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Manual de

MATERIAIS DENTÁRIOS

Profª Drª Fernanda Panzeri Pires de Souza


ÍNDICE

1 INTRODUÇÃO À CIÊNCIA DOS MATERIAIS 10

1.1 INTRODUÇÃO 11
1.2 DEFINIÇÃO DE MATERIAIS 11
1.3 A CIÊNCIA DOS MATERIAIS DENTÁRIOS 12
1.3.1 HISTÓRICO DOS MATERIAIS DENTÁRIOS 12
1.4 OS MATERIAIS DENTÁRIOS SÃO SEGUROS? 13
1.4.1 BIOMECÂNICA 13
1.4.2 REGULAMENTOS E PADRÕES DOS MATERIAIS DENTÁRIOS 13
1.5 RELAÇÃO COM AS DEMAIS DISCIPLINAS DA ODONTOLOGIA 14
1.6 MATERIAIS DENTÁRIOS NA ATUALIDADE 14

2 PROPRIEDADES MECÂNICAS DOS MATERIAIS DENTÁRIOS 16

2.1 INTRODUÇÃO 17
2.2 ESTRUTURA DA MATÉRIA 17
2.3 PROPRIEDADES DOS MATERIAIS ODONTOLÓGICOS 17
2.4 PROPRIEDADES MECÂNICAS: 17
2.4.1 TENSÃO E DEFORMAÇÃO: 18
Tipos de tesões e deformações 19
Relações entre tensão e deformação 19

3 PROPRIEDADES FÍSICAS DOS MATERIAIS DENTÁRIOS 27

3.1 REOLOGIA 28
3.1.1 ELASTICIDADE E VISCOELASTICIDADE: 29
3.2 COR 30
3.3 PROPRIEDADES TÉRMICAS 32

4 PROPRIEDADES BIOLÓGICAS DOS MATERIAIS DENTÁRIOS 35

4.1 INTRODUÇÃO 36
4.2 OS DENTES 36
4.2.1 O ESMALTE 38
4.2.2 A DENTINA 38
4.2.3 A POLPA 39
4.3 CAUSAS DE REAÇÕES PULPARES 39
4.3.1 MICROINFILTRAÇÃO 40
4.3.2 ALTERAÇÕES TÉRMICAS 40
4.3.3 GALVANISMO 40
4.4 INFLUÊNCIA DA IDADE DO PACIENTE NA RESPOSTA PULPAR: 41
4.5 TOXIDIDADE DO MERCÚRIO 41
5 GESSOS ODONTOLÓGICOS 43

5.1 INTRODUÇÃO 44
5.2 OBTENÇÃO DO GESSO 44
5.3 REAÇÃO DE PRESA 45
5.4 MANIPULAÇÃO 46
5.5 TEMPO DE PRESA 46
5.5.1 CONTROLE DO TEMPO DE PRESA 47
5.6 RELAÇÃO ÁGUA/PÓ 48
5.7 EXPANSÃO DE PRESA 49
5.7.1 CONTROLE DA EXPANSÃO DE PRESA 50
5.8 EXPANSÃO HIGROSCÓPICA DE PRESA 50
5.9 TIPOS DE GESSO 52
5.10 CONSIDERAÇÕES SOBRE O CONTROLE DE INFECÇÕES 53

6 INTRODUÇÃO AOS MATERIAIS DE MOLDAGEM 58

6.1 INTRODUÇÃO 59
6.2 REQUISITOS DOS MATERIAIS DE MOLDAGEM 59
6.3 CLASSIFICAÇÃO DOS MATERIAIS DE MOLDAGEM 59

7 HIDROCOLÓIDES 61

7.1 COLÓIDES 62
7.2 OS HIDROCOLÓIDES 62
7.2.1 COMPOSIÇÃO E REAÇÃO DE GELEIFICAÇÃO DO ALGINATO 62
7.2.2 ESTRUTURA DO GEL 63
7.2.3 CONTROLE DO TEMPO DE GELEIFICAÇÃO 64
7.2.4 MANIPULAÇÃO 65
7.2.5 PROPRIEDADES 66
Resistência 66
Reprodução de detalhes 67
Estabilidade Dimensional 68

8 ELASTÔMEROS 72

8.1 INTRODUÇÃO 73
8.2 POLISSULFETO 73
8.2.1 COMPOSIÇÃO 73
8.2.2 REAÇÃO DE PRESA 74
8.2.3 MANIPULAÇÃO 74
8.2.4 PROPRIEDADES 76
Tempo de presa 76
Elasticidade 77
Reologia 78
Estabilidade dimensional 78
8.2.5 APLICAÇÕES 78
8.3 SILICONAS POR CONDENSAÇÃO 79
8.3.1 COMPOSIÇÃO 80
8.4 REAÇÃO DE PRESA 80
8.4.1 MANIPULAÇÃO 80
8.4.2 PROPRIEDADES 81
Tempo de presa 81
Elasticidade 81
Reologia 81
Estabilidade dimensional 81
8.4.3 APLICAÇÕES 82
8.5 SILICONAS POR ADIÇÃO 82
8.5.1 COMPOSIÇÃO 82
8.5.2 REAÇÃO DE PRESA 82
8.5.3 MANIPULAÇÃO 82
8.5.4 PROPRIEDADES 83
Tempo de presa 83
Elasticidade 83
Reologia 84
Estabilidade dimensional 84
8.5.5 APLICAÇÕES 84
8.6 POLIÉTER 84
8.6.1 COMPOSIÇÃO 84
8.6.2 REAÇÃO DE PRESA 84
8.6.3 MANIPULAÇÃO 85
8.6.4 PROPRIEDADES 85
Tempo de presa 85
Elasticidade 85
Estabilidade dimensional 85
8.6.5 APLICAÇÕES 86
8.7 CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE ELASTÔMEROS 86
8.7.1 CONSIDERAÇÕES TÉCNICAS 86

9 MATERIAIS DE MOLDAGEM ANELÁSTICOS 91

9.1 INTRODUÇÃO 92
9.2 GODIVAS 92
9.2.1 COMPOSIÇÃO 92
9.2.2 TEMPERATURA DE FUSÃO 93
9.2.3 PROPRIEDADES TÉRMICAS 93
9.2.4 ESCOAMENTO 94
9.2.5 DISTORÇÃO 94
9.2.6 PLASTIFICAÇÃO 94
9.2.7 REQUISITOS PARA UMA GODIVA 94
9.3 PASTA DE ÓXIDO DE ZINCO E EUGENOL 95
9.3.1 COMPOSIÇÃO 96
9.3.2 QUÍMICA 96
9.3.3 TEMPO DE PRESA 96
Controle do Tempo de Presa 97
9.3.4 CONSISTÊNCIA E ESCOAMENTO 97
9.3.5 RIGIDEZ E RESISTÊNCIA 98
9.3.6 ESTABILIDADE DIMENSIONAL 98
9.3.7 TÉCNICA DE ESPATULAÇÃO 98
Considerações Gerais 99

10 CIMENTOS ODONTOLÓGICOS 102

10.1 INTRODUÇÃO 103


10.1.1 USO E CLASSIFICAÇÃO DOS CIMENTOS ODONTOLÓGICOS 104
10.2 CIMENTO DE FOSFATO DE ZINCO 105
10.2.1 COMPOSIÇÃO E PRESA 106
10.2.2 TEMPO DE TRABALHO E DE PRESA 106
Fatores que interferem no tempo de presa 106
10.2.3 PROPRIEDADES 107
10.2.4 PROPRIEDADES BIOLÓGICAS 107
10.2.5 RETENÇÃO 108
10.2.6 MANIPULAÇÃO 108
10.2.7 VANTAGENS E DESVANTAGENS 110
10.2.8 APLICAÇÕES 110
10.3 CIMENTOS DE ÓXIDO DE ZINCO E EUGENOL 111
10.3.1 COMPOSIÇÃO E PRESA 111
10.3.2 PROPRIEDADES 111
10.3.3 EFEITO BIOLÓGICO 112
10.3.4 MANIPULAÇÃO 112
10.3.5 VANTAGENS E DESVANTAGENS 112
10.4 CIMENTOS DE IONÔMERO DE VIDRO 112
10.4.1 APLICAÇÕES 112
10.4.2 CLASSIFICAÇÃO 113
10.4.3 COMPOSIÇÃO E PRESA 113
Ionômeros de vidro convencionais 113
Ionômeros de vidro modificados por metais 114
Ionômeros de vidro modificados por resinas 114
10.4.4 PROPRIEDADES 115
Adesividade 115
Liberação de Flúor 115
10.4.5 EFEITOS BIOLÓGICOS 116
10.4.6 MANIPULAÇÃO 116
10.4.7 APRESENTAÇÃO COMERCIAL 116
10.4.8 VANTAGENS E DESVANTAGENS 117
10.5 CIMENTOS DE HIDRÓXIDO DE CÁLCIO 117
10.5.1 APLICAÇÕES 118
10.5.2 FORMAS DE APRESENTAÇÃO 118
10.5.3 MANIPULAÇÃO DO SISTEMA PASTA/PASTA 119
10.5.4 PROPRIEDADES 119
10.5.5 EFEITOS BIOLÓGICOS 119
10.5.6 VANTAGENS E DESVANTAGENS 120
10.6 SOLUBILIDADE E DESINTEGRAÇÃO DOS CIMENTOS
ODONTOLÓGICOS 120
10.7 INDICAÇÃO DOS CIMENTOS 120

11 RESINAS ACRÍLICAS 126

11.1 INTRODUÇÃO 127


11.2 REQUISITOS PARA UMA RESINA ODONTOLÓGICA 127
11.2.1 CONSIDERAÇÕES BIOLÓGICAS: 127
11.2.2 PROPRIEDADES FÍSICAS: 127
11.2.3 PROPRIEDADES ESTÉTICAS: 128
11.2.4 CARACTERÍSTICAS DE MANIPULAÇÃO: 128
11.2.5 CONSIDERAÇÕES ECONÔMICAS: 128
11.3 ESTRUTURA DAS RESINAS 128
11.4 POLIMERIZAÇÃO 128
11.4.1 ESTÁGIOS NA POLIMERIZAÇÃO POR ADIÇÃO 129
Indução: 129
Propagação: 130
Terminação: 130
Transferência de cadeia: 130
11.4.2 INIBIÇÃO DA POLIMERIZAÇÃO: 130
11.5 TIPOS DE RESINAS ODONTOLÓGICAS: 131
11.5.1 RESINAS ACRÍLICAS 131
11.5.2 FASES DE POLIMERIZAÇÃO 131
Fase Arenosa 131
Fase Fibrilar 131
Fase Plástica 131
Fase Borrachóide 132
Fase Densa 132
11.6 RESINAS ACRÍLICAS TERMICAMENTE ATIVADAS 132
11.6.1 INDICAÇÃO 132
11.6.2 COMPOSIÇÃO 132
11.6.3 PROPORÇÃO POLÍMERO:MONÔMERO 132
11.6.4 POLIMERIZAÇÃO 133
11.7 RESINA ACRÍLICA QUIMICAMENTE ATIVADA 137
11.7.1 INDICAÇÕES 137
11.7.2 COMPOSIÇÃO 137
11.8 PROPRIEDADES DAS RESINAS ACRÍLICAS 138
11.8.1 CONTRAÇÃO DE POLIMERIZAÇÃO 138
11.8.2 POROSIDADE 138
11.8.3 ABSORÇÃO DE ÁGUA 138
11.8.4 RESISTÊNCIA 139
11.8.5 ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE RESINAS ACRÍLICAS TERMICAMENTE
ATIVADAS E RESINAS ACRÍLICAS QUIMICAMENTE ATIVADAS 139
11.9 MATERIAIS A BASE DE RESINA ACRÍLICA 140
11.9.1 RESINA DE REEMBASAMENTO DE PRÓTESES 140
11.9.2 CONDICIONADORES DE TECIDO 140
11.9.3 DENTES DE RESINA 140
11.9.4 MATERIAIS PARA PRÓTESES BUCO-MAXILOFACIAIS 141

12 RESINAS RESTAURADORAS 144

12.1 INTRODUÇÃO 145


12.2 COMPOSIÇÃO 145
12.2.1 MATRIZ 146
12.2.2 PARTÍCULAS DE CARGA 146
12.2.3 AGENTES DE UNIÃO 146
12.3 CLASSIFICAÇÃO DAS RESINAS COMPOSTAS 147
12.3.1 RESINAS COMPOSTAS DE MACROPARTÍCULAS 147
12.3.2 RESINAS COMPOSTAS DE MICROPARTÍCULAS 148
12.3.3 RESINAS COMPOSTAS HÍBRIDAS 148
12.4 MECANISMO DE POLIMERIZAÇÃO 149
12.5 PROPRIEDADES 150
12.5.1 BIOCOMPATIBILIDADE DOS COMPÓSITOS 152
12.6 SISTEMA DE ADESÃO 152
12.6.1 INTRODUÇÃO 152
12.6.2 PROPRIEDADES DA DENTINA 153
Permeabilidade dentinária 154
12.6.3 FORMAÇÃO DA CAMADA HÍBRIDA 154
12.6.4 CONDICIONAMENTO ÁCIDO 156
Condicionamento ácido do esmalte 156
Condicionamento ácido da dentina 156
12.6.5 APLICAÇÃO DO PRIMER 156
12.6.6 APLICAÇÃO DO AGENTE DE UNIÃO 157
12.7 MATERIAIS À BASE DE RESINA COMPOSTA 158
12.7.1 RESINAS COMPACTÁVEIS 158
12.7.2 COMPÔMEROS E IONÔMEROS MODIFICADOS 159
12.7.3 NÚCLEO DE PREENCHIMENTO 159
12.7.4 SELANTES DE FÓSSULAS E FISSURAS 160
12.7.5 CIMENTOS RESINOSOS 160
12.7.6 RESINAS “INTELIGENTES” 160

13 AMÁLGAMA DENTAL 164

13.1 INTRODUÇÃO 165


13.2 HISTÓRICO 165
13.3 TIPOS DE LIGAS 166
13.4 COMPOSIÇÃO 166
13.4.1 LIGAS CONVENCIONAIS 167
Características e função dos componentes: 167
Reação 167
13.4.2 LIGAS COM ALTO CONTEÚDO DE COBRE 168
Reação 168
13.5 RELAÇÃO MERCÚRIO/LIGA 170
13.6 TRITURAÇÃO 171
13.6.1 TEMPO DE TRITURAÇÃO 172
13.7 CONDENSAÇÃO 173
13.8 ACABAMENTO E POLIMENTO 175
13.9 ALTERAÇÕES DIMENSIONAIS 175
13.9.1 EFEITOS DA PROPORÇÃO LIGA/MERCÚRIO: 176
13.9.2 EFEITOS DO TAMANHO DAS PARTÍCULAS: 176
13.9.3 EFEITOS DO FORMATO DAS PARTÍCULAS: 176
13.9.4 EFEITOS DO TEMPO DE TRITURAÇÃO: 176
13.9.5 EFEITOS DA CONDENSAÇÃO: 176
13.9.6 EFEITO DA CONTAMINAÇÃO POR UMIDADE: 176
13.10 RESISTÊNCIA 177
13.11 CORROSÃO 177
13.12 DESEMPENHO CLÍNICO DAS RESTAURAÇÕES DE AMÁLGAMA 178
13.13 TIPOS DE FALHAS 178
13.13.1 CAUSAS DE INSUCESSOS 178
13.14 VANTAGENS 179
13.15 DESVANTAGENS 179
13.16 INDICAÇÕES 179
13.17 REPARO DE RESTAURAÇÕES DE AMÁLGAMA 180

14 PROCESSO DE FUNDIÇÃO 183

14.1 INTRODUÇÃO 184


14.2 DESCRIÇÃO RESUMIDA DO PROCESSO DE FUNDIÇÃO 185
14.3 CERAS PARA FUNDIÇÃO ODONTOLÓGICA 185
14.3.1 COMPOSIÇÃO 186
14.3.2 PROPRIEDADES TÉRMICAS 186
14.3.3 DISTORÇÃO DA CERA 187
14.3.4 MANIPULAÇÃO DA CERA PARA FUNDIÇÃO 187
14.4 CONDUTO DE ALIMENTAÇÃO 189
14.5 REVESTIMENTOS ODONTOLÓGICOS 190
14.5.1 COMPOSIÇÃO 190
14.5.2 EXPANSÃO DO REVESTIMENTO 192
Expansão normal de presa 192
Expansão higroscópica de presa 192
Expansão térmica do revestimento 193
PROPRIEDADES DOS REVESTIMENTOS 194
Resistência 194
Porosidade 194
14.6 ANÉIS DE FUNDIÇÃO 194
14.6.1 SISTEMA DE FUNDIÇÃO SEM ANEL 195
14.7 METAIS E LIGAS METÁLICAS PARA FUNDIÇÃO 195
14.7.1 TEMPERATURA DE FUSÃO 197
14.7.2 MECANISMO DE SOLIDIFICAÇÃO E ESTRUTURA CRISTALINA 198
14.7.3 CLASSIFICAÇÃO DAS LIGAS 200
Ligas de ouro 201
14.7.4 LIGAS DE METAIS BÁSICOS 202
Ligas para metalocerâmica 202
Ligas para prótese parcial removível 202
14.8 PROCESSOS DE FUNDIÇÃO 203
14.8.1 ELIMINAÇÃO DA CERA E AQUECIMENTO 203
14.8.2 MÁQUINA DE FUNDIÇÃO 203
14.9 CAUSAS DE FALHAS NAS FUNDIÇÕES 204
14.9.1 DISTORÇÃO 204
14.9.2 RUGOSIDADE, IRREGULARIDADES E DESCOLORAÇÃO DA SUPERFÍCIE 205
Bolhas de ar 205
Película de água 205
Aquecimento muito rápido 206
Baixo aquecimento 206
Relação água/pó 206
Aquecimento prolongado 207
Temperatura da liga 207
Pressão de fundição 207
Composição do revestimento 207
Corpos estranhos 207
Impacto da liga fundida 208
14.9.3 POROSIDADE 208
14.9.4 FUNDIÇÃO INCOMPLETA 208

15 CERÂMICAS ODONTOLÓGICAS 213

15.1 INTRODUÇÃO 214


15.2 HISTÓRICO 214
15.3 CLASSES DE CERÂMICAS ODONTOLÓGICAS PARA PRÓTESES
FIXAS 215
15.4 COMPOSIÇÃO 215
15.4.1 FELDSPATO 215
15.4.2 MODIFICADORES DO VIDRO 216
15.4.3 OUTRAS ADIÇÕES ÀS PORCELANAS ODONTOLÓGICAS 216
15.5 CARACTERÍSTICAS 216
15.6 FATORES QUE INFLUENCIAM A COR 217
15.7 FABRICAÇÃO DE UMA RESTAURAÇÃO COM PORCELANA FELDSPÁTICA 218
15.7.1 CONDENSAÇÃO 218
15.7.2 QUEIMA (OU COCÇÃO) 219
15.7.3 GLAZEAMENTO 219
15.7.4 RESFRIAMENTO 220
15.8 COROA METALOCERÂMICA 221
15.9 SISTEMAS CERÂMICOS 221
15.10 ESTABILIDADE QUÍMICA 223
15.10.1 DESINFECÇÃO DO MOLDE ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.
1 Introdução à Ciência dos Materiais
Introdução à Ciência dos Materiais 11

1.1 INTRODUÇÃO

O principal objetivo da Odontologia é manter ou melhorar a qualidade


de vida do paciente. Este objetivo pode ser alcançado pela prevenção da
doença, alívio da dor, melhorando a eficiência mastigatória, aprimorando a
fonação e melhorando a aparência. Devido ao fato de muitos desses objetivos
requererem a reposição ou alteração da estrutura dentária existente, há
séculos, os principais desafios têm sido o desenvolvimento e a seleção de
materiais capazes de suportar as condições adversas do ecossistema oral.
Uma das diferenças entre um profissional e um comerciante é que o
primeiro possui conhecimentos básicos com os quais ele pode selecionar e
definir as condições para uma determinada situação, como, por exemplo,
prever ou assegurar o sucesso eventual de um projeto racional. Dessa forma,
um rebitador será o responsável por juntar as barras de uma ponte, mas o
engenheiro é o responsável pelo desenho desta ponte, especificamente nos
pontos onde os rebites devem ser colocados e onde as barras e armações
devam se unir. Além disto, cabe a este último selecionar os materiais para a
estrutura a ser construída. Se o engenheiro desconhece as propriedades
químicas e físicas do aço e outros metais que irão constituir a ponte, a
estrutura sem dúvida irá falhar.
O dentista e o engenheiro têm muito em comum. O dentista deve
analisar as forças que estarão presentes em uma prótese que ele irá construir
e, guiado por tais análises, deverá fazer o desenho desta prótese. Ele deve
possuir um conhecimento suficiente das propriedades físicas dos diferentes
tipos de materiais que utiliza, de modo a poder fazer o melhor julgamento
possível e uma seleção apropriada. Em outras palavras, ele deve estar
preparado para saber se um determinado procedimento odontológico irá
requerer uma liga de ouro, um cimento ou uma resina. Somente conhecendo
as propriedades físicas e químicas de cada um dos materiais estará em
condições de fazer tal julgamento.
Uma vez que o dentista selecionou o tipo de material a ser utilizado, um
produto comercial deve ser escolhido. É intenção dos fabricantes fornecer
materiais de alta qualidade, porém, como a competição é grande, o dentista
deve ser capaz de avaliar as alegações dos fabricantes de maneira inteligente
para sua proteção e de seu paciente, distinguindo fato de propaganda.

1.2 DEFINIÇÃO DE MATERIAIS

Os materiais são substâncias geralmente sólidas com propriedades que


as tornam utilizáveis em produtos e dispositivos desenvolvidos pelo Homem
para preencher suas necessidades físicas, sociais, estéticas, de segurança,
etc. São tradicionalmente classificados em: metálicos, cerâmicos, poliméricos e
conjugados (ou compósitos).
Os materiais interagiram historicamente com o homem e com as
estruturas intelectuais e sociais. O alcance da história dos materiais tem início

Fernanda Panzeri
Introdução à Ciência dos Materiais 12

com a descoberta da existência de propriedades úteis, o que envolve a Arte.


Depois, vem a produção de utensílios em quantidades suficientes para
preencher nossas necessidades, o que requereu a organização industrial e
social de diferentes tipos em diferentes épocas.
Durante os últimos 3 milênios, poucos materiais de aplicações
generalizadas serviram para quase todos os fins; alguns dos quais
descobertos bem antes do ano 1000 a. C. Eles foram largamente aceitos por
terem funcionado suficientemente bem, e os desafios residiam em barateá-los
estendendo seu campo de aplicação. Em todo o período, desde os tempos
clássicos até o fim do séc. XIX, a inovação no campo dos materiais estava na
produção e na aplicação.
Na área dos materiais, a ciência surgiu com muita freqüência a partir de
uma pré-história prática, se beneficiando desta mais do que a prática se
beneficiou da aplicação da teoria.
Todos já ouviram alusões sobre as Eras do Homem baseadas nos
materiais; entre elas a Era do Ouro, da Prata, do Bronze e do Ferro.
Um caso bem conhecido de mudanças sociais forçadas pelos materiais
é o uso dos metais em armamentos. Outras mudanças sociais dignas de
registro são aquelas provocadas pelo papel, pelas tintas, pelo cimento, pelos
plásticos, pelos semicondutores, etc.

1.3 A CIÊNCIA DOS MATERIAIS DENTÁRIOS

A ciência dos materiais dentários envolve o estudo da composição e


propriedade dos materiais e a forma que eles interagem com o ambiente no
qual são colocados.

1.3.1 Histórico Dos Materiais Dentários

Por estranho que possa parecer, existe pouco conhecimento histórico


da ciência dos materiais dentários e de sua manipulação, apesar do fato de a
prática odontológica preceder a era cristã.
A odontologia surgiu como especialidade por volta do ano 3000 a.C.
Embora as inscrições em tumbas egípcias indicarem que os “doutores dos
dentes” eram considerados como médicos especializados, não existem
indícios que estes profissionais praticaram a odontologia restauradora. Coroas
de ouro e ferro eram usadas por fenícios (2.500 a.C.) e os Etruscos (800 a.C.)
são conhecidos como os primeiros a desenvolverem as próteses parciais. O
primeiro a utilizar a folha de ouro para restauração dental foi Johannes
Arcelanus, da Universidade da Bolonha em 1498. Os documentos mais antigos
de implantes dentais são atribuídos aos etruscos no início do ano 700 a. C. Em
± 600 a. C. os maias usavam implantes de segmento de conchas do mar que
eram colocados nos alvéolos dos dentes anteriores. Entretanto, a coloração de
dentes com finalidade decorativa ocorreu muito antes. Incrustações de ouro
marteladas e de pedras e minerais também foram colocadas com razões

Fernanda Panzeri
Introdução à Ciência dos Materiais 13

estéticas ou por tradição ornamental pelos maias e, posteriormente, pelos


aztecas.
A odontologia moderna começou em 1728, quando Fauchard, o “pai da
odontologia”, publicou um tratado descrevendo vários tipos de restaurações
dentárias, inclusive um método para construção de dentaduras artificiais em
marfim. Mais tarde, Pfaff, pela primeira vez, descreveu um método para
moldagem da boca com cera. A partir desse molde seria construído um modelo
com gesso. Em 1792, Chamant patenteou um processo de construção de
dentes de porcelana. A incrustação de porcelana foi introduzida no início do
século XIX.
Até recentemente, pouca informação científica a respeito dos materiais
dentários restauradores estava disponível. Seu emprego era inteiramente
artesanal, e o único teste laboratorial era a boca do paciente. O primeiro
importante despertar de interesse científico ocorreu no meio do século XIX,
quando começaram os estudos do amálgama dental por Black.

1.4 OS MATERIAIS DENTÁRIOS SÃO SEGUROS?

Nenhum dispositivo odontológico, incluindo os materiais restauradores,


é absolutamente seguro. A segurança é relativa, e a seleção e emprego dos
dispositivos ou materiais odontológicos são baseados na pressuposição de
que os benefícios superam os riscos biológicos conhecidos. Os dois principais
efeitos biológicos são as reações alérgicas e as tóxicas. Paracelso, famoso
médico e alquimista suíço, afirmou: “todas as substâncias são venenosas; não
existe uma que não seja um veneno. A dose certa diferencia um veneno de um
remédio”.

1.4.1 Biomecânica

Como o material comporta-se em situações reais é conhecido como


mecânica. Aplicada aos biomateriais, chama-se biomecânica.
Quando um material é colocado ou faz contato com o corpo humano é,
geralmente, designado como biomaterial. Por definição, é um material “não-
vivo” destinado a interagir com sistemas biológicos.

1.4.2 Regulamentos e Padrões dos Materiais Dentários

Para controlar e fiscalizar a qualidade dos materiais odontológicos


colocados no mercado, existem instituições governamentais ou não. Uma
dessas instituições é a ADA (American Dental Association), uma divisão do
Governo Americano que determina as propriedades físicas e químicas dos
materiais dentários e a significância clínica, além de regular o desenvolvimento
de novos materiais, instrumentos e métodos para testes. Essas especificações
são padrões pelos quais a qualidade e as propriedades dos materiais podem
ser aferidas. Elas apresentam os requisitos para propriedades físicas e

Fernanda Panzeri
Introdução à Ciência dos Materiais 14

químicas de um material de modo a assegurar um desempenho satisfatório do


material quando este é adequadamente empregado pelo dentista.
O benefício de tais especificações para a profissão odontológica tem
sido inestimável. O dentista passou a ter critérios de seleção que são
imparciais e realistas. Em outras palavras, se o dentista usa aqueles materiais
que se enquadram numa especificação, ele pode ter certeza que o material
apresentará um desempenho satisfatório. O conhecimento, pelo dentista, dos
requisitos das especificações é importante para que ele tenha habilidade de
reconhecer as limitações do material odontológico com que está trabalhando.
Nenhum material dentário é perfeito no seu propósito restaurador. Ele não
apresentará o mesmo desempenho do órgão original que substituiu.
Atualmente existem 49 especificações da ADA. O número de
especificações têm aumentado rapidamente para encampar materiais e
dispositivos que ainda não eram normatizados. Por outro lado, as
especificações existentes são periodicamente revisadas, em função das
correntes alterações nas formulações dos produtos, bem como pelo aumento
do conhecimento do comportamento dos materiais na cavidade oral.
Outras entidades também colaboram com essa regulamentação. São
elas: a FDA (Food and Drug Administration), FDI (Fédération Dentaire
Internationale) e a ISO (International Organization of Standardization), sendo
que as duas últimas estabelecem especificações para os materiais dentários
em nível internacional.

1.5 RELAÇÃO COM AS DEMAIS DISCIPLINAS DA ODONTOLOGIA

Nem todos os materiais utilizados na Odontologia são estudados por


Materiais Dentários. Por exemplo: anestésicos, medicamentos e agentes
terapêuticos não fazem parte de nossa abordagem. A ciência dos Materiais
Dentários, de modo geral, abrange os tecidos orais naturais (esmalte, dentina,
tecido pulpar) e os materiais sintéticos que são empregadas na prevenção da
cárie dental, para a terapia periodontal, e na reconstrução de estruturas orais
ausentes, danificadas ou comprometidas esteticamente. Estas categorias
incluem materiais empregados nas especialidades odontológicas como
dentística, cirurgia bucomaxilofacial, ortodontia, periodontia, odontopediatria e
prótese.

1.6 MATERIAIS DENTÁRIOS NA ATUALIDADE

Como a sociedade tem mudado, exigindo materiais cada vez mais


duráveis e mais estéticos, a ciência dos materiais deve acompanhar essa
mudança.
Hoje, ao contrário de alguns anos atrás, é possível a restauração de um
dente com porcelana pura (sem a presença de metal) em razão do
desenvolvimento dessas porcelanas, tornando-as mais duras e resistentes.

Fernanda Panzeri
Introdução à Ciência dos Materiais 15

Além disso, o grande avanço da Odontologia foi, sem dúvida, o


desenvolvimento de uma liga de titânio capaz de não causar reação de
rejeição aos tecidos, tornando possíveis os implantes dentais, o que de uma
forma mais convincente vem confirmar que a ciência dos materiais evolui com
a sociedade.
Dentro das fundições odontológicas, os revestimentos, que são
materiais denominados refratários, que formam moldes para receber o metal
líquido e conformar restaurações, têm sido melhorados para proporcionar
fundições mais precisas e de polimento mais fácil. A condição refratária é
importante, pois qualifica o material como estável à altas temperaturas.
Até no campo da cirurgia houve um avanço, com o desenvolvimento da
hidroxiapatita sintética, que é um dos componentes químicos do osso. Ela é
usada nos casos de grandes perdas ósseas por processos de reabsorção,
como também nos casos de malformações faciais, como as fendas palatinas.
Ela propicia uma formação óssea.
Cirurgiões-dentistas e pesquisadores continuarão no século XXI em
busca do “Cálice Sagrado” da Odontologia Restauradora, isto é, do material
restaurador que tenha adesão permanente à estrutura dental, que
esteticamente se combine com a estrutura dental que exiba propriedades
similares aos tecidos dentais e que inicie reparação tecidual.

BIBLIOGRAFIA

ANUSAVICE, J. Padrões de performance para Materiais Dentários. In: ________ Materiais Dentários
de Phillips. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 1ª ed. 1998 p. 1-7.
CRAIG, R. G. ed – Scope and history of restorative materials. In ________. Restorative Dental
Materials. United States, Mosby, 10ª ed. 1996. p. 1-15.
McCABE, J. F. & WALLS, A. W. G. – Science of Dental Materials. In: ________. Applied Dental
Materials. London, Blackwell Science, 8ª ed. 1998. p. 1-3.
VAN NOORT, R. – A historical perspective. In: ________ . Introduction to Dental Materials. London,
Mosby, 1994. p. 5-10

Fernanda Panzeri
2 Propriedades Mecânicas dos Materiais
Dentários
Propriedades Mecânicas dos Materiais Dentários 17

2.1 INTRODUÇÃO

Como todos os materiais empregados pelo homem, os materiais


odontológicos comportam-se de acordo com propriedades particulares a cada
um, próprias dos mesmos e que permitem a eles reagir de modo característico
aos estímulos externos. Quando esticamos um fio ou uma borracha, eles se
comportam de maneiras diferentes. O fio irá se modificar, mas essa mudança
será tão pequena que será difícil perceber. Por outro lado, a borracha se
alongará rapidamente e poderá, até, dobrar de comprimento.
Para entendermos melhor essas propriedades, devemos conhecer
primeiro alguns conceitos fundamentais da estrutura da matéria.

2.2 ESTRUTURA DA MATÉRIA

Matéria pode ser definida como um corpo que tem massa e ocupa um
lugar no espaço e toda matéria pode ser concebida como sendo formada por
um conjunto de pequenas partes até formar estruturas maiores. Essas
unidades estruturais são os átomos.
Os elementos químicos conhecidos são representados por átomos e
apresentam características próprias que os distinguem uns dos outros. Com
exceção dos gases inertes, os elementos químicos nunca são encontrados em
estado estável individualmente como átomo. Em geral, são encontrados em
grupos de dois ou mais átomos devido às forças de atração ou de coesão
entre eles, o que faz com que a distância entre eles seja diminuída, de modo a
permitir uma aproximação. Quando dessa aproximação poderão resultar na
constituição de moléculas, cristais e líquidos.
De acordo com as associações entre os átomos e/ou moléculas, a
matéria pode encontrar-se em um dos três estados físicos conhecidos: sólido,
líquido e gasoso. Os sólidos diferenciam-se dos líquidos e gases por
apresentarem forma e volume definidos, em determinadas temperaturas. Esta
diferença é devida a uma variação na energia cinética dos átomos
constituintes dos mesmos; no caso dos sólidos, o movimento das partículas
que o constituem é mínimo, falando-se que há relativa imobilidade das
mesmas.

2.3 PROPRIEDADES DOS MATERIAIS ODONTOLÓGICOS

As propriedades dos materiais odontológicos podem ser classificadas


em propriedades físicas, propriedades mecânicas, propriedades químicas,
propriedades biológicas, propriedades estéticas e propriedades diversas.

2.4 PROPRIEDADES MECÂNICAS:

Fernanda Panzeri
Propriedades Mecânicas dos Materiais Dentários 18

O estudo das propriedades mecânicas implica no exame das relações


entre um corpo, constituído de determinado material, e as forças que atuam
sobre o mesmo, assim como as conseqüências dessas relações.
Obviamente, diferentes materiais respondem diferentemente à aplicação
dessas forças. Então, como poderemos comparar o desempenho dos materiais
em diferentes aplicações? Para isso, precisamos de algum padrão de
comparação que é independente de tamanho e forma do material. Tendo um
padrão, é possível comparar as propriedades dos diferentes materiais e prever
o comportamento dos objetos.
As bases para tal padrão objetivo são as propriedades chamadas
tensão e deformação. A descrição das propriedades mecânicas dos materiais
está baseada nelas.

2.4.1 Tensão e Deformação:

Se tentarmos afastar, por meio de uma força externa ou carga, um


átomo do seu retículo espacial, haverá uma reação de todo o conjunto, e que
tende a manter o mesmo em posição, ou o faz voltar à posição primitiva
existente antes da aplicação da força externa. Disto se deduz que as partículas
constituintes de um corpo reagem à ação de uma força externa, por uma
reação que é chamada tensão.
Então, quando uma força externa, a força peso, por exemplo, atua sobre
um corpo, provoca uma reação de igual magnitude e de direção contrária
chamada de tensão. Tensão é a força interna que se opõe à força externa,
também chamada de carga. Pode-se definir a tensão como a intensidade da
força interna, ou componente de força, que atua sobre um plano determinado
(área).
Desta forma, quando o dentista coloca uma coroa de liga de ouro em um
dente, ele sabe que quando o paciente morde sobre ela, haverá um
deslocamento de átomos em função da reação que o material apresenta à
carga mastigatória. Mas o interesse real do dentista é na reação total que esta
coroa irá apresentar durante o seu uso clínico. Assim, o que lhe interessa é
saber se houve mudança da forma ou se essa coroa fraturou devido às cargas
a que ficou exposta.
Conforme a magnitude da carga ou tensão correspondente, poderá a
mesma superar ou não a oposição dos átomos. Se a reação à carga, por meio
da tensão, for superada, teremos o aparecimento de deformações.
Deformação de um corpo é a alteração de suas dimensões, por unidade de
dimensão (dimensão total).
As cargas são inicialmente insuficientes, em magnitude, para provocar
deformações do corpo. Com o aumento na magnitude dessa carga, haverá o
aparecimento de deformações, o que indica que a reação interna foi superada.
As deformações poderão ser de dois tipos:
Elásticas: quando desaparecem pela remoção das forças que a
produziu, o que deixa implícito o retorno do corpo às dimensões existentes
antes da aplicação da carga, bem como o restabelecimento das distâncias que
havia entre os átomos.

Fernanda Panzeri
Propriedades Mecânicas dos Materiais Dentários 19

Plásticas ou Permanentes: São as deformações residuais da estrutura,


ou que se verificam após cessar a ação da força externa que as produziu.

Tipos de tesões e deformações

Em relação à direção, as tensões podem ser classificadas em 3 tipos.


Se as cargas forem axiais (no sentido do longo eixo) e aplicadas nos
extremos do corpo, numa mesma direção, porém em sentidos divergentes,
tendendo a distender o corpo, as cargas serão ditas de tração e as tensões
induzidas no corpo chamadas de tensões de tração (Fig. 2-1).
Se as cargas forem aplicadas de modo a tenderem comprimir o corpo,
as cargas serão chamadas de compressão, e as tensões induzidas pelas
mesmas serão chamadas de tensões de compressão (Fig 2-2)
Se as cargas forem aplicadas de modo a provocar uma torção da
substância, como é o caso das forças aplicadas em um corpo em sentido
contrário e em direções diversas, ter-se-á a indução de tensões de torção,
comumente chamadas de tensões de cisalhamento (Fig 2-3).
Na realidade, as tensões de tração, de compressão e de cisalhamento
apresentam-se geralmente em conjunto, sob a forma de tensões complexas,
como é o caso das próteses fixas, quando em função na mastigação (Fig 2-4).

Relações entre tensão e deformação

Tensão e deformação não são propriedades independentes ou não-


relacionadas, mas estão intimamente ligadas e podem ser vistas como um
exemplo de causa e efeito.

Limite de Proporcionalidade

Segundo a Lei de Hooke, as tensões são diretamente proporcionais às


deformações durante as deformações elásticas. Então, quando se aplica uma
carga a um material, este deverá apresentar uma deformação proporcional à
carga. Porém, há um momento em que a carga atinge um nível em que a
deformação deixará de ser proporcional para ser progressivamente maior. Isso
ocorre quando é atingido o limite de proporcionalidade do material.
O limite de proporcionalidade pode ser definido, então, como a maior
tensão capaz de ser suportada por uma estrutura até a qual as tensões sejam
proporcionais às deformações respectivas.

Fernanda Panzeri
Propriedades Mecânicas dos Materiais Dentários 20

Figura 2-1 - Tensão de tração: Mesma Figura 2-2 - Tensão de compressão:


direção e sentidos divergentes Mesma direção e sentidos convergentes

Figura 2-3 - Tensões de cisalhamento: Direções diversas e sentido contrário

Figura 2-4 - Tensões Complexas: Ao mesmo tempo em que há tensão de compressão,


há de tração

Se agirmos de modo inverso, ou seja, libertando um material de


tensões, após cada incremento destas, verifica-se que as deformações, até

Fernanda Panzeri
Propriedades Mecânicas dos Materiais Dentários 21

determinado ponto são elásticas, isto é, recupera suas dimensões originais.


Verifica-se, porém, que ultrapassada uma tensão determinada, a recuperação
não será total, ou seja a elasticidade não é completa e o material apresenta
deformações plásticas ou permanentes. Esta tensão máxima, além da qual a
recuperação do material não é total, advindo à deformação permanente,
determina o limite de elasticidade, podendo ser definido como a tensão
máxima capaz de ser suportada por uma substância de modo que, removida a
carga, o material retorne às suas dimensões originais.
Deve-se lembrar, a esta altura, o conceito inadequado que muitos têm
relativamente à elasticidade. Que seria mais elástico: o aço ou a borracha? O
aço. Sim, pois o limite de elasticidade do aço é maior que o da borracha.
Substância elástica é pois aquela capaz de resistir à ação de tensões de
considerável magnitude, sem deformar-se permanentemente.
Flexibilidade é a propriedade apresentada por determinadas
substâncias, de ser possível de grandes deformações elásticas, com tensões
de magnitude relativamente pequena. Daí dizer-se que a borracha é mais
flexível que o aço.
Para aumentar o entendimento do conceito de elasticidade e verificar o
que ela significa para dois materiais que apresentam elasticidades diferentes,
imagine-se duas molas como as da Fig 2-5, sendo uma mais rígida do que a
outra. A mola 2 é mais rígida do que a mola 1; assim, quando as duas são
submetidas a cargas iguais, a mais rígida é estendida em menor quantidade.
Dobrando-se a quantidade da carga, as molas estendem-se o dobro.
Triplicando a carga, estendem-se o triplo. Dessa forma, podemos ver que,
independente da carga aplicada para cada mola, a proporção de extensão é a
mesma, para cada mola. Entretanto, as deformações das duas molas são
diferentes. Isso porque uma é mais elástica do que a outra.

Módulo de Elasticidade

A relação entre a Tensão e a Deformação, para o intervalo de tensões


que vai até o limite de proporcionalidade é conhecida como Módulo de
Elasticidade. Ela pode ser definida como:

E tensão
E
E=
=
deformação

Conclui-se que quanto menor for a deformação para uma determinada


tensão, maior será o valor do módulo de elasticidade. Quando você tem um
baixo módulo de elasticidade, isso é uma característica de um material flexível,
ou seja, uma tensão aplicada produziu uma grande deformação. Já quando se
tem um módulo de elasticidade alto, temos um material elástico, pois uma
tensão aplicada produziu uma pequena deformação.

Fernanda Panzeri
Propriedades Mecânicas dos Materiais Dentários 22

Figura 2-5 - Diferença de elasticidade em duas molas com rigidez diferente

Dois materiais poderão apresentar limite de proporcionalidade idêntico,


porém módulo de elasticidade diverso. Considere-se, a título de exemplo, dois
materiais A e B, pelo exame do gráfico representado na Fig 2-6. Aplicando-se
a fórmula do módulo de elasticidade, verifica-se que:

Módulo de Elasticidade de A = 15.000/1 = 15.000

Módulo de Elasticidade de B = 15.000/3 = 5.000

Verifica-se, assim, que A é mais elástico que B, pois apresenta maior


módulo de elasticidade. A flexibilidade máxima é diretamente proporcional ao
limite de proporcionalidade e inversamente proporcional ao módulo de
elasticidade; quanto menor este, maior a flexibilidade.

Fernanda Panzeri
Propriedades Mecânicas dos Materiais Dentários 23

Figura 2-6 - Diferença no módulo de elasticidade

Até agora, a discussão prendeu-se às forças mecânicas que eram


aplicadas de forma constante e por um período de tempo arbitrário e longo
(forças estáticas). Nos dentes, durante a mastigação, não é este o tipo de
força atuante. Assim, ela perdura por alguns momentos e é criada devido ao
movimento da mandíbula sobre a maxila (forças dinâmicas). Quando da ação
de tensões dinâmicas, propriedades outras são ainda exigidas da estrutura em
questão.

Resiliência

Resiliência é a quantidade de energia absorvida por uma estrutura


quando sofre a ação de tensões não superiores ao seu limite de
proporcionalidade. Quando um acrobata cai ou salta do trapézio para a rede, a
energia de sua queda é absorvida pela resiliência da rede.
A força responsável pela deformação de uma restauração dentária é
aquela devida ao ato de mastigação e que atua sobre a estrutura do material
restaurador. A magnitude de deformação desta estrutura será determinada
pelas tensões induzidas. Na maioria das restaurações odontológicas, a
presença de grandes deformações não é recomendada em função do perigo
de provocar danos aos dentes. É por essa razão que o material restaurador
deve mostrar uma certa resiliência para permitir que, mesmo quando
submetido a tensões de magnitudes consideráveis, as deformações
resultantes sejam muito limitadas.
A resiliência está intimamente ligada ao impacto.

Fernanda Panzeri
Propriedades Mecânicas dos Materiais Dentários 24

Impacto

O termo impacto é usado para descrever a colisão de um objeto em


movimento contra um parado. Como o processo de mastigação possui valores
de velocidade e massa envolvidos, ele também pode ser considerado como
uma situação de impacto.
Sabe-se que um objeto em movimento possui uma quantidade
conhecida de energia cinética. Se o objeto que recebe o impacto não se
deforma permanentemente, ele deve ter a capacidade de armazenar a energia
de colisão de uma maneira elástica. Esta habilidade é a resiliência.
Há um ponto em que aplicando-se a carga de proporcionalidade, a
deformação passa a ser imprevisível e se encaminha à fratura, estando na
dependência de cada material. Nesse caso, as tensões não são mais
proporcionais às deformações. Se a carga é removida em qualquer ponto,
antes da fratura, a tensão resultante desta carga volta a ser zero. Porém, a
deformação não é igual a zero. É por isto que se um fio ou outra estrutura for
submetida àquela tensão, não retornará à suas dimensões originais. Neste
caso, o fio ficaria dobrado, estirado ou deformado.

Resistência

Resistência é a tensão máxima necessária para fraturar uma estrutura.


Ela pode ser chamada de resistência: à tração, à compressão ou ao
cisalhamento, dependendo do tipo predominante de tensão envolvida. Uma
outra denominação é a Tenacidade, ou seja, a propriedade de ser difícil de
quebrar.
A resistência à tração é conceituada como a tensão máxima que a
estrutura pode suportar antes da sua fratura. Um material friável é aquele que
tem pouca resistência.
A resistência à tração pode ser avaliada por meio da ductilidade. Esta é
a propriedade que apresentam certas substâncias de resistir a grandes
deformações plásticas, quando sob tensões de tração. Substância dúctil é,
pois, aquela capaz de sofrer deformações permanentes, relativamente
grandes, quando sob tensões de tração, sem fraturar-se (fios).
Maleabilidade, por sua vez, é a propriedade de certos corpos resistirem
a grandes deformações, quando sob a ação de tensões de compressão, sem
que ocorra ruptura. Substância maleável é, pois, aquela capaz de apresentar
grandes deformações permanentes, sob tensões de compressão, sem fraturar-
se.
A ductilidade indica a causa, o motivo da fratura de uma prótese fixa,
prótese removível ou restauração metálica fundida. A falta de ductilidade,
antes que possa ocorrer a fratura é que nos diz a causa desta. A substância
dúctil deforma-se consideravelmente antes que ocorra a fratura, o que poderá
constituir um inconveniente, desde que uma deformação irá provocar uma
alteração na oclusão da prótese, deslocando o equilíbrio de forças entre os
dentes. Por outro lado, essa propriedade será importante quando da
necessidade de adaptar ou contornar um grampo de prótese removível, um fio
de ortodontia, que são situações em que se exige deformações maiores do

Fernanda Panzeri
Propriedades Mecânicas dos Materiais Dentários 25

que a correspondente ao limite convencional de escoamento. Assim, se a


substância for dúctil irá deformar-se, porém não fraturará.
A fragilidade é considerada o oposto da resistência. Assim, por
exemplo, o vidro é friável à temperatura ambiente, já que ele não se dobra
apreciavelmente sem fraturar-se. Em outras palavras, um material frágil tende
a se fraturar próximo ao seu limite de proporcionalidade. As substâncias frágeis
deformam-se pouco antes que ocorra a fratura.

Fadiga

Caso o material seja submetido a cargas cíclicas ou repetidas, com


valores de tensão bem abaixo daqueles correspondentes à resistência limite,
eles podem produzir falhas na estrutura. Este tipo de falha é a fadiga. Durante
o ato da mastigação, centenas de tensões cíclicas também são induzidas a um
material restaurador.

Dureza

Dureza é uma propriedade de conceituação difícil. Pode ser interpretada


como a resistência à deformação permanente, ou a resistência à penetração, a
resistência ao corte ou a ser riscado, ou ainda resistência ao desgaste.
Em odontologia, a dureza baseia-se mais na resistência à penetração,
apesar dessa grandeza ser freqüentemente usada para definir a habilidade de
um material em resistir à abrasão. Entretanto, a abrasão excede este tipo de
definição, pois seu mecanismo é complexo e envolve a interação de
numerosos fatores. A resistência à abrasão de materiais deve ser verificada
dentro de uma mesma classificação, como por exemplo a de uma marca de
cimento com outra do mesmo tipo..
Existem muitos testes para a dureza da superfície (Fig 2-7). A grande
maioria está baseada na capacidade do material de resistir à penetração de
uma ponta com carga específica. Quanto maior a penetração da ponta, menor
a dureza; quanto menor a penetração, maior a dureza.

Brinell Knoop Vickers


Figura 2-7 - Esquemas representativos dos diversos testes de Dureza

Fernanda Panzeri
Propriedades Mecânicas dos Materiais Dentários 26

BIBLIOGRAFIA

CRAIG, R. G. ed – Mechanical Properties. In ________. Restorative Dental Materials. United States,


Mosby, 10ª ed. 1996. p.56-103.
McCABE, J. F. & WALLS, A. W. G. – Properties used to characterize materials. In: ________. Applied
Dental Materials. London, Blackwell Science, 8ª ed. 1998. p. 5-15.
O’BRIEN, W. J. – Physical Properties In: ________ Dental Materials and their Selection. Chicago,
Quintessence Books, 2ª ed, 1997 p. 13-17.
VIEIRA, D. F. – Propriedades Mecânicas In: ________ . Propriedades dos Materiais Odontológicos.
São Paulo, EDUSP, 1ª ed, 1965 p. 3-89.

Fernanda Panzeri
3 Propriedades Físicas dos Materiais
Dentários
Propriedades Físicas 28

3.1 REOLOGIA

Até o momento, a discussão das propriedades dos materiais usados em


odontologia foram relacionadas com as substâncias sólidas submetidas aos
vários tipos de tensões. Entretanto, muitos destes materiais são líquidos em
algum estágio de sua aplicação odontológica. Além do mais, o sucesso ou
falha de um determinado material está na dependência de suas propriedades
no estado líquido, tanto quanto de suas propriedades no estado sólido. Assim,
mais tarde, iremos estudar materiais, como cimentos e materiais de moldagem,
que se transformam de líquido em sólido na boca. Já os gessos usados na
fabricação de modelos e troquéis, além das ligas para fundição, são materiais
que são convertidos em líquidos para depois formar estruturas sólidas fora da
boca. Materiais amorfos, como as ceras e as resinas, que aparentam ser
sólidos, nada mais são do que líquidos super-resfriados que se deformam em
função da plasticidade ou escoamento sob a presença de tensões pequenas e
aplicadas gradualmente. Finalmente, existem materiais que são usados como
líquidos, como é o caso das pastas profiláticas, dos dentifrícios e das soluções
e géis para condicionamento ácido do esmalte. A maneira pela qual estes
materiais deformam ou escoam quando submetidos a tensões é muito
importante para o seu uso em odontologia.
A reologia é o estudo do escoamento dos materiais.
Um estudo das propriedades reológicas dos líquidos ou pastas,
normalmente envolve a medida da viscosidade.
A viscosidade é uma medida da consistência de um fluido e sua
inabilidade para escoar. Assim, um material de pouca viscosidade requer
somente uma pequena pressão para produzir um alto escoamento, enquanto
um material mais viscoso requer uma pressão maior para produzir um pequeno
escoamento. Um fluido altamente viscoso escoa vagarosamente devido à sua
alta viscosidade. Este conceito é familiar para qualquer pessoa que compara
as propriedades do escoamento da água com aquelas do melaço.
Existem materiais que se comportam de forma diferente em relação à
viscosidade, como mostra a Fig 3-1.
A viscosidade de substâncias que têm uma relação linear entre a força
de tensão e deformação são chamadas de Newtonianas. Esse comportamento
ocorre com a água, que é tido como padrão. Quando viramos um copo com
água, ela escoa proporcionalmente à velocidade de movimentação do copo.
Alguns materiais dentários exibem um comportamento pseudoplástico.
Suas viscosidades diminuem com o aumento da velocidade de deformação por
cisalhamento. Esse comportamento é característico da massa de bolo. Quanto
mais rápido batemos o bolo, mais fácil e mais homogênea fica a massa.
Os líquidos que apresentam uma tendência contrária são chamados
dilatantes. Eles tornam-se mais rígidos quando a velocidade de deformação
aumenta. É o caso da clara que é batida em neve. Quanto mais batemos a
clara, mais firme ela fica.

Fernanda Panzeri
Propriedades Físicas 29

Figura 3-1 - Gráfico Tensão/Deformação para fluidos exibindo diferentes tipos de


comportamento reológico

Finalmente, alguns tipos de materiais comportam-se como corpos


rígidos até que se atinja um valor mínimo de tensão de cisalhamento. Estas
substâncias são chamadas de plásticos. O catchup é um exemplo bastante
conhecido, pois é necessária uma batida forte no fundo da garrafa para que a
massa de tomate escoe.
No caso dos materiais odontológicos, comportamentos newtonianos e
pseudoplásticos são comumente encontrados, enquanto que dilatantes são
mais raros.
A viscosidade dos materiais sofre também a influência da temperatura.
A viscosidade da maioria dos líquidos diminui rapidamente com o aumento da
temperatura. Ela também está na dependência de deformações prévias do
líquido e, neste caso, eles são conhecidos como tixotrópicos. As pastas
dentais para profilaxia são usualmente tixotrópicas. Se elas forem agitadas
rapidamente e medir-se a sua viscosidade, será obtido um valor inferior àquele
que se obteria se o material fosse deixado em repouso por várias horas.

3.1.1 Elasticidade e Viscoelasticidade:

Quando o material recebe uma carga e após a remoção dela recupera a


sua dimensão original, ele é elástico. Porém, se a recuperação dessa posição
é lenta, ou se um grau de deformação permanente persiste, o material é
viscoelástico.
Para explicar esse comportamento, utilizamos modelos envolvendo o
uso de molas e uma sanfona (Fig 3-2). Quando uma mola, que representa um
material elástico, é fixada por um lado e uma carga é aplicada no outro, torna-
se imediatamente estendida. Quando a carga é removida, ela imediatamente
recupera seu tamanho. Esse comportamento é análogo àquele do material
perfeitamente elástico.
Quando uma carga é aplicada a uma sanfona, que representa um
material viscoso, ela se abre vagarosamente, sendo que a deformação ocorre
em função do tempo em que a carga é aplicada. Quando a carga é removida, a
sanfona permanece aberta e nenhuma recuperação ocorre. Quando esses

Fernanda Panzeri
Propriedades Físicas 30

materiais são colocados em série, a aplicação da força causa a extensão


imediata da mola, seguida pela abertura vagarosa da sanfona. Com a remoção
da carga, a mola recupera seu comprimento original, mas a sanfona
permanece distorcida. A quantidade da distorção depende da carga aplicada e
do tempo que a carga permanece aplicada.
Quando a mola e a sanfona são colocadas em paralelo, a aplicação da
carga causa a abertura vagarosa da mola sobre o efeito amortecedor da
sanfona. Após a remoção da carga, a sanfona e a mola vagarosamente
recuperam sua posição original sobre a influência elástica da mola, amortecida
pela sanfona.
Alguns materiais odontológicos apresentam as características das
ligações em paralelo e outros com ligações em série.

3.2 COR

As discussões precedentes sobre as propriedades físicas dos materiais


foram baseadas naquelas que são necessárias para permitir a restauração da
função, de um dano ou da perda de tecidos naturais. Entretanto, um outro
objetivo importante na odontologia moderna é restaurar a cor e a aparência da
dentição natural. Por isso, considerações estéticas em odontologia
restauradora e protética assumiram uma grande prioridade.
A restauração do dente humano tem se movido do campo puramente
funcional para o estético. Podemos definir estética como a arte do
imperceptível, quando procuramos duplicar ou harmonizar com neutralidade
um dente artificial, ou fazer a restauração de dentes perdidos. Muitos
pacientes hoje procuram um nível de restauração para seus dentes onde é
virtualmente impossível detectar que o dentista interveio. Conseqüentemente,
as propriedades óticas dos materiais que são selecionados e usados pelos
dentistas tem se tornado de grande importância. Infelizmente, os profissionais,
diante da demanda por trabalhos estéticos e os grandes e rápidos avanços
dos materiais estéticos, enfrenta enorme carência de informações, sobretudo
no campo da cor.
A luz é uma forma de radiação eletromagnética que pode ser detectada
pelo olho humano. Ele é sensível a comprimentos de onda que vão de
aproximadamente 400 nanômetros (violeta) até 700 nanômetros (vermelho-
escuro). A combinação de intensidade de comprimentos de onda presentes no
feixe de luz determina a propriedade usualmente chamada de cor.
Para que um objeto seja visível, ele deve emitir luz ou então refletir ou
transmitir a luz incidente proveniente de uma fonte externa. Este último tipo é o
caso dos objetos que têm interesse odontológico. A luz incidente é de maneira
usual policromática, ou seja, uma mistura de vários comprimentos de onda. A
reação de um objeto à luz incidente é absorver e/ou difundir certos
comprimentos de onda de uma maneira seletiva.

Fernanda Panzeri
Propriedades Físicas 31

A B

C D
Figura 3-2 - Representação de uma situação de viscoelasticidade. A) Mola - material
elástico. B) Sanfona com líquido viscoso - material viscoso. C) Mola e sanfona em série.
D) Mola e sanfona em paralelo

A luz incide no olho e direciona-se para a retina e é convertida em


impulsos nervosos, os quais são transmitidos ao cérebro. Os sinais são
processados para que seja produzida a percepção psicofisiológica da cor.
Dimensões da cor : Assim como as formas físicas apresentam 3
dimensões (comprimento, largura e profundidade), quantitativamente, a cor é
descrita em função de 3 atributos tridimensionais específicos e que são
definidos como Matiz, Luminosidade e Saturação (Figs 3-3 a 3-5).
O matiz é uma característica comumente associada pelo leigo à cor do
objeto; assim, por exemplo, ele pode ser vermelho, azul ou verde. Ele está na
dependência do comprimento de onda dominante. É uma sensação. Para que
a cor exista, um observador (vivo ou mecânico) deve perceber esta sensação.
As cores podem ser divididas em tonalidades claras ou escuras. Esta
claridade, que pode ser medida independentemente do matiz, é chamada de
luminosidade. Esta é uma propriedade acromática – com ausência de qualquer
matiz – e pode ser simplesmente definida como brancura ou negrume. A
pessoa precisa apenas observar a televisão em branco e preto para
compreender que a percepção de uma cena é possível apenas com a
dimensão intensidade. Por exemplo, se um bonito campo for visto em uma

Fernanda Panzeri
Propriedades Físicas 32

televisão em branco e preto, as árvores serão percebidas apenas como


matizes de cinza, mas todas as formas podem ser reconhecidas e
compreendidas acromaticamente.
O terceiro atributo da cor representa o grau de concentração de um
matiz em particular e é chamado de saturação ou croma. Por exemplo: se em
um copo com água for adicionada uma gota de substância de cor verde, esta
água apresentará uma leve aparência verde. Conforme sucessivas gotas vão
sendo adicionadas, o matiz não varia, se todas as gotas procedem da mesma
fonte de corante, o meio torna-se progressivamente saturado, isto é, o croma
aumenta. Quanto maior for a saturação, mais pura e intensa é a cor. A
saturação não existe isoladamente, ela está sempre associada ao matiz e à
luminosidade.
A cor de um objeto pode ser modificada por fatores diferentes do matiz e
da saturação. A luminosidade, por exemplo, está relacionada com o grau de
opacidade, translucidez e transparência de uma estrutura. Vejamos, então, o
significado dessas propriedades:
Opacidade: É a propriedade que previne a passagem de luz, por
exemplo, quando um objeto reflete a totalidade das cores do espectro, contida
em uma fonte de luz branca, na mesma intensidade que a recebida, este
objeto aparecerá branco. Se todas as cores forem absorvidas igualmente, o
objeto aparecerá preto.
Translucidez: É a propriedade que permite a passagem da luz com
alguma distorção, de maneira que um objeto colocado atrás do material não
pode ser visto claramente.
Transparência: Permite a passagem da luz com pouca ou nenhuma
distorção, favorecendo a visualização através do material.
Clinicamente, em procedimentos operatórios ou em um laboratório de
prótese, a reprodução da cor de um dente é feita utilizando-se escalas de
cores. Elas indicam ao técnico e ao dentista uma determinada cor, a fim de
que eles possam fazer as misturas adequadas dos materiais com o intuito de
reproduzir a cor escolhida inicialmente.

3.3 PROPRIEDADES TÉRMICAS

Quando um paciente toma uma xícara de chá ou toma um sorvete, a


diferença de temperatura envolvendo os dentes pode ser pronunciada. A polpa
de dente pode reagir severamente se não estiver protegida dessas
temperaturas que diferem grandemente da temperatura normal de 37°C.
Quando colocamos uma restauração, coroa, ponte ou prótese, deve-se tomar o
cuidado de proteger a polpa dos extremos da temperatura. Portanto, as
propriedades térmicas dos materiais dentários necessitam ser consideradas.

Fernanda Panzeri
Propriedades Físicas 33

Figura 3-3- Matiz

Figura 3-4 - Luminosidade

Figura 3-5 - Saturação

Fernanda Panzeri
Propriedades Físicas 34

O calor transferido através de substâncias sólidas ocorre comumente


devido a um processo chamado condução. A condutibilidade térmica é uma
medida termofísica de quanto calor é transferido através de um material
através da condução. O coeficiente de condutibilidade térmica é medido
determinando-se a quantidade de calor, em calorias por segundo, que passa
através de um corpo de prova com 1 cm de espessura e que apresente uma
área de seção transversal de 1 cm². Quanto maior for o valor obtido, maior
será a capacidade da substância de transmitir energia e vice-versa. A
difusibilidade térmica dos materiais controla o tempo que a mudança de
temperatura leva para passar através de um material.
Embora a condutibilidade térmica do óxido de zinco e eugenol ser
menor que a da dentina, sua difusibilidade é mais que o dobro da dentina.
Na boca, existe um estado instável de transferência de calor durante a
ingestão de alimentos sólidos e líquidos que se encontram frios ou quentes. A
dentina e o esmalte são isolantes térmicos efetivos. Apesar disto, deve-se
lembrar que, como acontece com qualquer isolante térmico, a estrutura
dentária tem que apresentar uma espessura suficiente para ser um isolante
térmico efetivo. Quando a camada de dentina entre o assoalho da cavidade e
a polpa é fina, ele perde muita capacidade isolante.
A baixa condutibilidade térmica do esmalte e da dentina diminui a ação
dos choques térmicos provocados pela ingestão de alimentos frios e quentes,
e que resulta em uma sensibilidade dolorosa. Entretanto, a presença de
restaurações de qualquer tipo tendem a alterar esta situação. Muitos materiais
restauradores são metálicos, que são ótimos condutores térmicos, o que pode
constituir uma agressão à polpa, em decorrência das mudanças térmicas a que
será submetida.
Por outro lado, o dente artificial é preso a uma base de dentadura, a
qual é confeccionada com resina acrílica, que é má condutora térmica. Em
uma dentadura superior, esta base cobre, usualmente, a região do palato. Sua
baixa condutibilidade térmica impede a troca de calor entre os tecidos moles e
o restante da cavidade oral. Com isto, o paciente perde a sensibilidade ao frio
ou ao calor quando está comendo ou bebendo.
Uma propriedade igualmente importante para o dentista é o coeficiente
de expansão térmico linear. Ele é definido como a alteração no comprimento
por unidade de comprimento de um material, quando a temperatura é elevada
ou abaixada em 1 grau. Um exemplo da importância dessa propriedade em
odontologia seria o caso de uma restauração dentária expandir ou contrair
mais que o dente, durante as alterações de temperatura. Se isto ocorresse, a
restauração poderia sofrer infiltração pela contração ou soltar-se por uma
expansão.

BIBLIOGRAFIA

ANUSAVICE, J. Propriedades Físicas dos Materiais Dentários. In: ________ Materiais Dentários de
Phillips. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 1ª ed. 1998 p.18-27.
McCABE, J. F. & WALLS, A. W. G. – Properties used to characterize materials. In: ________. Applied
Dental Materials. London, Blackwell Science, 8ª ed. 1998. p. 5-22.

Fernanda Panzeri
4 Propriedades Biológicas dos Materiais
Dentários
Propriedades Biológicas 36

4.1 INTRODUÇÃO

A ciência dos materiais dentários tem a necessidade de acompanhar


conhecer e apreciar certas considerações biológicas que estão associadas
com a seleção e uso dos materiais a serem empregados na cavidade bucal. A
resistência à deformação deixa de ser importante se o material injuria a polpa
ou os tecidos moles.
A maioria dos materiais dentários deve permanecer no ser humano por
períodos de tempo curtos ou longos. Outros materiais são usados
exclusivamente em laboratórios para a confecção de restaurações e
dentaduras. Daí a necessidade do material ser biocompatível.
O termo biocompatível é definido como “harmonioso com a vida e não
possuindo efeitos tóxicos ou prejudiciais às funções biológicas”. Em geral, a
biocompatibilidade é medida com base na citotoxicidade localizada, nas
reações sistêmicas e no potencial alergênico e carcinogênico.
Baseadas nesses critérios, as exigências para a biocompatibilidade dos
materiais odontológicos são as seguintes:
 Não devem ser prejudiciais à polpa nem aos tecidos moles;
 Não devem conter substâncias tóxicas que possam ser liberadas
e absorvidas pelo sistema circulatório causando reação
sistêmica;
 Devem ser livres de agentes que possam causar reações
alérgicas;
 Não devem ter potencial carcinogênico.

Num sentido amplo, um biomaterial poderia ser definido como qualquer


substância que não seja um medicamento que possa ser usado por qualquer
período de tempo, como parte de um tratamento, estimulando a reparação de
qualquer tecido, órgão ou função do corpo.
Do ponto de vista geral, os materiais se enquadram na definição de
biomateriais e sua biocompatibilidade, no que concerne aos tecidos orais, é
um parâmetro que deve ser considerado para sua formulação e uso. Sob este
aspecto, parece óbvio agora que o ambiente hospedeiro destes biomateriais é
especial em função da presença de bactérias e outros detritos na cavidade
bucal, além das propriedades corrosivas da saliva e de outros fluidos.
Um outro ponto é que o material e o processo de fabricação ou uso não
devem causar danos ao dentista, ao pessoal auxiliar ou ao técnico de
laboratório.

4.2 OS DENTES

É extremamente importante o conhecimento das estruturas dentais, pois


os materiais a serem aplicados a elas devem interagir de forma a restituir as
funções mastigatórias, biológicas e estéticas.
Os dentes do homem são órgãos de estrutura complicada que constam,
em parte, de tecido duro contendo em seu interior a polpa dentária, rica em
vasos e nervos.

Fernanda Panzeri
Figura 4-1 - O Dente e suas estruturas. A) Esmalte B)Dentina C) Polpa

Fernanda Panzeri
Propriedades Biológicas 37
Propriedades Biológicas 38

A massa principal do dente é constituída pela dentina. Esta, na zona


dentária que aparece na boca, encontra-se recoberta por outro tecido duro e
de origem epitelial chamado esmalte, enquanto que a parte oculta nos
maxilares acha-se envolta pelo cemento, substância análoga ao osso e onde
inserem-se as fibras conjuntivas que terminam nos maxilares (Fig. 4-1).
A porção do dente recoberta pelo esmalte designa-se anatomicamente
com o nome de coroa, chamando-se de raiz a que é envolvida pelo cemento.
A polpa ocupa a cavidade de forma idêntica que o dente mostra
externamente. Esta cavidade começa no ápice da raiz pelo orifício apical,
continua ao longo de toda raiz formando o canal radicular e se amplia
finalmente na coroa para formar a cavidade pulpar.

4.2.1 O Esmalte

O esmalte é o tecido mais calcificado e denso do corpo humano,


consistente de milhões de cristais inorgânicos (hidroxiapatita) que, mantidos
firmemente juntos, formam as unidades estruturais chamadas de prismas de
esmalte (Fig. 4-1a). Essas unidades vão da junção dentina-esmalte até a
superfície do esmalte.
É composto também de 1% de material orgânico encontrado entre a
estrutura cristalina e de 3% de água, que é contida dentro de pequeno, mas
extenso, sistema poroso tornando o tecido permeável. O esmalte maduro é
altamente mineralizado.

4.2.2 A Dentina

A dentina constitui a maior parte do dente. Como qualquer tecido vivo,


ela consiste de células, que são especializadas e são chamadas de
odontoblastos, e uma substância intercelular. Embora os corpos dos
odontoblastos estejam situados na superfície pulpar da dentina, toda a célula
pode ser considerada tanto biológica como morfologicamente como célula
própria da dentina, pois seus prolongamentos estão embebidos na matriz
mineralizada. Cada célula dá origem a um prolongamento, que atravessa a
dentina calcificada para terminar numa ramificação em rede na junção com o
esmalte ou cemento.
A dentina é quimicamente composta de 70% de material inorgânico,
20% de material orgânico e 10% de água. O material inorgânico consiste
principalmente de hidroxiapatita e a fase orgânica é grandemente de colágeno.
A característica principal da dentina é a presença de túbulos dentinários
que passa por toda sua extensão (Fig 4-1b). Em todo o desenvolvimento do
dente há, aproximadamente 45.000 túbulos dentinários por milímetro quadrado
na superfície da câmara pulpar. Os túbulos formam uma rede e contém uma
substância - o fluido dentinário - que pode contribuir para a sensibilidade da
dentina como um tecido. A presença dos túbulos dentinários dá a propriedade
de permeabilidade à dentina de forma que drogas e químicas presentes nos

Fernanda Panzeri
Propriedades Biológicas 39

materiais restauradores podem penetrar através da dentina e prejudicar a


polpa.
A dentina apresenta uma qualidade viscoelástica que proporciona ao
dente suficiente resiliência para prevenir fraturas do esmalte quando em
função.

4.2.3 A Polpa

O único tecido mole rico em células conjuntivas que está circunscrito


dentro da câmara pulpar é a polpa dentária. É um tecido mesenquimal
constituído de fibroblastos, vasos, nervos e odontoblastos, de grande
potencialidade na formação da dentina (Fig. 4-1c).
A polpa é dividida em duas partes: a polpa coronária, que toma a forma
da câmara pulpar, e a polpa radicular, que preenche os canais radiculares e
estabelece contato com os tecidos moles periapicais.
A polpa desempenha quatro funções importantes:
 Formação de dentina
 Nutrição da dentina
 Sensorial
 Protetora

A polpa é responsável tanto pela formação de dentina fisiológica como


pela formação de dentinas reparadora e esclerótica, através de um processo
protetor.
Se os processos odontoblásticos são expostos por um desgaste
extenso, erosão, cáries ou procedimentos operatórios, a célula pode ser
lesionada mais ou menos gravemente. Os odontoblastos lesionados podem
degenerar e serem substituídos pela migração de células indiferenciadas das
camadas mais profundas da polpa para a superfície dentinária, ou então,
através de uma reação de defesa passam a formar uma dentina mais dura,
diminuindo a permeabilidade na região injuriada. Esta dentina é conhecida
como dentina reparadora. Aqui o curso dos túbulos é freqüentemente torcido, e
seu número é muito reduzido.
Estímulos de natureza diferente não somente induzem a formação
adicional de dentina reparadora, como também levam a alterações na própria
dentina. Os sais de cálcio passam a ser depositados nos processos
odontoblásticos em degeneração ou ao redor deles e tendem a obliterar os
túbulos numa forma de uma reação defensiva ainda mais potente da dentina.
Essa dentina é mais densa e mais dura, que a dentina normal e é conhecida
como dentina esclerótica.

4.3 CAUSAS DE REAÇÕES PULPARES

Muitos são os fatores que podem levar a uma manifestação de resposta


às restaurações dentárias. As mais comuns são a formação de cárie
secundária e a dor associada à sensibilidade pós-operatória.

Fernanda Panzeri
Propriedades Biológicas 40

4.3.1 Microinfiltração

Poucos materiais restauradores tradicionais usados em odontologia


possuem adesão à estrutura dental. Desta maneira, existirá sempre um espaço
microscópio entre a restauração e as paredes da cavidade a ser restaurada.
Assim, os fluidos e detritos orais podem penetrar livremente na interface
dente/restauração.
Este fenômeno é conhecido como microinfiltração. Se a penetração
interfacial (percolação) é severa, ocorre o crescimento bacteriano entre a
restauração e as paredes cavitárias e, até mesmo, no interior dos túbulos
dentinários. Os produtos tóxicos liberados por estes microrganismos produzem
uma contínua irritação na polpa dentária. Felizmente, a dentina prevê um certo
grau de proteção. Se a sua espessura é adequada, ela promove o isolamento
térmico, além de impedir a penetração de produtos agressivos provenientes
dos materiais restauradores ou da microinfiltração. Entretanto, quando se está
em presença de cavidades profundas, nas quais a dentina remanescente tem
espessura igual ou inferior a 2mm esse fato se torna muito perigoso.
Existe também uma outra faceta que deve ser reconhecida. A dentina é
uma estrutura dinâmica que possui uma constante movimentação de fluidos no
seu interior. Qualquer alteração no conteúdo desse fluido ou no equilíbrio de
sua pressão, também chamada de hidrodinâmica, pode resultar em uma
reação pulpar.
A câmara pulpar está sob uma constante pressão fisiológica. Essa
pressão tende a forçar os fluidos dentinários para o interior dos túbulos
dentinários. Caso haja alguma comunicação do meio externo com a polpa, a
pressão na polpa se torna maior e o fluido dentinário escoa ao redor dos
prolongamentos dos odontoblastos no interior dos túbulos, o que causa
estimulação das fibras nervosas.

4.3.2 Alterações térmicas

As estruturas do dente e da restauração dentária estão continuamente


expostas ao calor e ao frio advindos de alimentos sólidos e líquidos. A
variação na temperatura durante uma refeição normal pode atingir valores tão
altos como 65ºC. A condutibilidade térmica e o coeficiente de expansão
térmico linear dos materiais restauradores são propriedades importantes para
serem consideradas naquilo que respeita à saúde da polpa, bem como para
minimizar a microinfiltração que ocorre como resultado das alterações cíclicas
da temperatura.

4.3.3 Galvanismo

A presença de materiais metálicos diferentes em contato na cavidade


oral gera a formação de uma corrente elétrica, conduzida pela saliva. Por

Fernanda Panzeri
Propriedades Biológicas 41

exemplo, quando restaurações de ouro estão em oposição a restaurações em


amálgama, há formação dessa corrente galvânica, produzindo irritação pulpar
e o aparecimento de sensibilidade.
Fica evidente que a polpa dental está sujeita a vários tipos de injúrias
antes, durante ou após a restauração de um dente cariado. O dentista deve
conhecer as causas das possíveis irritações e tomar os devidos cuidados nas
várias etapas do uso, objetivando minimizar ou eliminar tais causas.
O calor e a secagem durante o preparo cavitário podem causar injúria
severa à polpa. Lesões também podem ocorrer devido à inserção de materiais
restauradores. Elas estão relacionadas com a pressão de condensação, sendo
exemplos as restaurações feitas com amálgama. Além disso, durante a
cimentação de coroas, em razão da pressão hidráulica produzida, pode-se
causar dano à polpa. Componentes dos materiais restauradores, ou aqueles
de natureza química produzidos durante a presa, podem ser agressivos. Após
a restauração, o choque térmico e o galvanismo podem causar
hipersensibilidade. A penetração de bactérias ao longo da interface
restauração/dente pode contribuir para a irritação pulpar e também para o
aparecimento de cáries secundárias.
Desta maneira, uma injúria pulpar que aparece durante ou após os
procedimentos restauradores tem origem multifatorial.

4.4 INFLUÊNCIA DA IDADE DO PACIENTE NA RESPOSTA PULPAR:

Pacientes mais velhos têm menor reação do tecido pulpar do que


pacientes jovens. Como os dentes permanentes sofrem os efeitos da abrasão,
erosão, cáries e procedimentos restauradores durante toda a vida, a polpa
torna-se reduzida em tamanho devido à deposição de dentina primária,
secundária e reparadora.
Na idade de 55 anos, o volume do tecido pulpar é de 1/5 comparado
com o volume da idade de 25 anos e contém somente 1/5 do seu volume
sangüíneo e esse fator diminui a capacidade de cicatrização da polpa, ou seja,
a polpa precisa de mais tempo para reagir a uma lesão ou resistir à uma
infecção.

4.5 TOXIDIDADE DO MERCÚRIO

Por muitos anos houve uma controvérsia com relação a


biocompatibilidade das restaurações de amálgama devido à presença de
mercúrio em sua composição.
Menos de 0.01% de mercúrio é absorvido. Entretanto, ele tem uma alta
pressão de vapor. Entre 65% e 85% do vapor de mercúrio que é inalado
deposita-se no corpo, tomando-se muito mais perigoso ao profissional.
Muito da confusão associada com a toxicidade do amálgama ocorre da
ignorância dos sinais e sintomas do envenenamento pelo mercúrio. A dor de
cabeça, um dos sintomas mais freqüentemente reclamados para a remoção da

Fernanda Panzeri
Propriedades Biológicas 42

restauração de amalgama, não é um sintoma do envenenamento por mercúrio.


Os sintomas são fraqueza, fadiga, anorexia, perda de peso, insônia,
irritabilidade e tremores na extremidade.

BIBLIOGRAFIA

FERRACANE, J. L. – Characteristics of Materials. In: ________ . Materials in Dentistry.


Principles and Applications. Philadelphia, Lippincott Williams & Wilkins, 1995. p. 34-36.
GALAN Jr., J – Estrutura Dental In: ________ . Materiais Dentários. São Paulo, Livraria
Santos, 1ª ed, 1999 p. 19-25.
PHILLIPS, R. W. – Considerações Biológicas no uso dos Materiais Dentários. In: ________ .
Materiais Dentários de Skinner. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 9ª ed, 1993 p. 35-39.

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5 Gessos Odontológicos

Fernanda Panzeri
Gessos 44

5.1 INTRODUÇÃO

O gesso (ou gipsita) é um mineral que é extraído em várias partes do


mundo. Diferentes formas de gesso foram usadas por vários séculos na área
da construção. Os alabastros usados na construção do Rei Salomão, de fama
bíblica, foram feitos a partir de uma forma de gesso. Produtos à base de gesso
são largamente usados na indústria, e praticamente todas as casas e edifícios
têm componentes de gesso.
O gesso é usado na odontologia para a obtenção de modelos de estudo
das estruturas orais e maxilo-faciais e como importante auxiliar nas fases
laboratoriais para a construção de próteses. Vários tipos de gesso são usados
para a obtenção de modelos, nos quais próteses e restaurações são
construídas. Quando o gesso é misturado à sílica, forma-se um produto
conhecido como Revestimento, que é utilizado na obtenção de restaurações
fundidas em metal e será discutido posteriormente.
Quimicamente, este mineral, usado para fins odontológicos, é
basicamente um sulfato de cálcio diidratado (CaSO4 . 2 H2O).

5.2 OBTENÇÃO DO GESSO

O gesso é obtido através da calcinação da gipsita. Comercialmente, a


gipsita é triturada e submetida a temperaturas que variam entre 110 e 120 °C
com o objetivo de retirar parte da água da cristalização. Como a temperatura é
elevada, a água remanescente da cristalização é removida e forma-se o
sulfato de cálcio hemidratado [(CaSO4) 2 . H2O], que é o principal constituinte
do gesso comum e dos gessos pedra.
Dependendo do método de calcinação, pode-se obter diferentes formas
do hemidrato.
Se a gipsita é aquecida no forno ambiente aberto a temperaturas
indicadas, a reação resultará na formação cristalina de um hemidrato
conhecido como β-hemidrato (Gesso Paris ou Comum). Esses cristais são
caracterizados por sua forma esponjosa e irregular, o que contrasta com
aquela dos cristais do α-hemidrato (gesso pedra), os quais são mais densos e
apresentam formas prismáticas mais definidas.
Diferentes procedimentos podem ser empregados para a obtenção do
α-hemidrato. Os produtos deste processamento são os principais constituintes
do gesso-pedra que, nas suas diferentes formas, são utilizados na construção
de modelos e troquéis.
Essas diferenças entre o α e o β-hemidrato são resultantes dos
diferentes tamanhos dos cristais, de sua área de superfície e da perfeição da
grade espacial.
O produto obtido com o α-hemidrato é mais duro e resistente do que
aquele resultante da reação do β-hemidrato. A razão principal desta diferença
é que o pó do α-hemidrato requer menor quantidade de água para o processo

Fernanda Panzeri
Gessos 45

de mistura que aquela necessária ao β-hemidrato. O β-hemidrato requer mais


água para umedecer as partículas do pó, pois os cristais são mais irregulares
em seu formato e mais porosos nas suas características físicas.
A diferença nas densidades relativas dos produtos de α e β-hemidrato
pode ser vista medindo quantidades iguais em peso dos 3 tipos de gesso e
colocando-os em cilindros graduados. O gesso que ocupa maior volume, que
apresenta menor densidade, necessita de uma maior quantidade de água para
a sua manipulação, se tornando, assim, menos resistente.

5.3 REAÇÃO DE PRESA

Quando o hemidrato é misturado com a água, a reação é revertida:

(CaSO4)2 . H2O + 3 H2O CaSO4 . 2 H2O + calor

O produto da reação é a gipsita, e o calor envolvido na reação


exotérmica é equivalente àquele usado durante o processo de calcinação.
A teoria mais importante e reconhecida para o mecanismo de presa é a
teoria cristalina. Ela foi originada por Henri Louis Le Châtelier, um químico
francês; e depois, em 1907, a teoria recebeu o apoio de Jacobus Hendricus
van´t Hoff, um famoso químico alemão. De acordo com a explicação de van´t
Hoff, a diferença no solubilidade do sulfato de cálcio diidratado e hemidratado
causa a presa do material. O sulfato de cálcio dissolvido precipita como sulfato
de cálcio diidratado porque o sulfato de cálcio diidratado é menos solúvel que
o hemidrato. O hemidrato é 4 vezes mais solúvel que o diidrato; assim, a
reação de presa pode ser entendida da seguinte maneira:

 Quando o hemidrato é misturado com a água, forma-se uma


suspensão fluida e manipulável.
 O hemidrato dissolve-se até formar uma solução saturada
 Esta solução saturada de hemidrato torna-se supersaturada pela
presença de diidrato, o qual começa a precipitar
 À medida que o diidrato se precipita, a solução não mais se
encontra saturada de hemidrato, e assim ele continua a se
dissolver na água. A continuidade deste processo faz com que os
hemidratos entrem em solução e consequentemente haja a
precipitação de diidratos em forma de novos cristais ou
agregando-se a cristais já formados, permitindo o crescimento de
forma arborescente. Esta reação continua, repetindo-se
sucessivamente até a exaustão do hemidrato.
 A medida que aumenta a formação de diidrato, a massa aumenta
de consistência até seu endurecimento. Os cristais em forma de
agulha crescem a partir de núcleos. A mistura e o cruzamento
destes cristais de diidrato resultam em uma estrutura sólida e
bastante dura.

Fernanda Panzeri
Gessos 46

O processo de presa é contínuo e vai desde o começo da mistura até a


reação de presa estar completa, pelo tempo no qual o material alcança sua
resistência máxima. Porém, mudanças físicas importantes podem ser
reconhecidas durante este processo. Inicialmente há uma fase aquosa
continuamente presente, e a mistura é um líquido viscoso, exibindo
pseudoplasticidade de forma que este flui prontamente sob vibração; nesta
fase a mistura tem uma aparência brilhante. Como a reação de presa
prossegue, cristais de gesso continuam crescendo às custas da fase aquosa, e
a viscosidade da mistura aumenta. Quando as aglomerações de cristais de
gesso interagirem, a mistura se torna plástica; não fluirá sob vibração, mas
pode ser moldada prontamente. A este tempo, a superfície brilhante
desaparece pois a fase aquosa é substituída e os cristais de gesso crescem,
empurrando-se, e formam poros. O crescimento cristalino continuado converte
a massa plástica em um sólido rígido, fraco e friável no princípio, mas
ganhando resistência, relativa à quantidade de fase sólida presente.
Estas quatro fases podem ser designadas: (1) fluida, (2) plástica, (3)
friável e (4) sólido.

5.4 MANIPULAÇÃO

Na espatulação manual, a cuba deve ter uma forma parabólica, lisa e


resistente à abrasão. A espátula deve possuir uma lâmina resistente e um
cabo que permita segurá-lo. A entrada de ar na mistura deve ser evitada para
impedir o aparecimento de porosidades que diminuem a resistência e
produzem superfícies sem precisão. O uso de um vibrador automático, de alta
freqüência e baixa amplitude, é muito útil. A medida da quantidade de água é
feita na cuba e o pó é devidamente pesado e espargido sobre a água. A
mistura é então vigorosamente espatulada, com as manipulações periódicas
no interior da cuba com a espátula para assegurar o molhamento de todo o pó
e quebrar qualquer aglomerado, ou nódulos. Esta manipulação deve continuar
até que se obtenha uma mistura homogênea, e isto acontece no período de um
minuto. Espatulações longas reduzem drasticamente o tempo de trabalho,
particularmente para o vazamento dos modelos.
Após a mistura e a utilização do material, a sobra deve ser removida da
cuba com a espátula e descartada no lixo. O material residual pode então ser
limpa da cuba e da espátula com uma toalha de papel antes de submetê-los à
lavagem com água. O diidrato é insolúvel e se ficar nos canos da pia se
acumulará. Como tem na composição o enxofre, poderá levar à liberação de
gases.

5.5 TEMPO DE PRESA

O tempo necessário para a reação se completar é chamado de tempo


de presa. Se esse tempo é muito rápido ou o material tem um pequeno tempo
de presa, a mistura pode endurecer antes do operador manipula-lo
apropriadamente. Por outro lado, se a reação ocorre muito vagarosamente, um
tempo excessivamente longo é necessário para completar a operação. Assim,

Fernanda Panzeri
Gessos 47

um tempo de presa apropriado é muito importante para os gessos


odontológicos.
A reação química de presa ocorre no momento em que o pó é misturado
com a água mas, em um estágio inicial, somente uma pequena porção do
hemidrato é convertido em gesso. A massa recém espatulada tem uma
consistência semi-fluida e pode ser vazada sobre um molde de qualquer forma.
Com o prosseguimento da reação, entretanto, mais e mais cristais de sulfato
de cálcio diidratado são produzidos. A viscosidade da massa misturada
aumenta e ela já não pode fluir facilmente nos finos detalhes do molde. Esse
tempo é chamado de tempo de trabalho.
Com o prosseguimento da reação, o excesso de água é usado para
formação do diidrato, e com isso, a mistura vai perdendo o seu brilho.
Com a continuação da reação há um momento em que o gesso alcança
um certo estágio de firmeza representado por uma massa semi-rígida em que
não atingiu a presa completa mas ultrapassou o tempo de trabalho. Esse é o
tempo de presa inicial.
O tempo de presa final é definido como aquele tempo em que o material
está completamente endurecido e pode ser separado do material de moldagem
sem distorção ou fratura. Na presa final, a conversão do sulfato de cálcio
hemidratado em sulfato de cálcio diidratado está completa.
O tempo de presa inicial e final pode ser medido através de um teste de
penetração.
 Presa inicial : As agulhas de Gillmore são usadas para a
verificação do tempo de presa do gesso. A mistura recém-
espatulada é vertida num recipiente, e a agulha menor é solta
sobre a mistura em intervalos de tempo crescentes. No momento
em que a sua ponta ativa não deixa mais impressão na superfície
do material, considera-se como presa inicial. A partir desse
tempo, haverá um aumento definitivo na resistência.
 Presa Final : O próximo estágio no processo de presa pode ser
medido com o uso da agulha de Gillmore maior e mais pesada.
Considera-se como o tempo de presa final aquele em que esta
agulha deixa somente marcas ligeiramente perceptíveis na
superfície do gesso.

5.5.1 Controle do Tempo de presa

Teoricamente, existem pelo menos 3 métodos pelos quais se pode


realizar este controle.
 A solubilidade do hemidrato pode ser aumentada ou diminuída.
Desta maneira, se a solubilidade do hemidrato é aumentada, a
supersaturação do sulfato de cálcio será maior e, como
conseqüência, a velocidade de deposição cristalina será também
aumentada.
 O número de núcleos também pode ser aumentado ou diminuído.
Quanto maior o número de núcleo de cristalização, mais rápido

Fernanda Panzeri
Gessos 48

os cristais de gesso irão se formar e mais cedo ocorrerá o


endurecimento da massa devido ao entrelaçamento dos cristais.
 Se a velocidade de crescimento do cristal pode ser aumentada ou
diminuída, o tempo de presa também será acelerado ou
retardado.
Na prática, o operador pode variar o tempo de presa alterando a relação
A/P ou o tempo de espatulação, isto dentro de limites.
 Relação água/pó: Quanto mais água for usada na mistura, menor
será o número de núcleos de cristalização por unidade de
volume. Em razão disto, o tempo de presa será aumentado.

5.6 RELAÇÃO ÁGUA/PÓ


A proporção entre a água e o pó é usualmente expressa como relação
água/pó, ou seja, o quociente obtido quando o peso ou volume da água é
dividido pelo peso do pó.
Para a presa, 100g de hemidrato combinam com 18,6 mL de água.
Porém, essa quantidade não é suficiente para que o material apresente
plasticidade que permita a sua manipulação. Assim, para atingir essa
plasticidade são necessários mais que 18,6 mL de água, o que nos faz concluir
que há sempre um excesso de água presente na mistura, sem reagir. A água
residual enfraquece o gesso.
A quantidade de água e do pó de hemidrato deve ser medida e pesada
de forma exata. pois trata-se de um fator importante para as propriedades
físicas e químicas do gesso endurecido. Quanto maior a relação A/P, mais
prolongado será o tempo de presa, pois será menor a concentração de
núcleos por volume, e menos resistente será o produto final. Esta relação A/P
varia entre os tipos de gesso.

 Espatulação: Dentro de limites práticos, quanto maior for o


tempo, a velocidade e a energia com que o gesso é manipulado,
mais curto será o seu tempo de presa. Alguns cristais de gesso
se formam imediatamente quando o gesso comum ou pedra é
colocado em contato com a água. Quando a espatulação se
inicia, a formação desses cristais de gesso aumenta. Nessa
manipulação, os cristais em formação são fraturados com a
espátula e distribuídos na massa, o que resulta na formação de
novos núcleos de cristalização. Com isto, o tempo de presa
diminui.
 O uso de água com diidrato: Se, para a manipulação do gesso,
utilizamos água saturada com diidrato (“água gessada”),
aumentamos o número de núcleos de cristalização e,
conseqüentemente, diminuímos o tempo de presa.

A importância desse controle reside no fato de que, às vezes, necessitamos


da obtenção de um modelo mais rapidamente, ou, pelo contrário, existem

Fernanda Panzeri
Gessos 49

situações em que necessitamos de um tempo de trabalho maior, situação em


que podemos aumentar o nosso tempo de presa.

5.7 EXPANSÃO DE PRESA

Independentemente do tipo de produto de gesso empregado, é possível


detectar-se uma expansão da massa durante a transformação do hemidrato
em diidrato. Dependendo da composição do gesso, pode-se observar
expansões lineares tão pequenas quanto 0,06% ou tão altas como 0,5%.
Como foi visto anteriormente, no processo de cristalização fica evidente
o crescimento para fora dos cristais a partir dos núcleos de cristalização.
Tomando como base que os cristais de diidrato formados se entrelaçam, não é
difícil imaginar que durante este crescimento cristalino, a partir dos núcleos, os
cristais como um todo não só se entrelaçam, mas também se chocam,
impedindo o crescimento de outros cristais. Se o crescimento de um cristal é
interrompido por outro, o resultado será o aparecimento de uma tensão neste
ponto, cuja resultante se direciona para o núcleo de cristal que teve seu
crescimento impedido.
Como este processo se repete em milhares de cristais durante o
crescimento, é possível que estas tensões resultantes empurrem para fora o
conjunto em formação, promovendo uma expansão de toda a massa. É por isto
que uma expansão aparente ou observada irá ocorrer, mesmo que o volume
verdadeiro dos cristais, isoladamente, seja menor. Estes choques e
movimentos dos cristais têm como conseqüência a formação de microporos.
Visto que o produto da reação (diidrato) na prática tem um volume
externo maior que o seu volume cristalino, conclui-se que o gesso endurecido
é poroso.
A estrutura final imediatamente após a presa é, portanto, composta de
cristais interligados e de microporos entre eles, além de poros resultantes da
água em excesso que é necessária para a mistura (Fig. 5-2). Como, com o
tempo, o excesso de água será eliminado, a tendência é que apareçam mais
espaços vazios ou poros.

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Gessos 50

Figura 5-1 - Há dois tipos de porosidades: a pequena - entre os cristais - e as eventuais


bolhas de ar incorporadas

5.7.1 Controle da expansão de presa

Algumas vezes a expansão de presa nos procedimentos odontológicos


é vantajosa e em outras se constitui uma desvantagem. Consequentemente é
necessário controlá-la para que se obtenha uma precisão desejada nas
aplicações odontológicas dos gessos.
Quanto menor for a relação A/P e maior o tempo de espatulação dentro
de limites práticos, maior será a expansão de presa.
O efeito da relação A/P na expansão de presa é de esperar, com base
em fundamentos teóricos. Com uma maior relação A/P, menos núcleos de
cristalização existirão por unidade de volume, diferentemente do que acontece
em misturas espessas que têm maior quantidade de pó. No primeiro caso,
pode-se dizer que o espaço entre os núcleos de cristalização será maior e,
consequentemente, haverá menos choques que empurram os cristais de
diidratos em formação para fora.

5.8 EXPANSÃO HIGROSCÓPICA DE PRESA

O gesso comum e o gesso pedra tomam presa ao ar livre. Se este


processo de endurecimento ocorresse em água, a expansão de presa poderia
ser maior que o dobro em sua magnitude.
A razão para o aumento da expansão, quando o hemidrato reage imerso
em água, está relacionada com o crescimento adicional dos cristais e não por
nenhuma alteração da reação química de presa.
A teoria é ilustrada na figura 5-3. No estágio I, a mistura inicial está
representada por 3 partículas circulares de hemidrato, envolvidas por água.
No estágio II, a reação se inicia e os cristais de diidrato começam a se
formar. Na representação esquemática da esquerda o volume de água que
circundava as partículas é diminuído devido à hidratação, fazendo com que
estas se aproximem, permanecendo mais juntas devido à ação da tensão

Fernanda Panzeri
Gessos 51

superficial. No diagrama esquemático do lado direito, o gesso está tomando


presa imerso em água. Como conseqüência, a água que é usada para
hidratação é reposta e a distância entre as partículas permanece a mesma.

Figura 5-2 - Representação esquemática da expansão de presa do gesso


Com o crescimento, os cristais de diidrato entram em contato uns com
os outros, iniciando a expansão de presa. Como é mostrado no estágio III no
lado esquerdo do diagrama, a água em volta das partículas diminui mais ainda.
As partículas originais já apresentam seus cristais entrelaçados e a contração
que deveria existir é compensada com o crescimento dos cristais para fora,
devido aos entrechoques existentes. Já no lado direito do diagrama, neste
estágio, os cristais não têm seu crescimento tão inibido, pois a água utilizada
para a hidratação é reposta. De fato, as partículas originais estão agora
ligeiramente mais afastadas devido ao crescimento dos cristais, e a expansão
de presa torna-se finalmente evidente.
Nos estágios IV e V, esse efeito torna-se mais marcante. Os cristais do
lado esquerdo, que tiveram o crescimento inibido, se entrelaçam mais cedo
que aqueles da direita e, assim, estes últimos crescem mais livremente durante
os estágios iniciais, antes que ocorra o entrelaçamento que impede uma
posterior expansão. Fica claro que a expansão de presa observada é muito
maior quando o gesso endurece imerso em água do que quando ele toma
presa exposto ao ar ambiente.
Sabe-se que o mecanismo do crescimento cristalino é o mesmo nos
dois casos, existindo em ambos uma expansão de presa verdadeira. Para
diferenciar os dois fenômenos, a expansão de presa que acontece ao ar é
conhecida como expansão de presa normal, enquanto aquela que acontece

Fernanda Panzeri
Gessos 52

quando o gesso toma presa imerso em água é denominada de expansão


higroscópica de presa.
Novamente deve ser enfatizado que a expansão de presa higroscópica
é de natureza física e não devida a uma reação química, da mesma maneira
que acontece com a expansão de presa normal. A diminuição da relação A/P
aumenta, de forma semelhante, a expansão higroscópica de presa, bem como
a expansão normal de presa. Por outro lado, o aumento da espatulação
também aumenta a expansão higroscópica.
Esta expansão pode ser suficiente para causar um erro, resultando em
uma falta de adaptação de uma dentadura ou outro aparelho similar que fosse
construído sobre um modelo que apresentasse esta expansão.

5.9 TIPOS DE GESSO

 Gesso comum para moldagem (Tipo I): Este é o gesso comum ou


Paris, ao qual foram adicionados modificadores para controlar o tempo e a
expansão de presa. Atualmente este material é raramente usado para
moldagem, pois ele foi substituído por outros produtos menos rígidos, como os
hidrocolóides e elastômeros.

 Gesso para modelo (Tipo II): Sua grande limitação era a baixa
resistência. Este tipo de gesso pode utilizar uma baixa relação A/P e, com isto,
a resistência é dobrada, apesar do aumento da expansão de presa.
Este gesso tipo II é atualmente usado principalmente para o
preenchimento de muflas, durante a construção de dentaduras, pois neste
caso a expansão de presa não é crítica e a resistência que o produto
apresenta é adequada, com base no que define os limites de especificação.
Este produto é normalmente comercializado na cor branca, para contrastar
com os gessos pedra, que em geral são coloridos.

 Gesso pedra (Tipo III): Ele é indicado para construção de


modelos, na confecção de próteses totais que se ajustam aos tecidos moles,
pois ele apresenta uma resistência adequada para as etapas envolvidas no
trabalho e é fácil remover a prótese após a sua conclusão. Troquéis
reproduzem dentes com cavidades preparadas nas quais serão
confeccionadas próteses. Durante o processo de fabricação dessa prótese, é
necessário que o material do troquel apresente grande resistência e dureza. É
preciso salientar que uma ligeira expansão é tolerável em um modelo que
reproduz os tecidos moles, mas não é aceitável quando envolve a moldagem
de dentes com preparos cavitários. O gesso pedra do tipo III é preferido para a
confecção de modelos durante a fabricação de dentaduras.

 Gesso pedra de alta resistência (Tipo IV): Os principais requisitos


de um gesso para troquel são a resistência, a dureza e um mínimo de
expansão de presa. Para obter estas propriedades, um α-hemidrato é utilizado.
Partículas do tipo cubóide e a diminuição da superfície da partícula produzem
tais propriedades sem a necessidade de ter-se uma mistura mais espessa.

Fernanda Panzeri
Gessos 53

É necessário que um gesso para troquel possua uma superfície


resistente, pois nele existirá uma cavidade que será preenchida com cera. Esta
cera será esculpida e precisará ter um contato íntimo com as margens do
troquel. Para realizar este procedimento, usa-se um instrumento afiado e, por
conseqüência, o troquel terá que ser resistente à abrasão. É um fato promissor
que a dureza da superfície aumente mais rapidamente que a resistência à
compressão, isto porque a secagem na superfície acontece mais rapidamente.
Isto constitui uma vantagem real, pois a superfície do troquel deve resistir à
abrasão enquanto o corpo do troquel é tenaz e, portanto, menos sujeito a uma
fratura acidental.

 Gesso pedra com alta resistência e com alta expansão (Tipo V):
Este é o mais recente produto de gesso, pois apresenta uma resistência à
compressão superior àquela do gesso tipo IV. Este aumento de resistência é
conseguido principalmente pela diminuição da relação A/P. Por outro lado, a
expansão de presa foi aumentada de 0,10 para 0,30%. A razão para o
aumento da expansão de presa é que certas ligas novas, como as de metais
básicos, apresentam uma grande contração de solidificação, diferentemente
da apresentada pelas ligas de metais nobres. Por isso, é necessário uma
maior expansão do gesso pedra utilizado para a confecção do troquel, de
modo a compensar a contração de solidificação da liga.

5.10 CONSIDERAÇÕES SOBRE O CONTROLE DE INFECÇÕES

Está havendo um aumento do interesse em expandir os meios de


controle de infecção nos laboratórios odontológicos. Existe um entendimento
sobre a possibilidade de contaminação cruzada do pessoal que trabalha
nesses ambientes por microrganismos, pelo vírus da hepatite B e pelo vírus da
AIDS. A via de transmissão pode ser os materiais de moldagem. Se um molde
não foi desinfetado, ou se o laboratório não tem a certeza de que os
procedimentos de desinfecção foram seguidos, é prudente que se desinfete o
modelo de gesso pedra. Para isso, podem ser utilizadas soluções
desinfetantes, já que estas não provocam efeitos adversos nas qualidades do
modelo de gesso. Porém, imersão prolongada em soluções de desinfetante
pode causar mudanças dimensionais inaceitavelmente grandes em moldagens
de hidrocolóides e polieter. Além disso, durante procedimentos clínicos
subseqüentes, modelos podem se tornar reinfectados com organismos
patogênicos que podem ser transferidos, então, ao pessoal técnico. Como uma
alternativa, a adição de desinfetantes na água utilizada para a manipulação do
gesso foi investigada - 5% fenol e 2% glutaraldeído provaram ser efetivos, e
não afetaram as propriedades do material. Porém, adversamente, ambos são
irritantes de tecido conhecidos. Apesar de a adição de um desinfetante poder
provocar ligeiros efeitos em algumas propriedades físicas de certos produtos,
os gessos pedra desinfetados aparentemente se comparam favoravelmente
com aqueles não desinfetados e usados como controle.
Quando se tratam pacientes com casos conhecidos de infecção, a
esterilização gasosa por toda a noite, utilizando autoclave, é uma opção.

Fernanda Panzeri
Gessos 54

Entretanto, este processo é impraticável no uso rotineiro pelos profissionais e


pessoal de laboratório.

BIBLIOGRAFIA

ANUSAVICE, J. Produtos à Base de gesso. In: ________ Materiais Dentários de Phillips. Rio de
Janeiro, Guanabara Koogan, 1ª ed. 1998 p. 111-124.
CRAIG, R.G.; POWERS, J.M.; WATAHA, J.C. – Materiais para confecção de modelos e troqueis. In:
________ Materiais Dentários. Propriedades e Manipulação. São Paulo, Santos, 7ª ed. 2002 p. 185-
208.
DARVELL, B. W. – Gypsum Materials In: ________ Materials Science for Dentistry. Hong Kong, 6ªed,
2000 p. 34-52.
FERRACANE, J. L. – Dental Plaster and Stone. In: ________ . Materials in Dentistry. Principles and
Applications. Philadelphia, Lippincott Williams & Wilkins, 1995. p. 199-219.
McCABE, J. F.; WALLS, A. W. G. – Gypsum Products for Dental Casts. In: ________. Applied Dental
Materials. London, Blackwell Science, 8ª ed. 1998. p. 29-35.

Fernanda Panzeri
Gessos 55

ROTEIRO DE AULA PRÁTICA

Gessos Odontológicos

1. Instrumentais Necessários

 Gral de Borracha
 Espátula para Gesso
 Balança
 Proveta
 Agulhas de Gillmore
 Agulha de Le Chatelier
 Régua milimetrada

2. Materiais Utilizados

 Gesso tipo II (Comum)


 Gesso tipo III (Pedra)
 Gesso tipo IV (Pedra melhorado)

3. Exercícios

3.1 – Observar a densidade dos diferentes tipos de gesso

 Pesar 30g de gesso tipos II, III e IV


 Dispersar cada um dos gessos em uma proveta
 Verificar o volume ocupado em cada um dos casos.

3.2 – Manipulação

 Colocar a água no gral


 Dispersar o pó sobre a água
 Espatulação vigorosa
 Tempo de espatulação: 1 minuto

3.3 - Verificação do Tempo de Presa

 Determinar tempos de presa inicial e final para os três tipos


de gesso utilizando a Relação A/P segundo o fabricante
 Manipular o gesso de acordo com as recomendações
acima
 Colocar o gesso manipulado no recipiente recebido
 Utilização das agulhas de Gillmore
 A cada 30 segundos aplicar a agulha menor.
Quando ela não mais marcar a superfície do gesso
atingiu-se o tempo de presa inicial.

Fernanda Panzeri
Gessos 56

 Em seguida, a cada 30 segundos, aplicar a agulha


maior. Quando ela não mais marcar a superfície do
gesso, ou essa marca for quase imperceptível,
atingiu-se o tempo de presa final do gesso.

3.4 – Controle do Tempo de Presa

 Determinar tempos de presa inicial e final variando a relação A/P


 Manipular cada tipo de gesso com a relação A/P acima e/ou
abaixo da recomendada pelo fabricante e verificar os tempos
de presa inicial e final.

 Determinar tempos de presa inicial e final variando o tempo de


espatulação
 Manipular os três tipos de gesso com a Relação A/P segundo o
fabricante por um tempo maior (2 minutos) e/ou menor (30
segundos) e verificar os tempos de presa inicial e final

3.5 – Verificação da Expansão de Presa

 Colocar as extremidades da agulha de Lê Chatelier sobre a régua


milimetrada e anotar a distância entre elas
 Manipular os diferentes tipos de gesso com relação A/P segundo o
fabricante
 Colocar a mistura dentro da agulha de Le Chatelier
 Aguardar a presa final dos gessos
 Medir a distância entre as extremidades da agulha novamente

3.6 – Verificação da Expansão Higroscópica

 Colocar as extremidades da agulha de Lê Chatelier sobre a régua


milimetrada e anotar a distância entre elas
 Manipular os diferentes tipos de gesso com relação A/P segundo o
fabricante
 Colocar a mistura dentro da agulha de Le Chatelier
 Adicionar sobre a mistura 1mL de água
 Aguardar a presa final dos gessos
 Medir a distância entre as extremidades da agulha novamente

4 – Elaborar relatório sobre as características de manipulação que


você observou durante a aula e corelacionar às propriedades do material.

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Gessos Odontológicos
Resultados

Tempo de Presa
Inicial Final
Tipo de
II III IV II III IV
Gesso
Relação A/P
segundo o
fabricante
Menor
Relação A/P
Maior Relação
A/P
Maior Tempo
de
Espatulação
Menor Tempo
de
Espatulação

Expansão
Medida Inicial Medida Final Total
Tipo de
II III IV II III IV
Gesso
Expansão de
Presa
Expansão
Higroscópica
6 Introdução aos Materiais de Moldagem
6.1 INTRODUÇÃO

Construir um modelo é um passo importante em numerosos


procedimentos odontológicos. Vários tipos de modelos podem ser feitos a
partir do gesso que são obtidos através de uma reprodução em negativo das
estruturas anatômicas, a moldagem. É no modelo de gesso que o dentista
desenha e constrói tanto a prótese fixa como removível. Assim, o modelo
precisa ser uma reprodução exata e fiel das estruturas orais.
Para produzir uma moldagem precisa, o material de moldagem
empregado para reproduzir fielmente a réplica dos tecidos intra e extra-orais
deve preencher os seguintes requisitos:

6.2 REQUISITOS DOS MATERIAIS DE MOLDAGEM

 Facilidade de mistura
 Tempo de trabalho adequado
 Tempo de presa
 Recuperação elástica e rigidez
 Estabilidade dimensional
 Fidelidade de reprodução
 Facilidade de vazamento
 Custo acessível

Nenhum material preenche todos os requisitos, e a seleção do melhor


material para uma dada situação clínica particular e laboratorial fica a critério
do dentista. Também devem ser levadas em consideração as condições
ambientais, as características do tecido, a qualidade da moldagem e a
qualidade do modelo.

6.3 CLASSIFICAÇÃO DOS MATERIAIS DE MOLDAGEM

Os materiais de moldagem podem ser classificados como reversíveis ou


irreversíveis, de acordo com a maneira pela qual o material endurece. O termo
irreversível implica que reações químicas ocorrem; assim, o material não pode
ser revertido ao estágio inicial.
Por outro lado, o termo reversível revela os materiais que amolecem sob
o calor e solidificam quando resfriados, com nenhuma mudança química.
Outra forma de classificar os materiais de moldagem é segundo o seu
uso. Alguns materiais de moldagem tomam-se rígidos e não podem ser
removidos sem fraturar ou distorcer a moldagem. Esses materiais são
classificados em anelásticos. Eles não são capazes de sofrer deformação
elástica no momento da remoção da moldagem e em qualquer retenção podem
ser fraturados (Fig. 6-1).
Os materiais de moldagem elásticos definem a segunda categoria.
Esses materiais são capazes de reproduzir adequadamente tanto os tecidos
duros como tecidos moles da boca, incluindo os espaços retentivos. Esses
materiais de moldagem se subdividem em dois tipos: os hidrocolóides e o
elastômeros.

Figura 6-1 - Comportamentos diferentes dos materiais de moldagem frente à retenções


7 Hidrocolóides
Hidrocolóides 62

7.1 COLÓIDES

Para o melhor entendimento do hidrocolóide, temos que aprender o que


é um colóide.
Devido às suas diferenças de estrutura, constituição e reação, os
colóides são freqüentemente classificados como o quarto estágio da matéria,
conhecido como estado coloidal.
Examinemos uma solução de açúcar em água. As moléculas de açúcar,
ou seja, o soluto, se dispersa uniformemente na água ou no solvente. Há uma
atração mútua entre as moléculas de açúcar e as de água, havendo uma fácil
difusão daquelas de açúcar. Se o açúcar for substituído por partículas maiores
e visíveis, que não se solubilizem, como a areia, o sistema será denominado
suspensão.
Num ponto entre os extremos, onde existem moléculas muito pequenas
em solução e partículas muito grandes em suspensão, encontra-se a solução
coloidal ou o sol coloidal. Neste ponto, não há uma linha que demarque a
separação destes sistemas.
Nas soluções verdadeiras existe uma única fase. Não há separação
entre a molécula do soluto e a do solvente. Já para os colóides ou as
suspensões, evidenciam-se 2 fases: a fase dispersa ou de partículas dispersas
e a fase dispersiva ou meio dispersivo.
Os materiais coloidais usados para moldagens são o ágar ou o alginato
dissolvidos em água; daí o nome de hidrocolóide.

7.2 OS HIDROCOLÓIDES

No final do século passado, um químico escocês observou que certas


algas marrons produziam um extrato mucoso, que chamou de algin. Esta
substância natural foi mais tarde identificada como sendo um polímero linear e
foi incorporada ao material de moldagem, surgindo um material de boa
aceitação, sendo que os principais fatores responsáveis pelo seu sucesso
foram:

 Fácil manipulação
 Conforto para o paciente
 Baixo custo

7.2.1 Composição e Reação de Geleificação do Alginato

Alginato de potássio 15%


Sulfato de Cálcio 16%
Óxido de Zinco 4%
Fluoreto de potássio e 3%
titânio

Fernanda Panzeri
Hidrocolóides 63

Diatomita 60%
Fosfato de sódio 2%

O componente principal do hidrocolóide irreversível para moldagem é


um alginato solúvel. Ele é normalmente um polímero linear de um sal de sódio
do ácido algínico. O ácido algínico é insolúvel em água, mas alguns de seus
sais, não. A maioria dos sais orgânicos é insolúvel, mas aqueles obtidos do
sódio, potássio e amônia apresentam solubilidade em água. Por isso, nesse
caso, é utilizado o alginato de sódio e potássio.
O alginato de potássio e o sulfato de cálcio estão incluídos no pó e,
quando misturados com água, o sulfato de cálcio é dissolvido. Nesse
momento, o material encontra-se na forma de sol. Dissolvido, o sulfato de
cálcio reage com o alginato de potássio para produzir alginato de cálcio. O
alginato de cálcio é insolúvel e sua formação causa a mudança do material
para gel.

Kn Alg + n/2 CaSO4 n/2 K2SO4+ Ca n/2 Alg

A reação é retardada com a adição de fosfato de sódio, pois o sulfato de


cálcio irá reagir preferencialmente e em maior magnitude com ele, formando
um sal de cálcio insolúvel. Desta maneira, a reação entre o sulfato de cálcio e
o alginato solúvel é parcialmente impedida ou retardada pelo período em que o
fosfato de sódio estiver na solução. Esse elemento deve ser adicionado ao pó
com cuidado, de modo a fornecer um tempo de geleificação adequado.
O objetivo da diatomita na composição é agir como carga. Se
adicionada em quantidade apropriada, ela aumentará a resistência e a dureza
do gel de alginato, além de propiciar uma textura macia e assegurar uma
superfície do gel firme e não aderente. Ela também auxilia na formação do sol,
facilitando a dispersão das partículas de pó de alginato na água. Sem esta
carga, o gel formado não teria firmeza e exibiria uma superfície pegajosa.
O óxido de zinco também pode atuar como carga, e tem certa influência
sobre as propriedades físicas e o tempo de endurecimento do gel.
O fluoreto de titânio e potássio é incorporado para promover uma
superfície mais densa e dura no modelo de gesso. Em concentrações
apropriadas, são aceleradores de presa dos produtos de gesso.

7.2.2 Estrutura do Gel

A geleificação de um hidrocolóide é, de alguma maneira, um processo


de solidificação. O gel é formado a partir de um sol, em decorrência de uma
reação química.

SOL GEL

Fernanda Panzeri
Hidrocolóides 64

As fibrilas do gel de um alginato mantêm-se unidas por ligações


primárias. No momento em que o gel é formado pela reação do alginato de
sódio em solução com o sal de cálcio, o íon cálcio irá substituir os íons de
sódio em duas moléculas vizinhas, produzindo desta forma uma ligação
cruzada entre elas. Com o prosseguimento da reação, forma-se um complexo
molecular de ligações cruzadas ou uma estrutura polimérica em forma de rede.
Esta rede irá formar a estrutura enovelada do gel.
A estrutura final poderia ser imaginada como uma rede de fibrilas
de alginato de cálcio em forma de novelo, na qual estaria aprisionado o sol de
alginato de sódio que não reagiu com o sal de cálcio, o excesso de água, as
partículas de carga e subprodutos da reação.

7.2.3 Controle do Tempo de Geleificação

O tempo de geleificação é medido desde o inicio da mistura até o


momento em que ocorre a geleificação do material. Ele é de muito interesse,
pois tem que ser suficiente para que o dentista manipule o material, carregue a
moldeira e posicione: na boca do paciente. Um tempo de geleificação
prolongado é tedioso tanto para o paciente quanto para o dentista. Por outro
lado, uma geleificação prematura que se inicie antes que a moldeira carregada
seja colocada na boca do paciente resultará em um molde distorcido e, na
maioria das vezes, imprestável. Uma vez começada a geleificação, ela não
deve ser interrompida, pois qualquer fratura das fibrilas será de natureza
permanente. Um gel fraturado não se une, a não ser que seja novamente
fluidificado e retome à forma de gel. Provavelmente, o tempo ideal de
geleificação deveria situar-se entre 3 e 4 minutos em urna temperatura
ambiente de 20 ºC.
Existem vários métodos para medir o tempo de geleificação.
Provavelmente, o melhor, e o mais prático para o clínico, é observar o tempo
decorrido desde o início da mistura até o momento em que o material, ao ser
tocado com o dedo limpo e seco, não se apresenta pegajoso ou aderente.
O tempo de geleificação de alguns produtos comerciais pode ser
alterado, modificando-se a relação água/pó e o tempo de manipulação, mas
isto pode alterar determinadas características do gel.
O melhor método de controle do tempo de geleificação é alterar a
temperatura da água utilizada para ser misturada com o pó do alginato.
O efeito da temperatura da água, no tempo de geleificação de um
alginato para moldagem, é mostrado no Gráfico 7-1. Fica evidente que quanto
maior for a temperatura mais curto será o tempo de geleificação. Assim, num
clima quente, precauções especiais devem ser tomadas, usando-se água fria
para a mistura. Se isto não for feito, ocorrerá uma geleificação prematura.

Fernanda Panzeri
Hidrocolóides 65

Tempo de presa (min)


5

0
0 10 30 50
Temperatura (ºC)

Gráfico 7-1 - O efeito da temperatura da água na geleificação do alginato

7.2.4 Manipulação

Para a manipulação do alginato, é utilizada uma relação A/P de 1:1, ou


seja, para cada medida de pó, uma medida de água. O pó é vertido sobre a
água pré-mensurada, que foi previamente colocada em uma cuba limpa e
seca. Então, o pó é incorporado à água, criteriosamente, com movimentos
suaves de uma espátula de metal. Cuidados devem ser tomados para não
incorporar bolhas de ar na mistura. A espatulação vigorosa, representando a
figura de um oito, é o melhor procedimento de manipulação, com a mistura
sendo espremida ou amassada de encontro às paredes da cuba, executando
uma rotação constante e intermitente da espátula (180 graus).
O tempo de manipulação deve ser de 1 minuto, sendo que esse tempo
se inicia desde o momento em que a primeira porção do pó foi colocada sobre
a água.
O resultado final da mistura deve ser uma massa lisa e cremosa, que
deve permanecer na espátula, quando retirada da cuba (Fig 6-2a-c).
Após essa etapa, a massa deve ser colocada sobre moldeira apropriada
para que o material seja levado à boca. É imperativo que o material tenha
aderência à moldeira para que o alginato possa ser retirado de áreas
retentivas em uma só etapa. Para tanto, moldeiras perfuradas devem ser
empregadas. Se uma moldeira de metal liso (sem perfurações) for
selecionada, devem ter retenções adicionais para reter o hidrocolóide (Fig. 6-
2d).
Imediatamente após a mistura, o material é rapidamente colocado sobre
a moldeira (Fig. 6-2e). É importante ter uma quantidade uniforme de material
de moldagem na moldeira para evitar que seja perdido qualquer detalhe do
tecido. Para obtenção da moldagem, a moldeira deve ser colocada na boca do
paciente primeiro na parte posterior movimentando o material para anterior, de
forma que o excesso de material escoe nessa região (Fig. 6-2f).

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Hidrocolóides 66

7.2.5 Propriedades

Resistência

O gel pode suportar tensões consideráveis, particularmente aquelas de


cisalhamento, sem escoar-se, desde que elas sejam aplicadas de maneira
rápida. Se as tensões forem mantidas por muito tempo, haverá uma
desorganização da estrutura fibrilar, resultando em um escoamento e
distorção.
A rigidez e a resistência do gel estão relacionadas com a densidade ou
a concentração da estrutura enovelada. A resistência pode ser aumentada
pela adição de certos modificadores, como agentes de carga ou substâncias
químicas.
Todos os fatores de manipulação afetam a resistência do gel e estão
sob o controle do dentista. Se, por exemplo, uma quantidade muito grande ou
muito pequena de água for usada para a mistura, o gel final se apresentará
menos resistente. Por isso uma relação A/P adequada e especificada pelo
fabricante deve ser a utilizada.
A resistência final do gel pode ser radicalmente reduzida se a
manipulação não for adequada. Uma espatulação insuficiente faz com que os
ingredientes não se dissolvam completamente e, como conseqüência, a
reação química não se processa uniformemente em toda a extensão da massa.
Uma espatulação prolongada também dá resultados deficientes, uma vez que
o gel de alginato de cálcio formado durante esta espatulação será fraturado e,
consequentemente, a resistência diminuirá. As recomendações do fabricante
que acompanham os produtos devem ser seguidas em todos os seus
aspectos.

a b

Fernanda Panzeri
Hidrocolóides 67

d
c

e f
Figura 7-1 - Seqüência de procedimentos para a obtenção de uma moldagem com
alginato

Reprodução de detalhes

A reprodução de detalhes de um material de moldagem é a capacidade


que ele apresenta em copiar os detalhes mais finos de uma estrutura a ser
moldada. A precisão de qualquer modelo, obtido a partir de uma material de
moldagem, será obviamente dependente da capacidade de reprodução de
detalhes dos dois materiais: de moldagem e do modelo.
A reprodução fiel dos finos detalhes dos tecidos duro e mole está na
dependência de fatores como a viscosidade do material de moldagem (Fig 6-3)
e a interação do material de moldagem com a saliva. Materiais hidrofóbicos
podem deixar de moldar superfícies que estão envolvidas com saliva. Sendo
os hidrocolóides materiais hidrofílicos, eles são capazes de moldar inclusive
superfícies molhadas. Porém, mesmo assim, a moldagem com alginato não é
capaz de reproduzir minúsculos detalhes. Esta é uma das razões principais
pelas quais o alginato para moldagem não é usado em casos de impressões
para prótese fixa. Tais restaurações, como uma coroa, requerem um molde
que reproduza detalhes com precisão.

Fernanda Panzeri
Hidrocolóides 68

Figura 7-2 - Um dos fatores que interfere na reprodução de detalhes de uma material de
moldagem é a sua viscosidade. Ela deve ser adequada para permitir correto escoamento
nos mínimos detalhes a copiar para que a moldagem seja correta.

Estabilidade Dimensional

Como é de esperar da estrutura de um hidrocolóide, grande parte do


volume do gel é ocupada por água. Se este conteúdo de água no gel. for
reduzido, ele irá contrair-se, e se, ao contrário, ele absorver este líquido, irá
expandir-se ou intumescer. Tais alterações possíveis de ocorrer nas
dimensões são de considerável importância em odontologia. Se estes
materiais estão sendo utilizados para obter uma moldagem, qualquer alteração
na dimensão do molde, após ele ter sido removido da boca, causará sem
dúvida um erro.
O gel pode perder água por evaporação da sua superfície ou através de
um processo de saída de exsudatos fluidos, conhecidos como sinérese. Esta é
uma propriedade característica do gel. Como conseqüência, ocorrera uma
contração.
Se o gel sofreu uma diminuição do seu conteúdo de água, irá ocorrer
uma sorção por um processo conhecido como embebição. Esta ocorre desde
que o gel esteja em contato com a água. Durante a embebição, haverá um
intumescimento do gel, até que o conteúdo original de água seja restaurado. O
gel parece exibir uma "memória" em relação a este aspecto; assim, se uma
certa quantidade de água for removida de um gel com uma determinada
concentração, a embebição irá ocorrer somente na extensão que promova a
restauração daquela água perdida.
A flutuação no conteúdo de água e as alterações dimensionais também
ocorrem durante a armazenagem do alginato, qualquer que seja o meio. Os
alginatos são mais estáveis quando armazenados em um umidificador em
umidade controlada de 100%. Entretanto, para resultados mais precisos, o
modelo deve ser construído tão logo a moldagem seja terminada.

BIBLIOGRAFIA:
ANUSAVICE, J. Materiais de moldagem Hidrocolóides. In: ________ Materiais Dentários de
Phillips. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 1ª ed. 1998 p.67-82.

Fernanda Panzeri
Hidrocolóides 69

FERRACANE, J. L. – Impression Materials. In: ________ . Materials in Dentistry. Principles


and Applications. Philadelphia, Lippincott Williams & Wilkins, 1995. p. 169-186.
McCABE, J. F. & WALLS, A. W. G. – Impression Materials: Classification and Requirements.
In: ________. Applied Dental Materials. London, Blackwell Science, 8ª ed. 1998. p. 118-126.
McCABE, J. F. & WALLS, A. W. G. – Elastic Impression Materials: Hydrocolloids. In:
________. Applied Dental Materials. London, Blackwell Science, 8ª ed. 1998. p. 133-140.
O’BRIEN, W. J. – Impression Materials In: ________ Dental Materials and their Selection.
Chicago, Quintessence Books, 2ª ed, 1997 p. 123-132.
PHILLIPS, R. W. – Materiais Elásticos para Moldagem: Alginatos (Hidrocolóides Irreversíveis).
In: ________ . Materiais Dentários de Skinner. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 9ª ed,
1993 p. 74.

Fernanda Panzeri
Hidrocolóides 70

ROTEIRO DE AULA PRÁTICA

Hidrocolóides Irreversíveis

1. Instrumentais e Materiais Utilizados


 Gral de borracha
 Espátula de aço, para gesso
 Espátula 24
 Moldeira Total Perfurada
 Alginato
 Gesso Pedra Melhorado
 Gesso Pedra
 Vibrador de Gesso
 Medidores de pó e água

2. Técnica de Espatulação
 Medir a água e colocá-la no gral de borracha
 Colocar o pó sobre a água
 Iniciar a mistura aglutinando os componentes, com cuidado.
 Espatular vigorosamente a massa
OBS: O tempo de manipulação deverá ser de 1 minuto, iniciando-se no
momento em que o pó é colocado sobre a água.
Aspecto Final: Massa fluida, brilhante e homogênea.

4. Tempo de Geleificação: Determinado quando a massa não mais


adere após o toque digital (aproximadamente 3 a 4 minutos).

5. Exercício:

Verificar a influência da relação A/P sobre o tempo de geleificação

• Manipular o alginato nas seguintes relações A/P:


o 2:2 (segundo recomendação do fabricante)
o 1:2
o 2:1
• Verifique o tempo de geleificação e a consistência da mistura nas
três situações

Verificar a influência da temperatura da água sobre o tempo de


geleificação

• Manipular o alginato na relação A/P recomendada pelo fabricante


o com água na temperatura ambiente
o com água gelada
• Verifique o tempo de geleificação nas duas situações

Fernanda Panzeri
Hidrocolóides 71

Fazer a moldagem total do arco superior do manequim e obter um


modelo de gesso composto (Gesso Pedra Melhorado na região dos dentes e
Gesso Pedra no restante)

 Preparar e provar a moldeira no manequim


 Espatular corretamente a mistura de alginato e colocar na moldeira,
preenchendo-a
 Colocar o alginato fluido nos dentes com o dedo
 Comprimir o alginato da moldeira contra a região a ser moldada e
manter a moldeira imóvel durante e após a geleificação
 Retirar a moldeira com golpe único e rápido, no sentido do longo
eixo dos dentes
 Proporcionar o gesso pedra melhorado usando como relação A/P:
80g de pó para 18 ml de água
 Espatular vigorosamente por 1 minuto e vazar o gesso sobre os
dentes utilizando a espátula 24
 Aguardar alguns minutos até o gesso perder o brilho e fazer
retenções com o restante do gesso
 Enquanto é aguardada a presa inicial do primeiro gesso,
proporciona-se o gesso pedra na relação A/P fornecida pelo
fabricante
 Espatular o gesso pedra e vazar sobre o gesso pedra melhorado e
as retenções
 Aguardar o tempo de presa final do gesso e recortar o modelo.

Apresentar relatório com as observações das seguintes características:


compare os moldes adequados com os inadequados. Quais as diferenças
apresentadas? Quais falhas ocorreram para considerar o molde inadequado?

Fernanda Panzeri
8 Elastômeros
Elastômeros 73

8.1 INTRODUÇÃO

Além dos hidrocolóides em forma de gel, existe um grupo de materiais


de moldagem que se assemelham à borracha conhecidos tecnicamente como
elastômeros. Estes materiais são classificados como borrachas sintéticas, e
foram desenvolvidos como cópias das borrachas naturais, quando estas
tornaram-se escassas durante a II Guerra Mundial.
Os elastômeros foram desenvolvidos principalmente para aplicações na
indústria, mas seu uso na medicina e na odontologia foi rapidamente realizado
e eles agora são largamente usados como materiais de moldagem. Eles
tiveram grande aceitação na odontologia devido ao fato deles oferecerem
soluções para os dois problemas principais associados aos hidrocolóides:
pouca resistência e pouca estabilidade dimensional.
Um material elastomérico é um polímero (composto formado por
sucessivas aglomerações de grande número de moléculas fundamentais). Ele
deve conter grandes moléculas, com interações fracas entre elas, mas que se
encontram unidas em certos pontos por uma rede tridimensional. A quantidade
de ligações determina a rigidez e o comportamento elástico do material.
Quando distendidas essas cadeias moleculares desenrolam-se. Após a
remoção da tensão, elas voltam ao estado emaranhado anterior.
A especificação atual da ADA considera três tipos de materiais de
moldagem elastoméricos. O tipo de classificação está baseado na relação dos
materiais por suas propriedades elásticas e por suas alterações dimensionais,
em vez de sua química. Entretanto, cada tipo está subdividido em quatro
classes de viscosidade: (1) material leve; (2) material médio ou regular; (3)
material pesado e (4) massa densa.
Quimicamente, existem quatro tipos de elastômeros usados como
materiais de moldagem dentários: os polissulfetos, as siliconas que
polimerizam por condensação, as siliconas que polimerizam por adição, e os
poliéteres.

8.2 POLISSULFETO

8.2.1 Composição

Esses materiais são geralmente acondicionados em um sistema de duas


pastas. Uma delas é a pasta base e a outra é a pasta catalisadora.
O ingrediente básico da pasta base é o polímero, uma mercaptana ou
um polímero de polissulfeto, representada esquematicamente pela fórmula:

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Elastômeros 74

HS SH

SH

O polímero de polissulfeto tem adicionado à sua composição um agente


de carga para propiciar a resistência necessária, além de um plastificante, que
confere uma viscosidade apropriada à pasta. Este conjunto de substâncias
forma a pasta base. A pasta conhecida como catalisadora ou aceleradora
contém dióxido de chumbo. Nesta pasta é usado o mesmo plastificante da
pasta base, assim como é usada uma pequena quantidade de carga.
Retardadores são freqüentemente adicionados para controlar a velocidade da
reação de endurecimento.
A pasta base geralmente apresenta cor branca, devido à presença de
agentes de carga e tem um odor desagradável causado pela alta concentração
de grupamentos mercaptanos, que têm enxofre. A cor da pasta catalisadora é
dada em virtude da natureza dos agentes oxidantes utilizados; materiais que
contêm peróxido de chumbo são, normalmente, marrom escuro. O contraste de
cores das duas pastas é um auxiliar no momento da mistura, que deve ser feita
até atingir uma cor homogênea, sem estrias.
Os tubos das pastas apresentam orifícios de diâmetros diferentes. Ao
comprimir os tubos e obter comprimentos iguais das pastas, tem-se uma
relação apropriada entre o polímero e o reagente para ligação cruzada.

8.2.2 Reação de Presa


A reação de presa inicia-se no começo da mistura e alcança sua
velocidade máxima tão logo a espatulação se complete, neste estágio, uma
rede resiliente começa a se formar. Durante a presa final, um material com
elasticidade e resistência adequadas é formado e pode ser removido
prontamente de áreas retentivas.
Na mistura das duas pastas, o dióxido de chumbo catalisa a ligação dos
grupamentos terminais pendentes com outros das moléculas vizinhas, do que
resulta um aumento no comprimento das cadeias e em ligações cruzadas entre
elas (Fig.7-1).

8.2.3 Manipulação

Comprimentos iguais das duas pastas são espremidos sobre uma placa
de manipulação. É importante salientar que, como a compensação do material
no tubo da pasta base está balanceada para aquele encontrado no tubo da
pasta aceleradora, devemos utilizar sempre as pastas originais fornecidas pelo
mesmo fabricante.

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Elastômeros 75

HS SH SH SH

SH SH

SH
PbO2

HS HS

HS S S SH

S SH

HS HS

Figura 8-1 - Reação de presa do polissulfeto. O oxigênio do peróxido de chumbo reage


com o hidrogênio do grupamento SH e forma moléculas de água

Fernanda Panzeri
Elastômeros 76

Após colocar as quantidades necessárias das pastas naquela placa de


manipulação, devemos inicialmente, com a espátula de aço inoxidável, levar
toda a pasta catalisadora e distribuí-la sobre a pasta base. Depois disto,
espalhamos a mistura sobre a placa de manipulação. Com a espátula e
utilizando movimentos circulares, continuamos este processo de mistura até
que toda a pasta apresente uma cor uniforme, sem estrias provenientes das
cores da pasta base ou da catalisadora (Fig. 7-2). Se a mistura não ficar
homogênea, a polimerização não se dará uniformemente e, como
conseqüência, teremos distorções no molde.
Algumas pastas de polissulfetos são extremamente viscosas e
pegajosas. Conseqüentemente são difíceis de manipular. Nesses casos, se a
força aplicada for suficiente e a espatulação for rápida, o material terá
espessura mais fina e será fácil de manipular. Esse fenômeno é chamado de
pseudoplasticidade.

8.2.4 Propriedades

As características dos polissulfetos diferem consideravelmente daquelas


do alginato.

Tempo de presa

O tempo de presa pode ser definido como aquele passado desde o


início da manipulação até que a polimerização tenha atingido um grau
suficiente que permita remover o molde da boca com um mínimo de distorção.
Foi verificado que o tempo de presa não corresponde ao tempo de
polimerização. Atualmente, sabemos que a polimerização pode continuar, por
um tempo considerável, após a presa.
Uma outra propriedade a ser relatada será o tempo de trabalho. A
medida deste tempo também se inicia ao começar a espatulação e termina
imediatamente antes que o material apresente propriedades elásticas. O
tempo de trabalho deve exceder o tempo de espatulação.
Um aumento na temperatura acelera a velocidade de polimerização de
todos os elastômeros para moldagem e, como conseqüência, o tempo de presa
e o de trabalho são diminuídos, e vice-versa.
Um método prático de aumentar o tempo de trabalho (e
conseqüentemente o tempo de presa) é manter o material em ambiente
refrigerado ou quando a mistura é feita em um bloco de espatulação resfriado
e seco Por outro lado, quando o material de moldagem é levado à boca, o
tempo de presa será diminuído por ser a temperatura oral mais elevada e pela
existência de umidade.

Fernanda Panzeri
Elastômeros 77

Figura 8-2 - Manipulação do polissulfeto

Elasticidade

Como era de esperar, as propriedades elásticas desses materiais para


moldagem melhoram com o tempo de polimerização. Em outras palavras,
quanto mais tempo o molde possa permanecer na boca, antes da sua
remoção, mais preciso ele será. O tempo de presa mencionado pelo fabricante
nem sempre corresponde àquele em que o material tenha conseguido uma
elasticidade suficiente para impedir uma deformação permanente quando da
remoção do molde, sendo esta afirmação especialmente válida para os
polissulfetos e as siliconas de adição.
A recuperação de uma deformação elástica, após um esforço como a
remoção de uma moldagem, é mais vagarosa para os polissulfetos do que
para os outros elastômeros. Além disso, os polissulfetos exibem mais
deformações permanentes após forças de compressão, quando comparado
com os outros materiais.

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Elastômeros 78

Como esses materiais são viscoelásticos, deformações repetidas, como


as que ocorrem durante a remoção do molde da boca, irão aumentar a
deformação permanente. Esta deformação é diretamente proporcional à
duração e à quantidade da deformação produzida.

Reologia

Os polissulfetos, entre os materiais de moldagem, classificam-se em


último lugar em uma escala crescente de rigidez. Sua flexibilidade permite que
o material polimerizado seja removido, mesmo de áreas retentivas, com um
mínimo de esforço. Apesar da falta de rigidez, o material não-polimerizado tem
um alto nível de viscosidade. Esta consistência espessa do material não-
polimerizado auxilia no deslocamento de fluidos bucais presentes enquanto a
moldeira está sendo assentada. Também, o excesso de material não escoará
facilmente, reduzindo o desconforto ao paciente durante a compressão
exercida na moldeira para o assentamento.

Estabilidade dimensional

O molde deve ser vazado imediatamente após a obtenção da


moldagem, porque a moldagem é mais precisa tão logo seja removida da boca,
pois o subproduto da reação (água) é perdido, o que causa contração; além
disso, há uma recuperação incompleta da deformação, devido às propriedades
viscoelásticas.

8.2.5 Aplicações

Os polissulfetos são comumente usados para moldagens de coroas e


pontes e raramente para outras aplicações. Na fabricação de uma restauração
que deve ter uma boa adaptação, é importante que a moldagem seja a mais
acurada possível. Isso é geralmente conseguido através do uso de uma
moldeira individual confeccionada em resina acrílica.
Para confeccionar uma moldeira individual, é feito um molde prévio de
alginato e um modelo de gesso é obtido. Porções desse modelo são
recobertas com uma ou duas lâminas de cera e sobre esta cera é colocada
uma folha de alumínio, para agir como espaçador para o material de
moldagem. Resina acrílica é manipulada e colocada sobre a folha de alumínio
para formar a moldeira. Após sua polimerização, a moldeira é separada do
modelo, e a cera e o alumínio, removidos. O material de moldagem é então
colocado no espaço previamente ocupado pela cera.
O problema seguinte diz respeito à adesão do material à base de
borracha à moldeira individual. Como para os hidrocolóides, o aprisionamento
perfeito do material de moldagem na moldeira é imperativo, para que quando o
molde for removido da boca, ele não venha a sofrer distorção.

Fernanda Panzeri
Elastômeros 79

A adesão pode ser conseguida pela aplicação de um adesivo sobre a


moldeira plástica, previamente à colocação do material de moldagem. O
adesivo forma uma união tenaz entre o material à base de borracha (química)
e a resina da moldeira (mecânica). Uma ligeira rugosidade da superfície da
moldeira irá aumentar esta adesão.

8.3 SILICONAS POR CONDENSAÇÃO

No grupo das siliconas existem aquelas que se polimerizam por adição


e aquelas que se polimerizam por condensação.
Uma reação de polimerização por adição envolve a ligação de 2
moléculas para formar uma terceira, maior. Essa ligação é produzida em razão
da presença de iniciadores.

Iniciador

A+B AB

Uma reação de polimerização por condensação envolve a reação de 2


moléculas para formar uma terceira maior com a produção de uma outra
substância, que é normalmente uma molécula pequena como a água. Um
exemplo simples de uma reação por condensação é a reação de esterificação
no qual um ácido orgânico e um álcool reagem para formar um éster com a
formação de água. Essa reação pode ser ilustrada pela reação entre o ácido
acético e o álcool etílico para formar o acetato etílico:

CH3CO2H + C2H5OH CH3CO2C2H5 + H2O

O material chamado base é apresentado como uma pasta de


consistência semelhante à dos elastômeros à base de polissulfetos. Já o
catalisador é fornecido como um líquido de baixa viscosidade ou como uma
pasta.
A formação do elastômero ocorre através da ligação cruzada entre os
grupamentos terminais do polímero de silicona e o silicato alquímico, de modo
a formar uma rede tridimensional.

Fernanda Panzeri
Elastômeros 80

8.3.1 Composição

As siliconas por condensação são apresentadas como uma pasta base


e um líquido ou uma pasta catalisadora. São adicionadas partículas de carga
para a consistência da pasta.
A influência da carga na resistência dos elastômeros à base de silicona
é crítica. A ADA define quatro viscosidades diferentes para as siliconas para a
moldagem, dependendo do tipo de consistência desejada. Um desses
materiais tem uma consistência muito espessa e é comumente chamado de
silicona em forma de massa. Ela é caracterizada por apresentar alta
concentração de carga e, devido à sua grande viscosidade, é comercializada
em potes. Este material é usado como moldeira e em conjugação com as
siliconas de uma baixa viscosidade.
Esses polímeros não têm uma cor característica, como a cor marrom do
dióxido de chumbo empregado nos polissulfetos. A pasta de silicone de
condensação e a massa densa podem ser produzidas em uma grande
variedade de cores. Rosa, azuis, verdes e roxos suaves são comuns. Cada
fabricante fornece o material em diversas cores, correspondendo à sua
viscosidade. Vários tipos de corantes orgânicos ou pigmentos são utilizados
para produzir a cor. A escolha do material depende do sistema, das
propriedades desejadas e do fabricante.

8.4 REAÇÃO DE PRESA

Da mistura dos dois componentes (pasta/pasta; pasta/líquido), a reação


se inicia imediatamente nos grupamentos terminais hidroxílicos do polímero
formando ligações cruzadas. Como é uma reação por condensação, o
subproduto formado é o álcool etílico. As ligações cruzadas produzem um
aumento da viscosidade e um rápido desenvolvimento das propriedades
elásticas.

8.4.1 Manipulação

Se tanto a pasta base como aceleradora de uma silicona por


condensação são comercializados em forma de pasta, o processo de
manipulação será o mesmo descrito para os polissulfetos de borracha. Como
já foi dito anteriormente, esse material pode ter o seu reagente apresentado
em forma de um líquido oleoso corado. Assim, a pasta base é dispensada do
tubo sobre a placa de vidro com um comprimento determinado, e gotas de
líquido são proporcionadas ao lado da pasta base, segundo a indicação da
fabricante.
As siliconas em forma de massa são acondicionadas em potes e a
quantidade necessária para o uso é medida por volume e através de concha.

Fernanda Panzeri
Elastômeros 81

O acelerador é proporcionado em forma de gotas, de acordo com o volume da


pasta usada.

8.4.2 Propriedades

As características da silicona tendem a ser mais favoráveis do que


aquelas dos polissulfetos.

Tempo de presa

A temperatura tem uma influência significante na velocidade de


polimerização das siliconas por condensação. O resfriamento do material ou
do bloco de espatulação reduz a velocidade de reação.

Elasticidade

São materiais mais elásticos que os polissulfetos. Eles exibem uma


deformação mínima e recobram-se rapidamente quando deformados. Como os
polissulfetos, são materiais não muito rígidos, o que significa que não é difícil
remove-los de áreas retentivas sem distorção.

Reologia

As características viscoelásticas desses materiais sugerem que eles


podem responder elasticamente (retornar à forma original como uma mola) ou
como um líquido viscoso que facilmente sustenta uma deformação permanente
(nunca retorna à sua forma original, como uma sanfona). O material parecerá
responder mais como um elástico se a deformação for rápida; por este motivo,
o molde deve ser removido rapidamente para que a deformação seja elástica e
recobrável. Caso a deformação seja demorada, aumentam-se as chances de
ocorrer uma deformação permanente.
As consistências mais comuns de siliconas por condensação são a
massa densa e o material leve.

Estabilidade dimensional

São materiais que apresentam excessiva contração de polimerização.


Para produzir moldes precisos, uma modificação na técnica de moldagem é
necessária sendo que a massa densa será aplicada como moldeira. Sobre
esse material, será usado o material leve. Dessa forma, haverá uma redução
dessa contração.
A instabilidade dimensional desse material também é devida à perda do
produto da reação, o álcool etílico, que é uma substância muito volátil. Uma
vez removido o molde da boca, a evaporação do subproduto ocorre

Fernanda Panzeri
Elastômeros 82

continuamente. Assim, para que se obtenha um modelo mais preciso é


necessário vazar-se o molde com gesso dentro dos primeiros 30 minutos.
As siliconas são muito hidrofóbicas e são repelidas por água e por
saliva. Em razão disto, é necessário secar as áreas da boca nas quais é
necessária uma moldagem acurada. Se o campo de trabalho não está seco,
podem ocorrer bolhas na moldagem e haverá falhas.

8.4.3 Aplicações

As siliconas são comumente usadas para moldagens de coroas e


pontes e ocasionalmente para moldagens de próteses parciais. São usadas
em moldeira de estoque, oferecendo uma vantagem sobre os polissulfetos,
que são usados quase exclusivamente sobre uma moldeira individual.

8.5 SILICONAS POR ADIÇÃO

8.5.1 Composição

Esses materiais se apresentam na forma de 2 pastas. Cada pasta


contém um polímero na forma de silicona (porém, diferentes) e agentes de
carga; e uma delas contem o catalisador. Elas também são encontradas em 4
viscosidades, dependendo da quantidade de agentes de carga incorporados
pelo fabricante.
As siliconas polimerizadas por adição são materiais hidrofóbicos. Para
compensar esse defeito, os fabricantes têm feito siliconas por adição mais
hidrofílicas, incorporando um redutor de tensão superficial. Este redutor
permite, então, ao material de moldagem escoar melhor. Esses materiais
requerem, ainda assim, um campo seco, mas eles reproduzem melhor os
tecidos moles.

8.5.2 Reação de presa

Os silicones por adição são freqüentemente chamados de


polivinilsiloxano. Na mistura das 2 pastas, a reação de polimerização ocorre
causando ligações cruzadas entre os 2 tipos de polímeros. Na reação não há a
formação de subprodutos. As ligações cruzadas produzem um aumento na
viscosidade com o desenvolvimento de propriedades elásticas.

8.5.3 Manipulação

O material leve e o regular são fornecidos em forma de duas pastas, e a


massa densa é fornecida em dois potes ou latas (base e catalisador). Como
ambos, base e catalisador, contêm materiais similares, apresentam

Fernanda Panzeri
Elastômeros 83

viscosidades quase equivalentes. Portanto, estes materiais são bem mais


fáceis de serem manipulados do que as siliconas por condensação.
A similaridade na consistência das pastas e no seu comportamento
viscoelástico faz com que o material possa ser dispensado e manipulado por
um sistema automático (Fig. 8-3). Este aparelho tem certas vantagens quando
comparado à espatulação manual. Com o sistema automático, há melhor
uniformidade na proporção e na mistura, menor incorporação de ar na mistura,
e redução no tempo de manipulação. Há, também, menor possibilidade de
contaminação do material.
O material misturado é injetado diretamente sobre a moldeira, na qual
um adesivo apropriado foi aplicado.

8.5.4 Propriedades

Em muitos aspectos, a silicona por adição tem propriedades similares às


da siliconas por condensação.

Tempo de presa

A velocidade de reação é mais sensível à temperatura ambiente do que


os polissulfetos. O tempo de trabalho e o de presa podem ser expandidos pelo
resfriamento da placa de mistura. A silicona por adição pode também ser
resfriada antes do uso. Este resfriamento tem pouco efeito na viscosidade.

Figura 8-3 - Forma de apresentação da silicona por adição

Elasticidade

São os materiais que apresentam a melhor elasticidade. A distorção,


após a remoção de áreas retentivas, é virtualmente inexistente, porque esses
materiais exibem os mais baixos coeficientes de deformação permanente. A
excelente propriedade elástica representa um problema nos materiais de

Fernanda Panzeri
Elastômeros 84

massa, uma vez que estes começam a desenvolver sua elasticidade enquanto
estão sendo manipulados. Se o material for comprimido elasticamente durante
o assentamento, poderá haver recuperação elástica do material.

Reologia

Como um dos materiais mais pseudoplásticos, o efeito do aumento na


velocidade de deformação do material não polimerizado é bastante
pronunciado.

Estabilidade dimensional

São os materiais de moldagens mais estáveis. Nenhum subproduto


volátil é liberado causando uma contração. Esta estabilidade significa que o
molde não tem de ser vazado em gesso imediatamente. Pesquisas têm
mostrado que modelos vazados entre 24 horas e uma semana forma tão
precisos quanto aqueles vazados na primeira hora.

8.5.5 Aplicações

São utilizadas primariamente para moldagens de coroas e


ocasionalmente para PPR. Elas oferecem significante vantagem nos casos
onde os modelos não podem ser vazados rapidamente, uma vez que
apresentam estabilidade dimensional próxima do ideal.

8.6 POLIÉTER

Este material foi introduzido na Alemanha no final dos anos 60. Foi o
primeiro elastômero desenvolvido primariamente com a função de material de
moldagem. Todos os outros materiais de moldagem foram adaptados de outras
aplicações industriais.

8.6.1 Composição

Esses materiais estão normalmente colocados em 2 pastas. A pasta


base, contém o polímero de poliéter, uma sílica coloidal como agente de carga,
e um plastificador. Esta é colocada em um tubo grande. A pasta catalisadora,
contendo um iniciador e os demais veículos, é colocada em um segundo tubo
muito menor.

8.6.2 Reação de presa

Fernanda Panzeri
Elastômeros 85

Quando duas pastas são misturadas, uma reação por adição ocorre.
Cada estágio da reação envolve a abertura de um anel e a produção de
cátions. Uma vez que cada polímero tem 2 grupos reativos, a reação de
propagação pode produzir uma cadeia simples de ligações cruzadas.
Com o prosseguimento da reação, a viscosidade aumenta e,
eventualmente, uma borracha relativamente rígida é produzida.

8.6.3 Manipulação

Originalmente, os poliéteres eram fornecidos em uma única viscosidade.


A pseudoplasticidade dos materiais permitia que uma única mistura fosse
utilizada para seringa e como material para moldeira.
A diferença de volume entre as pastas base e aceleradora é evidente.
Elas são dispensadas em comprimentos iguais e manipuladas de forma
semelhante ao polissulfeto.

8.6.4 Propriedades

Tempo de presa

A velocidade de polimerização é menos sensível à alteração de


temperatura do que os silicones por adição.

Elasticidade

Os poliéteres sempre foram considerados os materiais de moldagem


mais rígidos disponíveis no mercado, excluindo-se as massas densas das
siliconas. Quando aplicados testes de compressão, os poliéteres são
ligeiramente menos elásticos do que as siliconas que polimerizam por adição.

Estabilidade dimensional

As alterações dimensionais do poliéter são pequenas. Como as


siliconas por adição, os poliéteres não apresentam em sua reação de
polimerização a formação de subprodutos.
A rigidez do material significa que um esforço maior deve ser aplicado
na remoção do molde de poliéter quando comparado a outros tipos de
materiais de moldagem. Ainda assim, a recuperação elástica é praticamente
completa, devido às excelentes propriedades dos poliéteres. Portanto, o molde
com poliéter pode ser vazado imediatamente, após algumas horas ou após
alguns dias, e o modelo resultante terá a mesma precisão. O material é
relativamente hidrofílico e absorve água sob condições de alta umidade. Isso

Fernanda Panzeri
Elastômeros 86

causa a embebição do molde e a distorção. Assim o armazenamento do molde


deve ser feito em ambiente seco e fresco para manter sua precisão.

8.6.5 Aplicações

São comumente usados na moldagem de coroas e, ocasionalmente,


para outras aplicações. Esses materiais tanto podem ser usados com
moldeiras de estoque como individuais.

8.7 CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE ELASTÔMEROS

Os elastômeros, de uma forma geral, apresentam características


positivas e negativas. As positivas são:
 Facilidade de trabalho
 Moldagem fiel
 Alta reprodutibilidade
 Maior resistência
 Estabilidade dimensional

Como características negativas, apresentam:


 Alguma dificuldade quando de dupla consistência
 Tendência a diminuir os cuidados frente ao tipo de material.

8.7.1 Considerações Técnicas

A espessura do material é o oposto daquilo que foi recomendado para


os hidrocolóides para moldagem, nos quais quanto maior fosse sua espessura,
melhor a precisão produzida pelo material, em compensação com aquela
obtida se fosse usada uma espessura pequena entre a parte a ser moldada e a
moldeira. Nos materiais à base de borracha, não somente a espessura deve
ser menor, como também o material deve ser uniformemente distribuído.
A necessidade de um material de moldagem reproduzir os detalhes mais
finos da cavidade oral é naturalmente evidente. Os elastômeros podem
reproduzir os detalhes mais finos. Eles são capazes de reproduzir detalhes
com mais precisão do que aqueles possíveis de serem copiados com o gesso.

BIBLIOGRAFIA:

ANUSAVICE, J. Materiais de moldagem elastoméricos não-aquosos. In: ________ Materiais


Dentários de Phillips. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 1ª ed. 1998 p.83-106.
CRAIG, R. G. ed – Impression Materials. In ________. Restorative Dental Materials. United
States, Mosby, 10ª ed. 1996. p.296-314.
GALAN Jr., J – Materiais para moldagem In: ________ . Materiais Dentários. São Paulo,
Livraria Santos, 1ª ed, 1999 p. 93-104.

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Elastômeros 87

McCABE, J. F. & WALLS, A. W. G. – Elastic Impression Materials: Synthetic Elastomers. In:


________. Applied Dental Materials. London, Blackwell Science, 8ª ed. 1998. p. 141-153.

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Elastômeros 88

ROTEIRO DE AULA PRÁTICA

Polissulfetos

1. Instrumentais Utilizados
 Bloco de espatulação
 Espátula 36

2. Proporção: 1:1 (Comprimentos iguais das pastas base e


aceleradora)

3. Exercício: Manipular o material segundo a técnica preconizada


 Técnica de Espatulação
 Pegar a pasta aceleradora e colocar sobre a pasta base
 Iniciar a mistura aglutinando as duas pastas com a extremidade
da espátula inclinada em 45º
 Continuar a mistura espatulando a massa com movimentos
circulares das faces da espátula associados com movimentos de
raspagem do material e movimentos de amassamento, enérgicos,
para evitar a inclusão de bolhas de ar.
 OBS: O tempo de espatulação deverá ser de 45 segundos
a 1 minuto
 Aspecto final: Massa fluida, de cor HOMOGÊNEA, sem estrias

4. Tempo de polimerização: Por volta de 8 minutos

Silicona Polimerizada por Condensação

1. Instrumentais e Materiais Utilizados


 Bloco de espatulação
 Espátula 36
 Espátula 24
 Espátula Lecron
 Moldeira Parcial Perfurada
 Seringa para injeção de material de moldagem
 Silicona polimerizada por condensação
 Gesso Pedra Melhorado
 Gesso Pedra

2. Exercício: Fazer a moldagem parcial do arco inferior do manequim


(região dos dentes 46 e 47) e obter um modelo de gesso composto (Gesso
pedra melhorado na região dos dentes e Gesso Pedra para base)
 Preparar e provar a moldeira no manequim
 Proporcionar a pasta base “pesada” com o medidor formeucido,
segundo a indicação do fabricante

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Elastômeros 89

 Proporcionar a pasta catalisadora e colocar sobre a pasta base


utilizando a espátula 36
 Manipular com os dedos até a completa homogeinização das
pastas
 Tempo de manipulação: 30 segundos
 Colocar a mistura na moldeira, preenchendo-a totalmente
 Levar a moldeira ao manequim e, após a polimerização do material,
remover a moldagem com movimento firme, no sentido do longo
eixo dos dentes
 Tempo aproximado de polimerização: 5 minutos
 Recortar a moldagem com a espátula Lecron na região onde será
feita a moldagem com o material fluido
 Proporcionar a pasta base “leve” e a pasta catalisadora segundo a
indicação do fabricante
 Manipular as pastas com movimentos circulares utilizando a
espátula 36, por 30 segundos
 Colocar o material de moldagem que está na seringa sobre os
dentes a serem moldados e levar a moldeira ao manequim na
mesma posição em que foi lebada anteriormente. Aguardar a
polimerização do material (± 8 minutos)
 Proporcionar o gesso pedra melhorado em sua relação A/P
recomendada usando apenas 50g de pó
 ATENÇÃO: Fazer a equivalência da quantidade de pó
 Espatular vigorosamente o gesso por 1 minuto e vazar o gesso
sobre os dentes utilizando a espátula 24 sobre vibrador
 Aguardar alguns minutos e fazer retenções com o restante do
gesso
 Enquanto é aguardada a presa inicial do primeiro gesso vazado
proporciona-se o gesso pedra na relação A/P recomendada pelo
fabricante
 Espatular o gesso pedra e vazar sobre o gesso pedra melhorado e
as retenções conformando-o para ser a base do modelo
 Após aguardar alguns minutos ajeita-se o gesso com a espátula 24
melhorando a conformação do material
Aguardar o tempo de presa final do gesso e proceder ao recorte do
modelo.

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Elastômeros 90

PROPRIEDADES E CARACTERÍSTICAS DOS MATERIAIS DE


MOLDAGEM

Silicona por Silicona por


Alginato Polissulfeto Poliéter
condensação adição
Facilidade de
Manipulação
Tempo de
vazamento
Facilidade de
remoção
Estabilidade
dimensional
Facilidade de
vazamento
Reprodução de
detalhes

Fernanda Panzeri
9 Materiais de Moldagem Anelásticos
Anelásticos 92

9.1 INTRODUÇÃO

Existem várias maneiras de classificar os materiais de moldagem. Uma


delas baseia-se no modo como endurecem. As pastas de óxido de zinco, os
alginatos e os elastômeros endurecem em função de uma reação química. Por
outro lado, existem materiais de moldagem que podem ser fluidificados pelo
calor e solidificados novamente quando resfriados, sem que ocorra uma
reação química. Tais materiais são classificados como substâncias
termoplásticas, ou que se plastificam com o aumento da temperatura.
Uma outra maneira de classificar os materiais de moldagem é de acordo
com a sua flexibilidade. Existem materiais que são flexíveis e podem ser
utilizados para moldagem de partes retentivas da boca, como os dentes.
Outros são materiais rígidos, e não podem ser utilizados em áreas retentivas,
pois, no momento da remoção da boca, podem fraturar.
Os materiais de moldagem anelásticos representam um grupo de
materiais que exibem uma quantidade insignificante de deformação elástica
quando submetidos à tensões. Além disso, eles tendem à fratura sem exibir
qualquer deformação plástica se a pressão aplicada excede sua resistência à
compressão. Devido à sua inabilidade de sustentar uma quantidade
substancial de deformação elástica sem fratura, seu uso em moldagens é
limitado. Entretanto, eles são usados em outras aplicações odontológicas.

9.2 GODIVAS

A godiva é um material termoplástico, isto é, um material que se


plastifica quando aquecido e torna-se novamente rígido quando resfriado.
A godiva é empregada principalmente em moldagens “preliminares” na
confecção de dentaduras. Ela é plastificada pelo calor, inserida nas bordas de
uma moldeira e comprimida contra os tecidos moles, antes de seu
endurecimento, promovendo o selamento periférico.

9.2.1 Composição

As fórmulas das godivas modernas são secretas. Geralmente, as


godivas são produtos da mistura de ceras, resinas termoplásticas, materiais de
carga e agentes corantes.
Uma das primeiras substâncias usadas como material de moldagem foi
a cera de abelha, e ainda hoje se constitui como um dos componentes das
godivas modernas. Como esta cera é quebradiça, produtos como a goma-laca,
o ácido esteárico e a guta-percha podem ser adicionados para melhorar a
plasticidade e as características de trabalho. Quando estas substâncias são
usadas com estes objetivos, são denominadas de plastificantes. O uso de

Fernanda Panzeri
Anelásticos 93

resinas sintéticas vem aumentando e são usadas em conjunto com as resinas


naturais.
Nas godivas, as ceras e as resinas são os componentes principais,
compondo a sua matriz. Esta mistura não é cristalina para que a godiva
apresente propriedades termoplásticas desejáveis. Entretanto, este tipo de
estrutura isolada resultará num material com alto escoamento e de baixa
resistência, mesmo à temperatura ambiente. Por causa disto, adiciona-se uma
carga.

9.2.2 Temperatura de Fusão

Sendo a godiva uma substância amorfa, não apresenta, portanto, um


ponto de fusão, mas sim, uma zona de fusão. Acima desta temperatura, os
ácidos graxos estão líquidos, plastificando ou lubrificando o material
amolecido, de forma que uma massa lisa e plástica é obtida, durante o tempo
em que a moldagem está sendo realizada. Então, todos os pormenores dos
tecidos bucais poderão ser perfeitamente reproduzidos.
O significado prático da temperatura de fusão é que ela é indicativa de
uma grande redução da plasticidade durante o resfriamento. Após o
posicionamento da moldeira carregada na boca, ela deve ser mantida
firmemente em posição até que a temperatura de fusão seja atingida. Em
nenhuma circunstância o molde deve ser movimentado ou removido sem ter
atingido a temperatura bucal.

9.2.3 Propriedades Térmicas

Devido à composição, a condutibilidade térmica da godiva é muito


baixa. Quando da plastificação da godiva, as partes externas amolecem
primeiro que as internas. É muito importante, então, que o material esteja
uniformemente plastificado no momento de sua colocação na moldeira. Mais
importante ainda é o resfriamento do material, de modo que ele endureça
completamente na moldeira antes de sua retirada da boca. Se a godiva não
estiver completamente endurecida antes que o molde seja retirado da boca, o
resultado será o aparecimento de grandes distorções por liberação de tensões.
O coeficiente de expansão térmico linear da godiva é consideravelmente
alto, quando comparado ao de outros materiais. Assim, a contração linear de
uma godiva para moldagem, da temperatura da boca para uma temperatura
ambiente de 25°C, pode variar entre 0,3 a 0,4%. A expansão volumétrica,
dentro desta mesma variação de temperatura, pode ser tão grande quanto
1,38 a 2,29%. Dependendo da temperatura ambiente, o molde poderá ter
dimensões diferentes daquelas da boca, e este erro é inevitável e inerente à
técnica.

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Anelásticos 94

9.2.4 Escoamento

O escoamento da godiva tanto pode ser benéfico, como pode ser uma
causa de erro. Após a godiva ter sido plastificada e durante o período em que
ela está sendo comprimida contra os tecidos bucais, é necessário um
escoamento adequado e contínuo. O material deve escoar facilmente,
copiando cada detalhe da região a ser moldada, reproduzindo-os com
precisão. Não deveria haver, após este momento, liberações de tensões e
conseqüentes distorções. A viscosidade ou escoamento do material nesse
estágio é função da temperatura e da sua composição.
A Especificação n° 3 da ADA para godiva permite um escoamento
máximo de 6%, à temperatura da boca. Presume-se que esta magnitude de
escoamento não é clinicamente significativa em relação à ocorrência de
distorções quando da retirada do molde da boca. Essa especificação
estabelece que o escoamento não deve ser inferior a 85%, quando a
temperatura for de 45°C. Este requisito é muito importante, pois a 45°C é a
temperatura aproximada na qual a godiva é levada de encontro aos tecidos
bucais.

9.2.5 Distorção

Na godiva, a liberação de tensões pode ocorrer prontamente em função


do período de tempo decorrido, mesmo que seja breve, ou pelo aumento da
temperatura. O resultado será uma distorção do molde.
Como é praticamente impossível impedir a indução de tensões na
godiva durante as diversas etapas da moldagem, o mais seguro é construir o
modelo ou troquel tão logo seja concluída a impressão, mais precisamente
dentro da primeira hora.
Algumas causas de distorções podem ser evitadas. Uma delas é não
remover o molde da boca até que o material esteja completamente endurecido.
Se, por exemplo, a superfície da godiva estiver endurecida, mas seu interior
ainda estiver plástico, a liberação de tensões ocorrerá imediatamente após a
remoção do molde.

9.2.6 Plastificação

A godiva pode ser plastificada na estufa ou sobre uma chama. Quando


a godiva é plastificada sobre a chama, deve-se ter o cuidado para ela não
ferver ou queimar, para não haver a volatilização de componentes importantes.

9.2.7 Requisitos para uma godiva

Os requisitos desejáveis para uma godiva são os seguintes:


1. Não deve ser irritante para os tecidos bucais;

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Anelásticos 95

2. Deve tomar presa à temperatura da boca do paciente ou


ligeiramente acima desta;
3. Deve estar convenientemente plástica à temperatura em que não
cause desconforto para o paciente, não sendo assim lesiva para os
tecidos moles da boca;
4. Deve endurecer uniformemente quando resfriada, sem deformações
ou distorções;
5. Quando plastificada, deve ter uma consistência tal que permita a
reprodução perfeita de pequenos pormenores das superfícies a
serem moldadas e deve manter esses pormenores depois da
solidificação;
6. Deveria ser de natureza tal que, quando o molde é removido da
boca, não se deformasse ou fraturasse, reproduzindo perfeitamente
os pormenores;
7. Sua superfície deve exibir lisura, com uma aparência brilhante,
depois de ter sido passada sobre uma chama;
8. Depois de sua solidificação, deve permitir o corte com um
instrumento afiado, sem fraturar-se;
9. Não deve apresentar alterações dimensionais durante ou depois de
sua remoção da boca, mantendo-se dimensionalmente estável
indefinidamente e sob formas de armazenamento não muito
complicadas.

9.3 PASTA DE ÓXIDO DE ZINCO E EUGENOL


Uma das reações químicas de utilidade odontológica é a que acontece
entre o óxido de zinco e o eugenol. Dentro das condições determinadas, o
resultado da reação é uma massa relativamente dura que apresenta certas
vantagens medicinais, bem como características mecânicas satisfatórias para
o uso em alguns procedimentos odontológicos. Os produtos dessa reação têm
sido usados em várias especialidades da odontologia. Assim, eles podem ser
usados como agente de cimentação, cimento cirúrgico, para restaurações
provisórias, cimento para obturação de canais radiculares, em forma de pasta,
para registro de mordida, para o reembasamento temporário de dentaduras e
como material de moldagem de desdentados totais.
A composição básica de todos esses produtos é a mesma, ou seja,
principalmente o óxido de zinco, o eugenol e a colofônia. Plastificantes,
agentes de carga, aceleradores e outros aditivos podem ser incorporados, em
função da necessidade de determinadas características para cada uso em
particular.
A pasta para moldagem é usada com a finalidade corretiva e na
moldeira individual. Assim, faz-se a moldagem preliminar com alginato e
obtém-se um modelo de gesso. Sobre este modelo, constrói-se com resina
acrílica uma moldeira individual bem adaptada. Após os desgastes
necessários, recobrem-se suas bordas com um fio de godiva plastificada e
leva-se à boca para promover o selado periférico. Esta moldeira, assim
preparada, é preenchida com a pasta de óxido de zinco e eugenol, levada à
boca do paciente para obtenção da moldagem secundária, final ou funcional.

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Anelásticos 96

A pasta pode ser obtida a partir da mistura de um pó que contém óxido


de zinco e colofônia, com um líquido à base de eugenol. Entretanto, a maioria
dos produtos comerciais já é apresentada em forma de pasta, dentro de tubos.
Um dos tubos contém a pasta, que tem como componente ativo o óxido de
zinco, e no outro está o eugenol e a colofônia, também em forma de pasta. As
duas pastas são misturadas em proporções adequadas e a mistura resultante
é levada à moldeira individual ou a um molde preliminar feito com godiva. A
moldeira ou o molde é removido após o endurecimento da pasta.
Essas pastas podem ser classificadas como materiais para impressão,
rígidos ou anelásticos, e que endurecem por uma reação química.

9.3.1 Composição

Um dos tubos contém eugenol e colofônia e o outro óxido de zinco e


óleos vegetais e minerais fixados. A adição de colofônia facilita a velocidade
da reação e produz uma mistura final mais homogênea e suave. Óleos
vegetais ou minerais fixados, colocados numa das pastas, agem como
plastificantes e mascaram a ação irritante do eugenol.

9.3.2 Química

A primeira reação consiste na hidrólise do óxido de zinco, formando o


hidróxido de zinco, o que indica que a água é essencial para esta reação. O
óxido de zinco desidratado não reage com o eugenol desidratado. A água é
provavelmente um dos produtos da reação, sendo esta autocatalítica.
O endurecimento ocorre após uma típica reação ácido-base, formando
um quelato

ZnO + H2O ↔ Zn(OH)2

Zn(OH)2 + 2HE ↔ ZnE2 + 2H2O

Imagina-se que o quelato formado é um gel amorfo que tende a


cristalizar-se, promovendo o aumento da resistência da massa endurecida. A
formação do eugenolato de zinco cristalino é aumentada significantemente
quando a reação de presa é acelerada por um acetato de zinco diidratado, que
é mais solúvel que o Zn(OH)2, podendo, portanto, suprir com mais rapidez à
solução de íons de zinco. A incorporação de colofônia à pasta de óxido de
zinco e eugenol reduz a cristalização do quelato.

9.3.3 Tempo de Presa

Fernanda Panzeri
Anelásticos 97

Ele deve ser suficiente para que o material seja manipulado, a moldeira
seja preenchida e este conjunto seja levado à boca do paciente para o ato da
moldagem. Uma vez levado à boca na condição plástica, o material deveria
endurecer num tempo pequeno. Uma presa prolongada resultará em perda de
precisão, pois será inevitável o movimento da moldeira com a pasta ainda
mole.
A composição da pasta influencia o tempo de presa. Assim, o tipo e a
quantidade de acelerador usado formam fatores muito importantes no controle
do tempo de presa.
O tempo de presa inicial é o período que vai desde o início da
espatulação até aquele em que o material perde a pegajosidade. A moldagem
deve ser realizada antes da presa inicial. A presa final é atingida quando a
ponta de um cilindro metálico com uma carga de 50 gramas, penetra menos de
0,2 mm na superfície. O tempo de presa inicial varia entre 3 e 6 minutos,
enquanto a presa final ocorre em até 10 minutos. Após a presa final, o molde
pode ser removido da boca.
O tempo de presa diminui com a elevação da temperatura e da
umidade.

Controle do Tempo de Presa

Existem várias maneiras pelas quais o profissional pode modificar a


presa.
1. A adição de água sem dúvida acelera o tempo de presa dos
produtos de óxido de zinco e eugenol, apesar de ela não poder ser
classificada num sentido estrito como acelerador. Além do mais, se
muita água estiver presente, a reação poderá ser retardada.
2. O resfriamento da espátula e do material pode ajudar a aumentar o
tempo de presa. Deve-se tomar cuidado para que, com este
resfriamento, não haja a condensação de água na placa ou
espátula, para não surtir efeito inverso.
3. O tempo de presa pode ser controlado, na maioria das vezes, pela
alteração da relação entre a pasta que contém o óxido de zinco e a
que apresenta o eugenol. Contudo, a aceleração ou retardamento
será obtido dependendo da pasta onde esteja contido o acelerador.
Se este está contido na pasta de eugenol, uma diminuição da pasta
que contém o óxido de zinco ocasionará uma aceleração da presa
e, ao contrário, um aumento provocará um retardamento da presa.
Esse método, portanto, não é recomendado.
4. O tempo de manipulação provoca alterações no tempo de presa.
Dentro de limites, quanto mais longo for o tempo de manipulação,
menor será o tempo de presa.

9.3.4 Consistência e Escoamento

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Anelásticos 98

A consistência e o escoamento da pasta recém-manipulada, ao ser


levada à boca do paciente, têm uma grande importância clínica. Uma pasta
espessa e viscosa, no ato da moldagem, comprimirá os tecidos; já uma pasta
fluida possibilitará uma moldagem dos tecidos em posição de repouso, isto é,
com pequena ou nenhuma compressão.
A pasta para moldagem deve sempre se apresentar homogênea após a
manipulação e escoar uniformemente sobre os tecidos que estão sendo
moldados. Se isto não ocorrer, poderá haver um deslocamento dos tecidos, em
lugar de uma compressão uniforme, que é a recomendada.
Geralmente, há uma correlação entre o escoamento e o tempo de presa.
Aqueles materiais que apresentam uma diminuição do escoamento, nos
diversos intervalos de tempo, tomam presa em um tempo mais curto, sendo
também menor o intervalo de tempo entre a presa inicial e a final.

9.3.5 Rigidez e Resistência

Os moldes de pasta de óxido de zinco e eugenol não deveriam, escoar


quando de sua remoção da boca. Além disto, deveriam resistir à fratura.

9.3.6 Estabilidade Dimensional

A estabilidade dimensional da maioria das pastas para moldagem é


altamente satisfatória. Durante o endurecimento, pode ocorrer uma contração
desprezível, ou seja, menor que 0,1%. O molde pode ser preservado
indefinidamente sem alterações de forma ocasionadas pela liberação de
tensões ou outras causas de distorções. Este tipo de afirmação só é válido se
a moldeira não sofrer nenhuma deformação, sendo, portanto,
dimensionalmente estável.

9.3.7 Técnica de Espatulação

A manipulação das duas pastas é geralmente realizada sobre uma folha


de papel impermeável a óleos.
A proporção adequada das duas pastas é conseguida espremendo-se
cada um dos tubos sobre o bloco de manipulação, de modo a obter
comprimentos iguais das pastas extruídas. Como os tubos têm orifícios com
diâmetros diferentes, permitem proporcionar adequadamente os componentes
das pastas, quando os seus comprimentos sobre o bloco são iguais.
As duas pastas dispostas na placa são misturadas com a espátula e
esta espatulação continua por 1 minuto, ou pelo tempo recomendado pelo
fabricante, até que a misture apresente uma cor uniforme.

Fernanda Panzeri
Anelásticos 99

Considerações Gerais

A moldeira deve ser mantida firmemente em posição até que a pasta


tome presa. A ação aceleradora do calor da boca e da saliva, que se encontra
sobre a superfície dos tecidos, pode provocar o endurecimento da pasta
inicialmente nessas regiões de contato. Assim, qualquer distúrbio ou
movimento do molde neste momento causará uma distorção. Somente quando
o material estiver completamente endurecido, o molde deve ser removido da
boca.

BIBLIOGRAFIA
PHILLIPS, R. W. – Materiais Anelásticos para Moldagem: Godiva. Pasta de Óxido de Zinco e Eugenol.
In: ________ . Materiais Dentários de Skinner. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 9ª ed, 1993 p.
54-61.

Fernanda Panzeri
Anelásticos 100

ROTEIRO DE AULA PRÁTICA

GODIVA

1. Instrumentais Utilizados
 Lamparina a álcool
 Espátula LeCron
 Bloco de Espatulação

2. Exercício: Plastificar a godiva e imprimir a sua impressão digital


utilizando a plastificação com lamparina
 Platificação com a Lamparina
 Colocar álcool no reservatório da lamparina e acender o pavio.
♦ CUIDADO: não deixe molhada a parte externa da Lamparina
 Levar o bastão sobre a chama, na distância recomendada e, através de
movimentos circulares, fazer a platificação
 Cortar a porção plastificada com a Espátula LeCron e comprimir o
polegar contra a godiva, imprimindo a impressão digital

PASTA DE ÓXIDO DE ZINCO E EUGENOL

1. Instrumentais e Materiais Utilizados


 Bloco de Espatulação
 Espátula 24
 Agulhas de Gillmore

2. Proporção: Fornecida pelo fabricante (comprimentos iguais das pastas


base e catalisadora)

3. Técnica de Espatulação:
 Iniciar a mistura aglutinando os componentes com a extremidade da
espátula inclinada (45º)
 Continuar a mistura espatulando a massa com movimentos circulares da
face da espátula
 Tempo de Espatulação: 1 minuto
 Aspecto final: massa fluida de cor homogênea e intermediária entre as
cores das pastas originais

4. Exercícios:
 Manipular o material e verificar os tempos de presa inicial e final utilizando
as agulhas de Gillmore, procedendo como para a verificação do tempo de
presa do gesso.
 Modificar o tempo de espatulação para 2 minutos e verificar o resultado
sobre o tempo de presa

Fernanda Panzeri
Anelásticos 101

Resultados

Tempo de presa
Inicial Final
Normal – Pasta de Moldagem

Tempo de Espatulação

Fernanda Panzeri
10 Cimentos Odontológicos
Cimentos Odontológicos 103

10.1 INTRODUÇÃO

Embora os cimentos dentais só serem usados em quantidades


pequenas, eles são, talvez, os materiais mais importantes em odontologia
clínica devido à vasta aplicação deles. Esta multiplicidade de aplicações
requer mais de um tipo de cimento porque nenhum material ainda foi
desenvolvido que pudesse cumprir as exigências variadas.
Estas aplicações diferentes requerem propriedades físicas diferentes e
características de manipulação clínicas apropriadas, e assim, com respeito à
situação variável, estão sendo desenvolvidos padrões internacionais novos
(ISO, ADA) baseados em critérios de desempenho mais do que critérios de
composição específica.
Nos primeiros anos deste século, foram descobertos os cimentos fosfato
de zinco, o cimento de óxido de zinco e eugenol e cimento de silicato. Estes
foram extensamente usados até os anos setenta, quando novos cimentos
começaram a ser desenvolvidos. A introdução de tipos novos de cimentos foi
incitada pela ênfase em conceitos como biocompatibilidade e adesão ao dente,
há 20 anos atrás. Novas informações sobre histopatologia pulpar, que é o
resultado de técnicas clínicas particulares e materiais, como também a
demonstração de infiltração marginal que envolve penetração de bactérias
para a dentina e uma redução na retenção de restaurações, conduziram à
necessidade de novos materiais possuindo boa adesão ao esmalte e dentina
com baixa toxicidade.
Estes conceitos foram a base do desenvolvimento de cimentos a base
de ácido poliacrílico: primeiro o poliacrilato de zinco (policarboxilato) e depois
os cimentos de ionômero de vidro. Os cimentos de policarboxilato foram
estabelecidos gradualmente como alternativas ao cimento de fosfato de zinco,
por causa de seus efeitos mínimos à polpa, resistência semelhante,
características parecidas de solubilidade e propriedades adesivas. Os
cimentos de ionômero de vidro foram desenvolvidos mais lentamente, mas o
potencial deles para cimentação e suas aplicações restauradoras estão sendo
reconhecidas mais amplamente por clínicos.
Os cimentos baseados na reação entre hidróxido de cálcio e um
salicilato líquido também surgiram há 25 anos atrás. Eles eram principalmente
fluidos, materiais de duas pastas utilizadas para o forramento de cavidades
profundas que tinham exposição pulpar ocorrendo ou próxima em ocorrer,
assim provendo uma ação antibacteriana facilitando a formação de dentina
reparadora.
A maioria dos cimentos é apresentada na forma de pó/líquido que
podem ser dispensados e podem ser misturados manualmente ou pré-
dispensados em cápsulas que são mecanicamente misturadas. Alguns
materiais recentes são compostos de duas pastas. Os cimentos tomam presa
por reação química entre os ingredientes (freqüentemente uma reação de
ácido-base) ou envolve polimerização de um componente monomérico.
Numerosas marcas de cada tipo de cimento estão disponíveis, e há
algumas propriedades que se sobrepõem. Uma vez que as avaliações clínicas
e in vivo são limitadas, os dados de laboratório para avaliação de desempenho
clínico, requerem interpretação instruída, mesmo porque não podem ser feitas

Fernanda Panzeri
Cimentos Odontológicos 104

generalizações com base no comportamento de 1 ou 2 tipos específicos de


cimentos.

10.1.1 Uso e Classificação dos Cimentos Odontológicos

Uma das indicações de uso dos cimentos é a restauração. Os cimentos


são empregados para restaurações temporárias (dias a semanas),
intermediárias (semanas a meses), e restaurações permanentes (anos) e
também para restaurações estéticas de dentes anteriores.
Os cimentos odontológicos usados como materiais restauradores
apresentam baixa resistência quando comparados aos outros materiais
restauradores, contudo podem ser usados em áreas que recebem baixa carga
de estresse. A despeito dessa resistência inferior, eles possuem tantas
características desejáveis que o seu uso é justificado em até 60% de todas as
restaurações realizadas.
Os cimentos também são requisitados para outras aplicações. Por
exemplo, antes da colocação de uma restauração, a polpa pode ter sofrido
alguma injúria provocada por vários fatores, tais como cáries ou preparos
cavitários. Para proteger a polpa contra traumas posteriores, freqüentemente
utilizam-se os cimentos como barreira térmica, química e elétrica (Fig. 9-1),
através da colocação de bases sob restaurações metálicas, e agentes de
capeamento pulpar e revestimentos cavitários sobre as superfícies preparadas
que estão próximas à câmara pulpar. Os forradores cavitários podem também
proteger o tecido pulpar dos efeitos de certos componentes dos materiais
restauradores e contra a microinfiltração. Dessa forma, verificamos que os
cimentos odontológicos também funcionam como barreira térmica, elétrica e
química. A diferenciação entre base, forramento e capeamento pulpar é vista
na Fig 9-2.
Alguns cimentos que contêm flúor podem ser usados como selantes
para fissuras, obturações de canais radiculares e construção de núcleo para a
restauração de dentes fraturados.
Outras aplicações importantes para os cimentos odontológicos incluem
a cimentação de próteses e aparelhos ortodônticos e pinos ou núcleos para a
retenção de restaurações.
Para um desempenho aceitável em cimentação e aplicações
restauradoras, o cimento tem que ter resistência adequada à dissolução no
ambiente oral. Também tem que desenvolver uma resistência adequada às
forças mecânicas e adesão. Altas resistências à tração, compressão e
cisalhamento são requeridas, assim como boa resistência à fratura para resistir
às tensões na interface dente/restauração. Boas propriedades de
manipulação, como tempos adequados de trabalho e de presa, são essenciais
para uso próspero. A manipulação, inclusive o proporcionamento dos
ingredientes, deveria permitir alguma margem de erro em prática. O material
deve ser biologicamente aceitável.

Fernanda Panzeri
Cimentos Odontológicos 105

Figura 10-1 - Os cimentos se comportam como barreiras aos estímulos químicos,


térmicos e elétricos

A B

C
Figura 10-2 - Diferenciação entre capeamento pulpar, que se faz sobre a polpa exposta
(A); forramento (B) e Base (C)

10.2 CIMENTO DE FOSFATO DE ZINCO

O fosfato de zinco é o mais antigo dos agentes cimentantes e, como tal,


é o que mais foi pesquisado ao longo do tempo. Ele serve como padrão em
relação aos novos sistemas, quando se trata de fazer uma comparação. O
cimento de fosfato de zinco é apresentado na forma de pó e líquido, em dois
recipientes separados.

Fernanda Panzeri
Cimentos Odontológicos 106

10.2.1 Composição e presa

Os principais componentes do pó são o óxido de zinco (90%) e o óxido


de magnésio (10%). O líquido é essencialmente ácido fosfórico, água, fosfato
de alumínio e, em alguns casos, o fosfato de zinco. A quantidade de água
presente é um fator para o controle da ionização do líquido e constitui um
componente importante, uma vez que ela influencia a velocidade e o tipo de
reação pó/líquido.
Quando o pó é misturado com o líquido, o ácido fosfórico ataca a
superfície das partículas de óxido de zinco, dissolvendo-as e liberando íons de
zinco para o líquido. O alumínio, que forma um complexo com o ácido
fosfórico, reage com o zinco, produzindo um gel de fosfato de alumínio e zinco
sobre a superfície da porção remanescente das partículas. Desta forma, o
cimento endurecido será uma estrutura segregada que se constitui
principalmente de partículas de óxido de zinco que não reagiram, envolvidas
por uma matriz amorfa e coesiva de fosfato de alumínio e zinco.

10.2.2 Tempo de trabalho e de presa

O tempo de trabalho é o tempo medido desde o início da espatulação,


quando a viscosidade da mistura é tal que ela pode fluir rapidamente sob
pressão, de modo a formar uma película fina. É obvio que a velocidade de
formação da matriz determina a extensão do tempo de trabalho. Por outro lado,
o tempo de presa significa que a formação da matriz atingiu um ponto onde
distúrbios físicos externos não causarão alterações dimensionais
permanentes. Ele pode ser medido com uma agulha de Gillmore menor, sendo
definido como o tempo que vai desde o início da manipulação até o momento
em que a agulha não mais penetra na superfície e ele varia de 5 a 9 minutos.
É este o tempo em que o excesso de cimento deve ser removido das margens
da restauração.

Fatores que interferem no tempo de presa

Os tempos de trabalho e de presa dos produtos comerciais são


propriedades inerentes controladas pelo processo de fabricação. Em geral, é
desejável estender o tempo de presa do cimento, a fim de proporcionar um
tempo de trabalho suficiente para a manipulação. Alguns fatores interferem
nesse tempo:
 Relação Pó/Líquido: O tempo de trabalho e o de presa podem
ser aumentados pela redução da relação pó/líquido. Este
procedimento, entretanto, não é um meio aceitável para prolongar
o tempo de presa, porque prejudica as propriedades físicas,
resultando em um pH inicial mais baixo.
 Velocidade de Incorporação do Pó: A adição do pó ao líquido
em pequenos incrementos irá aumentar o tempo de trabalho e de
presa, pela redução da quantidade de calor gerado, permitindo

Fernanda Panzeri
Cimentos Odontológicos 107

que mais pó seja incorporado à mistura. Assim sendo, este é um


procedimento recomendável.
 Tempo de Espatulação: Quando o tempo de espatulação é
prolongado, ocorre uma destruição efetiva da matriz que estava
se formando. A fragmentação da matriz significa que um tempo
extra é necessário para reconstruir o corpo da matriz.
 Temperatura da Placa de Manipulação: O método mais efetivo
para controlar o tempo de trabalho e o de presa é o de regular a
temperatura da placa de manipulação. O resfriamento da placa
retarda a reação química entre o pó e o líquido. Desta maneira, a
formação da matriz será retardada. Este procedimento permite a
incorporação de uma quantidade ótima de pó ao líquido, sem que
haja um aumento indevidamente alto da viscosidade.

10.2.3 Propriedades

A resistência à compressão dos cimentos de fosfato de zinco para


cimentação, quando eles são adequadamente manipulados, atinge valores
altos. Mas este cimento é muito menos resistente à tração. Essa baixa
resistência à tração, quando comparada com a sua resistência à compressão,
coloca os cimentos de zinco na categoria dos materiais friáveis.
A resistência à compressão tem uma grande dependência da relação
pó/líquido. A relação pó/líquido recomendada para os cimentos fosfato de
zinco é de aproximadamente 2 partes em peso, ou seja, 1,4g/0,5mL. O
aumento de resistência conseguido com a adição de mais pó do que o
recomendado é muito menor do que a diminuição de resistência do cimento. É
provável que, diminuindo-se a relação pó/líquido, possa ter-se por comparação
uma diminuição à resistência à tração. Uma modificação da concentração de
água no líquido, por perda ou ganho, pode reduzir tanto a resistência à
compressão como à tração do cimento.
O cimento fosfato de zinco tem um alto módulo de elasticidade. Assim,
ele é muito resistente e pode resistir a deformações elásticas, mesmo quando
é usado como agente de cimentação de restaurações que estão sujeitas a
altas cargas de mastigação.
O cimento fosfato de zinco mostra uma solubilidade relativamente baixa
na água.

10.2.4 Propriedades biológicas

Como seria de esperar, a presença de ácido fosfórico promove uma alta


acidez do cimento no momento em que ele é aplicado no dente.
Dois minutos após se iniciar a manipulação, o pH do cimento de fosfato
de zinco é de aproximadamente 2. A partir daí, o pH aumenta rapidamente,
mas ainda assim ele é de 5,5 em 24 horas. O pH é mais baixo e assim
permanece por um maior período de tempo quando se empregam misturas
mais fluidas.
A partir destes dados, fica evidente que qualquer dano à polpa devido
ao ataque ácido do cimento fosfato de zinco ocorre nas primeiras horas após a

Fernanda Panzeri
Cimentos Odontológicos 108

inserção. Entretanto, estudos feitos com cimento fosfato de zinco, preparado


com líquidos que continham ácido fosfórico radioativo, indicaram que em
alguns dentes o ácido do cimento conseguiu penetrar uma espessura de
dentina de cerca de 1,5mm. Assim, se a dentina subjacente não está protegida
contra a infiltração do ácido através dos túbulos dentinários, irá ocorrer uma
injúria à polpa.

10.2.5 Retenção
Não existe nenhuma adesão do cimento fosfato de zinco com a
estrutura do dente ou com qualquer material restaurador com que ele seja
usado.
Entretanto, sem dúvida existe um imbricamento mecânico, como aquele
da ação da cola unindo o papel à madeira, e isto é que promove certa retenção
da restauração ao dente (Fig. 9-3). Quando a restauração está sendo
assentada na cavidade preparada, o dente e a restauração fundida possuem
irregularidades, as quais são preenchidas pelo cimento que está em estágio
plástico e sendo forçado pela pressão de cimentação. Após o endurecimento
do cimento, estes imbricamentos na restauração e no dente promovem a
retenção da restauração fundida. Por esta razão, restaurações com superfícies
muito polidas não apresentam uma retenção tão grande quando são
cimentadas com cimento de fosfato de zinco, como acontece com aquelas
ligeiramente rugosas.
Deve ser enfatizado que esse tipo de restauração, que é o mesmo para
os outros cimentos, é puramente mecânico e portanto não promove uma
adesão verdadeira entre as partes. Além do mais, a retenção de uma
restauração é controlada principalmente pelo desenho da cavidade, e não
pelas características adesivas do cimento.
A espessura da película ou filme de cimento entre a restauração e o
dente também é um fator de retenção. Quanto menor for a espessura da
película, melhor será a ação como agente cimentante. Esta película é
provavelmente o resultado de uma série de fatores. Um deles é que o cimento
está sujeito à falhas internas, como bolhas de ar ou defeitos estruturais no seu
corpo que podem interferir na espessura da película.
A retenção mecânica também está na dependência das alterações
dimensionais que ocorrem durante a presa do cimento, devidas ao ganho ou à
perda de água ou em função da diferença entre os coeficientes de expansão
térmica do dente, da peça a ser cimentada ou do próprio cimento.

10.2.6 Manipulação

Em resumo, os seguintes pontos devem ser observados na manipulação


dos cimentos de fosfato de zinco:

Fernanda Panzeri
Cimentos Odontológicos 109

Figura 10-3 - A retenção da peça cimentada com cimento fosfato de zinco se dá por
imbricamento mecânico, uma vez que esse material não apresenta adesão à estrutura
dentinária

 O pó e o líquido devem ser proporcionados de maneira correta,


segundo o uso do material. Entretanto, deve-se utilizar uma
quantidade de pó máxima, desde que seja possível manipular de
modo a conseguir um mínimo de solubilidade e o máximo de
resistência.
 O líquido não deve ser dispensado na placa até o momento do
início da manipulação, uma vez que a água pode ser perdida para
o ar por evaporação.
 O líquido do cimento deve ser armazenado em um frasco vedado
hermeticamente e exposto ao ar o menor tempo possível. Se o
líquido vier a ficar turvo ou com deposição de cristais, ele deve ser
descartado.
 Deve-se utilizar para a manipulação uma placa resfriada. A placa
resfriada retarda a presa e permite que o operador incorpore uma
quantidade máxima de pó, antes que se processe a formação da
matriz, chegando até um ponto em que a mistura se torna rígida.
 A manipulação é iniciada pela adição de pequenas porções do pó.
Pequenas quantidades de pó são adicionadas em intervalos de
tempo (Fig. 9-4), espatulando-se vigorosamente. Deve-se usar o
maior espaço da placa de manipulação, e cada porção tem seu
tempo exato de manipulação.
 A fundição deve ser assentada imediatamente, antes que ocorra
qualquer formação da matriz. Após a restauração ter sido levada
em posição, ela deve ser mantida sob pressão até que o cimento
endureça, isto para impedir o aparecimento de bolhas de ar. O
campo operatório deve ser mantido seco durante todo o
procedimento de cimentação.

Fernanda Panzeri
Cimentos Odontológicos 110

4ª Porção 6ª Porção
¼ ¼
15 seg 30 seg

2ª Porção
1/16 5ª Porção
10 seg 3ª Porção ¼
1/8 15 seg
1ª Porção 10 seg
1/16
10 seg

Figura 10-4 - Para a manipulação do fosfato de zinco, o pó


deve ser dividido em porções e os tempos devem ser
rigorosamente respeitados

 Como foi afirmado anteriormente, a consistência irá variar de


acordo com o propósito pelo qual o cimento será utilizado.
Entretanto, a consistência desejada deve ser sempre conseguida
pela adição de mais pó e nunca por uma mistura mais fluida, que
é menos resistente.

10.2.7 Vantagens e desvantagens

As vantagens principais dos cimentos de fosfato de zinco são que eles


podem ser misturados facilmente e que eles formam uma massa relativamente
forte a partir de uma massa de consistência fluida. A menos que a mistura
esteja extremamente fina (por exemplo, com uma relação pó/líquido muito
baixa), o cimento endurecido tem uma força que é adequada ao serviço clínico,
assim, a manipulação é menos crítica do que com outros cimentos.
Porém, desvantagens distintas do cimento de fosfato de zinco incluem
irritação de polpa, falta de ação anti-bacteriana, fragilidade, falta de adesão, e
solubilidade em fluidos orais.

10.2.8 Aplicações

Por causa da história longa deles, estes materiais têm a maior gama de
aplicações, que vão desde cimentação de restaurações metalocerâmicas
fundidas e bandas ortodônticas ao uso deles como um forramento para
cavidades profundas para proteger a polpa de estímulos mecânicos, térmicos,
ou elétricos.

Fernanda Panzeri
Cimentos Odontológicos 111

10.3 CIMENTOS DE ÓXIDO DE ZINCO E EUGENOL

Estes cimentos são usualmente apresentados na forma de um pó e um


líquido, ou algumas vezes como duas pastas. Uma grande variedade de
formulações de óxido de zinco e eugenol está disponível para uso como
restaurações temporárias e intermediárias, como forradores cavitários, como
bases para isolamento térmico e para cimentação temporária. Eles também
podem ser utilizados para a obturação de canais radiculares e como cimentos
periodontais. O pH é aproximadamente 7, no momento em que está sendo
inserido no dente. Sendo assim, é um dos menos irritantes entre todos os
materiais dentários, além de proporcionar um excelente selamento contra a
microinfiltração.

10.3.1 Composição e presa

Os principais componentes dos cimentos são o óxido de zinco e o


eugenol. Portanto, a reação de presa e a microestrutura são as mesmas das
pastas para moldagem, já discutidas anteriormente.
Materiais comerciais podem conter quantias pequenas de cargas, como
a sílica. Aproximadamente 1% de sais de zinco, como acetato ou sulfato,
podem estar presentes para acelerar a presa. Um por cento ou menos de
álcool ou ácido acético pode estar presente no líquido para acelerar a presa
junto com quantias pequenas de água, que é essencial à reação de presa.
Há um outro tipo de cimento de óxido de zinco que é chamado de
reforçado.Estes têm sido baseados em dois sistemas. Um deles é o da adição
de alumina ao pó e o ácido ortoetoxibenzóico ao líquido do eugenol.
O segundo é baseado no uso de um polímero. O pó consiste de óxido
de zinco com 10% a 40% e resinas naturais ou sintéticas junto com
aceleradores. O líquido é eugenol que pode conter resinas também dissolvidas
e aceleradores como ácido acético, além de agentes antimicrobianos como
timol ou 8-hidroxiquinolina.
O objetivo desse material reforçado é melhorar a resistência à
compressão.

10.3.2 Propriedades

O tempo de trabalho é longo porque é requerida umidade para


endurecer. Misturas de consistência para cimentação endurecem muito
lentamente a menos que aceleradores sejam usados e/ou uma gota de água é
somada. Materiais comerciais prendem a um tempo variando de 2 a 10
minutos, resultando em resistências adequadas a 10 minutos para
restaurações de amálgama serem colocadas.
A solubilidade é alta, aproximadamente 1.5% por peso em água
destilada depois de 24 horas. Eugenol é extraído do cimento preso pela
decomposição de eugenolato de zinco. O cimento desintegra rapidamente
quando exposto à condições orais.

Fernanda Panzeri
Cimentos Odontológicos 112

10.3.3 Efeito biológico

A presença de eugenol no cimento endurecido sob condições clínicas,


parece conduzir a um efeito anódino e obtundente na polpa, em cavidades
fundas. Quando exposto diretamente à condições orais, o material mantém
bom selamento marginal apesar de uma contração volumétrica de 0.9% e uma
expansão térmica de 35x10-6/ºC. A capacidade de selamento e ação
antibacteriana parecem facilitar a cicatrização pulpar; porém, quando em
contato direto com tecido conjuntivo, o material é irritante. O eugenol é um
alérgeno em potencial.

10.3.4 Manipulação

Para cada indicação, uma consistência do material deve ser obtida.


Quando o material será colocado como restauração temporária, ele deve
apresentar um aspecto de “massa de vidraceiro”. Assim, será mais fácil a
aplicação no preparo cavitário, as propriedades físicas e mecânicas serão
melhores e o efeito obtundente sobre a polpa será o mais favorável.
O óxido de zinco é lentamente molhado pelo eugenol; então, é
necessária espatulação prolongada e vigorosa, especialmente para uma
mistura grossa. Uma relação pó/líquido de 3:1 ou 4:1 deve ser usada para um
máximo de resistência.

10.3.5 Vantagens e desvantagens

A vantagem principal destes materiais é o suave e obtundente efeito


deles nos tecidos da polpa, junto com a boa habilidade de selamento e
resistência à penetração marginal.
Desvantagens incluem baixa resistência, solubilidade e desintegração
em fluidos orais, e pouca ação anticariogênica.

10.4 CIMENTOS DE IONÔMERO DE VIDRO

Ionômero de vidro é o nome genérico de um grupo de materiais que


usam pó de vidro de silicato e uma solução aquosa de ácido poliacrílico, que
contém grupos carboxílicos. Estes materiais foram formulados nos anos 70
reunindo propriedades dos cimentos de silicato e de policarboxilato. O uso de
um pó de vidro que reage ao ácido junto com solução ácida poliacrílica conduz
a um cimento translúcido, mais forte que pode ser usado para cimentação e
restauração.

10.4.1 Aplicações

Cimentos de ionômero de vidro são usados para a cimentação de


fundições metálicas, restaurações de porcelana e bandas ortodônticas; como

Fernanda Panzeri
Cimentos Odontológicos 113

forramento de cavidade ou materiais de base; como materiais restauradores,


especialmente para lesões de erosão e como materiais para a construção de
núcleos de preenchimentos.

10.4.2 Classificação

Os cimentos de ionômero de vidro podem ser classificados quanto à sua


natureza em 3 categorias principais:
 Convencionais: composto de pó de partículas vítreas e líquido
de ácidos polialcenóicos.
 Reforçados por metais: constituído de líquido semelhante ao
dos ionômeros convencionais e pó composto de mistura
convencional com partículas de liga de amálgama ou partículas
de ligas de prata sinterizadas com as partículas de vidro.
 Modificados por resina: parte do líquido do ácido polialcenóico
é substituído por hidroxietil metacrilato. Esses materiais podem
apresentar duas ou três presas.

Uma outra classificação sugerida por TAY & LINCH (1989) divide os
cimentos de ionômero de vidro em 4 grandes grupos:
Tabela 10-1 – Classificação dos cimentos de ionômero de vidro segundo TAY & LINCH
(1989)

Tipo Função
Tipo I Cimentação
A Restaurador sem reforço
Tipo II
B Restaurador com reforço
A Proteção Pulpar (quimicamente ativados)
Tipo III
B Selante de fóssulas e fissuras
A Proteção Pulpar (resino-modificados e
fotopolimerizáveis)
Tipo IV
B Restauradores (resino-modificados e
fotopolimerizáveis)

10.4.3 Composição e presa

Ionômeros de vidro convencionais

Os cimentos de ionômero de vidro convencionais são compostos de pó


e líquido. Quando misturados, inicia-se uma reação de presa do tipo
ácido/base para formar um sal de hidrogel, que atua como matriz de ligação.
Nos pós dos ionômeros de vidro há três constituintes que são
essenciais: a sílica, a alumina e o fluoreto de cálcio. O flúor é um dos
componentes importantíssimos do pó dos cimentos ionoméricos. Entre suas
funções, ele melhora as características de trabalho e aumenta a resistência do
cimento, bem como sua liberação para o meio bucal confere propriedade anti-

Fernanda Panzeri
Cimentos Odontológicos 114

cariogênica ao material. O líquido é uma solução aquosa de ácidos


poliacrílicos com a inclusão de aceleradores de presa.
Durante a aglutinação do pó ao líquido, a fase aquosa dos ácidos
umedece e dissolve a camada externa das partículas de vidro do pó. O
hidrogênio desloca os íons cálcio e alumínio, que reagem inicialmente com o
flúor, formando fluoretos de cálcio e alumínio. Conforme a acidez aumenta, o
fluoreto de cálcio, que é instável, se dissocia e reage com co-polímeros
acrílicos para formar complexos mais estáveis, formando ligações cruzadas em
um gel.

Ionômeros de vidro modificados por metais

É feita a inclusão de liga para amálgama na proporção de 1:1 por peso


ou de 1:7 por volume de liga e pó de ionômero, respectivamente, visando
aumentar a resistência final do cimento. A reação de presa é muito semelhante
à anterior.

Ionômeros de vidro modificados por resinas

A principal diferença entre os cimentos convencionais e os modificados


por resina é a adição de componentes resinosos e iniciadores de
polimerização a esses últimos, o que além de melhorar algumas propriedades
físicas do material, ainda possibilita um endurecimento imediato logo após a
polimerização da resina.
Esses materiais podem apresentar 2 ou 3 presas: a reação ácido-base
normal dos ionômeros convencionais e uma reação por fotoativação dos
radicais livres, que pode se continuar com uma polimerização química da fase
resinosa.
Eles podem apresentar 3 sistemas diferentes de ativação do
componente resinoso: foto-ativado, de presa dual e quimicamente ativado.
 Sistema foto-ativado: Apresentam típica reação ácido-base e
também uma reação de fotopolimerização do monômero
presente.
 Sistema Dual: Além da reação ácido/base e da
fotopolimerização, ainda possuem iniciadores químicos para
polimerizar os componentes metacrilatos que existem no material.
Essa característica permite que ocorra polimerização na ausência
de luz.
 Sistema quimicamente ativado: Ocorre a reação ácido/base do
ionômero convencional e a polimerização química dos
componentes resinosos.

Fernanda Panzeri
Cimentos Odontológicos 115

10.4.4 Propriedades

Para os materiais de cimentação, o tempo de presa é em torno de 6 a 9


minutos. Os materiais de forramento em 4 a 5 minutos, e os materiais
restauradores em 3 a 4 minutos.
Os materiais de forramento têm resistências à compressão e à tração na
mesma intensidade que alguns materiais fotopolimerizáveis Os materiais
fotopolimerizáveis são significativamente mais duros em algumas marcas, com
um módulo mais baixo.
A solubilidade dos cimentos em água é aproximadamente 1% para um
material de cimentação, e isto é mais alto em ácido láctico. É observada
resistência boa para dissolução debaixo de condições orais. A resistência para
dissolução e desintegração é melhorada através de proteção de verniz para
cimentos convencionais.
Alguns estudos mostram que o cimento de ionômero de vidro
fotopolimerizado continua absorvendo água durante vários meses, com
expansão e reduções em resistência e dureza. A significação clínica deste
comportamento não é contudo claro.

Adesividade

Cimentos de ionômero de vidro exibem união ao esmalte, dentina e ligas


de uma maneira semelhante ao policarboxilato de zinco. In vitro e in vivo a
adesão é variável e é afetada através das condições de superfície.
A adesão dos cimentos de ionômero de vidro às estruturas dentárias
ocorre de maneira semelhante ao que acontece na reação ácido/base entre o
líquido e o pó desses cimentos. A superfície do dente é molhada pelo líquido,
os íons de hidrogênio reagem com a superfície mineralizada, deslocando íons
de cálcio e fosfato que ficam ligados aos grupos carboxila e ao dente.
Inicialmente essas ligações são frágeis, mas conforme elas maturam vai
ocorrendo a substituição da união pelo hidrogênio por uniões do tipo
iônico/polar (Fig 9-5).
Para que ocorra uma adesão adequada é importantíssimo que a
superfície a ser restaurada esteja limpa e que a energia de superfície seja
diminuída para que o cimento, que apresenta alta energia, possa molhar
completamente as paredes da cavidade.
O profissional deve estar muito atento à consistência da mistura que
deve se apresentar plástica e brilhante, denotando a disponibilidade de líquido
suficiente para que ocorra a adesão ao dente. Não deve ser desperdiçado
tempo entre a manipulação e a inserção do cimento para que não haja perda
de adesividade.

Liberação de Flúor

A liberação de flúor dos cimentos ionoméricos ocorre com maior


intensidade nas primeiras 24-48 horas, e permanece em menor concentração

Fernanda Panzeri
Cimentos Odontológicos 116

por longos períodos. Esse fenômeno decorre da presa lenta do cimento que
desloca uma maior quantidade de elementos ionicamente ativos (inclusive o
flúor) nas primeiras etapas da geleificação. Dessa forma, à medida que os íons
vão reagindo com a matriz, a liberação de flúor diminui.
A presença constante de flúor no meio bucal confere aos cimentos
ionoméricos propriedades anticariogênicas, promovendo uma inversão no
processo de desmineralização e favorecendo a remineralização do dente. O
flúor liberado dos cimentos de ionômero de vidro pode ser incorporado aos
tecidos mineralizados do dente tornando-os mais resistentes aos ciclos de
desmineralização.

10.4.5 Efeitos biológicos

A resposta pulpar para o forramento e materiais restauradores aparece


geralmente favorável. Foi reportado comportamento variável pelos vários
materiais de cimentação com exemplos de sensibilidade pós-operatória. Isto
foi atribuído a um pH inicialmente baixo prolongado junto aos efeitos dos íons
tóxicos. Isto pode ser acentuado pela pouca manipulação e infiltração marginal
de bactérias.

10.4.6 Manipulação

O material deve ser proporcionado cuidadosamente e os componentes


recém dispensados aglutinados rapidamente em 45 segundos a 1 minuto. A
relação pó/líquido 3:1 em peso (1 porção de pó para 1 gota do líquido) para os
tipos convencionais de cimento de ionômero de vidro.
Melhores resultados são obtidos misturando o pó resfriado com o líquido
em uma placa de vidro resfriada. A mistura para forramento é um pouco mais
viscosa, dependendo da marca. A mistura restauradora deve ter uma
consistência de massa e uma superfície lustrosa.
As superfícies do dente devem estar limpas e devem estar livres de
saliva mas não devem estar desidratadas. As superfícies da restauração
devem estar livres de resíduos e contaminação. O cimento endurece
lentamente e deve ser protegido de perda ou ganho de umidade quando
endurecido clinicamente.

10.4.7 Apresentação Comercial

O cimento de ionômero de vidro pode apresentar-se em frascos sob a


forma de pó e líquido ou acondicionado em cápsulas (Fig 9-6). No sistema de
cápsulas, após rompimento da membrana que separa o pó do líquido devem
ser manipuladas em dispositivos mecânicos, sendo que a própria cápsula se
transforma em ponta para inserção do material na cavidade (Fig. 9-7).

Fernanda Panzeri
Cimentos Odontológicos 117

10.4.8 Vantagens e desvantagens

As vantagens dos cimentos de ionômero de vidro incluem manipulação


fácil, alta resistência e dureza, liberação de fluoreto, boa resistência à
dissolução ácida, características potencialmente adesivas, e translucência.
As desvantagens incluem colocação inicial lenta e sensibilidade à
umidade, pouca diversidade de cores para materiais restauradores e possível
sensibilidade pulpar.

Figura 10-4 – Esquema representativo do mecanismo de adesão do cimento de


ionômero de vidro

10.5 CIMENTOS DE HIDRÓXIDO DE CÁLCIO

Tem sido reconhecido há muito tempo o valor do hidróxido de cálcio


como um material protetor da polpa que facilita a formação de dentina
reparadora. Esta ação parece ser largamente atribuível a seu pH alcalino e
conseqüente efeito antibacteriano. Embora vários materiais a base de
hidróxido de cálcio estarem disponíveis, a manipulação deles não é fácil e os
filmes depois da presa tendem a rachar.

Fernanda Panzeri
Cimentos Odontológicos 118

10.5.1 Aplicações
Este material é usado como um forrador de cavidades profundas, para
limpeza de cavidades, capeamento pulpar e para cimentação provisória.

Figura 10-5 - Ionômero de vidro em cápsulas

Figura 10-6 - Cápsula de


ionômero depois de
manipulada e acoplada
em um dispensador

10.5.2 Formas de apresentação

Os cimentos de hidróxido de cálcio podem ser apresentados


comercialmente em diversas formas:
 Pó ou Pasta: Normalmente na característica de pró-análise,
quando misturado com água destilada em pequena quantidade,
até obter-se uma pasta, pode ser utilizada nos casos de proteção
pulpar direta para diminuir o sangramento.
 Solução: Obtida pela mistura de 10g de pó de hidróxido de cálcio
pa (pró-análise) em 200 mL de água destilada. Após a mistura, o
pó é decantado no fundo do vidro e, para sua utilização, não de
deve agitar o frasco. Utilizada para limpeza de cavidades.
 Suspensão: Obtida pela mistura de pó de hidróxido de cálcio em
metilcelulose. Esta é uma mistura mais viscosa e deve ser
utilizada para o forramento de cavidades médias e em casos de
proteção pulpar direta.
 Pasta/Pasta: Utilizada para casos de proteção pulpar indireta em
casos de cavidades médias a profundas. Uma pasta contém o
hidróxido de cálcio e é chamada de pasta base. A outra, tem os
componentes que vão interagir com o anterior produzindo uma

Fernanda Panzeri
Cimentos Odontológicos 119

reação de presa e conseqüente endurecimento da mistura. Esta é


chamada de pasta catalisadora.

10.5.3 Manipulação do sistema pasta/pasta

Para a manipulação desse sistema, as pastas devem ser dispensadas


em pequenas quantidades, em comprimentos iguais. São misturados com
espátula 22, rapidamente, até obter uma cor uniforme. Devem ser aplicados
em pequena espessura no fundo da cavidade (Fig. 9-8 A) e deve-se aguardar
a presa final do material para a colocação do material restaurador sobre o
material protetor. Caso contrário, o material de forramento será deslocado e
perderá sua finalidade, devido à sua fragilidade (Fig. 9-8 B).

10.5.4 Propriedades

O tempo de trabalho pode ser de 3 a 5 minutos, dependendo da


disponibilidade de umidade. Na boca, a presa é rápida, mais ou menos 1 ou 2
minutos.
São materiais pouco resistentes e quando acontece infiltração marginal,
a dissolução completa destes materiais pode acontecer.

Figura 10-7 - O material restaurador deve ser colocado quando o material forrador estiver
completamente endurecido (A). Caso contrário, ele será deformado (B) e não cumprirá com sua
função de proteção

10.5.5 Efeitos biológicos


O hidróxido de cálcio é um composto com um pH de aproximadamente
11. Sendo assim, ele é irritante ao tecido pulpar vivo. Ele também tem ação
bacteriostática forte, o que significa que evita a propagação ativa da bactéria.
Devido às suas características, são capazes de estimular a formação de
dentina secundária, servindo de proteção ainda maior para a polpa. Isso se dá
devido ao alto pH do material, que continua alto por um longo período de
tempo devido à capacidade do material em se dissolver continuamente em
meio aquoso (dentina), liberando íons hidroxila. Esse estímulo constante é
capaz de produzir uma necrose superficial das células pulpares da camada
mais próxima da junção entre a dentina e a polpa. Isso faz com que as células
mesenquimais diferenciadas do tecido conjuntivo da polpa se diferenciem em

Fernanda Panzeri
Cimentos Odontológicos 120

odontoblastos para permitir uma reposição. Essas novas células serão


capazes de formar “pontes de dentina” quando usado para proteção da polpa
em exposição. Estes materiais também podem mostrar uma ação protetora à
polpa neutralizando e prevenindo a passagem de ácido e agindo como uma
barreira à penetração de outros agentes.

10.5.6 Vantagens e desvantagens

As vantagens destes materiais incluem a manipulação fácil, presa


rápida em camadas finas, boas características de selamento, e efeitos
benéficos em dentina cariosa e polpas expostas.
As desvantagens são que eles mostram baixa resistência até mesmo
quando completamente endurecidos, exibem deformação plástica, são fracos à
exposição à umidade e, sob condições ácidas dissolve-se ocorrendo infiltração
marginal. Os dados em propriedades físicas e experiência clínica sugerem que
sejam requeridas melhorias adicionais nestes materiais antes que eles possam
ser utilizados como o forrador de cavidades exclusivo em preparos cavitários
profundos.
Mais recentemente, foram apresentadas composições de resinas
polimerizáveis que contêm hidróxido de cálcio como alternativas para estes
materiais, sendo que esses materiais se tornaram fotopolimerizáveis.

10.6 SOLUBILIDADE E DESINTEGRAÇÃO DOS CIMENTOS


ODONTOLÓGICOS

Uma propriedade importante de um agente cimentante é a de que ele


seja resistente à solubilidade e à desintegração na cavidade oral. Com
exceção dos cimentos resinosos, todos os cimentos sobre os quais se discutiu
apresentam um potencial para degradação significativa nos fluidos orais. Se o
cimento é dissolvido ou se deteriora, os fragmentos são removidos das
margens da restauração (Fig. 9-9), passando a haver infiltração e invasão
bacteriana com as suas conseqüências, como a sensibilidade, a cárie ou
ambas.
Isso tudo se torna agravado pois, os cimentos, estão continuamente
expostos a uma variedade de ácidos, como os produzidos por microrganismos
e pela degradação de alimentos ou os existentes em algumas comidas e
bebidas freqüentemente levadas à boca. Além disso, tanto o pH como a
temperatura da boca estão sujeitos a flutuações. Esta complexidade do
sistema oral pode levar o nosso tratamento ao fracasso.

10.7 INDICAÇÃO DOS CIMENTOS

Como indicado na Tabela 10-2, muitos dos cimentos têm múltiplos usos.
A seleção do material a ser utilizado, deve levar em consideração 3 fatores
principais:
 Idade do paciente: Quando o paciente é jovem, tem um maior
volume pulpar. Sendo assim, uma mesma extensão de cavidade

Fernanda Panzeri
Cimentos Odontológicos 121

pode guardar uma relação mais próxima ou mais distante com a


polpa dentária (Fig 9-10).
 Profundidade e extensão da cavidade: Segundo MONDELLI
(1998), as cavidades apresentam 5 níveis de profundidade (Fig 9-
11) – 1) superficial; 2) rasa; 3)média; 4)profunda; 5)muito
profunda. Segundo a profundidade da cavidade, um material
protetor está indicado.
 Tipo de material restaurador: A composição dos materiais
restauradores também interfere na escolha do material protetor.
Cimentos de óxido de zinco e eugenol não devem ser utilizados
com restaurações de resina composta, pois esses materiais
podem sofrer interferência no seu processo de polimerização por
aqueles.

Figura 10-8 - A solubilidade dos cimentos odontológicos permite que


o material se deteriore nas margens da restauração e é por esse
espaço que as bactérias podem entrar e provocar cárie secundária.

Fernanda Panzeri
Cimentos Odontológicos 122

Figura 10-9 – Dentes com cavidades que, clinicamente, aparentam ser semelhantes
quanto `a proximidade pulpar. Note-se que no dente de um paciente jovem a camada de
dentina que separa o assoalho cavitário da polpa é menos espessa do que de um
paciente idoso, em virtude do maior volume pulpar. Este fator condiciona a indicação
do material de proteção do complexo dentinopulpar.

Figura 10-10 – Os níveis de


profundidade de cavidades
segundo MONDELLI (1998)

BIBLIOGRAFIA
ANUSAVICE, J. Cimentos Odontológicos para Restaurações e Proteção Pulpar. In: ________
Materiais Dentários de Phillips. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 1ª ed. 1998 p.309-327.
ANUSAVICE, J. Cimentos Odontológicos para Cimentação. In: ________ Materiais Dentários de
Phillips. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 1ª ed. 1998 p328-344.
BARATIERI, L.N. et al – Materiais de Forramento. Usar ou não? In: GONÇALVES, E.A.N. &
FELLER, C. – Atualização na Clínica Odontológica. A Prática da Clínica Geral. São Paulo, Artes
Médicas, 1998 p. 31-44.
FERRACANE, J. L. – Intermediary Materials and Cements. In: ________ . Materials in Dentistry.
Principles and Applications. Philadelphia, Lippincott Williams & Wilkins, 1995. p. 63.
McCABE, J. F. & WALLS, A. W. G. – Requirements of Dental Cements for Lining, Base and Luting
applications. In: ________. Applied Dental Materials. London, Blackwell Science, 8ª ed. 1998. p.
220-225.
MONDELLI, J – Agentes Protetores. In: ________ . Proteção do Complexo Dentinopulpar. São Paulo,
Artes Médicas, 1998 p. 31-62.
NAVARRO, M.F.L. & PASCOTTO, R.C. – Cimentos de Ionômero de Vidro. In: ________. Cimentos
de Ionômero de Vidro. São Paulo, Artes Médicas, 1998 p. 1-24.
TAY, W.M. & LYNCH, E. – Glass-ionomer (polyalkenoate) cements. Part 1 – Development, setting
reaction, structure and types. J. Ir. Dent. Ass., v. 35, n.2, p. 53-57, June 1989.

Fernanda Panzeri
Cimentos Odontológicos 123

ROTEIRO DE AULA PRÁTICA

Cimento Fosfato de Zinco

1. Instrumentais Utilizados:
 Bloco de Espatulação
 Espátula 24

2. Proporção Pó/Líquido:
Para cimentação: 1 medida de pó menor e 4 gotas de líquido

3. Técnica de Manipulação:
 Distribuir o pó sobre a placa e dar-lhe a forma retangular
 Dividir o pó como mostra o esquema:

6ª Porção 4ª Porção
¼ ¼
15 seg 15 seg

2ª Porção
1/16
5ª Porção 3ª Porção 10 seg
¼ 1/8
15 seg 10 seg 1ª Porção
1/16
10 seg

 Colocar o líquido necessário ao lado das porções menores (1/16)


 Iniciar a espatulação misturando as porções pela ordem indicada na
figura acima.
 Observar o tempo de espatulação para cada porção
 Continuar a mistura espatulando a massa com movimentos circulares da
face da espátula, ocupando grande área do bloco
 Tempo de espatulação total: 1 minuto e 30 segundos
 Consistência final: A massa, para cimentação, deve apresentar-se na
viscosidade de “fio”.

Exercícios
 Manipular o cimento para a consistência de cimentação
 Observar proporção pó/líquido
 Espatular corretamente pó/líquido
 Juntar a massa

Fernanda Panzeri
Cimentos Odontológicos 124

 Verificar a consistência adequada

Óxido de Zinco e Eugenol

Instrumentais Utilizados:
 Bloco de manipulação
 Espátula 24
 Hollemback 3S

Proporção Pó/Líquido: De acordo com a finalidade de uso.


 3 gotas de líquido e uma quantidade de pó que seja adequada para a
obtenção da consistência desejada

Técnica de Manipulação:
 Iniciar a mistura incorporando pequenas porções de pó ao líquido
 Continuar a mistura espatulando a massa com movimentos circulares da
face da espátula
 Consistência final: Massa semelhante à “massa de vidraceiro”, sendo
que seja possível rolar a massa sobre a placa de vidro sem aderência à
placa.

Exercícios:
 Espatular o cimento na consistência adequada e confeccionar uma
restauração provisória no dente 17.
 Observar a proporção pó/líquido
 Espatular corretamente pó/líquido até a consistência desejada
 Colocar o material na cavidade já preparada do manequim em
pequenas porções até o completo preenchimento da cavidade
 Aguardar o tempo de presa do cimento

Ionômero de Vidro

Instrumentais Utilizados:
 Bloco de manipulação
 Espátula 22
 Espátulas Thompson para inserção de resina composta

Proporção Pó/Líquido:
Recomendado pelo fabricante
 1 porção de pó para 1 gota de líquido.

Técnica de Manipulação:
 O cimento não é espatulado. É aglutinado.
 Proporcionar o pó e o líquido e dividir o pó ao meio
 Iniciar a manipulação pela incorporação de metade do pó ao líquido com
espátula 22.
 Aglutinar as partículas do pó ao líquido, produzindo o “molhamento” do
pó. Não imprimir força à espátula nem espatular o material.
 Continuar a manipulação pela incorporação do restante do pó.

Fernanda Panzeri
Cimentos Odontológicos 125

 Tempo de manipulação: 45 segundos a 1 minuto

Exercícios:

 Manipular o cimento para cimentação e obter uma massa fluida e


brilhante
 Observar proporção pó/líquido
 Manipular corretamente pó/líquido
 Juntar a massa
 Verificar a consistência adequada

 Manipular o cimento resinoso e aplicar no fundo da cavidade do dente


35.
 Observar a proporção pó/líquido
 Manipular corretamente pó/líquido
 Polimerizar o material com luz, seguindo a determinação de tempo
sugerida pelo fabricante.

Hidróxido de Cálcio

Instrumentais Utilizados
 Bloco de manipulação fornecido pelo fabricante
 Espátula 22
 Aplicador de hidróxido de cálcio

Proporção pasta/pasta: Quantidades iguais

Técnica de Manipulação:
 Depositar no bloco de espatulação quantidades iguais da pasta base e
da pasta catalisadora
 Misturar as duas pastas por 10 segundos com espátula 22

Exercício
 Manipular o cimento e aplicar no fundo da cavidade como forramento do
dente 48.
 Observar a proporção das pastas
 Misturar as pastas adequadamente
 Com instrumento apropriado, depositar imediatamente fina camada (±
0.5 mm) no fundo da cavidade
 Aguardar a presa do cimento e remover os excessos

Fernanda Panzeri
11 Resinas Acrílicas
Resinas Acrílicas 127

11.1 INTRODUÇÃO

As resinas sintéticas são freqüentemente chamadas de plásticos. Um


material plástico é uma substância que, embora tenha estabilidade
dimensional no uso normal, foi plástico (moldável) em algum estágio da
plastificação.
Elas foram desenvolvidas a partir do desenvolvimento de um polímero, o
polimetilmetacrilato, na década de 30 por Walter Wright e os irmãos Vernon.
O cirurgião-dentista usa resinas principalmente para restaurar ou
substituir dentes e estruturas dentárias perdidas. Esta resina pode ser unida a
outras resinas diretamente na estrutura dental ou em outros materiais
restauradores. Se todos os dentes foram perdidos, uma base de prótese (a
parte da prótese que repousa sobre os tecidos moles da boca), com os dentes
montados, pode ser feita para restaurar a capacidade mastigatória.

11.2 REQUISITOS PARA UMA RESINA ODONTOLÓGICA

As resinas devem apresentar propriedades essenciais e características


necessárias para o uso na cavidade oral.

11.2.1 Considerações Biológicas:

A resina deve ser insípida, inodora, não-tóxica e não-irritante aos


tecidos bucais. Para cumprir esses requisitos, a resina deve ser
completamente insolúvel na saliva ou em quaisquer outros fluidos da boca, e
deve ser impermeável aos fluidos orais a ponto de não se tornar anti-higiênica,
ou com o gosto ou odor desagradáveis. Se a resina for usada como material
de preenchimento ou cimento, ela deverá se unir à estrutura dental para
impedir a penetração bacteriana ao longo da interface entre o dente e a
restauração.

11.2.2 Propriedades Físicas:

Deve possuir adequada resistência e resiliência, e resistência à


compressão ou às forças mastigatórias, forças de impacto e desgaste
excessivo que pode ocorrer na cavidade oral. Também deve ter estabilidade
dimensional sob todas as condições de ISO, incluindo mudanças de
temperatura e variação de carga. Quando usada como base de próteses totais,
deve apresentar baixa gravidade específica.

Fernanda Panzeri
Resinas Acrílicas 128

11.2.3 Propriedades Estéticas:

O material deve exibir translucidez ou transparência suficiente para que


possa se igualar à aparência dos tecidos orais que irá substituir. Ele deve ser
passível de pintura ou pigmentação, porém após a sua fabricação não deve
ocorrer nenhuma mudança na cor ou aparência.

11.2.4 Características de Manipulação:

O material não deve produzir gases ou pó tóxico durante a manipulação.


Deve ser fácil de misturar, inserir, modelar e polimerizar, e ser insensível às
variações dos procedimentos de manipulação. Além do mais, o produto final
deve ser de fácil polimento e, em caso inevitável de fratura, deve ser possível
o reparo da resina de maneira fácil e eficiente.

11.2.5 Considerações Econômicas:

O custo da resina e o método de seu processamento devem ser baixos,


e a sua aplicação não deve requerer equipamentos complexos e caros.
Nenhuma resina se enquadra em todas as exigências discutidas. As
condições da cavidade oral são muito rígidas e apenas os materiais mais
estáveis quimicamente e inertes podem suportar tais condições sem
deterioração.

11.3 ESTRUTURA DAS RESINAS

As resinas sintéticas são compostas de várias moléculas grandes,


chamadas de polímeros. Os polímeros consistem em moléculas muito grandes
e sua estrutura molecular é capaz de apresentar configurações e
conformações virtualmente sem limites. O polímero é formado por uma ou
várias unidades estruturais recorrentes, que consistem na estrutura individual
do monômero.

11.4 POLIMERIZAÇÃO

A reação química pelas quais a macromolécula (polímero) é formada por


um grande número de moléculas pequenas (monômero) é chamada de
polimerização.A polimerização é uma reação intermolecular de repetição que é
funcionalmente capaz de progredir indefinidamente.
Quando a reação de polimerização ocorrer e, ao final, formar-se um
subproduto da reação, ocorre a chamada polimerização por condensação (Fig.

Fernanda Panzeri
Resinas Acrílicas 129

10-1). Já, quando essa reação é simplesmente uma reação de adição, chama-
se polimerização por adição (Fig 10-2).
Na primeira, a reação que produz esse tipo de polimerização progride
pelo mesmo mecanismo de uma reação química entre duas ou mais moléculas
simples. As substâncias originais reagem freqüentemente com a formação de
subprodutos, como água, ácidos ou amônia. Já na polimerização por adição,
diferentemente da por condensação, não existe nenhuma mudança na
composição, pois o monômero e o polímero possuem as mesmas fórmulas
empíricas. Em outras palavras, a estrutura do monômero se repete muitas
vezes no polímero.
Um dos requisitos de um composto que se polimeriza por adição é a
presença de um radical livre. Por definição, um radical livre é um átomo ou um
grupo de átomos possuindo um elétron livre (não-emparelhado).
Este é o mecanismo no qual as resinas odontológicas polimerizam.

Figura 11-1 Exemplo de reação de polimerização por condensação. Há a formação


de subprodutos

Figura 11-2 - Exemplo de reação de polimerização por adição

11.4.1 Estágios na Polimerização por Adição

O processo de polimerização por adição ocorre em quatro estágios:


indução, propagação, terminação e transferência de cadeia.

Indução:

Para começar um processo de polimerização por adição, radicais livres


devem estar presentes. Radicais livres podem ser gerados pela ativação de
moléculas de monômeros com um dos sistemas ativadores (luz, calor ou
agente químico). O radical livre não é um catalisador, porque este penetra na
reação química e se torna parte do componente químico final. O têrmo mais
preciso é iniciador.
Muitas substâncias são capazes de gerar radicais livres para a
polimerização das resinas. O iniciador mais comumente usado é o peróxido de

Fernanda Panzeri
Resinas Acrílicas 130

benzoíla, que se decompõe a temperaturas relativamente baixas para liberar


dois radicais livres por molécula. O período de indução é o tempo em que as
moléculas do iniciador se tornam energizadas e ativadas, formando radicais
livres que interagem com as moléculas do monômero.
Os processos de polimerização utilizados nas resinas odontológicas são
comumente ativados por um dos três processos: calor, químico e luz. Assim,
quando se utiliza o calor como fonte ativadora, os radicais livres são obtidos
pelo aquecimento do peróxido de benzoíla. Durante o aquecimento, a molécula
do peróxido de benzoíla se divide em dois radicais livres, os quais em seguida
iniciam a polimerização do monômero do metacrilato de metila.
Quando o ativador é químico, dois reagentes, quando misturados,
sofrem uma reação química gerando radicais livres. Quando ativador e
iniciador são misturados, o ativador catalisa a divisão da molécula de peróxido
de benzoíla em dois radicais livres.
O último tipo de sistema de ativação é a luz. Neste sistema, fótons
ativam o iniciador e geram radicais livres, que iniciam o processo de
polimerização.

Propagação:

O processo continua com as reações em cadeia ocorrendo.


Teoricamente, as reações vão até que todo monômero tenha se transformado
em polímero

Terminação:

As reações em cadeia podem terminar de duas formas: pela ligação


direta ou pela transferência de um átomo de hidrogênio de uma cadeia em
crescimento para outra. No caso da ligação direta, ambas as moléculas
combinam-se e tornam-se desativadas pela troca de energia. A outra forma se
dá pela transferência de um átomo de hidrogênio de uma cadeia em
crescimento para outra, sendo formada uma ligação dupla entre carbonos em
uma das moléculas.

Transferência de cadeia:

O estado ativado é transferido de um radical ativado para uma molécula


inativa e um novo núcleo para um futuro crescimento é criado. Por exemplo,
uma molécula de monômero pode ser ativada por uma macromolécula em
crescimento, de tal maneira que haverá a terminação nesta última.

11.4.2 Inibição da Polimerização:

Fernanda Panzeri
Resinas Acrílicas 131

Impurezas e o oxigênio podem reagir com os radicais livres, inibindo,


através do impedimento da propagação, ou retardando a reação de
polimerização.

11.5 TIPOS DE RESINAS ODONTOLÓGICAS:

Há 3 tipos principais de resinas odontológicas, assim divididas:


 Resinas Acrílicas
 Termicamente Ativadas
 Quimicamente Ativadas
 Resinas Compostas

11.5.1 Resinas Acrílicas

O composto químico que forma o monômero da maioria das resinas


acrílicas odontológicas é o metacrilato de metila, derivado do ácido metacrílico,
que, unido a outros monômeros forma o poli(metacrilato) de metila.
Normalmente, é fornecido no sistema pó/líquido. O líquido contém o
metacrilato de metila (monômero) não polimerizado, e o pó contém o polímero
pré-polimerizado em forma de pequenas pérolas. Quando o líquido e o pó são
misturados, na proporção correta, uma massa trabalhável é formada. Em
descanso, a massa resultante passa por cinco fases distintas. Essas
modificações são físicas, diferentemente dos estágios de polimerização.

11.5.2 Fases de Polimerização

Fase Arenosa

Pouca ou nenhuma reação ocorre no nível molecular. As pérolas do


polímero mantêm-se inalteradas, e a consistência da mistura pode ser descrita
como “áspera” ou “granulada”.

Fase Fibrilar

Durante este estágio, o monômero ataca individualmente a superfície


das pérolas. Algumas cadeias de polímero são dispersas no monômero
líquido. Essas cadeias desenrolam-se, portanto aumentando a viscosidade da
mistura. Esse estágio é caracterizado pela formação de “fibrilas” quando o
material é tocado e separado.

Fase Plástica

Fernanda Panzeri
Resinas Acrílicas 132

Sob o ponto de vista molecular, um aumento do número de cadeias


poliméricas entra em solução. Assim, um mar de monômero e polímeros
dissolvidos é formado. A massa comporta-se como uma massa trabalhável.
Não mais está grudenta e nem adere mais à superfície do pote de mistura. As
características físicas e químicas exibidas durante as últimas fases desse
estágio são ideais para o trabalho.

Fase Borrachóide

O monômero é dissipado por evaporação e, nesta fase, a massa


recupera-se quando comprimida ou estirada. Como a massa não escoa
livremente, ela não pode ser moldada.

Fase Densa

Em repouso por um longo tempo, a mistura se torna rígida. Isto se dá


pela evaporação do monômero livre.

11.6 RESINAS ACRÍLICAS TERMICAMENTE ATIVADAS

11.6.1 Indicação

A indicação principal de uso desta resina é a confecção de base para


dentaduras (Fig. 10-3).
Uma dentadura pode ser definida como uma prótese dentária removível
usada com o intento de repor as superfícies mastigatórias e as estruturas
associadas de uma arcada superior ou inferior, ou ambas. Tal prótese é
composta de dentes artificiais unidos a uma base.

11.6.2 Composição

O pó consiste em esferas pré-polimerizadas (Fig 10-4) de


poli(metacrilato) e uma pequena quantidade de peróxido de benzoíla. O líquido
é predominantemente um metacrilato não polimerizado.

11.6.3 Proporção polímero:monômero

Uma proporção apropriada de polímero/monômero é de considerável


importância na confecção de uma prótese bem adaptada e com as
propriedades físicas desejáveis. A proporção aceitável é de 3:1 em volume.
Isto permite que suficiente monômero umedeça as partículas do polímero, mas

Fernanda Panzeri
Resinas Acrílicas 133

não contribui com o excesso, o que pode levar a uma maior contração de
polimerização.

Figura 11-3 - Próteses Total e Removível

Figura 11-4 - Polímero da Resina Acrílica. Sua apresentação é na


forma de pérolas pré-polimerizadas

11.6.4 Polimerização

Para entendermos como a resina acrílica termicamente ativada sofre


sua polimerização, temos que entender como a prótese é confeccionada.
Após a moldagem dos rebordos residuais do paciente, uma placa de
resina será feita sobre a qual serão montados os dentes de acrílico. Para a
montagem dos dentes se faz necessária a colocação de uma base em cera,

Fernanda Panzeri
Resinas Acrílicas 134

tentando imitar o que será a gengiva de nosso paciente após o término da


prótese.
Depois dos dentes montados, eles serão provados para ver se todos
estão harmônicos e corretamente colocados em relação às estruturas
anatômicas e, caso isso aconteça, a prótese será incluída em uma mufla que
nada mais é do que uma “fôrma” metálica para que esses modelos sejam
colocados. Toda a seqüência pode ser vista na Fig. 10-5 a-h.
Como a resina é termoativada, ela deverá sofrer a ação do calor para
sua polimerização. Sendo assim, ela será colocada em um recipiente imersa
em água que será levado ao fogo.
O processo de aquecimento empregado para controlar a polimerização
é chamado de ciclo de polimerização. A polimerização de uma resina é
exotérmica e a quantidade de calor envolvida pode afetar as propriedades da
resina. Quando aquecida a água e a mufla com o gesso e a resina, água e
gesso tem curvas semelhantes de aquecimento. Como a resina está localizada
no centro da mufla e sendo o gesso pobre condutor de calor, um certo tempo é
necessário para que o aquecimento da água chegue na resina. Quando a
temperatura da resina atinge próximo aos 70ºC a temperatura da resina
começa a subir rapidamente, devido à reação exotérmica. Caso essa
temperatura ultrapasse 100,8ºC o monômero será evaporado e haverá o
aparecimento de porosidade interna na resina, diminuindo sua resistência.
A relação entre a velocidade de aquecimento e a elevação da
temperatura dentro da resina é ilustrada no gráfico 10-1. O ciclo de
polimerização representado na curva C provavelmente iria permitir porosidade
nas porções mais grossas de resina, devido à temperatura da resina exceder a
do ponto de ebulição do monômero. Por outro lado, o ciclo de polimerização
representado pela curva A provavelmente iria resultar na presença de
monômero não-reagido, porque a temperatura da resina não atingiu aquela de
ebulição do monômero. Assim, é lógico supor que uma polimerização ótima
recaia em algum ponto entre as curvas A e C.
Um ciclo correto é aquele em que a água é aquecida a 74ºC por duas
horas para polimerizar a parte grossa da resina, e 100ºC por uma hora, para
polimerizar a parte fina (Gráfico 10-2).

A B

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Resinas Acrílicas 135

C D

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Resinas Acrílicas 136

H
Figura 11-5 – Seqüência na obtenção de uma prótese total. A) Placas com roletes de
cera para montagem dos dentes. B)Dentes montados. C) Mufla. D)Inclusão do modelo
superior na mufla. E) Elaboração da muralha de gesso para a fixação dos dentes.
F)Mufla aberta após a eliminação da cera. G) Detalhe dos dentes fixados na mufla
prontos para receber a resina acrílica. H) Próteses terminadas e polidas

Gráfico 11-1 - Alterações da temperatura na resina acrílica quando submetida a


vários programas e ciclos de cura.

Fernanda Panzeri
Resinas Acrílicas 137

11.7 RESINA ACRÍLICA QUIMICAMENTE ATIVADA

11.7.1 Indicações

Além da indicação deste material para a confecção de bases de prótese


totais, pela facilidade de trabalho seu uso também é indicado para a confecção
de próteses provisórias (fixas e removíveis), aparelhos ortodônticos, moldeiras
individuais e guias cirúrgicos.

11.7.2 Composição

São compostas também por pó e líquido. No pó está presente o


polímero, na forma de pérolas pré-polimerizadas e o peróxido de benzoíla
(iniciador). No líquido estão presentes o monômero e o ativador químico, que é
uma amina terciária (dimetil-para-toluidina). Quando misturados, o dimetil
reage com o peróxido de benzoíla, ativando-o na forma de radicais livres que,
por sua vez, liga-se aos monômeros iniciando a reação. A partir daí, as
Resinas Acrílicas Quimicamente Ativadas passam pelos mesmos estágios e
fases que as Resinas Acrílicas Termicamente Ativadas.

Gráfico 11-2 - Ciclo de polimerização recomendado para as resinas acrílicas


termicamente ativadas

Fernanda Panzeri
Resinas Acrílicas 138

11.8 PROPRIEDADES DAS RESINAS ACRÍLICAS

As propriedades físicas das Resinas Acrílicas são críticas na adaptação


e função de uma peça protética. Isso se dá em razão das características da
função oral e das limitações do material.

11.8.1 Contração de Polimerização

Clinicamente, a polimerização das resinas produz contrações


volumétricas e lineares. Isto se dá em razão dos eventos moleculares que
ocorrem durante o processo de polimerização.
Imagine-se duas moléculas de metacrilato. Cada molécula possui um
campo magnético que repele a molécula mais próxima. Conseqüentemente, a
distância entre as moléculas é significantemente maior do que o comprimento
de uma ligação carbônica (C-C). Agora, considere-se o efeito da união química
do metacrilato. Quando as moléculas são quimicamente juntadas, uma nova
ligação carbono-carbono é formada. Isto produz uma redução na rede no
espaço ocupado pelos componentes.
A contração de polimerização, em uma prótese superior, é
freqüentemente evidenciada por um desajuste na região palatina, como mostra
a Fig 10-6.
Há uma relação direta entre a contração de polimerização e a proporção
monômero/polímero, de forma que, quanto maior a quantidade de monômero
presente na mistura, maior será a contração de polimerização.

11.8.2 Porosidade

A presença de porosidades superficiais e internas pode comprometer as


propriedades físicas, estéticas e até higiênicas de uma base de dentadura.
Tais porosidades resultam da evaporação (vaporização) do monômero não-
reagido quando a temperatura de uma resina atinge ou ultrapassa a
temperatura de ebulição desses elementos.
A porosidade também pode ser resultado da mistura inadequada dos
componentes pó/líquido. Se isto ocorrer, algumas regiões da massa de resina
conterão mais monômero que outras. O emprego de uma proporção pó/líquido
adequada e um procedimento de mistura bem controlado auxiliam nesta
conexão.

11.8.3 Absorção de água

O polimetacrilato absorve relativamente pequenas quantidades de água


quando colocado em um meio aquoso. Todavia, essa água exerce um efeito
significante nas propriedades dimensionais e mecânicas dos polímeros.
O mecanismo primário de ingresso da água é a difusão. Difusão é a
migração de uma substância através de um espaço, ou dentro de uma

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Resinas Acrílicas 139

segunda substância. Neste caso, moléculas de água penetram na massa de


polimetacrilato e ocupam posições entre as cadeias poliméricas.
Conseqüentemente, as cadeias se afastam.
A introdução de moléculas de água no meio da camada polimérica
produz dois efeitos. Primeiro, ela causa uma ligeira expansão da massa
polimerizada. Segundo, as moléculas de água interferem no entrelaçamento da
cadeia polimérica e, portanto, agem como um plastificador, diminuindo a
resistência.

11.8.4 Resistência

O determinante mais importante da resistência total da resina é o grau


de polimerização exibido pelo material. À medida que o grau de polimerização
aumenta, a resistência da resina também aumenta.

Figura 11-6 - Contração de polimerização

11.8.5 Análise Comparativa entre Resinas Acrílicas Termicamente


Ativadas e Resinas Acrílicas Quimicamente Ativadas

A diferença fundamental entre as resinas termoativadas e as resinas


quimicamente ativadas é o método pelo qual o peróxido de benzoíla é dividido
para permitir os radicais livres.
Geralmente, o grau de polimerização alcançado pelas quimicamente
ativadas não se completa como nas termoativadas. Isto indica que há uma
grande quantidade de monômero não-reagido na resina confeccionada via
ativação química. Esse monômero não-reagido cria duas dificuldades
principais. Primeiro, o monômero residual serve como um irritante em potencial
para os tecidos, portanto comprometendo a biocompatibilidade da base de

Fernanda Panzeri
Resinas Acrílicas 140

dentadura. Segundo, ele age como um plastificador, o qual resulta em uma


redução da resistência da dentadura.
As resinas quimicamente ativadas apresentam menor contração de
polimerização quando comparadas com as termoativadas, porque existe menor
grau de polimerização. Isto implica a melhor adaptação dimensional das
resinas quimicamente ativadas.
A estabilidade de cor das resinas quimicamente ativadas é geralmente
inferior àquelas termoativadas. Esta propriedade está relacionada com a
presença das aminas terciárias nas resinas. Tais aminas são susceptíveis à
oxidação e às alterações na cor que as acompanham e que podem afetar a
aparência das resinas.

11.9 MATERIAIS A BASE DE RESINA ACRÍLICA

11.9.1 Resina de Reembasamento de Próteses

Uma vez que o contorno dos tecidos moles se altera durante o uso de
dentaduras, é freqüentemente necessário alterar-se a superfície intra-oral das
próteses para assegurar uma adaptação e função adequadas. Em alguns
casos, a superfície dos tecidos deve ser substituída por reembasamento ou
realinhamento da dentadura existente.

11.9.2 Condicionadores de Tecido

A finalidade das resinas macias é absorver algumas das forças


produzidas por impactos mastigatórios. Por isso, as resinas servem como
“amortecedores de choques” entre a superfície oclusal da dentadura e os
tecidos subjacentes. Os condicionadores mais comumente usados são resinas
acrílicas plastificadas. Estas resinas podem ser termoativadas ou
quimicamente ativadas.

11.9.3 Dentes de Resina

Mais de 60% dos dentes artificiais vendidos nos Estados Unidos são
feitos de resina acrílica, que têm sua química baseada nos
poli(metilmetacrilatos). Essas resinas são similares àquelas usadas na
construção das placas-base para dentadura. Todavia, a quantidade de
ligações cruzadas nos dentes é algumas vezes maior do que nas placas-base.
Este aumento é alcançado pela elevação na quantidade de agentes de ligação
cruzada no líquido de resina, isto é, no monômero. O polímero resultante
mostra uma melhora na estabilidade e nas propriedades clínicas.(Fig.10-7)

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Resinas Acrílicas 141

11.9.4 Materiais para Próteses Buco-Maxilofaciais

Há séculos, próteses têm sido usadas para mascarar defeitos


maxilofaciais. Os antigos egípcios e chineses usaram ceras e resinas para
reconstruir porções do complexo craniofacial. Por volta do século XVI, o
cirurgião francês Ambroise Paré descreveu uma variedade de próteses para
serem usadas com finalidades cosméticas e funcionais na reposição de
estruturas maxilofaciais. Durante os anos subseqüentes, técnicas
restauradoras e materiais foram vagarosamente sendo melhorados. As baixas
ocorridas durante a 1ª e 2ª Guerras Mundiais criaram uma grande necessidade
de próteses maxilofaciais, e a profissão odontológica assumiu um importante
papel no processo de reconstrução e reabilitação.
Apesar das melhoras em técnicas cirúrgicas e restauradoras, os
materiais usados em próteses maxilofaciais estão longe do ideal. Um material
ideal deveria ser de baixo custo, biocompatível, forte e estável. Além disso, ser
como a pele em cor e textura. Os materiais maxilofaciais precisam ter
resistência ao rasgamento e deveriam ser capazes de resistir às demandas
térmicas e químicas. Atualmente, nenhum material preenche tais quesitos.

Figura 11-7 - Dentes de resina

As resinas acrílicas podem ainda ser utilizadas para a confecção de


placas oclusais e protetores de boca para atletas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANUSAVICE, J. Química das Resinas Sintéticas In: ________ Materiais Dentários de Phillips. Rio de
Janeiro, Guanabara Koogan, 1ª ed. 1998 p.125-139.
______________. Resina para Base de Dentadura In: ________ Materiais Dentários de Phillips. Rio de
Janeiro, Guanabara Koogan, 1ª ed. 1998 p.140-160.
CRAIG, R. G. ed – Prosthetic Applications of Polymers. In ________. Restorative Dental Materials.
United States, Mosby, 10ª ed. 1996. p.500-551.

Fernanda Panzeri
Resinas Acrílicas 142

FERRACANE, J. L. – Polymers for Prosthetics. In: ________ . Materials in Dentistry. Principles and
Applications. Philadelphia, Lippincott Williams & Wilkins, 1995. p. 251-278.
GALAN Jr., J – Resinas Acrílicas In: ________ . Materiais Dentários. São Paulo, Livraria Santos, 1ª
ed, 1999 p. 123-128.
McCABE, J. F. & WALLS, A. W. G. – Denture Base Polymers. In: ________. Applied Dental
Materials. London, Blackwell Science, 8ª ed. 1998. p. 96-107.
PHILLIPS, R. W. – Resinas para base de dentadura: Considerações técnicas e resinas diversas. In:
________ . Materiais Dentários de Skinner. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 9ª ed, 1993 p. 103-
122.

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Resinas Acrílicas 143

ROTEIRO DE AULA PRÁTICA

Resinas Acrílicas Quimicamente Ativadas

1. Instrumentais Utilizados
 Espátula 24
 Frasco de vidro com tampa

2. Proporção pó/líquido: Fornecida pelo fabricante


Por saturação do líquido

3. Exercício: Preparar a Resina Acrílica e observar as diferentes fases de


polimerização.
 Preparar a Resina Acrílica
 Preparar mistura pó/líquido, no pote de vidro com tampa,
proporcionando a mistura por saturação do líquido
 Homogeinizar a massa, algumas vezes, com espátula limpa
 OBS: Manter o vidro TAMPADO!!!!!!!!!!

 Observar reação monômero/polímero


 1ª fase: Arenosa
 2ª fase: Fibrilar
 3ª fase: Plástica
 4ª fase: Borrachóide
 Descrever as características das diferentes fases
 Verificar a fase apropriada ao trabalho

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12 Resinas Restauradoras

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Resinas Restauradoras

12.1 INTRODUÇÃO

As resinas sintéticas são empregadas como materiais restauradores


porque são insolúveis, estéticas, insensíveis à desidratação, de baixo custo e,
relativamente, de fácil manipulação.
O desenvolvimento dos acrílicos autopolimerizáveis, no final dos anos
40, tornou possível a restauração direta do dente com resina. O monômero e o
polímero, à base de metacrilato de metila, em um sistema de duas pastas,
eram combinados, e a massa plástica resultante era inserida na cavidade
preparada, onde ela se polimerizava. Porém, esse material apresentava
algumas deficiências. Clinicamente, o grande inconveniente destas resinas era
a grande contração de polimerização, o manchamento e o alto coeficiente de
expansão térmica linear, causando grandes espaços entre a interface
dente/restauração e, portanto, infiltração marginal e cáries recorrentes.
Com o avanço na química dos polímeros, apareceram as resinas
compostas (compósitos) modernas para restaurações diretas. Elas são
reforçadas com partículas de carga e apresentam propriedades nitidamente
superiores às das resinas acrílicas sem carga.
O termo material composto ou compósito pode ser definido como um
composto de dois ou mais materiais diferentes com propriedades superiores ou
intermediárias àquelas dos constituintes individuais.
O desenvolvimento de materiais restauradores compostos começou no
final dos anos 50 e início dos anos 60, quando Bowen desenvolveu o Bis-GMA
(bisfenol A-glicidilmetacrilato), o que satisfez vários requisitos de uma matriz
para o compósito dentário.
Este sistema tem sido usado em outras aplicações odontológicas, como
por exemplo, na forma de selante para fóssula e fissuras, agentes para união à
dentina, e na prótese fixa, como materiais para cimentação e de facetas.
Os compósitos modernos contêm inúmeros componentes. Os principais
constituintes são a matriz de resina e uma carga de partículas inorgânicas.
Além deste dois componentes, várias substâncias são incorporadas para
melhorar a eficácia e a durabilidade do material. Um agente de união é
necessário para promover a adesão entre a carga inorgânica e a matriz de
resina, e um ativador é necessário para polimerizar a resina. O compósito
também necessita de pigmentos para aproximar-se da cor das estruturas
dentárias.

12.2 COMPOSIÇÃO

As resinas compostas para aplicação direta possuem 4 componentes


básicos: 1) uma matriz resinosa, 2)iniciadores de polimerização, 3) uma fase
dispersa de cargas e corantes e 4) um agente de cobertura das partículas de
carga, conhecido como silano (Fig. 11-1).

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Resinas Restauradoras

12.2.1 Matriz

A maioria das resinas compostas para restauração utiliza monômeros.


Destes, o Bis-GMA e o UDMA são os mais usados. O alto peso molecular
torna estes monômeros muito viscosos à temperatura ambiente. Sendo assim,
a matriz também possui monômeros diluentes como o TEGDMA, necessários
para diminuir a viscosidade dos monômeros. Embora as propriedades
mecânicas do Bis-GMA sejam superiores à das resinas acrílicas, sua adesão
às estruturas dentárias não é mais eficiente. Assim, a contração de
polimerização e as alterações dimensionais são ainda importantes
considerações mesmo para as resinas com carga.

12.2.2 Partículas de Carga

A incorporação de partículas de carga na matriz de resina aumenta


significativamente as propriedades deste material. As propriedades mecânicas,
como a resistência à tração e o módulo de elasticidade são mais elevadas,
como também é o caso da resistência à abrasão.
As partículas de carga podem ser obtidas por trituração ou moagem do
quartzo ou de vidros. Dependendo do tamanho, temos um tipo de partícula.
Seria bom que as partículas de cargas estivessem na maior quantidade
possível na matriz porque quando acrescentamos partículas inorgânicas,
diminuímos a contração de polimerização e o coeficiente de expansão térmica,
porque são dimensionalmente estáveis. Além disso, conferem propriedades
físicas desejáveis às resinas como rigidez, dureza superficial e maior
resistência aos esforços físicos.
Para se incorporar uma maior quantidade de carga na matriz de resina,
é necessário uma distribuição adequada dos vários tamanhos de partículas
existentes. Parece claro que se usarmos um único tamanho de partícula,
mesmo que elas sejam bem compactadas, um espaço existirá entre estas
partículas. Isto pode ser imaginado se preenchermos uma caixa com bolas de
um mesmo tamanho. Partículas menores podem preencher esses espaços. Se
esse raciocínio for usado, no sentido de que a continuidade do uso de
partículas cada vez menores iria servir cada vez mais para preencher espaços
vazios, teríamos ao final deste processo de distribuição de partículas a
possibilidade de incorporar um máximo de material de carga (bolas de
diferentes tamanhos).

12.2.3 Agentes de União

Se quisermos conseguir e manter propriedades ideais na resina


composta, é importante que a partícula de carga esteja unida à matriz de
resina. Isto permite que a matriz polimérica plástica transfira tensões para as
partículas de carga, que são mais resistentes. A união entre as duas fases da
resina composta é feita através do agente de união. Se adequadamente

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Resinas Restauradoras

aplicado, o agente de união pode melhorar as propriedades físicas ou


mecânicas e propiciar uma estabilidade hidrolítica, pois prevenirá a penetração
de água na interface carga/matriz.
Um dos agentes de união mais utilizados é o silano.

Figura 12-1 - Componentes de uma Resina Composta

12.3 CLASSIFICAÇÃO DAS RESINAS COMPOSTAS

Numerosos sistemas têm sido usados para classificar as resinas


compostas restauradoras. O mais utilizado é o que as classifica segundo o
tamanho das partículas de seu agente de carga, como se vê
esquematicamente na Fig. 11-2.

12.3.1 Resinas Compostas de Macropartículas

São também conhecidas como tradicionais ou convencionais. O agente


de carga mais utilizado é o quartzo moído e são assim denominadas devido ao
tamanho de suas partículas de carga (15 a 100µm).
Quando comparadas às resinas sem carga, é óbvio que as propriedades
se apresentam muito melhores, como resistência à tração, dureza e contração
de polimerização. Com relação ao coeficiente de expansão térmica linear, é
menor do que para as resinas acrílicas, porém, ainda é 3 vezes maior do que a
estrutura do dente.
Em geral as resinas compostas são mais resistentes à abrasão do que
as acrílicas. Mas elas sofrem um aumento de rugosidade da superfície em
função de uma abrasão seletiva da matriz de resina mais mole que circunda as
partículas de carga mais duras.
A maior desvantagem clínica das resinas compostas convencionais é a
rugosidade de superfície que é desenvolvida como resultado do desgaste por
abrasão da matriz de resina mais mole, deixando as partículas de carga mais
duras projetadas nesta superfície. Estas restaurações também têm a tendência

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Resinas Restauradoras

de mudar a cor, devido em parte à suscetibilidade que uma superfície com


textura rugosa apresenta de reter substâncias que mancham.

Figura 12-2 - Classificação das Resinas Compostas

12.3.2 Resinas compostas de Micropartículas

Numa tentativa de solucionar o problema da rugosidade superficial


existente nas resinas compostas convencionais foi desenvolvido um material
que utiliza partículas de sílica coloidal como carga inorgânica. O conceito de
resina de micropartículas é o de se ter uma resina reforçada por meio de uma
carga, mas que apresente uma superfície lisa, semelhante àquela que se
obtém com as resinas acrílicas.
Com exceção da resistência à compressão, as resinas compostas com
micropartículas apresentam propriedades físicas e mecânicas inferiores às
resinas compostas convencionais, pois, quanto maior a quantidade de resina
em relação à carga, maiores serão a sorção de água e o coeficiente de
expansão térmica linear, e em contrapartida haverá a diminuição do módulo de
elasticidade.
Entretanto, quando estas resinas são comparadas às resinas acrílicas
sem carga, elas apresentam propriedades significativamente melhores e
podem propiciar uma superfície acabada lisa. As partículas de carga são
menores que os abrasivos para polimento, por este motivo, a carga de sílica é
removida juntamente com a resina à qual está ligada.
Para a maioria das indicações, a diminuição das propriedades físicas
não traz problemas. Entretanto, nas situações onde haverá concentração de
tensões, o potencial de fratura é maior. Porém, devido à sua superfície lisa,
elas têm sido a resina escolhida para restaurações estéticas de dentes
anteriores, particularmente naquelas regiões onde não haverá a ação de
tensões concentradas da mastigação.

12.3.3 Resinas Compostas Híbridas

Resinas compostas híbridas são compósitos que como o próprio nome


sugere, possuem tanto micro como macropartículas de carga, com

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Resinas Restauradoras

características de ambas. Consistem, na sua maioria de aproximadamente 10


a 20% em peso de micropartículas de sílica coloidal e 50 a 60% de
macropartículas , totalizando um percentual de carga entre 75 e 80% em peso.
Estes materiais foram desenvolvidos como um esforço para obter
superfícies mais lisas que aquelas conseguidas com as resinas convencionais,
mas com o cuidado de manter suas propriedades mecânicas. Dessa forma,
elas apresentam boas propriedades mecânicas e físicas, sendo esteticamente
comparáveis às resinas de micropartículas, tornando possível sua utilização
em regiões estéticas que serão submetidas à carga mastigatória (classe IV,
por exemplo). Além disso, a incorporação de micropartículas enrijece a matriz
resinosa, o que aumenta substancialmente a força coesiva da matriz,
dificultando a propagação de rachaduras.
Por razões de ordem didática e devido à grande variedade desta classe
de materiais, é interessante dividir as resinas compostas híbridas em: Híbridas
de pequenas partículas (1 – 5 µm), microhíbridas (0.6 – 0.8 µm) e híbridas de
alta densidade (com mais de 80% em carga).

12.4 MECANISMO DE POLIMERIZAÇÃO

As resinas compostas também polimerizam por uma reação de adição,


que é iniciado pelos radicais livres. Esses radicais podem ser gerados por
ativação térmica, química ou luz.
As primeiras resinas compostas eram ativadas quimicamente. Porém,
hoje, elas estão quase em completo desuso. Assim sendo, o mecanismo de
polimerização usado para as resinas compostas é a luz.
O primeiro sistema de ativação por luz utilizou as radiações ultra-violeta
para formar os radicais livres. Este sistema de UV teve problemas em função
da limitada profundidade de penetração destas radiações na resina, bem como
por não penetrar nas estruturas do dente. Esta penetração limitada da luz
significava que a resina poderia não ficar adequadamente polimerizada, exceto
quando se tratasse de camadas muito finas e que permitissem o acesso direto
da fonte de luz.
Subsequentemente, o sistema de ativação por luz visível foi
desenvolvido, aumentando grandemente a possibilidade de se polimerizar
porções mais espessas, substituindo, assim, o sistema de ativação por luz UV.
Esses sistemas modernos de fontes de luz são aparelhos que contêm a fonte
de luz e são equipados com fibra ótica fusionada relativamente curta, e a fonte
é levada por esta fibra. A fonte de luz é geralmente uma lâmpada halógena de
tungstênio. A luz branca gerada pela lâmpada passa através de um filtro que
remove as ondas infravermelhas e as ondas de luz visíveis superiores a 500
nm.
As resinas ativadas por luz são apresentadas em um sistema de uma só
pasta, contida em uma seringa e iniciam o seu processo de polimerização por
absorção de luz, mas somente luz dentro de uma faixa específica de
comprimento de onda. O processo ocorre a partir da excitação de um
componente (canforoquinona), que uma vez ativado reage com um agente

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Resinas Restauradoras

redutor para libertar os radicais livres, que dão início à polimerização dos
grupos metacrilatos e formam uma matriz polimérica de reação cruzada. Em
seguida, a reação segue o seu curso normal como visto na Fig 11-3 abaixo:

INICIADOR + ATIVADOR INICIADOR REATIVO

INICIADOR REATIVO + MONÔMERO MONÔMERO REATIVO

MONÔMERO REATIVO + MONÔMERO POLÍMERO

Figura 12-3 - Representação esquemática da polimerização de uma resina


composta
O que é importante entender deste processo é que cada cadeia
polimérica formada necessita de um radical livre, o qual depende diretamente
da quantidade de luz disponível, ou seja, se não houver luz suficiente para
ativar a canforoquinona o grau de conversão será deficiente, e o material
apresentará pobres propriedades mecânicas e físicas. Um outro fator a ser
considerado é o da profundidade da polimerização, pois as resinas
fotopolimerizáveis não se polimerizam uniformemente, e sim somente onde a
luz as alcança, causando diferentes níveis de conversão à medida que a
restauração se aprofunda, pois a luz é absorvida, dispersa e atenuada nesse
trajeto através do material.
Caso haja inadequada polimerização, várias conseqüências ocorrerão:
Baixa força de união; maior probabilidade de agressão fisiológica devido aos
componentes monoméricos residuais que não se converteram; maior
probabilidade de mudança de cor do material devido à insuficiente reação do
componente acelerador, deficiência nas propriedades mecânicas, evidenciada
principalmente na resistência ao desgaste e maior pigmentação do material
devido à maior absorção de fluidos orais.

12.5 PROPRIEDADES

As propriedades desses materiais dependem de muitos fatores,


incluindo a quantidade de carga e matriz, o tamanho e as propriedades das
partículas de carga e a adesão entre o polímero e as partículas de carga.
As propriedades físicas dos compósitos geralmente tornam o material
adequado ao uso para restaurações de dentes anteriores. Eles têm baixa
condutibilidade térmica e, nesse sentido estão muito próximos aos dentes. Por
outro lado, o coeficiente de expansão térmica é maior para os compósitos do
que para os dentes, em razão da presença da matriz. Sendo assim, quanto
maior o conteúdo de matriz em uma resina, maior será seu coeficiente de
expansão térmica linear. Isso pode levar à uma tensão na interface
dente/restauração.
Há um outro aspecto importante com relação às propriedades das
resinas compostas. Toda resina composta é formada por uma grande
quantidade de partículas inorgânicas agregadas por moléculas pequenas, os
monômeros, que durante a polimerização se unem para formar moléculas

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Resinas Restauradoras

grandes, os polímeros. É justamente esta união, que implica em uma


aproximação de moléculas, que resulta em uma contração de polimerização.
Essa contração de polimerização está na ordem de 2 a 4% dependendo do
tipo de resina composta.
A contração de polimerização segue a lei do mínimo esforço, ou seja,
seus efeitos se manifestam preferencialmente nas superfícies livres. Para que
isso ocorra e não cause efeitos desagradáveis à restauração é necessário
haver uma proporção favorável entre o número de faces livres e faces de
contato com o dente. Essa relação é conhecida como Fator C e é definido
como o quociente da divisão das áreas unidas de uma resina composta e das
áreas livres.
Nº de faces aderidas
Fator C =
Nº de faces livres

C=1 C=0,33 C=3

Quanto maior o fator C, maior a contração de polimerização.


Essa contração de polimerização pode levar a uma baixa força de
união; a uma maior probabilidade de agressão fisiológica devido aos
componentes monoméricos residuais que não se converteram; a uma maior
probabilidade de mudança de cor do material devido à insuficiente reação do
componente acelerador; a uma deficiência nas propriedades mecânicas,
evidenciada principalmente na resistência ao desgaste e uma maior
pigmentação do material devido à maior absorção de fluidos orais.
Outros fatores também interferem na ocorrência da contração de
polimerização: O tamanho das partículas, a porcentagem de carga em relação
à matriz e o tipo de fonte luminosa para polimerização.
Uma forma de diminuir os efeitos dessa contração de polimerização é a
técnica incremental de restauração, ou seja, a colocação de pequenos
incrementos na cavidade a ser restaurada de forma que cada porção não
ultrapasse 2 mm. O importante no procedimento é não aplicar a resina de
forma que tenha contato com mais de duas paredes da cavidade
simultaneamente. Com isto, mantém-se uma superfície livre equivalente a área
unida para a resina deformar-se durante a polimerização.
Mesmo utilizando camadas consecutivas para completar a restauração,
a primeira camada ainda está contraindo quando a última está sendo aplicada.
Quando a contração ocorre gera tensão de aproximadamente 70-85% do total
imediatamente após a ativação pela luz visível. Após 5 minutos, a contração

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Resinas Restauradoras

atinge entre 92 e 95% do total. Entretanto, desde que a maior parte da


contração já tenha ocorrido antes da aplicação da próxima camada, a tensão
também foi minimizada, o que faz a técnica de adição em pequenas camadas
ainda ser melhor do que a técnica restauradora por aplicação da resina em
apenas uma camada (DE GOES, 2002).
Outro fator que auxilia no controle da contração de polimerização é o
fato de que os polímeros absorvem água. Quando isso ocorre, eles “incham”
devido à capacidade em sofrer sorção de água. Com essa propriedade, o
material sofre uma expansão, embora esse ganho de líquido não seja
suficiente para compensar toda a contração de polimerização.
Outra característica física importante dos compósitos é a estabilidade de
cor. É sabido que superfícies rugosas tem uma tendência natural de manchar
mais rapidamente do que superfícies lisas. Conclui-se daí que resinas de
micropartículas apresentam melhor estabilidade de cor. As resinas
fotoativadas têm uma tendência em se tornar amareladas com o tempo devido
à presença, em sua composição, de uma amina como acelerador.

12.5.1 Biocompatibilidade dos compósitos

A preocupação a respeito da biocompatibilidade dos materiais


restauradores geralmente relaciona-se com o seu efeito sobre a polpa dentária
em dois aspectos: a toxicidade química inerente ao material e a infiltração
marginal.
A injúria química à polpa por compósitos é possível se seus
componentes forem liberados ou propagados pelo material e
subseqüentemente alcançarem a polpa. Compósitos polimerizados
devidamente são relativamente biocompatíveis, porque exibem uma
solubilidade mínima, e as suas porções não-reagidas são liberadas em
pequenas quantidades.
Materiais não-polimerizados podem servir como reservatório para
propagar os componentes que podem induzir uma inflamação pulpar a longo
prazo. Se o clínico tentar polimerizar camadas muito grossas de material ou se
o tempo de exposição à luz for inadequado, o material não-curado poderá
liberar seus constituintes em direção à polpa.
A segunda preocupação biológica está associada à contração dos
compósitos durante a polimerização e a subseqüente infiltração marginal. A
infiltração marginal pode causar crescimento bacteriano, e estes
microrganismos podem causar cáries secundárias, reações pulpares ou
ambos. Os procedimentos restauradores precisam, portanto, ser feitos com o
intuito de minimizar a contração de polimerização e a infiltração marginal.

12.6 SISTEMA DE ADESÃO

12.6.1 Introdução

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Resinas Restauradoras

Devido à contração de polimerização que ocorre quando os metacrilatos


resinosos polimerizam, deve ser esperado que o problema da infiltração
marginal seja maior para as resinas restauradoras existentes do que para
qualquer outro tipo de material. A maior parte dos materiais restauradores
promove algum tipo de mecanismo para compensar a infiltração marginal. Por
exemplo, alguns materiais contêm fluoreto promovendo alguma forma de
proteção contra a cárie.
Os compósitos atuais não possuem capacidade intrínseca de resistir
aos efeitos da penetração marginal, e a infiltração de fluidos orais ocorre
comumente adjacente a estas restaurações. Entretanto, esses materiais
podem produzir restaurações satisfatórias, embora sejam altamente sensíveis
à técnica. Isso é possível graças ao desenvolvimento de novos materiais,
como os adesivos dentinários, e novas técnicas, como a hibridização da
dentina.
A interação de tecidos e biomateriais em interfaces biológicas é
extremamente importante, mas é muito difícil de conectar tecidos naturais com
materiais artificiais. Adesão de resinas com tecidos mineralizados promove um
bom exemplo desse tipo de interface. Os três principais tecidos duros são
esmalte, dentina e osso. Os dois primeiros, os tecidos duros do dente, não se
regeneram, ao contrário do osso. Quando um material biocompatível, como um
implante dental, é colocado em contato íntimo com o osso, novos tecidos duros
preenchem o espaço e eles tornam-se unidos. Por outro lado, quando um
material é colocado intimamente em contato com a estrutura dental, não se
desenvolve conexão, porque não há atividade biológica de tecidos moles entre
as duas estruturas para promover regeneração. Para resolver esse problema
do dente, um líquido deve ser inicialmente usado para formar um íntimo
contato entre o biomaterial (monômero) e o tecido duro e sólido; então, o
líquido penetra e é convertido em sólido pela polimerização.
Para que haja a formação da camada híbrida, são utilizados materiais e
substâncias, além do que uma seqüência clínica é imposta, sendo ela:
condicionamento ácido, lavagem, aplicação do primer, aplicação do adesivo e
polimerização.

12.6.2 Propriedades da dentina

A dentina é um composto biológico de uma matriz de colágeno


preenchida com cristais de apatita dispersos em cilindros ocos paralelos
hipermineralizados de tamanho micrométrico, pobre em colágeno (túbulos
dentinários contendo dentina intertubular). A composição química da dentina é
aproximadamente 50% de volume mineral, 20% de água e 30% de matriz
orgânica. A matriz dentinária dentro do túbulo dentinário (intertubular) é densa.
A matriz dentinária peritubular (ao redor do túbulo) é altamente mineralizada,
mas contém pouco colágeno. Já a matriz dentinária intertubular (entre um
túbulo e outro) é fibrosa devido à presença de fibras colágenas cobertas por
cristais de apatita (Fig 11-4).

Fernanda Panzeri
Resinas Restauradoras

Figura 12-4 - Imagem da dentina. T) Dentina intratubular P) Dentina peritubular IT)


Dentina intertubular

Permeabilidade dentinária

Permeabilidade refere-se à facilidade com que uma substância pode se


mover dentro ou através de uma barreira de difusão (substrato). Dois tipos de
permeabilidade dentinária devem ser considerados. O primeiro é o movimento
de fluido dentro dos túbulos dentinários (permeabilidade intratubular), que é
responsável pela sensibilidade dentinária ou dor. O segundo tipo importante
de permeabilidade dentinária é a permeabilidade dentinária intertubular,
responsável pela difusão de monômero na dentina intertubular
desmineralizada entre os túbulos. Para a formação da camada híbrida, a
dentina intertubular deve ser desmineralizada para expor as fibras colágenas
da matriz dentinária e criar trajetórias de difusão dos monômeros. Ambos os
tipos de permeabilidade dentinária (Fig. 11-5) são importantes na adesão à
dentina.

12.6.3 Formação da camada híbrida

A camada híbrida é a infiltração de resina no esmalte, na dentina ou no


cemento. Ela é uma mistura em nível molecular de colágeno e polímeros
resinosos. Ela é preparada na subsuperfície da dentina condicionada pela
polimerização de monômeros resinosos impregnados na matriz da dentina
desmineralizada.
A formação da dentina hibridizada é considerada como uma forma de
adesão mecânica, no sentido de que polímeros ficam embricados com fibras
colágenas. A estrutura resultante não é resina tampouco dente, mas um
híbrido dos dois. Ela não é localizada na superfície, mas criada dentro do

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substrato. A hibridização muda completamente as propriedades físico-químicas


das superfícies e subsuperfícies dentais, e pode ser considerada uma forma
de engenharia tecidual.

Figura 12-5 - Monômeros resinosos entrando na dentina desmineralizada via túbulos


(permeabilidade intratubular) e pelos canais ao redor das fibras colágenas de dentina
intertubular (permeabilidade intertubular).

A dentina mineralizada normalmente não permite muita difusão de


monômero em sua substância. Portanto, a dentina deve ser apropriadamente
condicionada para permitir difusão de monômeros, que devem ter uma boa
afinidade pela dentina desmineralizada, no substrato. Superfícies dentinárias
preparadas são cobertas por uma lama dentinária (Fig. 11-6) que adere
fracamente à superfície da dentina intacta.
A lama dentinária é criada durante o preparo cavitário e sua presença
complica a adesão da resina. Ela serve como uma barreira que protege a
polpa de estímulos nocivos, mas sua função é temporária porque ela pode se
dissolver em fluidos orais. A lama dentinária é usualmente contaminada por
microrganismos e deve ser removida antes da adesão resinosa através do
condicionamento ácido.

Figura 12-6 - Fotomicrografias da dentina mostrando a Smear Layer ou lama dentinária

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12.6.4 Condicionamento ácido

Condicionamento ácido do esmalte

Os objetivos do condicionamento ácido são limpar o esmalte, remover a


lama do esmalte, aumentar microscopicamente a rugosidade pela remoção dos
cristais prismáticos e interprismáticos, e aumentar a energia livre de superfície
do esmalte para produzir suficiente infiltração do monômero, selar a superfície
do esmalte com resina e contribuir para a retenção das restaurações de resina
composta.

Condicionamento ácido da dentina

O condicionamento da dentina envolve a remoção ou modificação da


lama dentinária para permitir a difusão dos monômeros na matriz de colágeno
desmineralizada.
O ataque ácido da dentina é necessário para aumentar a porosidade
intertubular para permitir a infiltração do monômero (Fig. 11-7).
Normalmente, para o condicionamento tanto do esmalte quanto da
dentina, utiliza-se o ácido fosfórico a 37%.

A B

Figura 12-7 - A) Corte transversal de dentina não-condicionada. B) Após


condicionamento ácido

12.6.5 Aplicação do Primer

O desafio, agora, é manter os espaços entre as fibras colágenas


desmineralizadas depois que cristais de hidroxiapatita são removidos. A matriz
dentinária desmineralizada, composta principalmente por colágeno, pode
colapsar facilmente (Fig. 11-8) se o colágeno for desnaturado durante o
condicionamento, causando uma diminuição no espaçamento interfibrilar e
perda da permeabilidade para monômeros resinosos.
A função dos primers dentinários é manter ou resgatar a porosidade da
dentina desmineralizada. Outra função dos primers é conservar a dentina
desmineralizada úmida, prevenindo seu colapso. Isto mantém as dimensões
dos poros na rede de fibras colágenas.

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Os primers são substâncias que contêm monômeros bifuncionais


hidrofílicos e hidrofóbicos e, são comumente dissolvidos em água, álcool ou
acetona, os quais, por possuírem propriedades de deslocar a água e
propriedades voláteis, são ideais para carrear e espalhar os monômeros sobre
a superfície.
O seu extremo hidrofílico é capaz de umedecer ou molhar
eficientemente a dentina úmida, enquanto sua parte hidrofóbica oferece pontos
de ligação suficientes para uma copolimerização de uma subseqüente camada
de resina adesiva.
Uma vantagem do uso da acetona com solvente hidrofílico é que os
monômeros adesivos são muito solúveis neste solvente. Acetona também é
altamente volátil e pode evaporar-se muito rapidamente das superfícies
dentinárias. Durante a adesão úmida, a primeira camada de monômeros em
acetona colocada na dentina desmineralizada úmida se mistura com a água
residual (acetona e água se misturam muito bem), o que pode provocar a
saída dos monômeros resinosos que tenham uma chance de penetrar
profundamente na matriz desmineralizada. Isto pode temporariamente
bloquear fisicamente a penetração de monômeros. Entretanto, a cada
aplicação de primer, a acetona pode redissolver o monômero e permitir a
difusão mais adiante na dentina desmineralizada.

Matriz dentinária
Matriz dentinária Matriz dentinária desmineralizada seca
mineralizada mineralizada com água com ar, colapsada e
enrijecida.
Figura 12-8 - Alterações na matriz dentinária durante os procedimentos adesivos

12.6.6 Aplicação do Agente de União


Vários são os agentes de união disponíveis no mercado. Cada
fabricante segue uma linha de fórmula química, tanto no primer quanto no

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adesivo para que possa haver a ligação ao substrato dentinário. Quando um


monômero dissolvido em solvente hidrofílico é colocado na dentina úmida
condicionada, o componente hidrofóbico da fórmula química dos adesivos
pode difundir-se na dentina desmineralizada e se ligar à resina restauradora,
tornando a dentina hibridizada (Fig. 11-9) obtendo-se, assim, uma ligação
coesiva entre a resina restauradora e o adesivo dentinário (Fig. 11-10).

Figura 12-9 - Formação da camada híbrida.


(D - Dentina R - Resina H - Camada híbrida)

Figura 12-10 - Prolongamentos de resina (tags) e suas ramificações laterais

12.7 MATERIAIS À BASE DE RESINA COMPOSTA

Algumas modificações têm sido introduzidas na matriz e no tipo e


quantidade de carga usada nas resinas compostas para produzir produtos
específicos com aplicações especializadas. Algumas dessas aplicações têm
tido muito sucesso clinicamente, enquanto outras têm somente valor limitado,
mas representam um tratamento mais conservador.
Muitas pesquisas estão em progresso para desenvolver novos produtos
que irão de encontro às necessidades do clínico, particularmente na área da
odontologia estética, na tentativa de desenvolver um material ideal para a
substituição do amálgama.

12.7.1 Resinas Compactáveis

Devido ao alto escoamento das resinas tradicionais, microparticuladas e


híbridas, o clínico era impedido de condensar o material junto à parede da
cavidade, diferentemente do que acontece com o amálgama. Esta nova visão
da resina composta permite que o material seja condensado.
Essas resinas são compostas de base de Bis-GMA, cargas inorgânicas
irregulares ou porosas e ainda com PCDMA (policarbonato de metacrilato) que

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as tornam mais densas e compactáveis. A sua forma de utilização clínica pode


ser vista na Fig. 11-11.

12.7.2 Compômeros e Ionômeros modificados

Os ionômeros de vidro tradicionais foram gradativamente alterados e


melhorados como materiais estéticos restauradores diretos, em função de sua
precariedade estética e da sua desintegração no meio bucal. Assim, surgiram
dois tipos de materiais, sendo que as distintas terminologias dos ionômeros
atuais dependem da sua composição e reação química.
Os cimentos de ionômero de vidro modificados por resina são os
materiais híbridos que detêm uma significante reação ácido-base como parte
de seu processo de presa.
As resinas compostas modificadas por poliácidos são os materiais que
contêm um ou ambos os componentes essenciais de um cimento de ionômero
de vidro, mas em níveis insuficientes para promover a reação de presa ácido-
base, mesmo tendo componentes do ionômero de vidro.
Esses materiais guardam os componentes e a química dos cimentos de
ionômero de vidro além de apresentar a fotoativação proveniente da resina
composta. Na reação química, os vidros de cálcio e alumínio e silicato reagem
com o ácido poliacrílico promovendo a formação de um hidrogel. A outra
reação que ocorre, o metacrilato presente reage com o iniciador fotoquímico
formando uma matriz.

Figura 12-11 - Forma de aplicação de uma resina composta compactável

12.7.3 Núcleo de Preenchimento

Modificações têm sido feitas para alterar a viscosidade e o tempo de


polimerização dos compósitos com grande quantidade de carga para formular
materiais de preenchimento que serão usados como núcleos e pinos. Materiais
de preenchimento são normalmente quimicamente ativados de forma que eles
podem ser inseridos com uma seringa e conformados com uma matriz de metal
ou celulóide. Por essa razão, esses materiais têm um tempo de trabalho

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ligeiramente prolongado (aproximadamente 2 minutos). Devido ao fato de


possuírem alta quantidade de carga, apresentam ótima resistência.

12.7.4 Selantes de fóssulas e fissuras

As fóssulas e fissuras da superfície oclusal de dentes permanentes são


particularmente suscetíveis à cárie e o tratamento com flúor tem sido menos
efetivo nessas áreas. Essa suscetibilidade está relacionada ao tamanho e
morfologia da fóssula e fissura, que pode servir de abrigo para microrganismos
além de dificultar os procedimentos de higienização.
Os selantes mais populares utilizam sistemas de resinas que podem ser
aplicados às superfícies oclusais dos dentes. O objetivo do uso do selante é a
penetração da resina nas fóssulas e fissuras e polimerizar-se selando estas
áreas contra as bactérias orais.
Vários tipos de resina, com ou sem carga, têm sido empregados como
selantes. Estes sistemas resinosos incluem cianoacrilatos, poliuretanos e bis-
GMA. O material à base de bis-GMA pode ser polimerizado no modo
convencional através de um sistema de ativação química ou fotoativação. As
resinas sem carga podem ser transparentes, pigmentadas ou não. As resinas
com carga são opacas e disponíveis na cor do dente ou branca.
As propriedades físicas dos selantes estão mais próximas às
propriedades das resinas sem carga para restaurações diretas do que das
resinas compostas.
O sucesso da técnica do selante é altamente dependente na obtenção e
manutenção de uma íntima adaptação do selante à superfície do dente.
Portanto, os selantes devem ser de relativa baixa viscosidade para que
escoem prontamente para as profundezas das fóssulas e fissuras, além de
“molhar” o dente.

12.7.5 Cimentos Resinosos

Os cimentos resinosos têm sido utilizados para cimentação de coroas,


pontes convencionais, restaurações de cerâmica estética e restaurações de
compósitos aos dentes. Ainda, são utilizados para colagem direta de brackets
ortodônticos ao esmalte.
Ele pode ser encontrado na forma de quimicamente ativado ou dual, ou
seja, seu processo de polimerização se dá por reação química e fotoativação.
São compósitos microparticulados ou híbridos formulados a partir do Bis-GMA
ou uretano metacrilato com partículas de carga a base de sílica, de vidro ou
ambas.

12.7.6 Resinas “inteligentes”

Essas resinas apresentam características que são consideradas


inovadoras no meio odontológico, pois têm a capacidade de liberação de flúor

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para o elemento dental. Além disso, é capaz de liberar Cálcio e Hidroxila toda
vez que o pH do meio circundante cai, produzindo um efeito anticariogênico
acentuado.
São resinas que apresentam em sua composição o hidroxietilmetacrilato
(HEMA) além de um metacrilato modificado por ácido poliacrílico. São resinas
que apresentam propriedades aceitáveis, porém são muito novas no mercado
para se afirmar que são eficientes totalmente.

BIBLIOGRAFIA
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Janeiro, Guanabara Koogan, 1ª ed. 1998 p.161-177.
BARATIERI, L.N. – Restaurações diretas com resinas compostas em dentes posteriores. In.:
BARATIERI, L.N. et al. – Odontologia Restauradora. Fundamentos e Possibilidades. São Paulo,
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composta em dentes posteriors. São Paulo, Artes Médicas, 1ª ed., 1998. p. 9-26.
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In.: CARDOSO, R.J.A. & GONÇALVES, E.A.N. – Dentística/laser. São Paulo, Artes Médicas,
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Principles and Applications. Philadelphia, Lippincott Williams & Wilkins, 1995. p. 85-102.
GALAN Jr., J – Materiais Restauradores Plásticos Diretos In: ________ . Materiais Dentários. São
Paulo, Livraria Santos, 1ª ed, 1999 p. 35-47.
GARONE FILHO, W. – Adesão em esmalte e dentina. In.: CARDOSO, R.J.A. & GONÇALVES,
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MIRANDA JR., W.G.; BALLESTER, R.Y.; BRAGA, R.R. – O problema da polimerização de resinas
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NAKABAYASHI, N. & PASHLEY, D.H. – Hibridização dos tecidos dentais duros. Tradução de Luiz
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NAMEN, F.M. – Adesivos Dentinários In: GALAN Jr., J . Materiais Dentários. São Paulo, Livraria
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PIMENTA, L.A.F. & RITTER, A.V. – Como obter excelência na adesão ao esmalte e dentina. In.:
CARDOSO, R.J.A. & GONÇALVES, E.A.N. – Estética. São Paulo, Artes Médicas, 2002. p. 13-30.

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Resinas Restauradoras

ROTEIRO DE AULA PRÁTICA

Resina Composta

1. Instrumentais e Materiais Utilizados


 Manequim
 Espátulas para inserção de Resina Composta
 Aplicador de Hidróxido de Cálcio
 Cimento de Hidróxido de Cálcio
 Cimento de ionômero de vidro para forramento
 Kit de Sistema Adesivo
 Resina Composta Convencional
 Resina Composta Flow
 Resina Composta Compactável

2. Exercício: Confeccionar restaurações de Resina Composta


Convencional em dentes anteriores
 Simples (dente 21)
 Restauração de Resina composta simples
 Aplicar a resina composta em pequenos incrementos
 Fazer a polimerização com o fotopolimerizador por 40
segundos, cada incremento
 Sobre forramento de hidróxido de cálcio (dente 11)
 Restauração de Resina composta forrada com hidróxido de
cálcio
 Fazer o forramento com hidróxido de cálcio
 Aplicar a resina composta em pequenos incrementos
 Fazer a polimerização com o fotopolimerizador por 40
segundos, cada incremento.
 Sobre forramento de ionômero de vidro (dente 12).
 Restauração de Resina composta forrada com ionômero de
vidro
 Fazer o forramento com ionômero de vidro
 Aplicar a resina composta em pequenos incrementos
 Fazer a polimerização com o fotopolimerizador por 40
segundos, cada incremento.
 Aplicando o Sistema Adesivo (dente 22)
 Aplicação do Sistema Adesivo
 Aplicar o Ácido Fosfórico por 15 segundos.
 Lavar abundantemente
 Secar suavemente com algodão
 Aplicar o primer e deixar secar espontaneamente
 Aplicar o adesivo dentinário
 Fotopolimerizar por 20 segundos

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3. Exercício: Confeccionar restaurações de Resina Composta Compactável


sobre camada de Resina Flow no dente 38
 Aplicação do Sistema Adesivo
 Aplicação de fina camada de Resina Flow
 Polimerização em tempo preconizado pelo fabricante
 Aplicação da Resina compactável em pequenos incrementos
 Polimerização por 40 segundos
 Continuar até completar a restauração total do elemento

4. Exercício: Aplicar Resina Flow para selar a superfície oclusal do dente 18


 Aplicação do Ataque ácido sobre a superfície oclusal
 Aplicação de fina camada de Resina Flow
 Polimerização em tempo preconizado pelo fabricante

 ATENÇÃO: Repetir as restaurações até dominar todas as


técnicas.

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13 Amálgama Dental

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Amálgama 165

13.1 INTRODUÇÃO

Um amálgama é um tipo especial de liga na qual o mercúrio é um de


seus elementos. O amálgama dentário é a combinação do mercúrio com uma
liga contendo prata, estanho, cobre e algumas vezes o zinco ou outros metais
em baixa concentração. Quando o mercúrio é misturado a uma liga de prata-
estanho-cobre, num processo chamado amalgamação, forma-se uma massa
plástica que endurece gradualmente, formando uma estrutura sólida. Antes
desse endurecimento, o material é inserido em uma cavidade preparada,
esculpido para restaurar a forma anatômica e, depois de acabado, é
posteriormente polido.
Esse material é o mais usado dentre todos os materiais restauradores
disponíveis pela odontologia. Calcula-se que aproximadamente 80% de todas
as restaurações efetuadas são feitas em amálgama.
Uma das razões que explicam seu grande sucesso clínico é a tendência
em diminuir consideravelmente, com o tempo, a penetração marginal, um dos
maiores problemas com que se defronta o dentista e ainda não resolvido
satisfatoriamente mesmo com os novos materiais e técnicas utilizadas.
O sucesso, porém, depende de muitas variáveis que devem ser
controladas pelo profissional. Cada passo, desde o momento em que si inicia o
preparo cavitário, até o polimento final, tem um efeito definido sobre as
propriedades físicas e químicas do amálgama e, conseqüentemente, sobre o
sucesso ou fracasso da restauração.
O amálgama, como pode parecer à primeira vista, não permaneceu o
mesmo durante estes mais de cem anos em que está em uso, desde que Black
definiu cientificamente uma composição e técnicas adequadas para sua
aplicação.

13.2 HISTÓRICO

O tratamento da doença cárie e das dores dos dentes é antigo. Métodos


rudimentares e ineficazes foram usados, desde a cauterização da região
afetada até que no século XIX métodos e materiais restauradores puderam ser
utilizados com mais eficiência.
Os romanos, na época de Cristo, preenchiam os dentes cariados com
uma mistura de linho e chumbo. No século IX, os “dentistas” persas usavam o
alume (mistura de um metal como alumínio, cromo ou ferro com um metal
alcalino ou de amônio) para fechar os dentes cariados. Assim, na seqüência
histórica, uma grande variedade de componentes não-metálicos, alguns
misturados a ervas e drogas, como o ópio, foram testados. O ouro começou a
ser utilizados em Odontologia no século XV.
As alternativas ao ouro apareceram no século XIX com várias ligas a
base de chumbo, bismuto e estanho, todas com pontos de fusão entre 70 e
95ºC. Essas ligas eram fundidas e vertidas diretamente na cavidade até sua
solidificação e, então, brunidas com instrumento aquecido.

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Amálgama 166

Evidentemente com o desconforto e a dor provocados por estas ligas os


pesquisadores foram levados a produzirem ligas metálicas que endurecessem
na cavidade à temperatura ambiente. Esta liga levava como um dos
componentes o mercúrio. Foi esta, então, a primeira tentativa de restaurações
com amálgama na Odontologia.
A prata e o mercúrio aparecem juntos a partir de 1826 com Taveau, que
usava raspas de moeda com o mercúrio, prática esta que se espalhou pela
Europa e Estados Unidos.
A performance destas restaurações foi desastrosa e provocou grandes
reações contrárias a esse material. Em 1895 Black publicou uma série de
trabalhos com o amálgama e sugeriu a composição que daria origem à a
primeira especificação da ADA.

13.3 TIPOS DE LIGAS

Para produzir o amálgama dental, o mercúrio deve ser misturado com o


pó da liga de amálgama. Dependendo da forma como o pó é obtido, temos um
tipo de liga. O primeiro passo para a obtenção de uma liga para amálgama
consiste na fusão dos metais componentes e a obtenção de um lingote, cuja
forma pode variar, mas que freqüentemente assemelha-se a um bastão
cilíndrico. As dimensões destes lingotes também variam, mas de uma maneira
geral o seu diâmetro é de algumas polegadas, tendo um comprimento de 25 a
30 polegadas.
Se a liga de amálgama for cortada através da moagem em um torno
mecânico, temos um tipo irregular de pó formado, que recebe o nome de
limalha (Fig 12-1a). As aparas removidas geralmente têm forma de agulha e
alguns fabricantes reduzem o tamanho da apara por moagem em moinho de
bolas.
Alternativamente, o pó pode ser produzido através da atomização dos
elementos componentes da liga fundidos. O metal liquefeito é atomizado em
gotículas esféricas, como podem ser vistas na Fig 12-1b.
A liga pode também ser composta pela mistura dos dois tipos de
partículas, formando a liga de fase dispersa (Fig 12-1c).
Amálgamas produzidos de pós usinados ou pós derivados da mistura de
limalhas e ligas esféricas tendem a resistir melhor à condensação do que os
amálgamas produzidos totalmente de pós esféricos. Ligas esféricas, porém,
exigem menor quantidade de mercúrio do que as ligas usinadas típicas porque
as ligas esféricas têm uma área de superfície menor por volume do que as
ligas usinadas. Amálgama com menos quantidade de mercúrio geralmente tem
propriedades melhores.

13.4 COMPOSIÇÃO

As ligas para amálgama podem ser classificadas, quanto à sua


composição, em:
1- ligas convencionais

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Amálgama 167

2- ligas com alto conteúdo de cobre

A B C
Figura 13-1 – Tipos de partículas de pó das ligas para amalgama. A) Limalha. B)
Esférica. C) Ligas de fase dispersa

13.4.1 Ligas Convencionais

São aquelas cuja composição obedece às determinações da


especificação n°1 da ADA, conforme tabela abaixo.

Prata mínimo 65%


Estanho máximo 29%
Cobre máximo 6%
Zinco máximo 2%

Características e função dos componentes:

Prata: aumenta a resistência mecânica e retarda a perda de brilho e


oxidação do amálgama; aumenta a expansão de presa e diminui o
escoamento. O excesso de prata aumenta em demasia a expansão e sua falta,
acompanhada de um aumento da quantidade de estanho, provoca a contração
do amálgama.
Estanho: Reduz a resistência e a dureza, diminuindo a expansão.
Prolonga o tempo de endurecimento e aumenta a o escoamento.
Cobre: Substitui parcialmente a prata, tornando a liga menos friável;
aumenta a expansão, a dureza e a resistência mecânica do amálgama,
diminuindo seu escoamento.
Zinco: usado principalmente como um desoxidante, atua como agente
de limpeza durante a fusão, diminuindo a possibilidade de formação de óxidos.

Reação

As ligas para amálgama são hoje caracterizadas pela presença, na sua


composição, do composto Ag3Sn (sistema prata-estanho) denominado fase γ.

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Amálgama 168

Na trituração, quando a liga está sendo misturada com o mercúrio, o


composto Ag3Sn absorve o mercúrio, produzindo duas fases de cristalização:
fase γ1 e fase γ2 (Fig 12-2).

Ag3Sn + Hg → Ag3Sn + Ag2Hg3 + Sn7Hg


γ γ γ1 γ2

Figura 13-2 - Reação de cristalização de uma liga convencional para amálgama

Imediatamente após a trituração, o pó da liga coexiste com o mercúrio


liquefeito, dando à mistura uma consistência plástica. Enquanto o mercúrio
remanescente dissolve as partículas da liga, os cristais γ1 e γ2 crescem. À
medida que o mercúrio desaparece, o amálgama cristaliza. Por ser menor a
solubilidade da prata no mercúrio do que a do estanho, a fase γ1 precipita
primeiro que a fase γ2. Quando as partículas tornam-se cobertas com os
cristais recém-formados, a maioria γ`1, a velocidade da reação diminui. A
quantidade de mercúrio utilizada é insuficiente para consumir completamente
as partículas originais da liga; conseqüentemente, partículas não-consumidas
estão presentes na cristalização do amálgama. Partículas de liga (γ) estão
circundadas e limitadas pelo sólido γ1 e cristais γ2 (Fig. 12-3).
As propriedades físicas de um amálgama endurecido dependem da
porcentagem relativa das fases microestruturais. As partículas de fase γ não
consumidas têm um efeito forte. Quanto mais dessas fases forem retidas na
estrutura final, mais resistente será o amálgama. O componente mais fraco é a
fase γ2 . A dureza de γ2 é cerca de 10% da dureza da fase γ1 , enquanto a
dureza da fase γ é maior que a dureza de γ1. O componente menos resistente
à corrosão é a fase Sn7Hg ( γ2).

13.4.2 Ligas com alto conteúdo de cobre

Esta foi a primeira grande modificação na composição da liga para


amálgama dentário desde o trabalho de Black. Estas ligas são freqüentemente
formadas por ligas de fase dispersa.
O cobre é adicionado à liga em proporções que variam desde 6% até
29%. A adição de cobre se faz sempre na forma de uma liga eutética. Liga
eutética é aquela onde os componentes exibem completa solubilidade no
estado líquido, mas uma solubilidade limitada no estado sólido. Nesse caso,
partículas esferoidais de liga Ag/Cu são misturadas com as partículas de liga
convencional formando assim a liga final pronta para o uso.

Reação

Quando o mercúrio reage com o pó com fase dispersa, a reação se


processa de forma que a prata se combina com o mercúrio a partir da liga de

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Amálgama 169

prata/cobre e pelas partículas de prata/estanho da liga. O estanho em solução


se difunde para as superfícies das partículas prata/cobre da liga e reage com a
fase cobre para formar η (Cu6Sn5).

Figura 13-3 - Representação esquemática da reação de cristalização do amálgama

Deve-se observar que a fase γ2 fica diminuída. Uma explicação para


isso é que a fase γ2 não se forma ao mesmo tempo que a fase η, uma vez que
o cobre concorre com o mercúrio pelos seus átomos Além disso, os átomos de
cobre das moléculas da liga Ag/Cu passam a atrair quimicamente os átomos
de estanho da fase γ2 , dando-se a combinação do cobre com o estanho e
formando uma nova fase, a fase ε. Os átomos de mercúrio liberados das
moléculas da fase γ2 reagem imediatamente com os átomos de prata liberados
pelo estanho e formam mais fase γ1 que é mais nobre. A fase γ2 é eliminada
nesta reação. E isto é importante porque a fase γ2 é mais suscetível à corrosão
e geralmente responsabilizada pela deterioração marginal (Fig 12-4).

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Amálgama 170

Ag3Sn + Ag-Cu + Hg → Ag3Sn + Ag2H3 + Cu6Sn5 + Sn7Hg + Ag-Cu


γ γ γ1 γ2

Após ± 7 a 10 dias
Sn7Hg + AgCu → Sn6Cu7 + Ag2Hg3
γ2 ε γ1

Figura 13-4 - Reação de cristalização de uma liga para amálgama com alto conteúdo de
cobre

13.5 RELAÇÃO MERCÚRIO/LIGA

A quantidade de liga e mercúrio a ser usada pode ser descrita como


relação mercúrio/liga, que significa o número de partes em peso de mercúrio e
de liga a serem utilizadas para a técnica em particular.
A relação liga/mercúrio é um dos fatores importantes na preparação do
amálgama e influencia grandemente a quantidade de mercúrio residual. Se
todos os outros passos da técnica forem mantidos constantes, quanto mais
mercúrio for utilizado na mistura original, maior será a quantidade de mercúrio
presente na restauração. Assim sendo, a liga e o mercúrio devem ser
cuidadosamente proporcionados de maneira que a quantidade de mercúrio
presente na mistura original seja aquela necessária para fornecer uma
consistência apropriada.
Até o início dos anos 60, para se conseguir uma mistura plástica de
amálgama, era necessário usar-se uma quantidade de mercúrio
consideravelmente excedente àquela desejável nas restaurações finais.
Devido aos efeitos negativos do conteúdo excessivo de mercúrio sobre as
propriedades físicas e mecânicas do amálgama, processos de manipulação
foram empregados para reduzir a quantidade de mercúrio deixado na
restauração, de modo a se conseguir um nível aceitável.
O método mais óbvio para reduzir o conteúdo de mercúrio da
restauração é através da diminuição da relação original de mercúrio/liga. A
mistura original deve conter uma quantidade de mercúrio suficiente, de modo a
proporcionar uma massa coesiva e plástica após a trituração. Porém, esta
quantidade deve ser baixa, de maneira a conseguir-se um nível aceitável de
mercúrio na restauração, sem que haja necessidade da remoção de excessos
consideráveis durante a condensação.
A relação mercúrio/liga recomendada varia com as diferentes
composições das ligas, com os tamanhos e formas das partículas e com o tipo
de tratamento térmico. A relação para a maioria das ligas modernas em forma
de limalha é de 1:1, ou seja, 50% de mercúrio. Deve-se salientar que poderá
haver pequenas variações em partes percentuais. Com as ligas esféricas, a

Fernanda Panzeri
Amálgama 171

quantidade de mercúrio recomendada para a maioria das ligas é de


aproximadamente 42%.
Independentemente da relação, o proporcionamento é crítico quando se
usa a técnica do mercúrio mínimo. Neste caso, se o conteúdo de mercúrio for
ligeiramente menor, a mistura ficará seca e granulosa, bem como a matriz
formada será insuficiente para a massa apresentar aquela união coesiva.

13.6 TRITURAÇÃO

As propriedades físicas do amálgama são influenciadas pela técnica de


trituração. Nenhum outro passo isolado, durante a manipulação do amálgama,
tem tanta influência sobre o sucesso ou eventual fracasso da restauração.
A trituração não tem a finalidade de tornar menores as partículas da
liga, mas sim de promover maior contato entre a liga e o mercúrio. As
partículas de liga são recobertas por uma película de óxido, que dificulta a
penetração do mercúrio. Desta forma, a trituração procura remover essas
películas que envolvem a superfície das partículas.
Originalmente, a liga e o mercúrio eram triturados manualmente,
utilizando-se gral e pistilo. Atualmente, a amalgamação mecânica economiza
tempo e padroniza o procedimento. Um grande número de marcas comerciais
de amalgamadores encontra-se disponíveis no mercado.
Existem cápsulas reaproveitáveis e descartáveis. Uma cápsula serve
como gral. Um pistão cilíndrico, de plástico ou de metal, de diâmetro menor do
que a cápsula, é colocado no interior desta, funcionando como um pistilo. A
liga e o mercúrio são dispensados no interior da cápsula.
As cápsulas descartáveis que contêm quantidades pré-proporcionadas
de mercúrio e liga são largamente utilizadas atualmente. Elas contêm as ligas
tanto na forma de comprimidos como em quantidades pesadas de pó, isto
associado a uma quantidade adequada de mercúrio. Para impedir que haja
qualquer amalgamação durante a armazenagem, o mercúrio e a liga são
fisicamente separados um do outro. Os tipos mais antigos de cápsulas pré-
proporcionadas necessitam de ativação antes da trituração, a fim de permitir
que o mercúrio entre no compartimento onde se encontra a liga. Algumas ligas
atuais encontram-se disponíveis em cápsulas auto-ativadas, que possibilitam o
contato automático entra a liga e o mercúrio, durante as primeiras oscilações
do amalgamador. (Fig 12-5) Esse sistema de proporcionamento elimina a
possibilidade do extravasamento do mercúrio e a exposição ao seu vapor
durante o proporcionamento e, finalmente, resulta numa relação mercúrio/liga
confiável.
Quando a cápsula é presa ao amalgamador, e o aparelho é ligado, os
braços que prendem a cápsula passam a oscilar em alta velocidade, assim, a
trituração é realizada. Existe um controlador automático para mensurar o
tempo de manipulação, e a maioria dos amalgamadores modernos tem dias ou
mais velocidades de operação. Ele deve ser utilizado com a velocidade
recomendada pelo fabricante da liga.

Fernanda Panzeri
Amálgama 172

A amalgamação difere de uma liga para outra. As ligas esféricas, por


exemplo, usualmente necessitam de menos tempo de amalgamação que
aquelas em forma de limalha.

Figura 13-5-Secção transversal de uma cápsula de amálgama

13.6.1 Tempo de trituração

Não existem recomendações específicas para o tempo de trituração,


pois isto depende de fatores como a grande variedade de amalgamadores,
diferenças nos padrões de velocidade e oscilação e diferentes desenhos das
cápsulas. As recomendações do fabricante incluem uma tabela de tempo para
a trituração da liga.
A duração do tempo de trituração determina indiscutivelmente a
consistência da mistura. A consistência, por outro lado, controla a resistência
do amálgama e a textura da superfície das restaurações. Quando um
amálgama é triturado por um tempo muito curto, cristaliza com mais rapidez e
mantém em sua massa um conteúdo de mercúrio muito maior. Quanto maior o
conteúdo de mercúrio, menor a sua resistência. Além disso, quando as
partículas da liga não são convenientemente reduzidas em seu tamanho,
durante a trituração, ou quando as partículas não são uniformemente
recobertas pelo mercúrio, a escultura e o polimento da superfície da
restauração tornam-se mais precárias. Existem evidências de que a sub-
trituração dá como resultado mais incidência de fraturas no corpo e nas
margens da restauração, além de aumentar a possibilidade de corrosão.
Sempre que o tempo de trituração é aumentado, a massa torna-se mais
lisa e com uma consistência mais adequada. Quando uma mistura assim é
utilizada, o mercúrio é mais facilmente removido durante a condensação;
porosidades internas são muito pouco freqüentes. Independentemente da
marca da limalha, uma trituração por tempo mais longo produz sempre maior

Fernanda Panzeri
Amálgama 173

resistência a um número menor de irregularidades superficiais. Isso tudo,


claro, dentro de limites práticos. Se o amálgama estiver super triturado, poderá
ficar quebradiço, dificultando a sua condensação. Um exemplo de um
amálgama triturado de forma correta pode ser visto na Fig 12-6.
Os efeitos desejáveis do aumento no tempo de trituração sobre a
resistência do amálgama pode ser observado no gráfico 12-1.

Figura 13-6 - Aspecto do amálgama obtido após uma trituração correta

5000
4500
4000
3500
3000
Kg/cm2

2500
2000
1500
1000
500
0
0 20 40 60 80 100 120 140
Segundos

Gráfico 13-1 -Efeito do tempo de trituração sobre a resistência à compressão de


amálgama com uma hora de idade

13.7 CONDENSAÇÃO

Condensar é juntar intimamente as partículas de liga e adaptar o


material a todas as partes da cavidade preparada, removendo, tanto quanto
possível, o excesso de mercúrio da mistura. Se isso ocorrer, a resistência do
amálgama será aumentada e o escoamento diminuído.
Após o término da trituração, a condensação do amálgama deve ser
iniciada imediatamente, pois quanto maior for o tempo passado entre a
trituração e a condensação, o amálgama ficará menos resistente. O gráfico 12-
2 mostra a diminuição na resistência que vai ocorrendo conforme vão sendo
empregados, na condensação, incrementos de amálgama armazenados
durante tempo progressivamente maior. Infelizmente, esses incrementos são
colocados nas últimas camadas da restauração, contribuindo assim para o

Fernanda Panzeri
Amálgama 174

enfraquecimento justamente de áreas críticas, como a superfície da


restauração e as suas margens.
Todo cuidado deve ser tomado para não se empregar porções de
amálgama que tenham permanecido durante muito tempo depois de
preparadas ou incrementos muito secos, isto é, incrementos dos quais tenha
sido feita uma retirada excessiva do mercúrio. Deve-se também evitar uma
condensação inadequada, pois esses fatores contribuem para a ocorrência de
bolhas ou de falhas internas nas restaurações de amálgama.
Pequenos incrementos de amálgama devem ser usados
sucessivamente na confecção da restauração. Mesmo quando uma técnica de
condensação apropriada é empregada, é impossível conseguir-se boa
adaptação do material quando se utilizam incrementos grandes de amálgama.
A diferença de uma superfície de amálgama, quando menores incrementos são
utilizados, é bem grande, sendo a superfície muito mais lisa.
Uma vez inserido o material na cavidade preparada, ele deve ser
imediatamente condensado com pressão suficiente para remover os vazios e
adaptar o material às paredes da cavidade. A ponta ativa do condensador é
forçada, com pressão manual, sobre a massa de amálgama. A condensação é
geralmente iniciada no centro e, então, a ponta do condensador é direcionada
gradualmente para as paredes da cavidade.

Gráfico 13-2 -O efeito do tempo passado entre a trituração e a condensação, sobre a


resistência de um amálgama endurecido. Quanto maior for o tempo passado, menor
será a resistência

Uma grande pressão no condensador é requerida para eliminar a maior


proporção possível do mercúrio, pois quanto maior a pressão de condensação,
menor a proporção de mercúrio residual e maior a resistência.
Quanto menor a ponta ativa do condensador, maior a força aplicada
sobre o amálgama, em termos de pressão por área. Assim, condensadores

Fernanda Panzeri
Amálgama 175

com pontas pequenas, ou de diâmetros pequenos, produzem uma pressão de


condensação muito maior do que os condensadores com pontas de diâmetro
grande.

13.8 ACABAMENTO E POLIMENTO

Depois de terminada a condensação do amálgama, a superfície da


restauração deverá ser esculpida com o emprego de instrumentos adequados,
de maneira que se reproduzam os detalhes anatômicos da parte perdida do
dente, durante o preparo da cavidade.
Após a escultura, a superfície da restauração deve ser alisada, através
de um instrumento brunidor, que se caracteriza por possuir ponta rômbica ou
arredondada. Apesar de já ter sido um assunto muito controverso, a literatura
registra uma série de trabalhos mostrando dados que permitem aceitar a
brunidura como um procedimento vantajoso, uma vez que ela proporciona uma
superfície mais lisa, facilita o polimento, reduz a porosidade nas margens,
reduz a infiltração marginal, reduz o conteúdo de mercúrio nas margens e na
susperfície, reduz a emissão de vapores do mercúrio residual e aumenta a
dureza das margens.
Não se pode considerar terminada uma restauração de amálgama antes
de executado o seu polimento. O tempo gasto tanto pelo profissional como
pelo paciente é recompensado. Irregularidades superficiais são reduzidas ou
eliminadas.
O polimento final das restaurações de amálgama não deve ser feito
antes de decorridas 48 horas. Preferivelmente um período de uma semana
deve ser esperado. Depois desse período, ter-se-ão já desenvolvido todas as
mudanças de fases que ocorrem durante a cristalização total do amálgama e a
superfície terá maior estabilidade estrutural.
O polimento deve ser feito com movimentos intermitentes e sob
refrigeração para evitar que haja um aumento exagerado de temperatura, que
pode provocar o afloramento de mercúrio para as camadas mais superficiais
da restauração. Tem sido demonstrado que da superfície de restaurações de
amálgama sem polimento desprendem-se vapores de mercúrio que podem
produzir efeitos iatrogênicos no paciente.

13.9 ALTERAÇÕES DIMENSIONAIS

Após o endurecimento, alguns amálgamas ter-se-ão contraído,


enquanto outros apresentar-se-ão expandidos, havendo ainda aqueles que
contraem-se durante as primeiras horas, para em seguida expandirem-se
A alteração dimensional está diretamente relacionada com a proporção
liga/mercúrio, formato e tamanho das partículas, tempo de trituração e
condensação.

Fernanda Panzeri
Amálgama 176

13.9.1 Efeitos da proporção liga/mercúrio:

Uma proporção ideal deve ser obedecida. Com esta prática, existirá
pouco ou nenhum excesso de mercúrio para ser removido, dando como
resultado um amálgama com alterações dimensionais dentro dos limites
permitidos. Em ligas de alto conteúdo de cobre, ocorrem 40% menos de
alteração dimensional. Esse fato pode ser atribuído à menor quantidade de
fase γ2 que se observa nessas ligas.

13.9.2 Efeitos do tamanho das partículas:

A área de superfície aumentada favorece uma difusão mais rápida do


mercúrio nas partículas da liga durante a trituração, resultando em uma grande
contração inicial do amálgama.

13.9.3 Efeitos do formato das partículas:

Considerando que as partículas esferoidais necessitam de menor


quantidade de mercúrio para a sua preparação, por se justaporem melhor uma
às outras, deixando menores espaços vazios, as ligas confeccionadas com
este tipo de partícula possuem menores alterações dimensionais do que as
ligas do tipo limalha.

13.9.4 Efeitos do tempo de trituração:

A duração do tempo de trituração determina, indiscutivelmente, a


consistência da mistura. Quando o amálgama é triturado por um tempo muito
curto, cristaliza com mais rapidez e mantém em sua massa uma quantidade
maior de mercúrio, produzindo, consequentemente, uma expansão. Assim,
dentro de certos limites, quanto maior o tempo de trituração, menor será a
expansão de presa.

13.9.5 Efeitos da condensação:

Quanto mais a pressão de condensação é aumentada, mais mercúrio é


removido da massa; consequentemente, menos fase γ1 e γ2 são formadas e a
progressiva diminuição na expansão com o aumento na pressão de
condensação pode ser considerada por esse fato.

13.9.6 Efeito da contaminação por umidade:

Fernanda Panzeri
Amálgama 177

Até recentemente, as ligas convencionais para amálgama continham


todas elas uma certa quantidade de zinco. O zinco atua como uma substância
absorvente de oxigênio, durante a fabricação da liga para amálgama,
impedindo assim a formação de óxidos de cobre, prata e estanho, que são
extremamente prejudiciais às propriedades do amálgama. Se o zinco do
amálgama é contaminado pela saliva, ou pela umidade da superfície dos
dedos, ele reage com a água e há liberação de hidrogênio gasoso. O gás
acumula-se na intimidade do amálgama e, eventualmente, a pressão pode
tornar-se suficiente para produzir marcados escoamentos localizados ou
expansão. Essa expansão é denominada expansão tardia do amálgama, pois
se verifica sempre alguns dias depois da inserção da restauração. Não deve
ser confundida com a pequena expansão de presa que pode ocorrer durante o
endurecimento do amálgama.
Apesar de ser muito importante evitar-se a contaminação do amálgama
pela umidade, durante a condensação na cavidade, não há inconveniente que
a superfície da restauração, depois de condensada, seja logo posta em
contato com a saliva. O perigo existe quando a umidade incorpora-se à massa
do amálgama e não quando a umidade entra em contato com a superfície
externa da restauração.

13.10 RESISTÊNCIA

Existe uma relação inversa entre a resistência do amálgama e o teor de


mercúrio. A diminuição de mercúrio provoca menos γ2 e melhora as
propriedades físicas, enquanto que um aumento produz mais fase γ2, maior
freqüência de fraturas marginais e superfície mais rugosa nas restaurações.
Os amálgamas elaborados com partículas esferoidais apresentam
resistência maior do que os amálgamas confeccionados com limalhas, e os
com alto conteúdo de cobre são ainda mais resistentes.
Esses materiais atingem sua resistência máxima ao final de um período
de 8 horas. Esse fato tem um significado clínico muito importante, uma vez que
os amálgamas são submetidos às forças da mastigação logo após serem
condensados em uma cavidade. A baixa resistência durante as duas primeiras
horas pode permitir danos à restauração que impliquem até na necessidade de
sua substituição.

13.11 CORROSÃO

Numerosos estudos têm demonstrado que a corrosão do amálgama é


caracterizada por um ataque anódico. Essa corrosão libera o estanho da fase
γ2 em forma de íons. Esse estanho reage com o oxigênio e sais de cloro
provenientes da saliva e dos alimentos, formando sais ou óxido de estanho,
liberando mercúrio que a ele estava previamente associado. Este mercúrio,
agora livre, combina-se com o remanescente da fase γ produzindo uma
expansão que continuará até a exaustão da fase γ2. Após certo tempo, serão
encontrados somente poros onde originalmente existia a fase γ2, o que resulta

Fernanda Panzeri
Amálgama 178

em grandes alterações nas propriedades mecânicas do amálgama com


prejuízos para as propriedades físicas das restaurações.
Os íons de estanho, muitas vezes, são depositados como produtos
sólidos na superfície da restauração e, desta forma, podem, nas condições
orais, dar origem a problemas higiênicos indesejáveis. O mercúrio absorvido
pode causar uma curvatura nas bordas da restauração de amálgama,
tornando-as frágeis e sujeitas a fraturas, e essa transformação da fase γ2 é,
possivelmente, o principal fator de falhas nas restaurações.
Esses produtos da corrosão também podem ser responsáveis pela
diminuição da infiltração. A quantidade reduzida de infiltração sob
restaurações a amálgama é peculiar. Quando a restauração é colocada
adequadamente, a infiltração decresce à medida que a restauração envelhece
na boca. Isto pode ser causado pelos produtos da corrosão que se formam na
interface entre o dente e a restauração, selando esta interface e impedindo,
desse modo, a infiltração.

13.12 DESEMPENHO CLÍNICO DAS RESTAURAÇÕES DE AMÁLGAMA

O registro excepcionalmente bom do desempenho clínico do amálgama


dentário está ligado à tendência do mesmo para minimizar a infiltração
marginal. Um dos maiores riscos associados com a restauração de dentes é a
microinfiltração, que pode ocorrer entre as paredes da cavidade e a
restauração.
Com exceção do cimento de ionômero de vidro, nenhum material
restaurador adere verdadeiramente à estrutura dentária; consequentemente, a
penetração dos fluidos e resíduos em redor das margens pode representar a
causa principal da cárie secundária. Na melhor das hipóteses, o amálgama
apresenta uma adaptação apenas razoavelmente íntima às paredes da
cavidade preparada.

13.13 TIPOS DE FALHAS

O exame rotineiro dos pacientes revela falhas em restaurações de


amálgama que, muitas vezes, indicam a substituição das mesmas. O problema
mais comum é a instalação de cáries nas margens da cavidade. Em segundo
lugar estão as fraturas das bordas das restaurações. Só 15% das falhas são
atribuídas a problemas de alterações dimensionais do material.

13.13.1 Causas de insucessos

As causas principais dos insucessos das restaurações de amálgama


são:
1. Preparo incorreto da cavidade (56%)
2. Preparo incorreto do amálgama (40%)

Fernanda Panzeri
Amálgama 179

3. Alterações na polpa, fratura do dente e outras causas patológicas


(4%).
Conclui-se que as falhas das restaurações de amálgama são devidas à
violação dos princípios fundamentais das técnicas de preparo cavitário e de
preparo do material.

13.14 VANTAGENS

As principais vantagens do amálgama como material restaurador são:


• adaptabilidade às paredes cavitárias
• resistência aos esforços mastigatórios
• insolubilidade no meio bucal
• alterações dimensionais toleradas pelo dente
• condutibilidade térmica menor do que a dos metais puros
• superfície brilhante
• fácil manipulação
• não produz alterações de importância nos tecidos dentários
• escultura fácil e imediata
• polimento final perfeito
• tolerância pelo tecido gengival
• eliminação fácil, se necessária

13.15 DESVANTAGENS

• modificação volumétrica
• condutibilidade térmica
• falta de resistência nas bordas
• cor não harmoniosa

13.16 INDICAÇÕES

Os materiais restauradores diretos são usados para restaurações dos


dentes no momento de sua preparação. Eles diferem das restaurações
indiretas, como as coroas e pontes, porque nenhum estágio laboratorial está
envolvido na confecção da restauração.
Os dentes necessitam ser restaurados por uma variedade de razões. A
destruição da substância dental causada por cáries dentárias podem resultar
em uma perda de quantidades consideráveis de esmalte e dentina. Os traumas
podem causar fraturas e perdas de partes dos dentes. Um terceiro fator
causador de perda de estrutura dental é a abrasão. Isso frequentemente
ocorre devido à força excessivamente grande na escovação usando um
dentifrício abrasivo, mas também pode ocorrer devido à peculiaridades na
dieta ou hábitos dos pacientes.
As partes dos dentes que requerem reconstrução através de um
material restaurador variam em tamanhos, forma e localização na boca. Assim,

Fernanda Panzeri
Amálgama 180

em um extremo, pode ser necessário restaurar uma cavidade grande, que se


estende por todas as faces de um molar. Uma situação totalmente diferente é a
restauração de uma pequena parte perdida em um acidente. As propriedades
dos materiais usados nessas e em outras aplicações variam e não é
surpreendente que um só material seja indicado para todos os casos.
Um outro fator utilizado para avaliar o sucesso ou falha de um material
restaurador para qualquer aplicação é a durabilidade. Nesse contexto, o termo
se refere à vida útil da restauração e a manutenção da estrutura remanescente
do dente e como ele pode ser afetado pela presença da restauração. A
durabilidade depende também das propriedades físicas e biológicas do
material restaurador.
Devido às suas propriedades, o amálgama é indicado para restaurações
de dentes posteriores decíduos e permanentes, estando contra-indicados em
dentes anteriores, em dentes com cavidades extensas e de paredes frágeis, e
em cavidades onde o amálgama possa fazer contato com outro tipo de
restauração metálica com potencial elétrico diferente, para evitar corrosão e
oxidação por galvanismo.
O amálgama é mais durável e mais barato do que as resinas para
restaurações de dentes posteriores. O tempo envolvido para a colocação de
uma restauração de amálgama é pequeno, a resistência à compressão é
excelente e, em razão da corrosão, o material consegue, sozinho, selar a
interface dente/restauração, prevenindo microinfiltração; além disso as
bactérias têm dificuldade em se aderir ao amálgama como se aderem em
restaurações de resina.

13.17 REPARO DE RESTAURAÇÕES DE AMÁLGAMA

Ocasionalmente, quando uma restauração de amálgama falha, como


por causa de uma fratura marginal, ela pode ser reparada. Uma nova mistura
de amálgama é condensada contra a parte remanescente da restauração.
Assim, a resistência entre o “novo” e “velho” amálgama é importante. A
resistência do amálgama reparado é menor que 50% do amálgama não
reparado. A região da união é uma região de fragilidade. Fatores como a
corrosão do amálgama e a contaminação da saliva na interface são barreiras
que interferem na união entre os dois amálgamas.
O reparo de restaurações de amálgama deve ser tentado somente se a
área envolvida é pequena, em regiões não sujeitas à altas tensões, capaz de
suportar e reter adequadamente duas partes restauradas.
BIBLIOGRAFIA

ANUSAVICE, J. Amálgama Dental – Estruturas e Propriedades. In: ________ Materiais Dentários de


Phillips. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 1ª ed. 1998 p.212-226.
____________. Amálgama Dental – Considerações Técnicas. In: ________ Materiais Dentários de
Phillips. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 1ª ed. 1998 p.227-240.
CRAIG, R. G. ed – Amalgam. In ________. Restorative Dental Materials. United States, Mosby, 10ª ed.
1996. p.209-243.

Fernanda Panzeri
Amálgama 181

FERRACANE, J. L. – Direct Posterior Restoratives. In: ________ . Materials in Dentistry. Principles


and Applications. Philadelphia, Lippincott Williams & Wilkins, 1995. p. 117-133.
GALAN Jr., J – Materiais Restauradores Plásticos Diretos In: ________ . Materiais Dentários. São
Paulo, Livraria Santos, 1ª ed, 1999 p. 27-35.
McCABE, J. F. & WALLS, A. W. G. – Dental Amalgam. In: ________. Applied Dental Materials.
London, Blackwell Science, 8ª ed. 1998. p. 157-168.

Fernanda Panzeri
Amálgama 182

ROTEIRO DE AULA PRÁTICA

Amálgama Dental

1. Instrumentais e Materiais Utilizados


 Manequim
 Modelo de gesso (fornecido pela disciplina)
 Cápsulas de amálgama
 Potes Dappen
 Espátula Lecron
 Porta-amálgama
 Condensador de amálgama
 Hollemback 3S
 Aplicador de Hidróxido de Cálcio
 Brunidor Bico de Pato
 Cimento de Hidróxido de Cálcio
 Cimento de ionômero de vidro para forramento

2. Técnica para confecção de restaurações em amálgama


 Colocar a cápsula no amalgamador mecânico e acioná-lo por 7
segundos.
 Colocar a mistura no pote dappen
 Dispensar a cápsula usada em local apropriado
 Levar pequenos incrementos do material à cavidade com o auxílio
do porta-amálgama
 Condensar o material com o condensador de amálgama tentando
remover a maior quantidade possível de mercúrio residual,
aplicando pressão a partir do centro da cavidade em direção às
margens.
 Repetir o procedimento até que toda a cavidade esteja preenchida
com ligeiro excesso.
 Através do Hollemback 3S, procede-se à escultura da restauração,
devolvendo a anatomia perdida do dente.
 Após a cristalização, brunir a restauração com o Brunidor, deixando
a superfície da restauração mais lisa e brilhante.

3. Exercícios: Confeccionar restaurações de Amálgama:


 Em modelo de gesso
 Em dentes posteriores no manequim
 Simples
 Sobre forramento de hidróxido de cálcio
 Sobre forramento de ionômero de vidro

 ATENÇÃO: Repetir as restaurações até dominar todas as


técnicas.

Fernanda Panzeri
14 Processo de Fundição
14.1 INTRODUÇÃO

Certas restaurações odontológicas são realizadas fora da boca do


paciente, utilizando metais para sua elaboração. A obtenção desse tipo de
restauração metálica fundida é conseguida através de um processo chamado
processo da cera perdida. O objetivo desse processo é a obtenção de uma
duplicação metálica da estrutura dental perdida, com o máximo de precisão
possível. Essa precisão deve ser maior do que aquela que pode ser detectada
pelo olho, ou pelos métodos dos testes clínicos convencionais. Nas margens
de uma restauração cimentada sempre estará presente uma linha de cimento,
mesmo que ela não seja prontamente visível. Os cimentos odontológicos
atuais são solúveis e se deterioram na cavidade bucal. Assim, quanto menos
justa for a fundição e maior a quantidade de cimento exposto, mais esta
restauração estará propensa a falhar. Certamente, uma precisão de adaptação
absoluta não pode ser conseguida continuamente nas condições bucais. Pode-
se afirmar, contudo, que quanto mais precisa for a adaptação da fundição,
menor será o aparecimento de microinfiltração e de cáries secundárias.
É difícil precisar quando essa técnica foi pela primeira vez usada para
fazer uma fundição metálica. A literatura, entretanto, menciona que uma
fundição dentária foi feita pela primeira vez, na virada do século XX. A idéia
básica foi mostrada à profissão odontológica pelo Dr. Philbrook em 1897.
Entretanto, o crédito é dado a William Taggart, que em 1907, apresentou uma
máquina de fundição e uma técnica, com as quais foi possível fazer fundições
precisas. Apesar da técnica ter sido considerada na época como uma prática
odontológica não refinada, passadas três décadas, muitos problemas
associados com o processo foram solucionados.
Essencialmente, a técnica de fundição consiste na fabricação de um
padrão de cera, correspondente à porção do dente que necessita ser
substituída. A seguir, ele é vazado num revestimento refratário. O padrão de
cera é então eliminado em temperaturas elevadas, formando-se uma câmara
(molde) no interior do revestimento, a qual é preenchida pela liga fundida
injetada por pressão ou centrifugação.
Os estágios na produção de uma fundição odontológica são, então:
 Preparo do dente
 Produção de uma moldagem
 Vazamento do modelo
 Enceramento da forma desejada
 Revestimento do padrão de cera
 Aquecimento e queima da cera
 Fusão e injeção da liga metálica
 Término e polimento
 Cimentação

Apesar de as fundições odontológicas poderem apresentar tamanhos


diferentes, como por exemplo, o de uma armação de prótese removível ou de
pequenos blocos, neste tópico iremos discutir somente os procedimentos
empregados na construção de restaurações pequenas, como é o caso de uma
coroa. Os princípios fundamentais são os mesmos, independentemente do
tamanho da fundição, e as técnicas diferem somente em pequenos detalhes.

14.2 DESCRIÇÃO RESUMIDA DO PROCESSO DE FUNDIÇÃO

Após a obtenção do modelo de cera, um conduto de alimentação é


aprisionado àquele modelo e este conjunto é incluído em revestimento (Fig.13-
1). Ele é misturado da mesma maneira que o gesso, vazado ao redor do
modelo e deixado endurecer. Obtido o endurecimento do revestimento, o pino
formador de conduto de alimentação é removido, bem como a cera do modelo.
A seguir a liga fundida é forçada por pressão para a cavidade do molde
deixada pela cera no revestimento. O caminho percorrido pela liga fundida é
através do canal de alimentação existente.

Figura 14-1 - Esquema representativo do anel de fundição (A), revestimento (C), padrão
de cera (D) pino formador de canal de alimentação (E) e base formadora de cadinho (F)

14.3 CERAS PARA FUNDIÇÃO ODONTOLÓGICA

As ceras usadas em odontologia são materiais termoplásticos que são


normalmente sólidos à temperatura ambiente, mas plastificam, sem
decomposição, para formar líquidos. Elas são, basicamente, substâncias
moles com poucas propriedades mecânicas e seu uso primário é produzir
padrões ou moldes para fundições de restaurações metálicas, como as coroas,
pontes, inlays e armações de Próteses Parciais Removíveis no laboratório,
segundo a técnica de fundição pelo processo da cera perdida.
O modelo de cera pode ser obtido tanto diretamente no dente como no
troquel, que é a reprodução do dente e do preparo cavitário. Se o modelo é
construído no dente, diz-se que é confeccionado pela técnica direta. Se, por
outro lado, ele é confeccionado no troquel, o procedimento é chamado de
técnica indireta.
O modelo preparado deve ser uma reprodução precisa da estrutura
perdida do dente. O modelo de cera forma o esboço de um molde, o qual será
preenchido pela liga fundida. Consequentemente, a fundição não pode ser
mais precisa que o modelo de cera, independentemente dos cuidados que
sejam observados nas etapas subsequentes. Por este motivo, o modelo deve
ser bem adaptado à cavidade preparada, bem como adequadamente
esculpido. Além disso, a distorção deve ser minimizada.
Os modelos de cera são utilizados para o processo de fundição de
restaurações muito mais complexas que as coroas e incrustações. Mas a
presente discussão se limitará primeiramente à construção de restaurações
usadas em operatória dental.

14.3.1 Composição

Um certo número de fórmulas de ceras para fundições têm sido


publicado, e algumas delas são muito complexas. Os componentes essenciais
de uma cera para fundição de sucesso são a parafina, a resina dammar, a cera
de carnaúba e outros corantes. Todas estas substâncias são de origem natural
e derivadas de fontes minerais ou vegetais.
A parafina é geralmente o ingrediente principal e usualmente está
presente em uma concentração de 40 a 60%. Ela concede à cera
características de moldabilidade, mesmo abaixo de sua temperatura de
liquefação. Uma vez que a parafina pode ser obtida com quase todos os
pontos de fusão desejados, é evidente que a parafina usada para as ceras do
tipo I apresenta um ponto de fusão mais alto que a parafina usada para as
ceras do tipo II.
A goma ou resina dammar é uma resina natural. Ela é adicionada à
parafina para melhorar sua lisura durante a modelagem e fazer com que a
parafina se descame menos e fique menos friável. Ela também aumenta a
tenacidade da cera e deixa sua superfície mais lisa e lustrosa.
A cera de carnaúba é encontrada em forma de um pó fino nas folhas de
uma palmeira tropical. A cera é muito dura e tem um ponto de fusão
relativamente alto. Ela é misturada com a parafina para diminuir o escoamento
à temperatura da boca. Ela tem um odor agradável e contribui mais que a
resina dammar para o lustre apresentado pela superfície da cera.
O controle das propriedades da cera é conseguido através da
combinação de vários fatores. Entre eles inclui a quantidade de cera de
carnaúba, a zona de fusão das ceras com hidrocarbonetos e a presença de
resinas.

14.3.2 Propriedades Térmicas


Inicialmente, quando temos um bastão de cera à temperatura ambiente,
ela estará em um estado sólido. Quando fornecemos o calor, ela iniciará seu
processo de plastificação.
As ceras são pobres condutores térmicos, de forma que o fornecimento
de calor deve ser mantido por um certo tempo à uma temperatura ligeiramente
acima da temperatura da transição sólido-líquido, permitindo o amolecimento
uniforme do material. Uma vez que o calor é absorvido por todo o material,
temos a cera em um estado líquido, onde será possível o seu escoamento e a
reprodução do modelo.
Removendo o calor, será permitido à cera o seu resfriamento, onde
retornará, novamente ao estado sólido. Para isso, também é necessário um
certo tempo para que a solidificação seja uniforme.
Outra característica térmica das ceras para fundição é o seu alto
coeficiente de expansão térmica linear. A cera pode expandir-se linearmente
em 0,7%, quando há um aumento de temperatura de 20 ºC, ou pode contrair-
se em 0,35%, quando resfriada de 37 para 25 ºC. As ceras para fundição
contraem-se ou expandem-se mais termicamente, por alteração de graus
centesimais, que qualquer outro material odontológico. Esta é uma das
desvantagens inerentes às ceras, quando elas são usadas na técnica de
restauração direta. Esta propriedade é menos significativa quando a cera é
usada na técnica indireta, porque o modelo não é sujeito àquelas variações de
temperatura desde a boca do paciente até a temperatura ambiente.

14.3.3 Distorção da Cera

A distorção é provavelmente o problema mais sério defrontado ao se


confeccionar e remover um modelo de cera da boca ou troquel. Ela é o
resultado das alterações térmicas e da liberação de tensões. Estas tensões
são provenientes da contração de esfriamento, da oclusão de gases, da
mudança na forma durante a modelagem, devido à escultura e à remoção, bem
como do tempo e da temperatura de armazenagem.
As ceras, como outros materiais termoplásticos, tendem a voltar à sua
forma original após sua manipulação. Isto é comumente conhecido como
“memória elástica” (Fig. 13-2). Um bastão de cera para fundição pode ser
amolecido sobre a chama, dobrado para a forma de uma ferradura e mantido
nesta posição. Se for deixado em água à temperatura ambiente por um certo
período de tempo, a ferradura se abrirá pois as moléculas da parte interna da
ferradura ficam sob compressão e as da parte externa sob tração. Uma vez
que estas tensões são gradualmente liberadas, na temperatura ambiente, a
cera tende a voltar à forma de bastão. Isto é mais crítico na cera para fundição
do que em um outro material de moldagem, uma vez que a restauração
metálica resultante deverá adaptar-se com justeza aos tecidos duros
adjacentes do dente.

14.3.4 Manipulação da Cera para Fundição


Para a plastificação da cera, podemos utilizar uma chama de lamparina
ou a imersão em água quente. Este método causa o amolecimento mais
uniforme, mas não é muito utilizado, pois acredita-se que alguns constituintes
podem ferver e pequenas quantidades de água podem incorporar-se à cera,
causando alterações em suas propriedades.

Figura 14-2 - Em A, um bastão de cera para fundição foi dobrado em forma de ferradura
e imerso em água à temperatura ambiente. B, após 24 horas o mesmo bastão de cera
tende a se abrir, ocorrendo distorção devido à "memória elástica".

Para a confecção de um padrão pela técnica direta, o bastão de cera é


plastificado sobre uma chama, tomando-se o cuidado de não superaquecê-lo.
Assim, deve-se girá-lo até que se apresente brilhante e neste momento é
removido da chama. Este processo é repetido até que a cera, na sua
totalidade, esteja uniformemente aquecida. Nesta altura ela é manipulada e
comprimida na cavidade preparada. A cera do tipo I tem uma plasticidade
adequada em gradientes de temperatura toleráveis pela polpa com segurança.
Durante a moldagem com a cera, deve-se exercer uma pressão com o dedo ou
então o paciente deve morder sobre a cera. A cera é resfriada gradualmente
na temperatura da boca, sem utilizar-se de água fria.
Precisa-se tomar cuidado ao remover o modelo. Após a remoção, o
modelo não deve ser tocado com os dedos para prevenir, o mais possível,
qualquer mudança na temperatura.
Para a confecção de modelos pela técnica indireta, primeiro se lubrifica
o troquel, preferivelmente com um lubrificante que contenha um agente
umectante. Deve-se evitar o excesso de isolante, já que isto irá impedir uma
adaptação íntima entre a cera e o troquel. A cera fundida pode ser adicionada
em camadas, com uma espátula ou um instrumento para cera, ou ainda
pintando-se com um pincel. A cavidade preparada deve ser preenchida em
excesso e a cera é então esculpida, até conseguir-se o contorno apropriado.
Quando as margens estão sendo esculpidas, devem-se tomar cuidados
extremos para evitar a abrasão de qualquer superfície do troquel de gesso. Um
pano de seda deve ser usado para se dar um polimento final do modelo,
esfregando-o inclusive nas margens.
Independentemente do método escolhido, o mais prático para evitar
qualquer distorção tardia possível é o de vazar o modelo imediatamente após
sua remoção da boca ou do troquel. Uma vez que o revestimento endureceu,
não haverá mais distorção no modelo.
Deve ser dito também que as ceras moles apresentam escoamento mais
alto. Por isto, irão produzir fundições maiores que aquelas obtidas usando-se
ceras duras, pois as primeiras expandem mais durante o endurecimento do
revestimento devido à reação exotérmica daquele material. Elas também
oferecem menor resistência à expansão do revestimento durante a presa.
As ceras se oxidam com o calor, e se o aquecimento é prolongado,
algumas irão evaporar. Elas também podem precipitar-se formando um
depósito escuro e pegajoso. Por este motivo, deve-se ter o cuidado de usar as
mais baixas temperaturas possíveis e, periodicamente, limpar o pote de
liquefação e o instrumento, substituindo aquela cera queimada.

14.4 CONDUTO DE ALIMENTAÇÃO

Uma vez obtido o padrão de cera, será colocado o conduto de


alimentação. O propósito do conduto de alimentação ou do pino é formar uma
via de acesso, através da qual a liga fundida pode chegar ao molde existente
no anel de revestimento, o qual é formado após a remoção da cera.
O diâmetro e o comprimento do pino formador do canal de alimentação
dependem, em grande escala, do tipo e do tamanho do padrão de cera, do tipo
da máquina de fundição que será usada e das dimensões do anel no qual a
fundição será feita. Pinos pré-fabricados estão disponíveis, com diferentes
calibres ou diâmetros.
O pino deve ser fixado na porção do modelo de cera que apresenta a
maior área de seção transversal. É melhor que a liga fundida escoe das áreas
mais espessas para as mais finas, ou seja, para as margens do que ao
contrário. Não deve ser dirigido diretamente para qualquer parte fina ou
delicada do modelo, uma vez que o metal fundido ao penetrar pode abrasionar
ou fraturar o revestimento nesta área, e como resultado haverá uma falha da
fundição.
O pino não deve ser fixado em ângulo reto com uma superfície plana. A
entrada do metal com o pino nessa posição provoca um movimento turbilhonar
localizado do metal líquido. O ideal é que o pino seja colocado em uma
posição formando um ângulo de 45º com a parede proximal.
O comprimento do pino formador do canal de alimentação deve ser
suficiente para posicionar o modelo de cera adequadamente em relação ao
anel de fundição.
Os modelos podem receber pinos de maneira direta ou indireta. Na
colocação direta, o pino formador de canal de alimentação conecta-se
diretamente ao modelo e à base do anel. Na colocação indireta, um conector,
ou câmara de reserva, é posicionado entre o modelo e a base do cadinho.
Essa câmara é adicionada para evitar a porosidade por contração
localizada. Quando a liga fundida preenche o molde de revestimento aquecido,
esta área correspondente ao antigo modelo de cera deve solidificar primeiro
para, em seguida, haver a solidificação da câmara de reserva ou de
compensação. Devido a possuir uma maior massa de liga e estar localizada
na posição do centro de aquecimento térmico do anel, a liga na câmara de
reserva permanece fundida, de modo a fornecer liga líquida para o molde, à
medida que vai havendo a solidificação. A contração de solidificação
resultante que acontece irá localizar-se na câmara de reserva e não na
restauração. Depreende-se daí que a câmara de reserva deve ter um volume
maior do que o padrão, além de que o pino formador do conduto de
alimentação que é fixado ao modelo deve ser colocado em uma posição
apropriada, além de possuir um diâmetro correto.

14.5 REVESTIMENTOS ODONTOLÓGICOS

Um revestimento para fundições pode ser descrito como um material


cerâmico adequado para a construção de um modelo que será preenchido por
um metal ou uma liga metálica, apropriadamente fundida. Esse material tem
que apresentar, necessariamente, três características: EXPANSÃO, para
compensar a contração de fundição da liga metálica; POROSIDADE, para que
durante a injeção do metal líquido o ar possa ser expelido evitando a pressão
de retorno; e a RESISTÊNCIA para suportar a injeção do metal líquido sob
pressão sem fraturar e as altas temperaturas a que é submetido.

14.5.1 Composição

Um revestimento é uma mistura de 3 tipos de materiais, a saber:


1. Material refratário
2. Aglutinante
3. Modificadores químicos, cada um deles com uma função específica

O material refratário (sílica - SiO2) é adicionado para que haja um


refratário durante o aquecimento do revestimento tornando-o capaz de resistir
às altas temperaturas, além de servir para regular a expansão térmica.
Usualmente, o padrão de cera é eliminado do molde no interior do
revestimento por aquecimento. Durante o aquecimento, o revestimento irá
expandir-se termicamente para compensar, parcial ou totalmente, a contração
de fundição da liga de ouro. Se uma forma apropriada de sílica é empregada
no revestimento, tal contração pode ser eliminada e convertida em uma
expansão durante o aquecimento.
O material refratário, isoladamente, não forma uma massa sólida
homogênea; por isto é necessária alguma outra substância para se obter a
união da mistura, que é o material aglutinante. O material aglutinante mantém
juntos os outros componentes e promove a rigidez do revestimento. A
resistência do revestimento depende da quantidade do aglutinante presente.
Normalmente, uma mistura de material refratário e aglutinante não é
capaz de produzir todas as propriedades desejadas de um revestimento. Por
isso são adicionados agentes modificadores, tais como a grafita ou cobre
pulverizado, que são agentes redutores, com a finalidade de alterar algumas
propriedades físicas do revestimento.
Segundo o tipo de aglutinante utilizado, os revestimentos podem ser
classificados em:
 Aglutinado por gesso
 Aglutinado por fosfato
 Aglutinado por silicato de etila

Os revestimentos aglutinados por gesso são os mais antigos e


tradicionais, sendo utilizados para a fundição de ligas de ouro e cuja zona de
fusão situa-se abaixo de 1000ºC. Nesses tipos de revestimentos uma ligeira
expansão ocorre a aproximadamente 700ºC, acontecendo em seguida uma
tremenda contração. Esta última contração é mais provavelmente devida à
composição e à emissão de gases de enxofre, o que contamina a fundição
com sulfetos de elementos não nobres existentes na liga, como é o caso da
prata e do cobre. Assim, é imperativo que os revestimentos aglutinados por
gesso não sejam aquecidos acima de 700ºC (Gráfico 13-1).

Gráfico 14-1 - Alterações dimensionais de três formas de gesso durante o aquecimento

Gesso comum
Gesso pedra tipo III
Gesso pedra tipo IV
1
0,5
0
Expansão (%)

-0,5
-1
-1,5
-2
-2,5
-3
50 100 200 300 400 500 600 700 800 810 860 890
Temperatura (ºC)
O tremendo aumento do uso de restaurações de metalocerâmica
obrigou a utilização de ligas de ouro com altas temperaturas de fusão que não
fundem adequadamente em revestimentos com gesso. Além do mais, a
tendência atual é a de se usarem ligas mais baratas, de metais não-nobres ou
básicos, e todas requerem o uso de revestimentos com fosfato. O aglutinante
basicamente constitui-se de óxido de magnésio e um fosfato que é ácido na
sua origem. Usar-se um ácido fosfórico pode ser incômodo, e por isto a maioria
dos revestimentos à base de fosfato utiliza um líquido, sendo o pó misturado
com uma suspensão aquosa de sílica coloidal.
Os revestimentos aglutinados por silicato de etila são usados, desde
meados de 1930, para a confecção de prótese parcial com ligas de metais
básicos de alta fusão. Foi desenvolvido para que pudessem ser feitas
fundições de grandes aparelhos protéticos que utilizavam ligas de cobalto-
cromo, de alta temperatura de fusão. Esse continua sendo o seu uso primário.
Em sua composição, o aglutinante é a sílica gel e o pó consiste de
partículas refratárias de sílica, nas diversas formas, junto com o óxido de
magnésio.
A propriedade mais importante desse tipo de revestimento é a
capacidade de suportar altas temperaturas e permitir suficiente expansão para
compensar a grande contração de fundição da liga.

14.5.2 Expansão do revestimento

Vários são os tipos de expansão a que um revestimento está sujeito.


Isso varia em função de sua composição e da temperatura a que é submetido.

Expansão normal de presa

A finalidade da expansão de presa é auxiliar no aumento da cavidade


que constitui o molde, com o fim de compensar parcialmente a contração de
fundição da liga. Ela ocorre em revestimentos aglutinados por gesso e por
fosfato. As partículas de sílica interferem no entrelaçamento ou imbricação dos
cristais, à medida que estes se formam. Desse modo, a mistura é mantida por
mais tempo em um estado semi-sólido, tornando mais efetivo o crescimento
dos cristais para o exterior e, portanto, mais eficiente a produção de expansão.
Essa propriedade é inerente aos revestimentos, ou seja, não é
necessário qualquer ato operatório para que esse tipo de expansão ocorra
nesses tipos de revestimentos. Porém, para que haja ainda mais expansão,
necessária para compensar toda a contração da liga, existem técnicas, que
serão vistas a seguir.

Expansão higroscópica de presa


O mecanismo da expansão higroscópica parece ser o mesmo da
expansão normal de presa, ou seja, devido ao crescimento e entrelaçamento
dos cristais de gesso. Sob condições normais de presa (ao ar), nem todo o
potencial de crescimento dos cristais se realiza, devido aos limites confinados
do volume de água da mistura. Além disso, desde que o volume da mistura
diminui devido à presa do aglutinante, os limites para o crescimento dos
cristais podem expandir-se totalmente de acordo com o seu potencial de
crescimento.
A expansão é aumentada, entretanto, unicamente quando água
adicional é fornecida tão logo os cristais em crescimento começam a entrar em
contato. Deve ser enfatizado que o fenômeno é puramente físico.
A expansão higroscópica de presa em um revestimento odontológico
pode ser maior do que a expansão normal de presa seis vezes ou mais
(Gráfico 13-2).

Gráfico 14-2 - A) Expansão higroscópica do revestimento B) Expansão térmica do


revestimento

2,5

2
Expansão (%)

1,5
A
B
1

0,5

0
0 10 20 30 40
Tempo (minutos)

Expansão térmica do revestimento

A expansão térmica dos revestimentos ocorre quando eles são


aquecidos lentamente até suas temperaturas de transição e que estão
relacionadas com a sua composição ou com o tipo de sílica usado.
A expansão do revestimento aglutinado por silicato de etila é toda
devido à expansão térmica. Assim, distorções que podem ocorrer devido à
expansão de presa, como ocorre no revestimento aglutinado por fosfato, são
minimizadas, produzindo, assim, fundições grandes e precisas.
Propriedades dos Revestimentos

Resistência

A resistência do revestimento deve ser adequada para evitar fratura ou


descamamento do molde durante o aquecimento e a injeção da liga de ouro
fundida. Idealmente, o revestimento deve apresentar uma expansão suficiente
para compensar todas as contrações térmicas da liga. Entretanto, após a
eliminação da cera do molde, a resistência não deve ser maior que a
necessária para resistir ao impacto do metal fundido de encontro às paredes
do molde.
A resistência do revestimento é afetada pela relação água/pó, da
mesma maneira que os gessos; quanto maior a quantidade de água
empregada, menor a resistência à compressão. O aquecimento do
revestimento não faz com que a sua resistência seja muito menor do que
aquela apresentada à temperatura ambiente. Após ser esfriado à temperatura
ambiente, a resistência diminui consideravelmente, devido, talvez, às
pequenas fraturas que se formam durante o esfriamento.

Porosidade

Durante a fundição, o metal fundido é forçado para o interior do molde


sob pressão. À medida que o metal fundido entra no molde, o ar deve ser
forçado para fora. Se o ar não é completamente eliminado, aparece a chamada
pressão de retorno, que impede que a liga de ouro preencha completamente o
molde. Um dos métodos comuns para ventilar o molde é através dos poros do
revestimento.
Em geral, quanto maior for a quantidade de cristais de gesso presente
no revestimento endurecido, menor será a porosidade. Conclui-se assim, que
quanto menos hemidratos existirem e quanto maior for a quantidade de água
que for usada para a mistura com o revestimento, maior será a porosidade.
O tamanho da partícula do revestimento é também um outro fator.
Quanto mais uniforme for o tamanho das partículas, maior será a porosidade.
Este fator é de maior importância que o próprio tamanho das partículas. Uma
mistura de partículas finas e grosseiras apresenta menor porosidade do que
quando o revestimento é composto de partículas com tamanho uniforme.

14.6 ANÉIS DE FUNDIÇÃO

O anel para inclusão do padrão de cera em revestimento pode ser de


dois tipos: metálico ou não-metálico.
É necessário que haja uma previsão para permitir a expansão do
revestimento no interior dos anéis metálicos para fundição. O molde pode
tornar-se menor, ao invés de ser aumentado em função da pressão contrária
resultante do confinamento da expansão normal de presa provocada pelo anel
rígido.
A técnica mais comumente usada para permitir a expansão do
revestimento é a de forrar as paredes internas do anel com um forro para anel.
Antigamente, esse forro era à base de amianto, mas esse não pode mais ser
usado devido ao fato do seu potencial carcinogênico. Dois tipos de forro para
anel que não contêm amianto podem ser produzidos: um forro de silicato de
alumínio cerâmico e um forro de celulose.
Para assegurar uma expansão uniforme, o forro é recortado com o
tamanho do diâmetro interno do anel, sem haver sobrepasse. O forro seco é
colocado em posição com cera. Com a técnica do umedecimento do forro, o
anel forrado é imerso em água por um período de tempo e o excesso de água
é removido agitando-se o anel. Se apertarmos o forro umedecido,
permanecerão quantidades de água variáveis e consequentemente a
expansão será diferente.
A espessura do forro não deve ser menor do que aproximadamente 1
mm. O comprimento desejado dos forros continua sendo um assunto
controvertido. Se o comprimento do forro é ligeiramente menor do que o anel,
o revestimento ficará confinado nas duas extremidades do anel. Por esse
motivo, a expansão longitudinal e a higroscópica sofrerão restrições, quando
comparadas a estas mesmas alterações dimensionais que ocorrem quando o
forro reveste internamente o anel até suas extremidades.
Entretanto, a expansão do revestimento é sempre maior na direção em
que não existe restrição ou confinamento, ou seja, longitudinalmente, do que
naquela que ocorre nas direções laterais, em direção às paredes do anel. Por
este fato, é desejável reduzir a expansão na direção longitudinal. A colocação
de um forro mais curto do que as paredes do anel e que diste das
extremidades 3,25mm tende a produzir uma expansão mais uniforme e com
isso haverá menos chance de distorção do modelo de cera no interior do
molde de revestimento.

14.6.1 Sistema de fundição sem anel

Com o desenvolvimento cada vez maior dos revestimentos para a


inclusão do padrão de cera, e objetivando uma maior expansão do molde de
revestimento, um sistema de fundição sem anel está disponível (Fig.13-3).
Utiliza-se para a inclusão, segundo essa técnica, um anel de silicone
que, após a presa do revestimento, deverá ser removido obtendo-se somente
um cilindro de revestimento com o padrão de cera incluído.
Além de permitir expansão adequada, há outras vantagens na utilização
desse tipo de técnica, como a maior facilidade de trabalho, permitem maior
ventilação do molde e em alguns casos, melhora a reprodução de detalhes.

14.7 METAIS E LIGAS METÁLICAS PARA FUNDIÇÃO


O dentista emprega extensivamente os metais em suas restaurações ou
nos aparelhos e instrumentos de que se utiliza.
Metal é o elemento químico que, em solução aquosa, forma íons
positivos. Todos os metais são sólidos à 25ºC, exceto o mercúrio que é líquido.
Raramente tem o dentista oportunidade de empregar metais puros;
mesmo porque a fabricação de produtos odontológicos, a partir de metais
puros, há muito deixou de ser intentada por ele, dadas as dificuldades de
ordem tecnológica decorrentes e que não estão, geralmente, à sua disposição.
Os metais são empregados, pois, sob a forma de ligas metálicas. Estas, nada
mais são do que a união de dois ou mais metais, chamados componentes, um
dos quais pode ser um metalóide.

Figura 14-3 - Dois tipos de anéis que podem ser usados na inclusão. À esquerda, um
anel metálico que deve ter sua porção interna forrada. À direita, um anel de silicone, que
deve ser removido após a presa do revestimento

Dos 103 elementos atualmente constantes da tabela periódica, cerca de


80 podem ser classificados como metais. Porém, nem todos apresentam
características satisfatórias para compor uma liga odontológica.
Alguns metais, enquanto componentes de uma liga, são capazes de
oferecerem dureza e tenacidade a outros metais. É o caso dos primeiros
metais de transição, como Mo, Ti, Nb, Mn e Cr. Outros metais (segundos
metais de transição) como o Fe, Co e Ni são muito magnéticos e ligam-se
facilmente a outros metais. Há aqueles ainda que são considerados nobres,
como o Au, Cu e Ag, que são pouco reativos. Por isso, a fabricação de ligas
representa um dos meios pelos quais se pode melhorar as propriedades dos
metais e torná-los mais acessíveis economicamente.
O primeiro material para a confecção de restaurações foi o ouro. Para
restaurações diretas, a popularidade do ouro tem caído consideravelmente nas
últimas quatro décadas, mas tem-se verificado um pequeno ressurgimento
como material restaurador direto nos Estados Unidos, Suécia e Alemanha, em
parte devido à preocupação com relação ao amálgama e as limitações das
resinas, ionômeros de vidro e cerâmicas.
O ouro é o mais nobre dos materiais odontológicos, onde raramente
ocorre manchamento e corrosão na cavidade oral. É inativo quimicamente e
não sofre a ação do ar, calor e da maioria dos solventes. É o mais dúctil e o
mais maleável dos metais. É extremamente macio, mas após ser trabalhado
apresenta dureza.
Devido às suas propriedades, o ouro é o material restaurador quase
ideal para a preservação permanente da estrutura dental. Porém, somente
pode ser usado em regiões não estéticas e em áreas pequenas que receberão
pouco stress. Suas principais desvantagens são a cor, a alta condutibilidade
térmica, a pouca dureza e obviamente o alto custo.

14.7.1 Temperatura de fusão

A temperatura ambiente, os metais apresentam-se no estado sólido, à


exceção do mercúrio e do gálio. Como outras substâncias cristalinas, eles
fundem-se a uma temperatura determinada, característica de cada um deles, e
obedecendo às leis de fusão ou de solidificação. O conhecimento da
temperatura de fusão, bem como dos fenômenos relacionados com a
solidificação que ocorre com o resfriamento, é de interesse para o dentista,
devido a que este trabalha com muitas estruturas obtidas por fundição, a qual
implica em fusão e solidificação do metal.
Se um metal é fundido e deixado resfriar, e se a temperatura durante
esse resfriamento for anotada em função do tempo, obtém-se um gráfico
semelhante ao gráfico 13-3. Como pode ser notado, a temperatura diminui
regularmente de A para B’. Ocorre, então, um aumento da temperatura até o
ponto B e, a partir daí, a temperatura permanece constante até o tempo
indicado pelo ponto C. Tal fato indica um fenômeno que ocorre durante esse
mesmo tempo: o da libertação do calor latente de fusão.
Sabe-se que a energia no estado líquido é maior do que a energia no
estado sólido. Assim, quando se aquece um metal para fundi-lo, parte dessa
energia calorífica é adquirida pelo metal e nele transformada em energia
cinética, a qual permite a maior movimentação que os seus átomos
apresentam no estado líquido. Essa energia calorífica absorvida pelo corpo, e
armazenada por ele quando no estado líquido, é o chamado calor latente de
fusão. E é este mesmo que, libertando-se durante a solidificação, impede que
a temperatura baixe. Há, pois, um certo intervalo de tempo durante o qual a
temperatura do metal permanece constante, o que não se daria se não
houvesse essa libertação de energia.
Após este ponto C, e com o passar do tempo, a temperatura diminui
gradativamente até a temperatura ambiente.
A temperatura que é representada no gráfico pela parte reta da curva,
indicado pelos pontos B e C, corresponde ao ponto ou à temperatura de
solidificação. Esta porção da curva também corresponde ao ponto ou à
temperatura de fusão.
A interpretação do gráfico 13-3 nos leva a afirmar que o metal estará
fundido em todas as temperaturas acima de Tf, que é indicada pelo platô BC, e
que estará sólido quando se encontrar abaixo desta temperatura.
Todo metal puro apresenta um ponto de fusão. As ligas metálicas não
apresentam um ponto, mas sim uma zona de fusão (Gráfico 13-4). Verifica-se
que a solidificação não mais se dá a uma temperatura única, mas em um
intervalo ou zona de temperatura, o que é característico das ligas metálicas em
geral.

14.7.2 Mecanismo de Solidificação e Estrutura Cristalina

A maioria dos metais e ligas, incluindo-se o ouro e as ligas de metais


nobres, contraem-se quando passam do estado líquido para o estado sólido,
isso devido ao processo de cristalização, representado esquematicamente na
Fig. 13-4. Um metal puro tem, como característica de cristalização, o
crescimento arborescente a partir de núcleos.

Gráfico 14-3: Curva de resfriamento tempo X temperatura de um metal puro.


Gráfico 14-4: Curva de solidificação de uma liga metálica

O crescimento se inicia a partir de um núcleo de cristalização. A


solidificação, ou cristalização, progride a partir desses pontos, crescendo em
todas as direções, constituindo formas arborescentes, por isso chamadas de
formações dendríticas. O crescimento dos grãos cristalinos ocorre em todas as
direções e continua até que o aumento de volume de todos faça com que eles
se encontrem uns aos outros. Nessas condições, qualquer crescimento dos
grãos é impedido pelo dos grãos vizinhos, completando-se a solidificação.
(Fig. 13-4).
Os valores para a contração de fundição diferem para as várias ligas,
devido às diferenças de suas composições. Como é de esperar, devido às
altas temperaturas de fusão, a contração de fundição das ligas de metais
básicos é maior do que a das ligas de ouro. Valores de 2,3% são encontrados
para ligas à base de Co-Cr e de aproximadamente de 2% para as ligas de Ni-
Cr.
Tal consideração é importante nos procedimentos de fundição
odontológica. Assim, por exemplo, se um molde para uma restauração for a
reprodução precisa da estrutura perdida do dente, a restauração após a
fundição será muito pequena, devido à quantidade de contração de fundição
que haverá na liga.
Existem meios para compensar essa contração, como já vimos, através
das propriedades das ceras e dos revestimentos. Além disso, o processo de
uma fundição odontológica prevê todas essas características e já é planejado
para evitar qualquer distorção devido à essa contração.
14.7.3 Classificação das Ligas

Devido à grande quantidade de ligas para fundição, é difícil estabelecer


um sistema de classificação. Aqui elas serão classificadas segundo a sua
composição. Quando uma liga é identificada de acordo com os elementos que
ela contém, os componentes são listados em ordem decrescente da
quantidade que entra na composição. Assim, o constituinte quantitativamente
maior é listado em primeiro lugar, seguido do segundo constituinte, o de maior
peso na composição. Sendo assim, são dois os tipos de ligas utilizados para
fundição odontológicas:
♦ Ligas de ouro
♦ Ligas de metais básicos
Figura 14-4: Fases da solidificação, desde a nucleação. A) Passando pela formação dos
dendritos. B-E) Até o final da solidificação para a formação dos cristais (F).

Ligas de ouro

Em 1927, com base na função que as ligas de ouro iriam desempenhar


na boca, classificou-se as ligas de ouro desde o tipo I até o tipo IV. Em 1960
foram acrescentadas à essa classificação as ligas para metalocerâmica.
Tipo I (mole): Para pequenas restaurações. É facilmente brunida e deve
ser submetida a tensões pequenas.
Tipo II (média): As restaurações podem ser submetidas a tensões
moderadas.
O desenvolvimento dos materiais para restaurações estéticas, pela
técnica direta ou indireta, fez com que, na atualidade, tenha sido praticamente
eliminado o uso de ligas de ouro dos tipos I e II.
Tipo III (dura): As restaurações são sujeitas a altas tensões. Podem ser
usadas em coroas, pônticos, coroas totais e próteses fixas de pequena
extensão.
Tipo IV (extradura): As restaurações são sujeitas a tensões muito
grandes, como nas armações e grampos para próteses parciais removíveis,
próteses fixas extensas e coroas totais.
O uso dessas ligas está decrescendo, em razão de pressões
econômicas. O mais importante é que estas ligas foram desenvolvidas e
testadas por muito tempo. Suas características de manipulação e desempenho
clínico estão bem estabelecidas. Assim, elas servem de padrão, com o qual as
características e desempenhos das ligas alternativas, mais recentemente
desenvolvidas, podem ser comparadas.
Ligas para metalocerâmicas: Apropriadas para receber facetas de
porcelana, coroas de pequena espessura e próteses fixas de pequena
extensão. Essas ligas variam muito em composição e podem estar baseadas
em ouro, paládio, silício ou cobalto.

14.7.4 Ligas de metais básicos

As ligas de metais básicos surgiram para a confecção de próteses


parciais removíveis na década de 30, devido ao fato dessas ligas serem mais
leves em peso, apresentando propriedades mecânicas maiores. Depois, na
década de 70, elas começaram a ser usadas na confecção dos outros tipos de
próteses, estimuladas pelo crescente e rápido aumento dos preços dos metais
nobres.

Ligas para metalocerâmica

 Ligas de níquel-cromo: Estas ligas de metais básicos variam


grandemente na composição, com os níveis de níquel chegando até
a 80% e o conteúdo de cromo variando de 13 a 22%.
 Ligas de cobalto-cromo: Essas ligas de metais básicos podem
conter de 55 a 68% de cobalto e de 25 a 27% de cromo, sendo que
oxidam-se mais prontamente do que aquelas do grupo de Ni-Cr.

Ligas para prótese parcial removível

As ligas de metais básicos têm sido empregadas para armação de


próteses parciais desde 1930. A combinação do baixo custo e das
propriedades mecânicas superiores fez com que a aplicação destas ligas se
difundisse, mesmo antes que o preço do ouro tivesse ficado fora de controle.
Uma desvantagem deste tipo de liga é a complexidade para a fabricação do
aparelho dental. As altas temperaturas de fusão impedem o uso da chama
comum de gás/ar para a fundição. A dureza excessiva desse tipo de liga
requer o uso de equipamento especial para limpar e acabar a peça após a
fundição.
As ligas utilizadas para este tipo de fundição são as de Co-Cr e Ni-Cr,
sendo que elas requerem um mínimo de 85% em peso de cromo, cobalto e
níquel.
No sistema Co-Cr, o cobalto é o elemento básico e, portanto, pode ser
considerado fundamental para que se forme uma solução sólida com 70% de
cobalto e 30% de cromo. O cromo, por sua ação passivadora, assegura
resistência à corrosão da liga. Juntamente com outros elementos, ele age
como endurecedor na solução sólida. Se o níquel substitui o cobalto, formando
uma liga de Ni-Cr, tende a haver uma diminuição da resistência, da dureza, do
módulo de elasticidade, da temperatura de fusão, havendo, em contrapartida,
um aumento da ductilidade.

14.8 PROCESSOS DE FUNDIÇÃO

Uma vez que o revestimento tenha tomado presa durante um período de


tempo apropriado, ou seja, aproximadamente 1 hora, ele estará pronto para
ser levado ao forno. Antes desse ato, a base formadora de cadinho deverá ser
removida cuidadosamente.

14.8.1 Eliminação da cera e aquecimento

Os anéis vazados devem se colocados no forno à temperatura ambiente


e aquecidos gradativamente até a temperatura máxima recomendada pelos
fabricantes dos revestimentos. Dependendo do tipo de revestimento, da
técnica de expansão e da composição da liga metálica utilizada uma
temperatura máxima está indicada.
Um período de aquecimento seguro para qualquer revestimento é
aquele não inferior a 60 minutos ou preferivelmente até maior. Após a
temperatura de fundição ter sido atingida, o ato de fundição deve ser realizado
imediatamente. A manutenção de uma alta temperatura por qualquer período
de tempo considerável pode provocar a contaminação da fundição por enxofre
e também provocar uma superfície rugosa da restauração fundida, devido à
desintegração do revestimento.

14.8.2 Máquina de Fundição


A liga é fundida em um cadinho à parte e o metal líquido é pressionado
para o interior do molde por força centrífuga (Fig 13-5). Aqui a mola da
máquina de fundição é comprimida quando se dão de 2 a 5 voltas,
dependendo da máquina em particular e da velocidade de rotação desejada.
O metal é fundido com um maçarico em um cadinho cerâmico. O
combustível empregado na maioria dos casos é uma mistura de gás natural ou
artificial e ar, apesar de se usar também o oxigênio com ar ou com acetileno. A
temperatura da chama de gás/ar é grandemente influenciada pela natureza do
gás e as proporções da mistura de gás e ar. Um cuidado considerável deve ser
tomado para se obter uma chama não luminosa e em forma de pincel.
O cadinho se encontra aprisionado na parte móvel do braço da máquina
de fundição. Esta parte móvel acelera a velocidade de rotação do cadinho e do
anel de fundição a ele ligado. Desta forma, há um aumento da velocidade
linear da liga líquida fundida, à medida que ela se movimenta para o interior do
molde. Uma vez que o metal tenha atingido a temperatura de fundição e se
liqüefeito, a máquina é liberada e a mola dispara o movimento de rotação.

14.9 CAUSAS DE FALHAS NAS FUNDIÇÕES

Uma fundição defeituosa provoca problemas consideráveis e também


uma perda de tempo. Na maioria dos casos, as falhas nas fundições podem
ser evitadas se observarmos rigorosamente os procedimentos que serão
governados por certos princípios e regras fundamentais. Algumas dessas
falhas podem ser vistas na Fig. 13-6.

Figura 14-5 - Máquina de centrifugação

14.9.1 Distorção
Qualquer distorção apreciável na fundição está provavelmente
relacionada às distorções do padrão de cera. Este tipo de distorção pode ser
minimizado ou evitado por uma manipulação adequada da cera e uma
manipulação correta do modelo da cera. A configuração do modelo de cera e a
espessura do modelo têm influência na ocorrência das distorções. Ela
aumenta com a diminuição da espessura das paredes do modelo. Quanto
menor for a expansão de presa do revestimento, menor também será a
distorção.

14.9.2 Rugosidade, Irregularidades e Descoloração da superfície

A superfície de uma fundição odontológica deve ser uma reprodução


precisa da superfície do modelo de cera do qual ela é obtida. Rugosidades ou
irregularidades excessivas na superfície externa da fundição obrigam a
necessidade de um polimento e acabamento adicional. Por outro lado, se
estas falhas ocorrerem na superfície interna da fundição, impedem o
assentamento adequado de uma fundição que anteriormente parecia ser
precisa.
A rugosidade da superfície não deve ser confundida com as
irregularidades. A rugosidade de superfície é definida como irregularidades
discretas e espaçadas e cuja altura, largura e direção estabelecem um modelo
predominante e que se repete sobre toda a superfície. As irregularidades de
superfície se referem a imperfeições isoladas, como os nódulos, as quais não
aparecem em toda a superfície da fundição.
A rugosidade da superfície das fundições odontológicas é, até certo
ponto, invariavelmente maior do que a do modelo de cera do qual ela teve
origem. Esta diferença está provavelmente relacionada com o tamanho das
partículas do revestimento e sua capacidade de reproduzir a superfície do
modelo de cera até os seus detalhes microscópicos.

Bolhas de ar

Pequenos nódulos na fundição são causados por bolhas de ar que


ficam aprisionadas ao modelo, durante ou depois do vazamento. Tais nódulos
podem ser algumas vezes removidos se não estiverem localizados em uma
área crítica. Entretanto, nas margens ou nas superfícies externas a remoção
destas irregularidades pode alterar a justeza de adaptação da fundição. Como
foi notado previamente, o melhor método para evitar bolhas de ar é com o uso
da técnica de inclusão a vácuo.
Um agente umectante é útil para evitar o aprisionamento de bolhas de
ar na superfície do modelo, mas isoladamente, ele não é a solução.

Película de água
A cera repele a água e, se o revestimento ficar de alguma maneira
separado do modelo de cera, irá formar-se uma película de água irregular
sobre sua superfície.

Aquecimento muito rápido

Provoca a formação de cristas ou rebarbas na fundição. Ele causa ainda


o aparecimento de rugosidades de superfície características e que se
evidenciam devido ao desmoronamento do revestimento quando a água ou o
seu vapor passam pelo molde. Este vapor ou água pode carregar alguns sais,
usados pelo fabricante como modificadores e que se encontram presentes na
superfície do molde. Quando da evaporação da água, eles se precipitam nas
paredes. O molde deve ser aquecido gradualmente. Devem-se levar pelo
menos 60 minutos para o aquecimento do anel preenchido com revestimento,
desde a temperatura ambiente até 700ºC. Quanto maior for o volume do
revestimento, mais lento deve ser o aquecimento.

Baixo aquecimento

A eliminação incompleta de resíduos de cera pode ocorrer se o tempo


de aquecimento for muito curto ou se existir ar insuficiente em disponibilidade
no forno. Vazios ou porosidades podem ocorrer na fundição devido aos gases
formados do contato entre a liga quente e os resíduos de carbono.

Figura 14-6 - Irregularidades na superfície de uma fundição, causado por bolhas de ar


(A), película de água (B) e inclusão de um corpo estranho (C).

Relação água/pó
Quanto maior for a relação água/pó, mais rugosa será a fundição. Se
muito pouca água for usada, o revestimento torna-se imprestável para o
manuseio e espesso. Ele não poderá ser aplicado apropriadamente sobre o
modelo, ou ainda no vazamento a vácuo, quando o ar não foi suficientemente
removido. O resultado será uma superfície rugosa da fundição.

Aquecimento prolongado

Quando se usa a técnica de fundição com altas temperaturas, um


aquecimento prolongado do molde, na temperatura de fundição, pode causar a
desintegração do revestimento. Como conseqüência, as paredes do molde se
tornarão rugosas. Os produtos da corrosão são compostos de enxofre, que
podem contaminar a liga a tal ponto que a textura da superfície é afetada.
Quando se emprega a técnica da expansão térmica, o molde deve ser
aquecido até a temperatura de fundição nunca acima de 700ºC, e a fundição
deve ser feita imediatamente.

Temperatura da liga

Se uma liga á aquecida a uma temperatura muito alta antes do ato da


fundição, a superfície do revestimento pode ser atacada e aparecerá uma
rugosidade de superfície.

Pressão de fundição

Uma pressão de fundição muito alta durante a injeção da liga produz


uma superfície rugosa na fundição. Três ou quatro voltas no braço da maioria
das máquinas de fundição por centrifugação são suficientes para as pequenas
fundições.

Composição do revestimento

A relação do aglutinante e do quartzo influencia a textura de superfície


da fundição. Uma sílica grosseira provoca rugosidade de superfície.

Corpos estranhos

Quando substâncias estranhas penetram no molde, pode haver a


formação de uma superfície rugosa. Assim, se a base formadora de cadinho
for rugosa, o revestimento que entrará em contato com ela ficará rugoso e
após a sua remoção, quando do ato da fundição, fragmentos do revestimento
serão levados para o interior do molde, juntamente com a liga fundida. As
contaminações aparecem não somente em superfícies rugosas, mas também
em áreas incompletas da fundição, como nas superfícies dos poros.

Impacto da liga fundida

A direção do pino formador de canal de alimentação deve ser tal que a


liga fundida, ao ser injetada, não encontre uma porção menos resistente da
superfície do molde. Ocasionalmente, a liga fundida pode abrasionar ou
fraturar a superfície do molde na hora em que ela entra em contato, isto
independentemente da sua espessura.

14.9.3 Porosidade

A porosidade pode ocorrer interna e externamente. Esta última é um


fator para o aparecimento da rugosidade de superfície, mas também é
geralmente uma manifestação da porosidade interna. A porosidade interna não
somente enfraquece a fundição, como também, se ela aparece na superfície,
pode causar uma descoloração. Quando ela é severa, pode permitir a
penetração na interface dente/restauração, resultando no aparecimento de
cáries secundárias.
O ar ocluído na superfície interna da fundição algumas vezes determina
a chamada porosidade por pressão de retorno. Ela pode produzir defeitos. Isto
é provocado pela impossibilidade de o ar existente no molde escapar através
dos poros do revestimento, ou devido ao gradiente de pressão que empurra a
bolha de ar para fora da liga fundida através do canal de alimentação e do
botão de fundição.
Este ar ocluído é freqüentemente encontrado em forma de uma bolha na
face interna de uma coroa ou de uma fundição do tipo MOD. Ocasionalmente,
esta falha também é encontrada na superfície externa da fundição, quando a
temperatura de fundição ou do molde é tão baixa que a solidificação ocorre
antes que o ar ocluído no molde possa ser expulso.

14.9.4 Fundição incompleta

Ocasionalmente, encontra-se somente uma parte da fundição, ou


mesmo a sua inexistência. A causa óbvia é de que a liga fundida, de alguma
maneira, foi impedida de preencher completamente o molde. Pelo menos dois
fatores podem impedir o ingresso do metal liqüefeito. Uma seria a ventilação
insuficiente do molde e a outra a alta viscosidade do metal fundido.
O primeiro fator, isto é, a ventilação insuficiente, está diretamente
relacionado com a pressão de retorno exercida pelo ar no interior do molde. Se
o ar não pode escapar com rapidez suficiente, a liga fundida não preencherá o
molde antes de sua solidificação.
Em tal caso, podemos suspeitar da magnitude da pressão de fundição.
Se empregarmos uma pressão de fundição insuficiente, a pressão de retorno
não poderá não poderá ser superada.
Uma segunda causa comum das fundições incompletas é a não
eliminação total da cera no interior do molde. Se muitos produtos de
combustão permanecerem no molde, os poros do revestimento ficarão
preenchidos, e desta maneira o ar não poderá escapar. Se a umidade ou
partículas de cera permanecem, quando a liga fundida entra em contato com
estas substâncias estranhas, uma explosão pode ocorrer de modo a produzir
uma pressão de retorno suficiente para evitar o preenchimento do molde.
Quanto menor for a relação água/pó, menor será a porosidade do
revestimento. Neste caso, é indicada uma grande pressão durante a fundição.
Ligas com composições diferentes provavelmente apresentam uma
variação da sua viscosidade e no estado líquido, dependendo da composição
e da temperatura. Entretanto, a tensão superficial e a viscosidade da liga
fundida diminuem com a elevação da temperatura. Até onde se sabe, uma
fundição incompleta resulta de uma grande viscosidade do metal fundido, e
isto pode ser atribuído a um aquecimento insuficiente. A temperatura da liga
deve ser mais alta do que a temperatura do liquidus, pois assim sua
viscosidade e sua tensão superficial serão diminuídas. Por isto, esta liga não
irá solidificar prematuramente, à medida que penetra no molde.
Uma alta tensão superficial pode provocar o arredondamento das
margens da fundição, que poderia ser satisfatória. Tais falhas podem ser
contornadas pelo aquecimento da liga a temperaturas mais altas antes da
fundição propriamente dita.

BIBLIOGRAFIA

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Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 1ª ed. 1998 p.248-270.
ANUSAVICE, J. Ceras para restaurações fundidas. In: ________ Materiais Dentários de Phillips. Rio
de Janeiro, Guanabara Koogan, 1ª ed. 1998 p.271-276.
ANUSAVICE, J. Revestimentos para fundições pequenas. In: ________ Materiais Dentários de
Phillips. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 1ª ed. 1998 p.277-287.
ANUSAVICE, J. Procedimentos para fundição das Ligas Odontológicas. In: ________ Materiais
Dentários de Phillips. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 1ª ed. 1998 p.288-308.
BOSQUILHA, G. E. – Tabela Periódica. In.: _________. Minimanual compacto de química: Teoria e
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United States, Mosby, 10ª ed. 1996. p.346-357.
FERNANDES, D.R. - Fundibilidade de ligas odontológicas utilizando dois ambientes para inclusão:
anel metálico e anel de silicone. Franca, 48p., Trabalho de Conclusão de Curso, 2000.
FERRACANE, J. L. – Materials for cast restorations. In: ________ . Materials in Dentistry. Principles
and Applications. Philadelphia, Lippincott Williams & Wilkins, 1995. p. 240-249.
GALAN Jr., J – Materiais associados aos processos indiretos In: ________ . Materiais Dentários. São
Paulo, Livraria Santos, 1ª ed, 1999 p. 109-115.
ROTEIRO DE AULA PRÁTICA

Cera para fundição

1. Instrumentais e Materiais Utilizados


 Modelo de gesso (fornecido pela disciplina)
 Lamparina (fornecida pela disciplina)
 Isolante (fornecido pela disciplina)
 Pincel
 Hollemback 3S
 Gotejador de cera
 Pote dappen
 Cera em bastão
 Fósforo ou Isqueiro
 Algodão

2. Exercício: Obtenção de modelo de cera


 Lubrificar a cavidade a ser esculpida com isolante.
 Plastificação da cera - Método: sobre a chama
• Levar o gotejador sobre a chama e esquentar levemente o
instrumento
• Levar o instrumento quente sobre o bastão de cera e aplicar
pequena pressão para que plastifique a cera e ela permaneça
sobre o gotejador
• Colocar a cera plastificada sobre o preparo
• Aquecer novamente o gotejador e limpar os restos de cera que
permaneceram nele
 Preencher sucessivamente o preparo com ligeiro excesso
 Esculpir o modelo de cera com Hollemback 3S deixando a superfície
bem lisa.

ATENÇÃO: Cuidado para não super aquecer a cera.

Revestimentos Odontológicos

1. Instrumentais e Materiais Utilizados


 Modelo de cera esculpido em aula anterior (fornecido pela disciplina)
 Pincel
 Hollemback 3S
 Gotejador de cera
 Lamparina
 Pote dappen
 Cera em bastão
 Pino formador de canal de alimentação
 Anel de fundição
 Revestimento odontológico
 Cera 7
 Cera Utilidade
 Espátula 7
 Cuba para gesso
 Espátula para gesso
 Algodão

2. Exercício: Inclusão de modelo de cera


 Colocar o pino formador de canal de alimentação no padrão de cera
• Plastificar pequena quantidade de cera e colocar sobre o modelo
de cera na posição em que será colocado o pino
• Colocar o pino em posição mais favorável (segundo explicação
de aula teórica).
• Reforçar a união com mais uma pequena quantidade de cera
plastificada
 Preencher o local de união da base formadora de cadinho com o pino
formador de canal de alimentação com cera utilidade
 Preparar o anel metálico
• Forrar internamente o anel de fundição com tira de amianto, sem
excesso ou falta, e fixá-la com cera à 3 mm da extremidade do
anel.
• Colocar dentro da cuba com água para molhar o amianto
 Remover o modelo de cera do modelo de cera cuidadosamente
 Unir o canal formador de canal de alimentação à base formadora de
cadinho. O modelo de cera deverá ficar a 6 mm da extremidade
superior do anel.
 Colocar o anel preparado em posição na base formadora de cadinho
 Preparar o revestimento
 Relação água/pó: Recomendada pelo fabricante
• Colocar a água no grau de borracha
• Colocar o pó sobre a água
• Espatular vigorosamente por 1 minuto
• Vibrar a massa para diminuir as bolhas internas criadas pela
manipulação
 Inclusão:
• Sobre o vibrador, pincelar o revestimento sobre o modelo de cera
até o completo preenchimento da superfície do modelo de cera
• Preencher o anel de fundição com o restante do revestimento
 Aguardar a presa final do revestimento.
Fundição

1. Instrumentais e Materiais Utilizados


 Anel de fundição preparado
 Liga para fundição

2. Equipamentos utilizados
 Forno elétrico para remoção da cera
 Centrífuga
 Maçarico gás/ar

3. Exercício: Fundição do modelo em metal


 Remover cuidadosamente a base de borracha do anel de fundição
 Eliminação da cera em forno elétrico
 Colocar o anel no forno e iniciar o ciclo de aquecimento
• A partir da temperatura ambiente, aquecer o forno até 500ºC e
manter esta temperatura por 30 minutos.
• Atingir 700ºC em 30 minutos e manter esta temperatura por 20
minutos.
 Preparar a máquina de fundição – Centrífuga
 Acionar o maçarico e regulagem da chama
 Colocar a liga a ser fundida sobre o cadinho da máquina
 Aplicar a chama sobre a liga. ATENÇÃO: Usar a zona correta da
chama – ZONA REDUTORA
 Transferir o anel para a máquina centrífuga
 Injetar a liga fundida no molde do anel através da liberação da
mola do braço da centrífuga
 Aguardar até que o braço da centrífuga pare completamente
 Aguardar o esfriamento do anel
 Desincluir a peça fundida e dar o acabamento
15 CERÂMICAS ODONTOLÓGICAS
Cerâmicas Odontológicas 214

15.1 INTRODUÇÃO

A cerâmica foi o material mais sofisticado da idade da pedra, há mais de


10.000 anos, e ela mantém sua importância nas sociedades humanas até
então.
As cerâmicas podem ser definidas como uma classe de materiais
compostos de óxidos metálicos como o feldspato, o quartzo e a argila. Todas
as cerâmicas têm a mesma composição. Isso é especialmente interessante,
pois o termo cerâmica inclui diversos materiais, como o cristal, os potes, os
utensílios de cozinha e alguns copos comuns. A porcelana é um tipo de
cerâmica, assim como a cerâmica odontológica. Todas as porcelanas e
cerâmicas vítreas são cerâmicas, mas nem todas as cerâmicas são porcelanas
ou cerâmicas vítreas.
As cerâmicas são materiais que apresentam algumas características,
como: alto ponto de fusão, baixos coeficientes de condutibilidade térmica e
elétrica, alta resistência à compressão, alta dureza, baixa resistência à tração,
fragilidade e qualidades óticas variando do transparente para translucente e
para o opaco.
As cerâmicas foram provavelmente os primeiros materiais a serem
fabricados artificialmente pelos homens, e a porcelana estava entre os
primeiros materiais a serem objeto de estudo das primeiras pesquisas
laboratoriais pelos cientistas.
A tecnologia das cerâmicas odontológicas é uma das que têm crescido
mais rapidamente no campo do desenvolvimento e das pesquisas em materiais
dentários. A década passada foi marcada pelo desenvolvimento de materiais
para núcleos que não apresentam contração, de cerâmicas vítreas e fusíveis,
de facetas, de porcelana, de porcelanas condicionadas por ácido para
restaurações indiretas inlays e onlays, de vários novos métodos para a
obtenção de estruturas metálicas sem fundição, além de outros avanços nos
materiais cerâmicos e em suas aplicações. Os trabalhos continuam com o
objetivo de desenvolver porcelanas odontológicas com alta resistência e uma
temperatura de fusão muito baixa. Tudo isso com a obtenção de uma boa
durabilidade química e com o desenvolvimento de uma melhor compreensão
do comportamento dos materiais existentes.
As porcelanas odontológicas são usadas para a confecção de dentes
artificiais para dentaduras, para a construção de coroas unitárias, para a parte
estética de próteses parciais fixas e facetas vestibulares.

15.2 HISTÓRICO

O homem primitivo se tornaria ciente das propriedades plásticas do


barro e da argila e teria descoberto, sem dúvida alguma, por acidente, que as
formas moldadas assadas no fogo se tornavam duras. O fogo é conhecido pelo
homem há aproximadamente 400.000 anos; em algum tempo durante este
período a primeira "matéria assada" teria sido acidentalmente: produzida.

Fernanda Panzeri
Cerâmicas Odontológicas 215

Embora os primeiros exemplos da porcelana sejam conhecidos há 1.000


anos, a história da porcelana como um material dentário retorna há apenas
200 anos. Em 1774, um farmacêutico francês, Alexis Duchateau, estava muito
insatisfeito com o modo que sua prótese de marfim se manchava, sem dúvida
nenhuma, devido aos muitos produtos químicos com os quais ele entrava em
contato como resultado de seu trabalho. A prótese, sendo porosa, também
absorvia fluidos da boca e, portanto, se tornava não muito higiênica.
O farmacêutico francês teria notado que os utensílios de cerâmica
glazeados que usava todos os dias para misturar e moer seus vários produtos
químicos resistiam à coloração com superfície relativamente não porosa e
eram também resistentes à abrasão. Parece que estas foram as circunstâncias
que deram origem à idéia de usar a porcelana como um material dentário
restaurador.

15.3 CLASSES DE CERÂMICAS ODONTOLÓGICAS PARA PRÓTESES FIXAS

Existem várias categorias de cerâmicas dentárias: porcelana


convencional contendo leucita, porcelana enriquecida de leucita, porcelana de
ultrabaixo ponto de fusão que pode conter leucita, cerâmicas vítreas,
cerâmicas especializadas para estruturas de restaurações (aluminizada,
alumina infiltrada por vidro, magnésio e apinel), e cerâmicas CAD-CAM.

15.4 COMPOSIÇÃO

A composição da porcelana dentária é algo complexo, sendo que a


maioria das porcelanas dentárias têm como base a sílica (SiO2), a qual pode
existir na forma cristalina como o quartzo ou um vidro amorfo, chamado de
sílica fundida; e o feldspato que é um mineral existente na natureza e que é
composto de potassa (K2O), alumina (Al2O3) e sílica (SiO2).

15.4.1 Feldspato

O feldspato é usado na fabricação de praticamente todas as porcelanas


usadas para coroas metalocerâmicas e muitos outros vidros e porcelanas.
Quando o feldspato é misturado com os vários óxidos metálicos e fundido em
altas temperaturas, pode formar uma fase vidrosa que é capaz de amolecer
escoar ligeiramente nas temperaturas de fusão das porcelanas. O
amolecimento desta fase vidrosa durante o aquecimento da porcelana permite
a coalescência das partículas do pó da porcelana, mantendo-as unidas. Este
processo de coalescência das partículas do pó é chamado sinterização, um
termo que se refere à união de partículas em altas temperaturas sem que haja
sua fusão completa.
Uma outra propriedade importante do feldspato é a sua tendência em
formar, quando fundido, um mineral cristalino conhecido por leucita. A leucita é
um mineral à base de potássio – alumínio - silicato, e é formada quando o
feldspato sofre uma fusão incongruente. A fusão incongruente é o processo

Fernanda Panzeri
Cerâmicas Odontológicas 216

pelo qual um material funde-se formando um líquido e mais um material


cristalino diferente. Isso quer dizer que, quando a porcelana é levada ao forno
para a sinterização, o feldspato funde-se formando um líquido (feldspato
líquido) e a leucita, que é uma cerâmica vítrea. O líquido formado escoa entre
as partículas de leucita, unindo-as. Esta tendência do feldspato de formar a
leucita durante a fusão incongruente é utilizada na fabricação de porcelanas
para serem fundidas sobre metal.
A sílica fundida é um material de ponto de fusão muito alto. Ele é tão
alto que o material não pode ser fundido, mesmo em fornos especiais. Por
isso, são adicionados modificadores do vidro.

15.4.2 Modificadores do vidro

Os fabricantes empregam modificadores do vidro para produzir


porcelanas odontológicas com diferentes temperaturas de fusão. As
porcelanas são geralmente classificadas de acordo com sua temperatura de
fusão da seguinte maneira:
Alta fusão: 1300ºC
Média fusão: 1101 a 1300ºC
Baixa fusão: 850 a 1100ºC
Ultrabaixa fusão: <850ºC

15.4.3 Outras adições às Porcelanas Odontológicas

Óxidos metálicos também podem ser introduzidos na composição das


porcelanas odontológicas. O óxido bórico (B2O3) pode comportar-se como um
modificador de vidro, isto é, diminui a viscosidade, abaixa a temperatura de
amolecimento e forma sua própria rede de vidro.
Óxidos de pigmentação são adicionados para a obtenção de várias
cores necessárias à simulação de dentes naturais. Estes pigmentos de
colorização são produzidos pela fusão de óxidos metálicos com vidros finos e
feldspato e, depois, moendo-se novamente para formar um pó. Exemplos de
óxidos metálicos e suas respectivas contribuições para a cor das porcelanas
incluem óxido de ferro ou níquel (marrom); óxido de cobre (verde); óxido de
titânio (marrom-amarelado); óxido de manganês (lavanda); e óxido de cobalto
(azul).

15.5 CARACTERÍSTICAS

Quase todas as cerâmicas são caracterizadas por sua natureza


refratária, dureza, suscetibilidade à fratura e inércia química. A suscetibilidade
à fratura é uma desvantagem, particularmente quando falhas e força de tensão
coexistem na mesma região da restauração cerâmica. A inércia química é uma
importante característica porque ela assegura que a superfície da restauração
dental não libera elementos potencialmente prejudiciais, e reduz o risco de
rugosidade superficial e um aumento da suscetibilidade à adesão bacteriana.

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Dois outros atributos importantes atribuídos às cerâmicas dentais são seu


potencial para combinar-se com a aparência dos dentes naturais e sua
propriedade isolante (baixa condutibilidade térmica e elétrica).
Devido às diversas propriedades desejáveis que apresentam as
cerâmicas, como as boas qualidades estéticas, a alta resistência à
compressão, a boa durabilidade química e a biocompatibilidade, um esforço
muito grande vem sendo feito para superar suas principais deficiências devido
à fragilidade e à baixa resistência à tração.
As restaurações odontológicas, que contêm cerâmica, devem ser
desenhadas de uma maneira tal que compense sua fragilidade. Este desenho
deve evitar que a porcelana seja submetida a grandes tensões, devidas a
ângulos ou a mudanças repentinas de espessura do material. A existência de
ângulos agudos no preparo também irá criar áreas de concentração de
tensões na restauração. Mudanças repentinas na espessura da porcelana, que
é um fator que também pode ser devido ao preparo do dente, criarão áreas de
concentração de tensões.

15.6 FATORES QUE INFLUENCIAM A COR

A razão principal para a escolha da porcelana, como material


restaurador, se relaciona com suas qualidades estéticas, ao reproduzir as
nuances dos dentes vizinhos, no que respeita à translucidez, cor e
luminosidade.
A reprodução completa da cor é extremamente difícil, senão impossível.
A estrutura do dente irá influenciar a sua cor. A dentina é mais opaca que o
esmalte e irá refletir luz. A luz se difunde por reflexão e refração, produzindo
um efeito de translucidez e uma sensação de profundidade, quando os raios
luminosos atingem o olho do observador. Tão logo os raios luminosos atingem
a superfície do dente, parte deles é refletida e o restante penetra no esmalte e
se difunde. Qualquer luz que chega à dentina é absorvida ou é refletida, para
novamente se difundir através do esmalte. Se não houver dentina presente,
como na borda de um incisivo, parte dos raios luminosos pode ser absorvida
pela parte escura da cavidade bucal. Como conseqüência, esta área pode
aparentar ser mais translúcida do que aquelas que se situam em direção ao
terço gengival.
Além da reflexão e refração, existe também a dispersão, que faz com
que a cor varie entre os diferentes dentes. Ela vai variar conforme a fonte de
luz e o comprimento de onda da cor.
As porcelanas odontológicas são pigmentadas pela inclusão de óxidos,
de modo.a obter os tons desejados. Para o dentista selecionar a cor ele deve
lançar mão de uma escala de cores fornecida pelo fabricante. E essa seleção
deve ser feita sob uma fonte de luz adequada.
Uma vez selecionada a cor, ele deve proceder a confecção da
restauração estética não só com uma tonalidade de cor, mas sim respeitar
todas as nuances dos dentes naturais, que são mais escuros junto ao colo e
mais translúcidos com a aproximação da porção incisal (Fig. 14-1) .

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Um outro fator que é importante para as características estéticas é o


meio cimentante. Assim, um material opaco como o cimento fosfato de zinco,
pode mudar a cor de uma coroa de porcelana pura, porque ela absorve luz e
altera a cor. Por este motivo, os cimentos de ionômero de vidro são os mais
usados para cimentar essas restaurações, por ser mais translúcido.

15.7 FABRICAÇÃO DE UMA RESTAURAÇÃO COM PORCELANA


FELDSPÁTICA

15.7.1 Condensação

A porcelana para coroas e para restaurações metalocerâmicas, bem


como para outras aplicações, é fomecida como um pó fino que será misturado
com a água ou outro veículo. A seguir será condensado, a fim de que se
obtenha a forma desejada (Fig. 14-2). Uma condensação total e apropriada é
crucial para se obter uma compactação densa das partículas do pó. Este tipo
de compactação das partículas do pó concede dois beneficios: uma menor
contração durante a queima e menor porosidade na porcelana fundida. A
condensação pode ser conseguida por vários métodos e que incluem a
vibração, a espatulação e a técnica do pincel.

Figura 15-1 – Esquema da construção de uma restauração em porcelana com suas diferentes
tonalidades

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15.7.2 Queima (Ou Cocção)

Após terminar a condensação da porcelana, a restauração é colocada


em uma placa ou bandeja de argila fundida. O motivo da cocção é fundir as
partículas do pó, unindo-as apropriadamente para formar a restauração.
Um fator importante na confecção de restaurações metalocerâmicas é o
coeficiente de expansão térmica. Não deve existir uma diferença grande no
coeficiente de expansão térmica entre metal e porcelana, o que poderia
produzir uma tensão suficiente para fraturar a porcelana.
A massa de porcelana condensada sobre a estrutura é colocada na
frente da mufla de um forno pré-aquecido, a aproximadamente 650ºC. Este
processo de pré-aquecimento, permite que a água remanescente se evapore.
A colocação da massa condensada diretamente em um forno moderadamente
aquecido resultará numa rápida produção de vapor e, consequentemente, na
incorporação de bolhas ou fraturas localizadas em extensas porções da faceta.
Após o pré-aquecimento por aproximadamente 5 minutos, a porcelana é
colocada no forno e o ciclo de cozimento é iniciado.
À medida que a temperatura aumenta, o vidro fundido escoa
gradualmente, preenchendo os espaços ocupados pelo ar. Entretanto, o ar fica
ocluído e forma bolhas, porque a massa fundida é muito viscosa para permitir
o escape de todo o ar. Um auxílio na redução da porosidade na porcelana
odontológica é a cocção processada a vácuo.
A cocção a vácuo reduz a porosidade pois o vácuo é liberado e a
pressão interna do forno aumenta, sendo os poros comprimidos reduzindo a
porosidade.

15.7.3 Glazeamento

As porcelanas podem ser caracterizadas com pigmentos e glazeadores,


de modo a prover uma aparência mais vital das restaurações (Fig. 14-3). A
temperatura de fusão dos glazeadores é reduzida pela adição de
modificadores de vidro, e estes modificadores diminuem, até certo ponto, a
durabilidade dos glazes. Os pigmentos são simplesmente glazes tingidos e
também estão sujeitos aos mesmos problemas de durabilidade química. A
maioria disponível possui uma durabilidade adequada.
A porcelana glazeada é muito mais resistente que aquela não glazeada.
O glaze é efetivo para reduzir a propagação de fraturas. Se o glaze for
removido por desgaste, a resistência transversal pode chegar a somente à
metade daquela que existia com a presença do glaze.
Esta observação é de importância clínica. Após a restauração de
porcelana ter sido cimentada na boca, é uma prática comum o dentista ajustar
a oclusão, desgastando a superfície da porcelana. É lamentável que este
procedimento enfraqueça a porcelana marcadamente, em função da remoção
do glaze.

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Figura 15-2 – Processo de condensação de uma cerâmica odontológica

Figura 15-3 – À esquerda, uma porcelana não glazeada. À direita, uma porcelana glazeada,
mostrando a lisura e o brilho superficial

15.7.4 Resfriamento

O resfriamento adequado da restauração de porcelana, desde a


temperatura de cocção até àquela ambiente, é um assunto de consideráveis
controvérsias. A fratura do vidro quando submetido a mudanças bruscas de

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temperatura é uma experiência familiar. Por isso, a maioria dos profissionais


toma cuidados acerca da exposição da porcelana odontológica a um
resfriamento rápido após o cozimento.

15.8 COROA METALOCERÂMICA

A principal limitação ao uso de uma restauração totalmente de


porcelana em prótese fixa é sua falta de resistência, principalmente a
resistência à tração e ao cisalhamento. Um método para minimizar esta
desvantagem é o de fundir a porcelana diretamente sobre um núcleo metálico,
que se adapta ao dente preparado (Fig. 14-4).
O primeiro requisito para o sucesso de uma restauração metalocerâmica
é que se desenvolva uma união duradoura entre a porcelana e a liga. Uma vez
que tal união é conseguida, existe a possibilidade de se introduzirem tensões
neste sistema de dois materiais, durante os procedimentos de cocção da
porcelana. Assim, para se realizar uma restauração metalocerâmica com
sucesso, é necessário que exista uma forte união da interface, bem como uma
compatibilidade térmica entre os componentes do sistema.
Essa união se dá pelo jateamento de óxido de alumínio na superfície da
liga metálica que irá receber a camada de porcelana.

Figura 15-4 – Coroas metalocerâmicas

15.9 SISTEMAS CERÂMICOS

A exigência cada vez maior pela estética, mesmo em dentes


posteriores, combinado com o desejo por restaurações livres de metal, tem
popularizado as restaurações totalmente cerâmicas. Em 1965, McLean &
Hughes desenvolveram a primeira cerâmica com propriedades físicas
suficientes para ser usada sem a subestrutura metálica. Baseando-se na
composição da cerâmica feldspática, a cerâmica reforçada por alumina
caracterizou-se pela incorporação de 40-50%, em peso, de alumina na fase
vítrea que resultou no aumento da resistência à flexão para 130MPa que é

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equivalente a duas vezes maior do que o valor apresentado pela cerâmica


feldspática.
No início da década de 80 foi introduzido o sistema cerâmico Dicor
(DENTSPLY). Classificado como cerâmica vítrea reforçada por mica tetrasílica
e indicada para restaurações anteriores e posteriores, a confecção da
restauração seguia a “técnica da cera perdida”. Na metade dos anos 80 foi
desenvolvida o sistema InCeram/VITA (alumina, spinell e zircônio), baseado no
princípio em que duas ou três fases de óxido de alumínio e um vidro são
dimensionalmente combinadas por difusão para formar um compósito. No
caso, um coping confeccionado em alumina porosa é infiltrada por vidro de
lantânio alumínio-silicato e sobre esta estrutura é aplicada a cerâmica
feldspática pela técnica de estratificação convencional.
Em 1986 foi introduzido o sistema CEREC (SIEMENS), com o qual
tornava-se possível ao profissional a obtenção de uma imagem óptica do
preparo clínico e a restauração a ser confeccionada a partir de um bloco
cerâmico pela tecnologia CAD/CAM (Fig. 14-5). Inicialmente, o equipamento
foi usado para confeccionar apenas inlays e onlays. Entretanto, a poucos anos
atrás, foi desenvolvida outra unidade denominada CEREC 2, e recentemente o
CEREC 3, que estão programadas para produzir coroas totais. Uma cerâmica
feldspática reforçada por leucita é usada neste processo.
O sistema Procera AllCeram (NOBEL BIOCARE) utiliza um troquel na
qual um scanner realiza a leitura das dimensões marginais e as informações
são trabalhadas em um programa computadorizado onde se estabelece para o
coping a margem de término e o cálculo do espaço necessário para o agente
de cimentação. Esta informação é transmitida online para o laboratório central
em Gotemburgo, Suécia. A partir daí, uma máquina de fresagem controlado
por computador produz o troquel refratário sobre o qual é confeccionado a
subestrutura com 99,5% de alumina. Em seguida, o trabalho é recoberto por
cerâmica própria de cobertura, pelo processo de estratificação.
No final da década de 80, também foi introduzida cerâmica vítrea
reforçada por leucita, denominada IPS Empress (IVOCLAR VIVADENT). Este
sistema também utiliza a técnica da cera perdida para confecção da
restauração. Assim, depois que o padrão é incluído em revestimento
aglutinado por fosfato, a cerâmica, que é fornecida na forma de pastilhas, é
fundida e pode plasticamente deformar-se sob altas temperaturas (1150ºC),
podendo assim, ser injetada sob pressão para o interior do molde de
revestimento.
Com a evolução na composição das cerâmicas e nas técnicas de
confecção, praticamente qualquer dos sistemas cerâmicos consegue mimetizar
as características do dente natural com resistência aceitável dentro dos
parâmetros clínicos da indicação de cada técnica (DE GOES, 2002).

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Figura 15-5 – Sistema CAD-CAM

15.10 ESTABILIDADE QUÍMICA

O flúor tópico é rotineiramente usado para o controle da cárie. O efeito


de tais agentes sobre a superfície de restaurações cerâmicas tem sido
estudado. O flúor acidulado, produz ácido hidrofluorídrico que ataca o vidro.
Quando o flúor entra em contato com a porcelana glazeada produz-se uma
rugosidade na superfície. Esta rugosidade permitirá o manchamento, quebras
ou fraturas na estrutura.
O dentista deve estar atento a estes problemas clínicos, que podem ser
causados posteriormente pelo flúor e, desta forma, evitar um possível ataque
ácido às restaurações cerâmicas. Os géis de flúor não devem ser usados
quando restaurações de porcelana glazeadas estão presentes. Se este gel for
usado, a superfície da restauração deve ser protegida com vaselina ou cera.
BIBLIOGRAFIA

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Janeiro, Guanabara Koogan, 1ª ed. 1998 p.345-366.
CRAIG, R. G. ed – Ceramics. In ________. Restorative Dental Materials. United States, Mosby, 10ª ed.
1996. p.467-484.
De GOES, M.F.. – Materiais e Técnicas restauradoras. Como escolher e aplicar em Materiais Dentários.
In.: CARDOSO, R.J.A. & GONÇALVES, E.A.N. – Dentística/laser. São Paulo, Artes Médicas,
2002. p. 115-132.
FERRACANE, J. L. – Materials for inlays, onlays, crowns and bridges. In: ________ . Materials in
Dentistry. Principles and Applications. Philadelphia, Lippincott Williams & Wilkins, 1995. p. 156-
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JONES, D.W. – Desenvolvimento da cerâmica odontológica: uma perspectiva histórica. In: Cerâmicas.
São Paulo, Livraria Roca Ltda.,1ª ed, 1988. p.1-26.
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