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management / Business Breakfast Publituris Hotelaria by Roca

O negócio
da gestão
profissionalizada.
O 3.º Business Breakfast Publituris Hotelaria focou-se na gestão de
activos hoteleiros. Margarida Almeida, da Amazing Evolution; Francisco
Nogueira de Sousa, da Blueshift; Marco Rodrigues, da OCRAM; e Miguel
Velez, da Unlock Boutique Hotels; foram os convidados desta edição.

Texto Patrícia Afonso Fotografia Frame it

O NEGÓCIO DA GESTÃO DE ACTIVOS experiência que tínhamos – a minha não era de


hoteleiros não é propriamente novo. Teve o seu hotelaria –, poder criar outras formas de aproxi-
‘boom’ com a crise económica que assolou o mação à gestão de activos, com racionais que, até
País, e o mundo, mas se os tempos conturbados então, eram completamente inexistentes.”
ficaram para trás, o mesmo não se pode dizer A carteira de clientes começou com “as institui-
destas empresas. Pelo contrário, quem já exis- ções financeiras, depois vieram os particulares,
tia, evoluiu e continua a dar cartas no merca- os family offices, e, agora, acrescentam-se os
do. Outros, analisaram o mercado, viram novas fundos privados, sobretudo internacionais, que
oportunidades e criaram o seu negócio. querem investir no País e precisam de um local
Mas que negócio é, hoje, a gestão de activos? operator partner”.
Como é que estão no mercado e como é que Francisco Nogueira de Sousa, CEO e funda-
vêem o destino? E o futuro? Foram estas ques- dor da BlueShift, traz uma “experiência muito
tões que nos levaram a juntar quatro respon- parecida”. “A única diferença é que, hoje em
sáveis de empresas diferentes naquele que é dia, somos contactados maioritariamente por
o 3.º Business Breakfast Publituris Hotelaria proprietários de hotéis, quando o negócio não
powered by Roca, que teve lugar na Roca Lis- lhes está a correr conforme tinham pensado.”
boa Gallery. Margarida Almeida, da Amazing “E começamos a sentir agora uma procura
Evolution; Francisco Nogueira de Sousa, da imensa de pessoas que se candidataram ao
Blueshift; Marco Rodrigues, da OCRAM; e 2020 e cujo período de carência está a termi-
Miguel Velez, da Unlock Boutique Hotels; são nar e começam a aperceber-se que não está a
os protagonistas deste debate. correr como o previsto.”
A BlueShift assinala, ainda, “uma transformação
O negócio engraçada na forma como estamos a comunicar.
A Amazing Evolution e a Blueshift são as empre- Começámos com instituições financeiras e o
sas mais antigas entre as convidadas. Fundadas tipo de relação e linguagem que se cria para esta
em 2012, nasceram como resposta às dificul- evolução ao longo dos últimos cinco anos é in-
dades na gestão de activos hoteleiros na altura. crível”, diz Francisco Nogueira de Sousa, preci-
Margarida Almeida, managing partner e funda- sando que “chegámos a um ponto em que é tudo
dora, considera que “houve uma evolução muito tão diferente que quase não lhes importam coi-
grande”: “Hoje, é uma gestão muito mais profis- sas que para nós eram quase que métricas funda-
sional do que era há dez anos. Quando a crise se mentais e é dada importância a coisas que, para
instalou, a maior parte dos projectos era gerida nós, tem uma relevância muito significativa”.
directamente pelos particulares ou pelas marcas. Cronologicamente, segue-se o aparecimento da
Abriu-se aí uma oportunidade, no caso da Ama- Unlock Boutique Hotels, numa lógica muito di-
zing, e penso que é transversal, que foi, com a ferente das anteriores. Miguel Velez, fundador e >>>

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CEO, explica que a empresa surgiu de um “exer- FRANCISCO dos turistas”. Algo que, mesmo não havendo
cício de marketing”. “Na altura achámos que NOGUEIRA qualquer crise no futuro mais próximo, poderá
realmente os hotéis mais pequenos tinham um DE SOUSA impactar o preço.
problema de dimensão e a ideia foi tentar juntá- E MIGUEL O CEO da Unlock defende que a “elasticidade
los e, de alguma maneira, criar um conjunto de VELEZ, do preço” acaba sempre por quebrar e que para
serviços partilhados. Depois começámos adqui- CEOs e founders que o preço suba é preciso que todo o destino
rir unidades e, agora, temos um misto dos dois da BlueShift o faça. “Não estamos sozinhos no mercado, a
negócios”. O gestor fala, também, nos términos e da Unlock elasticidade de preço vai até uma certa altura,
dos períodos de carência de dos diversos fundos Boutique Hotels, portanto é preciso que os outros subam para
e alerta para a taxa de crescimento de quartos respectivamente subirmos um pouco mais. E o problema do ex-
prevista no futuro. Mas já lá vamos. cesso da oferta é que, ao aumentar o número
Falta-nos apresentar a OCRAM. O elemento de quartos a um ritmo superior ao que cresce a
mais recente na área. Marco Rodrigues, mana- procura, mesmo em taxas de crescimento ace-
ging partner – que traz consigo experiência na leradas que estamos a ter, leva obrigatoriamen-
hotelaria –, explica que a empresa nasceu “efec- te a que o mercado em geral faça uma pressão
tivamente da operação”, há um ano. “Fomos sobre o preço.”
abordados por um banco, que nos perguntou se Uma consideração na qual Margarida Almeida
estaríamos interessados na gestão de um activo. não se revê a 100%. “Depende do posiciona-
Começámos como esta unidade e melhorámos mento que quisermos. Faço isso diariamente
muito a rentabilidade do próprio hotel. Depois, e depende daquilo definimos para o projecto.
numa outra frase, criámos a marca.” E eu não cedo. Neste momento, não baixo o
preço. Temos a nossa métrica anual, que varia
Oferta turística e preço consoante a taxa de ocupação e da época, mas
A subida do preço médio em Portugal foi um chega a um limite que não baixo”, explica a res-
dos temas que mais debate criou entre os con- ponsável da Amazing.
vidados e que, como não poderia deixar de ser, “É verdade que também estamos num ciclo po-
levou à questão da oferta, a existente e a que sitivo e, como tal, temos de esperar pelos tem-
está projectada. pos menos bom, que espero que tardem. Mas
É unânime entre os gestores que o preço prati- acho que é esse o grande desafio: criar produtos
cado em Portugal não é o desejado. Mas a sua diferenciadores. Acho que faltam marcas inter-
subida ou a forma como o fazer gera mais atritos. nacionais de referência em Lisboa, no Algarve,
Miguel Velez começa por falar na oferta turísti- no Porto e no Interior. Também faço a gestão
ca e na sua perspectiva de aumento, afirmando de hotéis no Interior e sei quão difícil é. Isso ia
que “a taxa de crescimento de quartos dispo- ajudar a aumentar o nosso preço. Agora, têm de
níveis é muito superior a taxa de crescimento ser marcas diferenciadoras”, salienta. >>>

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>>> operação: “Agora estão todos a tentar realinhar


as agulhas, a tentar fazer um equilíbrio, mas a
verdade é que a tour operação enche um perí-
odo de meses muito superior. Começa muito
mais cedo e acaba mais tarde.”
Marco Rodrigues mostra-se de acordo com Mi-
guel Velez, avançando que a dependência deste
negócio no Algarve ronda os 40%; enquanto
Margarida Almeida confessa não ter este tipo de
negócio, mas foca a necessidade de diferencia-
ção e inovação para que esta dependência não se
dê. “Penso que há um trabalho que temos todos
de fazer. Não nos podemos resignar a isso, não
digo que os tour operadores não são importan-
tes, mas não podem ficar com a fatia maior do
negócio”, defende a responsável da Amazing.
Miguel Velez, que concorda de fundo com o
problema da falta de diferenciação, vai, mais
uma vez, directo ao assunto quando fala no
problema do investimento que tem de ser pago.
Francisco Nogueira de Sousa usa a palavra para
falar na origem destes desafios: “Creio que o que
o grande problema está na forma em como esses
hotéis são feitos: não são criados conceitos, as
pessoas não pensam em inovação, diferenciação
e, depois, estão, dependentes de terceiros ou do
próprio mercado. Se criarem o próprio mercado,
_ isso não sucede da mesma forma.”
Embora concorde com a necessidade de diferen- AMAZING No entanto, o responsável da BlueShift faz,
ciação, Miguel Velez é directo ao dizer que, “mes- EVOLUTION, também, referência à “pressão do proprietário
mo que alguns produtos sejam diferenciadores e Margarida Almeida, em pagar as contas”, que, por vezes, acaba por
tenham marcas muito especificas, não conseguem managing partner levar ao negócio da tour operação com o intuito
continuar o seu caminho normal de subida do e founder de equilibrar a caixa.
preço porque a elasticidade acaba por partir”. A Madeira depara-se com um problema maior
Marco Rodrigues adiciona outra variável à dado negócio assente na tour operação.
equação, numa área concreta do País: a “falta
de concorrência” no Interior. Falta de recursos e salários
Mas concorrência esta que seja diferenciadora Outro dos desafios apontados pelos gestores de
e não só porque os tempos convidam ao inves- activos hoteleiros, e no qual são consensuais, é
timento, concordam os gestores. a falta de pessoal. O tema foi referido por Mar-
co Rodrigues, segundo o qual, esta área assume
Tour operação e investidores proporções ainda mais complicada no Interior.
A conversa sobre o preço leva, invariavelmente, O responsável da OCRAM refere, também, a
ao debate sobre a tour operação e a dependên- necessidade de haver mais formação.
cia do sector em determinadas regiões, como é Miguel Velez vai mais longe e aponta algumas
o caso do Algarve e da Madeira. razões para esta falta de pessoal: “Porque há
É Miguel Velez que traz o assunto para cima da pessoas que não querem trabalhar, por um con-
mesa, referindo que, apesar de não existirem junto de outros motivos e, claro, porque não se
sinais de crise, a verdade é que o Algarve “já paga especialmente bem no sector. E não se paga
começou a ter problemas nas vendas” devido não é porque alguém anda a meter dinheiro no
ao ressurgimento de mercados como a Turquia bolso, é porque não é possível e isso advém de
e a Grécia e ao fenómeno Brexit. um baixo preço médio.” O aumento salarial só é
“Há muitos hotéis no Algarve que estão 50% possível alterar através da subida de preço, o que
abaixo de reservas para o Verão do que esta- tem de ser feito “pela qualidade e por posicionar
vam no ano passado. E é um problema de tour o País como um destino de qualidade”.
operação”, afirmou, ressalvando que a maioria Francisco Nogueira de Sousa também fala nos
dos projectos na região está dependente da tour ordenados “miseráveis” e acrescenta a necessi- >>>

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>>> dade de manter os colaboradores motivados e


com perspectivas de carreira.

Serviço e profissionalismo
Margarida Almeida acredita num futuro do
mercado e do negócio “risonho”, mas alerta para
os “factores que não controlamos”. “Não vejo o
futuro como sombrio, há uma parte que está nas
nossas mãos, que é criar coisas novas e diferentes
e dar serviço”, algo do qual a gestora não abdica
como característica fundamental no desenvolvi-
mento do Turismo em Portugal, mas que, con-
fessa, não tem a certeza se o mercado está ciente.
Marco Rodrigues é da opinião de que “o mer-
cado vai estabilizar” e afirma: “Lisboa já se
enquadra como um mercado bem sedimenta-
do a nível mundial. O Porto ainda esta numa
fase sensível, que ainda não se equilibrou como
mercado e é fundamental termos as duas maio-
res cidades do País a trabalharem bem.”
“Concordo a 1000% quando a Margarida diz
que é preciso serviço. Sou um grande defensor
de serviço, não consigo partilhar um bom pre-
ço médio se, de facto, não tiver um bom ser-
viço. Agora o problema é precisamente a falta
de recursos humanos, não só no Interior, mas
no Litoral”, recorda o managing partner da
OCRAM, salientando que “só podemos pro-
videnciar um bom serviço se tivermos quadros
para tal e não temos”. “As fornadas que saem
das escolas actualmente são muito inferiores à _
procura”, salienta. OCRAM, fazem uma avaliação apenas do que conhecem,
“Julgo que o verdadeiro paradigma da hotelaria Marco Rodrigues, querem uma análise qualitativa de algo e esta
em Portugal não passa por analisar se vai cres- managing partner indústria é muito mais do que é o óbvio”, ex-
cer ou não, passa por arranjar a melhor estraté- plica Francisco Nogueira de Sousa, adiantando
gia para que esse mercado se mantenha e isso é o que diz serem dois “factores cruciais”: a ex-
feito através do serviço. Se não vamos ter de co- periência do cliente, primariamente referia por
meçar a importar”, conclui Marco Rodrigues. Margarida Almeida; e os colaboradores. “Vou
Francisco Nogueira de Sousa retoma o assunto parecer um pouco romântico, mas é nisto que
dos salários, para dizer: “Pagamos miseravel- acredito: não há nada mais importantes que os
mente às pessoas e começa por aí: esta é uma nossos colabores e as nossas equipas. E as equi-
indústria que se tornou pouco atractiva para pas sentirem-se que realmente estamos empe-
se trabalhar. Como ser humano, se tiver outra nhados em ajudá-los a crescer e desenvolverem-
opção que me chateia metade ou na qual não se, conseguimos reter talento.”
tenho as mesmas preocupações, e não tiver uma A necessidade de mais marcas internacionais
perspectiva de carreira ou que vou crescer, por- no País foi igualmente consensual entre os ges-
que é que aceito uma proposta de trabalho?” tores, que falam no interesse das insígnias, mas
Para o responsável da BlueShift, “é nossa res- explicam que o RevPar em Portugal, um dos
ponsabilidade tornar a indústria atractiva”. critérios de avaliação, não é atractivo.
“Penso que o maior problema que vivemos nes- Por fim, os gestores falam na “falta e profissio-
te tempo, quando as coisas estão a correr bem, nalismo” que existe na gestão hoteleira, como
é ter administradores que vêm de áreas comple- denominou Francisco Nogueira de Sousa e no
tamente diferentes a pensarem que são o máxi- qual se reviram os homólogos. E neste capítulo
mo e que percebem muito disto e esquecem-se entram os investidores que não se estão a preca-
que andamos aqui há mais de 20 anos, já passa- ver para o próximo ciclo económico, mas tam-
mos por ‘ups’ e ‘downs’ e criámos resistências. bém os projectos fruto de fundos e cujo período
São pessoas que entram numa altura de ‘up’ e de carência está a terminar. h

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