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Chao de Promessas Pere Petitpdf PDF
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Coordenação:
José Alves Júnior
Conselho Editorial:
Aldrin Moura de Figueiredo
Ernani Chaves
Guttemberg Guerra
José Alves Júnior
Maria Luzia Alvares
Títulos Lançados:
Próximos Títulos:
Editoração Eletrônica:
Antonio C. S. Gomes Jr.
Cláudio M. V. Serra
Capa:
Antonio C. S. Gomes Jr. e Cláudio Serra,
sobre afoto de Alfredo Ri^utti.
Revisão:
Lui%F. Branco
Impressão:
Alves Gráfica e Editora
Catalogação na fonte do
Departamento Nacional do Livro
P489c
Petit, Pere
Chão de promessas: elites políticas e transformações
económicas no estado do Pará p ós-1964 / Pere Petit -
Belém: Paka-Tatu, 2003.
352 p.; (Açaí)
• ISBN 85-87945-18-1
CDD: 981.15
Agradecimentos................................................................... 9
»
Prefácio.............................................................................. 11
Lista de Mapas...................................................................15
Lista de Tabelas................................................................. 17
Lista de Abreviaturas........................................................ 19
Introdução ......................................................................... 23
Considerações Finais.......................................................319
Bibliografia. 327
Agradecimentos
9
Prefácio
11
terra entre atores, do que â descrição detalhada de sistemas
naturais, ou artificiais - de abastecimento, de transporte etc. É a
dimensão social que lhe interessa na análise geográfica, e ele a
encontra numa geografia pós-clássica, que lança raízes no
pensamento do grande e saudoso geógrafo brasileiro Milton Santos
(e indiretamente no de Max Sorre).
Ao contrário da maioria dos historiadores, que constroem
suas historiografias a partir da perspectiva das elites políticas e
económicas - simplificadamente, os "grupos dirigentes” - Pere
Petit começou seus trabalhos de História da Amazónia tomando
como protagonistas os ‘‘grupos sociais subalternos" (Gramsci,
Cadernos do Cárcere, V-25), ou melhor, uma pequena fração
deles que, na época dos primeiros contatos do autor, bem se poderia
chamar um “grupo de resistência". Foi a ele que dedicou sua
dissertação de mestrado, A Esperança Equilibrista: A trajetória
do PT no Pará. Tratou esse grupo e sua liderança política - sem
esquecer os membros da Igreja Católica ligados ou próximos â
Teologia da Libertação - com a paciência e a dedicação metódicas
de um bom analista. Pareceu-me manter ao longo daquele trabalho
uma posição imparcial entre as várias facções que compunham o
partido, em equilíbrio delicado e muitas vezes â beira'do
rompimento recíproco. Apesar disso, o grupo, em conjunto, é
visto pelo autor como portador de um dinamismo utópico único
na região, com tendência a tornar-se o "herói" (não arrisca a
dizer se vitorioso ou não) do drama regional.
Já Chão de Promessas concentra seu interesse sobre as
elites dirigente do Pará, constituindo mais um passo na compreensão
da sociedade regional. Primeiramente, desenha, em largos traços,
um panorama da evolução do sistema económico da Amazónia,
de meados do séc. X IX ao último quartel do séc. XX. Trata-se de
um pano de fundo no qual o autor destaca as atividades económicas
principais em que, no seu entender, as elites locais e, por fim, as
extra-regionais exerceram sua dominância, como a exportação
da borracha, a de castanha-do-pará e ultimamente a de minérios.
12
Começa no Capítulo 2 o estudo das práticas das elites -
conceito que Petit retrabalha com base na teoria das elites, de
Norberto Bobbio e outros pensadores. Sua finalidade é “analisar o
cenário político paraense, dando prioridade ao estudos das instituições
políticas (estruturas de governo de tipo formal-legal [...]), das
práticas das principais lideranças políticas - especialmente daquelas
que assumiram responsabilidades de governo - e partidos políticos
paraenses", mas ele expande a análise até os pleitos eleitorais
para sentir o resultado das disputas, entre as próprias elites
políticas, pelo controle do Executivo estadual, Prefeituras,
Assembléia Legislativa e Câmaras Municipais, e para também
clarear, com isso, um dos principais mecanismos de “seleção de
elites relevantes", a que se refere Renato Lessa.
Tais propósitos, que ocupam todo o resto do Capítulo 2,
assumem substância no capítulo seguinte, quando o autor se detém
na análise do município de Marabá, escolhido com sucesso para
“estudo de caso". Há muito a região do Tocantins e especificamente
a castanha-do-pará têm fascinado estudiosos da Amazónia Oriental,
inclusive paraenses, como Catharina V Dias (1947), A. Tupiassu
e N. V C. Oliveira (1967) e Marília Emmi (1987, 1999). Petit
não fugiu ao fascínio, de modo que seu livro revisita longamente o
processo de consolidação do poder económico e político das
oligarquias familiares do Tocantins, sua evolução e sobretudo suas
transformações até nossos dias.
Outro ponto de interesse da obra é a análise crítica do discurso
de algumas "personalidades da Amazónia” (capítulo 4). Para
apreender o caráter dessas comunicações - de governantes,
empresários e, mesmo, de alguns intelectuais - Petit as descreve
como componentes do objeto da investigação histórica, cujo propósito
é referenciar as declarações como práticas sociais e, portanto, no
cenário das oposições típicas (de classe, de região/nação ou de
classe/região). Como todos os enunciados linguísticos a partir de
certa dimensão, os discursos públicos pretendem transmitir (ou
ocultar) as idéias do orador, por vezes sua visão de mundo e projetos
de ação, diante de um auditório específico. E possível, pois, a partir
13
do confronto da retórica do orador com o real que ele produz, ou
pelo qual se deixa arrastar, esboçar um roteiro de significados de
*
Roberto Santos
14
Lista de Mapas
Carajás no Brasil............................................................247
15
Lista de Tabelas
17
Tabela 16: Composição da Câmara Federal por regiões
segundo legenda partidária: 1978........................................ 151
Tabela 17: Número de deputados estaduais do Pará
segundo legenda partidária: 1966-1978............................. 152
Tabela 18: Legenda partidária: deputados federais eleitos
pelo Estado do Pará: 1966-1978.......................................... 153
Tabela 19: Região Norte: número de deputados federais
por partido e Estado: 1974-1978......................................... 154
Tabela 20: Resultados no 2o turno das eleições
presidencias de 1989............................................................... 164
Tabela 21: Representação partidária na Assembléia
Legislativa paraense: 1982-1996...........................................170
Tabela 22: Candidatos com maior número de votos
nas eleições presidenciais de 1994........................................173
Tabela 23: Município de Marabá: produção de caucho
e castanha - 1913-1926..........................................................190
Tabela 24: Município de Marabá, propriedades rurais
segundo atividade económica: 1985...................................... 205
Tabela 25: Marabá, população total,
urbana e rural: 1 9 4 0 -1 9 9 5 ..................................................207
Tabela 26: Número de conflitos agrários (1980-1990)......211
Tabela 27: Número de mortes decorrentes dos conflitos
agrários no Brasil e no Pará (1971-1993).......................... 212
Tabela 28: Jurisdição das terras do Estado
do Pará (1987)......................................................................... 268
Lista de Abreviaturas
23
(latifundiários, colonos e posseiros) e camponeses e povos indíge
nas da região.2
São escassos, porém, os trabalhos que destinaram sua
atenção à análise das práticas políticas das elites locais, partidos
políticos, movimentos sociais e sindicais. Menos numerosos ain
da, são aqueles que se preocuparam em indagar sobre a maior
ou menor participação, nesse processo de mudanças sócio-eco-
nômicas, dos governos estaduais e municipais da Região Norte
e, portanto, sobre as práticas dos diferentes atores políticos que
assumiram os cargos de prefeito e governador. Contribuir para
a análise dessas questões no Estado do Pará é um dos objetivos a
que se propõe este Livro. Trata-se, também, de mostrar que
uma das con sequ ên cia s do m odelo de desenvolvim ento
implementado na Amazónia pela cúpula das Forças Armadas e
pelos tecnocratas das diferentes instituições da Administração
Federal, no período do Regime Militar, foi o enfraquecimento do
poder político e da capacidade econômico-administrativa dos go
vernos estaduais e prefeituras da região, os quais exerceram
escassa influência na sua implementação e, no máximo, atua-
ram como meros atores coadjuvantes.
Esse enfraquecimento foi, certamente, favorecido pelas mu
danças políticas ocorridas nesse período no país que influíram
decisivamente no próprio cenário político paraense, sobretudo ao
assumirem, no período de junho de 1964 até março de 1971, o
cargo de governador do Pará dois militares que tiveram destaca
da participação na organização do golpe de estado que afastaria
João Goulart da Presidência da República: Jarbas Passarinho e
Alacid Nunes. Ambos, disputando entre si o controle do partido no
poder (Arena), converteram-se, até início dos anos 80, nas princi
pais lideranças políticas do Pará e preocuparam-se, em sua ação
de governo, mais propriamente em implementar as diretrizes da
“Revolução”, que em favorecer os interesses dos diferentes grupos
ou classes sociais paraenses. Com a vitória do candidato do PMDB,
Jader Barbalho, nas eleições para governador de 1982, abria-se
um novo período político no Pará, agora sob a supremacia das
lideranças do novo partido no poder (PMDB), especialmente dos
êx-governadores Jader Barbalho, Hélio Gueiros e Almir Gabriel.
O regime militar nascido em 1964 não representa, em
essência, uma mudança radical no modelo económico nacional-
desenvolvimentista dos anos cinquenta, especialmente em relação
ao período de Juscelino Kubitschek na Presidência da República,
embora fosse incrementada a participação de capitais estrangei
ros e empresas multinacionais na economia nacional e aumentado
a desigualdade na distribuição da riqueza e da renda per capita no
país. Entretanto, com relação à Amazónia, embora tenham sido
elaborados planos de desenvolvimento económ ico a serem
implementados na região e, alguns deles, postos em prática antes
da implementação do Regime Militar em 1964, foi a partir de
1966, após a criação da Superintendência do Desenvolvimento da
Amazónia (SUDAM) e do Banco da Amazónia S /A (BASA), que
se intensificaram as ações da Administração Federal na região.
Essa intervenção modificaria substancialmente a forma de ocupa
ção e utilização económica do território e aceleraria o processo
de expansão das relações capitalistas na Amazónia e sua articula
ção ao mercado nacional e, sob novas formas e produtos, ao
mercado internacional..
Alguns dos principais instrumentos de intervenção da Admi
nistração Federal na Amazónia foram: a) a política de incentivos
fiscais destinados a favorecer a instalação de novas indústrias e,
sobretudo, a ocupar grandes extensões de terra por fazendas
agropecuárias; b) os projetos de colonização das áreas próximas à
Transamazônica; c) os investimentos direcionados a extrair, benefi
ciar e transportar as riquezas minerais descobertas no Pará na
década de 60 e nos anos posteriores. Essas atividades minerais pro
vocaram uma mudança radical no volume e no valor total das ex
portações paraenses nos anos 1980, sobretudo a partir de meados
dessa década ao iniciar-se a exportação, através da Estrada de Fer
ro Carajás-Ponta da Madeira (São Luís do Maranhão), do minério
procedente de Carajás. Nos anos 90, esses empreendimentos con
verteram o Pará no Estado brasileiro-que maior volume de minério
exporta e, esse setor, no item principal do PIB paraense. À análi
se das mudanças económicas ocorridas no Pará a partir dos anos
60 será destinado o primeiro capítulo da tese. No segundo capítulo
tratarei das práticas das elites políticas paraenses, especialmente as
que assumiram responsabilidades de governo apôs o golpe de esta
do de 1964. Esta divisão, nessa ordem - Economia e Política -
está justificada simplesmente por motivos analíticos e narrativos.
No desenvolvimento da pesquisa, com o intuito de exami
nar, em âmbito local, um dos municípios paraenses no qual maior
impacto tiveram as mudanças sócio-econômicas ocorridas na
Amazónia nas últimas décadas, comparativamente com outros
municípios dessa mesma região brasileira, dei prioridade ao estu
do dessas mudanças e das práticas das elites políticas de Marabá,
principal município da Região Sudeste do Pará. Entre essas mu
danças pode-se destacar aquelas decorrentes da descoberta das
jazidas minerais na Serra dos Carajás, área então pertencente ao
município de Marabá, da chegada de milhares de trabalhadores
rurais de outros Estados do país, principalmente do Nordeste, e
de novos fazendeiros que se apropriaram de milhares de hectares
de terra de Marabá e de outros municípios do Sudeste do Pará.
Surgem, assim, novos atores sociais (camponeses e fazendeiros)
que disputaram entre si, e também com as tradicionais famílias
oligárquicas (as quais controlavam, entre outras atividades econó
micas, a coleta e a comercialização da castanha), pelo uso e o
controle da terra. Esses são fatores relevantes para tentar com
preender por que Marabá e os outros municípios do Sudeste do
Pará seriam, desde início dos anos 1980, o cenário do maior
número de conflitos agrários e de assassinatos de trabalhadores
rurais ocorridos no Brasil.
O quarto e último capítulo destina-se a examinar os discur
sos de governadores e outros membros da elite política local, em
presários, intelectuais e outros atores sociais paraenses que exer
ceram notável influência na construção de diferentes discursos
regionalistas no Pará, fossem pró-amazônidas ou, segundo mo
mento e circunstâncias, pró-paraenses. Produzidos com objetivos
diferenciados ou não, esses diSctrrsos são de interesse para exami
nar como alguns desses atores se posicionaram a respeito das
transformações sócio-econômicas ocorridas na Amazónia nas úl
timas décadas e sobre a intervenção da Administração Federal na
região e a própria influência que exerceu, em seus discursos -
interpretados como práticas sociais as mudanças no cenário
político nacional e estadual durante o Regime Militar e nos anos
transcorridos da Nova República.
* * *
97
interpretar determinadas práticas políticas e quando acontecimentos
políticos, sobretudo nos momentos conjunturais, convertem-se no
fator-chave para a compreensão da situação histórica e, portanto,
de decisões no plano económico e outras práticas dos diversos
atores envolvidos.4 Vejamos, a esse respeito, as reflexões do histo
riador catalão Josep Fontana:
28
humanas. O equívoco do determinismo é exatamente o
de tomar causa por efeito.”6
29
análise desse tipo de fenómeno. Mas, como assinala Peter Burke,
ainda que essa crítica talvez fosse mais pertinente a respeito de
Lucien Febvre: “Seria difícil sustentar esse argumento no caso de
Marc Bloch (...). Os medievalistas dos Annales estão longe de
rejeitar a história política, mesmo quando dedicam maior atenção
a outros temas” .9 Seja como for, o fato é que a história política
foi relegada, por um bom tempo, a um plano secundário por boa
parte dos historiadores vinculados ou próximos à Escola dos Annales
até finais dos anos 60. A partir de então, na França, e com ante
rioridade nos Estados Unidos da América e Grã-Bretanha, uma
história política rejuvenescida, renovada,]0 contribuiria para que,
na “periferia” (leia-se aqui, além dos latino-americanos, também
outros países europeus), aumentasse o número de investigações
destinadas a desvendar as práticas políticas. Agora, não apenas
focalizando o fenómeno do Estado e/ou da Nação, mas também as
destinadas a examinar as práticas políticas de setores das classes
populares e ao resgate, em oposição à “historiografia oficial”, da,
talvez mal denominada, “história dos vencidos”; e a respeito da
história de partidos políticos, processos eleitorais, movimentos soci
ais e sindicatos.
* * *
30
Gramsci a existência de diferentes realidades regionais era tam
bém decorrente do desigual desenvolvimento, em cada uma delas,
como parte integrante de uma determinada e histórica formação
sócio-econômica, do modo de produção capitalista." Num texto,
escrito em 1926 pelos dirigentes do PCI, António Gramsci e
Palmiro Togliatti, que seçia conhecido como as leses de Lyon,
pode-se ler:
31
ca Latina e o Caribe (Cepal) e os da corrente da Teoria da
Dependência, favoreceram, em alguns países latino-americanos,
sobretudo no Brasil, o surgimento de novas perspectivas para os
estudos inseridos na perspectiva metodológica denominada de
História Local e História Regional.
Com o intuito de avaliar as ações dos homens ao longo do
tempo - temporalidade - num determinado espaço - espacialidade
-, os geógrafos marxistas ou críticos, tentando superar a tradici
onal utilização do conceito espaço como sinónimo de região natu
ral, deram prioridade em seus estudos à análise das atividades
humanas nele desenvolvidas.14 Afinal, embora a Geografia Tradi
cional avaliasse a relação homem-natureza, como assinalou Rosa
Maria Silveira, “pelo peso atribuído às condições naturais na cons
tituição da vida social”, seus pressupostos escamoteavam a rela
ção dos homens entre si, sendo o “elemento humano” mais um
“componente da paisagem”.15
Por serem usados às vezes como sinónimos, considero per
tinente, para os fins deste texto, assinalar as diferenças que exis
tem entre os conceitos de espaço e território. Milton Santos, por
exemplo, assinala que o espaço “não pode ser apenas formado
pelas coisas, os objetos geográficos, naturais e artificiais, cujo
conjunto nos dá a Natureza. O espaço é tudo isso, mais a socieda
de” ,16 já o território, que “etimologicamente deriva da palavra
latina terra ou tirou, significando terra pertencente a alguém”,17
está vinculado à apropriação, controle ou domínio exercido numa
determinada área “quer se faça referência ao poder público, esta
tal, quer ao poder das grandes empresas que estendem os seus
tentáculos por grandes áreas territoriais”.18
Assim, os recortes do território que fixam as fronteiras
entre países e, também, os limites regionais e divisões político-
administrativas internas dos Estados-Nação, têm que ser vistos
como construções sociais e não como produto dá Natureza. Afi
nal, quem determina que partes são incluídas ou excluídas dos
diversos recortes do território, “não é o espaço, mas sim o tempo,
a história”.19 Fronteiras que foram definidas, fixadas, modificadas
32
ou anuladas (leia-se destruídas), resultado, por motivações ou inte
resses diversos, de disputas políticas ocorridas ao longo do tempo,
experiência vivida recentemente em alguns países do Leste Europeu
com a criação de novos Estados-Nação e de novas divisões regionais
ou provinciais em muitos desses “velhos” ou “novos” países.
Entretanto, admitir *que não são as características naturais
que determinam os diferentes recortes do território não pressupõe
negar que os fatores geográfico-climáticos não exerçam qualquer
influência no momento de legitimar ou fazer real o que também
fora construído. Pois, ainda que não sejam elementos geográficos os
que nos ajudariam a explicar, por exemplo, as atuais fronteiras do
Brasil com Uruguai, Argentina, Paraguai, Bolívia, Peru, Colômbia,
Venezuela e as Guianas, não podemos desconhecer que na negocia
ção da delimitação dessas ou anteriores fronteiras, desde o Tratado
de Tordesilhas, assinado por “Espanha” (leia-se pelos reinos de Castela
e Aragão) e Portugal, em 1494, um dos principais critérios utiliza
dos para sustentar uma ou outra definição desses limites foram os
geográficos. Nesse sentido, já no início dos anos c30, Araújo Lima,
em sua obra intitulada Amazónia: a Terra e o Homem, sem negar a
influência do meio geográfico na evolução da humanidade, mas cri
ticando o determinismo geográfico de Ratzel,20 assinalava que,
34
ritório nacional, entre elas, as destinadas a ordenar a intervenção
económica da Administração Federal nas áreas de atuação da
Sudam, Sudene e Programa Grande Carajás (PGC), cujos limi
tes diferem dos recortes político-administrativos e também
macrorregionais do território nacional.
Ao ser o Brasil, como fora definido desde a Constituição de
1891, uma federação de estados e não de regiões, são três as
estruturas que assumem distintas competências para atuar sobre
o território: a União, os Estados e os Municípios, cada uma delas
com suas estruturas político-administrativas específicas e divisão
de poderes: presidente da República, governo federal, Congresso
Nacional: governadores, executivos estaduais e assembléias
legislativas; prefeitos, governos municipais; e câmaras municipais.
O sistema político e eleitoral brasileiro organiza-se também com
base nessas divisões, favorecendo, assim, que Estados e Municípi
os sejam os principais âmbitos de atuação político-eleitoral dos
brasileiros, como eleitores, ou como candidatos. Portanto, quan
do defino Marabá ou Belém e o Estado do Pará como territórios
político-administrativos, quero destacar que é nessa divisão e não,
por exemplo, na Região Norte ou Amazónia Legal, que se mostra
com clareza a indiscutível relação entre território e práticas políti
cas, isto é, como “espaço legal de ação política de elites, grupos de
interesse e classes sociais”,24 ao serem esses os lugares onde basica
mente se definem “as alianças, lealdades e competições políticas”.25
* * *
35
Estatística (IBGE). Contudo, e ainda que consídere de funda
mental importâncief distinguir o que são divisões político-admi-
nistrativas do território (Regiões, Estados e Municípios), com
outras diferenciações “oficiais” ou não do espaço, do ponto de
vista estritamente metodológico não considero que seja proble
mático pretender incluir no âmbito dos denominados estudos de
História Regional, quando for relevante, esse recorte do territó
rio, a história de um ou vários estados ou municípios brasileiros,
ainda que sempre com o intuito de diferenciar esse tipo de estudo
dos de História Nacional.
Um dos principais interesses dos trabalhos de História Re
gional, seja qual for o recorte do espaço ou do território escolhido
pelos diferentes autores, é que eles fornecem, como assinala a
historiadora Vera Silva, elementos insubstituíveis para estudos
comparativos.26 Trata-se de comparar aspectos similares entre
regiões de um mesmo país ou entre regiões de diferentes países,
pois, ainda que possa ser útil tentar estabelecer um “diálogo”
entre a historiografia nacional e a regional ou local, isso não
prgssupõe que seja correto tentar comparar uma região com o
todo nacional.27 Afinal, uma das principais, ou óbvias, diferencia
ções entre História Regional (por exemplo, História da Amazónia
brasileira ou História do Estado do Pará) e a História Nacional (a
História do Brasil, por exemplo), é que esta última tende a ressal
tar as semelhanças do todo nacional, sendo uma das suas preocu
pações, explícitas ou implícitas, tentar diferenciar a história de
um determinado país da história de outros Estados-Nação, o que,
por sua vez, faz emergirem outros problemas metodológicos para
os cientistas sociais que dão prioridade em suas pesquisas a esse
tipo de recorte da realidade mundo. São matizes com os quais
não pretendo entrar na disputa por outras perspectivas
metodológicas e, menos ainda, diminuir o interesse das mesmas
para o conhecimento do todo social, aquilo qué, na maioria das
universidades do país, é definido (no currículo escolar) como His
tória do Brasil ou História Geral da Civilização Brasileira.28 Por
tanto, como assinala Vera Silva:
“O regionalismo justifica-se como uma entre outras
perspectivas possíveis de análise da economia, da soci
edade e da política. Não exclui e nem se opõe a outros
enfoques de estudo. Nem é melhor ou pior que outros
métodos de abordagem da História.”29
38
ções equivocadas que retardam o correto entendimen
to desse fenómeno [...]. Deve-se lembrar que, infeliz
mente, é raro o trabalho ou estudo que apresente uma
visão integrada do fenómeno regional, inserido na di
nâmica social de toda a nação. Esse erro, o de ver
compartimentadamente o problema, tem conduzido o
debate, em alguns casos, a uma verdadeira disputa
entre Estados’ .”37
* * *
39
tas sociais quando se trata de questionar as fontes escritas, dife
rentemente do que acontece a respeito das fontes orais. O histori
ador, para reconstruir o passado, deve perguntar-se também como
o documento passou a existir inicialmente, quem foi exatamente
seu autor e qual foi seu objetivo ao escrevê-lo.
Estou consciente de que um dos problemas com os quais
nos defrontamos, os pesquisadores que trabalhamos com momen
tos históricos muito próximos aos dos nossos dias, sobretudo os
que tentamos compreender as práticas políticas dos indivíduos,
especialmente a das elites políticas, é o fato de que boa parte dos
nossos atores continua ativa, em maior ou menor grau, no cená
rio político. E compreensível, portanto, que os estudos das práti
cas políticas baseadas em fontes orais e também os trabalhos
inseridos na perspectiva metodológica da análise do discurso te
nham sido questionados quanto à sua pretensa cientificidade/obje-
tividade.39 Como já mencionei na dissertação de mestrado, alguns
dos atores políticos entrevistados avaliavam sua participação na
História como expressão coerente de sua evolução política, en
quanto outros faziam uma autocrítica de sua ação política anteri
or. Em ambos os casos, considerava e, ainda considero, que suas
palavras tentavam justificar as posições políticas assumidas na
ocasião do depoimento. Como nos diz Pierre Bourdieu:
40
Alguns deles não esconderam sua preocupação em que se gravasse
a entrevista; outros, entretanto, mostraram não somente grande
interesse em ser entrevistados, mas, até, se esforçavam em orien
tar, além das minhas perguntas, suas respostas como se estives
sem fazendo um discurso para seus clientes políticos.42 Desejo
também informar aqui qtTe o trabalho de história oral foi prejudi
cado pela mudança na data final para a conclusão da tese e tam
bém pelo início de uma nova campanha eleitoral na qual a maio
ria dos atores políticos que eu pretendia entrevistar, concretamen-
te os ex-governadores do Pará que exerceram seus mandatos a
partir de 1960, estavam nela envolvidos.
Vários são os problemas com os quais me defrontei ao
trabalhar-com fontes oficiais, sobretudo quando procurava levan
tar dados sócio-econômicos e demográficos do Pará ou de outros
Estados da Região Norte, seja porque não estão atualizados, seja
por serem pouco confiáveis. Mostra disso são as informações con
traditórias fornecidas sobre um mesmo assunto por diferentes ór
gãos públicos e, até, pelo mesmo órgão.43 Tais situações me fazem
questionar não somente a veracidade das informações, mas tam
bém as possíveis manipulações das mesmas, além de advertir para
o fato de que os diferentes dados fornecidos ao longo do texto
devem ser interpretados com a devida cautela. Uma das mais
claras mostras da disputa pelos números é o questionamento que
fazem algumas prefeituras e governos estaduais sobre os dados
dos recenseamentos do IBGE, considerando que os mesmos não
refletem o número real do total de habitantes, objeções que não
são, certamente, de pouca importância. Uns ou outros dados de
terminarão o aumento ou diminuição percentual das verbas que
cada um dos respectivos governos (estaduais e municipais) recebe
rá da União, já que, como é conhecido, são verbas distribuídas
pelo governo federal, com o acordo formal do Congresso Nacio
nal (mas, nem sempre na prática), a partir de dados fornecidos
pelo IBGE. '
Notas
42
(os subordinados), podem tentar, através da luta política, modificar essas relações
de poder.
4 Seguindo os cientistas políticos Gildo Marçal Bezerra Brandão e Eli Diniz,
defino as conjunturas com o momentos de inflexão, “nos quais tendências desi
guais, distintas ou contrapostas provenientes do desenvolvimento anterior atin
gem um ponto crítico, criando a base para una nova participação de trajetos”
(G. M. B. Brandão, Partido jOomunistã, Capitalismo e Democracia: Um estudo
sobre a génese e o papel político da esquerda brasileira, 1992, p. 17), mas
sempre situando as diferentes conjunturas como momentos específicos de uma
problemática mais geral, considerados portanto, em sua “conexão com o passado
recente ou com tendências de mais longo prazo" (E. Diniz, “Reflexões sobre
análise de conjuntura”, 1991, p. 2). Assim, cada “conjuntura tem a sua
especificidade, mas se insere numa cadeia de fatos e de processos que lhe dão
significado, ou por revelarem linhas de continuidade ou, ao contrário, pontos de
ruptura” (idem: 2-55). Isto é, como também escrevera o historiador francês Pierre
Vilar: “No sentido mais geral, a conjuntura’ é o conjunto das condições articula
das entre se que caracterizam um momento no movimento geral de la matéria
histórica. En este sentido, se trata de todas las condiciones, tanto das psicológi
cas, políticas e sociais como das económicas" (R Vilar, Iniciación a/ vocabulário
del análisis histórico, 1981, p. 81).
5 Josep Fontana, Cambio Económico y Actitudes Políticas, 1975, p. 7-8.
(i Luiz Augusto Estrella Faria, “A Economia Política, seu Método e a Teoria da
Regulação”, 1992, p. 285-6. A respeito das contribuições de Marx à análise dos
fenómenos políticos, ver a instigante obra de John M. Maguire, M arxysua Teoria
de Ia Política, 1984.
' Marília Emmi, A Oligarquia do Tocantins e o Domínio dos Castanhais, 1988, p. 8.
HSobre o retorno da história política, veja-se de Vavy Pacheco Borges, “ História
e Política: Laços permanentes” (1 9 9 1 /1 9 9 2 ), e "História Política: Totalidade e
Imaginário” (1996); Peter Burke (org.), 'Abertura: A nova história, seu passado
e seu futuro” , em P Burke, A Escrita da Ilistória: Novas Perspectivas, especial
mente as páginas 10-11 e 3 2-37 (1992); Aspásia Camargo, “História Oral e
História Política” (1994); Marieta de Moraes Ferreira, “A nova 'velha história’ : O
retorno da História Política” (1992); Jacques Julliard, “A política” (1976); e
René Remond (org.), Por uma História Política (1996).
9 Cf. Peter Burke, A Escola dos Annales, 1991, p. 100-101. François Dosse
compartilha com Peter Burke as críticas a Lucien Febvre, mas as estende também
a Marc Bloch. Segundo Dosse, ao dar prioridade aos aspectos económicos e
sociais, Bloch também rejeitava o aspecto político (F Dosse, História em Miga
lhas, 1992, p. 5). Entretanto, Dosse cita duas passagens de um trabalho de
Lucien Febve que são exemplares para mostrar que o percurso intelectual não
deixa de ser um caminho cheio de contradições. Escreve Lucien Febvre: “Em
cada período da história, é a estrutura económica da sociedade que, ao determi-
43
nar as formas políticas, comanda também os costumes sociais e até a direção
geral do pensamento e até a orientação das forças espirituais” (L. Febvre, Pour
une histoire à part entièrfe, p. 3 64 -3 6 5 ; apud¥. Dosse, op. c/f., p. 95). Porém,
a seguir, referindo-se à polémica desatada por Max Weber a respeito da relação
entre o processo de Reforma da Igreja Católica e o desenvolvimento do capitalis
mo em alguns países europeus, Lucien Febvre, escreve: "A Reforma, filha do
capitalismo ou, ao contrário, o capitalismo fruto da reforma: não, mil vezes não.
É preciso substituir o dogmatismo dessa interpretação tão simples, da seguinte
forma: é necessário ressaltar a jovem noção de interdependência dos fenómenos”
(F Dosse, op. cit., p. 95).
10 Vavy Pacheco Borges, “História e Política: Laços permanentes", 1 9 9 1 /1 9 9 2 ,
P. 7.
11 Ver, a respeito dos assuntos tratados neste parágrafo, os livros de Antonio
Gramsci, La cuestión meridional (1978) e Os Intelectuais e a Organização da
Cultura (1989).
12António Gramsci e Palmiro Togliatti, “A situação italiana e as tarefas do PCI”,
1980, p. 6.
IS Cf. Wagner Costa Ribeiro, “O marxismo na geografia brasileira", 1996: 151.
14 A respeito dos trabalhos de alguns dos geógrafos brasileiros que se vincularam
à corrente marxista do pensamento geográfico e /o u à Eçcola da Geografia Críti
ca, ver, por exemplo, Milton Santos, Por uma Geografia Nova: Da Crítica da
Geografia a uma Geografia Crítica (1978); a coletânea organizada por esse mes
mo autor intitulada, Novos Rumos da Geografia Brasileira (1996); Wagner Costa
Ribeiro, “O marxismo na geografia brasileira” (1996); e Armando Corrêa da
Silva, Geografia e Lugar Social (1991).
10 Rosa Maria Godoy Silveira, “Região e História: Questão de M étodo” , 1990,
p. 20-21.
10 Milton Santos, Espaço e Método, 1992, p. 1.
17 Roberto Lobato Corrêa, “Territorialidade e corporação: um exemplo” , 1996,
p. 251.
18 Idem, ibidem.
IH Pierre Bourdieu, O Poder Simbólico, 1989, p. 115.
20 Araújo Lima refere-se ao naturalista Friedrich Ratzel, que em 1882 publicou o
primeiro volume da sua obra intitulada Antropogeografia. Segundo Araújo Lima,
Ratzel concebia a terra como um suporte rígido que “regula os destinos dos
povos” . Para Lima, as idéias de Ratzel favoreceram interpretações de um
“determinismo geográfico, brutal e cego” (Araújo Lima, Amazónia: a Terra e o
Homem, 3 a edição 1945, pp. 19-20). No mesmo livro, Lima, após prosseguir
suas críticas aos deterministas geográficos, faz também uma lúcida avaliação dos
autores que pretendiam explicar, em geral tentando sustentar suas teses em estu
dos antropológicos, as diferentes sociedades humanas a partir da relação entre
raça e história. Isto é, através do preconceito de desigualdades das raças, median
44
te o qual se pretendia “firmar a importância da pureza racial como determinante
dos estados de civilização mais adiantados", admitindo, assim, “no mesmo momen
to histórico a coexistência de raças superiores e inferiores” (idem, ibidem, p. 42).
21 Idem, p. 31 e 34-35.
22 P. Bourdieu, op. cit., p. 120.
23 Tenho consciência dos inúmeros debates e não poucas confusões que o concei
to de Formação Económico-Social tem provocado ao ser vinculado, ao conceito
de totalidade (que alguns preferem também definir como sinónimo de país) e ao
de Modo de Produção (forças produtivas e relações sociais de produção, distri
buição e consumo). Sem desconsiderar os riscos de tentar naturalizar o conceito
de Formação Econômico-Social-Espacial, isto é, fazê-lo existir como se se tratas
se de uma estrutura real em vez de referência analítica, considero pertinente
servir-me da noção de espaço-tempo (espaço social historicamente definido) tra
balhada por Milton Santos, no intuito de diferenciar os modos de produção (por
exemplo, o capitalista) e o que se decidiu chamar de formação social. Partindo da
definição segundo a qual modo de produção, formação econômico-social e espa
ço são categorias interdependentes, Milton Santos assinala que: “Os modos de
produção escrevem a História no tempo, as formações sociais escrevem-na no
espaço [...]. A história da formação social é aquela da superposição de formas
criadas pela sucessão de modos de produção, da sua complexificação sobre seu
território espacial [...]. Um Estado-Nação é uma Formação Sócio-Econômi-
ca. Um Estado-Nação é uma totalidade. Assim, a unidade geográfica ou espacial
de estudo é o Estado-Nação" (M. Santos, Espaço e Sociedade: Ensaios, 1982,
p. 15 e 28).
24 Vera Alice Cardoso Silva, "Regionalismo: O Enfoque Metodológico e a Con
cepção Histórica”, 1990, p. 46.
25 Iná Castro, “ Política e território: Evidências da prática regionalista no Brasil” ,
1989, p. 389.
28 Vera Alice Cardoso Silva, op. cit., p. 46.
27 Ver, a esse respeito, as pertinentes reflexões de Luiz Roberto Pecoits Targa,
“Comentário sobre a utilização do método comparativo em análise regional” , 1991.
28 Seria interessante aprofundar o conhecimento do histórico escolar das univer
sidades na área de Ciências I lumanas e Sociais, sobre a maior importância conce
dida ao conhecimento da História do Brasil em detrimento da História Regional.
No departamento de História da UFPA, por exemplo, são quatro os semestres
destinados à primeira dessas disciplinas e dois ao estudo da História da Amazó
nia, sem nenhuma disciplina destinada formalmente ao conhecimento da História
do Pará, geralmente incluída nas disciplinas Amazônia-I e Amazônia-II. Sem dú
vida, a prioridade dada a uns ou outros temas e períodos da História não foi e
nem é inocente, como tampouco o seriam suas mudanças. ’
29 Vera Alice Cardoso Silva, op. cit., p. 43.
45
30 Jorge Balán (org.), Centro e Periferia no Desenvolvimento Brasileiro, 1974,
p. 21.
31 Rosa Maria Godoy Silveira , op. tit., p. 23.
32 Idem.
33 Arthur Cézar Ferreira Reis, Síntese da História do Pará, 1972, p. XVII.
34 Luiz Roberto Pecoits Targa, op. tit., p. 270.
33 Sandra Jatay Pesavento, “História regional e transformação social ”, 1990,
p. 70 e 72.
36 Rosa Maria Godoy Silveira, op. tit., p. 23.
37 Wilson Cano, Desequilíbrios Regionais e Concentração Industrial no Brasil:
1930-1979, 1985, p. 21.
38 Paul Thompson, A Voz do Passado, 1992, p. 176. No mesmo sentido, Aspásia
Camargo escreve: “ Toda fonte, em principio, é provida de objetividade, mas é
também um fator de desconfiança e, evidentemente, pode ser um indutor do
equívoco" (A. Camargo, “História Oral e História Política ”, 1994, p. 78).
39 A respeito do recurso metodológico da análise do discurso ver as primeiras
páginas do Capítulo IV deste livro.
40 Pierre Bourdieu, op. cit., p. 55. Ver também, a esse respeito, as pertinentes
reflexões de Aspásia Camargo, “Os usos da História Oral e da História de Vida:
Trabalhando com Elites Políticas” (1984), especialmente as páginas 13-14.
41 Entre elas é de se destacar a utilização de algumas páginas do livro por parte de
Ramiro Bentes (PDT), candidato à Prefeitura de Belém nas últimas eleições
municipais (1996), durante o último debate eleitoral realizado dois dias antes do
segurtdo turno das eleições, com o intuito de mostrar que o candidato do PT,
Edmilson Rodrigues, hoje prefeito de Belém, “é e sempre foi um comunista revo
lucionário”. A segunda delas, quando membros da Igreja Católica de Gurupá e o
bispo da prelazia do Xingu, dom Erwin Krautler, exigiram de José Vicente de
Paula (Zé Vicente), ex-prefeito de Gurupá durante o Regime Militar, que se retra
tasse publicamente das acusações feitas por ele contra o setor progressista da
Igreja Católica que foram reproduzidas no meu livro. Zé Vicente não somente fez
questão de reafirmar o depoimento que me deu, mas também fez questão de
ampliar suas acusações e críticas às práticas políticas dos católicos afinados com
a Teologia da Libertação nas sessões da Câmara Municipal convocadas, por pro
posição dos vereadores do PT, para discutir “esse importante assunto” . Em res
posta, o bispo cumpriu a ameaça de processar Zé Vicente por difamação e hoje o
processo corre na Justiça.
42 Experiência no uso da história oral que tentei sistematizar no trabalho intitulado
Fontes Orais e Elites Políticas Paraenses, apresentado no IV Encontro Nacional
de História Oral (Recife, 11-14 de novembro de 1997).
43 Por exemplo, o município de Marabá, segundo dados do IBGE, em 1994,
tinha 1 41.436 habitantes, porém, para a Fundação Nacional de Saúde (FNS) o
total de habitantes, nesse mesmo ano, era de 148.291. Em São Geraldo do
46
Araguaia, para o IBGE, os residentes no município somavam, em 1995, 4 3 .8 3 2
pessoas e, segundo a FNS, apenas 32.251 (Cf. Haroldo Costa Bezerra, Parecer
da Relatoria Adjunta da Região de Carajás, Comissão Especial de Estudos das
Possibilidades Económicas e Administrativas de Emancipação das Sub-Regiões
Tapajós e Carajás, 1995). São também notáveis as divergências existentes entre
muitos dos dados do IBGE e os fornecidos pelo Instituto de Desenvolvimento
Económico Social do Pará (IDESP), por exemplo sobre a População Economi
camente Ativa (PEA) do Estado do Pará e, portanto, também sobre o total de
pessoas que são incluídas num ou outro setor económico.
O Pará na época das grandes
transformações sõcio-económicas na Amazonia:
da criação da Sudam ao “Ciclo do Minério”
Introdução
49
da economia regional, 1912-1965; e c) época das grandes trans
formações sócio-econômicas da Amazónia, a partir da segunda
metade da década de 1960 até os dias de hoje. Todas essas fases
foram grandemente influenciadas pela maior ou menor demanda
internacional de matérias-primas da região, seja a das riquezas
da floresta ou, nas últimas décadas, as do subsolo, neste caso
particular, a das jazidas minerais descobertas e exploradas no
Estado do Pará a partir dos anos 60. A última fase, apresenta
ainda a influência da crescente integração da economia regional
ao mercado nacional e da intervenção da Administração Federal
na Amazónia.
Essa proposta de periodização tem muitas semelhanças com
a apresentada pelo economista e jurista paraense Roberto San
tos. A obra intitulada História Económica da Amazónia é o traba
lho no qual Roberto Santos, sem dúvida o principal estudioso da
história económica da Amazónia, melhor aprofunda as diferentes
fases nas quais ele subdivide, baseando-se na* evolução da Renda
Interna Regional, os ciclos económicos na Amazónia brasileira
desde inícios do século XIX até 1970. O primeiro momento, de
1800 a 1840, que denomina de fase de decadência; o segundo, de
fase de expansão gomífera, 1840-1910; o terceiro, de declínio,
entre 1910 a 1920; o quarto, de 1920 a 1940, que Santos prefe
re não definir (depois voltarei a este assunto); e, finalmente, o
quinto, a partir dos anos 40 até o final dos 70, que ele denomina
de fase de crescimento moderado.2 Roberto Santos não esquece
de advertir que o critério de periodização baseado nas mudanças
na renda interna, “numa região em que grande parte dos fatores
de produção pertence a pessoas não residentes nela, pode insinuar
ilusões sobre o proveito real de um dado crescimento para a popu
lação residente. Mas, desde que alertados para a significação téc
nica da Renda Interna, esse critério não é pior do que, digamos,
falar em fases colonial [...], imperial [...] e republicana [...]. Na
verdade, pelo que respeita aos fins da análise económica, é me
lhor” .3
50
1 . O Ciclo da B orracha ( 1 8 5 0 - 1 9 1 2 )
51
anual, entre 1 755 e 1778. Nesse mesmo período, as exportações
de café e cravo, também em média anual, equivaliam, respectiva
mente, a 10% e 11% do total.7 Entre 1836 e 1852, segundo
dados levantados pelo historiador Moacir da Silva nos Relatórios
dos Presidentes da Província do Pará, as exportações de cacau do
Pará somavam 43% do seu valor total, 31% as de borracha, 14%
as de arroz, 6% as de couro, 4% as de castanha e 2% as de
algodão.8 A queda do valor do preço do cacau nos mercados
europeus, as Guerras Napoleônicas e as lutas políticas no Pará,
antes, durante e após a independência do Brasil, especialmente
os efeitos da Revolução Cabana (1835-1840), e a crise do siste
ma escravista e semi-escravista, sob o qual padeciam os negros e
índios, são os principais aspectos que explicariam por que o perí
odo de 1805 a 1840 é definido como uma fase económica de
estagnação ou decadência.
52
das a 655 libras a tonelada.14 Nessas duas décadas (1890-1910),
somente as exportações de café superaram o valor total das de
borracha, oscilando, anualmente, entre um mínimo de 45% a
60% das exportações do país.15
Esse extraordinário incremento da produção de borracha
no Brasil durante as duas últimas décadas do século XIX e primei
ra do século XX, deve ser creditado, em boa parte, à chegada à
Amazónia de milhares de nordestinos, especialmente cearenses,
que imigraram ao Pará, Amazonas e Acre, migração favorecida
pela crise do sistema escravista e posterior abolição da escravatu
ra (1888), pelas repercussões económicas provocadas pela crise
da cultura do algodão e as periódicas secas que atingiram o Nor
deste em 1870, 1877, 1887, 1903 e 1909.16 Em 1848, residiam
em Belém, segundo Vicente Salles, cerca de 16.092 pessoas, sen
do 5.085 escravos.17 Em 1872, Belém era a quarta cidade do
Brasil com maior número de habitantes (61.997), somente per
dendo para Rio de Janeiro (274.972), Salvador e Recife.18 Em
fins do século XIX a capital do Pará tinha cerca de 150 mil
habitantes e 232.402, em 1920. Em 1902, Manaus tinha uma
população de cerca de 50 mil habitantes e, em 1920, a estimativa
do total de habitantes era de 7 5 .7 0 4 .'9
Recordando sempre as pertinentes palavras de José
Veríssimo, escritas em 1892, essas informações demográficas de
vem ser tomadas como meramente aproximativas: “Ninguém ig
nora quão deficientes são os nossos dados estatísticos. Impossível
é dizer, ao menos com probabilidade de acertar, a população da
maioria dos nossos Estados. [...] A do Amazonas, bem como a do
Pará, é incerta, e, a falar a verdade, vagamente hipotéticos os
cálculos até agora feitos. Quanto aos pretendidos recenseamen
tos, creio merecem ainda menos fé que tais cálculos” .20 Contudo,
nem por isso, Veríssimo deixava de constatar o crescimento
demográfico do Amazonas e do Pará nas últimas décadas do sécu
lo XIX, em decorrência, “primeiro pela copiosa emigração cearense
que desde 1877 não cessou até hoje; segundo pelo excesso de
nascimentos, em uma região onde a população, como o reconhe-
53
ceram quantos a conhecem, é excessivamente prolífica, e onde
[...] a mortalidade é diminuta” .21
Tabela 1
População aproximada do Pará, Região Norte e Brasil:
1872-1940*
Região
Região
Ano Pará Brasil N orte/
Norte
Brasil %
54
Conforme resume Roberto Santos, o sistema de aviamento
(ainda hoje vigente em alguns municípios da Amazónia) é um "sis
tema de crédito informal, pelo qual um indivíduo (aviador) adian
tava ao produtor (aviado) certa quantidade de bens de consumo
(alimentos, roupas, material de caça e de trabalho) e algum di
nheiro para que o produtpr os utilizasse durante o período de
espera da safra extrativa” .22 O resultado foi a sujeição permanen
te do seringueiro ao seringai, por não poder abandoná-lo sem
antes sufragar as “dívidas contraídas” , dívidas que aumentavam
progressivamente pela manipulação dos preços das mercadorias
entregues pelos comerciantes/ seringalistas e do valor que os mes
mos ofereciam pelo látex convertido em borracha. Tratava-se de
uma espécie, parafraseando Marx, de acumulação originária da
dívida que escravizava os seringueiros, que eram impedidos de
abandonar o seringai sem antes ter liquidado “suas dívidas” o que
favorecia a acumulação de capital dos aviadores nacionais e es
trangeiros. A referência ao sistema de aviamento que aparece
num livro publicado em 1888 pelo Governo da Província do Pará,
nos exime de maiores comentários:
55
Apesar de boa parte dos benefícios da exportação de bor
racha ter ficado nas mãos das empresas comerciais e financeiras
estrangeiras, não pode ser desconsiderada a riqueza acumulada
pelos comerciantes da Amazónia nesse longo período de prosperi
dade económica, graças ao controle dos seringais, das redes de
comercialização da borracha no nível local e regional e do abaste
cimento dos produtos de que precisava o seringueiro para subsis
tir na floresta e extrair o látex. É importante mencionar que o
sistema de aviamento não somente regia as relações entre serin-
galistas e seringueiros; ele converteu-se numa cadeia hierarquizada
que vinculava todos os setores comprometidos na produção e
comercialização de borracha, desde as firmas e bancos estrangei
ros até alcançar os seringalistas, sendo seu elo intermediário os
comerciantes locais, todos eles oferecendo ou recebendo crédito
antecipado em troca da futura entrega de borracha.
Belém, que já era o principal centro comercial, financei
ro e político da Amazónia, experimentou, nas últimas décadas
do século XIX e primeira do século XX, um rápido crescimento
demográfico e das atividades financeiras e comerciais. Essa ex
pansão não foi acompanhada, pelo menos no mesmo ritmo, pelo
setor industrial, que estava centrado, principalmente, em peque
nos estabelecimentos destinados ao beneficiamento de produtos
agrícolas. Mas, por que, então, “em que pese a grande massa
humana que esse complexo ocupou e do excedente gerado, não
teve condições de firmar raízes para um processo de desenvolvi
mento económ ico?” ,24 perguntam-se Wilson Cano e Leonardo
Guimarães Neto.
Espera-se que, no futuro, novas pesquisas ajudem a com
preender melhor por que razão os recursos económicos obtidos
na comercialização da borracha não foram utilizados para incen
tivar as atividades industriais na Amazónia, especialmente em Belém
ou Manaus durante o Ciclo da Borracha (diferentemente do que
ocorrera, por exemplo, com o Estado de São Paulo durante o
Ciclo Cafeeiro). Pode-se, enquanto isso, assinalar alguns aspectos
que poderiam servir como hipótese ou, no mínimo, como infor
56
mação. Três parecem ser as principais causas para explicar o
fenómeno referido. Uma delas seria a escassez de matérias-pri-
mas fornecidas pelas diferentes culturas agrícolas, provocada, pelo
menos em parte, pela redução das áreas cultivadas, fosse pela
falta de braços, já que muitos trabalhadores partiam à procura
do látex, inclusive pelo incentivo que alguns deles receberam dos
próprios fazendeiros que ingressavam no sistema do aviamento.
Já em 1854,
58
com o objetivo principal de estimular a chegada de migrantes
europeus a essa Província, seus autores mencionavam que os ex
traordinários lucros fornecidos pela borracha influíram na dimi
nuição das atividades agrícolas no Pará, assim “como òs produtos
agrícolas continuam a ser necessários, tende o preço d’elles a
augmentar, porque a protura é superior á oferta”,32 fazendo ques
tão de advertir que
60 ■
Tabela 2
Amazónia: renda interna (1880-1969)
(mil cruzeiros de 1972)
1820 2 3 .4 7 7 1910 2 .3 2 0 .3 3 8
1850 9 7 .6 2 8 1930 -
1890 9 51 .8 5 7 1969 3 .6 3 7 .4 4 6
61
1
62
ponsabilizando-se pelo envio aos seringais da Amazónia de 50 mil
trabalhadores, pelos quais receberia, para os gastos de transpor
te, 100 dólares por cada um dos homens que aceitaram esse tipo
de trabalho. Mas, por não existirem voluntários suficientes que
quisessem dirigir-se à Amazónia como seringueiros, o governo
federal, em fevereiro de 19^13, criou a figura do soldado da bor
racha, que equivalia a dois anos de serviço no Exército, receben
do, os que se alistassem, uniforme e salário.44
A meta era elevar a produção até 70 mil toneladas anuais,
superior, portanto, à borracha produzida, anualmente, nas duas
primeiras décadas do século X X (44 mil toneladas em 1911). Mas
nunca se chegou a alcançar esse objetivo. Em 1941, a produção de
borracha foi "de 17.120 toneladas; em 1943 foram 24.548 as tone
ladas produzidas, cerca de 28 mil em 1944 e 30 mil em 1945.45
Segundo dados do BCB, entre 1943 e 1946 o Brasil exportou para
os EUA 56.611,085 toneladas de borracha.46 Após o fim da II
Guerra Mundial (1945), muitos seringais da Amazónia foram no
vamente abandonados, permanecendo na região muitos dos solda
dos da borracha. Os que se fixaram no Pará, optaram principal
mente por Belém, Santarém e pela Região Bragantina. Neste últi
mo caso, alguns deles receberam terra e apoio económico do gover
no estadual que pretendia, assim, incrementar as atividades agríco
las nos municípios dessa região paraense.
A produção de manganês nas jazidas existentes no Amapá,
iniciada em 1956, converteu-se, pelo seu valor, no principal pro
duto exportado pela Região Norte até o final dos anos 70. Em
1956, o Brasil exportou 26 0.3 44 toneladas de manganês, quase
todas elas procedentes do Amapá, e 832.918 em 1964, somando
um total de 8.2 6 2 .0 00 e 2 0 .615.000 milhões de dólares, respec
tivamente.47 Em 1960, o Banco de Crédito da Amazónia, que
monopolizava as compras aos seringalistas e as vendas ao merca
do nacional e internacional da borracha produzida na região, com
prou um total de 28.263 toneladas de borracha, e 35.407 tonela
das em 1964. O Acre era o maior produtor com 13.136 e 12.478,
em 1960 e 1964, respectivamente, enquanto que, no Pará, ape-
nas 4.188 e 4.115 toneladas foram produzidas no mesmo perío
do.48 Na primeira metade dos anos 60, a castanha continuou sen
do, pelo seu valor, o principal produto exportado pelo Pará.49
Tabela 3
Amazónia Legal - principais produtos exportados:
1960-1962-1964
Pimenta do
1.919 2.501 2 .763 2 .2 1 7 4 .04 6 3 .093
Reino
Total de
8 08 .74 2 4 8.7 37 752.921 4 6.6 58 8 50 .50 9 3 9.9 95
Exportações*
3 . Da S P V E A à Sudam
66
influência exercida, após a Segunda Guerra Mundial, pelos técnicos
da Comissão Económica para a América Latina e o Caribe (Cepal),
instituição criada pelas Nações Unidas em 1948, num momento em
que os dólares norte-americanos ajudavam a reconstrução econó
mica dos principais países capitalistas da Europa (Plano Marshall)
e o mundo ingressava no período denominado de Guerra Fria.
Para o economista argentino Raúl Prebisch, o principal
mentor do que seria denominado o modelo cepalista, os países
latino-americanos não conseguiriam se desenvolver em níveis eco
nómicos comparáveis aos países que já tinham feito sua Revolu
ção Industrial sem quebrar a tradicional divisão internacional do
trabalho e dos desiguais termos de troca entre as nações do “cen
tro” , ou desenvolvidas (manufaturas, tecnologia), e as da “perife
ria” , ou subdesenvolvidas (matérias-primas e alimentos). Para al
cançar essa meta, seria necessário iniciar, ou acelerar, a política
de substituição de importações, através de incentivos à industria
nacional, fortalecer o mercado interno e diminuir o número total
(e/ou percentual) de pessoas vinculadas a atividades primárias.
Em suas palavras:
68
Nesse contexto deve ser inserida a criação, em 1953, da
SPVEA e, em fins de 1959, da Superintendência Nacional de
Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), cujos planos de desenvol
vimento económico foram direcionados, nos seus respectivos ter
ritórios de atuação, a estimular a modernização das atividades
agropecuárias e do pequeno parque industrial e a subsidiar a ins
talação de novas indústrias. Esses objetivos já tinham sido motivo
de disputas e decisões no Congresso Nacional nos anos anteriores,
especialmente durante a elaboração da Constituição de 1946, re
sultando daí a inclusão, no Texto Constitucional, da proposta, apre
sentada pelo deputado federal do Estado do Amazonas, Leopoldo
Peres (PSD), de destinar 3% das rendas tributárias da União à
execução do Plano de Valorização Económica da Amazónia num
período não inferior a 20 anos. No Parágrafo Unico do mesmo
artigo, obrigava-se os Estados, Territórios e Municípios da Região
Norte a destinarem, “para o mesmo fim, anualmente, três por
cento das suas rendas tributárias. Os recursos de que trata este
parágrafo serão aplicados por intermédio do Governo Federal”.53
Inicialmente, a proposta da bancada do estado do Amazo
nas, com o apoio dos deputados paraenses, era destinar 5% das
rendas tributárias da União ao desenvolvimento da Amazónia.
Ricardo Borges, que seria um dos assessores indicados pelo go
verno federal para participar, em 1955, da elaboração do primei
ro Plano de Valorização Económica da Amazónia, relata alguns
dos pormenores dos debates acontecidos, a esse respeito, no Con
gresso Nacional em 1946:
70
Em 21 de setembro de 1953, foi formalmente instalada em Belém
a SPVEA, sendo nomeado como seu primeiro superintendente o
professor e historiador amazonense Arthur Cézar Ferreira Reis.
Os objetivos gerais definidos na lei que criara a SPVEA eram
resumidos nos seguintes itens:
•
Tabela 4
Terras devolutas vendidas pelo Governo do Pará a
grandes proprietários: 1924-1976
1924-1928 123 3 8 .7 6 9 ,6 •
1939-1943 136 3 5 .6 0 4 ,8
1959-1963 1.575 5 .6 4 6 .3 7 5 ,0
1969-1973 33 2 3 .7 2 5 ,8
1974-1976 (b) 29 9 1 .3 2 5 ,0
Fonte: (a) Secretaria de Terras do Estado (até 1969) e (b) Instituto de Terras
do Pará (de 1970 em diante): apud Roberto Santos, "Sistema de propriedade
e relações de trabalho no meio rural paraense ”, em José Marcelino Monteiro da
Costa (edit.), Desenvolvimento e Ocupação, Rio de Janeiro, Ipea/Inpes, 1979,
p. 123.
<5. <5. Os militares assumem a clireção
da SPVEA e criam a Sudam (1966)
7fi
Antes parecia uma grande agência pagadora, com seus
recursos manipulados ao sabor de lamentável política
regionalista de grupos, cada qual interessado em fazê-
la instrumento de prestígio local [...]. Tinha-se a im
pressão de que a SPVEA não conseguiu em nada alte
rar a fisionomia económica da Amazónia [...]. E isso é
tanto mais lamentável quanto sabemos que o organis
mo, dentro do espírito que engendrou a sua criação,
deveria apresentar-se como promessa de redenção das
populações amazônicas, esquecidas do resto do Brasil
até o ano de 1953. ”69
78
criado o Banco da Amazónia S /A (Basa), principal instrumento
para o financiamento das atividades económicas definidas pela Sudam,
em substituição ao Banco de Crédito da Amazónia.
Em discurso pronunciado em Manaus no dia 3 de dezem
bro de 1966, na abertura da Ia Reunião de Incentivo ao Desen
volvimento da Amazónia (I o RIDA), o presidente da República,
marechal Humberto Castello Branco, resumiu os objetivos da Ad
ministração Federal na Amazónia, considerando que essa região
era basicamente um espaço vazio a ser ocupado, com as seguintes
palavras: “Prova-se este encontro, que podemos chamar de histó
rico, e no qual homens da Amazónia, do Nordeste e do Centro-
Sul, dão-se as mãos para uma empresa que repetirá, no Brasil, a
façanha pioneira da conquista do Centro-Oeste dos Estados Uni
dos, nas primeiras décadas do século passado” .74
Certamente, como foi reiteradamente explicitado nos discur
sos oficiais, os modelos de desenvolvimento económico implementados
pelo Regime Militar na Amazónia não podem ser vislumbrados me
ramente em seus aspectos sócio-econômicos, pois, para a cúpula
das Forças Armadas, a Amazónia era também, ou principalmente,
um problema geopolítico. A necessidade de estimular a ocupação do
território, entre outras decisões estritamente militares ou político-
administrativas, para garantir a “posse desse imenso espaço vazio",
também tinha por finalidade evitar a “cobiça internacional” sobre a
Amazónia, isto é, a ameaça de perder ou enfraquecer o controle
dessa parte do território nacional pela ação de outros países, e
prevenir também, entre outros riscos, que se instalassem na região
focos guerrilheiros, nacionais ou estrangeiros, como de fato aconte
ceu na região do Araguaia, entre 1967 e 1973, por iniciativa do
Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Numa palestra proferida,
em maio de 1968, no II Fórum sobre Amazónia, realizado no Rio
de Janeiro, o general Albuquerque Lima, então ministro do Interi
or, após enumerar os riscos que existiam numa interferência de
outros países na Amazónia brasileira, motivada pelo acelerado cres
cimento demográfico de determinados países e pelo seu interesse
nas riquezas naturais da região, manifestava:
79
“Há indiscutivelmente, poderosos interesses e pressões
potenciais externas e internas que incidem sobre a Ama
zónia e, na minha compreensão, naquela área, ainda
não integrada na Nação Brasileira, precisamos desde já
tomar medidas capazes de aumentar o poder de resis
tência. Ninguém pode negar que esta ponderável parcela
do território brasileiro já sofre um processo de pressão
potencial que, no tempo, se acelerará cada vez mais. ”75
80
3 . 4 . Os planos de desenvolvimento da Amazónia:
o modelo das “vantagens comparativas”
«i
intra-regionais da Amazónia brasileira, dando-se prioridade ao
incremento da concentração fundiária e, sobretudo, aos investi
mentos destinados a criar a infra-estrutura que demandavam os
projetos mínero-metalúrgicos, além da escolha das áreas ou mu
nicípios da Amazónia Legal que seriam objeto de especial interes
se do Program a de Pólos A gropecuários e Agrom inerais
(Polamazônia).
Entre os diferentes planos de desenvolvimento económico
nacional aprovados nos anos 70 que tiveram especial influência na
Amazónia, cabe destacar o Plano de Integração Nacional (PIN),
de junho de 1970, que tinha como uma das suas metas principais
financiar as obras de infra-estrutura destinadas a facilitar o de
senvolvimento de atividades económicas nas áreas de atuação da
Sudam e Sudene, entre elas a construção da Transamazônica e o
Plano de Irrigação do Nordeste; o I Plano Nacional de Desenvol
vimento (PND), apresentado pelo governo ao Congresso Nacional
em setembro de 1971, para o período de 1975-1974; e, sobretu
do, as diretrizes definidas no II PND para o período de 1975 a
1979. Planos que definiram os principais objetivos a serem alcan
çados na Amazónia Legal através do I PDA (1972-1974) e da II
PDA (1975-1979). Vejamos, em continuação, alguns dos objeti
vos definidos no I Plano de Desenvolvimento da Amazónia, recor
dando que. estamos nos últimos anos do denominado milagre bra
sileiro., cujo desfecho deve ser creditado ao crescimento das ativi
dades económicas na Região Sudeste, especialmente no Estado de
São Paulo:79
82
se não estivesse direta e facilmente ligado a uma re
gião fornecedora de matérias-primas [...]. A Expan
são de um mercado interno é indispensável para im
pulsionar este crescimento. A conquista planejada e
coordenada dos espaços vazios amazônicos trará, como
consequência, e. extensão da fronteira económica e a
ampliação do mercado interno, pela integração econó
mica e social da Amazónia ao Sudeste brasileiro.”80
I
ta e se fermenta em nossa incúria [...]. Manaus é lugar
para que o meu Governo apresente as linhas gerais da
primeira fase de sua política para a Amazónia e diga
sua decisão de assegurar, com energia e vontade, a
soberania brasileira nesta outra metade do Brasil e de
fazer andar o relógio amazônico, que muito se atrasou
ou ficou parado no passado. ”82
84
se regional. Pelo sistema de trocas interestaduais ou
internacionais e pelo fortalecimento simultâneo do po
der de compra de suas populações, a Região logrará
aumentar sua participação no Produto Nacional Bruto
e instalar um processo de desenvolvimento auto-sus
tentado [...], O sistema estratégico assim concebido
como Modelo Amazônico de Desenvolvimento segue as
linhas do que se poderia chamar um modelo de cresci
mento desequilibrado corrigido. E desequilibrado na
medida em que concede destaque a determinados seto-
res e produtos - os dotados de vantagens comparati-
/
vas - pondo em plano secundário os demais. E corrigi
do porque nele se inserem complementações e corre-
ções que visam fundamentalmente a conduzir a Região
a participar das vantagens e utilidades que cederá o
País ao exterior.”84
85
agropecuários, afirmava-se: “O desenvolvimento da pecuária na
Amazónia Legal [»..] tem como objetivos específicos: produzir ex
pressiva receita cambial através da exportação de carne bovina;
contribuir para o atendimento da demanda regional; criar uma
reserva para o abastecimento de outros centros do mercado naci
onal; promover a ocupação efetiva do território Amazónico”.87
86
de 500 mil famílias num período de dez anos.91 No discurso reali
zado na reunião extraordinária da Sudam de 1971, o presidente
Médici defendia a importância dos projetos de colonização na
Transamazônica com as seguintes palavras:
* Tabela 5
Estado do Pará: população total,
urbana e rural (1950-1991)
1991 5 .1 8 1 .5 7 0 2 .5 7 1 .7 9 3 2 .60 9 .7 7 7
90
“O grande instrumento de desenvolvimento amazônico
é a política de Incentivos Fiscais, introduzida pelo Go
verno da Revolução. Além da dedução dos 50% do
imposto de renda, para a aplicação em projetos eco
nómicos, considerados prioritários para o soerguimento
da área, o homem de empresa pode ter o seu projeto
beneficiado com a isenção do imposto de renda, isen
ção de taxas alfandegárias e do imposto de importa
ção, para equipamentos e máquinas sem similares no
País. Independente destes favores oferecidos pela União,
os governos das Unidades políticas que constituem a
Amazónia Legal [...], possibilitam outras vantagens,
principalmente as relacionadas com tributos e cessão
de terras, constituindo-se assim um grande atrativo
fazer investimentos na Amazónia. ”í,(>
92
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valor dos investimentos totais no período 19,64-1967
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Tabela 6
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93
Perspectiva que mudaria no II PDA, quando, além de serem pratica
mente abandonados os projetos de colonização, 15,4% dos projetos
aprovados, entre 1975 e 1979, correspondiam ao setor de minera
ção, 13,0% ao setor industrial, 11,7% à agropecuária e 15,8 e 19,1
por cento para energia e transporte, respectivamente.102
Tabela 7
Estabelecimentos industriais e número
de operários no Estado do Pará (1940-1988)
Números de
Anos Números de operários
estabelecimentos
Qfí
cola, enquanto os restantes 99% dos estabelecimentos ocupavam
42% da área e 97% das pessoas ocupadas nesse setor económi
co.1" Dados levantados por Alfredo Wagner de Almeida a partir
das estatísticas cadastrais do INCRA, mostraram que, fem 1985,
já eram 451 os imóveis rurais com área igual ou superior a 10
mil hectares no Estado der Pará."2
A reduzidíssima produtividade da maioria dos grandes lati
fúndios existentes na Amazónia Ilegal permite questionar outro
dos aspectos que a denominada “modernização agrícola” propor
cionou a essa região. Por exemplo, em meados dos anos 1980, os
pequenos produtores do Pará e do Amapá com propriedades infe
riores a 100 hectares, mesmo sem quase nenhuma ajuda oficial e
ocupando apenas 20,3% das terras agrícolas, forneciam 68% do
valor total da produção agropecuária desses dois Estados. Se fo
rem considerados apenas os alimentos básicos, como arroz, milho
e feijão, tal porcentagem eleva-se para 80%. Esses produtores
eram também os principais responsáveis pelo fornecimento de
pimenta-do-reino, cacau e matérias-primas industriais, como a
juta, malva e algodão."3 Ainda assim, em 1995 o Pará contri
buiu apenas com 1% da produção agropecuária nacional, e im
portava 58% do arroz, 63% do milho e 69% do feijão consumi
dos no Estado.114
4. O “Ciclo do M inério”
98
ca de Tucuruí e da estrada de ferro Carajás-Ponta da Madeira
(São Luís do Maranhão), através do decreto-lei n° 1.813, de
24 de novembro de 1980, foi instituído o Programa Grande
Carajás (PGC). A área que abrangia o PGC119 era de 8 9 5 .2 6 3
km2 (10,5% do território nacional), ao norte do paralelo 8 o,
entre o delta do rio Amazonas e os rios Xingit (Pará) e Parnaíba
(limite Maranhão-Piauí), incluindo-se nela parcialmente terri
tórios dos Estados do Maranhão, do Pará e de Goiás (depois
território do Tocantins). No Pará, a área de atuação do PGC
era de 5 2 2 .6 2 4 km2, cerca de 40% de todo seu território.120 O
PGC não ficaria restrito à pesquisa, extração, beneficiamento,
elaboração primária ou industrialização e transporte do miné
rio, mas seria também destinado ao incentivo de atividades
a g rop ecu á ria s e a g ro in d u stria is, re flo re s ta m e n to e
beneficiamento e industrialização de madeiras e aproveitamen
to de fontes energéticas.
Nos anos 70, os principais produtos do Pará destinados
ao mercado internacional eram a castanha, a pimenta-do-rei-
no e madeiras. Em 1 9 7 2 , o valor total das exportações
paraenses foi de cerca de 40 milhões de dólares.121 A castanha
e a pimenta, que em 1975 representaram, respectivamente,
2 1 ,6 % e 4 2 ,0 % das exportações, em 1982 diminuíram sua
participação a 5 ,7 % e 12,6% . No período de 1978 a 1984, os
produtos industriais intermediários responderam por 78% da
receita de exportação do Pará, destacando-se a bauxita não-
calcinada e a madeira serrada, que representaram, respectiva
mente, 21,9% e 19,7% do total.122
Em 1980, de cada 10 dólares gerados pela economia
paraense, um era exportado. Em 1988, essa relação já era de
cinco para um. De US$ 400 milhões exportados em 1980, che-
gou-se a US$ 1,2 bilhão em 1988, apresentando nesse ano um
saldo de divisas acima de US$ 900 milhões, respondendo os pro
dutos minerais por cerca de 70% das exportações.123 Em 1989, o
valor total das exportações do Pará foi de 1.406.515 dólares,
representando, nesse ano, 4,4% das exportações brasileiras, quando
OO
na década de 70 eram inferiores a dois dígitos. Por exemplo, em
1972, as exportações do Pará alcançaram os 46.793 milhões de
dólares e, em 1979, 2 3 3.0 28 milhões; ou seja, 1,3% e 1,5% das
exportações brasileiras nos mesmos anos. Em 1986, o Pará ele
vara sua participação a 3,6% e próximo de 5% do total das ex
portações do país, em 1990.124
Tabela 8
Participação relativa dos principais produtos
exportados pelo Pará: 1975-1989
Produtos 1975 1980' 1985 1989*
Pasta
Química de - 2 1,0 10,1 8,0
Madeira
Cacau e
Prod. 2,4 1.2 2,1 0,9
Derivados
Juta em
2 ,3 0,8 0,7 0,1
Geral
Tabela 10
Estado do Pará; População Economicamente Ativa e
percentagens PEA e PIB segundo setores económicos
(1970-1985)
Tabela 12
População do Pará, Região Norte e Brasil: 1950-1991
Região
Estado do Região
Ano Brasil Norte/Brasil
Pará Norte
%
1970 .2 .1 6 7 .0 1 8 3 .6 0 3 .8 6 0 9 3 .1 3 9 .0 3 7 3,9
104
Notas
106
23 Governo da Província do Pará, Dados Estatísticos e Informações para os
Immigrantes Publicados por Ordem do Exm. Sr. Conselheiro Cristão1de Alencar
Araripe, Presidente da Província do Pará, 1886, p. 82. As críticas do governo
da Província aos “donos das fabricas ou barracões” , que “unem-se sempre no
mesmo fim de manterem n uma espécie de escravidão os respectivos trabalhado
res" (idem, ibidem, p. 81), além de verdadeiras, como mostraram os inúmeros
relatos e pesquisas realizadas na .época ou posteriormente, devem ser também
contextualizadas no principal objetivo que tinha o governo provincial ao publicar
esse informe sobre a economia paraense: atrair migrantes europeus para estimu
lar a produção agrícola no Pará.
24 Wilson Cano e Leonardo Guimarães Neto, op. cit., p. 171.
2,> T. Braga, Noções de Chorographia do Estado do Pará, 1919, p. 230.
* FASE, O contexto sócio-econômico e político de Belém, s.d., p . l .
27 Wilson Cano e Leonardo Guimarães Neto, op. cit., 171.
aít Cf. Jacques Ourique, op. cit., p. 70; e Caio Prado Júnior, op. cit., p. 236-
237.
2i> Cf. Samuel Benchimol, op. cit., p. 30-51. Em 1910, o valor das 3 8 .5 4 7
toneladas de borracha exportadas pelo Brasil somou um total de 25.254.371
libras, em 1914, diminuiu para cerca de 7 milhões de libras (total 33.531 tonela
das) e, em 1921, as 17.493 toneladas exportadas apenas somaram um pouco
mais de 1 milhão de libras (cf. idem, ibidem). Em 1915, os seringais asiáticos
elevaram sua produção para 107 mil toneladas, 304 mil em 1920, 800 mil em
1930 e a cerca de 1 (um) milhão de toneladas em 1937 (cf. Lúcio Flávio Pinto,
op. cit., p. 4). A produção de borracha na Amazónia brasileira que, em 1920, foi
de 3 0 .7 9 0 toneladas, sendo exportadas cerca de 17 mil, diminuiu para 17.137
toneladas em 1930. Nos anos 30 manteve-se, em média anual, uma produção
estimada em cerca de 13 mil toneladas, sendo 17.137 as produzidas em 1941 (cf.
Nelson Werneck Sodré, op. cit., p. 1 76; e Moacir Fecury Ferreira da Silva, op.
cit., p. 299).
30 Cf. José Paes de Carvalho, Manifesto ao Estado do Pará pelo Governador
Dr. José Paes de Carvalho, 1897, p. 6. Em 1906, 2 2 % era a percentagem
da taxa oficial cobrada pela valor da borracha exportada desde o porto de
Belém, 16% a da castanha e 6% , as de cacau e madeira, respectivamente (cf.
idem, ibidem, p. 23).
31 Govêrno da Provincia do Pará, op. cit., p 83.
32 Idem, ibidem.
33 Idem, p. 85-86.
34 David Ferreira Carvalho, “Industrialização tardia e perspectivas de desenvolvi
mento da Amazónia", 1995, p. 13. Análise similar é feita por Wilson Cano e
Leonardo Guimarães Neto: "Antes da I Guerra Mundial e até início da década de
40, a Amazónia mergulharia num período ou fase de estagnação e decadência
económica" (W. Cano e L. Guimarães Neto, op. cit., p. 171).
107
35 Juan L. Bardalez Hoyos, “Capital social, projetos de desenvolvimento e trans
formações: Contribuições para uma reflexão”, 1 9 8 6 /1 9 8 7 , p. 19.
38 Cf. Roberto Santos, “A eConomia paraense pela ôtica da renda”, 1979, p. 12.
Entre muitos outros dados fornecidos por Roberto Santos para sustentar a fase
de declínio, ele nos informa da diminuição das receitas dos Estados do Pará e do
Amazonas. A do Pará, que em 1910 tinha sido de 2 0 .2 5 5 contos, em 1915 foi
de 8 .887 e de 8 .51 7, em 1920. No Estado do Amazonas, reduziu-se de 18.060
para 7.428 e 5 .88 8, respectivamente (cf. Roberto Santos, História Económica
da Amazónia, 1980, p. 240).
37 Roberto Santos, História Económica da. Amazónia, 1980, p. 14.
38 Hecilda Mary Veiga, Redemocratização em Belém (1945-1947): Os Comités
Democráticos e a Campanha Contra a Fome, 1984, p. 22.
ss) Em 1940, o total de habitantes da Região Norte era de 1 .4 6 2 .4 2 0 , quase o
mesmo número que havia em 1920, 1 .4 3 9 .0 5 2 (cf. Catharina Vergolino Dias,
“Amazónia Brasileira: Problemas de Subpovoamento” , A Amazónia Brasileira
em Foco, Comissão Nacional de Defesa e pelo Desenvolvimento da Amazónia,
1969, p. 15; apud Otávio Guilherme Velho, Frentes de Expansão e Estrutura
Agrária: Estudo do Processo de Penetração numa Area da Transamazónica,
1981, p. 50.
40Cf. IBGE, Sinopse Preliminar do Censo Demográfico c/q Brasil, 1970 ; IBGE,
Anuário Estatístico do Brasil — 1984 e 1985; IBGE, Censo Demográfico do
Estado do Pará — 1980 ; e Idesp, Estatísticas Demográficas do Estado do Pará,
1987.
41 Cf. Lúcio Flávio Pinto, op. cit., p. 4.
42 Cf. Nélson Prado Alves Pinto, op. cit., p. 94-95.
43 As cifras de nordestinos, principalmente cearenses, que se dirigiram à Amazó
nia entre 1942 e 1945, são estimadas em cerca de 100 mil, dos quais uns 25
mil com ajuda dos EUA (cf. Adélia Engrácia de Oliveira, “Ocupação humana",
1983, p. 267).
44 Cf. Nélson Prado Alves Pinto, op. cit., pp. 97-98; e Prefeitura Municipal de
Marabá, Marabá: A história de uma parte da Amazónia, da gente que nela vivia e
da gente que a desbravou e dominou, fazendo-a emergir para a civilização, de
1892 até nossos dias, 1984, p. 111-112.
45 Cf. Miranda Neto, O Enigma Amazónia: O desafio ao futuro, 1991, p. 70; e
Hecilda Mary Veiga, op. cit., p. 25-26.
48 Relatório do Banco de Crédito da Borracha; apud Moacir Fecury Ferreira da
Silva, op. c /í., p. 3 2 9 .
47 Cf. Samuel Benchimol, op. cit., p. 125.
48 Idem, p. 93.
49 Em 1960, a castanha representou 5 8% do total das exportações paraenses
(cf. Roberto Santos, “A economia paraense pela ótica da renda", 1979, p. 16).
50 Nelson Werneck Sodré, op. cit., p. 63-64.
108
31 Octavio lanni, Ditadura e Agricultura: O Desenvolvimento do Capitalismo na
Amazónia (1964-1978), 1979, p. 60.
;>2 Raúl Prebisch, “O desenvolvimento económico da América Latina e seus prin
cipais problemas” , Revista Brasileira de Economia, Ano III, n° 3, setembro de
1949, p. 47-48; apud Flávio Rabelo Versiani e José Roberto Mendonça de
Barros (orgs.), Formação Económica do Brasil: A Experiência da Industrializa
ção, 1978, p. XII.
MConstituição dos Estados Unidos do Brasil de 18 de Setembro de 1946, em
Constituições do Brasil, 1986, p.295.
’4 Ricardo Borges, Vivências Amazónicas, op. cit., p. 4 63 e 469.
O objetivo explícito dessa mudança foi ampliar as atividades financeiras do
banco, até então restritas quase que exclusivamente à produção e exportação de
borracha. Ver, a esse respeito, A. R Pereira Potyara, “Burocracia e Planejamento
Regional na Amazónia", 1978, p. 136; e Moacir Fecury Ferreira da Silva, op.
cit., p. 340.
;,(i Cf. Maria Celina Araújo, “Amazónia e desenvolvimento à luz das políticas gover
namentais: a experiência dos anos 5 0 ” , 1992, p. 48.
’7 Cf. Lei n° 1.806, em SPVEA, Brasil, Leis e Decretos etc., 1954.
O território da Amazónia Legal, 5 .0 2 9 .2 3 2 km2, representa cerca de 5 7% do
território nacional (8.511.965 km2) e 65% da Amazónia continental, com 10.948
quilómetros de fronteiras internacionais. Segundo dados do recenseamento de
1950, nesse ano residiam na Amazónia Legal 3 .5 4 9 .5 8 9 pessoas. Em 1970, o
número de habitantes era estimado em 8 .0 5 7 .6 4 0 e em cerca de 11 milhões, em
1980. Em 1998, residiam na Amazónia Legal aproximadamente 18 milhões de
pessoas, pouco mais de 10% do total da população brasileira.
59 Orlando Valverde, “Dos grandes lagos sul-americanos aos grandes eixos ro
doviários” , 1971, p. 19. Em 1977, todo o território do Estado do Mato Gros
so seria incluído na Amazónia Legal. Dois anos depois, o senador Lázaro Bar
bosa, apresentou no Senado um projeto visando incorporar à Amazónia Legal
um maior número de municípios do Estado de Goiás e parte do Distrito Federal
(Brasília), proposta que seria rejeitada por pressão dos parlamentares e gover
nadores do Pará e do Amazonas. Segundo Alacid Nunes, em palavras proferi
das na reunião do Conselho Deliberativo da Sudam, realizada no dia 31 de
julho de 1980, a rejeição aconteceu porque se considerou que essa proposta
feria, mais uma vez, os interesses dos estados da Região Norte, região “tantas
vezes esquecida, mas tantas vezes espoliada, e da qual se pretende sugar, até o
último alento, as poucas vantagens graças às quais vem conseguindo, a despeito
de tudo, sobreviver” (“Alacid protesta no Condel contra a expansão da Amazó
nia Legal” , Observador Amazónico, ano 3, s. n., Belém, agosto/set. de 1980,
P. 9).
60 Participavam da Comissão de Planejamento, todos eles nomeados pelo presi
dente da República, seis técnicos indicados pelo governo federal, entre eles o
109
futuro presidente da SPVEA, c paraense Waldir Bouhid, e um representante de
cada um dos Estados e Territórios Federais da Amazónia Legal. O representante
do Pará era Firmo Ribeiro Dutra.
61 Mário de Barros Cavalcanti, Da SPVEA à Sudam (1964-1967), 1967, p. 101.
82 SPVEA, 1954-1960: Perspectivas de Desenvolvimento da Amazónia (2 vols.),
Rio de Janeiro, Gráfica Editora do Livro, 1961, p. 30; apud Maria Celina Ara
újo, op. cit., p. 50.
63 Cf. Maria Celina Araújo, op. cit., p. 51.
84 Juscelino de Oliveira Kubitschek, Mensagem ao Congresso Nacional— 15 de
março de 1960, 1960, p. 125.
65 Segundo definição do economista Roberto Santos, o conceito de terras
devolutas formula-se por exclusão, isto é: “[...] todos os terrenos não perten
centes a entes públicos (dominiais ou dè uso especial), nem servindo ao uso
comum do povo e que, ademais, não pertençam a particulares constituem ter
ras devolutas [...]. No Estado do Pará, por exemplo, sempre foi muito utilizado
o sistema de enfiteuse ou aforamento, pelo qual a Administração transferia ao
particular o chamado domínio útil’ , mas retinha consigo o senhorio direto’
[...]. De qualquer forma, tanto a União como o Estado têm realizado sistemati
camente a transferência de terras devolutas a particulares, para o que recorrem
à emissões de títulos de terras. Quando ‘definitivos', tais títulos corporificam a
transferência entre as partes contratantes" (Roberto Santos, A Economia do
Estado do Pará, 1978, p. 83-84).
86 Cf. Secretaria de Agricultura do Estado, apud Roberto Santos, idem, p. 87.
b/ Ver por exemplo, além da bibliografia citada nesta parte do texto, Roberto
Santos, “A economia paraense pela ôtica da renda” , 1979, p. 14.
M Mário de Barros Cavalcanti, op. cit., p. 46-47.
80 Idem, p. 20-21.
/0 Orlando Valverde, op. cit., p. 19.
71 Ver, a esse respeito, A. P Pereira Potyara, op. cit., p. 137; e Orlando Valverde,
op. cit., p. 19.
72 BASA, Desenvolvimento Económico da Amazónia, 1967, p. 2 7 7 e 285.
/3 A respeito das mudanças entre o I Plano de Desenvolvimento da Amazónia,
cuja elaboração foi iniciada em 1953, e o Plano elaborado em 1966, que susten
tou a criação da Sudam, ver Sudam, I Plano Quinquenal de Desenvolvimento
(1967-1971), publicado, em Belém, em 1967. Também é de interesse a análise
feita, a respeito deste assunto, na obra, publicada em 1977, de Fernando Henrique
Cardoso e Geraldo Miiller, Amazónia: Expansão do Capitalismo, especialmente as
páginas 109-119.
74 Cf. Confederação Nacional da Indústria, A indústria Brasileira e a Amazónia,
1969, p. 34.
75Afonso Augusto de Albuquerque Lima, “A participação do Ministério do Interi
or no Desenvolvimento e na Ocupação da Amazónia”, 1971, p. 22.
110
76 Idem, ibidem, p. 23.
' 7 Afonso Augusto de Albuquerque Lima, op. cit., p. 18-19.
/8 Os economistas clássicos e neoclássicos, apoiando-se nos trabalhos dos “pais”
da economia clássica britânica, Adam Smith (1723-1790) e David Ricardo (1 772-
1823), sustentaram suas propostas de desenvolvimento económico com base na
experiência da Revolução Industrial inglesa: incentivo à produção industrial e
urbanização, diminuição da importância do setor primário na economia e, por
tanto, do número de pessoas destinadas a labores agrícolas; a regulação económi
ca pelas leis do mercado (liberalismo económico) e, entre outras, no apoio do
Estado à exportação de produtos manufaturados e importação de matérias-pri-
mas para a indústria nacional. Para os países com grandes recursos minerais,
florestais ou alta capacidade de produção de outras matérias-primas ou alimen
tos, a proposta dos economistas clássicos era incrementar a exportação desses
produtos (por exemplo, na América Latina, de café, açúcar, cobre, borracha,
carne etc.). Através dessas atividades económicas, esses países conseguiriam, so
bretudo graças aos custos de produção menos elevados, equilibrar a balança co
mercial com os países industrializados. A escola neoclássica aperfeiçoaria esse
modelo de análise destinado a justificar a divisão do comércio internacional, mas
continuaria apoiando-se, ainda que fosse de uma maneira mais refinada, no mo
delo das “vantagens comparativas” que fora exemplificado por David Ricardo em
sua famosa comparação entre o intercâmbio de “telas inglesas por vinhos portu
gueses", que ele considerava benéfico para ambas as economias.
79 Em 1970, localizavam-se no Sudeste 8 2,6 % das empresas industrias do país,
e 6 5,5 % do total do Produto Interno Bruto (PIB) do país era gerado nessa
região (apenas o PIB de São Paulo representava o 3 9,4 % do PIB-Nacional),
sendo que o PIB de todos os estados da Região Norte apenas representava o
2 ,2% do total nacional (cf. Leonardo Guimarães Neto, “Desigualdades regionais
e federalismo” , 1995, p. 19 e 260).
!f0 Sudam, I Plano de Desenvolvimento da Amazónia: 1972-1974, 1971, p. 13-
14.
81 Emílio Garrastazu Médici, Mensagem ao Congresso Nacional do Presidente da
República, 1970, p. 46.
82 Emílio Garrastazu Médici, "Discurso do Presidente da República na Reunião
Extraordinária da Sudam, 1971, p. 13-14.
8S Sudam, IIPlano Nacional de Desenvolvimento: Programa deAção do Governo
para a Amazónia - 1975/79, 1976, p. 52.
84 Idem, ibidem, p. 55-56.
85 Idem.
86 Idem. ,
87 Idem, p. 58.
88 Cf. Aldo Ramirez, “A atual etapa da revolução brasileira” , 1989, p. 35; e CUT,
Cartilha da Política Agrícola, 1989, p. 9.
89 A Transamazónica começa no Piauí, exatamente no município de Picos, onde
se interliga com a rede çodoviária nordestina, e finaliza nas fronteiras com o Peru
e a Bolívia, cortando as rodovias Cuiabá-Santarém e Porto Velho-Manaus atra
vessando, entre outros, os municípios paraenses de Marabá e Altamira.
90 Cf. Jean Hébette, “Além dos pequenos e dos grandes projetos: O papel da
Universidade", 1995, p. 362.
91 Cf. Lúcio Flávio Pinto (entrevista), “Jornalismo na Amazónia", Amazónia Hoje,
Ano I, n° 5, maio de 1989, p. 16.
92 Médici, “Discurso do Presidente da República na Reunião Extraordinária da
Sudam, 1971, p. 14-16.
Avelino Ganzer e Paulo de Tarso Venceslau, “Com palmos medida” , 1992,
p. 16.
94 Segundo dados do IBGE, em 1985 havia na Amazónia Legal cerca de 4 00 mil
estabelecimentos agrícolas ocupados por posseiros, abarcando uma área total
superior a 10 milhões de ha. Cerca da metade dos estabelecimentos localizavam-
se no Maranhão, ocupando 780 .88 3 ha. No Pará, os 8 7 .6 3 8 estabelecimentos
ocupados por posseiros dispunham de 2 .9 1 4 .6 4 9 ha (cf. Alfredo Wagner Berno
de Almeida, Conflito e Mediação: Os Antagonismos Sociais na Amazónia Segun
do os Movimentos Camponeses, as Instituições Religiosas e o Estado, 1993, nota
n° 5, p. 408).
9_’ “Esforços do governador para que novos investimentos de capitais sejam feitos
na Região Amazônica” , A Província do Pará, Belém, 11 /0 3 / 6 4 , p. 10.
9b Olegário Pereira Reis, Sudam: Breves Considerações, 1971, p. 16.
9/ Cf. Mário de Barros Cavalcanti, op. cit., p. 84 e 93.
98 Afonso Augusto de Albuquerque Lima-, op. cit., p. 42.
99 Dados levantados a partir dos Relatórios dos Projetos Aprovados pela Sudam
por Fernando Lobato, A “Cruzada ” Amazônica e o Mito do Progresso (1966-
1969), p. 57-58. lissa preferência pela Amazónia Ocidental no total de projetos
aprovados pela Sudam somente sofreria uma mudança relativa a partir dos incen
tivos fornecidos aos projetos industriais a serem instalados na Zona Franca de
Manaus. Do total de investimentos aprovados pela Sudam até 1982, que soma
vam um total de 3.1 74 bilhões de Cr$ (em valores constantes de ju lh o/1983),
37% desse valor foi destinado a projetos aprovados no Pará, 2 6% para os de
Mato Grosso e 2 2% para os projetos a serem implementados no Estado do
Amazonas (Cf. Aluizio Tadeu Marques da Silva, A Política de Desenvolvimento
Regional para a Amazónia 1980/85, 1992, p. 17).
100 Cf. Amílcar Alves Tupiassu, ‘As eleições paraenses de 1 9 6 6 ”, 1968, p. 33.
101 Cf. Sudam, Subsídios ao Plano Regional de Desenvolvimento (1972-1974),
1971, p .137-139.
102 Cf. Luís Flávio Maia Lima, “Integração regional e ‘enclaves fordistas’ no Pará:
uma abordagem geral”, 1995, p. 122.
103 Roberto Santos, A Economia do Estado do Pará, 1978, p. 141.
104 Cf. IBGE, Anuário Estatístico do Estado do Pará - 1984-1985.
105 Cf. José de Souza Martins, Os Camponeses e a Política no Brasil, 1983, p.
118. Segundo informações da Comissão de Avaliação dos Incentivos Fiscais
(Comif) criada em 1985, alguns dos projetos agropecuários eram fictícios e,
segundo dados da Sudam, cerca de 3 0% foram abandonados e 10% cancelados,
reembolsando o incentivo recebido sem correção monetária, sendo que menos de
2 0% foram de fato efetivamente implantados, embora apenas chegassem a pro
duzir um quinto do previsto na apresentação dos projetos (cf. Jornal do Brasil,
Rio de Janeiro, 0 8 /1 1 /8 5 ; apud Bertha K. Becker - org .-, Fronteira Am azô
nica: Questões Sobre a Gestão do Território, 1990, p. 30-31).
I0li Raymundo Garcia Cota, Carajás: A Invasão Desarmada, 1984, p. 60.
107 Cf. Sudam, Sudam 15 anos 1966-81, 1982, p. 510.
I0HCf. Aloysio Chaves, Devastação Florestal da Amazónia. Relatório da Comissão
Parlamentar de Inquérito, 1983, p. 73.
11)9 Cf. Idesp, Estatísticas Especiais: Produto Interno Bruto do Estado do Pará:
1975-1987, 1990, p. 23.
110 Cf. Violeta Refkalefsky Loureiro, “História social e económica da Amazónia” ,
1989, p. 49.
111 Cf. Jader Barbalho, Mensagem à Assembléia Legislativa - Março de 1984, p.
42.
112 Cf. Alfredo Wagner Berno de Almeida, Carajás: A Guerra dos Mapas, 1994,
p. 225.
113 Cf. Dietrich Burger e Paulo Kitamura, “Importância e viabilidade de uma
pequena agricultura sustentada na Amazónia Oriental” , 1987, p. 449.
114 Cf. Gabriela Athias, “O Pará dos Últimos 50 Anos: Pobre Estado Rico” , 1996,
p. 3.
115 No início dos anos 70 as exportações paraenses representavam cerca de 1%
do total nacional, em 1989 elevaram-se a 4 ,3% (Cf. Tereza Ximenes, - org .-,
Cenários da Industrialização da Amazónia, 1995, p. 3).
11(5 Cf. IBGE, 1991: 16, O principal acionista da MRN é a CVRD que possui
40% das ações, a Companhia Brasileira de Alumínio (CBA) controla 10% e as
restantes ações são repartidas entre diversas empresas estrangeiras (Cf. Folha de
S. Paulo, "Conheça a estatal e as regras da maior privatização do país”, 2 7 / 0 4 /
97).
117 Cf. Lúcio Flávio Pinto, “O Estado Nacional: Padrastro da Amazónia” , 1 9 8 6 /
87, p. 6; e Sergío de Fonseca Dias (coord.), Zoneamento Ecológico-económico
do Estado do Pará, 1991, p. 29.
118 Cf. Alberto Rogério B. da Silva et al., “Pará: A maior província mineral da
Terra” , p. 82-83; e O Liberal, Belém, 1 7 /0 1 /9 6 . >
119 O Programa Grande Carajás foi formalmente extinto em 1991.
120 Cf. Alfredo Wagner Berno de Almeida, Carajás: A Guerra dos Mapas, p 26; e
Glenio Bruck de Andrade, “O carvão vegetal e o Programa Grande Carajás” ,
1 9 8 6 /8 7 , p. 40.
121 Cf. Jean Hébette (coord.), A Amazónia no Processo de Integração nacional,
1974, p. 77.
122 Cf. Luís Flávio Maia Lima, op. cit., p. 138-140.
123 Cf. Jader Barbalho, Palestra do Governador Jader Barbalho na Sociedade
Consular de São Paulo (1 7 de março de 1992), p. 5.
124 Cf. Departamento de Fundos e Programa/Secex; apud Luís Flávio Maia Lima,
op. cit. p. 141.
120 Cf. César Valente, “Queda nas vendas externas” , p. 19.
126 Cf. O Liberal, Belém, 1 7 /0 6 /9 8 .
Am azónia Legal -
Delimitação Político-Adm inistrativa Atual
118
Fonte: MORAIS, Fernando; CONTIJO, Ricardo; CAMPOS, Roberto de Oliveira.
Transamazônica. São Paulo: Brasiliense, 1970.
Mapa da Região de Marabá
Fonte: Marabá. A história de uma parte da Amazónia, da gente que nela vivia e da
gente que a desbravou e dominou, fazendo-a emergir para a civilização. De 1892
até nossos dias. Marabá/PA: 1984, p.66.
B'AKCAKCKA
120
Fonte: ALBR.A3 - .Alumínio Brasileiro 5 .A. (Mapa de Luiz Pinto), sem data.
MINISTÉRIO DO INTERIOR
SUPERINTENDÊNCIA DO DESENVOLVIM ENTO DA AMAZÓNIA
DEPARTAMENTO DE SETORES PRODUTIVOS
593 SONDAGEM
CONJUNTURAL
INDÚSTRIA DE TRANSFORMAÇÃO
V. 15 - N? 1
JAN7MAR.
___________________________1 9 9 0 _______________________________ j
In tro d u çã o
123
sistema eleitoral brasileiro. Pareceu-me pertinente destinar as pri
meiras páginas do Capítulo a resumir alguns dos principais fatos
políticos ocorridos no Pará após a Revolução de 1930 e até as
eleições de 1962. Objetivava, assim, compreender a evolução po
lítica e a emergência de novas elites políticas no Estado do Pará
após a instauração do Regime Militar em 1964.
Consciente de que o estudo das práticas políticas não pode
ficar restrito apenas à análise da ação política dos setores
hegemónicos, mas também deve ser examinada a intervenção de
outros atores capazes de desenhar no território os seus interes
ses,6 ao dar prioridade, neste estudo, além da análise das mudan
ças sócio-econômicas, mas também à intervenção político-eleito -
ral e institucional dos atores políticos que representam ou preten
dem representar os interesses dos grupos sociais hegemónicos no
Pará, ficou evidente para mim que não poderiam ficar de fora do
estudo as idéias e as práticas das pessoas que participaram (ou
participam), por exemplo, dos movimentos sociais, sindicatos ur
banos e rurais, partidos de esquerda e as dos membros da Igreja
Católica identificados com a Teologia da Libertação. A interven
ção política da Igreja no fortalecimento da organização dos tra
balhadores rurais e na diminuição da influência nos resultados
eleitorais das práticas clientelísticas (compra-venda do voto), en
tre outros exemplos, contribuiu notavelmente para o enfraqueci
mento das tradicionais formas de dominação ideológico-política
exercidas sobre os setores populares por parte das oligarquias,
empresários e comerciantes e outros membros da classe domi
nante paraense, e também ampliou as chances eleitorais dos par
tidos de esquerda no Pará, influenciando, também, no grau e
nas form as pela qual esses grupos tentaram manter sua
hegemonia.7 Entretanto, por ser um tema a que já destinei boa
parte do trabalho que culm inaria no livro A Esperança
Equilibrista: A Trajetória do P T no Pará, e, também, para ten
tar evitar uma maior dispersão dos objetivos da pesquisa, as
práticas políticas desses atores políticos somente serão mencio
nadas quando for relevante para os fins da atual investigação.
124
Considero pertinente distinguir também aqui entre o uso
comum que se faz da palavra hegemonia para ilustrar, por exem
plo, o resultado da disputa entre organizações, partidos e lideran
ças políticas pelo controle do sistema político ou de parcelas deste,
e a utilização que fazia desse conceito Antonio Gramsci. Para o
dirigente do Partido Comunista Italiano, hegemonia representava a
preponderância que o grupo dominante exerce em toda a socieda
de, isto é, sobre os grupos restantes ou classes sociais. Esta prepon
derância é assumida não somente através de mecanismos repressi
vos, mas, sobretudo, pela liderança ideológico-cultural que exerce
no conjunto da sociedade, portanto pelo consentimento à sua domi
nação das classes subordinadas.9 Nas palavras de Gramsci:
125
sobretudo por parte daqueles atores que aspiram a assumir ou a
manter os principais cargos eletivos: governador, prefeito de Belém,
senador da República e deputado federal. O uso gramsciano do
conceito de hegemonia pode ser-nos também de grande utilidade
para examinar a influência ideológico-política dos atores que
Gramsci denominava de intelectuais orgânicos, “os comissários do
grupo dominante para o exercício das funções subalternas de
hegemonia social e do governo político” 11na elaboração, difusão,
legitimação e solidificação da hegemonia das classes dominantes,
seja no âmbito nacional ou estadual:
1 O O
Democrático (PSD), como, aliás, fizeram boa parte dos interventores
nomeados por Getúlio Vargas em outros estados.
Os três principais partidos que maior influência exerceram
no cenário político paraense no período de 1945 a 1965, como
também ocorreu na maioria dos estados do país, foram o PSD, a
União Democrática Nacional (UDN), o Partido Social Progressista
(PSP)23 e o PTB. Tanto o PSD como o Partido Trabalhista Brasi
leiro (PTB) foram criados contando com a participação de setores
getulistas e o apoio explícito de Vargas. Enquanto o PTB deveria
representar os interesses dos trabalhadores urbanos e, apoiando-se
no sindicalismo oficial, ajudar a frear a crescente influência do
PCB, o PSD deveria aglutinar, sobretudo, setores das elites políti
cas estaduais e locais. A seção paraense da UDN organizou seu
primeiro ato público em Belém em junho de 1945. Em 1945, os
159.395 eleitores do Pará (representando 2,1 % do total dos eleito
res brasileiros)24, tiveram a oportunidade de participar da escolha
do presidente da República, dois senadores e nove deputados fede
rais. O grande vitorioso desse pleito eleitoral no Pará foi o PSD
que elegeu dois senadores, Magalhães Barata e Álvaro Adolfo,
tendo como principais concorrentes Agostinho Monteiro e José
Malcher;2í) seis deputados federais, enquanto a UDN elegia dois e
um o PPS.2(S
Em janeiro de 1947, foram realizadas as eleições para
governador do Pará. Tendo sido declarados inelegíveis os
interventores federais que haviam exercido o cargo até 29 de
outubro de 1945, com o manifesto objetivo de enfraquecer a for
ça política dos getulistas, o senador Magalhães Barata não pôde
candidatar-se ao governo. Porém, o candidato do PSD, Luís Geolás
de Moura Carvalho, major do Exército, deputado federal eleito
em 1945, venceu as eleições, derrotando o general Alexandre
Zacarias de Assumpção, do Partido Social Progressista (PSP).27
O PSD também elegeu mais um senador, Augusto de Meira Dantas,
derrotando o jornalista Paulo Maranhão, proprietário da “Folha
do Norte” , então o principal jornal de Belém e que, desde 1933,
exercia uma ferrenha oposição a Magalhães Barata.
19Q
O apoio do PCB a Moura Carvalho que, nessas eleições,
elegera pela primeira vez um deputado estadual no Pará, provo
cou sérios atritos entre o PSD, especialmente com Magalhães
Barata, e a hierarquia da Igreja Católica no Pará, que fizeram
campanha, através da Liga Eleitoral Católica (LEC) contra Moura
Carvalho. O arcebispo de Belém, dom Mário de Miranda Vilas
Boas, meses depois justificaria a posição da LEC, em nota remeti
da à imprensa de Belém, assinalando que a “Liga Eleitoral Católi
ca não tem preferência de pessoas, senão, exclusivamente, prefe
rência de princípios. E convém reafirmar que o totalitarismo sovi
ético, profundamente antidemocrático, anticristão e antibrasileiro,
representado entre nós pelo Partido Com unista, está
irrevogavelmente fora de toda atenção por parte do eleitorado
católico”.28
Convocadas novas eleições para o dia 3 de outubro de 1950,
tentando impedir a vitória de Magalhães Barata foi criada a Coli
gação Democrática Paraense (CDP), da qual participavam a UDN,
o PSP, o PST, o PL e o PRT, que lançou como candidato Alexan
dre Zacarias de Assumpção, candidato que também teve o apoio
do PTB. Segundo interpretação do jornalista paraense Carlos
Rocque: “Para as eleições de 50, os oposicionistas resolveram
deixar de lado as arestas ou questões pessoais e uniram-se para
enfrentar o inimigo comum” .29 Após o processo de recursos,
impugnações e anulações, apresentados pelos partidários de am
bos candidatos, Zacarias de Assumpção seria eleito governador
ao superar por 582 votos a soma total dos votos obtidos por
Magalhães Barata.30
Em 1955,3' finalmente, o “líder carismático, autoritário e
populista” ,32 conseguiu, após serem anuladas e novamente
convocadas as eleições em algumas seções eleitorais, seu objetivo
de tornar-se governador pelo voto direto dos paraenses, cargo que
ocuparia até a sua morte, ocorrida no dia 29 de maio de 1959.
Mas, antes de morrer, para evitar que o governo ficasse nas mãos
dos seus opositores, Magalhães Barata, já gravemente enfermo
desde início de 1959, apresentou a proposta de emenda à Consti-
130
tuição Estadual com o intuito de criar o cargo de vice-governador,
até então inexistente. Tentava, assim, evitar que assumisse o go
verno o presidente da Assembléia Legislativa, Max Parijós, ex-
m em bro do PSD e então afinado politicam ente com os
antibaratistas. Reformada a Constituição, os deputados estaduais
escolheram para vice-governador Moura Carvalho que, após a
morte de Barata, convertera-se na principal liderança do PSD no
Pará. Para garantir a maioria absoluta na Assembléia Legislativa,
a partir de 1959 o PSD aliou-se ao PTB.
A máquina político-eleitoral criada por Magalhães Barata
obteve uma nova vitória para o PSD em 1960, com a eleição de
Aurélio do Carmo para governador, resultado facilitado também
pela divisão dos partidos que integravam a Coligação Democrática
Paraense (CDP).33 Os outros candidatos foram Zacarias de I
Assumpção (UDN) e Adelbaro Klautau (PSP) que, em 1961, assu- N
miria a presidência da Spvea e que teve o apoio da maioria dos
partidos da CDP34 A força eleitoral dos pessedistas, sustentava-se
não só no carisma de Barata, mas também nas relações clientelísticas
com os comerciantes e grandes proprietários de terra que assegu
ravam ao partido o controle de boa parte das prefeituras paraenses.35
Nas eleições 1962, o PSD elegeu quatro dos dez deputa
dos federais paraenses e 1 7 dos 37 membros da Assembléia
Legislativa. Assim: “[...] diversamente às expectativas daqueles
que vaticinavam a liquidação e o desmonte da máquina eleitoral
baratista’ , a nova liderança permitiu o PSD superar o antigo
equilíbrio de forças em relação aos opositores abrigados na CDP
(Coligação Democrática Paraense, que congregava praticamente
todos os demais partidos) — e vencer as eleições para governador
obtendo a maioria absoluta dos votos”.36Vejamos nas tabelas abaixo
a evolução do número de deputados federais e estaduais obtidos
pelos partidos existentes no Pará no período de 1945 a 1962.
Tabela 13
Deputados federais paraenses eleitos
segundo sigla partidária (1945-1962)
Partido 1945 1950 1954 1958 1962
PSD 6 5 5 4 4
UDN 2 2 - 3 2
PPS 1 - - - -
PSP - 2 3 2 2
PST - - 1 - -
PTB - - - - 6
132
uns ficaram no PTB e outros no PSB, e outros fica
vam sem filiação legal. ’38
Tabela 14
Representação partidária na Assembléia
Legislativa paraense (1947-1962)
Partido 1947 1950 1958 1962
PSD 23 18 14 17
PSP 9 7 9 7
UDN 2 9 7 4
PTB 2 3 5 6
pcb’ 1 - - -
PR - - - 3
Total 37 37 37 37
Fonte: O Liberal, “A política e as eleições em duas décadas republicanas
do ciclo de Magalhães Barata", O Liberal, 4 o caderno, Belém, 15/11/
82, p. 1-9; e Amílcar Alves Tupiassu, 'As eleições paraenses de 1962",
Revista Brasileira de Estudos Políticos, n° 16, p. 41-42.
2. A “Revolução de 1 9 6 4 ” no Pará
133
com os marinheiros, para quem se passava o filme O
Encouraçado Potemkin’, pensando que, com aquilo,
repetiria Outubro de 17. Foi o momento que uniu a
todos [...]. Então o movimento é uma soma de antis’,
mas não era pró’. A partir do pró, ele veio mostrar
depois as suas divergências. Agora, eu não discuto muito
64, porque ele se tornou um movimento feito pratica
mente sem um tiro, com grande parte da sociedade
civil e da Igreja Católica ao seu lado” (Jarbas Passari
nho, “Folha de S. Paulo ”, 2 5 /0 8 /9 6 ).
134
ral Ramagem, chefe do Comando Militar da Amazónia, ao coronel
do Exército, Jarbas Passarinho, lia-se:
135
dade do novo presidente da República e suas normas
traçadas "de governo constituem uma segurança para
todos os brasileiros. Começando com as esperanças
gerais, em nome da coletividade que nos honrou com
sua confiança nas urnas, congratulo-m e com o
Excelentíssimo Senhor General Humberto de Alencar
Castello Branco pelo período administrativo que hoje
se inicia e formulo os mais veementes votos pela sua
felicidade pessoal.”42
13fi
lados à CGT, declarados ilegais, dissolvidos ou colocados sob
intervenção. No Pará, cerca de 30 0 pessoas foram detidas após
o I o de abril de 1964 - a maioria era estudantes universitários,
lideranças sindicais, militantes da Ação Popular (AP) e, sobre
tudo, do PCB - e os sindicatos, sob influência do PCB, sofre
ram intervenção. Forças.militares e policiais, apoiadas por gru
pos civis, invadiram, nos primeiros dias do mês de abril, as
sedes do PTB, do Sindicato dos Petroleiros e da União Acadé
mica Paraense em Belém.44 Entre os detidos estavam o presi
dente do Sindicato dos Petroleiros, Carlos Sá Pereira, o secre
tário do PCB em Belém, Humberto Lopes, o coronel reforma
do da aeronáutica, Jocelyn Brasil, os líderes do PSD, Hélio
Gueiros ç Laércio Barbalho, o ex-deputado e prestigioso poeta
paraense Rui Barata e o deputado estadual Benedicto Monteiro,
estes últimos vinculados ao PCB.45 Benedito Serra, presidente
da União dos Lavradores da Zona Bragantina, detido no muni
cípio de Castanhal no início de maio, morreu no Hospital Mili
tar de Belém em 18 de maio de 1964, sendo registrada como
causa de seu falecimento hepatite aguda.46
137
na folha de pagamentos e recebimento de vultosas quantias deriva
das do jogo do bicho que eram controladas pelo prefeito de Belém e
presidente do PSD, Moura Carvalho.47 Entretanto, as responsabili-
dades apuradas pela Comissão de Investigação Sumária não se
restringiram ao possível uso indevido de dinheiro público ou
corrupção, também visavam analisar as atividades políticas dos mem
bros do governo estadual e da prefeitura de Belém. Assim é que
nesse mesmo relatório da CIS, os responsáveis pela Secretaria de
Educação e Cultura do governo do Pará foram acusados de “ter
permitido, por omissão, a infiltração comunista na União de Estu
dantes dos Cursos Secundários do Párá, existindo trinta (30), dos
trinta e oito (38) diretórios estudantis secundários, com sinais de
infiltração comunista”.48
Em 9 de junho de 1964, o governador e vice-governador
do Pará, Aurélio do Carmo e Newton Miranda, respectivamente,
e o prefeito de Belém, Moura Carvalho, e vice-prefeito, Isaac
Soares, teriam suspensos seus direitos políticos’ por uma período
de dez anos, e cassados, portanto, seus respectivos mandatos.
Também tiveram seus mandatos cassados, sob as mesmas acusa
ções, Alberto Nunes (PTB), vereador de Belém; Agenor Moreira
(PDS), prefeito de Cametá; e, entre outros, os deputados estadu
ais, Amílcar Moreira (PDS), José Manuel Reis Ferreira (PDS) e
Nagib Mutran (UDN). Por estritas motivações políticas também
tiveram seus direitos políticos suspensos e mandatos eletivos cas
sados, os militantes do PCB Raimundo Jinkings, vereador de Belém,
e o deputado estadual, Benedicto Monteiro49:
138
mente. O ato, assinado pelo Presidente Castello Bran
co, havia sido divulgado cedo pela Rádio Nacional de
Brasília. Surge como fruto dos inquéritos levados a
efeito recentemente por uma Comissão Militar especi
almente designada para apurar denúncias contra as
administrações "Estadual e Municipal. ”50
140
ra pública, mas por meio de voto popular, vencendo
em todos os quadrantes do Estado e desta Cidade. Não
posso renunciar a esta bandeira que não é minha, uma
vez que meu poder civil pertence ao povo, e dele tudo
emana nos termos da Constituição Federal.”53
1 / 1 0
Pará em substituição a Moura Carvalho.58 Ao perder o PSD o
controle do governo estadual e a prefeitura da capital do Pará,
ficou facilitada, assim, a tarefa dos seus tradicionais ou novos
opositores — militares e outras pessoas sintonizadas com o “regi
me revolucionário” — de liquidar a máquina político-eleitoral
pessedista. Nas eleições paret. governador realizadas no dia 3 de
outubro de 1965, o candidato dos partidários da “Revolução” no
Pará foi Alacid da Silva Nunes. Para poder ser candidato, Alacid
Nunes filiou-se à UDN, e o PTB, cujos deputados estaduais apoia
vam o governo de Jarbas Passarinho, indicou o nome do candida
to a vice-governador: Renato Franco. Uns dias antes das eleições,
Alacid Nunes fez distribuir uma Mensagem ao Eleitor Paraense,
que seria posteriormente reproduzida pelos jornais de Belém que
apoiavam a sua candidatura, no qual podia ser lido:
143
Assumpção. A escolha era justificada pelas lideranças do PSD
com o argumento de que somente um militar com notável respal
do eleitoral no Pará poderia tentar pôr freio à crescente influên
cia dos setores civis e militares vinculados a Jarbas Passarinho e
Alacid Nunes. Contudo a escolha de Zacarias de Assumpção revol
tou a muitos pessedistas, especialmente dos municípios do interior
e à maioria dos deputados federais do PSD, alguns dos quais
passaram a fazer campanha em favor de Alacid Nunes. Também
no bloco governista produziram-se algumas deserções, em parti
cular a do presidente da Assembléia Legislativa, José Maria Cha
ves, que não fora incluído na lista apresentada por Jarbas Passa
rinho aos 22 deputados estaduais que davam sustentação ao seu
governo para que indicassem o candidato da sua preferência, e
optou por não fazer campanha em favor do indicado, Alacid Nunes.
As não muito boas relações do jornalista Paulo Maranhão com
Jarbas Passarinho e também o fato de ser Zacarias de Assumpção
o candidato da oposição, contribuíram favoravelmente para que,
pela primeira vez, a “Folha do Norte” desse apoio a um candidato
apoiado pelo PSD. Apesar disso, Alacid Nunes, com o apoio do
governador e da coligação de partidos integrada pela UDN, o
PTB, o PDC e o PR, venceu o pleito eleitoral sem muitas dificul
dades somando um total de 163.c527 votos contra 6 7 .1 6 6 obtidos
por Zacarias de Assumpção. Somente em cinco municípios, dos
83 então existentes no Pará, Assumpção foi o mais votado.60
144
Guanabara, através do Ato Institucional n° 2, de 27 de outubro de
1965, todos os partidos foram declarados extintos e anuladas as
futuras eleições diretas para presidente da República.61 Um mês
depois, com o intuito de manter uma certa aparência democrática
no controle das Forças Armadas sobre as principais instituições
políticas do país, foi instaurado o sistema bipartidarista (Ato Com
plementar n° 4, 2 0 /1 1 /1 9 6 5 ), outorgando ao partido da Aliança
Renovadora Nacional (Arena) o papel de aliado do regime e ao do
Movimento Democrático Brasileiro (MDB) o de “oposição ”. Aqueles
que haviam sofrido a suspensão de seus direitos políticos não po
deriam filiar-se nem a um partido nem a outro, ficando, portanto,
impossibilitados de candidatar-se a qualquer cargo eletivo. Assim
justificava essas decisões o presidente Castello Branco em sua
mensagem ao Congresso Nacional de 1966:
145
de poderes outorgacfos-peta^Revolução [...]. É que, se
de um lado se apresentavam os inconformados com os
resultados das urnas, de outro, talvez exageradamente
animados por algumas votações, já era possível divi
sar pequenos grupos desejosos de embaraçar ou per
turbar o caminho do movimento vitorioso de 31 de
março [...]. Foi diante de tais circunstâncias [...] que
o Governo resolveu recorrer aos poderes inerentes à
Revolução, decretando o Ato Institucional n° 2 [...].
Também a Lei Orgânica dos partidos políticos será
poderoso instrumento para a disciplina e aprimora-
mento da vida partidária, principalmente após a
extinção dos partidos anteriormente existentes, cuja
multiplicação contribuíra para tumultuar e deformar
a fisionomia política do País.”62
1 /IR
votos. A Arena elegeu 8 dos-lOífeputados federais a que o Pará
tinha direito e 33 dos 41 deputados estaduais.64 Assim — como
acertadamente ponderou Amílcar Tupiassu — na segunda metade
da década de 60, a vida política no Pará parecia ser decorrente
mais de um sistema de partido único, que de um sistema
bipartidarista:
147
económicas preocupavam a cúpula militar. Além da progressiva
ruptura da Igreja Católica com o regime e das crescentes mobili
zações promovidas pelos movimentos sociais e sindicatos por
melhoria das condições de vida, desde as eleições de 1974, o
Movimento Democrático Brasileiro (MDB) transformara-se num
verdadeiro concorrente eleitoral da Arena.
O Regime Militar, como ocorrera após a Revolução de
1930 e, sobretudo, durante o período do Estado Novo (1 9 3 7
1945), representou o incremento dos poderes do presidente da
República e da União em detrimento dos poderes estaduais e
municipais. Tampouco a maioria dos membros das Forças Ar
madas tinha muita simpatia pelas tradicionais formas de domi
nação oligárquica. No entanto, a necessidade de legitimidade
política pela via eleitoral que o Regime Militar estabeleceu com
o sistema bipartidarista e o crescimento da votação dada aos
candidatos do MDB nos principais centros urbanos e nas regiões
mais industrializadas do país nos anos 70, ‘fizeram com que a
Arena fosse se tornando, cada vez mais, um partido rural de
“velhos” e “novos” coronéis, e se reestimulassem as práticas
clientelísticas e a política da trocas de favores entre as diferentes
instâncias de poder político-administrativo.
Em 1970, dos 31 0 integrantes da Câmara Federal, a
Arena elegeu 223 deputados federais e o MDB, apenas 87. Já
em 1974, de um total de 364 membros da Câmara Federal, a
Arena elegeu 2 04 e o MDB, 160. Foi nas candidaturas ao Sena
do Federal que mais cresceu o MDB em 1974, comparativamen
te às duas eleições anteriores sob o sistema bipartidarista, supe
rando, pela primeira vez, em cerca de 4,5 milhões de votos os
obtidos pelos candidatos da Arena e elegendo 16 das 22 vagas
ao senado em disputa.6' Na próxima tabela podemos apreciar a
variação, segundo a legenda partidária, na composição da Câ
mara Federal por regiões. Destaca-se o crescimento do MDB na
regiões Sul e Sudeste, a quase igualdade entre os dois partidos
em 1974, entre os deputados federais eleitos nos Estados e Ter
ritórios Federais da Região Norte, e o grande número de depu-
148
tados que a Arena conseguiu eleger no Nordeste, o que contri
buiu notavelmente para manter sua maioria na Câmara Federal.
Num dos discursos de Ernesto Geisel em sua viagem ao Maranhão,
realizada em outubro de 1978, o presidente da República desta
cava a importância, para o partido governista, dos resultados
das eleições obtidos no F^ordeste com as seguintes palavras:
Tabela 15
Composição da Câmara Federal por regiões
segundo legenda partidária: 1970-1974
Total Total
Região Arena MDB Arena MDB
1970 1974
Norte 12 • 6 18 11 10 21
Nordeste 73 27 90 82 25 107
Sul 42 20 62 37 41 78
Centro-
13 4 17 14 7 21
Oeste
149
frágio universal. Porém, em decorrência dos resultados do pleito
eleitoral de 1974 e*das eleições municipais de 1976, a cúpula das
Forças Armadas e os partidários do Regime Militar no governo
federal e no Congresso Nacional optaram, através do uso do Ato
Institucional n° 5, por adiar essa possibilidade para 1982. Por
tanto, mais uma vez desde 1966, nas eleições de 1978 somente
seriam eleitos diretamente pelos eleitores os senadores e dèputa-
dos federais e estaduais. Os resultados eleitorais de 1978, que
expressaram uma relativa estagnação no crescimento da repre
sentação parlamentar do MDB, foram condicionados por uma
série de medidas casuísticas e restrições à propaganda eleitoral
nos meios de comunicação, entre elas a da eleição indireta para
uma das duas vagas ao Senado em disputa em cada Estado (os
senadores “biónicos”).69 Eram do partido governista 15 dos 23
senadores eleitos diretamente e a maioria dos senadores biónicos.
Porém, embora a votação dada aos candidatos da Arena para
deputado federal tivesse superado em 250 mil votos a dos candi
datos do MDB, cabe destacar que os candidatos deste partido ao
Senado tiveram 4,5 milhões de votos a mais que os arenistas.70
Em 1972, a Arena elegeu em todo o país 3.484 prefeitos
contra apenas 463 que obteve o MDB. Nas eleições municipais de
1976 não houve mudanças significativas em relação ao total de
prefeitos eleitos pelas duas legendas partidárias. Foram 3.359 para
a Arena e 614 para o MDB. Contudo, a diferença no total de votos
computados diminuiu consideravelmente. Em 1976, a Arena obteve
14,7 milhões de votos contra 7,7 milhões de votos do MDB, en
quanto em 1972, a diferença fora de 12,4 milhões a 3,9 milhões,
respectivamente/1 Nas eleições municipais de 1972, os eleitores
paraenses escolheram novos prefeitos em 73 municípios, vencen
do a Arena em 61 deles e nos 12 restantes os candidatos do MDB.
Nas de 1976 a diferença em favor da Arena no Pará foi ainda
maior, elegendo o MDB apenas quatro prefeitos.72 O escasso nú
mero de prefeitos eleitos pelo MDB foi favorecido pela existência
das sublegendas partidárias que permitia a diferentes setores das
elites locais a candidatura ao cargo de prefeito sem a necessidade
150
de se filiar ao MDB, ainda que não controlassem os diretórios
municipais do partido governista (Arena).73
Tabela 16
Composição da Câmara Federal por Regiões
segundo legenda partidária: 1978
Variação Variação
Regiões Arena MDB Total
1974 1974
Norte 17 + 6 11 + 1 28
Nordeste 92 + 10 34 + 9 126
SudéSte 62 + 2 94 + 17 156
Sul 42 + 5 40 = 82
Centro
18 + 4 10 +3 28
Oeste
Tabela 17
Número de Deputados Estaduais do Pará
segundo legenda partidária (1966-1978)
1966 33 8 41
1970 17 7 24
1974 20 10 30
1978 19 11 30
1966 * 8 2 10
1970 7 2 9
1974 7 3 10
1978 6 4 10
Tabela 19
Região Norte: número de Deputados Federais
por partido e Estado (1974-1978) — ARENA/MDB
Pará 7 6 - 1 3 4 + 1
Amazonas 2 4 + 2 3 2 - 1
Acre 1 3 + 2 2 3 + 1
Amapá 0 1 + 1 1 . 1 0
Roraima 1 2 + 1 0 0 0
Rondônia 0 1 + 1 1 1 0
Total
Região 11 17 +6 10 11 + 1
Norte
Fonte: Francisco Sales Cartaxo Rohm, Política nos Currais, p. 169-70.
155
deputado federal, Alacid Nunes, seria indicado por Ernesto Geisel,
por solicitação do marechal Cordeiro de Farias, para assumir seu
segundo mandato de governador, em detrimento de Jarbas Passa
rinho, que também pretendia o cargo. Posteriormente, houve o
seguinte diálogo entre Passarinho e o general Figueiredo:
156
eleitorais foram adquirindo, e também para evitar que o cresci
mento do número de votos recebidos pelo MDB permitisse que
esse partido chegasse a obter a maioria dos membros do Colégio
Eleitoral que escolhia o presidente da República. Assim, com o
objetivo de seguir controlando pela via eleitoral o ritmo e os
limites da transição política à democracia, os partidários do
Regime Militar optaram por extinguir o sistema bipartidarista e
retornar ao pluripartidarismo (lei n° 6.767 de 20 de dezembro de
1979). Com essa decisão previa-se a implosão do MDB em vários
partidos e a ampliação das bases eleitorais da Arena no seu her
deiro o Partido Democrático Social (PDS). De fato, o MDB,
transformado em PMDB, perdeu um número não desprezível de
deputados e senadores, que se encaminharam para o Partido Po
pular (PP) - os setores mais conservadores - e para o PTB -
uma pequena parte.
Porém, como comprovação de que nem sempre a vida
política transcorre conforme gostariam os maquiavélicos de plan
tão no poder, para complicar os planos dos estrategistas políticos
do Regime Militar, dois novos partidos superaram todos os obstá
culos legais, obtendo o registro provisório, enquanto aguardavam
os resultados eleitorais de 1982: o Partido Democrático Traba
lhista (PDT) e o Partido dos Trabalhadores. Leonel Brizola, ex-
governador do Rio Grande do Sul (1959-1962), ao regressar do
exílio tinha em mente a reconstituição, sob sua liderança, do PTB.
Com a concessão pela Justiça Eleitoral da sigla do partido aos
seguidores de Ivete Vargas (sobrinha-neta de Getúlio Vargas),
Brizola fundou o PDT. Após extinto o sistema bipartidarista, Pas
sarinho, como a grande maioria dos membros da Arena em todo
o país, ingressaria no PDS. Mas, o governador Alacid Nunes,
após optar por filiar-se também ao PDS, poucos meses depois
estimularia a recriação do PTB no Pará, partido ao qual se so
maram dez deputados estaduais e um deputado federal eleitos
pela Arena em 1978 e então filiados ao PDS, além de um grupo
de prefeitos e vereadores do Pará,87 a maioria dos quais daria
apoio ao candidato escolhido pelo PMDB para governador nas
157
eleições de 1982: Jader Barbalho. Alacid Nunes esperava ser re
compensado por Jader nas eleições de 1986, reciprocidade que
não existiu, mas essa é outra história.
158
tinham uma elevada dívida externa. O aumento do valor dos juros
bancários e o fortalecimento do dólar significou para os países
latino-americanos, além da diminuição do fluxo de capitais exter
nos, o incremento, em moeda nacional, do valor da dívida externa
e do seu serviço (ambos expressos em dólares). A década perdida,
como foram chamados, dó ponto de vista económico, os anos 80
nos países da América Latina, já começava mal para o Brasil.
Em 1980, a dívida externa líquida alcançava 4 6,9 bilhões de
dólares (50% superior à de 1978), a inflação ultrapassava 100%
ao ano e o PIB de 1981, em comparação ao do ano anterior,
diminuía 4,5% 89
Para que tudo continuasse sob controle dos partidários do
Regime Militar sem que se precisasse recorrer ao expediente de
pôr fim ao processo de abertura política, o governo federal, em
fins de 1981, apresentou ao Congresso Nacional o que seria co
nhecido como o Pacote de Novembro, destinado a modificar al
guns artigos da lei eleitoral. A finalidade das mudanças era favo
recer os candidatos do PDS, partido que contava então com o
maior número de Diretórios Municipais. Aprovadas as modifica
ções, em janeiro de 1982, as que tiveram maior influência na
estratégia eleitoral dos partidos políticos foram a proibição de
coligações eleitorais e a introdução do voto vinculado em todos os
níveis, pelo qual os eleitores ficavam impedidos de votar em candi
datos de partidos diferentes (por exemplo, para governador, pre
feito ou deputado), sob pena de terem o seu voto anulado.
Algumas dessas mudanças acabaram por favorecer tam
bém ao PMDB, debilitando assim os objetivos da cúpula militar
de extinguir o bipartidarismo. A proibição de alianças eleitorais
entre diferentes partidos, por exemplo, levou a maioria dos mem
bros do Partido Popular (PP) a ingressar no PMDB no mês de
fevereiro de 1982. O PMDB também se beneficiou do voto vincu
lado ao contar, comparativamente aos outros partidos da oposi
ção, com maior número de filiados, diretórios e candidatos. Esses
fatores resultaram na campanha pelo voto útil no PMDB, como
forma de derrotar o PDS. Em suma, as eleições voltavam a se
polarizar, dessa vez entre os partidos surgidos da Arena e do MDB,
apesar de serem cinco os partidos até então legalizados que apre
sentaram candidatos às eleições: PDS, PMDB, PTB, PDT e PT.
No marco geral da polarização eleitoral entre o PDS e o
PMDB, as eleições de 1982 adquiriram no Pará algumas carac
terísticas específicas que precisam ser consideradas para se com
preenderem os resultados eleitorais que deram a vitória ao can
didato do PMDB ao governo, o deputado federal Jader
Barbalho,90 cujo principal oponente, o empresário Oziel Carnei
ro, candidato do PDS, tinha em.Jarbas Passarinho, candidato à
reeleição no seu terceiro mandato como senador, seu principal
cabo eleitoral. Também o presidente Figueiredo se fez presente
em Belém para dar apoio ao candidato do PDS.91 Jader Barbalho
teve apoio, além do governador Alacid Nunes e dos setores que
com ele tinham abandonado o PDS,92 de parte dos empresários
e comerciantes, classes médias e a grande maioria dos setores
progressistas e/ou de esquerda no Pará, inclusive de boa parte
das organizações e tendências internas do PT, apesar do partido
ter lançado candidato próprio. Jader havia sido uma das princi
pais lideranças do movimento estudantil de Belém e, no exercí
cio dos mandatos de deputado estadual (1971-1974) e federal
(1975-1982), fizera clara oposição ao Regime Militar. Assim
argumentava Atanagildo de Deus Matos (“Gatão”), candidato a
prefeito pelo PMDB no município paraense de Oeiras do Pará e,
em 1982, militante do Partido Comunista Revolucionário (PCR),
a importância da candidatura de Jader Barbalho para governa
dor do Pará:
1 n r\
Ill
i a1
história do Brasil: a Campanha pelas Diretas-Já. Iniciada em fins
de 1983, a campanha não conseguiu seu objetivo, quando na Câ
mara Federal, no dia 25 de abril de 1984, por faltarem 22 votos,
não foram obtidos os 2 /3 do total de votos necessários para a
aprovação da emenda constitucional, apresentada pelo deputado
Dante de Oliveira (PMDB), que estabelecia a eleição direta do pre
sidente da República.97 A nova vitória do PDS, no entanto, acabou
contribuindo para sua posterior e progressiva decadência político-
eleitoral. O fato de setores do PDS, sobretudo do Nordeste, terem
se oposto à escolha do ex-governador de São Paulo, Paulo Maluf,
como candidato à presidência da República incentivou articulações
de membros do partido no sentido de compor com a ala conserva
dora do PMDB uma chapa para concorrer à indicação do Colégio
Eleitoral. Nesse processo surgiu o Partido da Frente Liberal (PFL),
que apoiaria a candidatura de Tancredo Neves (PMDB), ex-presi-
dente do Partido Popular e governador de Minas Gerais, para pre
sidente, e de José Sarney para vice-presidente. No dia 15 de janeiro
de 1985, os integrantes do Colégio Eleitoral votaram maioritaria
mente a favor da chapa de Tancredo Neves e José Sarney.
Com a morte de Tancredo, porém, quem assumiu o cargo
de presidente não foi nenhum opositor da “revolução de 1964 ”,
mas Sarney, ex-governador do Maranhão pela Arena e ex-presi-
dente do PDS. Nascia assim a Nova República, marcada pela influ
ência no Congresso Nacional e no governo federal de políticos que
deram apoio ao Regime Militar.98 Diferentemente do Pará, que a
partir de 1983, ao assumir Jader Barbalho o mandato de governa
dor, abria-se a um novo período político, agora sob a supremacia
das lideranças do novo partido no poder (PMDB), que representa
va, em certo modo, o retorno de pessoas vinculadas ao PSD ao
controle do Executivo estadual, e que assumiram a responsabilida
de de governar com um discurso de oposição às práticas políticas
da extinta Arena e aos projetos económicos implementados na Ama
zónia Legal pela Administração Federal a partir de 1966.
No dia 28 de fevereiro de 1986, o presidente José Sarney
apresentou ao país o Plano Cruzado, no qual, entre outras medi
162
das económicas direcionadas a controlar a inflação e promover o
crescimento económico, a nova moeda passava a ter três zeros a
menos (1.000 por 1) que o cruzeiro, foram congelados os preços
e a taxa de câmbio por prazo indeterminado e os aluguéis por um
ano. Também foi de grande impacto popular o reajuste do salário
mínimo pelo valor médio da inflação dos últimos seis meses, mais
um incremento de 8 % ": “Quando em novembro se realizaram as
eleições, o Plano Cruzado já fracassara, mas ainda não era percep
tível para o grande público”.'00 O PMDB elegeu todos os governa
dores menos em Sergipe, obteve 261 cadeiras na Câmara Federal
de um total de 487, o PFL, 116; 38 das 49 vagas no Senado.'01
No Pará, o PMDB, PDS, PTB, PCB e PCdoB, formaram
a coligaçãç Movimento Democrático Paraense (MDP), tendo Hélio
Gueiros como candidato a governador e Jarbas Passarinho (PDS)
e Almir Gabriel como candidatos ao Senado.102 A Aliança entre o
PMDB e o PDS foi a principal responsável pela grande diferença
de votos que obteve Hélio Gueiros sobre os outros candidatos e pela
eleição dos candidatos do MDP ao Senado,10'3 sendo o principal
derrotado o ex-governador Alacid da Silva Nunes. O PMDB elegeu
13 deputados federais contra 2 do PDS e PFL, respectivamente. O
PMDB obteve a maioria absoluta na Assembléia Legislativa, ele
gendo 26 dos 41 deputados estaduais. Seis elegeu o PDS, cinco o
PFL, dois o PT e um o PDT e o PMB.104 Aprovada a nova Consti
tuição Federal em 1988,105 realizadas, nesse mesmo ano, as elei
ções municipais em todos os municípios do país e com o retorno,
em 1989, à escolha por sufrágio direto e universal do presidente da
República, concluía-se o processo de transição política à democra
cia no Brasil.
163
no de José Sarney, foi a decisão dos eleitores ao escolher os candi
datos que disputariapi o 2o turno das eleições para presidente da
República em 1989: Fernando Collor de Mello e Luís Inácio Lula
da Silva.106 Collor de Mello, eleito governador de Alagoas pelo
PMDB em 1986, tentando não ser identificado como “candidato
continuista” fundou o Partido da Reconstrução Nacional (PRN) e
centrou sua estratégia eleitoral numa feroz crítica a Sarney e à
“classe política”, aliada a lemas “modernizantes” e propostas
neoliberais, apresentando-se como defensor dos interesses dos
“descamisados” . Em apoio à candidatura de Lula, o PT, PSB e
PCdoB constituíram, em 1989, a Frente Brasil Popular (FBP).
No 2o turno também apoiaram Lula o PDT, o PV, o PCB, e, à
última hora, parte das lideranças do PSDB. Leonel Brizola e Roberto
Freire (candidato do PCB) conseguiram com grande êxito transfe
rir para Lula os votos que obtiveram no Io turno, o que não aconte
ceu com o mesmo sucesso entre os votantes de Mário Covas. Ape
sar da diferença de 9 milhões de votos em favor de Collor no Io
turno, os dois candidatos chegaram à última semana da campanha
eleitoral tecnicamente empatados nas pesquisas de opinião.
Tabela 20
Resultados no 2 o turno das eleições presidenciais de 1989
Collor %* Lula %*
Fonte: TSE.
* Porcentagens relativas aos votos válidos.
164
Luís Inácio Lula da Silva venceu na Região Sul e em 13
l<\s capitais; Collor, nas outras regiões e capitais, entre elas São
I ’aulo e todas as da Região Norte. Na totalização dos votos das 27
apitais, Lula superou a Fernando Collor de Mello por mais de 2
milhões de votos, mas o candidato do PRN ultrapassou em cerca
>le 6 milhões os votos obtidos por Lula nos municípios restantes.107
<íurupá foi o único município paraense onde Lula superou Collor
no Io e 2 o turnos (no Io, também em Limoeiro do Ajuru). Na
Região Metropolitana de Belém (Belém, Ananindeua e Benevides),
Lula obteve 38,6% dos votos válidos. A capital paraense foi onde
<\ candidatura petista mais cresceu entre o Io e o 2o turno, parti
cularmente nos bairros de São Brás (47,0%) e Umarizal (45,0%).
Na maioria, dos outros municípios o incremento do número de
votos foi menor. Lula teve melhores resultados em relação ao Io
turno em 96 dos municípios e perdeu alguns votos em outros 10,
entre eles, curiosamente, Gurupá e Limoeiro do Ajuru.108 Parte
da responsabilidade pela grande diferença de votos favoráveis a
Collor no Pará deve-se ao engajamento, sobretudo no 2o turno,
de algumas das principais lideranças políticas paraenses em favor
do candidato do PRN, entre elas o governador Hélio Gueiros e o
prefeito de Belém, Sahid Xerfan. Jader Barbalho, ainda que não
fizesse público seu apoio a Collor de Mello no 2 o turno, “liberou”
os membros do PMDB e as lideranças políticas dos municípios do
interior e de Belém a ele vinculadas para fazer campanha em
favor de Collor.
165
j<feranças do PMDB orienta
ram sua ação política na defesa dos interesses estabelecidos, isto é,
os das classes dominantes, do que a melhorar as condições de vida
das classes ou setores populares paraenses. Antes das eleições de
1982, inclusive porque na Arena se abrigavam as elites económicas
paraenses, segundo Atanagildo de Deus Matos ( “Gatão”): “Onde
tinha PMDB no interior não era representante da burguesia, eram
na sua grande maioria trabalhadores. Por exemplo, em Oeiras,
era só trabalhador rural os que criaram o MDB”.
A preponderância político-eleitoral do PMDB no Pará in
fluiu, como ocorrera anteriormenté no seio do anterior partido no
poder - Arena entre Alacid Nunes e Jarbas Passarinho, para
que a principal rixa política no Pará, no final dos anos 80, se
estabelecesse entre Jader Barbalho e Hélio Gueiros. Gueiros per
deu para Jader a disputa pelo controle do PMDB, disputa que iria
definir, entre outras questões, quem seria o candidato do partido
ao Executivo estadual em 1990. Depois disso,’Hélio Gueiros, para
evitar que Jader obtivesse nova vitória nas eleições de 1990, deu
suporte à candidatura do comerciante e ex-prefeito de Belém,
Sahid Xerfan (PTB) a governador, com a pretensão de derrotar
Jader Barbalho nas urnas, objetivo que quase foi atingido, pois foi
por escassos 7.300 votos que Jader venceu o segundo turno das
eleições.109 Essa diferença foi obtida graças à soma total dos votos
dos eleitores dos municípios do interior que compensaram, em
ambos os turnos, a vitória de Xerfan em Belém.110
Os frutos da experiência da Frente Brasil Popular no Esta
do do Pará em favor da candidatura de Lula à presidência da
República em 1989 vieram poucos meses depois, com a formação
da coligação Frente Popular Novo Pará (FPNP) para as eleições
de 1990. Tratava-se de uma coligação de partidos de centro-
esquerda e esquerda, PSDB, PT, PSB, PDT, PCdoB e PCB, que
apresentaram a candidatura a governador de Almir Gabriel, se
nador e, desde 1988, principal liderança do PSDB no Pará, e
para senador, o deputado federal Ademir Andrade (PSB). Ambos
teriam que esperar as eleições de 1994 para conseguir esses man-
166
datos, com alianças pessoais è'partidárias e discursos bastante dife
rentes daqueles que alimentaram suas campanhas em 1990. Assim
é que, no Protocolo Político assinado pelos representantes dos par
tidos que integrariam a Frente Popular Novo Pará, pode-se ler:
1 -7
Poucos meses depois de assumir o mandato, já tinha o apoio de 17
deputados estaduais e *de 29 quando deixou o cargo, em abril de
1994. Referindo-se a este fenómeno, o jornalista Lúcio Flávio Pin
to escreveu em 1992:
ppl
353, Belém, 2 8 /0 1 /9 3 ; O Liberal, 1 4 /1 0 /9 4 ; e Diário Oficial Assembléia Legislativa, n° 630, Belém, 20-
(O
o i o
-o 1 1 1 1
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CX
'2
Represeatação partidária na Assembléia Legislativa paraense
cn > 1 • •— • • £
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* O PPR, que depois transformou-se em PPB, nasceu da fusão do PDS com o PDC.
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Tabela 21
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27 de junho de 1997.
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As escassas chances de derrotar Lula que as pesquisas de
opinião apontavam aos candidatos do PMDB, PPR, e PFL (para
citar apenas os partidos que contavam com maior representação
no Congresso Nacional), favoreceram a “costura” da candidatura
do sociólogo, senador, ex-ministro de Relações Exteriores e então
ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, no sentido de
aglutinar os setores políticos de centro e de direita. Líderes do
PSDB, entre eles o próprio Fernando Henrique, já haviam tenta
do se promover eleitoralmente participando do governo presidido
por Collor. A oposição de setores do partido, sobretudo do setor
liderado por Mário Covas, impediu, então, sua participação no
governo federal, mas o impeachment de Collor facilitou-lhes esse
caminho."9. Enquanto os partidos que apoiaram Lula eram todos
do arco político da esquerda (PT, PSB, PCdoB, PPS, PCB,
PSTU e PV), em torno Fernando Henrique Cardoso reuniu-se o
bloco de forças políticas e económicas que Collor gostaria de ter
tido a seu lado no primeiro turno das eleições (1989). Aliaram-se
ao PSDB o PTB e o permanente “partido no governo”, o PFL,
que indicou o candidato à vice-presidência, e, posteriormente, ou
tros partidos de direita sem candidato.
A campanha foi sustentada pelos principais grupos econó
micos e financeiros e meios de comunicação, a máquina político-
administrativa do governo federal, por muitos dos governadores e
prefeitos e pela maioria dos candidatos aos cargos majoritários
nos diversos estados. Polarizando-se a disputa entre Lula e Fernando
Henrique, o Io turno adquiriu características de 2 o turno. Assim,
apesar de Lula haver tido cerca de 5 milhões e meio de votos a
mais que os obtidos no Io turno das eleições de 1989, Fernando
Henrique venceu já em 3 de outubro. Ao menor número de candi
datos (8 em 1994, enquanto em 1989 eram 22), somou-se o
escasso número de votos recebidos (também em comparação a
1989) pelos outros contendores. O candidato da coligação PSDB-
PFL foi o mais votado em todos os Estados e capitais, à exceção
do Rio Grande do Sul (e também na capital, Porto Alegre), Dis
trito Federal (Brasília), Belém (Pará), São Luís (Maranhão),
Teresina (Piauí), Aracaju (Sergipe) e Salvador (Bahia), onde Lula
foi o mais votado.120 »
Os resultados eleitorais na capital do Pará, sem esquecer
que nesse estado Lula venceu somente em outros dois municípios
(Ananindeua e Gurupá), parecem contradizer as avaliações de “bom
senso”. Da coligação liderada pelo PT no Pará somente participa
vam o PSTU e o PV, e seus candidatos a governador e senador
não pareciam ter qualquer possibilidade de serem eleitos - no
caso do candidato a governador, nem mesmo de ir para o segundo
turno. Assim, a candidatura de Lula, como aconteceu em quase
todos os estados, foi a que favoreceu as candidaturas ao governo
estadual e ao Senado dos partidos que apoiavam a Lula, não
desmerecendo a crescente projeção política das lideranças dos
partidos de esquerda no Pará.
A disputa pelo governo estadual entre Jarbas Passarinho
e Almir Gabriel foi alimentada, como assinalamos, pela rixa
existente entre Jader Barbalho e o então prefeito de Belém,
Hélio Gueiros, apoiando cada um deles um dos candidatos. Des
se modo, com a maioria da classe política paraense e dos meios
de comunicação de massa dividida no pleito eleitoral em dois
blocos (os partidários de Jader/Jarbas ou de Gueiros/Almir),
influiu para que as eleições presidenciais ficassem, no Pará, em
segundo plano. Por motivos de estratégia eleitoral, ataques fei
tos a Lula e ao PT na mídia e pelos líderes das coligações que
apoiavam Passarinho ou Almir foram pouco virulentos, em com
paração com o ocorrido em alguns outros estados. Enquanto
Jarbas Passarinho esperava que o PT se mantivesse neutro no
2 o turno das eleições para governador e apoiava timidamente o
candidato do seu partido à presidência da República (Esperidão
Amin), Almir Gabriel contava com o apoio dos petistas no 2 o
turno, não se envolvendo, por isso, decididamente na candidatu
ra de Fernando Henrique - aliás, da coligação que dava susten
tação a Almir participavam partidos que apoiavam a Lula.
172
Tabela 22
Candidatos com maior número de votos
nas eleições presidenciais de 1994
FHC %* Lula %*
Fonte: TSE.
*Porcentagens relativas aos votos válidos
173
gens, objetivos, interesses, idéias ou vinculações. Isto
ocorre igualmente no Pará, onde eles nascem, progri
dem ou se estiolam dependendo umbilicalmente de de
terminadas lideranças pessoais. ” 121
174
quando se produziu a cisão no partido, chefiada por Lauro Sodré,
da qual veio a surgir, em 1897, a seção paraense do Partido
Republicano Federal (PRF). A supremacia dos lauristas consoli
dou-se durante o segundo mandato de Sodré (1917-1921) e es-
tendeu-se até 1930, período em que se ampliou o número de
propriedades latifundiárias rib Pará, enquanto se acentuou, como
vimos acima, a crise dos setores económ icos vinculados à
comercialização de borracha.
Ao dizer que as lideranças políticas que assumiram as prin
cipais responsabilidades de governo no Pará até meados dos anos
1990, fossem as classificadas ou autodefinidas como conservado
ras, de centro, progressistas ou de centro-esquerda, acabaram
por representar os interesses de determinados setores das classes
dominantes do país e do Pará, é importante assinalar que a iden
tificação com esses setores não foi automática, nem representa a
defesa dos interesses da “sua classe social ”, pois, em geral, as
origens sociais da maioria das elites políticas paraenses, desde a
proclamação da República até hoje, poderiam ser definidas como
de classe média. Certamente, para muitos deles, a própria “car
reira política” (fossem eles, antes de assumir responsabilidades
relevantes de governo, membros do Exército ou desempenhassem
profissões ditas liberais, como médicos, advogados, professores
universitários etc.), converter-se-ia no principal mecanismo para
ascender socialmente e tornar-se, alguns deles, parte da elite eco
nómica. Essas reflexões poderiam ser, em parte, também perti
nentes a respeito de alguns militantes dos partidos de esquerda no
Pará, por exemplo deputados federais, deputados estaduais, vere
adores e prefeitos do PT, cujas origens sociais poderiam ser defi
nidas de “classe baixa” e que assumiram um papel relevante no
cenário político estadual como lideranças dos trabalhadores ru
rais, sindicatos urbanos e movimentos sociais, para os quais a
“carreira política” também serviu para que hoje possam ser clas
sificados dentro dos setores de classe média.
Notas
178
32 José Queiroz Carneiro, op. cit., p. II.
33 Aurélio do Carmo, advogado, tinha sido chefe de polícia no Governo de Maga
lhães Barata e, em 1960, foi eleito Secretário Geral do PSD.
34 Na recontagem final dos votos, Aurélio do Carmo teve 118.129 votos, Aldebaro
Klautau, 5 4 .2 3 5 e Zacarias de Assumpção, 4 4 .1 5 2 (Cf. O Liberal, “A Política e
as eleições", op. cit., p. 9).
35 Mais da metade dos 600 dirigentes do partido no Pará eram comerciantes
(328), 78 advogados, 41 estudantes universitários, 51 dentistas, 37 agricultores,
33 operários, 11 pescadores, 9 lavradores, 8 militares (Cf. José Queiroz Carneiro,
op. cit., p. 53).
3(i Amrlcar Tupiassu, "\s eleições paraenses de 1 9 6 6 ”, 1968, p. 29.
37 Cf. Jarbas Passarinho, Memórias — Na Planície, 1991, p. 85; e depoimento
ao autor de Raimundo Jinkings (Belém 1 5 /1 2 /9 2 ).
38 A entrevista com o dirigente do PCB no Pará, Raimundo Jinkings, falecido no
dia 5 de outubro de 1995, foi realizada em Belém no dia 15 de dezembro de
1992. Legalizado em setembro de 1945, o PCB voltou à clandestinidade em
1948 ao ser cancelado seu registro pelo Tribunal Superior Eleitoral (7 de maio
de 1947) e cassado, pelo Congresso Nacional, em janeiro, de 1948, o mandato
de todos os seus militantes eleitos nas candidaturas do partido entre 1945 e
1947, entre eles o deputado estadual paraense, Henrique Felipe Santiago, e seus
respectivos suplentes. Contudo, embora não tivesse conseguido sua legalização, o
PCB exerceu considerável influência na política nacional até o golpe de estado de
1964, especialmente por meio da atuação de muitos dos seus membros, engajados
nos sindicatos urbanos e rurais, no movimento estudantil e no meio intelectual e
artístico. Nesses anos os militantes ou simpatizantes do PCB candidatavam-se a
cargos políticos pelo PTB òu pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB). A respeito
do PCB e de outros partidos da esquerda brasileira que tinham presença no Pará
nos anos 60 e até finais dos anos 70, ver Pere Petit, A Esperança Equilibrista,
op. cit., páginas 30-33 e 46-49.
351 Cf. Jarbas Passarinho, op. cit., p. 105.
40 Amílcar Tupiassu, “As eleições paraenses de 1966", 1968, p. 31.
41 Jarbas Passarinho, op. cit., p. 105-106.
42 Cf. A Província do Pará, Belém, 1 5 /0 4 /6 4 .
43 Cf. .4 Província do Pará, Belém, 0 4 /0 4 /6 4 .
44 Cf. Depoimento de Raimundo Jinkings. Para conhecer o número de sindicatos
que sofreram intervenção nas diferentes regiões do país após o golpe de estado,
ver Cândido Procópio Ferreira de Camargo et al., São Paulo 75: Crescimento e
Pobreza, 1976, p. 131.
45 Cf. depoimento de Raimundo Jinkings ao autor (Belém, 1 5/,12 /92 ); Jornal do
Dia e O Liberal, Belém, 1 0 /0 4 /6 4 ; e Jarbas Passarinho, op. cit., p. 106-107.
46 Idesp, “Um balanço da violência no campo” , 1990, p.57.
1 *7A
47 Cf. “Relatório da Comissão de Investigação ”, A Província do Pará, Belém,
1 8 /0 6 / 6 4
48 Idem, ibidem.
40 Cf. “Dez paraenses na lista de ontem de cassação de mandatos e direitos", A
Província do Pará, Belém, 1 0 /0 6 /6 4 .
50 Idem, ibidem.
51 Jarbas Passarinho, op. cit., p. 111.
52 Idem.
Cf. A Província do Pará, Belém, 0 2 /0 6 /6 4 .
54 Cf. idem, 0 5 /0 3 /6 4 .
55 Cf. Amílcar Tupiassu, “As eleições paraenses de 196 6 ” , 1968, p. 32.
sb q “Relatório de Investigação Sumária”, A Província do Pará, Belém, 1 8 /0 6 /6 4 .
57 Jarbas Passarinho, op. cit., p. 1 14 e 118.
58 Alacid da Silva Nunes nasceu em Belém no dia 25 de novembro de 1924.
Hoje tenenente-coronel na reserva, ingressou na Academia Militar das Agulhas
Negras (Rio de Janeiro) em 1946. Em 1960 foi Secretário de Segurança do
Território Federal do Amapá e, em 1961, governador interino do Amapá. Após a
renúncia de Jânio Quadros retornou à vida militar. Em 1974 foi eleito deputado
federal pela Arena, assumindo seu segundo mandato como governador do Pará
em 1979. Em 1990 foi novamente eleito deputado federal, agora pelo PFL. Em
1994 não conseguiu se reeleger deputado e, em abril de 1998, abandonou o
PFL sem filiar-se a qualquer outro partido.
50 Cf. “A Província do Pará”, Belém, 0 2 /1 0 /6 5 .
h0 Cf. Amílcar Alves Tupiassu, “As eleições paraenses de 1 9 6 6 ”, 1968, p. 38; e O
Liberal, “A política e as eleições” , op. cit., p. 7.
61 O presidente da República seria eleito de maneira indireta pelo Congresso
Nacional por maioria absoluta dos seus membros em sessão pública e votação
nominal. Na Constituição de 1967 foi mantida a eleição indireta do presidente da
República que passaria a ser eleito por um Colégio Eleitoral integrado pelos mem
bros do Congresso - senadores e deputados federais - e um igual número de
representantes por cada uma das Assembléias Estaduais, sistema que permaneceu
vigente até 1985.
62 Humberto de Alencar Castelo Branco, Mensagem ao Congresso Nacional do
Presidente da República Castelo Branco, 1966, p. 5-7.
8,3 Cf. Amílcar Tupiassu, “As eleições paraenses de 1 96 6 ” , 1968, p. 38.
64 Nas eleições de 1962, o eleitorado paraense somava 4 2 1 .5 3 1 pessoas,
4 2 0 .5 8 6 nas de 1965 e 4 7 8 .6 8 3 em 1966 (2,2% do total de eleitores brasilei
ros). Em 1966, o Pará estava subdivido em 83 municípios agrupados em 12
Zonas Fisiográficas. Quase 5 0% dos eleitores residiam na Zona Bragantina, na
qual estava inserida o município de Belém, que somava, nesse mesmo ano,
164.765 eleitores, isto é, 34,8% do colégio eleitoral do Pará (Cf. dados extraídos
de Amílcar Alves Tupiassu, As Eleições Paraenses de 1966”, 1968, p. 25 e 42).
r"~ Idem, ibidem, p. 62.
66 Embora, no período de 1968 a 1973, o Produto Interno Bruto (PIB) tivesse
tido um crescimento com média anual de 11 % (14% em 1973), seus frutos não
foram igualmente distribuídos. Em 1960, 5% da população mais rica dispunha
de 2 7,3 % da renda per capita nacional; dez anos depois contava com 3 6,3 % . Já
a renda de 80% da população diminuía, no mesmo período, de 45,5% para 36,2%
(Cf. Jean Pierre Lerroy, Uma chanfa na Amazónia, 1991, p. 46; e Werner Baer, A
industrialização e o desenvolvimento económico do Brasil, 1977, p. 253).
07 Cf. Maria Helena Moreira Alves, Estado e Oposição no Brasil, (1964-1984 ),
1985, p. 189; e Luiz Navarro de Britto, "As eleições de 1978 e seus resultados” ,
1979, p. 17.
68 Apud Francisco Sales Cartaxo Rolim, Política nos Currais, 1979, p. 5.
™ O segundo senador era eleito indiretamente pelo Colégio Eleitoral Estadual.
7HCf. Luiz Navarro de Britto, op. cit., p. 27.
71 Francisco Sales Cartaxo Rolim, op. cit., p. 22 e 171-172.
72 Cf. Gerson Peres, A Vitória de todos nós, 1977, p. 64-65. Dos doze prefeitos
eleitos pelo MDB em 1972, um ano depois quatro filiaram-se à Arena. Foram os
prefeitos de Castanhal, Chaves, Bonito e Santa Maria do Pará (Idem, ibidem, p.
71-73).
73 Através do Ato Institucional n° 3 (1966), foi estabelecida a possibilidade de que
os partidos pudessem apresentar até três candidatos (sublegenda) para o mandato
de prefeito e para cada uma das vagas ao Senado Federal em disputa.
74 Cf. idem, ibidem, p. 99 e 183. Como assinalara Rolim: “No atual cenário político
nacional, caracterizado pelo bipartidarismo, pelo controle dos Executivos estaduais
pelo Poder Central, através dos mecanismos conhecidos de indicação e escolha dos
Governadores, a tendência óbvía é a do engrossamento das hostes arenistas, mercê
da transferência de Prefeitos e Vereadores do MDB para a Arena” (Francisco Sales
Cartaxo Rolim, op. cit., p. 24). Em 1972, a Arena tinha organizado seu Diretório
Municipal em 75 dos 83 municípios do Pará e o MDB em 53. Em 1976, apenas
no município de Aveiro a Arena não tinha Diretório Municipal, mantendo-se o
MDB com o mesmo número (Cf. Gerson Peres, op. cit., p. 75-81).
75 Gerson Peres, op. cit., p. 10.
78 Cf. idem, p. 12 e 64-65.
77 Cf. idem, p.249-253, 2 65 e 271. Nestas eleições a diferença de votos entre o
MDB e a Arena na capital do Pará nas candidaturas para deputado estadual foi
mais significativa: MDB, 124.499 votos contra 8 1 .5 1 8 votos obtidos pelos candi
datos da Arena (Idem, Anexo III, p. 65).
78 Dos 8 deputados federais eleitos pela ARENA em 1966, 2 estiveram filiados à
UDN, 2 ao PTB, 1 ao PSD, 1 ao PDC, e 1 ao PL (1 sem vinculaçãp definida com
anterioridade à criação da Arena e do MDB). Os 2 do MDB, Hélio Gueiros e João
Menezes, foram lideranças do PSD (Cf. Amílcar Alves Tupiassu, “As eleições
paraenses de 1 9 6 6 ” , 1968, p. 46).
79 Em 1970, o total de eleitores do Pará era de 5 9 6 .8 3 8 , 7 5 3 .3 9 9 em
1974 e 9 5 2 .2 3 9 dois anos depois, correspondendo, então, ao Pará, segun
do a Emenda n° 1 /7 7 , três (3) deputados federais e mais um (1) por cada
cem mil eleitores.
80 Ver, sobre este assunto, Luiz Navarro de Britto, op. cit., p. 18-21.
81 Jarbas Passarinho, op. cit., p. 154-155.
82 O Liberai, apud FASE, O Contexto Sócio-Econômico e Político de Belém,
s.d., p. 12.
8,1Ver, a esse respeito, Alacid Nunes, Mensagem à Assembléia Legislativa — 15 de
Julho de 1967 — ; Fernando Guilhon, Mensagem do Governador à Assembléia
Legislativa do Pará — 31 de Março de 1971.
84 Em 1967, quatro militares participavam do primeiro escalão do Governo de
Aloysio Chaves, assumindo as responsabilidades de Chefe do Gabinete Militar, S e
cretaria de Estado de Segurança Pública, Instituto de Terras do Pará (Iterpa) e
Diretor-Presidente da Cia. Paraense de Abastecimento (Dados levantados em Aloysio
Chaves, Mensagem â Assembléia Legislativa do Pará — 31 de Março de 1967).
85 Cf. entrevista de Jarbas Passarinho concedida a Carlos Rocque, para O Liberal;
apud. FASE, op. cit., p. 12.
Wi FASE, História das Lutas da CBB, s.d., p. 32.
87 Cf. Observador Amazônico, “Editorial ”, Ano 4, n. 30, Belém, s.d., p. 5.
88 As eleições municipais previstas para 1980 foram adiadas para 1982, sendo
prorrogados os mandatos dos prefeitos e vereadores eleitos em 1976.
89 Cf. Jean Pierre Lerroy, op. cit., p. 86; e “3 0 anos depois", Folha de S. Paulo,
caderno especial, 2 7 /3 /9 4 , p. 2.
90 O advogado Jader Fontenelle Barbalho, filho do deputado estadual do PSD e
MDB, Laércio Barbalho, nasceu a 2 7 de outubro de 1944, em Belém. Sendo uma
das principais lideranças dos estudantes secundaristas de Belém antes do golpe de
estado de 1964, em 1966 Jader Barbalho foi eleito vereador de Belém. Em 1971
foi eleito deputado estadual e, em 1974, deputado federal, reeleito em 1978.
Sempre pela legenda do MDB. Em 1988 assumiu o Ministério da Reforma Agrá
ria, sendo reeleito governador do Pará em 1990. Nas eleições de 1994 foi eleito
senador.
91 Cf. Diário do Pará, Belém, 2 9 /1 0 /8 2 .
92 Segundo diferentes fontes, no acordo estabelecido entre Alacid Nunes e Jader
Barbalho previa-se o apoio deste a Alacid Nunes para o cargo de governador nas
eleições de 1986. Compromisso que, como veremos, não foi respeitado, diferente
mente da participação no Governo de Jader de pessoas vinculadas a Alacid, confor
me se pode verificar quando se sabe que 10 dos 40 cargos de responsabilidade do
primeiro governo de Jader Barbalho foram assumidos por pessoas que participa
ram do último governo de Alacid Nunes.
93 A entrevista com “Gatão” foi realizada, em Belém, no dia 10 de setembro de
1993.
1Cf. Diário do Pará, Belém, 2 9 /1 0 /8 2 .
Cf. David Fleischer (org.), Da distensão à abertura: as eleições de 1982, 1988,
,) 19, 80-81 e 244. As percentagens dos votos obtidos pelos diferentes candida-
•os a governador nos diferentes estados podem ser consultadas em Rachel
Meneguello, PT: A Formação de um Partido (1979-1982), 1989, p. 124.
Jader Barbalho teve 5 0 1 .6 0 5 votos (46,1% ); Oziel Carneiro (PDS), 4 6 1 .9 6 9
\otos (42,5% ); e Hélio Dourado (PT|, 1 1.010 (Cf. Tribunal Regional Eleitoral/
FRE e Rachel Meneguello, op. cit., p. 124).
'* Todos os deputados federais da oposição votaram a favor da emenda, 55
deputados do PDS votaram a favor, 65 contra e 112 não compareceram à vota-
ção (Cf. Bolívar Lamounier e Rachel Meneguello, Partidos Políticos e Consolida
ção Democrática: O Caso Brasileiro, 1986, tabela 5, p. 125).
O PT foi o único partido que se negou a participar da votação no Colégio
Eleitoral por considerar que isso traía a mobilização pelas Diretas Já. Alguns
deputados federais do P T decidiram participar da votação no Colégio Eleitoral.
Foram afastados da bancada petista e acabaram abandonando o partido.
99 Cf. Boris Fausto, "Completa-se aTransição: O Governo Sarney (1 9 8 5 -1 9 8 9 )” ,
1996, p. 522.
100 Idem, ibidem, p. 523.
101 Idem, p. 524.
i0g Q- “Coligação para fortalecer o Pará”, Pará Hoje, Belém, ano III, n° 3, p. 13.
103 Hélio Gueiros, obteve o voto de 7 0 7 .5 3 6 eleitores; Carlos Nascimento Levy,
186.053; João de Paiva Menezes. 139.724; e Mário Nazareno Noronha, 5 7 .5 7 6
(Cf. Idesp, Informações Políticas e Sócio-Econômicas dos Municípios Paraenses,
1987, p. 412).
104 Cf. idem, ibidem, p. 411; e O Liberal, Belém, 2 0 /1 2 /8 6 .
105 Os 16 deputados federais do P T se abstiveram de participar da votação no
Congresso Nacional que aprovou a nova Constituição com o forma de mostrar
o seu desacordo em relação a alguns dos resultados finais nela consagrados.
106 Leonel Brizola (PDT), que obteve 1 1 .1 6 8 .2 2 8 de votos (1 5 ,4 % dos vo
tos válidos), Mário Covas (PSDB), com 7 .7 9 0 .3 9 2 (1 0 ,7 % ) e Paulo Maluf
(PDS), com 5 .9 8 6 .5 7 5 (8,2 % ), foram os outros três candidatos mais vota
dos (Cf. dados do Tribunal Superior E leitoral/TSE ).
107 Cf. DESEP-CUT, “As eleições e o governo C ollor” , 1990, p. 10.
los Porcentagens relativas aos votos válidos (Cf. Diretório Regional do PT,
Eleições Presidenciais de 1989 — Mapa Final das Eleições no Estado do
Pará).
io9 q resu]ta.do exato foi de 7 0 8 .7 0 3 votos a favor de Jader e 7 0 1 .4 0 3 para
Xerfan (Cf. Diário Oficial do Estado do Pará, n° 2 6 .8 6 0 , Belém, 0 5 /1 2 / 9 0 ,
P. 11).
1,0 Jader obteve 7 0 8 .7 0 3 votos e Xerfan, 7 0 1 .4 0 3 (Cf. TRE, Diário Oficial
do Estado do Pará, n° 2 6 .8 6 0 , Caderno 2 o, Belém, 0 5 /1 2 / 9 0 , p. 11)
183
1,1 Protocolo Político da Frente Popular Novo Pará: PT, PSDB, PSB, PDT,
PCdoB, e PCB, Belém, mimeo, 7 de maio de 1990, p. 1.
112 Cf. O Liberal, Belém, 2 0 /1 2 / 8 6 e 2 6 /1 1 /9 0 ; e Folha de S. Paulo, 0 4 /
0 2 /9 1 .
113 Recorde superado em 1994 por outra mulher, também candidata à Câmara
Federal, Elcione Zahluth Barbalho (PMDB), então esposa do ex-governador, que
obteve 1 53.906 votos (Cf. O Liberal, Belém, 1 4 /1 0 /9 4 ).
114 Cf. “Eleição; O poder dividido” , Jornal Pessoal, n° 100, Belém, 1992, p. 2.
n ° Hélio Gueiros Júnior, Diário do Abandono: Campanha 1994, 1997, p. 23.
11(1 No Congresso Extraordinário do PCB, realizado em janeiro de 1992, a mai
oria dos seus militantes optou por criar uma nova organização política: Partido
Popular Socialista (PPS). O setor minoritário, que não aprovou a dissolução do
"partidão” , deu continuidade à sigla PCB após um breve período em que utilizou
o nome de Partido Comunista (PC).
1'' O Partido Progressista Reformador (PPR) foi criado em 1993, resultado da
fusão entre o PDS e o PDC (Partido Democrata Cristão, fundado em 1988).
Dois anos depois, o PPR se transformaria em Partido Progressista Brasileiro
(PPB), projeto partidário ao qual se somaram também os integrantes do PP
(Partido Progressista, fundado em 1994, por iniciativa do Partido Trabalhista
Renovador e do Partido Social Trabalhista).
118 E de destacar que no 2 o turno o número de abstenções (44,4% ), votos bran
cos (0,9% ) e nulos (9,2% ) superou 5 0% do total dos eleitores paraenses (Cf. O
Liberal, Belém, 1 4 /1 0 /9 4 ).
119 Dos 17 deputados federais do Pará, somente dois votaram contr.a o
impeachment do presidente Collor, o ex-governador Alacid Nunes (PFL) e Osval
do Melo (PDS) (Cf. “Belém festeja afastamento de Collor” , O Liberal, Belém,
3 0 /0 9 /9 2 ) .
ião Q- folha de S. Paulo, 1 8 /1 0 / 9 4 .
121 Amílcar Tupiassu, “As eleições paraenses de 1 96 2 ” , 1964, p. 50.
122 Guillermo O ’Donnell, “Hiatos, instituições e perspectivas democráticas”, 1988,
p. 82.
,2S Francisco Sales Cartaxo Rolim op. cit., p. 23-24.
Município de Marabá:
oligarquias, fazendeiros, posseiros
e Grandes Projetos
Introdução
1 o -
os chefes do executivo paraènS5^(governadores ou interventores
federais). Tais alianças políticas foram sendo sedimentadas no tra
dicional, mas ainda hoje plenamente vigente, sistema de troca de
favores entre os governadores e os chefes políticos locais, isto é,
através da concessão de cargos e benefícios económicos (terra,
créditos, benefícios fiscais) em troca de apoios políticos (no trans
curso da legislatura), e, quando chegava o tempo da política, dós
votos dos currais eleitorais do interior.
Entre as famílias oligárquicas do Sudeste do Pará que mai
or sucesso tiveram na combinação entre poder económico e políti
co, cabe destacar, a partir da segunda metade dos anos 20, a do
chefe-político do Tocantins, Deodoro Machado de Mendonça e,
posteriormente, a dos Mutran, família que exerceria notável influ
ência económica e política no município de Marabá, sobretudo a
partir da segunda metade dos anos 50 e, especialmente, entre
1988 e 1991. Este foi o momento em que, além de ter sido eleito
deputado estadual, o então chefe da família controlava os três
poderes no município de Marabá: a Prefeitura, a Câmara Munici
pal e o Judiciário. Nos anos seguintes os Mutran perderam todos
esses cargos, resultado de uma ampla coligação de forças políticas,-
religiosas e movimentos sociais do município, como conseqiiência,
além de outros fatores, das reiteradas denúncias de serem mem
bros da família Mutran alguns dos principais instigadores da vio
lência contra os posseiros e suas lideranças sindicais nos municípi
os do Sudeste do Pará.
18fi
confluência dos rios Tocantins e Itacaiúnas, a primeira casa de
comércio que daria origem ao núcleo urbano de Marabá.5 Antes
de optar por construir sua moradia em “Marabá”,6 “attrahido
pelo fascinio dos grandes cauchaes do Itacayuna” ,7 Francisco Co
elho passou alguns meses morando no Burgo Agrícola fundado,
em 189c5, pelo deputado estadual goiano Coronel Carlos Gomes
Leitão que chegou ao território paraense em 1894 fugindo dos
seus inimigos políticos, os seguidores do intendente e chefe político
local de Boa Vista do Tocantins (hoje Tocantinópolis), Francisco
Maciel Perna: “Era a luta dos coronéis na disputa do poder políti
co ”,8 que ficou conhecida como a Guerra de Boa Vista.9 Carlos
Leitão, acompanhado da sua família e de alguns dos seus partidá
rios, desceu pelo rio Tocantins e, após cinco dias de viagem, che
gou à cidade de São João do Araguaia, colónia militar fundada
em 18c50 pelo governo da Província do Pará. Abasteceu-se de
provisões, prosseguiu viagem e, finalmente...
187
que saíram do Burgo do Itacaiúnas, em dezembro de 1895, à
procura dos campos geraes do Xingu, os quais seriam utilizados
para a criação de gado. Ainda assim, todas as fontes consultadas
coincidem em afirmar que foi produto casual dessa expedição o
fato de o Sudeste do Pará ter-se incorporado, em fins do século
XIX, à extração do “ouro branco ”.
188
Araguaia foi anexado ao de Marabá e, um ano depois, a vila de
Marabá seria elevada à categoria de cidade.17 A população da
cidade de Marabá foi estimada, em 1923, em cerca de 3 mil
habitantes, e a do município (incluídos os habitantes do então ex
tinto município de São João do Araguaia), em 6 .8 2 2 .18 Em 1926,
no decurso de uma das periódicas*enchentes que desde 1906 tinha
alagado em intervalos de vários anos as ruas e casas do hoje deno
minado bairro da Marabá Pioneira,19 a população diminuiu para
cerca de 2 mil habitantes, aproximadamente a mesma de 1922.20
Tabela 23
Município de Marabá
produção de caucho e castanha: 1913-1926
Caucho Castanha Caucho Castanha
Ano Ano
(toneladas) (hectolitros) (toneladas) (hectolitros)
1 r\crt
Até os primeiros anos da década de 20, “dominou na região
de Marabá de modo praticamente absoluto o sistema dos castanhais
livres, numa quase continuidade, do ponto de vista sociológico e ao
nível da produção, com o sistema de exploração da borracha nessa
região”,32 mas, a partir de 1924, o governo do Pará passou a
arrendar terras de castanhais aos interessados na coleta da casta
nha. Arrendamento outorgado a particulares e firmas comerciais
apenas para os meses da safra, que poderia ser renovado, para o
mesmo período, nos anos subsequentes. Em Marabá, por decisão
formal do governo estadual, competia ao intendente municipal, na
época João Anastácio de Queiroz, definir a área, preço e número de
castanhais a serem concedidos, em lotes, aos diferentes interessados.
194
União Popular.42 É de se destacar, nesse mesmo contexto político,
a atuação em Marabá da firma A. Borges & CIA cujos sócios se
aliaram a membros do Partido Liberal no município, contribuin
do, assim, para o enfraquecimento económico e político de Deodoro
de Mendonça e das pessoas que continuaram a ele ligadas.43
A mudança de governo em 1935, após ser eleito José Malcher
governador, significou uma nova reviravolta política das pessoas e
grupos económicos vinculados à comercialização da castanha. Em
1937, após o golpe de estado liderado por Getúlio Vargas que
instauraria o Estado Novo, o deputado federal Deodoro de Men
donça retorna a Belém, reassumindo seu papel preponderante na
política estadual, novamente como Secretário Geral do Governo, e
no contexto político-económico dos municípios do Sudeste do Pará.
Nos anos 40, Deodoro de Mendonça continuava sendo a pessoa que
maior número de terras de castanhais controlava nessa região. O
retorno, em 1943, de Magalhães Barata ao Pará, novamente como
interventor federal, significaria um novo afastamento de Deodoro
de Mendonça do governo paraense. Após o fim do Estado Novo
(1937-1945), Deodoro, sempre inserido em partidos que faziam
oposição a Barata, continuaria ativo no cenário político regional e
nacional, agora, sobretudo, como deputado federal.44 Referindo-se
a D eodoro de M endonça, o escritor, jornalista e também
antibaratista, Ricardo Borges, escreve em Vultos Notáveis do Pará:
195
Nas eleições de 1950, o líder do PSP, Deodoro de Men
donça, fez parte da Coligação Democrática Paraense, que ajuda
ria a eleger Zacarias de Assumpção governador do Pará, candi
datura que também contou no Sudeste do Pará com o apoio do
comerciante Nagib Mutran.46 Esta opção política de Nagib facili
taria a posterior emergência dos Mutran como principal família
oligárquica do Sudeste do Pará. Os Mutran, comerciantes de
origem sírio-libanesa que residiam no município de Grajaú
(Maranhão), foram instalando-se na cidade de Marabá durante a
segunda metade dos anos 20.
196
dos castanhais foi através do sistema de arrendamento. Em fins
de 1954, o governo de Zacarias de Assunção, daria prioridade à
concessão de títulos de terra através do sistema de aforamento ou
enfiteuses (lei estadual n° 913), instituindo, assim, “o direito de
uso da propriedade em perpetuidade aos beneficiários, em troca
de um pagamento fixo e Anual para o Estado”.49 Favorecendo o
governo estadual, na concessão de títulos de aforamento, as pes
soas que anteriormente tivessem arrendado o castanhal pretendi
do, não é difícil imaginar que as principais beneficiadas fossem as
famílias que possuíam um maior número de áreas de castanhais
sob o sistema de arrendamento, por exemplo, os Mutran.'50
Em 1959, segundo dados do governo estadual, dos 137.756
hectolitros de castanha produzida no Pará, 2 5 .619,5 hectolitros
foram recolhidos em terras de propriedade privada, 9.048 em ter
ras arrendadas, 35.143 em terras aforadas e 67.585 em terras do
Estado. No município de Marabá foram produzidos, nesse mesmo
ano, 88.996,6 hectolitros (64,6% do total), sendo que 19.052,5
hectolitros em terras privadas, 7.850 em terras arrendadas, 29.752
em terras aforadas e 32.341 em terras do Estado”.51
2. O “mundo da política”
197
co do partido [PSD] [...] o Carneiro [...]. Os Mutran
pertenciam à UDN e o partido do Barata era o PSD
[...]. Então tinha essa coisa, a gente avisava o seguin
te, que a UDN nunca serviu no Brasil, porque ela era,
assim, digamos assim, um partido da elite, sabe como
é ? ; e o PSD era tido como um partido dos pés raspa-
dos [...], pelo povo [...]. [Em Marabá] sempre teve
[maior influência] o PSD, mas quando foi 58 [...] Nagib
Mutran foi eleito [...]. Por sinal, ele fez um governo
até bom, não pode negar aqui. Foi ele que trouxe de
Belém [...], trator [...], trouxe carro, caçamba, trou
xe Jipe.” (Depoimento de Otaviano Alves de Souza)
198
Passarinho e Alacid Nunes. Em Marabá, a rixa deu-se, principal
mente, entre os Mutran, os Marinho e os membros da família de
Osório Pinheiro, fazendeiro e exportador de castanha, “tido como
uma das maiores fortuna individuais da região tocantina”.58
1 QQ
Marabá em julho de 1946, foi eleito deputado estadual em 1974,
sendo reeleito, em 1978,*graças aos 7.471 votos obtidos nos muni
cípios de Marabá, Itupiranga, Jacundá e Tucuruí.61 Aziz Mutran
Neto (Arena), diretor da Associação dos Exportadores de Castanha
do Brasil, nascido em Marabá a Io de agosto de 1929, também foi
eleito deputado estadual com 8.571 votos.62
A declaração de Marabá, em 1970, como Area de Segu
rança Nacional, favoreceu a emergência de novos atores políticos
no município que não estavam diretamente vinculados às diferen
tes famílias oligárquicas, por exemplo, o capitão do Exército
Elmano Melo e o engenheiro civil Haroldo da Costa Bezerra. O
primeiro prefeito-interventor nomeado foi Elmano Melo,15'5 que
exerceria o cargo entre 1971 e 1972.
onn
Em 1975, o indicado seria Haroldo da Costa Bezerra,
-filho de cearenses que passaram a residir em Marabá quando
Haroldo era ainda uma criança. Haroldo Bezerra, que permane
ceria no cargo até 1979, fornece-nos, a seguir, sua versão dos
principais motivos que favoreceram sua indicação:
909
castanhais, para a implementação de projetos agropecuários e
para a agricultura de subsistência por parte dos posseiros (a mai
oria deles procedentes do Maranhão e Piauí), e do corte das árvo
res (Bertholletia excels a) pelas empresas madeireiras.71
O envelhecimento dos castanhais, provocado pela coleta
intensiva do produto que dificulta a brotação de novas castanhei-
ras, e as queimadas da floresta, “com fumaças que ficam semanas
e semanas rente ao solo, [...].[prejudicando] a floração normal
das castanheiras e também a reprodução dos besouros ou abelhas
que realizam a polinização das flores” ,72 são outras das razões
apontadas para explicar a queda da produção de castanha. Tam
bém influiu na sua diminuição a escassez de mão-de-obra disponí
vel para sua coleta como consequência dos melhores salários pa
gos aos trabalhadores contratados para a construção da infra-
estrutura requerida para a implementação dos projetos do Pro
grama Grande Carajás, e da transformação em garimpeiros de
não poucos castanheiros, sobretudo dos que optaram por melho
rar suas condições de vida procurando ouro em Serra Pelada.'3
Assim, segundo informe da Prefeitura de Marabá de 1984:
907,
Ambos os processos, isto é, a chegada dos novos latifundiá
rios e a transformação *no uso das terras de castanhais, fizeram
com que, a partir de meados dos anos 70, a pecuária se tornasse
a principal atividade económica no Sudeste do Pará, até serem
descobertas as jazidas de ouro em Serra Pelada (1980) e come
çarem a funcionar alguns dos projetos do Programa Grande
Carajás.73 Em 1985, como poderemos apreciar na próxima tabé-
la, 66% do total dos estabelecimentos rurais existentes em Marabá
eram destinados a atividades agrícolas, ocupando 206.451 hecta
res, o que corresponde a 25% das terras definidas como rurais no
município. Entretanto, os 20% dos estabelecimentos formalmente
destinados à pecuária detinham cerca de 50% da área rural. Ao
extrativismo estavam reservados 184.170 hectares (22% do to
ta l)/5 subdividos em 162 “propriedades ”, a maior parte delas
pertencentes aos Mutran.77 Em 1992, o rebanho de Marabá esta
va avaliado em 133.050 animais (74.500 cabeças de gado bovino
e 56.500, de suínos)/8 Um ano depois, boa parte da produção
agrícola de Marabá continuava destinada à subsistência das famí
lias camponesas e de outros moradores do município. Nesse ano
foram produzidas 4.050 toneladas de mandioca, 1.040 de arroz,.
780 de milho e 530 de feijão. Entre as culturas permanentes,
cabe mencionar a produção de manga, laranja, banana e abacate.
O incremento das atividades industriais e do setor terciário
(atividades comerciais e de prestação de serviços) também ajudou a
mudar o quadro sócio-econômico de Marabá. Predominam no
município os estabelecimentos incluídos no setor terciário, sendo
que no sub-setor comércio, os 893 estabelecimentos então existen
tes empregavam 2.384 trabalhadores/9 Em 1970, eram 62 os
estabelecimentos industriais existentes em Marabá, 74 em 1975,
empregando um total de 338 trabalhadores, subindo a um total de
203 indústrias em 1995, somando um total de cerca de 3 mil
trabalhadores nelas empregados.80 Ainda que a maioria das indús
trias radicadas no município sejam de pequeno porte (serrarias,
fabricantes de tijolos e telhas, móveis de madeira etc.), cabe menci
onar a instalação no Distrito Industrial de Marabá, inaugurado em
204
Tabela 24
Município de Marabá
Propriedades rurais segundo atividade económica: 1985
Atividade N° de
% Area (ha) %
económica propriedades
Horti-Floricul-
5 - 149 0,2
tura
Extrativa '
162 4 184.170 2 2 ,0
Vegetal
205
< r- 1
\- 9. -C /
206
Tabela 25
Marabá -População total, urbana e rural: 1940-1995
Ano Área (km2) Total Urbana Rural
209
assassinatos decorrentes dos conflitos pela terra. A maioria dos
assassinatos no Pará aconteceu nas microrregiões do Araguaia,
Guajarina e Marabá. Rio Maria (Araguaia) foi, entre os municípi
os brasileiros, o que teve maior número de conflitos agrários e
mortes deles decorrentes, tendo sido os posseiros e líderes do STR
(Sindicato dos Trabalhadores Rurais) e do PCdoB as principais
vítimas dessa violência. Também em represália à luta que empre
endiam em favor dos trabalhadores rurais, foram assassinados
duas das principais lideranças políticas da esquerda paraense des
de os anos 70, os advogados Paulo Fontelles (PCdoB), em junho
de 1987, e João Carlos Batista (PSB), em dezembro de 1988.93
O pior massacre contra camponeses ocorrido no Brasil
nas últimas décadas aconteceu no município de Eldorado do
Carajás, no dia 17 de abril de 1996, quando foram assassinados
pela Polícia Militar do Pará 19 trabalhadores sem terra e 50
ficaram feridos. Nos governos de José Sarney, Fernando Collor
de Mello e Itamar Franco, enquanto se deteriorava o sistema de
saúde e a educação pública e a distribuição da renda per capita
se mantinha em níveis escandalosos,94 o Brasil continuou sendo
um dos países com pior distribuição de terras privadas no mun-,
do,95 com mais de 65% da população rural vivendo abaixo da
linha de pobreza, tendo uma renda mensal inferior a 25% do
salário mínimo.96
Frequentemente, sobretudo nos meios de comunicação
de massas, os conflitos e a violência presentes nas áreas rurais
da amazônia Legal são apresentados como se fossem o custo
inevitável da “modernização do campo na fronteira agrícola” .
Uma espécie de faroeste à brasileira, do qual também estaria
ausente o Estado que poderia, com sua ação mediadora, evitar
os conflitos pela terra. Contudo, não é a ausência ou “neutrali
dade” do Estado aquela que determina a “lei da selva” nas
áreas rurais da Amazônia. Ao comtrário, como explicita Alfredo
Tabela 2 6
Número de conflitos agrários: 1980-1990
N° de
Amazónia Pessoas
Ano Pará Brasil
Legal* atingidas no
Pará
1980 84 299 - -
1981** 20 53 - 3 .3 6 6
1971-1974 92 29
1975-1979 237 45
1990-1993 - 67
Fonte: Carlos Silveira et al., O campo quer paz, p. 9; IDESP Pará Agrário, n°
6-7, p. 43, e ed. especial Conflitos Agrários, p. 45-56; O Liberal, 2 7 .6 .9 4
91 ^
Em 1985, o município de Marabá, deixa de ser caracteri
zado como Area de Segurança Nacional, permitindo que os elei
tores tivessem novamente a possibilidade de escolher seu prefeito.
O vencedor desse pleito eleitoral foi Hamilton Bezerra (PMDB),
que obteve 11.185 votos contra 3.683 de seu principal concor
rente ao mandato de prefeito, o ex-deputado estadual Osvaldo
(Vavá) dos Reis Mutran, candidato do PD S.101 Para derrotar a
principal família oligárquica do município, Hamilton Bezerra con
tou com o apoio do governador do Pará, Jader Barbalho (1983-
1986), e de boa parte das lideranças dos movimentos sociais,
sindicatos e partidos progressistas do município.
Contrariamente ao que se poderia esperar dos resultados
das eleições realizadas em Marabá em 1982, 1985 e 1986 e da
incorporação, no total de eleitores do município, de pessoas não
vinculadas às atividades económicas dos Mutran, nas eleições de
1988 e 1990, os descendentes do ex-prefeito de Marabá e deputa
do estadual, Nagib Mutran, conseguiram sua melhor performance
político-eleitoral nesse município desde que optaram, a partir dos
anos 1950, por tentar ocupar os espaços político-institucionais
para consolidar e ampliar seu poder económico. Em 1988, Nagib
Mutran Neto (PDT) foi eleito prefeito de Marabá, seu tio, Guido
Mutran, vereador e, dois anos depois, Vavá Mutran, seu pai, de
putado estadual.102
Por mais difícil que seja avaliar as causas dessa reviravolta
política em Marabá, talvez alguns elementos nos proporcionem
subsídios para sua compreensão. Além da administração de Ha
milton Bezerra que foi considerada “desastrada” e do fato de
Nagib Mutran Neto ser um “cara novinho, médico recém-forma-
do e [que] trabalhou fora do esquema familiar” (Depoimento de
Haroldo Bezerra), o que facilitou o apoio à sua candidatura por
parte de profissionais liberais e alguns comerciantes do município,
seguramente outros fatores tiveram igual ou maior importância
no resultado das urnas.
Segundo diferentes depoimentos e fontes consultadas, o
fato de que, desde 1985, a juíza de Marabá fosse Ezilda Pastana,
casada com Osvaldo Mutran Júnior, favoreceu o apoio à candida
tura dos Mutran por parte dos novos fazendeiros do sul, alguns
dos quais participavam da União Democrática Ruralista (UDR) e
outros que aguardavam resposta judicial sobre a validade da com
pra de suas propriedades ou a reintegração da posse das fazendas
ocupadas por trabalhadores rurais.103 A família Mutran controla
va o Sindicato Rural de Marabá com o qual os membros da UDR
não mantinham, até então, digamos assim, uma relação muito
amigável. Seja como for, o fato é que a UDR fez campanha em
favor da candidatura de Nagib Mutran Neto, organizando, inclu
sive, alguns leilões de gado para recolher fundos para a mesma.
Outro aspecto que seguramente contribuiu para a vitória dos
Mutran foi sua aproximação com o ex-governador e então ministro
Jader Barbalho. Essa aliança foi se construindo poucos meses antes
das eleições de 1988, quando o Mirad, no momento em que Jader
Barbalho era seu máximo responsável, adquiriu, no denominado
Polígono dos Castanhais do Tocantins, 58 castanhais com título de
aforamento (219.462 ha no total), 38 dos quais eram “proprieda
des” de diferentes membros da família Mutran, somando 135.679,9
hectares. Além desses imóveis, adquiridos a Cz$ 10.000 (cruzados) o
hectare, o Mirad desapropriou também outros três imóveis com títu
los definitivos de propriedade da firma Benedito Mutran e Cia. Ltda.,
15.549,9 ha comprados a Cz$ 13.979,24 o hectare.104
215
Entretanto, o depoimento do vereador Maurino Magalhães
de Lima (PMDB)106 nã© coincide com o de Haroldo Bezerra:
216
tenho nada contra eles, mas eu vejo, estou falando
com o questão de partido, não vejo que eles são
peemedebistas [...], como um PMDB autêntico, eles
são jaderistas [...]. O Jader abraçou a eles como ami
gos [...]. Eles vêm de uma situação de oposição ao
PDMB [...]. Lá,»em Marabá mesmo, nós, quando ia
[sic] reunir, a gente tinha que reunir escondidos. Até
mesmo por causa dos Mutran, nem só os Mutran, mas
toda aquela cúpula política da região era contra o
PMDB. Também na época da guerrilha em Marabá,
tudo era contra o MDB. Falavam que o MDB era sub
versivo, comunista... Quantas vezes a gente teve que
ceunir num lugar escondido... O PMDB veio a se li
bertar mais em Marabá a partir de 1986 em diante.
Mas, até 86, a gente era muito oprimida. Então eu
não acredito numa mudança, assim, tão rápida, muito
rápida... ou é interesse?.” (Depoimento de Maurino
Magalhães de Lima)
218
Em 1992, Haroldo Bezerra, derrotado nas eleições de
1988, foi eleito prefeito de Marabá, ao superar, por cerca de 8
mil votos de diferença, ao fazendeiro e ex-deputado estadual Plínio
Pinheiro, candidato que teve o apoio dos Mutran entre outras
famílias e grupos económicos."'3 Resultado eleitoral decorrente da
ampla coligação de forças golíticas, religiosas e movimentos soci
ais do município, unidos pela vontade de derrotar os Mutran,
família que abrigava alguns membros acusados de serem os prin
cipais instigadores da violência desatada contra posseiros, lideran
ças dos STRs, partidos de esquerda da região e outros opositores
políticos e concorrentes económ icos."4
219
da família). Além disso, Cristina Mutran, candidata a prefeita,
obteve a segunda maior-votação no município, ficando à frente do
candidato do PT, Luiz Carlos Pies, que também obteve uma ex
pressiva votação.116
220
cas ocorridas nestes municípios nas últimas décadas, que favore
ceram a emergência de novos atores políticos. E impossível, por
tanto, fazer qualquer comparação entre a incontestável hegemonia
que exerceram as Oligarquias do Tocantins no período áureo do
ciclo extrativista da castanha e o poder económico e político que
hoje possuem essas famílias na região Sudeste do Pará. Contudo,
novos rearranjos políticos, entre as elites políticas “marabaenses”
e “paraenses” , poderiam favorecer (como aconteceu, a partir de
1988, com a aliança entre Jader Barbalho e os Mutran), talvez, a
recuperação política ou chances eleitorais, por exemplo, de mem
bros da família Mutran ou de candidatos por eles apoiados. Coin
cido, assim, com as pertinentes reflexões de Lúcio Flávio Pinto:
2 22
3 Um resumo das expedições francesas (séculos XVI e XVII) e portuguesas (sécu
lo XVII a início do XIX) à região do Tocantins pode ser lido nas obras de Ignácio
Baptista de Moura, De Belém a 5 . João do Araguaia, Vale do Rio Tocantins,
1989 (1* edição 1910), p. 3 31 -3 37 ; e Otávio Velho, Frentes de Expansão e
Estrutura Agrária: Estudo do Processo de Penetração numa Area da
Transamazônica, 1981, p. 16-19 e 24-27.
I! A sua tosca barraca, Franc isco* Coelho deu o nome de Marabá em recordação
da loja de mesmo nome que ele tinha na cidade de Grajaú, no Estado do Maranhão
(Cf. Deodoro Alachado de Mendonça et. al., op. cit., p. 15).
7 Idem.
8 Prefeitura Municipal de Marabá, op. cit., p. 39.
9 Cf. Marília Ferreira Emmi, A Oligarquia do Tocantins e o domínio dos castanhais,
p. 19-22. A respeito da Guerra de Boa Vista, ver também Otávio Velho, op. cit.,
p. 29-30.
10 Prefeitura Municipal de Marabá, op. cit., p. 39-40.
11 Apud Marília Ferreira Emmi, A Oligarquia do Tocantins, p. 27.
12 Ainda que a Guerra de Boa Vista (1892-1894), como avaliou Otávio Velho,
fosse expressão das disputas político-religiosas e pelo controle da terra, no âmbi
to local e estadual, entre setores civis (os coronéis) e religiosos (Igreja Católica e
Maçonaria), a mesma também deve vincular-se aos principais conflitos políticos
que ocorreram no Brasil após a proclamação da República, sobretudo entre os
partidários do marechal Deodoro da Fonseca (presidente da República eleito pelo
Congresso Nacional em fevereiro de 1891) e do marechal Floriano Peixoto, que
assumiria a Presidência do país em novembro de 1891, após ser derrotada pelas
armas a tentativa liderada por Deodoro da Fonseca de dissolver o Congresso
Nacional, contando com o apoio de todos os governadores à exceção do governa
dor do Pará, Lauro Sodré. Talvez a ajuda económica oferecida por Lauro Sodré
a Carlos Leitão para estabelecer o Burgo Agrícola se justificasse por pertencerem
ambos ao “partido florianista” , sem desmerecer o interesse do governo paraense
em estimular as atividades económicas no Sudeste do Pará sob seu controle,
inclusive para “afirmar o seu domínio sobre os limites litigiosos entre os três
Estados (Pará, Goiás e Maranhão), tendo em vista, agora, especialmente as rique
zas extrativas vegetais” (Otávio Velho, op. cit., p. 31). Um resumo das disputas
entre os florianistas e os partidários de Deodoro da Fonseca pode ser lido nas
páginas 1 7 0 a l 7 7 d o texto de Maria do Carmo Campello de Souza, “O proces
so político-partidário na Primeira República” , 1981.
13 Deodoro Machado de Mendonça et. al., op. cit., p.14.
14 Cf. Ignácio Baptista de Moura, op. cit., p. 316.
15 H. D. Lagenest, Marabá. Cidade do Diamante e da Castanha, São Paulo,
Anhembi, 1958, p. 19; apud Helena Lúcia Zagury Tourinho, Planejamento Ur
bano em Area de Fronteira Económica: O Caso de Marabá, 1991, p. 103.
16 Cf. Deodoro Machado de Mendonça, et. al., op. cit., p. 16-17.
17 Lei Estadual n° 2 .2 0 7 , de 27 de outubro de 1922 (Cf. idem, p. 16 e 25; e
Carlos Fonseca, Sinopse da História dos Municípios do Pará, s.d., p. 130).
18 Cf. Deodoro Machado de Mendonça et. al., op. cit., p. 22 e 70; e Helena
Lúcia Zagury Tourinho, op. cit., p. 128.
19 A cidade de Marabá está hoje subdividida em três núcleos urbanos: Marabá
Pioneira, Nova Marabá e Cidade Nova.
20 Cf. Helena Lúcia Zagury Tourinho, op. cit., p. 132. Também ocorreram gran
des enchentes em 1910, 1926, 1947, 1957 e 1974 (Cf. Ana Izabel Pantoja
Firmino - coord. - . Sul e Sudeste do Pará Hoje: Livro Didático Regional, 1996,
p. 125). A respeito das enchentes de 1906, 1910 e 1926, ver também a obra
Viagem ao Tocantins, Deodoro M. de Mendonça et. al., op. cit., especialmente a
página 70. A última grande enchente aconteceu em 1997.
21 Cl'. Deodoro Machado de Mendonça et. al., op. cit., p. 70.
22 Em 1952, a produção de borracha de Marabá foi de apenas 244 kg (Cf. Catharina
Vergolino Dias, “Marabá - Centro Comercial da Castanha” , Revista Brasileira de
Geografia, n° 4, 1958; apud Otávio Velho, op. cit., p. 46).
23 Cf. Diretoria da Agricultura, Indústria e Comércio, Belém, 1934; apud Rosa
Acevedo e Edna Castro, Negros do Trombetas, 1993, p. 112. Os ouriços, que
pesam em média de 4 00 a 700 gramas e medem entre 8 e 15 centímetros de
diâmetro, contêm entre 8 e 24 nozes (castanhas). Após ser exposta a castanha
não descascada à evaporação ambiente, um hectolitro de castanha chega a pesar
entre 47 e 51 quilos (Cf. Idesp, Diagnóstico do Município de Marabá, 1977,
p. 154).
*4 A respeito do uso do sistema de aviamento na coleta e comercialização- de
castanha, ver Otávio Velho, op. cit., p. 63-65. Em 1935, segundo dados forne
cidos por Júlio Paternostro: “[...] o apanhador de castanha recebia 10$000 pelo
hectolitro de castanha, o comerciante vendia ao exportador por 5 8 $ 0 0 0 e este
por sua vez vendia para o exterior por 1 0 0 $ 0 0 0 ” (Paternostro, Viagens ao
Tocantins, 1945; apud Otávio Velho, op. cit., p, 65).
2j Deodoro Machado de Mendonça et. al., op. cit., p.43-44. Para melhor co
nhecimento dos serviços de entressafra realizados nos castanhais, do processo de
colheita e beneficiamento primário, transporte, armazenamento e comercialização
da castanha, ver Deodoro Machado de Mendonça et. al., op. cit., p. 42-45;
Prefeitura Municipal de Marabá, op. cit., p. 7 0 -7 4 e 177-182; e Marília Ferreira
Emmi, A Oligarquia do Tocantins, pp. 70-75. A respeito da descrição sobre os
tipos de castanheiras (Bertholletia excelsa) existentes na Amazônia brasileira, ver,
por exemplo, Deodoro Machado de Mendonça et. al., op. cit., p. 41-42 ; e
Amílcar Tupiassu e Niomar Oliveira, A Castanha do Pará: Estudos Preliminares,
1967, p. 5-8.
26 Deodoro Machado de Mendonça et. al., op. cit., p. 1 7, 27, 3 9 e 56.
27 Marília Emmi, A Oligarquia do Tocantins, p. 77.
28 Cf. Marília Ferreira Emmi, A Oligarquia do Tocantins, p. 77-78 e Deodoro
994
Machado de Mendonça et. al., op. cit., p. 39-40 e 56-58. Além de João Anastácio
de Queiroz, que possuía três embarcações com motor a gasolina, segundo a relação
de comerciantes publicada no livro Viagem ao Tocantins, e de Martinho Mota que
também tinha três embarcações, outros oito comerciantes possuíam em 1927 dois
barcos cada: Uady Moussalem, Salim Moussalem, José Chamon, Kalil Mutran,
Anísio Ferreira, José Raymundo de Souza, Calixto Iagry e Vicente Antonio Filho
(Cf. Deodoro Machado de Mendonça et. al., op. cit., p. 39-40 e 56-58).
29 Não temos dados referentes as atividades económicas desenvolvidas no municí
pio por um dos vogais: José Inocente Ferreira Júnior.
1,0 Cf. Deodoro Machado de Mendonça et. al., op. cit., p. 28 e 38-40.
31 Otávio Velho, op. cit., p. 41.
32 Otávio Velho, op. cit., p. 58.
33 Entrevista concedida ao autor em Marabá, 2 9 /1 2 /9 6 . Otaviano Alves de Sou
za, filiado ao PSD em início dos anos 60, foi um dos fundadores do PMDB no
município de Marabá.
34 Cf. Marília Ferreira Emmi, A Oligarquia do Tocantins, p. 83. Veja-se também, a
esse respeito, o capítulo Io da tese de doutorado de Rodrigo Peixoto, op. cit.
33 Entrevista realizada por Marília Emmi no dia 2 0 /0 8 /8 0 (M. Emmi, A Oligarquia
do Tocantins, p. 93).
3,5Ver Fábio Carlos da Silva, “Poder económico e política fundiária no Pará” , p. 4;
e Idesp, “A era da concentração de riquezas”, 1992, p. 11.
•’7 Creso Coimbra, A Revolução de 5 0 no Pará, 1981, p. 273.
38 Cf. Suranjit Saha, “Industrialização e mudança social na área de Marabá —
Carajás na Amazônia Oriental Brasileira” , 1997, p. 112.
3i) Cf. Otávio Mendonça, “Deodoro de Mendonça — Um perfil político” , 1989,
p. 20.
4H Idem, ibidem, p. 20.
41 Em 1930, o único partido que tinha influência em Marabá era o Partido
Republicano Federal (PRF), partido no qual Deodoro Machado de Mendonça
era uma das principais lideranças. Fundado no Pará em 1897 por iniciativa do
governador Lauro Sodré, que exerceu esse mandato entre 1891-1897 e 1917-
1921, o PRF hegemonizou o governo paraense no período de 1917 a 1930.
42 Cf. Ricardo Borges, Vultos Notáveis do Pará, 1986, p. 297.
43 Cf. Marília Ferreira Emmi, A Oligarquia do Tocantins, p. 90 e 92.
44 Deodoro Machado de Mendonça, após ser eleito pela oitava vez deputado
federal em 1958, deixou de participar ativamente no cenário político paraense e
nacional a partir de 1964, falecendo em 1968, quando estava prestes a comple
tar os 80 anos (Cf. Otávio Mendonça, op. cit.).
45 Ricardo Borges, op. cit., p. 287.
46 Zacarias de Assumpção obteve em Marabá 1.347 votos e Magalhães Barata,
1.303 (Cf. O Liberal, “A política e as eleições em duas décadas republicanas do
‘ciclo’ de Magalhães Barata” , 1982, p. 9).
225
48 Ver, a esse respeito, o livro deMarília Ferreira Emmi, A Oligarquia do Tocantins,
p. 96-98.
49 Suranjit Saha, op. cit., p. 112.
50 Do total de 2 52 títulos de aforamento concedidos pelo governo estadual entre
1955 e 1966, que representavam cerca de 8 9 8 .0 0 0 hectares de terras públicas,
168 deles foram outorgados ao município de Marabá (Cf. Marília Ferreira Emmi,
A Oligarquia do Tocantins, p. 104 e 109; e Suranjit Saha, op. cit., p. 112). ,
O governo do Pará recebeu, no exercício de 1959, Cr$ 7 9 8 .8 6 4 pelo arren
damento de castanhais e Cr$ 7 7.9 90 pelo arrendamento de áreas de seringais.
Maiores foram os benefícios recebidos dos impostos de exportações desses dois
produtos durante 1958 e 1959, mais de Cr$ 3 3 ,8 milhões pela castanha e 2 1 ,9
milhões pela borracha (Cf. Luís Geolás de Moura Carvalho, Mensagem Apresenta
da à Assembléia Legislativa em sua Reunião Ordinária de 1960, pelo General
Luís Geolás de Moura Carvalho, Governador do Estado, 1960).
32 Cf. depoimento de Otaviano Alves de Souza, Marabá 2 9 /1 2 /1 9 9 6 .
Nagib Mutran, dos quatro deputados estaduais que a UDN elegeu, no Pará,
nessas eleições, foi o que obteve o maior número de votos: 4.281 (Cf. O Liberal,
“A política e as eleições em duas décadas republicanas ”, op. cit., p. 9.).
34 Nagib Mutran teve seu mandato cassado pelos mesmos motivos pelo quais os
militares cassaram, em junho de 1964, o mandato do governador do Pará e o do
prefeito de Belém. Sem entrar no mérito da veracidade das acusações contra
Nagib Mutran, certamente sua cassação também foi influenciada pela sua aproxi
mação, após assumir o mandato de deputado estadual, com o governador Aurélio
do Carmo e outras lideranças do PSD.
05 Pedro Marinho de Oliveira, dono de castanhais e fazendeiro, era cunhado do
ex-intendente de Marabá, João Anastácio de Queiroz.
5B Em 1962, o filho de Nagib, Osvaldo (Vavá) Mutran, vereador de Marabá no
período de 1954 a 1958, foi eleito, por sufrágio universal, o primeiro prefeito
de São João do Araguaia, município que foi recriado em 1961. Nesse mesmo
ano, foi também desmembrado de Marabá o distrito de Jacundá. Nova perda
territorial de Marabá que se somava à ocorrida em 1947 quando o também distri
to de Itupiranga foi transformado em município. Vavá Mutran permaneceria no
cargo de prefeito de São João do Araguaia até concluir, em 1966, seu mandato
eletivo.
57 Segundo recordava Jarbas Passarinho em 1984, fazendo referência à sua
primeira viagem a Marabá após assumir o mandato de governador (1964), ele já
conhecia o prefeito Pedro Marinho de Oliveira do tempo em que era oficial do
Estado-Maior do Comando Militar da Amazónia, do qual "me tornaria um amigo
constante e de quem recebi por toda a sua vida as provas mais definitivas de
lealdade" (Prefeitura Municipal de Marabá, op. cit., p. 7).
58 “Política”, Observador Amazônico, ano IV n° 35, Belém, 1981, p. 6.
226
59 Formalmente, pois a lisura dos pleitos eleitorais realizados no município de
Marabá sempre foi questionada por setores da oposição e até pelas famílias
oligárquicas que foram derrotadas num ou noutro pleito eleitoral realizado antes,
durante e após o fim do Regime Militar.
60 Gerson Peres, A Vitória de Todos Nós, s.d., p. 64-65.
(il Cf. Assembléia Legislativa do Estado do Pará, Biografia dos Deputados, 9a
Legislatura - 1 97 9 /1 9 8 3 , 1980* p. 40.
62 Cf. idem, ibidem, p. 17.
03 Elmano Melo, antes de assumir o cargo em Marabá, tinha sido secretário da
Prefeitura de Castanhal e, depois, interventor no município de Santarém (Cf. “Elmano
implantou trabalho e progresso em Marabá", Revista dos Municípios, ano I, n° 2,
Belém, 1972, p. 13).
64 “Pedro Marinho reassume comando”, Revista dos Municípios, ano II, n° 11,
Belém, março/abril de 1973, p. 16.
IM Entrevista concedida ao autor em Marabá, 2 8 /1 2 /9 6 . O depoimento de
Haroldo Bezerra contrasta com a interpretação que Marília Emmi fez da sua
indicação. Segundo essa autora, a nomeação de Haroldo Bezerra para o cargo
de prefeito de Marabá, e também a de Elmano Melo, mostraria, ao estar ambos
“desvinculados de grupos locais” , a “perda da influência direta da oligarquia na
política local” (M. Emmi, A Oligarquia da Castanha: Crise e reariiculação, 1989,
p. 141-142). Não me parece que as palavras de Haroldo Bezerra confirmem
essa análise. Considero mais adequado avaliar a mesma, sem esquecer o interesse
de determinados “tecnocratas” e militares que também influenciaram a escolha de
Haroldo Bezerra pelo governo federal para o cargo de prefeito, como mais uma
resposta das oligarquias locais aos “novos tempos” com o intuito de continuar
controlando, ainda que fosse de maneira indireta, a prefeitura de Marabá. Inclu
sive, neste caso concreto, pareceria que o deputado Plínio Pinheiro, com sua
viagem a Rio Branco destinada a “convencer a Haroldo” , objetivasse, no contexto
dos conflitos entre as diversas famílias oligárquicas, que o novo prefeito tivesse
com ele “uma dívida de gratidão” . Plínio Pinheiro Neto e Aziz Mutran Neto,
eleitos em 1978, eram os dois únicos representantes do Sudeste do Pará na
Assembléia Legislativa. Mais um dado para avaliar que a “crise da oligarquia” , no
plano político-eleitoral, estava ainda longe de acontecer.
60 Cf. Mikel Aramburu, O Poder Dialógico: Etnografias sobre relações de trabalho
na Amazônia, 1992, p. 2 57-258. No quinquénio 1 9 6 1 /1 9 6 5 , 4 9 ,1 % da cas
tanha produzida no Pará procediam do município de Marabá. O total da produ
ção de castanha dos municípios da região do Itacaiúnas-Tocantins representou,
nesse mesmo período, 72,4% da produção paraense. Os municípios do Baixo
Amazonas contribuíram com cerca de 2 0 % do total, destacando-se, entre os
municípios dessa região, a coleta de castanha em Alenquer, 5,6^6 do total da
produção paraense (Cf. Amílcar Tupiassu e Niomar Oliveira, op. cit., p. 29-30).
67 Os dados do total de castanha produzida no Pará são muitos controvertidos.
99 7
Por exemplo, segundo Roberto Santos, o ano de maior produção de castanha no
Pará foi o de 1973, com 3 7 .6 7 5 toneladas (Cf. Roberto Santos, A Economia do
Estado do Pará, 1978, p. 56). Segundo dados levantados pelo IBGE, o total de
toneladas produzidas em 1983 no Pará foi de 2 2 .9 4 4 (Cf. IBGE, Censo
Agropecuário do Brasil, apud Rosa Acevedo e Edna Castro, Negros do Trombe
tas, op. cit., p. 162). Mas a queda da produção em Marabá a partir dos anos 80
parece ser “consensual” . Segundo o último trabalho citado nesta nota, a produ
ção de castanha neste município oscilou entre 17.728 toneladas em 1980, e
5 .9 6 9 5 em 1987 (idem).
,1HCf. O Liberal, Belém, 2 3 /0 2 /9 7 . No início dos anos 70, aproximadamente
70% do total da produção de castanha da Amazónia brasileira destinavam-se à
exportação. Em 1975, a castanha contribuiu com 2 1 ,6 % do valor total das
exportações paraenses; em 1989 baixou sua participação percentual a somente
1,08% do total (Cf. Divisão Técnica da Fiepa; apud Luís Flávio Maia Lima.
“Integração regional e ‘enclaves fordistas' no Pará: uma abordagem geral”, 1995,
p. 139); e, nos anos 1995 e 1996, não superaria 1,0% (Cf. O Liberal, “ Pará
reaquece ritmo de exportações”, Belém, 2 4 /8 /9 7 ) .
8fl Cf. Idesp, Diagnóstico do Município de Marabá, 1977, p. 153-154; e Prefei
tura Municipal de Marabá, op. cit., p. 74.
70 Q ' “ Produção de castanha-do-pará comprometida pekis derrubadas", O Libe
ral, Belém, 2 3 /1 2 /8 8 . Entretanto, a exportação da castanha da Região Norte
para o mercado nacional e, sobretudo, internacional continua, até hoje, mono
polizada pelas empresas radicadas em Belém.
71 Em 1986, segundo imagens de satélite trabalhadas por técnicos da Sudam e
do Idesp, 4 4,5 % da área do Polígono dos Castanhais (total aproximado de
1 .700.000 ha) já estavam devastados (Cf. Sérgio Fonseca Dias — coord. — ,
Zoneamento Ecológico-Económico, 1991, p. 67).
72 Prefeitura Municipal de Marabá, op. cit., p. 183.
73 Em 1983, que foi o ano de maior atividade extrativa em Serra Pelada, eram
mais de 100 mil os garimpeiros (alguns autores chegam a afirmar que eram cerca
de 3 0 0 mil). Nesse ano foram produzidos 13,713 toneladas de ouro (Cf. João
Figueiredo, Mensagem ao Congresso Nacional do Presidente da República —
1984 — , p. 39). Entre 1980 e 1990, segundo também dados oficiais, foi ex
traído de Serra Pelada um total de 4 8 ,3 toneladas de ouro (Cf. Armim Mathis,
“Serra Pelada”, 1997, p. 290-291).
74 Prefeitura Municipal de Marabá, op. cit., p. 183.
75 Até final dos anos 1970, a procura de diamantes e de cristal de rocha, inicia
da, respectivamente, em fins dos anos 3 0 e inícios do 40, eram as principais
atividades mineiras realizadas em Marabá.
76 Cf. Secretaria Municipal de Planejamento da Prefeitura de Marabá, Perfil
Sócio-Econômico do Município de Marabá, 1995, p. 21.
77 Em 1980, segundo dados trabalhados por Marília Emmi no Iterpa, os Mutran
228
possuíam nos municípios de Marabá e São João do Araguaia um total de 131.332
hectares de terras de castanhais com título de aforamento, representando quase
4 0% das terras aforadas nesses dois municípios (Cf. Marília Ferreira Emmi, A
Oligarquia do Tocantins, p. 121). .
78 Idem, ibidem, p. 24-27. Em 1970, segundo dados do Idesp, o número total
de cabeças de gado bovino existentes no município era de 6 1 .1 9 0 e 14.130, as
de suínos (Cf. Idesp Informações Políticas e Sócio-Econômicas dos Municípios
Paraenses, 1987, p. 199).
79 Cf. Secretaria Municipal de Planejamento da Prefeitura de Marabá, op. cit., p.
3 0 -3 2 .
80 Cf. Idesp, Diagnóstico do Município de Marabá, 1977, p. 2 13 -2 14 ; eSebrae,
Diagnóstico Sócio-Econômico de Marabá - 1995; apud Secretaria Municipal de
Planejamento da Prefeitura de Marabá, op. cit., p. 28-29.
81 Cf. Francisco F. Assis Fonseca, “Siderurgia a carvão vegetal em Carajás: Pro
blemas e perspectivas”, 1990, p. 58-60.
82 Cf. Rodrigo Corrêa Diniz Peixoto, “Ação cultural e concepção política entre a
Igreja Católica e os camponeses” , 1991, p. 145-6.
85 Os territórios dos atuais municípios de Parauapebas e Curionópolis foram
desmembrados de Marabá em 1988. Em 1991, parte do território de Curionópolis
seria destinado à criação do município de Eldorado do Carajás.
84 Cf. Idesp, “Um balanço da violência no campo”, 1990, p. 57; e Idesp, “Sudes
te Paraense foi a região mais violenta no ano de 1 98 9 ” , 1989, p. 43-58.
85 Cf. O Liberal, “Crime no campo só condenou um no Pará", Belém, 1 8 /0 2 /
91; e O Liberal, “ Pará: recordes atestados de violência” , Belém, 2 7 /0 3 /9 1 .
86 Cf. Jean Hébette, “A questão da terra”, 1989, p. 125.
87 Segundo Alfredo Wagner, o decreto-lei n° 2 .3 6 3 que extinguiu o INCRA foi
assinado no dia 21 de outubro de 1987 (Cf. Alfredo Wagner Berno de Almeida,
Carajás: A Guerra dos Mapas, 1994, p. 11 7).
88 Avelino Ganzer e Paulo de Tarso Venceslau, “Com palmos medida” , 1988, p. 14.
89 Colin Henfrey, “Onça preta: a formação de um movimento camponês”, 1987,
p. 61.
90 Pedro César Batista, Conivência e impunidade, 1991, p. 50.
91 Cf. idem, ibidem, p. 51; e Páscoa da Costa e Silva, “A organização patronal
responde à mobilização dos trabalhadores”, 1988, p. 121.
92 Idesp, “Um balanço da violência no campo", 1990, p. 39-40. Também, pode-
se consultar na página 43 uma relação dos líderes sindicais dos trabalhadores
rurais paraenses assassinados entre 1964 e 1988.
93 João Carlos Batista, filiado ao MDB desde 1978, militou no MR-8 (Movimen
to Revolucionário 8 de Outubro) entre 1979 e 1981. Eleito deputado estadual
pelo PMDB em 1986, em outubro de 1987 ingressou no PSB. Seu assassinato
foi encomendado por fazendeiros de Parag,ominas, município no qual Batista
desenvolveu boa parte do trabalho de assessoramento aos trabalhadores rurais
990
(cf. Pedro César Batista, op. cit., p. 18-9 e 28).
94 Em 1993, 9 0% da popylação brasileira detinham 5 2 % da renda per capita,
enquanto apenas 10% respondiam pelos restantes 4 8% (Cf. Folha de S. Paulo,
1 3 /0 2 /9 4 ). Cabe lembrar, ainda, que no período de 1984 a 1993 o valor do
salário dos trabalhadores na indústria caiu a uma média anual de 1,35% (Folha
de S. Paulo, 0 1 /0 8 /9 4 ), e, em 1990, no Pará, por exemplo, 5 0% da popula
ção economicamente ativa ganhava menos de 1 salário mínimo e 3 8% entre 1 e
3 salários (Cf. “Papo com Almir Gabriel, ‘Eu nunca tive ligações com o Jader ” ,
Boletim Regional do PT, n° 1, Belém, 1990, p. 2).
93 Em 1989, 6 .7 0 0 latifundiários possuíam quase o mesmo número de ha (127
milhões) que 4 .1 6 6 .0 0 0 pequenos produtores (Cf. CUT, Cartilha da Política
Agríco/a, 1989, p. 7).
9(1 Cf. Departamento Nacional dos Trabalhadores Rurais da CUT, Caderno de
'leses do II Congresso, s.d., p. 15.
97 Alfredo Wagner B. de Almeida, Conflito e Mediação: Os Antagonismos Sociais
na Amazônia segundo os Movimentos Camponeses, as Instituições Religiosas e o
Estado, 1993, p. 22.
98 Cf. “Crime no campo só condenou um no Pará”, O Libered, Belém, 1 8 /0 2 /9 1 .
99 Cf. Miguel Pressburger, “ Elites dominantes: o Judiciário” , p. 19.
100 Nas eleições de 1986, Haroldo Bezerra obteve um to'tal de 12.797 votos, a
metade deles em Marabá (6.380 votos), Nagib Mutran Neto, 8 .36 0 (6.350 em
Marabá) e Plínio Pinheiro Neto, 5 .822 votos (4.269 deles em Marabá) (Cf. Idesp,
Informações Políticas e Sócio-Econômicas dos Municípios Paraenses, 1987, p.
187-226 e 397-401). •
101 Idem, ibidem, p. 161.
102 Osvaldo dos Reis Mutran (PDS) obteve 12.599 sufrágios. Entre os deputa
dos estaduais do Pará eleitos em 1990, ele foi o candidato que conseguiu a
segunda maior votação (Cf. Gengis Freire e Ana Rosa Freire - edit. - , Quem é
Quem na Assembléia Legislativa do Estado do Pará, 1992, p. 99).
103 Sobre a participação da juíza Ezilda Pastana nos resultados eleitorais de
1988, ver os comentários de Rodrigo Peixoto, The Making of Political, op. cit.,
nota n° 11, capítulo V p. 191.
104 Todos os 61 imóveis foram adquiridos pelo Mirad por meio de títulos da
dívida agrária. Em meados de 1989, o Senado criou uma CPI para apurar su
postas irregularidades na emissão desses títulos relativas ao período em que Jader
Barbalho esteve à frente do Mirad (Cf. O Liberal, Belém, 2 4 /0 8 /8 8 ; apud Idesp,
“Painel da situação fundiária através da imprensa diária” , 1988, p. 91). Os da
dos mencionados nesse parágrafo podem ser consultados em Idesp, “Mudanças
marcaram a reforma agrária no Pará e em todo o país” , 1988, p. 4-6; Rosineide
Bentes, “Reforma agrária nos castanhais do Tocantins: A reforma que não refor
ma”, 1988, p. 132-134; Jacky Picard, “O clientelismo nas colónias agrícolas do
sudeste do Pará” , 1994, p. 279; Marília Ferreira Emmi e Rosa Acevedo, “De
230
posseiros a assentados: Precariedade das ações fundiárias no Sudeste do Pará” ,
1997, p. 2 51 -2 52 .
105 Em 1989, Haroldo Bezerra abandonou o PMDB e filiou-se ao PSDB, parti
do pelo qual candidatou-se a deputado federal em 1990 como integrante da
Frente Popular Novo Pará, não alcançando o número de votos necessários para
um novo mandato eletivo. Em 1997, após concluir seu segundo mandato como
prefeito de Marabá (1993-1996) * assumiu, por indicação do governador Almir
Gabriel (PSDB), o cargo de secretário de Obras do governo paraense.
106 Maurino Magalhães de Lima, vereador de Marabá por três mandatos conse
cutivos (1 9 8 9 -2 0 0 0 ), nasceu no Estado de Espírito Santo. Suas pais migra
ram para o Sudeste do Pará em 1967, junto com seus oito filhos, quando
Maurino Lima tinha 9 anos de idade, em “busca de terra para trabalhar” . Primeira
mente afincaram-se no município de Dom Eliseu, até 1971, quando mudaram-se
para o de Abel Figueiredo. Em 1978, Maurino Lima mudou-se para Rondón do
Pará, contratado como gerente de uma fazenda. Foi nesse ano que filiou-se ao
MDB, apoiando a candidatura de Jader Barbalho para deputado federal e Ademir
Andrade para deputado estadual. Em 1982 chegou a Marabá, morando no bairro
da Morada Nova, filiou-se ao PMDB, participando da fundação da Associação de
Moradores nesse bairro, a primeira que fora criada nesse município.
107 Entrevista concedida ao autor em Belém, 2 5 /0 5 /9 8 .
108 Após assumir, em 1991, o mandato de deputado estadual, Osvaldo (Vavá)
Mutran declarou, aos organizadores do livro Quem é quem naAssembléia Legislativa
dos Estado do Pará, que eram quatro os políticos pelos quais ele tinha muita estima:
Jader Barbalho, Jarbas Passarinho, Coutinho Jorge e seu filho Nagib Mutran Neto
(Cf. Gengis Freire e Ana Rosa Freire, op. cit., p. 100).
109 Cf. Mikel Aramburu, op. cit., p. 158.
1,0 Realizada a votação do parecer apresentado pela Comissão processante, 30
deputados votaram a favor da cassação do mandato de Vavá Mutran, 5 contra e 2
em branco. Os deputados Aloísio Chaves, Joércio Barbalho, Valdoli Valente e o
próprio Vavá Mutran não compareceram à sessão da Assembléia Legislativa (Cf.
"Deputados cassam o mandato de Vavá", O Liberal, Belém 3 0 /0 6 /9 2 )
111 Cf. O Liberal, Belém 1 1 /1 1 /9 2 . Osvaldo Mutran foi indultado pelo Tribunal
de Justiça em novembro de 1995, segundo parecer médico que assinalava que ele
tinha uma enfermidade incurável e apenas teria pela frente uns poucos meses de
vida. Hoje continua não somente em liberdade, mas parece ser que também com
boa saúde.
112 Qf “Vereadores acusam os Mutran de atos violentos em Marabá”, O Liberal,
Belém, 0 7 /0 8 /9 1 .
1.3 Cf. Lúcio Flávio Pinto, “O fim dos Mutran?” , 1992, p. 4.
1.4 Das 32 chacinas de trabalhadores rurais documentadas pela Ct-*T no Brasil
entre 1979 e 1995, quatro delas ocorreram em Marabá, duas delas em fazendas
dos Mutran (Cf. “CPT denuncia: aumentam as chacinas contra trabalhadores”,
231
Cuíra, Ano V n° 16, Belém, agosto/set. de 1995, p. 8).
115 Geraldo Veloso estava filiado^ao PSDB, mas ao presumir que o prefeito 1laroldo
Bezerra, principal liderança desse partido em Marabá e no Sudeste do Pará, estava
articulando o lançamento de outro candidato à prefeitura, optou por ingressar no
PFL para garantir sua candidatura. A coligação de partidos que apoiou a Geraldo
Veloso estava integrada pelo PPB, PDT, PFL, PY PRP e PSDB.
Do total de 7 6.360 eleitores de Marabá, mais de 23 mil votaram em Geraldo
Veloso, cerca de 12 mil em favor de Cristina Mutran e, pouco mais de 9 mil, no
candidato do PT (Cf. “Mapa dos prefeitos eleitos", .4 Província do Pará, Belém,
1 5 /1 0 /9 6 ).
117 Lúcio Flávio Pinto, “O fim dos Mutran?” , 1992, p. 4-5.
Fig.5: O Coronel Magalhães Barata com os deputados estaduais do Partido Liberal fiéis, em 19o5.
Fig.4: O General Magalhães Barata assina o termo de posse como Governador Constitucional do Pará.
Fig.5: O Presidente-General Médici e o Governador Alacid Nunes no Círio de N.S.
de Nazaré, em 1970.
Nas figuras 6, 7, 8, 9, 10, governadores do Estado do Pará: Jarbas Passarinho;
\lacid Nunes; Hélio Gueiros, Jáder Barbalho e Almir Gabriel, respectivamente.
Na fig. l l , o prefeito de Belém Edmilson Rodrigues.
Fig. 12: \ ista aérea da Yelha Marabá.
Mapa da Cidade de Marabá
Fonte: Marabá. A história de uma parte da Amazónia, da gente que nela vivia e da
gente que a desbravou e dominou, fazendo-a emergir para a civilização. De 1892
até nossos dias. Marabá, 1984.
238
Fig. 13: Comissão administrativa da criação do Município de Marabá em 1913.
Fig. 14: No alto: Coronel Leitão e família, fundador do Burgo Agrí
cola, primitivo núcleo de que se originou Marabá.
No Centro: da esquerda para a direita: Coronel Athanasio
Gomes, Io chefe da organização partidária de Marabá e Co
ronel António da Rocha Maia, Io Indentende Municipal de
Marabá.
Embaixo: Mortoz “Pedrina ’ , de propriedade de Alfredo Mon
ção, o primeiro motor que subiu o alto Tocantins.
Fig. 15: Alcobaça: No alto—Porto com vapores “Muruzinho" e
“Tocantins” , pontões e motores de castanha. (1926)
Embaixo: barracão de Dias & C.a Ltda., com o pessoal
carregando castanha. (1926)
I
À Q VOQADOS
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t m m jh«pmu au.ma.
Introdução
250
mente assim podemos tentar compreender os objetivos persegui
dos com esse tipo de prática social pelos diferentes atores escolhi
dos como objeto prioritário de estudo. Esta questão é fundamen
tal quando se pensa em usá-los como fonte histórica. Afinal, ainda
que os interpretemos segundo códigos linguísticos, referenciais te
óricos e conceitos do nossç tempo, uma das principais contribui
ções que os historiadores ou outros cientistas podemos oferecer à
análise do discurso é inseri-los, reitero, na conjuntura na qual eles
foram feitos públicos, sendo esta também uma das principais jus
tificativas dos assuntos tratados nos capítulos anteriores, especial
mente nos dois primeiros. Assim, com o diz o cientista político
David Howarth, é por meio da metodologia da análise do discurso
que o cientista social pretende, não somente “comprender el
comportamiento en sociedad mediante la identificación con el agente
que actúa en ella” , 5 mas também de “qué modo las estructuras de
significado hacen posibles ciertas formas de conducta. Al hacer
esto, pretende comprender cómo se generan los discursos que
estructuran las actividades de los agentes sociales, cómo funcionan
y cómo se cambian”.4 Prossegue David Howart:
251
comunicação de massas ou entrevistas, quer sejam palavras escri
tas, através das quais seps autores tentam sistematizar, geralmen
te de maneira mais ordenada, suas concepções de mundo ou justi
ficar diferentes tipos de ações. Nada melhor que poder contar
também, a esse respeito, com a ajuda do sociólogo Eder Sader:
252
Também resulta pertinente diferenciar as práticas
regionalistas realizadas por pessoas ou grupos das regiões ou es
tados “centrais” ou “periféricos” . No Brasil, por exemplo, para
examinar os discursos sulistas, nordestinos, amazônidas ou
paulistas, baianos ou paraenses. Pois, certamente, os objetivos
pretendidos por uns ou outros discursos serão diferentes em virtu
de da suas específicas realidades sócio-econômicas e o maior ou
menor peso político de cada uma delas no contexto nacional.
Outra diferenciação que deve ser feita é a respeito dos movi
mentos sociais que poderiam ser classificados como regionalistas e
os movimentos sociais separatistas, definindo estes como aquelas
práticas dirigidas a criar um novo Estado-Nação, e, os primeiros,
como práticas que não pretendem pôr em risco a unidade nacional
e que são, 'geralmente, orientadas a exigir do Poder Central um
maior interesse na região (leia-se, aqui também estados ou provín
cias) e para alcançar maior participação, qualquer que fosse o
território político-administrativo no qual esses atores se inserem,
nos rumos da Nação. Entretanto, ambos os movimentos sociais
(regionalistas ou separatistas), visam sustentar suas práticas numa
identidade que loi simbólica e historicamente construída por dife
rentes atores sociais interessados em fazer valer sua existência (ou
fazer “real” o que também fora “construído”). Assim, tanto umas
ou outras dessas práticas, regionalistas ou separatistas, se alimen
tam, como assinala Cláudia Maria Viscardi, de um “conjunto de
valores socialmente aceitos e partilhados pelos seus agentes, que
conferem a ela [ou a elas] uma identidade própria, capaz de gerar
comportamentos mobilizadores de defesa de interesses”.9 Ou, nas
palavras do sociólogo francês Pierre Bourdieu:
253
Contudo, identidades “nacionais”, “regionais” ou, até, “lo
cais”, não são, obviamente, excludentes. A maior ou menor im
portância que cada um dos indivíduos outorga a elas pode ser
modificada, segundo momentos e circunstâncias, ao longo das suas
vidas, por exemplo, em períodos de guerra entre Nações-Estado
ou, em decorrência, das desigualdades económicas existentes en
tre diferentes regiões ou estados, ou outro tipo de mudanças eco
nómicas, políticas ou culturais ocorridas num determinado país,
que podem favorecer as práticas dos que almejam fortalecer ou
modificar identidades e fronteiras. Veja-se, por exemplo, o que
Rosa Maria Godoy Silveira escreveu a respeito da antiga delimi
tação da Região Norte:
254
vislumbrado - em ambos os setores políticos, ou seja, sem distin
ção de posições ideológico-políticas - bastando, para isso, que se
faça um levantamento, mínimo que seja, dos discursos de lideran
ças políticas, sindicais e dos movimentos sociais paraenses, artigos
e editoriais publicados na imprensa e revistas ou na literatura
produzida por diferentes cientistas sociais. Alguns exemplos desses
discursos serão mostrados nas próximas páginas, para os quais
contribuíram também outros atores preocupados com os proble
mas da Amazónia, tais como técnicos vinculados a instituições
governamentais federais ou estaduais e membros de entidades não-
governamentais e acadêmico-científicas de outras regiões do Bra
sil e também de outros países.
Isso não pressupõe afirmar, entretanto, que exista na Ama
zónia brasileira, ou no Pará, um discurso regionalista unificado.
Isto é, um discurso que unifique diferentes segmentos da sociedade
amazonense (nem tampouco, no caso, a paraense) com intuito de
construir um bloco regionalista para fazer valer os interesses da
região. Entretanto, ainda que existam também tentativas orienta
das nessa direção, um dos assuntos que hoje mais polariza as
discussões sobre território e região no Pará, é entre os setores que
defendem a criação do Estado de Carajás e do Estado do Tapajós, e
dos setores que são contrários a qualquer desmembramento do
atual território paraense. Essa proposta de fragmentação é defendi
da pela imensa maioria da “classe política”, grandes proprietários
de terra, empresários e comerciantes do Sul e Sudeste do Pará e
do Baixo Amazonas, e as quais se opõe a imensa maioria das elites
políticas e económicas de Belém.
Ao objetivo de examinar os discursos de alguns desses ato
res sociais, especialmente a respeito da proposta de criação do
Estado de Carajás, que teria Marabá como capital político-admi-
nistrativa, são destinadas as últimas páginas deste capítulo, com o
intuito principal de discutir os argumentos esgrimidos pelos “sepa
ratistas” e pelos defensores da "unidade” e dar prosseguimento à
análise das possíveis inter-relações entre atividades económicas,
práticas políticas e território. Para esta finalidade também será
255
de interesse avaliar os discursos dos que defendem que a Compa
nhia Vale do Rio Doce instale em Marabá o Projeto Cobre Salobo.
Assunto com o qual darei por concluído este último capítulo.
256
gência do Regime Militar. Veja-se o que escreveu a respeito do
assunto a socióloga do Idesp, Violeta Refkalefsky Loureiro, que
durante o governo Hélio Gueiros (1987-1990) assumiu a direção
desse instituto de desenvolvimento e pesquisa15: '
0^7
como algumas escolhas “técnicas” nem sempre encontram sua
principal justificação nésse tipo de motivos, mas no resultado de
disputas políticas e interesses económicos.
A opção pela estrada de ferro, formalmente aprovada
pelos técnicos e responsáveis da CVRD, também contou a seu
favor com o apoio e pressão exercida sobre o governo federal e
o Congresso Nacional de setores económicos e políticos do Esta
do do Maranhão, que conseguiram compensar, assim, a oposi
ção à mesma de setores da elite paraense que propunham, com
base no discurso de que o “minério é nosso”, escoar a produção
de ferro e de outros minerais de Carajás exclusivamente através
do Estado do Pará.
Vou mostrar três exemplos desses discursos que sintetizam
o pensamento de muitos paraenses nos anos 70, quando estava em
jogo qual seria a decisão “técnica” que a CVRD, isto é, o governo
federal, tomaria sobre este assunto. Os discursos escolhidos tam
bém serão úteis para, mais adiante, tentar comparar as seme
lhanças dos mesmos com os discursos dirigidos a exigir da CVRD
a instalação no m unicípio de Marabá da infra-estrutura
beneficiadora do cobre descoberto nas proximidades da Serra dos
Carajás — Projeto Cobre Salobo. O primeiro foi extraído de um
editorial de 1973 da “Revista dos Municípios” do Pará intitulado
a “Serra dos Carajás”:
9K8
minérios. Ele não ficou calado diante do problema,
pelo contrário, foi o primeiro a se manifestar dizendo
que seria viável o aproveitamento do rio Tocantins.
Lutou em diversos setores e chegou a reivindicar, in
clusive junto ao presidente Emílio Garrastazu Médici.
Até no Japão, .quando de sua viagem àquele país, o
governador Fernando Guilhon tratou do minério da
Serra dos Carajás. Se a decisão fosse do nosso gover
nador, uma coisa estaria definida: o escoamento do
minério da Serra dos Carajás seria feito através do
rio Tocantins e o Pará ganharia grande soma de re
cursos ” 1'
259
compareceram ao Legislativo para conferências sobre
o assunto os deputados federais Gabriel Hermes Filho
e Juvêncio Dias, dois parlamentares federais que vêm
se empenhando a fundo em favor da grande luta. Na
Assembleia Legislativa os deputados Lauro Sabbá,
Oswaldo Mello, Gerson Peres, Antonio Teixeira, Carlos
Vinagre (vice-líder do MDB na Assembléia Legislativa)
e Jader Barbalho (líder MDB na Assembléia Legislativa)
continuam trabalhando em favor do escoamento pelo
rio Tocantins. O assunto não está decidido em favor de
Itaqui, daí ser válida a luta dos paraenses.”'9
260
do Pará, fazia questão de destacar, em 1980, em sua Mensagem
anual à Assembléia Legislativa:
261
Quando foi instituído o Programa Grande Carajás (PGC),
em 1980, foi decidido que sua gestão ficaria sob a responsabilida
de de um conselho do qual participavam exclusivamente represen
tantes de diferentes ministérios do governo federal (Minas e Ener
gia, Transporte, Indústria e Comércio, Fazenda, Justiça, Agricul
tura e do Trabalho), sob a coordenação do ministro-chefe da se
cretaria de Planejamento, mas sem qualquer representação dos
governos estaduais nos quais o PGC atuaria (Pará, Goiás e
Maranhão). Em sua visita a Belém em 1982, o ministro Delfim
Netto, então presidente do Conselho Interministerial do Progra
ma Grande Carajás, foi questionado, por empresários e comer
ciantes locais, a respeito de por que eles não tinham qualquer influên
cia na definição da política económica nacional e regional e
tampouco nas decisões dos responsáveis pelo PGC. Na ocasião, o
empresário paraense Joaquim Borges Gomes, dirigindo-se a Del
fim Netto afirmou e perguntou:
262
O ministro, respondeu o seguinte:
263
pode ficar absolutamente tranquilo: não há nenhum projeto que
tenha tanta importância para o interesse nacional como o Projeto
Carajás”24, afirmava:
Ofi/I
lhões de dólares foram gastos na criação da infra-estrutura para
extrair e transportar o minério da Serra dos Carajás, 70% dos
quais para a ferrovia de cerca de 891,5 km que une Carajás ao
porto de São Luís do Maranhão, que seria concluída em 1985.30
Retomando o depoimento de Delfim Netto:
265
exportações paraenses superouõs*27l bilhões de dólares (US$),
as de ferro representaram 704.606 milhões (US$), um terço do
total, e as de bauxita e alumínio não ligado, 115.990 e 592.441
milhões (US$), respectivamente.'^3 Esses dados não diminuem a
crescente importância do setor de mineração no Pará, que, em
1975, respondia por apenas 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB)
estadual, treze anos depois, aproximava-se de 7%, e atingia quase
20% em 1996.34
Se mantidos os investimentos previstos antes de ser
privatizada a CVRD, especialmente os destinados à implementação
do Projeto Cobre Salobo em Marábá, os empreendimentos da
\41e no Pará superarão, pela primeira vez, o faturamento total
dos seus projetos em Minas Gerais, estado que desde a criação da
CVRD foi sempre sua principal “província mineira”. Em 1995, os
empreendimentos da CVRD no Pará representaram 25% do
faturamento global da empresa,3'5 dois anos depois alcançaram
35% , somando um total de US$ 1,7 bilhões.3B*
266
: • A V* ri • '< i
267
Tabela 28
Jurisdição das.terras no Estado do Pará (1987)
Governo do Pará -
3 6 .3 9 6 .8 4 8 2 9,7
Iterpa*
Governo Federal -
5 3 .3 1 7 .0 0 9 43,4
Incra**
Governo Federal -
16.280.000 13,3
Getat***
Governo Federal -
2 99 .15 2 0,2
Gebam****
Governo Federal -
159.800 0,1
Aeronáutica
Governo Federal -
8.687.191 7,1
Funai*****
Governo Federal -
2 .2 7 8 .0 0 0 1.9
Governo Federal -
5.33 2.00 0 4,3
Area de Fronteira
2fi9
dero pertinente esclarecer que não serão contemplados nessa clas
sificação os discursos e outras práticas daqueles atores sociais que
desvalorizam a importância da “questão regional” ou constroem
um discurso mais propriamente anti-regionalista. Por exemplo,
alguns intelectuais e militantes das organizações de esquerda que
consideram que os fenómenos regionalistas são, fundamental ou
simplesmente, manifestações dos interesses das elites económico e
politicamente dominantes com o intuito de consolidar sua hegemonia
e, assim, manter seus privilégios. A análise do sociólogo Roberto
Martins sobre o fenómeno regionalista no Nordeste pode ser um
bom exemplo do que defino como discurso anti-regionalista:
270
contraditórias com as transformações do “todo nacional”. Os co
mentários do jornalista paraense Lúcio Flávio Pinto, seguramente
um dos principais representante do regionalismo-progressista na
Amazónia brasileira, a respeito da sua participação numa reunião
em Paris, são uma mostra exemplar da distinção, entre esse tipo de
discursos, e os realizados por alguns setores da esquerda no Pará e
em outras partes do Brasil. Relata Flávio Pinto:
271
Na revista “Pará Desenvolvimento ”, em uma das suas edi
ções especiais destinada* neste caso, especialmente ao “problema
ecológico”, os pesquisadores Manoel Fernandes da Costa (enge
nheiro agrónomo), Geraldo Gobistch Neto (engenheiro civil) e Ana
Maria Corrêa Penalber (química industrial), escrevem:
272
de Rio Branco (Acre), em sua tese de doutorado, intitulada Do
Regional ao Nacional (1996), escreve:
274
regiões, há outros interesses e necessidades que são
comuns dentro delas e de cujo atendimento todas as
classes sediadas em determinado lugar tirariam pro
veito material ou espiritual. O segundo motivo prático
do declínio de prestígio da região amazônica nas rei
vindicações políticas locais é que o modelo de desen
volvimento regional’ praticado pelo Estado brasileiro e
os investidores que ele mobilizou, não teve caráter re
gional e esteve longe de resultar em desenvolvimento
[...]. Que aliança da classe trabalhadora com o empre
sário local é inevitável, nos quadros de uma luta pelo
desenvolvimento coletivo e a justiça social, eis o que
_ parece fora de dúvida. As alternativas para a classe
trabalhadora não são numerosas nem se afiguravam
viáveis [...], por outro lado, a classe trabalhadora da
Amazónia não possui organização suficiente nem dispõe
de poder imediato que a habilite a conduzir sozinha um
processo de luta pelo desenvolvimento próprio regional.
O empresariado local está mais organizado no momen
to e no amplo espectro de poderes nacionais dispõe de
certos relacionamentos e possibilidades que, se adequa
damente apoiados, poderão ser bem sucedidos. E preci
sa intensamente de companhia na luta por sua preserva
ção, luta para a qual sua única saída é reacender a
lâmpada do ideal regional, porque o grande capital é
forte e a ação na Constituinte não vai ser fácil.”55
4. A Teoria da Dependência e as
contradições do discurso regionalista
275
te de pensamento que seria conhecida como Teoria da Dependên
cia. Alguns dos postulados desta corrente, especialmente os relati
vos à “questão regional ”, comentarei nas próximas páginas.
Nos anos 1960, as dificuldades económicas enfrentadas
pelos países latino-americanos, o próprio desgaste dos modelos
nacional-desenvolvimentista e populistas e, entre outros muitos fa-
tores, o impacto da Revolução Cubana nos países da região, faci
litaram o surgimento da que seria conhecida como Teoria da De
pendência. Os teóricos da dependência,'56 a maioria dos quais se
autodefiniam como marxistas não-ortodoxos, tentaram superar o
que consideravam limitações da escola cepalina na hora de anali
sar e propor alternativas direcionadas a resolver as desigualdades
económicas entre os países. Duas questões articulavam basica
mente suas análises: uma mais propriamente económica e outra
política, mas, ambas, inseparáveis, pois, como assinalou o soció
logo Francisco de Oliveira, com o conceito de dependência trata-
se de explicar a forma pela qual os interesses internos se articu
lam com o resto do sistema capitalista.'1' Tentando-se mostrar,
por exemplo, que o modelo económico de industrialização pela via
da substituição das importações não fez diminuir as diferenças nos
níveis de desenvolvimento económico entre os países do centro e os
da periferia. Esta situação decorre, entre outros fatores, da manei
ra pela qual se difundem pelo mundo os avanços tecnológicos e do
controle do comércio internacional e, portanto, dos preços, exerci
do pelos países superindustrializados e empresas multinacionais, o
que determina que os países da periferia recebam, progressiva e
comparativamente, uma menor quantidade de produtos manufatu-
rados pelo valor das suas matérias-primas exportadas.58
No plano político, os teóricos da dependência criticaram os
cepalistas por ter dado prioridade em suas análises aos efeitos
económicos das desiguais relações de intercâmbio entre países,
propondo políticas desenvolvimentistas sustentadas nos conceitos
de internalização do centro de decisões, integração nacional, pla
nejamento, interesse nacional, negligenciado o “papel condicionante
das relações internacionais de poder” e também da “estrutura
276
sócio-política interna, sobre o desenvolvimento da economia de
cada país ”,59 e contribuindo, assim, para desvalorizar a importân
cia política dos conflitos entre as classes ou grupos sociais nos
países periféricos. Isto é, segundo o resumo realizado pelo sociólo
go Francisco Oliveira, em sua obra Dependência e Desenvolvimen
to em América Latina, Fernando Flenrique Cardoso e Enzo Faletto
277
acumulação de capital e de homogeneização do espaço económico
do sistema capitalista no Brasil 61 Abordagem diferente, portan
to, dos que partem de uma base estática, “tomando como dado
uma certa situação da divisão regional do trabalho ”, em vez de
examinar o “processo de constituição desses diferenciais 62
Francisco Oliveira, como fizeram antes e depois dele ou
tros autores que focalizam o fenómeno regional fundamentalmen
te através de um viés economicista, insistia, em Elegia para uma
Re(li)gião, na idéia da tendência decrescente das diferenciações
económicas regionais no Brasil como resultado da expansão do
capitalismo monopolista no país, ao ficárem subordinadas ao mesmo
todas as outras formas assumidas pelo capital (por exemplo, agrário
e mercantil):
278