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É importante destacar que um texto filosófico não é, a priori, uma narração, mas uma
dissertação e uma dissertação argumentativa, não expositiva. Nesse sentido, ele
não visa a transmitir informações como, por exemplo, um texto jornalístico. O texto
filosófico, de um modo geral, propõe uma tese e a defende através de argumentos.
Ele não é um texto literário e a elegância de estilo, além de não ser obrigatória, pode
constituir uma inimiga do rigor e da precisão.
Entender um texto é ser capaz de "traduzi-lo", isto é, torná-lo mais claro, mais
explícito do que ele é originalmente, de modo que nos tornemos aptos a explicá-lo, a
torná-lo compreensível a outros leitores. O entendido, portanto, é atingir o sentido do
texto ou aquilo que ele objetivamente diz.
No entanto, nem sempre entendemos um texto, o que pode ou não estar relacionado
ao seu nível de dificuldade. De qualquer modo, o não entendimento pode ser
superado. Quando não se entende um texto – ou uma passagem dele – há sempre
um motivo para isso.
Muitas vezes, não entendemos um texto filosófico porque não possuímos os pré-
requisitos necessários para entendê-lo. Muitas vezes, um filósofo escreve um livro
comentando ou contextualizando a obra de outro filósofo e, se você desconhecer a
referência à obra anterior, dificilmente vai captar com precisão o sentido daquela
que está lendo. Assim, é preciso preencher os pré-requisitos, antes de ir adiante.
Deixe suas crenças de lado
Por outro lado, o não entendimento pode ser proveniente de nossas próprias
crenças que se transformam num empecilho à compreensão das ideias alheias. Se
isso ocorre – em geral certos estados emocionais permitem identificar quando isso
ocorre –, devemos procurar separar claramente as nossas crenças das ideias do
autor e não discutir com elas. Não podemos deixar, neste momento, que nossa
opinião interfira e distorça o entendimento.
Acertar o foco
Em especial numa época em que se usam com frequência metáforas do tipo "a
minha leitura de...", "a sua leitura de...", "a leitura que Fulano fez de...", é importante
deixar claro que a leitura objetiva de um texto é sempre uma mesma leitura.
Ninguém descobre no texto o que nele não existe. A originalidade de uma leitura
específica consiste em centrar o foco num aspecto particular que talvez tenha
passado despercebido a outros leitores ou ainda que se pode desvelar com maior
nitidez.
Aliás, aqui é bom lembrar que algumas palavras de uso corriqueiro podem ter um
sentido bem mais específico ou mais elaborado em filosofia. Você certamente sabe
o que significa a palavra "substância", mas será capaz de dizer o sentido que ela
tem em um texto de Aristóteles? Para isso, você pode recorrer a dicionários
específicos de filosofia.
Desconstrução semântica
Pois bem, é preciso saber identificar cada um desses componentes e, a partir daí,
estabelecer uma hierarquia, ou seja, uma ordem entre o que é mais importante e o
que é menos importante, o que é essencial e o que é acessório, o que é primordial e
o que é secundário.
Desse modo, você vai purificar o texto, libertá-lo de tudo que é contingente e estará
diante de suas ideias básicas. Com isso, o texto se tornará muito mais breve,
certamente perderá sua fluência original, mas ganhará em troca uma ordem mais
clara. A partir desse ponto, você já estará apto a concordar com o que é dito ou
discordar disso, sabendo as razões da discordância.
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