjean de Montigny, de Beaurepaire Rohan, da Comissão de 1875 e outros
projetos pontuais, percebemos que as mudanças estruturais já se faziam necessárias
e que a realização das intervenções só dependiam de condições para ser
implantadas, condições políticas e financeiras.
Considerado o “modelo dos modelos”, a Paris de Haussmann se difunde em âmbito
mundial. Da mesma forma o Rio de Pereira Passos inaugura uma escola de
urbanismo brasileiro e passa a ser o modelo para algumas cidades do Brasil,
principalmente no litoral, adotando novos traçados, proporções, idéias e processos.

4.2. a reforma urbana de Salvador: haussmannização?


As reformas urbanas no Brasil a princípios do século XX fazem parte de um projeto
nacional que com base em um novo modelo ideológico e cultural imposto pelo mundo
ocidental procura mudar a aparência das cidades. Salvador faz parte deste projeto de
modernização e realiza sua reforma entre os anos 1912-1916 onde as palavras de
ordem são sanear, circular e embelezar.
As intervenções realizadas na capital da Bahia são requeridas pela sociedade desde
meados do século anterior como uma forma de alterar a estrutura colonial que ainda
mantêm. No século XVIII são realizadas as primeiras intervenções na parte de baixo
da cidade com o objetivo de ampliar sua área e melhorar seu porto. A estreita faixa
de terra entre a vertente da montanha e o mar concentra a vida comercial e
financeira da cidade e solicita melhores condições de circulação e salubridade. A
intensificação do comércio de exportação e importação justificam os aterros que se
sucedem desde meados do século XVIII até a reestruturação total do porto a
princípios do XX.
De forma geral a cidade passa por transformações em sua estrutura sócio-econômica
e também espacial com uma ampliação de sua área urbana, um incremento em sua
população, a introdução de novos serviços de infra-estrutura e novos meios de
transporte. A cidade passa a ser a residência dos latifundiários que se instalam na
capital nos novos bairros que surgem ao longo do século XIX. Uma nova classe
social começa a formar-se, a burguesia comercial, que busca formas de
representação distintas dos proprietários de terras e nega o passado colonial e
escravista se identificando mais com a modernidade representada pelas cidades
européias. Na base da pirâmide social estão os ex-escravos e os imigrantes da área
rural que buscam na cidade uma oportunidade de emprego e contribuem para inchar
as áreas onde se localizam as residências precárias, no centro ou se instalam na
periferia de Salvador.
A rede viária passa por reformas pontuais durante todo o século XIX das quais
destacamos as tentativas de melhoria no enlace entre a parte alta e a baixa da
cidade, a definição de eixos de expansão que se preocupam com a conexão entre os
núcleos edificados nas diversas cumeeiras distribuídas pela área urbana da Cidade
Alta. A introdução da ferrovia melhora as comunicações entre a capital e seu
hinterland aumentando o volume de mercadorias que chegam ao porto por este meio
de transporte. A construção da estação de trens pede uma melhor via de acesso

12
entre esta e o porto na Cidade Baixa.
A malha urbana se mantêm tipicamente colonial, um tecido variado, com ruas
estreitas e sinuosas que se adaptam à difícil topografia do local, sem alinhamento
pré-definido, com construções de meia parede e sem os serviços básicos de
infra-estrutura. Desde meados do XIX, se percebe a preocupação com a mudança
desta estrutura através do alargamento das ruas e praças, a pavimentação das vias
principais e a introdução de serviços de distribuição de água, rede de esgoto,
iluminação e transporte público.
As tentativas de transformação não são suficientes para mudar a imagem da capital.
Existe a necessidade de um planejamento global para toda a urbe, um projeto para a
cidade e não só intervenções pontuais. Não basta maquiá-la, tem que introduzir uma
mudança estrutural mais funda, mudando suas bases e inaugurando uma nova forma
urbana “moderna” e “civilizada”.
A reforma se justifica pela trilogia higiene, circulação e embelecimento. A salubridade
significa cambiar seu aspecto que envergonha a sua população, a transforma em
foco de epidemias que se sucedem matando a milhares de pessoas e atribuem a
cidade um caráter de atraso. A fluidez é necessária para um maior desenvolvimento
do comércio de importação e exportação, base econômica da cidade, e para o
deslocamento da população que vive cada vez mais longe do centro e de seus
postos de trabalho. Uma nova estética significa romper com o passado colonial e
escravista introduzindo novos modelos arquitetônicos europeus que a população
associa à idéia de progresso e modernidade. Os métodos que se impõem são a
demolição de velhas edificações considerados insalubres e o alargamento das ruas
derrubando fachadas que formam os conjuntos de arquitetura tradicional, e
recontruindo-os com uma nova arquitetura eclética.
As obras realizadas tanto na Cidade Alta como na Cidade Baixa introduzem uma
nova forma de organização espacial. Novas avenidas são abertas, ruas e becos são
alargados, redes de infra-estrutura são implantadas e um grande aterro moderniza o
porto de Salvador. Muitas referências se fazem às obras realizadas no Rio de
Janeiro.
“A liderança política e administrativa, assim como os órgãos de imprensa, serão
responsáveis pela pregação e realização das idéias de reforma urbana. É certo que
esta ânsia de progresso não surge, em nossa cidade, como por encanto, mas ela
representa o reflexo de uma situação existente no sul do país, no Rio e S. Paulo,
especialmente depois da realização de grandes obras de engenharia. Desde então a
palavra dos homens públicos vai enfatizar que a cidade do Salvador carecia urgente
de novos projetos viários e de saneamento, que o antigo burgo deveria ser
convenientemente preparado para entrar, já com certo atraso, na mecânica do
século.”32
Um grande projeto foi elaborado mas não chega a ser totalmente implantado. Será
que esta reforma se caracteriza como uma haussmannização ou se o que ocorre é a
simples reordenação do espaço urbano conforme as novas tecnologias, a margem de
modelos, teorias ou ideologias?
Da mesma forma como a reforma do Rio, Salvador também intervêm no centro, tanto
na Cidade Alta como na Baixa com a criação de novas avenidas, o alargamento de
ruas estreitas, a definição de vetores de crescimento em direção norte e sul, e obras
de modernização do porto com a criação de uma nova urbanização.
As duas cidades tem estrutura muito semelhantes desde sua fundação. As duas são

13
construídas no alto, foram capitais do país, tem estrutura colonial, funcionam com
base na mão de obra escrava, são portos importantes e sobrevivem com base em
uma economia mercantil de importação e exportação. Suas ruas são estreitas, o sol
penetra com dificuldade e a sujeira está por todas as partes gerando focos de
epidemias. No século XIX passam por um processo de inchamento com a migração
rural, principalmente depois da abolição da escravidão. O centro das duas cidades
está totalmente construído e ocupado. A população se amontoa em sobrados
abandonados pela classe alta e os cortiços estão por todas as partes. São centros
empobrecidos, desvalorizados e sem atrativos.
Já comentamos que as obras realizadas no centro do Rio tem pontos que podem ser
comparados às obras realizadas por Haussmann em Paris. Se no Rio e em Paris
uma nova rede viária se sobrepõe a uma malha antiga, em Salvador as intervenções
se realizam sem com isso alterar a malha urbana. A principal abertura, a avenida 7
de Setembro, se realiza através do alargamento e da retificação de ruas já existentes
de forma que a malha se alarga mas não muda o traçado. As novas ruas que surgem
não são alheias ao urbanismo existente anteriormente, já fazem parte dele.
Aqui está a diferença em relação aos processo do Rio e de Paris onde a malha se
altera quando se rasgam avenidas que cortam quarteirões, eliminam obstáculos
geográficos e derrubam edificações. A própria forma das novas vias se diferenciam,
enquanto no Rio e em Paris estas são retas, em Salvador mantêm o traçado original,
muitas vezes sinuoso, como no caso da avenida 7.
No que se refere ao objetivo, as três cidades buscam a mesma coisa: através do
alargamento das ruas ou abertura de novas, se previlegiam os deslocamentos, se
facilitam os enlaces entre os pontos mais importantes das cidades de forma simples,
e se adaptam para os novos meios de transporte. As formas de ação, também
coincidem. São contabilizadas demolições, desapropriações e expulsão da
população residente e um aburguesamento do centro com a construção de um
conjunto mais coerente deixando para trás as características coloniais ou medievais.
Em Paris se enlaçam as estações de trem e no Rio se conectam o porto com as
zonas industriais, comerciais e financeiras. No caso de Salvador, na Cidade Baixa as
novas vias conectam o centro comercial e financeiro, além do porto com a estação da
Calçada e a península de Itapagipe onde se estabelece um bairro proletário. São
melhoradas as ligações com a Cidade Alta. Nesta, a avenida 7 orienta a cidade no
sentido sul melhorando o acesso aos bairros burgueses do alto da escarpa e os que
se estabelecem nas costas do Atlântico. Tanto na Cidade Alta como na Baixa, as
novas avenidas são vetores de crescimento da cidade que obedecem ao traçado
antigo, pois a cidade, por sua posição geográfica, já orienta seu crescimento nestes
sentidos.
Se em alguns pontos podemos identificar características de uma haussmannização,
em outros, as reformas do Rio e de Salvador diferem radicalmente tais como a
orientação de vetores de crescimente para áreas totalmente novas e a modernização
dos portos através do ganho de novas áreas por meio de aterros que se revertem em
novas urbanizações como o bairro das Nações em Salvador.
Em nosso entender as comparações não podem ser feitas de forma linear pois o
processo de evolução urbana do Rio e de Salvador são paralelos e se torna muito
arriscado definir modelos. Sem dúvida, o processo de reforma do Rio é muito
divulgado por todo o país, entre outras coisas por ser a capital federal. Mas este fato
não a avaliza como modelo para outras cidades. Preferimos considerar como uma
referência antes que um modelo, um estímulo mais do que uma cópia. O mesmo

14
podemos dizer de Paris em relação ao Rio.
Analisando a reforma de Salvador percebemos que esta não se realiza através de
aberturas em meio de quarteirões, as conhecidas percées haussmannianas. Por
respeitar o traçado original das ruas, ao final não resultam necessariamente em vias
retas nem tem como objetivo resaltar determinados monumentos históricos criando
perspectivas monumentais. O novo alinhamento se consegue pelo alargamento das
ruas e becos existentes mantendo o tecido urbano original. As intervenções ocorrem
derrubando-se parte das edificações, de um de seus lados, para chegar a uma
largura pré-definida. Para executar as demolições não é necssário desapropriar toda
a propriedade, somente a parte necessária para o novo alinhamento. Dessa forma
também não ocorre um reparcelamento dos quarteirões que mantêm sua estrutura
anterior.
O fato de não realizar as brutais aberturas consideradas como uma forma radical de
intervenção e descritas pelo próprio Haussmann como “regularização”, não significa
que a reforma de Salvador tenha sido mais leve que as demais. A fisionomia de uma
cidade pode se transformar totalmente só com o alargamento de ruas e a
reconstruções das edificações.
No caso de Salvador, as fachadas das edificações atingidas com o corte são
reconstruídas de forma livre, sem uma legislação específica nem modelos
determinados a priori. As fachadas das edificações que não são afetadas com os
cortes também sofrem alterações para acompanhar o novo estilo da rua. Todas as
licenças de construção são examinadas pelo Departamento de Obras do Municipio
que delibera sobre questões técnicas e também estéticas. O novo conjunto que se
forma não resulta num espaço monumental padronizado. Para completar as
diferenças destacamos a formação de novos núcleos urbanos, como o bairro das
Nações na Cidade Baixa e outros que são incentivados pela abertura das novas
artérias de expansão, como a avenida Oceânica, que atravessa regiões quase
desertas.
Dentro do que podemos considerar como similar, ou que se identifica com a reforma
parisiense destacamos a forma autoritária de impor o projeto e de executar as
intervenções. São realizadas demolições, desapropriações e a consequente expulsão
de uma parte da população de baixa renda do centro da cidade. As novas vias são
dotadas com os modernos serviços de infra-estrutura, recebendo também um novo
mobiliário urbano. Na Cidade Alta as ruas reformadas se transformam num cenário
para a elite desfrutar seus momentos de lazer caminhando pelas livrarias,
confeitarias e lojas de moda. Apesar da transformação do centro, seja na parte alta
ou na baixa, não significa que este deixe de ser residencial. A diferença em relação a
Paris, é que na capital francesa a burguesia valoriza a morada no centro reformado,
mas em Salvador é a população de baixa renda que continua a viver nas ruas
centrais, principalmente onde não foram introduzidas as modificações.

5. Conclusões
No Brasil, cidades como Rio e Salvador, sentem os efeitos de um rápido crescimento
e sentem a necessidade de reformar seu espaço construído e expandir sua malha
urbana, com a instalação de novos bairros e a definição de vetores de expansão.
Tanto Rio como Salvador além de um plano de reformas realizam um plano de
expansão. Também são realizadas obras de melhoria e ampliação dos portos das
duas cidades com as devidas intervenções nos bairros portuários. Como objetivo,
apresentam a aburguesamento do centro resultando em uma segregação social e
15
funcional e a definição de uma nova estrutura no espaço urbano.
Sobre serem as reformas de Rio e de Salvador classificadas como
haussmannizações, consideramos que alguns pontos são convergentes e outros não.
Pensamos ser mais prudente considerar como uma adaptação do modelo francês
aos trópicos levando-se em consideração a realidade local.
Se no Rio várias são as referências a Paris por seus realizadores e críticos, em
Salvador estas referências não são explicitadas, não aparecem nos discursos dos
governantes nem nas manifestações da imprensa. Nesta última, as influências
parecem vir mais do Rio de que diretamente de Paris. Rio e sua reforma urbana
irradiam ares de nova civilização e modernidade. Parece mais sensato considerar
que Rio adapta o modelo haussmanniano às condições que se encontram na capital
tropical, ainda com seu traçado colonial, criando um novo modelo que se “exporta”
para as demais cidades braisleiras. Salvador, por sua vez, ao realizar sua reforma
urbana, adapta o modelo do Rio as suas condições estruturais e financeiras.
Não consideramos os casos brasileiros como fatos isolados. Paris realiza suas
intervenções radicais em sua estrutura medieval e divulga seus resultados por todo o
mundo. Muitas são as cidade que se viram para Paris em busca de inspiração para
realizar suas próprias reformas urbanas, mas cada qual realiza suas intervenções
sempre de acordo com suas necessidades e possibilidades. O tipo de intervenções
que se realiza em Salvador se pode comparar com outras cidades européias, capitais
ou não, que de alguma forma adaptam o modelo parisiense ou criam seus próprios
modelos.
Cidades como Londres e Amsterdan realizam suas mudanças através de planos de
expansão e novas urbanizações para onde se desloca sua população e convertem
seus centros históricos em centros de negócios e serviços. Outras urbes sobrepõem
uma nova cidade sobre a antiga, sendo caracterizadas mais por seus planos de
reformas, como Bruxelas e Paris, transformando seus centros em comerciais mas
também em residenciais. Outras ainda se valem de uma combinação entre
intervenções no centro com a implantação de novas áreas urbanas, como Madrid.
As novas avenidas e ruas de Salvador, onde não resultam em vias-corredor retas e
longas, podem ser comparadas com outras que se abrem em cidades européias. Por
exemplo, Roma abre o Corso Vittorio Emmanuele no bairro do Rinascimento a partir
de 1884 seguindo um traçado existente, sinuoso, se valendo do alargamento e da
demolição de parte das edificações. Outra via que surge da mesma forma é a Gran
Via de Madrid, um projeto de 1886 que se abre depois da demolição de centenas de
casas e da retirada da população. Muitas outras cidades podemos evocar para
comparar com as reformas de Rio e Salvador. Em Marseille as reformas se
relacionam diretamente com assuntos portuários e a especulação imobiliária.
Também capitais latino-americanas, capitais de novas repúblicas recém
independentes, realizam suas intervenções adaptando suas cidades aos novos
modelos vigentes, sempre com a Europa na mira. Em Buenos Aires entre 1883-87, a
avenida de Mayo representa a mais importante intervenção do século XIX. A abertura
do eixo leste-oeste unindo a Casa Rosada ao Congresso e a retificação de algumas
vias destrói ou mutila monumentos coloniais resultando na perda de boa parte do
patrimônio arquitetônico. Em Santigo do Chile a partir de 1872 são introduzidos
cambios urbanos e de infra-estrutura, a formação de novas praças e áreas verdes, o
parque do cerro de Santa Lucia, a estruturação do mercado de abastecimento e o
alargamento das ruelas e becos. E Caracas que implanta o urbanismo de Guzmán
Blanco entre 1870-1888 criando uma imagem europeísta mediante a abertura de

16
bulevares, construção de monumentos, modificação do traçado hispánico da área
central. Aqui também se discute a implantação do modelo parisiense.
Podemos concluir que o modelo haussmanniano se divulga e as idéias
haussmannianas se difundem em distintas direções, mas nem sempre é possível sua
adoção tal e qual, e se produz uma adaptação das idéias principais a realidades
distintas da parisiense. Nos casos latino-americanos, no Brasil ou em outros países,
o que mais se percebe é que por trás das intervenções existe a vontade de mudar as
estruturas coloniais dos países independentes, de afugentar o passado e começar
uma busca de novas representações que ao final do século XIX e princípios do XX
vem da Europa.

1
Para uma visão mais ampla sobre o tema consultar PINHEIRO, Eloísa Petti. Europa, Francia y
Bahía. La difusión y adaptación de los modelos urbanos europeos. Barcelona: UPC; Escuela
Técnica Superior de Arquitectura de Barcelona, 1998. (Tese de Doutorado)
2
KOSTOF, Spiro. The city assembled: the elements of urban form through history. London:
Thames and Hudson, 1992, p. 271.
3
Cf. LOYER, François. “Le Paris d’Haussmann.”, in COHEN, J-L, FORTIER, B. (orgs.) Paris: la ville
et ses projets. Paris: Babylone, 1992, p. 192.
4
CHOAY, Françoise. “Pensées sur la ville, arts de la ville.” in DUBY, G. (org.) Histoire de la France
Urbaine 4. La ville de l’ âge industriel: le cycle haussmannien. Paris: Du Seuil, 1983, p. 166.
5
MARCHAND, B. Paris, histoire d’une ville (XIX-XXème siecle). Paris: editions du Seuil, 1993, pp.
92-93.
6
RONCAYOLO, Marcel. “La production de la ville.” in DUBY, G. (org.) op. cit., 1983, p. 102.
7
Cf. CHOAY, F., “El reino de lo urbano y la muerte de la ciudad.”, in DETHIER, J., GUILHEUX, A.
(orgs.) Visiones Urbanas. europa 1870-1993. La ciudad del artista. La ciudad del arquitecto.
Madrid: Electa, CCCB,1994, p. 25.
8
Cf. LOYER, F. Paris XIXe siècle, l’immeuble et la rue. Paris: Hazan, 1987, p. 232.
9
Cf. PINON, Pierre. “Le projet de Napoléon III et d’Haussmann: la ‘transformation de Paris’.” in DES
CARS, Jean, PINON, Pierre. Paris-Haussmann. “Le pari d’Haussmann”. Paris: Editions du
Pavillon de l’Arsenal-Picard, 1991. pp. 73-74.
10
RONCAYOLO, M. op. cit., 1983, p. 74.
11
BERGERON, Louis. “Paysages de Paris.” in BERGERON, L. (org.) Paris. Génèse d’un paysage.
Paris: Picard, 1989, p. 281.
12
RONCAYOLO, M. op. cit., 1983, p. 77.
13
BLANCOT, Christiane. “Actualité Haussmann.” in DES CARS, J., PINON, P. (orgs.) op. cit., 1991,
p. 210.
14
RONCAYOLO, M. “Mutaciones del espacio urbano: la nueva estructura del París haussmanniano.”
in DETHIER, J., GUIHEUX, A. (orgs.), op. cit., 1994, p. 58.
15
Cf. BLANCOT, C. op. cit., 1991, p. 212.
16
Cf. KOSTOF, S. op. cit., 1992, pp. 266-267.
17
GAILLARD, Marc. Paris au XIXe siècle. Marseille: AGEP, 1991, p. 140.
18
PINON, P. “L’haussmannisation: réalité et perception en Europe.” in LORTIE, A. (org.) Paris
s’exporte: architecture modele ou modeles d’architectures. Paris: Editions du Pavillon de
l’Arsenal-Picard, 1995, p. 44.
19
PINON, P., op. cit., 1995, p. 44.
20
LORTIE, A. (org.), op. cit., 1995.
21
RONCAYOLO, M. op. cit., 1983, p. 77.
22
CALABI, D. “L’Italie et le mythe d’une ville moderne.” in LORTIE, A. (org.), op. cit., 1995, pp.
67-72.
23
LEBLIQ, Y. “Belgique et le modèle haussmannien.” in LORTIE, A. (org.), op. cit., 1995, pp. 73-81.
24
NOWEIR, S. “La modernisation du Caire.” in LORTIE, A. (org.), op. cit., 1995, pp. 149-155.
25
CREMEL, F. “Paris-New Delhi: aller simple.” in LORTIE, A. (ed.), op. cit., 1995, pp. 156-160.
26
DEL BRENNA, Giovanna Rosso. “O Rio de Janeiro ‘de Pereira Passos’.” in DEL BRENNA, G. R.
17
(org.). O Rio de Janeiro de Pereira Passos. Uma cidade em questão II. R. J: INDEX, 1985, p. 8
e DEL BRENNA, G. R. “Rio de Janeiro tra Ottocento e Novecento. Una capitale nei tropici e il suo
modelo europeo.” in DE SETA, Cesare (org.) Le città capitali. Roma: Laterza, 1985, pp. 243-252.
27
NEEDELL, Jeffrey D. Belle Époque tropical: sociedade e cultura de elite no Rio de Janeiro na
virada do século. Trad. Celso Nogueira, São Paulo: Companhia das Letras, 1993.
28
EVENSON, N. Two Brazilian capitals architecture and urbanism in Rio de Janeiro and
Brasilia. New Haven and London: Yale Univ. Press, 1973, p.37-38.
29
CARVALHO, J. M. Os bestializados. O Rio de Janeiro e a República que não foi. São Paulo:
Companhia das Letras, 1987, p. 40.
30
BRUAND, Y. Arquitetura Contemporânea no Brasil. S. P.: Perspectiva, 1981, p. 334.
31
BARBOSA, Jorge Luiz. Modernização urbana e movimento operário. Rio de Janeiro: UFRJ,
Mestrado em Geografia, 1990, 2v. (disertação de Mestrado)
32
PERES, Fernando da Rocha. Memória da Sé. Salvador: Macunaíma, 1974, p. 35.

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