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José Carlos Reis, na obra “Escola dos Annales: a inovação em História”, ao

tratar da volta da narração, coloca o argumento de L. Stone que considera que os


Annales interromperam, ao abandonar o formato narrativo, uma tradição de mais de
vinte séculos. Em lugar da narração, partiram para uma história estrutural quantitativa.
No entanto, os mais novos historiadores desta corrente já faziam uma história narrativa,
mas não explicitamente.
A partir do exposto, Stone faz uma defesa da história narrativa. Para ele, a
história enquanto narração coloca seu interesse mais nos homens e menos nas
circunstâncias e tem uma abordagem mais voltada para o particular e para o específico e
menos para o coletivo e estatístico. Não se trata, assim, da defesa de uma narração
simples, mas sim ordenada por um principio, tendo um tema ou argumento. Desse
modo, o historiador narrador não despreza a análise, mas procura ir além dela.
Ao contrário dos “historiadores cientistas”, que procuram os “porquês” e a
causalidade histórica, a volta da narração representa o abandono das ilusões em relação
a uma “explicação científica” da história. Assim, a cultura de um grupo e mesmo a
vontade do individuo podem gerar mudanças tanto quanto forças impessoais como a
produção material e o crescimento demográfico.
Para Stone, os historiadores do futuro criticarão os “historiadores cientistas” dos
anos 50-60 por não levado em conta, adequadamente, o poder, a organização e a decisão
política. Assim, por reconhecer a importância do poder, das decisões políticas
individuais, os historiadores deverão retornar à narração. Conforme o autor, as técnicas
quantitativas da história analítica e estrutural podem chegar a bons resultados, mas
também podem sair de controle, gerando resultados que não resolvem os grandes
problemas históricos. Assim, o retorno da narrativa representa a perda do encanto com o
determinismo econômico e demográfico e coloca novas questões, impossíveis de serem
respondidas pela história estrutural.
Para Stone, o próprio Lucien Febvre, no interior dos Annales, sempre levou em
conta as mudanças intelectuais, psicológicas e culturais como variáveis independentes,
mas a orientação “científica”, voltada para o econômico e o social no conteúdo, e
estrutural e quantitativo na forma, acabou predominando. A partir do contato com a
antropologia a narração voltou a ganhar força dentro dos Annales, com novos interesses
que só poderiam ser tratados de maneira narrativa: emoções, comportamentos, valores,
indivíduos, crenças, ideias, costumes, etc.
Diante disso, para ao autor, com a perda do crédito no modelo determinista de
explicação histórica, passa-se a reconhecer o poder de transformação das culturas, dos
grupos, dos indivíduos, e não só de forças econômicas e sociais. Ou seja, a dimensão
política recuperou sua força de modo que somente a partir da narração se pode analisar
sujeitos, ações e acasos, não pretendendo responder o “porquê” e questionando a
eficácia quantitativa.

POSSIVEL CONCLUSÃO
Tanto a Nova História Política, representada por Remond quanto a retomada da
narrativa buscam alternativas às proposições dos Annales, mas sem desconsiderar
totalmente suas contribuições. Ambas as correntes procuram ir além das analises
estruturais e quantitativas e considerar aquilo que não pode ser explicado por meio de
grandes relações de causalidade como comportamentos políticos, decisões políticas
individuais ou de grupos, as crenças, ideias e símbolos políticos, no entanto não o fazem
de maneira linear, universal e teleológica como a narrativa política tradicional, mas
procuram considerar as temporalidades mais amplas e as especificidades das sociedades
e dos problemas que se constituem enquanto objetos da investigação histórica.

Em “História e Teoria”, José Carlos Reis coloca que através dos Annales se deu
a passagem da historia narrativa tradicional para a história-problema. A primeira,
teleológica, coloca eventos únicos e incomparáveis numa continuidade que procura ver
um “sentido”. Essa narrativa busca “mostrar o que de fato aconteceu”, reconstituindo os
fatos passados. Seus objetos eram quase unicamente as elites e os grandes eventos
políticos, e seu sentido também era político: legitimar a ordem vigente.
Contra esta perspectiva, a história-problema coloca a impossibilidade de narrar
os fatos como aconteceram. É o historiador quem delimita seu objeto e faz perguntas ao
passado, e para isso deve conceituar e analisar. Assim, a história-problema passa a tratar
não de eventos, indivíduos, política e sim de estruturas, conjunturas, temporalidades,
sociedades.
Com a Nova História Política, na segunda metade do século XX, principalmente
a partir dos trabalhos iniciados por Remond, a história-problema passa a ser vista como
excessivamente abstrata, sem eventos e homens, ignorando motivos, intenções e
sujeitos. Passa-se então a propor novas formas de tratar a história política, que se afasta
da perspectiva linear e efêmera da narrativa política tradicional. Para Remond, é por
meio do político que o historiador pode chegar às camadas mais profundas do tecidos
social... (até 24)

No entanto, mesmo diante destas mudanças, Nora passa a tratar do retorno do


fato. Para o autor, o fato já não era o mesmo do século XIX, uma vez que a perspectiva
factual que se procurava abandonar era a que ordenava cronologicamente series de
acontecimentos, com o intuito de restituir o passado no presente. O fato a ser reabilitado
era o acontecimento visto através de um novo prisma historiográfico, que buscava fazer
aparecer o presente daquele passado pelo prisma dos acontecimentos, que se relacionam
a uma visão de futuro.
[NORA – HIST POSIT]
Ainda, é importante salientar que o retorno do acontecimento está intimamente
ligado ao papel dos mass media nas sociedades modernas que restabelecem a
importância do acontecimento como um “momento fundador”, desse modo os próprios
mass media fazem parte da construção do acontecimento ao publicizarem as noticias,
algo de fundamental relevância, bem como característica, da história contemporânea.

COMPLEMENTO CONCLUSÃO
Na história política tradicional, bem como na narrativa tradicional, o
acontecimento político é o principal objeto, mas colocado, conforme os paradigmas da
época, principalmente associados ao positivismo, de maneira teleológica, linear e com
foco nos grandes personagens e fatos políticos. No século XX, os Annales rompem com
essa perspectiva, mas colocam o político como algo de pouca importância e a narrativa
como uma forma inadequada de se escrever a história. No entanto, na segunda metade
do mesmo século, renova-se o interesse pela política e pela narrativa, mas a partir de
outras perspectivas, temas, abordagens, métodos, etc. Passa-se a prezar por uma história
menos estrutural e “impessoal”, e o foco passa a repousar nos indivíduos, nos grupos,
nos comportamentos, símbolos, crenças, como elementos importantes para o
historiador.

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