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Trigésima Bienal

Material Educativo

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Caderno do Professor
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A Bienal de São Paulo chega a sua 30ª edição celebrando uma trajetória de ações edu-
cacionais que, iniciada na sua segunda edição, em 1953, sempre esteve em sintonia com
seu tempo, propondo reflexões e aproximando o público da arte. Esses projetos, porém,
eram pontuais, acompanhavam as edições das bienais e eram desativados logo após a rea-
lização das mostras. Desde a 29ª Bienal, temos o privilégio de contar com um pro-
jeto permanente, cuja atuação vem ampliando o campo da interlocução das pessoas com as
obras, gerando diálogos entre os integrantes da equipe e o público.
Essa conquista, que deve ser compartilhada com todos os educadores que já passa-
ram pela instituição e realizaram ações que tiveram impacto nessa história, é também
uma reafirmação do compromisso social da Bienal de São Paulo. Acreditamos que é pelo
acesso à arte e a partir das ações educativas que o público pode exercer sua coletivi-
dade e atribuir sentidos aos acontecimentos do mundo.
As ações do Educativo Bienal para a 30ª Bienal de São Paulo – A iminência das
poéticas tiveram início em 2011 e são fruto de uma colaboração estreita entre a cura-
doria do Educativo Bienal e a curadoria da exposição. Apropriando-se da ideia de cons-
telação como instrumento de trabalho fundamental, o diálogo entre o universo de obras
e artistas da 30ª Bienal e o público foi lançado antes mesmo de a mostra tomar forma
definitiva por meio de cursos, oficinas e ações que provocam reflexões sobre a vida e
a arte contemporânea em suas diversas manifestações.
Este material aqui apresentado pretende ser um campo para a experimentação e a
criação de sentidos. Apoiado em imagens de obras de artistas presentes na 30ª Bienal e
em referências como filósofos, poetas e outros artistas, é uma plataforma para o rico
e fundamental trabalho de todos que se dedicam à formação dos nossos jovens.

Heitor Martins · presidente da Fundação Bienal de São Paulo

Ao longo de toda sua história, a Bienal de São Paulo tem trazido à reflexão temáticas,
obras, artistas e propostas fundamentais para a compreensão da arte moderna e contem-
porânea em seus múltiplos territórios de expressão. Como principal evento brasileiro
no calendário internacional, tem contribuído decisivamente para a afirmação da quali-
dade da produção artística, apresentando ao público a diversidade de tendências e lin-
guagens que compreendem o extenso campo das artes visuais.
Este ano, sob o título de A iminência das poéticas e com o eixo curatorial refe-
renciado na ideia de constelação, a Bienal reúne artistas e obras que tratam das tran-
sições na expressão poética e artística atual e que dialogam entre si. Para conduzir e
orientar os visitantes, conta com um projeto Educativo formado por profissionais capa-
citados a acompanhar, em visitas guiadas e em programas complementares, um público de
centenas de milhares de pessoas – uma atividade pioneira no campo das artes no país.
Ao reconhecer ainda o impacto econômico e cultural desempenhado pela Bienal, um
dos primeiros eventos da economia criativa no Brasil e que reflete a imagem de pro-
moção da qualidade e inovação, tendo o processo criativo como uma das atividades de
maior valor agregado, o Ministério da Cultura se incorpora ao conjunto de esforços
desempenhados para sua realização, formado por todas as empresas patrocinadoras e par-
cerias culturais institucionais, que possibilitam um novo modelo administrativo, maior
autonomia financeira e o espírito coletivo decisivo para o processo de desenvolvimento
econômico e cultural brasileiro.

Ana de Hollanda · Ministra de Estado da Cultura

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O Grupo AES Brasil acredita que investir na formação de profissionais da área de edu-
cação é contribuir com o desenvolvimento do país, pois são eles que disseminam o
conhecimento para as gerações atuais e futuras. É por isso que, orgulhosamente, a AES
Eletropaulo e a AES Tietê patrocinam o Projeto Educativo da 30ª Bienal de São Paulo.
O nosso compromisso com o desenvolvimento das comunidades em que atuamos nos
leva a buscar e a fortalecer vínculos nestes locais por meio de uma atuação social
incisiva e transformadora, como a Casa de Cultura e Cidadania, principal projeto
social da AES Brasil, que tem como objetivo transformar a realidade de milhares de
crianças, jovens e adultos por meio de atividades voltadas à arte, cultura, cidadania,
qualidade de vida e geração de renda.
No Brasil desde 1997, o Grupo AES Brasil é formado por empresas que geram,
comercializam e distribuem energia elétrica e contam com a força de trabalho de mais
de 7.400 colaboradores. O Grupo AES Brasil faz parte da AES Corporation, maior grupo
de energia do mundo, presente em 27 países.

O Instituto Votorantim acredita no poder transformador da arte e, justamente por isso,


defende a necessidade de democratizar e qualificar o acesso à produção cultural, assim
como a espaços e bens culturais, de todas as áreas artísticas – artes visuais, cinema
e vídeo, artes cênicas, literatura, música e patrimônio.
A 30ª Bienal de São Paulo – A iminência das poéticas é uma ação de referência
tanto por seu trabalho de curadoria quanto pelo alcance de público e repercussão. Seus
roteiros estimulam o questionamento e o pensamento crítico sobre as nossas práticas
cotidianas e nos convidam a romper barreiras do olhar condicionado aos velhos estímu-
los e às mesmas respostas.
O Projeto Educativo da 30ª Bienal de São Paulo tem papel especial no acolhimento
dos espectadores, provocando os olhares a buscarem alternativas para o dia a dia – num
jogo de troca entre a visão dos artistas e o repertório de cada um. Valorizamos o tra-
balho de mediação da Bienal na aproximação do público com a arte e as múltiplas alter-
nativas que ela apresenta, a partir de experiências reflexivas.
Mantenham seus olhares atentos aos jogos!

A Bloomberg tem orgulho de ser patrocinadora do Projeto Educativo da 30ª Bienal de São
Paulo, facilitando a formação de professores, a produção e distribuição de materiais
pedagógicos e a realização de visitas orientadas, oficinas e debates, entre outras
atividades. Comprometidos com o incentivo às artes e à cultura, estamos felizes com
esta oportunidade de atuar para a ampliação do acesso e da reflexão sobre a produção
artística contemporânea no país.
Para a Bloomberg, o estímulo à educação é mais que um compromisso: trata-se de
uma prioridade. Por isso somos um dos principais patrocinadores de museus e institui-
ções culturais no mundo.
Líder em serviços de informação financeira e mídia, a Bloomberg fornece conteúdo
em tempo real: notícias, dados de mercado e cotações, além de ferramentas de negocia-
ção e comunicação para clientes em todo o mundo, através dos serviços da BLOOMBERG
PROFESSIONAL®.

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Sob a inSígnia de filóStrato

Luis Pérez-Oramas · curador da 30ª Bienal de São Paulo

A cena é antiga e memorável. Ao mesmo tempo, ocorre a cada panhem e não concordem apenas, mas façam perguntas, caso não me
século, a cada ano, a cada dia. A cena é de todos os humanos, faça claro.”¹
de todas as épocas, de todas as culturas. Nela, encontram-se um Como as imagens falam? Como falamos as imagens? O que é o
adulto e uma criança, um infante e um ser maduro; alguém que visível que não cabe na linguagem? Qual é a palavra que não tem
deseja entender o que olha e pergunta – à risca – e alguém que forma, que não tem imagem? Quem fala? Para quem fala? Em nome
está ali – por acaso ou por destino – para responder à indaga- de quem e com que autoridade? Qual é a distância que nos separa
ção: o que é isso que aparece? O que está me dizendo? O outro do que dizemos? Que outras vozes habitam nossas vozes? Essas
responderá ou talvez ficará em silêncio; ou talvez responderá à são algumas das nossas perguntas para você. São perguntas que
pergunta com outra pergunta. precisam do aprendizado da espera, da experiência da iminência
Quando começamos a pensar o material educativo da 30ª para frutificar em nós.
Bienal – A iminência das poéticas, coube-me responder algu- As palavras e as coisas existem em mundos que não são
mas perguntas: por que a iminência? O que são poéticas? Coube- inteiramente coincidentes, e o lugar da arte – o mesmo da
-me tentar devolver à iminência a sua naturalidade de evento liberdade, da comunidade, da expressão significante – é preci-
inevitável, enxugá-la de transcendência; esforcei-me também samente aquele que está entre elas: o que falta do visível na
por recordar que “poética” não traz consigo nenhum privilégio palavra; o que não chega da voz até as coisas.
de linguagem. Que a iminência das poéticas é também um assunto Por isso concebemos o material educativo de A iminên-
antigo e memorável e que é um negócio de todos os dias, de cia das poéticas: para experimentar esse território de cria-
todos os anos, de todos os séculos: é o que vem, o que aconte- ção. Também é verdade que sempre existiu o mundo e a humanidade
cerá e não sabemos, e é, com isso, matéria de linguagem, maté- antes da linguagem. Por isso, se Filóstrato introduz nossos
ria da história e da vida. trabalhos, Fernand Deligny, que viveu trinta anos com crian-
A iminência é nosso destino e nossas armas são as poéti- ças carentes de linguagem e desenhou seus fazeres de derivas e
cas. Porque elas são a soma de recursos que nos permitem ser demoras, pode concluí-los, ao recordar que “há um nó do mundo
donos da expressão: ir além de nós, ser dois e ser, então, ao qual a linguagem nunca poderá ter acesso”. E que ali, nesse
todos; ou ser somente nós mesmos, no silêncio, a sós, quando lugar silencioso ou murmurante, sem palavras, existiu, desde
assim o desejamos. sempre, a imagem.
Queremos pôr nosso projeto educativo sob a insígnia de
Filóstrato. Trata-se de um orador, um filósofo, um fabulador
que viveu na Grécia Antiga. Escreveu um livro que quisemos tra-
zer para o presente: Eikones [Imagens]. Nele, quiçá pela pri-
meira vez, de forma sistemática, a linguagem se colocou a ser-
viço do visível; fez-se instrumento descritivo do que vemos;
até o ponto de que talvez os quadros que Filóstrato descrevia
só existissem na linguagem que os falava.
No prefácio de Imagens, Filóstrato oferece-nos nova-
mente a cena: alguém está hospedado em uma casa ornada com qua-
dros incrustados nas paredes. Do lado de fora, a cidade cele-
bra jogos olímpicos. O hóspede está ali sozinho quando o
filho de seus anfitriões aparece: uma criança. Pergunta-lhe
sobre os quadros, que está olhando e não entende, e pede-lhe
explicações.
“Assim será [diz o hóspede, Filóstrato] e faremos isso na
forma de discursos, depois que os jovens chegarem”. “O menino ___
[continua] que seja posto à frente e que meu esforço ao discur- ¹ Filóstrato, Amores e outras imagens. Tradução: Rosangela
sar seja dedicado a ele, e quanto a vocês [os jovens], me acom- Amato. São Paulo: Bienal/Hedra, no prelo.

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PactoS momentâneoS

Stela Barbieri · curadora do Educativo Bienal

A procura de uma palavra, um movimento, um outro tempo, uma


imagem. A procura do outro, de si. Entrar na linguagem como
possível, esboçar um deslocamento, movimentar pensamento,
corpo. Tentar um contato vivo, um suspiro que mude o estado do
ar. O desejo de estar junto, sozinho, de se procurar em outro,
de se perder, de romper, de não se aprisionar em si, nos move
ao encontro com a arte.
A 30ª Bienal nasce de encontros e colaboração, configu-
rações que se dão aos poucos na luta por constituir uma grande
constelação, pequenos agrupamentos e ações individuais conecta-
das à intenção de criar ritmos como nas brincadeiras de mão –
eu e ela, eu e ele, eu sem ela, eu com ele: nós.
O Educativo busca conhecer os fenômenos a partir deles
mesmos, conhecer as pessoas a partir de cada uma, das questões
que trazem consigo, de suas maneiras de comunicar.
A equipe curatorial da 30ª Bienal nos trouxe algo que já
nos habitava, a voz em movimento, brechas de comunicação, a
possibilidade de ir para longe, de trazer para perto: frestas
de transformação. Ampliou nosso território, nossa plataforma de
ação, nos apresentou e nos aproximou de artistas e autores que
conversam com aquilo em que acreditamos.
A poética dos artistas é faísca para a prosa acontecer.
Os trabalhos, disparadores que ativam a percepção, a obser-
vação, a interpretação e o devaneio. Podemos ouvir as várias
vozes provocadas pelas obras e ver imagens projetadas pelas
palavras.
O Educativo trabalha com campos poéticos, tensionando-os,
tornando-os visíveis, ativando o espaço de criação. Esse tra-
balho é fundamentalmente realizado por pessoas em colaboração,
que persistem em criar um sonho de possibilitar aproximações.
Uma equipe que procura sempre atualizar suas intenções. As pes-
soas deixam marcas e transformam nossa ação.
Expressão e intuição acontecem na construção do trabalho,
gerando uma constelação de encontros entre a arte e as pessoas,
imantando novas relações.
O Educativo lida com situações de condensação e disper-
são, e tenta catalisar momentos de concentração dentro deste
movimento em instantes de celebração. A Bienal é uma grande
festa solidária, em que as questões do fazer coletivo se esta-
belecem dentro de uma política de ação com espaços para inte-
gração. Vemos a arte como força de transformação e como lingua-
gem. Nosso trabalho é feito de dia a dia.

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Caro professor,

Este é o material educativo da 30ª Bienal de São Paulo – A imi- O material é composto por:
nência das poéticas, que acontece no segundo semestre de 2012.
Nele, você e seus alunos são convidados a criar constelações 7 pranchas de Tyvek®
com imagens de obras de artistas presentes na exposição e refe- 1 caderno do professor
rências que incluem filósofos, poetas, artistas, entre outros. 1 cd de áudio
O material é dirigido a professores de escolas das redes 7 fichas de pistas educativas
pública e privada, educadores de ONGs e líderes comunitários 71 fichas de artistas
para ser trabalhado com adultos, jovens e crianças a partir de 22 fichas de pontuações
seis anos.
No caso das crianças entre seis e catorze anos, o adulto Em nosso site você pode criar constelações online e comparti-
que coordenar o trabalho com este material poderá estudá-lo lhar com seus amigos em redes sociais. Acesse:
previamente e apresentar seus conteúdos com leitura comparti-
lhada. Isso facilitará a aproximação entre a linguagem do mate- www.jogoeducativo.30bienal.org.br
rial e a do grupo orientado.
Este material permite uma diversidade de ações, tais como
conhecer mais sobre os artistas nas fichas, ler imagens, criar
constelações que funcionem como uma fotografia das conexões
e ideias que você e seus alunos possam inventar. As pranchas
podem ser usadas como suporte para organizar as fichas. Algu-
mas delas contam com um pequeno texto no verso que levanta um
aspecto da obra ou do artista.
O som é muito importante para esta bienal, e, por isso,
este material é acompanhado de um CD. Na primeira parte, contém
obras sonoras realizadas por artistas participantes da exposi-
ção e colaboradores. São composições musicais, registros sono-
ros de ações, áudios usados em instalações. A segunda parte é
composta por ambientes sonoros, gravações realizadas em dife-
rentes situações em diversos lugares do mundo. Por fim, o CD
também apresenta leituras de imagens: diversas pessoas falam
sobre as imagens que lhe são apresentadas e que não estão pre-
sentes neste material.
Pesquisando, você pode enriquecer ainda mais seu olhar.
Crie suas próprias constelações e invente novos caminhos para
pensar a arte!

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conStelação 1

As viagens ensinam (entre outras coisas)


que as palavras são como estranhas às
coisas que elas nomeiam – donde uma
relação de alienação bilateral atrevo-
me a dizer entre coisas e palavras
de que o viajante e em particular o
turista é a vítima a qual ele mesmo
Porque o fato novo da política que vem é expressa na confissão ingênua de sua
que ela já não será a luta pela conquista decepção – ele só pode ficar decepcionado
ou controle do Estado, mas a luta entre já que as coisas não se parecem com
o Estado e o não Estado (a humanidade), os nomes nem os homens com as coisas –
disjunção irremediável entre as deve refugiar-se no ato de fotografar
singularidades quaisquer e a organização que mumificando o presente por esse
estatal. embalsamador instantâneo o aparato
recortando e paralisando o real dando-
lhe magicamente o estatuto da imagem o
dá por passado de um modo fulminante e o
torna assim homogêneo à palavra – o lugar
onde estou pode por fim converter-se
no título da foto
2 ( praia das bermudas junho de 58 )

11 12

3 4

5 7

1. Ricardo Basbaum
10 2. Maryanne Amacher
3. Bruno Munari
8
4. Kirsten Pieroth
5. David Moreno
6. Bernardo Ortiz
7. Charlotte Posenenske
8. Meris Angioletti
9. Runo Lagomarsino
10. Ciudad Abierta
11. Giorgio Agamben
12. Godofredo Iommi

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conStelação 2

[…] Mas, enquanto pinta, é sempre a


propósito das coisas visíveis, ou, se é
ou ficou cego, a propósito desse mundo
irrecusável a que chega por outros Assim, faço a aposta: o entrelaçamento
sentidos e do qual fala em termos de bem poderia preencher, para a pintura
quem enxerga. E é por isso que o seu futura, a mesma função que teve, durante
trabalho, obscuro para si mesmo, é dois ou três séculos, a perspectiva.
entretanto guiado e orientado. Nunca se O que não significa dizer que todos
trata senão de levar mais adiante o traço os quadros, doravante, deverão usar o
do mesmo sulco já aberto, de retomar e trançado, e tampouco que todos os quadros
de generalizar uma característica que já da Renascença tenham sido construídos em
aparecera no canto de um quadro anterior perspectiva: basta que o entrelaçamento
ou em algum instante de sua experiência, funcione, com respeito à pintura, como
sem que o próprio pintor jamais possa um modelo regulador, como o fez a
dizer, porque a distinção não tem perspectiva, freio e guia da pintura,
sentido, o que pertence a ele e o que como dizia Leonardo.
pertence às coisas, o que essa nova obra
acrescenta às antigas, o que tirou dos
outros e o que é seu.

1 11 12

5 13 14

1. Bernard Frize
2. Sheila Hicks
3. Gego
8 4. Fernand Deligny
5. Eduardo Stupía
10
6. Benet Rossell
7. Jutta Koether
8. Anna Oppermann
9. f. marquespenteado
10. John Zurier
11. Maurice Merleau-Ponty
12. Hubert Damisch
13. Filóstrato
14. Nicolas Poussin

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conStelação 3

3 11 12

A poesia pau-brasil é uma sala de jantar [...] E assim atraem para si pessoas não
domingueira, com passarinhos cantando na particularmente astutas, porque ser amado
mata resumida das gaiolas, um sujeito e honrado é agradável e gratificante para
magro compondo uma valsa para flauta e a qualquer um, e ser capaz de ligar a si
Maricota lendo o jornal. No jornal anda qualquer um é indício de certa virtude
todo o presente. superior.

13 14

7
8

1. Arthur Bispo do Rosário


2. Hans-Peter Feldmann
3. Dave Hullfish Bailey
4. Frédéric Bruly Bouabré
5. Horst Ademeit
9 10
6. Ian Hamilton Finlay
7. Hayley Tompkins
8. Helen Mirra
9. Athanasios Argianas
10. Michel Aubry
11. Samuel Beckett
12. Aby Warburg
13. Oswald de Andrade
14. Giordano Bruno

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conStelação 4

9 10

1 2

A lua ignora que é tranquila e clara


e não pode sequer saber que é lua;
a areia, que é a areia. Não há uma
coisa que saiba que sua forma é rara.
As peças de marfim são tão alheias
ao abstrato xadrez como essa mão
que as rege. Talvez o destino humano,
breve alegria e longas odisseias,
seja instrumento de Outro. Ignoramos;
dar-lhe o nome de Deus não nos conforta.
3 Em vão também o medo, a angústia, a absorta
e truncada oração que iniciamos.
Que arco terá então lançado a seta
que eu sou? Que cume pode ser a meta?

11 12

4 Duas pessoas caminham pelas ruas e enchem


um saco de folhas. Quando o saco está
cheio, uma delas fecha os olhos e, guiada
pela outra, esvazia o saco folha por
folha, até que fique vazio. Trocando os
papéis, elas percorrem de volta a trilha
5 de folhas.

13

8
1. Franz Erhard Walther
2. Rodrigo Braga
6 3. José Arnaud Bello
4. Tehching Hsieh
7
5. Bas Jan Ader
6. Sigurdur Gudmundsson
7. Waldemar Cordeiro
8. Ali Kazma
9. Édouard Manet
10. Arthur Rimbaud
11. Hélio Oiticica
12. Jorge Luis Borges
13. Allan Kaprow

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conStelação 5

O melhor será escolher o caminho de


Eis-me, portanto, sozinho sobre a terra, Galta, percorrê-lo de novo (inventá-lo
sem outro irmão, próximo, amigo ou à medida que o percorro) e sem perceber,
companhia que não a mim mesmo. O mais quase insensivelmente, ir até o fim – sem
sociável e o mais afetuoso dos humanos me preocupar em saber o que quer dizer
dela foi proscrito por um acordo unânime. “ir até o fim”, nem o que eu quis
Buscaram nas sutilezas de seus ódios dizer ao escrever essa frase. Quando
que tormento poderia ser mais cruel caminhava pela vereda de Galta, já
para minha alma sensível e romperam com longe da estrada, passada a região das
violência todos os laços que me ligavam a bânias e dos charcos de águas paradas,
eles. Teria amado os homens apesar deles e ultrapassado o Pórtico em ruínas,
mesmos. Ao cessarem de sê-lo, só entrando na pequena praça de casas
puderam privar-se de minha afeição. desmoronadas, precisamente no começo da
Agora, portanto, são para mim estranhos, minha longa caminhada, não sabia aonde
desconhecidos, por fim insignificantes, ia nem me preocupava em sabê-lo. Não
pois assim o quiseram. Mas e eu mesmo, me fazia perguntas: caminhava, apenas
afastado deles e de tudo, o que sou? Eis caminhava sem rumo certo. Ia ao encontro…
2 o que me resta buscar. ao encontro de quê? Até então não sabia e
nem o sei agora.

1 11 12

4 5

13 14

1. Elaine Reichek
2. Alfredo Cortina
10
3. Xu Bing
4. Odires Mlászho
5. Saul Fletcher
9
6. Roberto Obregón
7. Hans Eijkelboom
8. Marcelo Coutinho
9. Allan Kaprow
10. Jiří Kovanda
11. Jean-Jacques Rousseau
12. Octavio Paz
13. Charles Baudelaire
14. Pier Paolo Pasolini

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conStelação 6

O que não é de forma alguma apreendido é


o futuro; a exterioridade do futuro é
totalmente distinta da exterioridade
espacial justamente pelo fato de que
o futuro é uma surpresa absoluta. A
previsão do futuro e a projeção do […] A linguagem parece sempre
futuro, tidas como o essencial do tempo povoada pelo outro, pelo ausente,
por todas as teorias, de Bergson a pelo distante, pelo longínquo; ela é
Sartre, são apenas o presente do futuro e atormentada pela ausência.
não o futuro autêntico; o futuro é o que
não é apreendido, o que cai sobre nós e
se apodera de nós. O futuro é o outro. A
relação com o futuro é a própria relação
com o outro.

12 13

1. Robert Filliou
2. Juan Luis Martínez
11 3. Nicolás Paris
4. Jerry Martin
10
5. Kriwet
6. Franz Mon
7. Absalon
8. Alejandro Cesarco
9. Pablo Pijnappel
10. Moris
11. Olivier Nottellet
12. Emmanuel Levinas
13. Michel Foucault

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conStelação 7

A precisão da verdade é inacessível.


Consequentemente, toda afirmação positiva
humana sobre o verdadeiro é uma
conjetura. A decadência, [fora] da pureza
da verdade, de [nossa] fraca apreensão
resulta em que nossas afirmações sobre o
verdadeiro sejam conjeturas.
2

13

8 9

10
1. Daniel Steegmann Mangrané
12 2. Fernando Ortega
3. Yuki Kimura
4. PPPP (Productos Peruanos para Pensar)
11
5. Nino Cais
6. August Sander
7. Iñaki Bonillas
8. Mark Morrisroe
9. Edi Hirose
10. Eduardo Berliner
11. Christian Vinck
12. Tiago Carneiro da Cunha
13. Nicolau de Cusa

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artiStaS e PontuaçõeS

Absalon Alejandro Cesarco

1964, Ashdod, Israel – 1993, Paris, França. 1975, Montevidéu, Uruguai. Vive em Nova
York, Estados Unidos.

Absalon se dizia aspirante a arquiteto e era fascinado pela Ler é imaginar, associar, recordar, esquecer, transformar. Ale-
ideia de que a arquitetura poderia ser uma construção baseada jandro Cesarco explora esses procedimentos em filmes, desenhos,
no corpo e nas atividades vitais que o ser humano desempe- traduções. Lida com as possibilidades de desfrute do texto, que
nha. A incorporação dessas aspirações a um vocabulário de for- permitem que escapemos do contexto espaço-temporal imediato.
mas geométricas precisas (círculos, quadrados, triângulos) Para Cesarco, a leitura é uma proposição à autoria e ressigni-
levou Absalon a criar as células: casas nômades para atender ficação. Para potencializá-los, articula formalmente conteúdos
as necessidades básicas individuais. À primeira vista, lembram verbais, convidando o leitor a elaborar experiências narrati-
o modernismo arquitetônico de Le Corbusier ou o rigor formal vas próprias e diferentes entre si. Em seus Index, mapeia seus
minimalista, mas são intencionalmente um projeto de protesto: interesses na leitura: escrita, ideias e conceitos. Trata-se
“Essas casas serão meios de resistência a uma sociedade que de listas infindáveis de conteúdos distintos e multiculturais,
me impede de tornar-me o que preciso ser”. O artista construiu sem objetivos práticos, nas quais o artista coleciona e enumera
os modelos usando medidas do próprio corpo, com o objetivo de seus desejos para admirá-los, como em um museu ou enciclopédia
habitá-los e confrontar suas características escultóricas e particular. Nenhuma leitura é definitiva; sempre que as lemos,
arquitetônicas com o ambiente urbano de seis metrópoles. Sua as obras nos entregam algo inapreendido. O artista conta: “[É
morte precoce o impediu de realizar essa experiência. As célu- o] índice de um livro que ainda não escrevi e que, provavel-
las são exibidas com seus estudos e parecem ser destinadas a mente, nunca escreverei. Um recipiente que se torna seu próprio
demonstrar como podemos aprender a conviver com o desconforto. conteúdo. O índice é metade biográfico e metade texto teórico”.

Aby Warburg Alfredo Cortina

1866, Hamburgo, Alemanha – 1929, Hamburgo. 1903, Valencia, Venezuela – 1988, Caracas,
Venezuela.

Imagine a história contada por imagens. Agora, imagine essas Alfredo Cortina é unanimemente considerado um dos fundadores
imagens a distâncias variadas e em diferentes tamanhos, milime- da radiofonia moderna na Venezuela. Roteirista de rádio e tele-
tricamente pensados. Foi assim que Aby Warburg organizou suas visão, Cortina escreveu radionovelas, programas culturais, fez
constelações: 63 pranchas em que milhares de fotografias contam adaptações de contos infantis, séries de ficção, telenovelas,
a história de forma atemporal. A memória coletiva transmitida além de dramas e comédias para teatro. Durante toda sua vida,
pelas imagens rompe a linearidade e constrói pontes entre o Cortina frequentou um grupo de intelectuais e artistas de van-
presente e o passado, ganhando significado a partir das dimen- guarda venezuelanos – as irmãs Ida e Elsa Gramcko, poetisa e
sões e disposição das figuras. O Atlas Mnemosyne [do grego, pintora, respectivamente, Carlos Puche, o pioneiro da fotogra-
memória] resultou das investigações de Warburg sobre a psico- fia moderna venezuelana, o filósofo Ernesto Mayz Vallenilla e
logia das imagens: a forma assumida por elas e as razões que a poetisa Elizabeth Schön, sua própria esposa. Aficionado pela
determinam sua transformação no tempo. Quando aplicadas à his- fotografia, produziu com esse meio uma obra significativa,
tória da arte, essas relações consideram a existência de traços em silêncio e extrema discrição, tendo sua esposa como único
de qualquer outro período, a imitação de modelos anteriores, e modelo. Nessas fotos, interrogou a noção de paisagem ao usar um
a produção artística como parte da vida de certo tempo. Ao mor- sistema compositivo estritamente repetitivo, para ressaltar de
rer, além do atlas inacabado, deixou uma biblioteca com mais de uma só vez o pitoresco e o estranho de uma realidade observada
60 mil volumes, que mais tarde daria origem ao Instituto War- de um ponto de vista em que a subjetividade do fotógrafo e a da
burg, em Londres. modelo aparecem completamente neutralizadas.

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Ali Kazma Allan Kaprow

1971, Istambul, Turquia. Vive em Istambul. Duas pessoas 1927, Atlantic City, Estados Unidos –
caminham pelas 2006, Encinitas, Estados Unidos.
ruas e enchem

Qual a natureza do trabalho humano? O que há em comum entre as “O que é um happening? Um jogo, uma aventura, uma série de ati-
atividades de um neurocirurgião, um chefe de cozinha, um ofi- vidades em que os participantes se envolvem simplesmente para
cial de cartório, um pintor e um taxidermista? Entre a aproxi- se divertir.” Os happenings foram a resposta de Allan Kaprow à
mação realista, marcadamente metódica e detalhista, e a cons- inquietação que as categorias artísticas tradicionais lhe cau-
trução poética, os filmes de Ali Kazma revelam os gestos, as savam. Para ele, um módulo de pouso na lua é superior a qual-
técnicas, a atenção, o esforço e a estética envolvidos nas quer escultura, um diálogo entre astronautas e a base terres-
rotinas de diferentes profissões. Ao apontar para o que nor- tre é melhor que um poema contemporâneo, sem citar sua evidente
malmente não vemos ou simplesmente não percebemos da vida em superioridade estética em relação à música eletrônica. “Não
sociedade, suas criações exploram o que há de humano – e, para- arte é mais do que arte arte”, e não arte é qualquer coisa que
doxalmente, o que há de máquina – nas práticas, produtos e atraia o olho do artista e nele desperte o desejo de torná-la
serviços que atravessam o nosso dia a dia. Desse modo, tam- arte. Dissolvendo as fronteiras entre arte e vida, Kaprow des-
bém investigam o sentido e o significado do trabalho hoje e a taca as experiências do público e o convida a participar ativa-
maneira como as variadas ocupações definem o homem e seu estar mente da criação do evento. O artista se negava a recriar seus
no mundo – ao mesmo tempo que os transformam constantemente. A ambientes, insistindo em sua sobrevivência apenas na memória
fascinação gerada por suas imagens talvez seja fruto da identi- dos participantes e seus desdobramentos. Enquanto questiona o
ficação que propiciam no observador. Em que medida os filmes do sistema da arte, propõe uma nova categoria artística pela qual
artista falam de nós mesmos? cede ao público a coautoria da obra e aciona funções diversas
de uma situação em que o cotidiano é a matéria-prima.

Anna Oppermann Arthur Bispo do Rosário

1940, Eutin, Alemanha – 1993, Celle, 1909 (1911), Japaratuba, Brasil – 1989, Rio
Alemanha. de Janeiro, Brasil.

O excesso de componentes nas obras de Anna Oppermann pode dei- “De que cor você vê minha aura?” era o que Bispo dizia a quem
xar o espectador desorientado. São fotos, desenhos, anotações, se aventurava a entrar em sua cela-ateliê no hospital psiquiá­
textos teóricos e outros elementos que a artista organiza em trico onde viveu junto a sua obra por cinquenta anos. Escrevia
composições caóticas, as quais denomina ensembles (“juntos”, e bordava as respostas, eternizando-as. Bispo costurava o tempo
em francês). A partir de algum tema, como “ser um artista” ou a e aquilo que o tocava. Descosturava seus uniformes e utilizava
conexão entre religião e sexualidade, ela cria uma rede de pen- a linha para bordar nomes de seus companheiros e registros do
samentos através de um método de construção com quatro fases: cotidiano: bandeiras, navios, números, estandartes e a palavra
meditação, catarse, reflexão e análise. Os sessenta ensembles – sua mais preciosa matéria-prima. Ela orientava Bispo em sua
que a artista realizou parecem buscar reconhecer uma parte da obra, cuja autoria ele atribuía à voz de Deus. Peças produzi-
realidade, em um processo interminável de reflexão. De fato, das com todo tipo de sucata e objetos catalogavam o universo e
cada obra pode levar anos para ser concluída ou, ainda, segundo mapeavam seu mundo conforme tinha sido instruído. Essa palavra,
a artista, teoricamente, nunca terminar. Num esforço de sis- por meio da qual o artista se relacionava com tudo que perme-
tematizar a geração contínua de significados, fotografias de ava seu cotidiano, desenhou e bordou sua biografia no “Manto da
estágios de construção da obra são incluídas na composição. apresentação”, mortalha que teceu com materiais de seu cober-
Em seus trabalhos, as partes formam um todo fragmentário: as tor, com que se apresentaria no dia do Juízo Final. Quadros,
diversas conexões que podemos estabelecer não constituem uma bordados, colagens, objetos e palavras guardam sua vida e sua
visão centralizada do assunto. obra: “No dia 22 de dezembro 1938. Eu vim. Preciso destas pala-
vras. Escrita”, esclarece Bispo.

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Arthur Rimbaud Athanasios Argianas

1854, Charleville, França – 1891, Marselha, 1976, Atenas, Grécia. Vive em Londres,
França. Inglaterra.

“Leitor, sou eu mesmo a matéria deste livro […] nele serão Quando uma escultura torna-se música? Qual o peso da palavra?
encontrados alguns traços do meu caráter e das minhas ideias” Quanto mede o tempo? Qual o comprimento do som? A obra de Atha-
são palavras de Montaigne, considerado por muitos o inventor do nasios Argianas realiza uma contínua tradução de formas, gran-
ensaio pessoal. Poderiam, porém, ser de Arthur Rimbaud, poeta dezas, sentidos e linguagens. Música, escultura, performance,
precoce, gênio rebelde, sintoma de um novo tempo que chega- literatura e instalação aproximam-se em produções que são quase
ria com o século 20. É difícil apontar o que difere sua poesia sempre recriações ou desdobramentos de trabalhos anteriores.
do que vive o poeta. Em Iluminações (1886), descontente com o Interessado no modo como as informações são processadas e tra-
mundo moderno, oscila entre a descrição da experiência do visí- duzidas, sua prática investiga as relações entre diferentes
vel na cidade e a representação lírica e metafórica da rea- linguagens. Elegantes construções metálicas de inspiração cons-
lidade: “[…] de minha janela, vejo espectros novos circulando trutivista são atravessadas por projeções de luz, originando
através da espessa e eterna fumaça de carvão – nossa sombra dos jogos de sombra que se apresentam como desenhos no espaço.
bosques, nossa noite de verão!”. O autor rompe com o formalismo Construídas com hastes, fios e fitas metálicas, essas máquinas
ainda proeminente na época e apresenta versos com uma lingua- poéticas escondem textos impressos sobre o metal, que somente
gem que amplia a mera repetição do real. Aos vinte anos, aban- são percebidos na medida em que o espectador desbrava a obra
donou a escrita agressiva, largou o verbo e suas alquimias de com o corpo e o olhar, permitindo que a incidência de luz os
sentidos. Aventurou-se pela África e desligou-se inteiramente torne legíveis. O próprio público opera esse maquinário, reali-
do cenário poético e de seu tempo. zando espécies de coreografias que dão forma a músicas, poemas,
desenhos e esculturas em movimento.

August Sander Bas Jan Ader

1876, Herdorf, Alemanha – 1964, Colônia, 1942, Winschoten, Holanda. Desaparecido no


Alemanha. Oceano Atlântico em 1975.

Diferenças de classe, estilos de vida, o coletivo e o indi- Uma intensa melancolia e um refinado sentido de humor permeiam
vidual são temas recorrentes nos trabalhos de August Sander. as performances de Bas Jan Ader. Nelas, o corpo do artista é
Uma coleção de retratos sobre a sociedade alemã, na série Pes- submetido à força da gravidade, como que a apontar sua vul-
soas do Século 20, revela um país em plena mutação, desde a nerabilidade. Sentado em uma cadeira, no telhado de uma casa,
vida camponesa oitocentista à sociedade pautada pelo capita- deixa-se cair e rola até atingir o chão. De bicicleta, des-
lismo que se formava. Além de seus retratos dizerem muito sobre via da pista e mergulha em um canal. Pendurado em um galho
as pessoas, seus costumes, os locais onde viviam e de sua pró- de árvore, resiste ao próprio peso até despencar em um ria-
pria relação com esse universo, Sander evidencia os tipos e as cho. Simples e misteriosas, as experiências parecem indagar o
estruturas hierárquicas da sociedade alemã. Seu trabalho trans- sentido da vida – em tom ora dramático, ora cômico. Em Estou
cende a ideia de registro: observar suas fotografias é quase muito triste para te contar (1971), o artista chora diante
um processo investigativo, em que os detalhes nos contam sobre da câmera – e nos percebemos a sós com ele, com sua fragili-
aquelas pessoas, onde se encontram, o que fazem e, através dade e tristeza, desconfortáveis na iminência de nos depararmos
disso, saber mais sobre o artista. Sander dedicou cinco décadas com nossa própria dor. A morte de Bas Jan Ader, desaparecido
à realização do que pode ser considerado um atlas da sociedade no Oceano Atlântico ao tentar atravessá-lo com um minús-
alemã da época; entretanto, seu inventário permaneceu inaca- culo veleiro, contribui para a mística em torno de seu nome.
bado e, no final de sua vida, dedicou-se a fotografias de rua, O artista realizava a segunda parte de um tríptico chamado Em
arquitetura, natureza e paisagens. busca do milagroso e parece ter levado às últimas consequências
as indagações sobre o significado e a finitude da vida.

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Benet Rossell Bernard Frize

1937, Àger, Espanha. Vive em Barcelona, 1954, Saint-Mandé, França. Vive em Paris,
Espanha. França, e Berlim, Alemanha.

Para além de uma linguagem poética, Benet Rossell criou uma Um método preciso e rigoroso está por trás de cada pintura de
escrita particular: a benigrafia. Ideogramas e desenhos cali- Bernard Frize. Um movimento previamente determinado do pincel
gráficos dão forma a pequenas escrituras. Permanentemente rein- e uma escala cromática previamente estabelecida se desdobram
ventados e recombinados, os signos não pertencem a qualquer na tela de forma sistemática e quase mecânica. O pincel parece
alfabeto, criam composições sempre únicas e insondáveis e rea- obedecer cegamente o princípio que lhe foi proposto, negando
firmam a linguagem como aventura e descoberta. Sua escrita qualquer traço de expressão pessoal do artista. Frize busca uma
estende-se a filmes, desenhos, gravuras, poemas e pinturas – pintura pura, que opere em suas qualidades específicas, sem
como que a narrar uma só história ou compor uma única teoria. O remeter a qualquer referência externa. Não há representações,
interesse pelo pequeno, pelo detalhe ou pelo desapercebido não ideias ocultas ou mistério a ser descoberto. Ao olhar do espec-
é uma particularidade das micrografias, mas uma característica tador, a única revelação possível é a forma com que a tela foi
que permeia suas obras, como os objetos ópticos feitos para pintada, sua lógica interna, cujos sinais são perceptíveis. As
observar desenhos escondidos; os filmes em cuja película inter- obras deste artista não propõem enigmas nem escondem significa-
vém, desenhando ou perfurando o material; e as produções em dos que ultrapassem a pintura ou que justifiquem sua importân-
cinema que evocam um olhar sociológico sobre seu entorno – caso cia. Se por um lado suas telas ocupam-se de questões próprias
de Rambla 24h (1980), que documenta a famosa rua de Barcelona, de seu meio, por outro atuam como readymades, que evidenciam as
e Ceremonials (1974), que registra festas e rituais organizados expectativas do público em torno do objeto artístico.
por artistas catalães vivendo em Paris.

Bernardo Ortiz Bruno Munari

1972, Bogotá, Colômbia. Vive em Bogotá. 1907, Milão, Itália – 1998, Milão.

Na forma de palavras, o tempo atravessa os papéis dos desenhos Os objetos constituíam o campo de interesse de Bruno Munari,
de Bernardo Ortiz. Com uma persistente necessidade de captu- mas era pelos livros que tinha especial apreço. Para o artista,
rar os efeitos da passagem do tempo, registra rastros de bre- designer e educador, cada livro representava um mundo que se
ves instantes em livros de artista e desenhos: “O papel é a abria aos olhos do leitor. O papel, a lombada, a organização
janela ao mundo que me interessa trabalhar, na qual transcorre das letras, as ilustrações arquitetam ritmos e possibilidades
meu universo”. Ortiz discute coisas da vida, assuntos familia- de leituras e têm a mesma importância dos conteúdos. Foi dessa
res, corriqueiros, dos quais realça pequenos detalhes, ten- relação que, em 1950, surgiu a ideia de “livro ilegível”, que
tando evidenciar mundos inéditos. Seus desenhos aludem a deam- constrói uma narrativa plástica e visual em que forma e con-
bulações pela cidade e a simples tarefas cotidianas. Mas também teúdo eram uma coisa só. Para Munari, um livro é uma desco-
evocam uma análise do espaço e as inúmeras possibilidades de berta, um espaço de experiências subjetivas e multissensoriais
percebê-lo. Seu processo de desenho está intimamente ligado a para quem o tiver entre as mãos. De forma que os mecanismos
um exercício de experimentação da palavra como matéria visual. de reprodução gráfica e a arte não se restringissem aos artis-
O artista elabora jogos de representação entre a imagem e a tas, ele passou a instalar fotocopiadoras em suas exposições.
escrita, nos quais a palavra e frases descontextualizadas len- É nesse mesmo momento que desenvolveu os laboratórios “Brin-
tamente criam imagens, que dão origem a uma percepção contínua car com arte”: jogos e ações que propõem a exploração ativa de
e duradoura, no contratempo da reprodução e recepção apressada várias técnicas artísticas, a fim de que meios expressivos pró-
das informações a que somos expostos. prios de contato com a arte pudessem ser experimentados.

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Charles Baudelaire Charlotte Posenenske

1821, Paris, França – 1867, Paris. 1930, Wiesbaden, Alemanha – 1985,


Frankfurt, Alemanha.

Esqueçamos os textos rígidos e postulares, ancorados em pres- Os módulos quadrangulares de Charlotte Posenenske afastam-se
supostos inquestionáveis. Charles Baudelaire não se preten- do que pode ser reconhecido como obra de arte. Assemelham-se a
dia inventor de certezas. Seu desejo era dividir com o leitor tubos industriais de ventilação rastejando nas ruas ou túneis
reflexões que o inquietavam sobre a vida, a arte, a poesia, os espalhados por tetos e paredes, como se nos levassem a um pas-
passantes, a rua, a beleza feminina, a boemia. Em seus ensaios, seio pelo interior das estruturas arquitetônicas. “As coisas
Baudelaire atacou sem pudor a moral, os bons costumes e o pro- que faço são modificáveis e podem ser facilmente reproduzidas.
gresso que se impunha sobre a sociedade, prevendo o impacto da São componentes de um espaço. Por serem como elementos de cons-
modernidade sobre as cidades e o comportamento humano. Como trução, podem sempre ser rearranjados em novas combinações ou
poeta, não foi menos polêmico: um lirismo mordaz e uma lingua- posições – por isso, alteram o espaço”, explica. Em uma poética
gem que oscilava entre o sublime e o grotesco conturbou o cená- de exploração da forma e do espaço, baseada no improviso e na
rio artístico francês, dedicado à produção e ao consumo do participação do outro, Posenenske gradualmente passou a sentir
belo, do adereço estético descolado do mundo. Em 1857, quando que sua presença era desnecessária para a instalação das obras.
publicou As flores do mal, foi processado por obscenidade, Começou a se questionar sobre a função da arte e sua inten-
blasfêmia e por ofender a burguesia francesa. Pagou uma multa ção de transformação social. Frustrada com suas próprias limi-
e foi obrigado a retirar seis poemas do livro. Baudelaire con- tações utópicas e artísticas para solucionar problemas sociais,
jugou em poemas e ensaios aquilo que supunha ser a índole da em 1968, abandonou a carreira, foi estudar ciências sociais e
modernidade. dedicou-se, até sua morte, a questões trabalhistas.

Christian Vinck Ciudad Abierta

1978, Maracaibo, Venezuela. Vive em 1971, Valparaíso, Chile.


Maracaibo.

As pinturas de Christian Vinck nos conduzem por sua experiên­ Próximo a Vinã Del Mar, em uma área que se estende da costa ao
cia diante do mundo. Como um diário de bordo ou um caderno de interior, uma experiência arquitetônica apoia-se na poesia.
notas, suas telas parecem responder a tudo que lhe desperta a Como em miragens, erguem-se construções improváveis, com for-
atenção, criando uma espécie de percurso visual, coleção de mas e materiais diversos, as quais constituem um espaço onde
imagens e de histórias. “Sou como uma antena. Pinto meu entorno se busca conferir à vida, ao trabalho e ao estudo uma uni-
mais imediato, mas também me inspiram a televisão, a imprensa, dade. Ciudad Abierta dá corpo aos projetos da cooperativa Ame-
os livros, os amigos, tudo que me rodeia e me intriga”, reida, criada por professores da Escola de Arquitetura de Val-
explica. De fato, a palavra “tudo” talvez seja a que melhor paraíso. Essa construção coletiva propõe a investigação da
defina a incrível variedade de temas de sua obra: da transfor- América Latina por atos poéticos, como a realização das Phale-
mação do bicho-da-seda à imagem de uma estação petroleira, pas- nes (jogos abertos à participação dos espectadores), traves-
sando pelo lago de Maracaibo, objetos banais, como um livro ou sias pelo continente ou obras em grupos. A poesia é vista como
um frasco de nanquim, e personagens que retomam a história de necessidade vital do homem, por sua capacidade de criar e dar
seu país e região. A paleta austera, quase clássica, e a den- sentido, e, para tal, deve equiparar-se à ação. Toda constru-
sidade pictórica das telas tensionam a simplicidade do que é ção da Ciudad Abierta é uma construção poética; toda poesia é
representado. Aquilo que é próximo, cotidiano, banal, às vezes uma ação transformadora. Ali, encontra-se uma América disposta
se torna opaco, enigmático, duvidoso, aberto a outras relações ao redescobrimento, lançando olhar renovado sobre as formas com
e interpretações. as quais construímos nossas cidades, nossas relações e nossa
identidade.

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Daniel Steegmann Mangrané Dave Hullfish Bailey

1977, Barcelona, Espanha. Vive em São Paulo 1963, Denver, Estados Unidos. Vive em Los
e Rio de Janeiro, Brasil. Angeles, Estados Unidos.

Qual será a sensação de adentrar uma mata fechada e escura? Quando o espaço que habitamos é ameaçado por transformações
Como reagimos no encontro com o desconhecido? O olhar estran- como guerras ou canalizações de rios, somos forçados a bus-
geiro do catalão Daniel Steegmann Mangrané descobre a mata car novas formas de sociabilidade. Dave Hullfish Bailey inves-
Atlântica brasileira. Seus trabalhos, que variam de aquarelas tiga os modelos sociais e suas relações com os processos exter-
em folhas de caderno a filmes em 16mm e elaboradas estruturas, nos que o configuraram. Em Disaster Playground, Bailey constrói
retratam seu encontro com uma cultura desconhecida – algo que um refúgio pós-apocalíptico para setenta pessoas compartilharem
precisa entender. Seu olhar curioso e disposto ao novo incor- as tarefas de sobrevivência durante quatro dias. Em outra obra,
pora diferentes perspectivas que são reveladas ao público em o sistema de irrigação de Imperial Valley, colapsado, é compa-
contato com sua obra. Kiti Ka’aéte torna evidente o movimento rado à Slab City, uma comunidade que ocupou essa área e que,
intrínseco à mata profunda (“ka’aeté”, em tupi-guarani), que por seu isolamento, criou um modelo próprio de democracia. Como
excede a si mesma e se transforma. Um mosaico de formas geo- uma pesquisa em andamento, muitas instalações apresentam refe-
métricas da cultura indígena organiza o caos da mata (“kiti”, rências históricas e científicas, bem como construções impro-
significa corte com objeto afiado e nos remete à tecnologia, visadas que copiam e ressignificam o funcionamento dos siste-
ao homem, cuja necessidade de entendimento pede algum tipo de mas estruturais e sociais: sistemas hidráulicos, por exemplo,
organização). Atraente à distância, o pequeno mosaico iluminado são comparados à troca e ao consumo de conhecimento. As ins-
convida o espectador a aproximar-se, a enfrentar a mata desco- talações são, algumas vezes, alteradas no decorrer da mostra,
nhecida e a movimentar-se, sem que possa se fixar em um único além de desdobrarem-se em outros meios, como aulas-performance
ponto ideal. e livros.

David Moreno Edi Hirose

1957, Los Angeles, Estados Unidos. Vive em 1975, Lima, Peru. Vive em Lima.
Nova York, Estados Unidos.

A voz das imagens e a face dos sons intrigam David Moreno. Seus As fotografias de Edi Hirose são, ao mesmo tempo, registros de
trabalhos remetem a movimentos que articulam a composição das cenas e interpretações subjetivas do real. Por um lado, são
imagens em sua totalidade. Seus experimentos com desenho, foto- documentais: as imagens se apresentam de forma objetiva, em uma
grafia, vídeos e pintura revelam a tecnologia como expressão tentativa de retratar fielmente a realidade. Porém, sua aten-
do corpo em composições abstratas. Colagens, legendas e obje- ção especial ao acaso nos revela o olhar do artista e nos lem-
tos cotidianos complementam sua obra, informada pela materia- bra de que há alguém disparando a câmera. As imagens de Hirose
lidade do som e as possibilidades que confere às experiências não buscam neutralidade e autenticidade; embora não sejam cenas
visuais. “Essa [música] é uma arte que espelha, de modo abs- criadas, a presença do artista é evidente. Hirose pesquisa
trato, nossa sensação do que é estar vivo. O desafio de traba- espaços observando suas transformações e as relações que arti-
lhar com materiais estáticos, como papel, tinta, etc., está em culam. Em Proyecto Pozuzo, fotografou por anos o dia a dia de
instilar neles uma qualidade de movimento e duração, dar vida uma colônia de alemães e austríacos, que há mais de um século
ao que é inerte”, explica. Fluida, a tinta revela fluxos sobre residem em meio à selva alta no Peru. O passado, a memória e
o papel, cria ondas que delatam o processo físico do artista sua relação com um espaço novo, que se transforma, podem ser
e seu pensamento. Moreno conta que seu tema é o tema em si, é vistos em Intervención-Mali, série na qual o artista registra
tentar descobri-lo para entendê-lo. Talvez por isso seus pro- obras cobertas e embrulhadas durante a reforma do museu que as
cedimentos incluam repetição, pequenas alterações no posiciona- abriga, das quais vemos apenas rastros.
mento no espaço e a reorganização de imagens.

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Édouard Manet Eduardo Berliner

1832, Paris, França – 1883, Paris. 1978, Rio de Janeiro, Brasil. Vive no Rio
de Janeiro.

Manet pintou figuras de seu tempo sem abrir mão da tradição. Entre o estranho, o misterioso, o grotesco e o banal, as pin-
Em Le déjeuner sur l’herbe, uma garota nua conversa com duas turas de Eduardo Berliner oferecem rastros de narrativas. Suas
figuras masculinas, sentadas em um bosque. Ao fundo, outra per- cenas indecifráveis, um tanto opacas à percepção de formas e
sonagem se banha em um pequeno lago. A interpretação das alego- sentidos, constroem recortes de mundo que se alimentam da vida
rias, código construído ao longo da história da pintura, con- cotidiana do artista. Ainda que obedeçam a uma lógica do sonho
trasta com os sinais do ambiente contemporâneo ao artista. A e do absurdo, são obras que, muitas vezes, partem de observa-
composição é clássica, remetendo a telas de Rafael e Ticiano, ções singelas, como um pombo escondido em uma reentrância da
mas o tratamento pictórico é inovador. No lugar das passagens calçada ou uma cadeira de rodas disposta atrás de um vaso de
suaves dos pintores renascentistas, Manet apresenta superfícies plantas em uma agência bancária. Registradas em fotografia ou
lisas de cor; em vez de definir as formas pela relação de chia- recriadas em desenho, colagem ou manipulação de objetos, tais
roscuro, delineia seus contornos. Além disso, a insistência do imagens mesclam-se a outras memórias para serem reinventadas
artista pelo reconhecimento oficial fez com que protagonizasse pela imaginação do pintor, que as retorce e recompõe em tons
a cisão entre a academia e a vanguarda: sua tela, reprovada sóbrios e por vezes frios. Nas pinturas de Berliner, cada com-
no Salão Oficial de Paris, foi o destaque do Salon des Refu- posição parece apontar, simultaneamente, para o que vemos e
sés (1863). Enquanto o grande público recebia suas pinturas aos para o que deixamos de ver; para o que se torna visível pela
risos, Manet era admirado por artistas, como os impressionis- materialidade da tinta e para o que sua densidade não permite
tas, e poetas, como Émile Zola, que compreendiam sua busca por perceber.
uma pintura que dialogasse com seu tempo.

Eduardo Stupía Elaine Reichek

1951, Buenos Aires, Argentina. Vive em 1943, Nova York, Estados Unidos. Vive e
Buenos Aires. trabalha em Nova York.

Eduardo Stupía realiza desenhos enérgicos, com grande concen- A linha exerce um papel primordial na obra de Elaine Reichek.
tração gráfica, cuja riqueza de elementos constitui um alfabeto Por um lado, é o principal material utilizado pela artista que,
extenso. Na mesma imagem encontramos grafismos, manchas, tra- desde a década de 1970, realiza uma série de trabalhos com bor-
mas, figuras, paisagens e gestos com qualidades e intensidades dado, em pequenos e grandes formatos. Por outro, indica um pro-
muito variadas. Sua obra situa o espectador entre a definição cedimento caro a sua pesquisa: a linha conectando diferentes
e a dispersão. O olho perde-se na imagem para descobrir novas temporalidades, materiais, imagens e ideias. De forte cará-
camadas, novos ângulos, novas dimensões, novas histórias. Essa ter conceitual, suas produções apropriam-se de obras de arte de
qualidade aberta da obra confere ao observador a possibilidade variados momentos históricos, traduzindo-as para outro meio,
de projetar seus próprios significados à composição e criar o bordado, e apresentando-as ao lado de citações de filoso-
narrativas próprias, apreendendo determinados gestos. Stu- fia, história da arte e literatura. A tradução de pinceladas em
pía trabalha com uma paleta cromática reduzida e com materiais pixels e, então, em pontos feitos com linha e agulha é um dos
limitados – frequentemente apenas tinta preta sobre papel. A elementos que mais interessam à artista. Para além da aproxi-
linha é entendida não apenas por sua capacidade de gerar repre- mação entre procedimentos conceituais e práticas artesanais a
sentações, mas também por constituir uma forma de compreen- artista vincula tecnologias associadas a diferentes contextos
der a imagem, em que as partes se relacionam umas com as outras históricos, como a digitalização de imagens, sua conversão em
sequencialmente, na medida em que o olho as percorre. mapas gráficos e a própria técnica do bordado, passando de um a
outro com extrema naturalidade.

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O que não é de Emmanuel Levinas f. marquespenteado


forma alguma
apreendido é
o futuro; a 1906, Kaunas, Lituânia – 1995, Paris, 1955, São Paulo, Brasil. Vive em São Paulo.
exterioridade França.
do futuro é

Para Emmanuel Levinas, a ética e a responsabilidade em rela- Ser homem é ser masculino? O que significa ser masculino? Há
ção ao outro são os temas fundamentais da filosofia. Estudou muito a noção de identidade deixou de ser entendida como per-
com Husserl e Heidegger, por quem foi bastante influenciado, manente e atemporal. Desde as décadas de 1960 e 1970, pelo
e, como eles, rejeitava o enfoque da filosofia tradicional na menos, concepções essencialistas, que buscam categorizar grupos
natureza do ser e da existência e na validade do conhecimento. sociais de acordo com certas características fixas e homogê-
Negava, ainda, a possibilidade de estabelecer grandes e abstra- neas, vêm sendo questionadas por variados estudos, movimentos e
tos sistemas de explicação do mundo. Dentro da ideia de que a práticas culturais. Ainda assim, a ideia de que homens e mulhe-
ética deveria preceder a ontologia (o estudo do ser), Levinas res pertencem a universos distintos segue presente na atuali-
acreditava que a própria noção do “eu” só era possível a partir dade. Esse é um dos temas centrais na obra de f. marquespente-
do reconhecimento do “outro” – processo que implicava respeito ado. Seus trabalhos partem de uma prática normalmente associada
e responsabilidade com o “diferente”. Assim como o ser, o saber ao feminino, o bordado, para investigar a noção de masculi-
deveria ser precedido por uma relação ética com o diferente, nidade – ou masculinidades, como diria o artista, que também
pois é sobre ela que ambos – o ser e o saber – se desenvolvem. desenvolve uma pesquisa teórica sobre o assunto. Homens doces
A centralidade do respeito pelo outro no pensamento de Levinas e delicados, de olhar um tanto vago e hesitante, protagonizam
guarda relação com sua história de vida. Judeu, o filósofo teve suas criações. Nelas, o poder e a assertividade, habitualmente
sua família morta durante a Segunda Guerra Mundial, na Lituâ- relacionados à figura do homem, são questionados e devolvidos
nia, e foi preso pelos nazistas, na Alemanha. como pergunta: quais os limites da ideia de masculinidade?

Fernand Deligny Fernando Ortega

1913, Bergues, França – 1996, Graniers, 1971, Cidade do México, México. Vive na
França. Cidade do México.

O modo como o corpo se movimenta e demarca o espaço – linhas, Um colibri em sono profundo. Um grito em meio à plateia de um
redes e emaranhados produzidos por gestos, percursos e ações show. Uma aranha tecendo sua teia em uma harpa sem cordas.
cotidianos. A vivência do espaço no tempo é o que revelam os Pequenos eventos, que poderiam passar despercebidos, têm seus
desenhos coletados por Fernand Deligny. Em 1968, o educador, significados ampliados nas obras de Fernando Ortega. São foto-
cineasta e escritor passou a viver em uma colônia dedicada ao grafias, vídeos e instalações que possuem um forte caráter per-
acompanhamento de menores com autismo. À margem de instituições formático, registrando ou criando encontros de extrema delica-
pedagógicas e psiquiátricas, contava com um grupo de educadores deza. Em algumas obras, o artista interfere diretamente em uma
envolvidos no cuidado dessas crianças. Uma de suas atividades situação: em Meeting Point, por exemplo, aponta um feixe de
era justamente realizar mapas ou cartografias do movimento, com laser à partitura do regente de uma orquestra, produzindo ou
base no registro das “linhas de errância” formadas pelas peram- não algum tipo de efeito sutil na música. Em outros trabalhos,
bulações de cada um no espaço. Com a atenção especialmente vol- imagens de instrumentos evocam uma percepção sonora sem emitir
tada às crianças mudas – como Janmarie, protagonista de seus som algum. O som é objetivo quando garante a comunicação e, ao
estudos – entre os temas que atravessam os desenhos, filmes e mesmo tempo, subjetivo, intangível. Seus trabalhos são permea-
escritos de Deligny, estão questões como liberdade, diferença, dos pela dimensão íntima, nem sempre harmoniosa, da experiência
o encontro, o compartilhamento de um lugar comum, a relação com e do contato com o ritmo acelerado e desatento do dia a dia nas
o outro e ausência de linguagem como resistência à domestica- grandes cidades.
ção simbólica.

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Filóstrato Franz Erhard Walther

Escritor dos séculos 2-3 d.C., é conhecido 1939, Fulda, Alemanha. Vive na Alemanha.
por sua obra Vida de Apolônio de Tiana

“Os amores fazem a colheita das maçãs, como tu bem o vês. Não Quem faz a obra? O artista ou o espectador? A ideia de que o
te surpreendas com o nome que levam, pois são filhos das nin- sentido da obra só se constrói na interação com o público é
fas, que governam todo e qualquer mortal e são também inume- levada às últimas consequências na produção de Franz Erhard
ráveis em razão dos inumeráveis desejos dos homens. Há entre Walther. Desde o início dos anos 1960, suas esculturas só se
eles, dizem, um amor celeste que no céu desempenha funções completam, isto é, adquirem forma e significado, quando são
divinas. Tu não sentes o agradável perfume que emana dos poma- utilizadas pelo espectador. Mais que observá-las, é preciso
res? Terias tu o olfato preguiçoso? Pois bem, escuta com aten- manipulá-las, vesti-las, experimentá-las. Os objetos – como o
ção: minhas palavras levarão a ti o aroma das frutas.” É assim artista prefere chamá-los, enfatizando seu caráter instrumental
que Filóstrato começa a descrever, em Imagens, um dos 65 qua- – demandam uma utilização quase sempre coletiva e geram momen-
dros de uma galeria incerta, na casa em que se hospeda em Nápo- tos de troca, de reconhecimento, de estranheza e de intimidade.
les. Em conversa com o filho de seu anfitrião e seus amigos, Para além do olho, todo o corpo é solicitado. As peças são pro-
sua intenção é ensinar-lhes a interpretar, enquanto desenvolvem duzidas em tecido e funcionam como roupas, acessórios ou ins-
o gosto pela arte. Para isso, o sofista convida seus ouvintes a trumentos. De cortes retos, cores sóbrias e formas geométri-
interrogá-lo e faz de suas palavras pincéis, desenhando em suas cas simples, configuram espécies de coletes, sacos de dormir,
memórias e referências literárias, partindo de suas experiên- máscaras, tapetes ou chapéus. Cada ativação é única e imprevi-
cias com obras que nem sabemos se realmente vê. sível. Gestos e processos singulares revelam potencialidades,
proporcionam vivências e reinventam cada trabalho.

Franz Mon Frédéric Bruly Bouabré

1926, Frankfurt, Alemanha. Vive em 1923, Zéprégüé, Costa do Marfim. Vive em


Frankfurt. Abidjan, Costa do Marfim.

Franz Mon é um artista visual, tido como um dos precursores da “Os paraísos abriram-se diante de meus olhos e sete sóis colo-
poesia concreta. O material de sua produção, que extrapola as ridos descreveram um círculo ao redor de sua Mãe-Sol.” Essa é
margens dos livros, é a língua alemã no período pós-guerra. Em a visão que, em 1948, levou Bruly Bouabré a direcionar seu tra-
seus poemas visuais, o artista utiliza a tipografia e o espaço balho para a cultura e a história de seu povo, os betes. Obser-
da página para evidenciar a construção das palavras. Nas Cons- var, documentar e arquivar as crenças, costumes e conhecimentos
telações de letras, os sentidos surgem das relações possíveis dessa população se tornou, para o artista, uma missão. Pri-
entre os elementos que partem de jornais, revistas, pôsteres e meiro, inventou um alfabeto para a língua bete, um sistema for-
de seus próprios escritos, transformados em enigmas visuais. mado por mais de quatrocentos pictogramas. Mais tarde, come-
Seus poemas tornam-se objetos, espaços e obras audíveis atra- çou a criar uma espécie de enciclopédia composta por milhares
vés de peças radiofônicas, instalações sonoras e leituras. Para de desenhos. Sempre acompanhados de textos, eles versam sobre
Mon, a potência das palavras está muito além de sua significa- a vida, a morte, o amor, as relações do homem com o mundo e a
ção e seus textos são, ao mesmo tempo, verbais, visuais e acús- natureza, além de aspectos mais cotidianos, como objetos, ani-
ticos. O artista nos revela relações de harmonia e conflito mais e símbolos ao seu redor. Chamada Conhecimento do Mundo,
entre a forma e o conteúdo das palavras, o que nos exige uma a coleção revela um olhar atento e sensível, dedicado a com-
postura ativa para sua leitura e nos indica possibilidades poé- preender e a compartilhar os diversos aspectos da experiên-
ticas adormecidas em um material verbal que conhecemos – nossa cia humana. Nas palavras do artista, seus desenhos represen-
própria língua. tam “tudo o que é revelado ou ocultado – sinais, pensamentos,
sonhos, mitos, a ciência, as tradições”.

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Gego [...] E assim Giordano Bruno


atraem para si
pessoas não
1912, Hamburgo, Alemanha – 1994, Caracas, particularmente 1548, Nápoles, Itália – 1600, Roma, Itália.
Venezuela. astutas, porque
ser amado e

Desenho-desenho, desenho-gravura, desenho-escultura e desenho- “Por isto estou atado a muitas coisas, por isto sinto que há
-instalação: o trabalho de Gego (Gertrud Goldschmidt) rompe mais seres que me atam: porque os graus da beleza são diver-
com os limites estabelecidos pelas linguagens, criando relações sos e separados. Isto me inflama e me ata a este por uma razão;
entre a linha e o espaço. O desenho é a essência de seu tra- outra coisa àquele, por outra razão. Porque, se todas as razões
balho e sua dedicação constante à gravura não se dá por acaso. se reunissem em um só ser, talvez só um, por todos e dentre
Como alternativa à linha do desenho, produz marcas gráficas todos, me aprouvesse”. Giordano Bruno continua, em Os vínculos
em superfícies por meio da abertura de sulcos em uma matriz. A (1591), dizendo que a natureza não permite que uma só pessoa
linha passa a existir no espaço aberto, na superfície cortada, agregue todas as razões para que se vinculem a ela; isso acon-
corrompida pelo espaço vazio. No processo de impressão, a tinta tece para que os afetos possam ser distribuídos e dissemina-
penetra o sulco para depois ser transportada ao papel. A repro- dos. Assim, as possibilidades de escolha são tantas quanto a
dutibilidade própria à gravura permite que o mesmo desenho cir- variedade de homens. Para que algo ou alguém estabeleça vín-
cule e ocupe diversos espaços. Em seus desenhos, as linhas se culos, deve dar sentido àquilo a que quer vincular-se, pois o
cruzam gerando redes e sugerem tramas, tecidos, entrelaces. vínculo está ligado ao sentido das coisas. Não sendo, em si,
Parece ser natural relacionar a linha gráfica do desenho com a bom ou belo, conecta o sujeito ao objeto, o que deseja ao que é
linha concreta dos tecidos. As linhas ganham corpo ao ocuparem desejado, e se mostra como meio para que todas as coisas encon-
o espaço. Uma operação quase contrária à gravura, mas que se trem o que é belo e bom. Giordano Bruno foi excomungado de três
assemelha a ela, no final, pela vocação de desenhar no espaço igrejas cristãs e não escondia sua simpatia pelo diabo.
ou, até, de pensar o próprio espaço.

Porque o Giorgio Agamben As viagens Godofredo Iommi


fato novo da ensinam
política que (entre outras
vem é que ela 1942, Roma, Itália. Vive em Veneza, Itália. coisas) que as 1917, Buenos Aires, Argentina – 2001, Viña
já não será palavras são Del Mar, Chile.
a luta pela como estranhas

Imagine uma comunidade em que a política não se defina no com- Godofredo Iommi, poeta e professor, foi um dos fundadores da
partilhar do lugar de nascimento, de uma mesma língua, classe Universidade Católica de Valparaíso, onde desempenhou um papel
ou cor. Imagine uma comunidade em que o que se compartilha é central no movimento da reforma universitária de 1967. Em par-
apenas o fato de existir. Essa é a proposta do filósofo Gior- ceria com o arquiteto Alberto Cruz, articulou uma série de
gio Agamben, uma sociedade do ser como ele é, sem se encai- ações coletivas que se caracterizaram pela análise do modo
xar em classes, sem compactuar com algo que defina uma iden- de viver. Em 1965, com um grupo de amigos e alunos, reali-
tidade comum. O pensador chama a atenção para o ser qualquer, zou uma viagem pelo continente sul-americano: como um poema a
que, na palavra, se define como “aquele que deseja, alguém que ser vivido, a jornada utópica buscava criar novas bases para o
quer” (do latim “quolibet”. “Libet” é vontade, logo, “quolibet” entendimento da identidade latino-americana. Durante o percurso
é aquele que tem vontade). E esse indivíduo, em sua singulari- o grupo escreveu um livro de poesias que, assim como a jor-
dade, faz uma política da amizade, pois o que compartilha com nada, foi batizado de Amereida, junção das palavras “América”
os outros é sua própria existência. Funda-se aí a comunidade e “Eneida”. Em 1969, o grupo Amereida fundou a Ciudad Abierta
que vem, que acontece no contemporâneo, nesse tempo inapreensí- de Ritoque, uma cidade erguida entre as dunas e em que os pro-
vel que buscamos incessantemente. Para o filósofo, o contempo- jetos arquitetônicos do grupo tomam forma. Como uma miragem,
râneo é um tempo que se assemelha à noção de poesia, que é sem- a cidade não é determinada por sua escala ou densidade demo-
pre um retorno, um adiamento: é a iminência de algo ao mesmo gráfica, mas por um modelo de organização social em que a arte
tempo em que é algo que já passou. está no centro.

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Hans Eijkelboom Hans-Peter Feldmann

1949, Arnhem, Holanda. Vive em Amsterdã, 1941. Vive em Düsseldorf, Alemanha.


Holanda.

Em um de seus primeiros trabalhos, Hans Eijkelboom perguntou Hans-Peter Feldmann viveu uma infância sem imagens. Numa Ale-
a algumas pessoas que não via há dez anos: “que profissão você manha assolada por restrições políticas e culturais do pós-
acha que Hans tem hoje?”. Com base nas respostas, realizou uma -guerra, cada imagem encontrada era “uma janela para outro
série de fotos personificando essas profissões. A partir de mundo”, que migraria para seus álbuns de coleção de outras his-
1992 desenvolveu, durante quinze anos, as Photografic Notes. tórias, outros mundos. Em sua carreira, Feldmann foi além: no
Nesses trabalhos, todos os dias o artista caminhava pelas ruas verso de suas telas, colou postais, selos, fotografias de famí-
coletando secretamente imagens que tivessem uma característica lia e panfletos de propaganda. Criou livros de artista com
comum que lhe chamasse a atenção: camisetas com números, mulhe- fotografias de um mesmo objeto em diferentes situações. Ao
res em estampas tigradas, homens com camisas polos listradas. artista interessa a vida como ela é: temas e objetos apresenta-
Essas imagens foram organizadas segundo um tema e, em seguida, dos como são vistos. Expõe imagens elementares em séries, quase
publicadas. Embora a fotografia seja o principal meio de traba- negando sua autoria e suas histórias, para que nosso olhar car-
lho de Eijkelboom, sua obra é comumente associada à arte con- regue de sentido e narrativas o inventário construído. Quando
ceitual, pois suas fotos são feitas por meio de uma proposta edita coleções de objetos, nos indaga sobre a possível imagem
seguida à risca. Ao criar sistemas e identificar padrões em que os representaria. Para reforçar essa ideia, quase nunca dá
meio ao caos das ruas, o artista confronta noções de identidade título ou data a suas obras, eliminando barreiras no processo
e a relação entre individualidade e coletividade, questionando de significação. Para Feldmann, a arte “é um evento, uma sensa-
sobre como nos vemos e como os outros nos veem. ção e muito mais. Nunca é um objeto em si”.

Hayley Tompkins Helen Mirra

1971, Leighton Buzzard, Inglaterra. Vive em 1970, Rochester, Estados Unidos. Vive em
Glasgow, Escócia. Cambridge, Estados Unidos.

As aquarelas abstratas do início da carreira de Hayley Tom- A economia visual das obras de Helen Mirra pode parecer contrá-
pkins, à primeira vista, lembram pinturas modernas, como as de ria às muitas referências nelas presentes. Em 65 instants, 65
Sonia Delaunay ou Kasimir Maliévitch. Ainda que evoquem essa peças retangulares, semelhantes entre si, serradas à mão e
memória, apresentam-na como um tema, uma referência. O gesto, pintadas com tinta à base de leite, estão à altura do olhar.
demasiadamente expressivo, hesitante, pessoal, a escala redu- A cada dia, um fragmento de pallet (suporte de madeira para
zida e o suporte precário alertam que é a ação da mão, trans- transporte) foi serrado com o tamanho equivalente à distância
formando a referência do mundo, que está em primeiro plano. entre o cotovelo e a ponta dos dedos da artista. Essa obra é um
Quando passou a trabalhar sobre objetos do cotidiano como desdobramento do pensamento de Nagarjuna, filósofo budista que
galhos, facas, martelos e celulares, pintando sua superfí- descreveu o momento entre a percepção inicial e o julgamento
cie ou ainda substituindo-os por outros materiais, Hayley que- pelo intelecto em 65 instantes. As características do mate-
ria confrontar elementos reais, com histórias próprias, com sua rial têm a potência de ampliar os conceitos abordados: a tex-
experiência subjetiva. O gesto transforma o objeto, imprime- tura macia, a cor desbotada, a memória do mar, a relação com o
-lhe reflexões insondáveis, mas que conferem à composição uma corpo. Muitas das obras de Mirra trazem elementos literários,
lógica, uma estrutura, uma coesão. O espectador fica dividido filosóficos ou matemáticos para tratar de temas que não podem
entre uma imagem pessoal, específica, e uma sensação de fami- ser apreendidos em sua totalidade. Evocando o impulso alegó-
liaridade. O estranhamento entre o objeto e a superfície revela rico, Helen Mirra chama a atenção para como nos relacionamos
duas histórias em colisão em que o sujeito e o objeto se sobre- com a natureza, com a passagem do tempo e com o espaço que nos
põem, sem que se percam de vista. cerca.

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Hélio Oiticica Horst Ademeit

1937, Rio de Janeiro, Brasil – 1980, Rio de 1937, Colônia, Alemanha – 2010, Düsseldorf,
Janeiro. Alemanha.

Para Hélio Oiticica, há muito mais no ambiente em que tran- Milhares de fotografias e anotações diárias compõem a obra de
sitamos do que na superfície da tela. Suas vivências coleti- Horst Ademeit, que revela um retrato compulsivo do entorno do
vas levaram-no por caminhos poéticos que prescindiam do objeto artista e de seus temores particulares. Obcecado pela documen-
artístico e configuravam experiências abertas ao outro, ao tação do impacto de raios invisíveis na saúde dos indivíduos e
espaço, à natureza. “Não se trata mais de impor um acervo de no ambiente, Ademeit registrou, por mais de vinte anos, o mundo
ideias e estruturas acabadas ao espectador, mas de procurar a sua volta com uma câmera polaroide. Fotografou seu aparta-
uma descentralização da ‘arte’ […] do campo intelectual racio- mento e objetos pessoais para, então, voltar-se a sua vizi-
nal para o da proposição criativa vivencial”, explica. Em 1978, nhança. Suas imagens eram sempre acompanhadas de anotações
volta ao Brasil com sede de rua, de gente. Opondo-se à insti- sobre os lugares ou objetos retratados – fossem dados objetivos
tucionalização da arte e aos earth works, que via como even- coletados por meio de bússolas, termômetros, relógios e outros
tos artificiais na natureza, elabora o contra-bólide Devolver a instrumentos, fossem informações subjetivas, como impressões
Terra à Terra. Com alguns artistas, misturou porções de terra e reflexões ou cheiros e sons do ambiente. Descobertas apenas
negra e terra de Jacarepaguá e despejou-as numa moldura retan- dois anos antes de sua morte, as fotografias de Ademeit revelam
gular no aterro do Lixo do Caju: um “grito-poema-homenagem” a um elaborado arquivo de informações cotidianas. Cada um de seus
Paul Klee, que poderia ser repetido sempre que necessário, para trabalhos conta a história de um indivíduo em crise emocional,
reestabelecer a gênese da obra, com intenção crítica à sua pró- que busca estabelecer um senso de ordem em um mundo aparente-
pria lógica artística, a fim de renová-la. mente caótico.

Assim, faço Hubert Damish Ian Hamilton Finlay


a aposta: o
entrelaçamento
bem poderia 1928, Paris, França. Vive em Paris. 1925, Nassau, Bahamas – 2006, Edimburgo,
preencher, Escócia.
para a pintura

Por que a arte nos atrai? Que elementos pictóricos atraem nosso Existem muitos caminhos conectando o real, o simbólico e a
olhar? Essa é a questão central com a qual o filósofo e histo- palavra. Para Ian Hamilton Finlay, a palavra não é apenas
riador de arte francês Hubert Damisch confronta-se. Ele busca intérprete dos objetos ou dos sentimentos, mas matéria evoca-
identificar o modo de pensar que está em jogo na pintura e, tiva de percepções que extrapolam os significados coinciden-
acima de tudo, o que significa o “pensamento pictórico”. Em tes com o que se vê ou se sabe. Em 1961, Finlay fundou a Wild
Teoria da / nuvem / Por uma história da pintura, Damisch mos- Hawthorn Press, editora que distribuiu seus cartazes, livros de
tra, na pintura renascentista e barroca, que pinturas de nuvens artista, poemas cinéticos e objetos. Seu crescente interesse
permitem uma visão sobre domínios que não são visualmente pela poesia concreta o fez migrar da literatura para as artes
representáveis. Desenvolve, então, uma epistemologia do incog- visuais: um poema originalmente impresso poderia surgir em
noscível. Em A origem da perspectiva, analisa a capacidade das letras de néon na fachada de um prédio ou esculpido nas pedras,
pinturas perspectivas de confirmar a ilusão precária de autono- placas de madeira, obeliscos e pontes de Little Sparta – um
mia do espectador, que constitui a base da subjetividade. Por imenso jardim de poesia e esculturas em Lanark, na Escócia. A
interações particulares entre questões filosóficas e respostas propriedade é considerada o epicentro da produção do artista,
de cunho histórico, escreve sobre uma variedade de artistas, onde cada obra discute a complexa relação entre a cultura e a
temas e problemáticas – da psicanálise à arquitetura, fotogra- natureza, numa tentativa de reestabelecer a poesia no mundo:
fia e filme, de exposições à perspectiva, e da arte abstrata à “Sou um poeta que quer construir lagos e fazer um jardim… essas
pintura do quatrocentos. coisas me parecem ser extensões naturais da minha poesia”.

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Iñaki Bonillas Eis-me, Jean-Jaques Rousseau


portanto,
sozinho sobre
1981, Cidade do México, México. Vive na a terra, sem 1712, Genebra, Suíça – 1778, Ermenonville,
Cidade do México. outro irmão, França.
próximo, amigo

Embora a fotografia seja o ponto de partida para grande parte “O que ali faria de mais doce seria devanear à vontade. Ao
dos projetos de Iñaki Bonillas, sua obra se desenvolve em meios devanear que lá estou não faço a mesma coisa? Faço inclusive
variados. Sua metodologia racional e objetiva, que remete a mais”, escreveu Jean-Jacques Rousseau, o filósofo iluminista
processos típicos da chamada arte conceitual, pode ser vista francês de maior influência no século 18, em Os devaneios do
em obras como os Trabalhos Fotográficos, nos quais o artista caminhante solitário. Durante os dois anos que precederam sua
fotografa uma mesma situação com filmes diversos ou estuda as morte, trabalhou no manuscrito dividido em dez caminhadas, cujo
variações de revelação em 36 laboratórios. Nessa série, apre- objetivo era estudar a si mesmo. Transformou uma vida de exílio
sentada ao público como uma coleção de pastas de documentos, o e perseguição em dez ensaios, escritos sem intenção de publicá-
conteúdo das fotos é a própria técnica fotográfica e como ela -los. Como em um diário, Rousseau retoma e revê sua filosofia e
é capaz de alterar a realidade. A partir de 2003, produz diver- atuação no mundo, marcadas por seu temperamento áspero, em uma
sos trabalhos com o arquivo fotográfico de seu avô, criando coleção de reflexões sobre a natureza, a vida e a hipocrisia da
novas imagens e narrativas por meio da seleção e edição dessas sociedade. Ali, junto às Confissões, publicadas postumamente,
fotos. Em Double Chiaroscuro, um retrato de seu avô recortado, revisita e reconsidera conceitos abordados em toda sua obra,
dá origem a diversas composições formais em dégradés de claro a renovando suas ideias sobre política e educação, sobre o roman-
escuro. Seus trabalhos nos deixam a questão: se uma fotografia tismo e a literatura, anunciando as grandes mudanças políticas
é, ao mesmo tempo, uma imagem e uma narrativa cheia de afetos, que viriam com a Revolução Francesa.
como delimitar o que é característico do meio fotográfico?

Jerry Martin Jiří Kovanda

1976, Bogotá, Colômbia. Vive em Lima, Peru. 1953, Praga, República Tcheca. Vive em
Praga.

A palavra se torna matéria nas obras de Jerry Martin. Munido de Permanecer de braços abertos em uma praça, esperar paciente-
uma velha máquina de escrever, o artista cria desenhos a partir mente o telefone tocar, esbarrar com estranhos no meio da rua,
da sobreposição de textos datilografados. Não textos quaisquer, beijar desconhecidos através de um vidro. A promessa de con-
mas discursos que tomam como referente o mesmo tema/objeto aos tato e o desejo de relacionar-se com o outro animam as ações
quais se dedicam as imagens. No entanto, o acúmulo de repre- de Jiří Kovanda. Suas obras se apresentam como pequenas subver-
sentações não torna os elementos mais claros ou compreensí- sões da ordem cotidiana e dos códigos que orientam o compor-
veis. Parece apontar, antes, para o próprio ato da representa- tamento em sociedade. Documentadas por textos e fotografias,
ção, sublinhando sua arbitrariedade e a obrigatória tradução aí suas performances não se limitam a espaços artísticos e pare-
envolvida. Representar é sempre construir uma versão possível, cem instaurar “situações de liberdade” em contextos cotidianos
uma espécie de leitura, revelando um modo de ver e não outros. variados. Aspectos semelhantes estão presentes nas interven-
Pois muitas imagens que povoam os trabalhos de Jerry Martin ções e instalações do artista, como um par de sapatos amarra-
são, elas mesmas, obras de arte – peças representativas da pro- dos com espaguete em vez de cadarços, duas almofadas presas à
dução dos anos 1960 e 70, de nomes como Marcel Duchamp, Joseph parede por pregos (como pinturas fofas) e um galho de árvore
Beuys, Carl Andre. Imagens formadas por textos críticos que com uma bola de pingue-pongue fazendo as vezes de fruto. Mais
propõem leituras sobre essas obras, ao mesmo tempo que também uma vez, a ordem das coisas é colocada em xeque por suas pro-
constroem graficamente outra leitura dos trabalhos. duções, reafirmando a potência da imaginação, da criação e da
poesia para instaurar espaços de liberdade.

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John Zurier A lua ignora Jorge Luis Borges


que é
tranquila e
1956, Santa Monica, Estados Unidos. Vive em clara 1899, Buenos Aires, Argentina – 1986,
Berkeley, Estados Unidos. e não pode Genebra, Suíça.
sequer saber

É a economia de formas e procedimentos que dá o tom do traba- Ele sonhou com uma biblioteca universal, de prateleiras infini-
lho de John Zurier. A investigação constante do processo pic- tas, que guardasse todas as possibilidades de livros, em todas
tórico, a ênfase na materialidade da tinta e da tela e a busca as línguas. Jorge Luis Borges dizia ter encontrado quase tudo
pelo sentido máximo da cor, da luz e do espaço a partir de em livros, não por se achar bom escritor, mas por ser um exímio
meios simples e diretos caracterizam suas pinturas. Um dos pri- leitor. A perda da visão fez com que tomasse emprestados olhos
meiros problemas que enfrentou para dar forma a sua poética foi que lessem para ele, o que lhe rendeu uma consciência apurada
a tentativa de representar o céu visto entre dois edifícios – sobre a literatura. Em seus contos, ensaios e poemas, embre-
de modo que a tela se convertesse em um espaço azul vazio. “O nhou-se pelos subúrbios argentinos, dissertou sobre metafí-
mais difícil de conseguir em uma pintura é criar um espaço onde sica e teologia e abordou a cultura dos Pampas. Escreveu sobre
absolutamente nada foi pintado”, afirma o artista. Construí- o palpável como se habitasse um mundo onírico. Sem se perder
das pela sobreposição de camadas e mais camadas de tinta, ora em abstrações, delineou panoramas da história argentina. Sua
opacas, ora translúcidas, suas telas inspiram-se nas condições obra abriu rumos para a ficção, em especial a chamada litera-
de luz e de cor que o artista observa em seu dia a dia. “Per- tura fantástica, na qual incertezas e ambiguidades sobre o real
cepções que sempre se distanciam do modo como aparecem na pin- e o sobrenatural desenham a trama. Entre seus contos, se des-
tura”, pontua Zurier. tacam “A biblioteca de Babel”, “Pierre Menard, autor do Qui-
xote” e “O Aleph”. A partir de 1950, dedicou-se mais à poesia e
escreveu, em 1985, sua última obra, Os conjurados.

José Arnaud Bello Juan Luis Martínez

1976, Oaxaca, México. Vive na Cidade do 1942, Valparaíso, Chile – 1993, Villa
México, México. Alemana, Chile.

Palavras, números, o espaço e a natureza são matéria da obra Juan Luis Martínez expande os limites entre a linguagem e a
de José Arnaud Bello. Desenhos, fotografias, filmes, objetos existência, em uma postura ética que clama pela transparên-
e instalações revelam o seu pensamento, que articula diversos cia do signo. “Se a transparência observasse a si mesma, o que
campos do conhecimento para entender o mundo. Seus trabalhos observaria?”, questiona. Suas obras plásticas, colagens car-
resultam de uma investigação do ambiente e de seus elementos, regadas de humor e ironia, muitas vezes precediam seus livros,
de condições que variam da história à geologia de um local ou, como estudos. Martínez buscava uma forma mais efetiva de comu-
em trabalhos de estúdio, à própria trajetória da arte concei- nicação, combinando textos e outras referências: fotos, sím-
tual. Seu processo criativo envolve identificação, manipulação, bolos do I Ching ou da matemática e documentos. O método, de
classificação e transformação de imagens, objetos e lugares, aparência caótica, produz uma trama organizada, um mapa a ser
dos quais se vale para apreender seu entorno. Arnaud Bello se percorrido e pesquisado. Esses elementos são manipulados com
interessa pela formação de elementos e fenômenos, pela teoria a liberdade própria da linguagem, criando relações inusitadas,
do conhecimento envolvida em cada um: forma e execução coin- enquanto o signo se apresenta como objeto, sujeito à investi-
cidem, reiteram-se, repetem-se, revelando o mecanismo racional gação do leitor. Para o artista, a melhor forma de representar
que sustenta seu pensamento. O artista e arquiteto também sai a realidade é apagando-a, revelando sua falta. Uma marca disso
em campo e propõe intervenções e transformações na natureza que é o nome riscado nas capas de seus livros: em vez de anular a
remetem à land art. imagem do poeta, tensiona a relação de autoria entre escritor e
leitor.

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Jutta Koether Kirsten Pieroth

1959, Colônia, Alemanha. Vive em Nova York, 1970, Offenbach am Main, Alemanha. Vive em
Estados Unidos. Berlim, Alemanha.

Jutta Koether busca expandir os limites da pintura como meio de Os trabalhos de Kirsten Pieroth parecem reordenar o mundo. Par-
comunicação. Suas telas, ora com muitas camadas translúcidas de tem de objetos comuns, como livros, mapas, relógios, garrafas
tinta, ora densas e escuras, trazem referências que vão de pin- e postais, para deslocá-los de seus contextos habituais – ora
turas de Gustave Courbet a figuras contemporâneas, como a can- subvertendo formas, usos e funções, ora realizando aproxima-
tora Maria Callas. Os elementos são apropriados e transforma- ções inesperadas. O embaralhamento de significados e percepções
dos, contaminados pelas reflexões da artista, que apresenta uma sobre elementos da vida cotidiana, a mescla entre realidade e
postura feminista com influências punk e underground. Em obras ficção e um refinado uso do humor são constantes em suas cria-
mais recentes, objetos como correntes e rebites fazem parte ções – exemplos disso são a instalação em que a artista conecta
da composição, apontando para as dimensões interna e externa um acordeão a um bote inflável (simulando o uso do instrumento
do quadro. A pintura, para Jutta Koether, é um espaço onde os para encher a embarcação) ou a intervenção em que ela desloca
encontros acontecem. Encontros entre as referências culturais uma poça de lama para dentro da galeria. Alusivos ao surrea-
e pessoais da artista, entre o público e as reflexões presen- lismo, os procedimentos utilizados por Pieroth criam associa-
tes na obra, entre o tema e o público. Artista, musicista, crí- ções inusitadas que desestabilizam os códigos de leitura e per-
tica e professora, Jutta Koether apresenta suas obras em per- cepção do mundo e apontam para a fragilidade de nossos sistemas
formances: pinturas ao vivo, aulas-performance e intervenções de compreensão.
musicais, que muitas vezes realiza em parceria com artistas
como Tom Verlaine, da banda Television, ou Kim Gordon, da banda
Sonic Youth.

Kriwet Marcelo Coutinho

1942, Düsseldorf, Alemanha. Vive em 1968, Campina Grande, Brasil. Vive em


Dresden, Alemanha. Recife, Brasil.

Obras compostas por letras, para serem vistas e lidas, os Marcelo Coutinho cria palavras, define aquilo que não se sabe
Sehtexte (textos para ver) têm, por vezes, formato circular, nomear: sensações fugidias, sentimentos indescritíveis, ações
sem começo ou fim, guardando semelhanças à sinalização comer- que não podem ser identificadas com verbos. Seu dicionário tem
cial e às mandalas. As letras formam uma imagem a ser percor- palavras e significados inventados, que não fazem parte da gra-
rida pelos olhos, que descobrem palavras, constroem sentidos. mática de nenhuma outra língua, mas contam com uma atribui-
O artista explora as qualidades da linguagem, sejam os aspec- ção de classe gramatical e definição textual. Para ilustrar os
tos gráficos e comunicativos da escrita ou as característi- enunciados e conferir potência de comunicação a suas palavras,
cas de cada meio de comunicação de massa. Nos Hörtexte (textos Coutinho experimenta seus significados e os encena em perfor-
para ouvir) e vídeos, Kriwet faz colagens sonoras e audiovi­ mances, registrando-as como narrativas cinematográficas. “Ô”,
suais, apropriando-se de trechos da cobertura de eventos em que um de seus verbetes, é um verbo transitivo direto e significa
a mídia desempenha um papel decisivo, como o pouso na lua ou “estado de suspensão, prenúncio de que algo muito aterrorizante
eleições presidenciais. A edição, com cortes rápidos e frag- está por vir ou quando algo desconhecido nos causa paralisia”.
mentados, evidencia o ritmo, o tom com que a informação é vei- Para descrevê-lo, o artista cria três histórias: o drama de um
culada. Como diz o artista, não se trata de reprodução, mas amor, a surpresa diante de encontros inesperados e a espera
de produção de significado: “Faço uso das palavras que ocor- entediante por algum acontecimento. Filmados entre o sertão de
rem nessas situações buscando demonstrar, em sua combinação, o Pernambuco e os pampas gaúchos, os enredos aparentemente des-
espírito que está articulado nelas”. conexos se entrelaçam numa trama que narra aquilo que não se
podia, até então, falar, representar, ou mesmo pensar.

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Mark Morrisroe Maryanne Amacher

1959, Malden, Estados Unidos – 1989, Jersey 1938, Kane, Estados Unidos – 2009,
City, Estados Unidos. Rhinebeck, Estados Unidos.

Ensaísta visual de si mesmo e de sua vida, Mark Morrisroe expôs Para Maryanne Amacher, aluna de Stockhausen e colaboradora de
sua intimidade e seu corpo em polaroides rabiscados com anota- John Cage e Merce Cunningham, a música é uma arte não apenas
ções, dedicatórias e datas. Suas fotografias são como páginas temporal, mas também espacial. City Links, uma de suas séries
de um diário: registros particulares e espontâneos, que tra- mais importantes, consistia em captar sons de diversos luga-
tam do que o afeta. Morrisroe também fotografou seus amigos e res e transmiti-los para um único espaço: através do som se
amantes, exibindo-os como eles queriam ser vistos e não como podia vivenciar diversos ambientes simultaneamente. É conhe-
realmente eram. Interessado na manipulação da imagem, explo- cida principalmente por suas instalações sonoras site specific,
rava processos químicos, como retoques com corantes, e combina- nas quais usa dezenas de caixas de som posicionadas precisa-
ções de dois negativos para ampliação de uma única imagem. Dei- mente por todo o espaço, fazendo também com que as estrutu-
xava-se levar por um viés bem-humorado e de encantamento com as ras vibrem. O volume extremamente alto provoca reações psico-
cenas que presenciava – por exemplo, um periquito pousa na mão físicas, levando nossos ouvidos a produzir frequências sonoras
de um homem deitado sobre uma saia de tule cor-de-rosa espa- próprias, que parecem vir de dentro de nossa cabeça e que se
lhada em um colchão, enquanto três gatos estão à espreita. Os modificam com a movimentação no espaço. Nas obras de Amacher,
registros fotográficos de Morrisroe se transformaram ao longo irreproduzíveis em gravações, a música é um evento físico que
de seu percurso artístico: assumiram uma aura de perda e de uma nos impacta espacial e corporeamente, transformando a audição
inevitável tristeza depois que o artista descobriu que era por- de suas peças em uma experiência tátil.
tador do vírus HIV.

[…] Mas, Maurice Merleau-Ponty Meris Angioletti


enquanto pinta,
é sempre a
propósito 1908, Rochefort-sur-Mer, França – 1961, 1977, Bergamo, Itália. Vive em Paris,
das coisas Paris, França. França, e Milão, Itália.
visíveis,

A importância da percepção e dos sentidos do corpo na ciência e Como representar o invisível? Quais os limites da percepção e
a experiência como forma de conhecimento são pontos fundamen- da memória? A artista Meris Angioletti mescla procedimentos das
tais no percurso filosófico de Maurice Merleau-Ponty. Para ele, ciências e das artes para desenvolver trabalhos em que a noção
o essencial na formulação do conhecimento é captar a percepção de tradução é fundamental. Suas criações incluem vídeos, foto-
viva, a noção dos acontecimentos em via de realização; é conec- grafias, instalações e publicações, que investigam a depura-
tar-se às coisas antes mesmo da reflexão sobre elas. O filó- ção de informações, a formação de imagens mentais e o modo como
sofo buscou compreender as tramas da percepção do corpo humano ambas atuam na percepção, na memória e na psique. Um exem-
em diálogo com o mundo, com os outros e consigo mesmo. Em seu plo é a peça sonora em que o mnemotécnico Gianni Golfera repete
último ensaio “O olho e o espírito” (1960) volta a interrogar- de cor o número π (3,1415… resultado da divisão do períme-
-se sobre a essência da pintura, ao mesmo tempo que investiga tro de uma circunferência por seu diâmetro) até duzentas casas
a faculdade da visão. A pintura é, segundo ele, resultado da decimais após a vírgula. Em outro trabalho em que se vale das
imersão do corpo do artista no mundo, um encontro entre ambos, ideias de tradução, versão e interpretação, Angioletti parte do
como constante interrogação sobre a materialização do visível. romance Finnegans Wake, de James Joyce, marcado pela intensa
O artista pinta o que percebe para fazer surgir algo. E o pro- experimentação de linguagem. A artista intervém em uma cópia
cesso da pintura, explica, implicaria uma “técnica do corpo”, do livro, reimprimindo cada uma de suas páginas, porém em ordem
figurando e amplificando “a estrutura metafísica de nossa inversa, de modo a cancelar ou reinventar sua leitura. Mais
carne. O espelho aparece porque somos videntes-visíveis, porque uma vez, lembra a artista, “o trabalho acontece na cabeça do
há uma reflexividade do sensível, que ele traduz e duplica”. observador”.

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Michel Aubry […] A linguagem Michel Foucault


parece sempre
povoada pelo
1959, Saint-Hilaire du Harcouët, França. outro, pelo 1926, Poitiers, França – 1984, Paris,
Vive em Paris, França. ausente, pelo França.
distante, pelo

A memória transforma os acontecimentos passados e os presenti- A língua desenha os contornos da consciência dos homens, e o
fica, sobrepondo as interpretações que geram diferentes modos entendimento do “eu” de cada um é uma construção social sujeita
de compreensão da história. Michel Aubry potencializa as impre- à transformação. Quando pousa uma grande dúvida sobre aquilo
cisões históricas ao criar conexões imprevisíveis entre objetos que orienta a perspectiva de vida de alguém, colocam-se em
de diferentes culturas, fatos históricos, obras de arte e lin- questão os limites da língua vigente e surge a necessidade de
guagens. Sua formação em design nos dá pistas de seu interesse criação de uma nova linguagem. Para Michel Foucault, filósofo
por objetos, que ganham dimensões complexas quando combinados. e historiador do pensamento, alguns autores conseguem chegar a
A transformação de um trabalho em outros, abordando seus pos- esses limites ao entrar em novos modos de consciência, ganhando
síveis estados, é o caminho que o artista trilha para tratar de uma compreensão mais abrangente de si. Tais autores perpetuam
questões como unicidade, técnicas industriais, modelos e mol- uma busca por compreender onde se definem esses limites ou onde
des. Em alguns de seus trabalhos, o artista relaciona as medi- se encontram os espaços que a transgressão pode ocupar. Suas
das de vestimentas com notas musicais, instrumentos musicais obras se orientam em direção ao “vazio a partir do qual e con-
com mobiliários, e quase todos, no final, se transformam em tra o qual se fala” e suas palavras têm o poder de romper com
partituras a serem executadas. Quando apresenta os objetos no o existente e criar novos modos de interpretação, novas lin-
espaço, constrói uma narrativa singular e repleta de novos sen- guagens. Em A arqueologia do saber, Foucault trata sistemas de
tidos, como uma alternativa para criticar modos conservadores e pensamento como “formações discursivas” e reflete sobre o sig-
autoritários de escrever a história. nificado histórico e filosófico de seu método “arqueológico”.

Moris Nicolás Paris

1978, Cidade do México, México. Vive na 1977, Bogotá, Colômbia. Vive em Bogotá.
Cidade do México.

Traduzir é “trans-por” algo para outro contexto, é a ativi- O desenho na poética de Nicolás Paris é organizado por ideias
dade de “trans-formar”, conforme Walter Benjamin. O origi- que vão além do ato de grafar. Formado em arquitetura, tem
nal é essencial na medida em que libera o tradutor do esforço seus desenhos ativados pelo público – assim como o arquiteto,
da comunicação fiel. Moris é um tradutor da língua falada e que, quando projeta uma casa, considera as ações daqueles que
escrita e das linguagens visuais: o original é reproduzido, ali vão morar. Seu desenhar coincide com um modo de agir sobre
refeito, reorganizado em outra ação de poetização. Em seus pas- o mundo, um fazer ao mesmo tempo simples e inusitado, convi-
seios pelas ruas da Cidade do México, o artista observa enge- dando todos ao seu redor a atuar também. Essa postura despojada
nharias populares, precárias, efêmeras, frutos da necessidade e precisa é pedagógica por natureza, pois oferece referências
de quem vive nas ruas. Há uma conotação utilitária e social e instiga o potencial criador de quem vê. Muitas de suas obras
nessas operações: um colchão é transformado em saco de dor- são laboratórios e oficinas em que o espectador é também reali-
mir, lâminas de madeira se tornam paredes de um abrigo, res- zador, revelando o pensar de um educador. Quando foi convidado
tos de metal e papelão formam a estrutura de uma ponte. Quando a participar da 54ª Bienal de Veneza pelo programa educativo,
se apropria de textos encontrados nas ruas ou retirados de por exemplo, propôs uma oficina em que estudantes, professores
jornais, Moris provoca contrastes entre o tempo traduzido em e o público geral desenhassem. O educativo da instituição pro-
relato e o que se pode intuir dele, rasurando e articulando punha a mesma estratégia, por também entender que, ao desenhar,
outros enunciados gráficos para explorar os acontecimentos e o conhecimento se constrói e a sensibilidade é colocada em pri-
seus personagens. Entre o que vê e faz: a poesia. meiro plano.

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Nicolas Poussin A precisão da Nicolau de Cusa


verdade é ina-
cessível. Con-
1594, Les Anderlys, França – 1665, Roma, sequentemente, 1401, Cusa (Alemanha) – 1464, Todi
Itália. toda afirmação (Itália).
positiva hu-

Nicolas Poussin define a pintura como “uma imitação feita com Teólogo e filósofo do Renascimento ligado ao pensamento platô-
linhas e cores, em alguma superfície, de tudo que se vê sob o nico, Nicolau de Cusa desempenhou importante papel nos âmbitos
sol”. Não buscava representar a realidade percebida pelos sen- religioso e político, promovendo a breve conciliação entre as
tidos, mas os conceitos ideais, racionalizados, das relações do igrejas católica e ortodoxa, para depois aliar-se ao papa, tor-
homem com a natureza. Para isso, resgatou as bases que definem nando-se cardeal e bispo. Em Da douta ignorância, defende que
o lugar do humano no mundo em imagens da Bíblia e da mitologia, o fundamento principal de todas as coisas, como a compreensão
ressignificando sua complexidade ideológica, moral e ética. de Deus, não pode acontecer na mesma esfera de conhecimento de
São cenas estruturadas por relações geométricas, linhas invi- questões terrenas. O mundo se revela na comparação entre seus
síveis que garantem a disposição precisa e orgânica das partes, próprios elementos. Já o divino nunca se revelará por completo.
em que cada personagem desempenha um papel, indicado pelos seus Podemos ter uma ideia sobre ele se abandonarmos nossas con-
gestos e vestimentas. O olho do espectador passeia pela cena, vicções, aceitando que o pensamento racional não nos possibi-
guiado pelas linhas de tensão, pelos braços e olhares que indi- lita conhecer a essência das coisas. Para demonstrar esse con-
cam caminhos e ditam os ritmos, descobrindo histórias e seus ceito, Nicolau utiliza uma operação matemática: a tangente de
valores ou, ainda, encontrando novos significados em histó- uma esfera é o segmento de outra esfera, que tem tamanho infi-
rias já conhecidas. Realizou pinturas que delinearam os princí- nito. Como o mundo, a esfera menor tem suas dimensões mensurá-
pios do classicismo francês, alternativa estética e ideológica veis, enquanto a outra, como Deus, pode ser apenas intuída e
à corrente barroca. abarca todas as esferas possíveis.

Nino Cais O melhor será Octavio Paz


escolher
o caminho
1969, São Paulo, Brasil. Vive em São Paulo. de Galta, 1914, Cidade do México, México – 1998,
percorrê-lo de Cidade do México.
novo (inventá-

Os trabalhos de Nino Cais partem do universo doméstico. A Para Octavio Paz, é no corpo que se dá a experiência da lingua-
vivência da casa e de seus objetos, a relação do corpo com gem, que ao extravasar sua formalidade comunicativa, encontra
esses elementos, o interesse pelo banal e pelo decorativo e a toda sua poesia – forma natural de convivência entre os homens.
tentativa de extrair poesia de utensílios comuns são uma cons- Segundo o poeta, “a consciência das palavras leva à consciência
tante em suas criações. Deslocados de seus contextos, xícaras, de si, a conhecer-se e a reconhecer-se”. Em O mono gramático,
bacias, panelas, vasos de plantas e toalhas de renda são reor- obra em prosa que começa discutindo a ideia de fim, o autor
denados em composições que mesclam estranheza, afeto e iro- envereda pelos caminhos da impermanência e, desafiando os limi-
nia. Em muitos casos, o próprio artista figura em seus tra- tes da palavra, segue em busca de seu destino (fim). Ao encon-
balhos, como na série de fotografias Maiastra (2007), na qual trá-lo, esse destino se dissolve e gera novas possibilidades
ele se equilibra sobre copos, taças e jarras de vidro, ou nos de busca. Falar e escrever é ir de um lugar a outro, é traçar
autorretratos em que seu rosto aparece encoberto por objetos, um caminho: “inventar, recordar, imaginar uma trajetória, ir
camuflando-se na paisagem doméstica que o inspira. Também nos para…”. Para Paz, a literatura nos convida a sair à procura de
desenhos, é a silhueta de Nino que se vê agregada a louças e uma visão e assim desenhá-la com o sentido, que está além das
adereços. Já em produções mais recentes, o artista sai de cena palavras – ao passo que a pintura nos proporciona uma visão.
e o procedimento da colagem, que já animava sua poética, passa Para o autor, os quadros não podem falar porque, nas pinturas,
a constituir as imagens, como na série em que se vale de revis- o tempo não passa. Embora haja movimento na imagem, a realidade
tas antigas de moda e de decoração ou nos trabalhos em que se ali retratada é definitiva, imóvel e imutável.
apropria de pinturas de Debret.

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Odires Mlászho Olivier Nottellet

1960, Mandirituba, Brasil. Vive em São 1963, Argel, Argélia. Vive em Lyon, França.
Paulo, Brasil.

“Ter o livro, sim, lê-lo também, […] e, sobretudo, ver, virar e Olivier Nottellet reconstrói espaços transformando-os em abis-
gerar as suas páginas. Comê-las. […] Libertar-se não apenas do mos. Paredes, piso e teto são revestidos de preto e ganham pro-
verso, mas da própria regra da página, sim ou não? À arte cabe fundidade, emendam-se – parecem querer sugar tudo, numa queda
essa liberdade”, foi o que disse o poeta Mallarmé. Assim, de sem fim. As noções de superfície, de escala arquitetônica e de
maneira caleidoscópica, a violar-lhe a essência e a estrutura espaço a ser percorrido pelo corpo são alteradas. Nottellet
secular, Odires Mlászho explora o universo simbólico do livro, esculpe o espaço, ficcionaliza-o, modifica seu histórico de
expandindo, formal e significativamente, suas imagens, pala- lugar reconhecível. “Meu trabalho é decadente no sentido de que
vras, seu próprio devir como nobre depositário do conhecimento. não se esforça para obter respostas […] Não estou interessado
Compulsivo por livros, o artista acreditava serem objetos into- em clareza ou precisão. Gosto de profusão e falsos começos”,
cáveis, até que se viu diante de duas edições: uma sobre escul- diz. Ele age nas bordas entre o real e a abstração: por vezes,
turas clássicas e outra com retratos de homens importantes da apropria-se de cadeiras de escritórios, luminárias e tripés e
história alemã. O artista fundiu essas imagens e iniciou a par- os mescla a formas geométricas, fluidas e irregulares ou que
tir daí procedimentos como: esculpir, colar, cortar, esfoliar, guardam vestígios das silhuetas dos objetos. Seu vocabulário
molhar e “serpentinar”. Suas experimentações transformam ima- visual restrito e recorrente ativa um processo de reformulação
gens e conteúdos que estavam imóveis, esquecidos, fazendo-os dos elementos e volumes alcançados no espaço: é o espaço que
“circular novamente, com outro apelo, com outra linguagem”. “Eu constrói suas esculturas-objetos-desenhos, que nunca suscitam
concedo sua volta em uma outra nova trajetória”, explica. as mesmas relações e visualidades.

A Poesia Pau- Oswald de Andrade Pablo Pijnappel


Brasil é uma
sala de jantar
domingueira, 1890, São Paulo, Brasil – 1954, São Paulo. 1979, Fontenay-aux-Roses, França. Vive em
com passarinhos Roterdã, Holanda, Berlim, Alemanha, e Rio
cantando na
de Janeiro, Brasil.
“A poesia existe nos fatos. Os casebres de açafrão e de ocre “A memória tem um papel proeminente em meu trabalho”, diz
nos verdes da Favela, sob o azul cabralino, são fatos estéti- Pablo Pijnappel. Seus filmes e projeções de slides se relacio-
cos”, diz o poeta Oswald de Andrade na abertura de seu “Mani- nam com uma família de imigrantes e são dedicados a um parente
festo pau-brasil”, de 1924. O ideal do manifesto é conciliar a ou amigo. O artista reconstrói as vidas desses personagens como
cultura nativa e uma nova cultura intelectual, para que refli- sua própria, através de encontros pessoais, em colagens de ima-
tam a miscigenação étnica do povo brasileiro e a cultura dela gens e textos. São emaranhados entre fatos e ficção, imaginá-
resultante. “A língua sem arcaísmos, sem erudição. Natural e rio e narrativas. Felicitas constitui uma narrativa em múlti-
neológica. A contribuição milionária de todos os erros. Como plas partes sobre uma amiga da família, com imagens de jornal
falamos. Como somos.” A busca por elementos originários da poe- e de arquivo pessoal projetadas em slides. Walderedo esboça
sia nos sentimentos deriva na expressão estética pura. Permite um retrato de seu avô paterno, um pioneiro da psicanálise no
à lógica do imaginário sobrepor-se ao pensar cultivado e devol- Brasil rural nos anos 1940, e de seu pai, Walderedo Jr., que
ver a luz à inocência constitutiva da arte. É a possibilidade atualmente mora em Tóquio – um artista que já quase não dese-
de o artista ver com olhos libertos de sua cultura. “Nenhuma nha e tem dificuldades nas relações familiares. Seria esse um
fórmula para a contemporânea expressão do mundo. Ver com olhos filme sobre seu avô, sobre seu pai ou sobre ele mesmo? Segundo
livres.” Oswald responde assim à necessidade de se criar uma o artista, somos os narradores de nossas próprias histórias,
arte baseada na realidade brasileira, que esboçou o diagnóstico sujeitas a contingências e à memória, e nosso passado é uma
que viria com o “Manifesto antropofágico”, em 1928. invenção que pode nos ajudar a construir o presente.

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Pier Paolo Pasolini PPPP (Productos Peruanos Para


Pensar)
1922, Bolonha, Itália – 1975, Roma, Itália. 1955, Lima, Peru. Vive em Lima.

“A verdade não está em um sonho somente, mas em muitos sonhos”, Alberto Casari (que, entre outros projetos, realiza pinturas
acreditava Pasolini. O pensamento plural de intenção igua- completamente brancas ao jogar água do mar em telas) criou com
litária e a crítica à burguesia permeiam a obra do poeta e Alfredo Covarrubias, em 1994, a PPPP – Productos Peruanos Para
cineasta. Para ele, a ordem econômica capitalista é responsável Pensar. Ao final da década, a sociedade passou a contar ainda
por enfraquecer elos morais e instâncias fundamentais da socie- com Patrick van Hoste, crítico de arte independente, e com os
dade, como a família e a cultura, que se restringem a um hori- pintores autodidatas Arturo Kobayashi e El Místico. Embora seja
zonte de consumismo, numa tentativa de compensar, pela aquisi- comum, na arte contemporânea, que artistas e intelectuais se
ção de bens, o esvaziamento das utopias. Em Teorema (1968), o reúnam e se apresentem como grupos, em PPPP temos uma associa-
drama de uma família é uma ficção sobre o esgotamento do sis- ção um pouco diferente, pois todos os seus integrantes são, na
tema capitalista. Um hóspede sedutor passa a conviver com uma verdade, um mesmo homem: Alberto Casari. Com seus heterônimos,
típica família italiana e, aos poucos, desvela sonhos e senti- o artista optou por desenvolver seus trabalhos através de uma
mentos reprimidos dos personagens. Após uma crise coletiva, a marca, que se complementa com a criação da empresa de decoração
empregada Emilia e os membros da família assumem seus desejos PPPPdesign. PPPP, uma sociedade de um homem só, confunde ainda
e personalidades autênticas. Pasolini narra os desajustes que mais as fronteiras entre as linguagens da poesia, da arte e do
enxerga na vida em sociedade, apresentando um percurso das con- design.
dições que os precederam, para que o espectador se dê conta de
que vive em uma escuridão – o que o alivia do peso da verdade.

Ricardo Basbaum Robert Filliou

1961, São Paulo, Brasil. Vive no Rio de 1926, Sauve, França – 1987, Les Eyzies,
Janeiro, Brasil. França.

Para o artista, crítico e curador Ricardo Basbaum, arte é a A aproximação entre arte e vida e a ênfase na experimenta-
construção de um pensamento coletivo e aberto a questionamen- ção e no processo criativo são aspectos centrais na poética de
tos provenientes de todos os personagens que decidem comparti- Robert Filliou. Formado em economia política pela Universidade
lhar experiências. Tendo como referências Lygia Clark e Hélio da Califórnia (UCLA), foi funcionário da ONU e viveu em diver-
Oiticica e uma intensa mescla entre linguagens, seus trabalhos sos países, como Estados Unidos, Coreia, Egito e Dinamarca, até
reivindicam a atenção do espectador, não acontecem sem a parti- voltar a se estabelecer na França, em 1959. Nessa época, desen-
cipação ou manipulação do outro, “[são] uma combinação de arte volveu suas primeiras ações e objetos e aproximou-se de artis-
contemporânea e estratégias comunicacionais”, ele afirma. Em tas ligados ao Fluxus, com quem atuou em diversas ocasiões.
1989, o artista iniciou o projeto Novas Bases para a Personali- Partindo da poesia, do humor, do uso de materiais banais e da
dade (NPB): espécies de casulos ou ambientes que propunham aos apropriação de elementos cotidianos, define suas criações como
participantes vivências sensoriais compartilhadas ou íntimas. A “pistas de decolagem para o pensamento”. O convite à participa-
presença dos participantes aciona os mecanismos de suas obras e ção é uma constante nesses trabalhos, como na série Caixas Oti-
a arte parece atravessar a vida como potência transformadora. mistas (1968-1981), cujo sentido só é apreendido por meio de
É o que ocorre em trabalhos como eu-você (2000), no qual o sua manipulação pelo público. Um dos projetos mais conhecidos
artista convida pessoas a vestirem camisas estampadas com essas de Filliou é a Galerie Légitime (1962), espaço de arte que fun-
palavras, e todos integram um grupo que age, contribui e acata cionava em seu próprio chapéu, no qual exibia trabalhos seus e
decisões tomadas durante a ação. de outros artistas.

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Roberto Obregón Rodrigo Braga

1946, Barranquilla, Colômbia – 2003, 1976, Manaus, Brasil. Vive no Rio de


Caracas, Venezuela. Janeiro, Brasil.

Para Paul Valéry, uma obra de arte deveria “ensinar-nos sem- Cultura e natureza se distinguem e se reconhecem o tempo todo
pre que não havíamos visto o que vemos”, e o artista deve- na obra de Rodrigo Braga. Entre a comunhão e o dissenso, a
ria dedicar muito de seu tempo tentando ver o que é visí- atração e a repulsa, a fábula e a realidade, suas fotogra-
vel. Roberto Obregón valorizava esta capacidade de ver e de fias amalgamam seres e paisagens, vestígios de vida e traços
examinar minuciosamente as coisas para transformá-las em expe- de morte. Ossos, frutas, legumes, plantas e animais fundem-se
riências que estimulassem uma percepção visual mais analítica. inteiros ou aos pedaços, ora ao corpo do artista, que figura
Não buscava o “prazer retiniano”, que Duchamp tanto repug- em muitos dos seus trabalhos, ora ao lugar onde são fotogra-
nava, mas a singularização dos objetos, dando-lhes a sensação fados. Estranhamente sedutoras, essas criações híbridas nunca
de visão original e não de reconhecimento. Desde os anos 1970, terminam de se encaixar. Oferecem-se misteriosas e incomple-
quando explorava procedimentos conceituais para suprir sua tas, ainda que nos encarem como inteiras em sua simplicidade
necessidade de ampliar a noção de arte, Obregón dissecava rosas e exuberância. No início, o artista compunha suas imagens por
e representava esse processo em aquarelas ou organizava as meio de manipulação digital, unindo partes do corpo, fundindo
pétalas sobre papel tal como estavam nas dissecações. Diferen- sua cabeça à de um cachorro ou inserindo objetos sob a própria
temente das detalhadas ilustrações botânicas de Margaret Mee e pele, como pregos e palitos de fósforo. Aos poucos, porém, a
de outros tantos cientistas viajantes, as composições de Obre- experiência performática passou a adquirir um papel central em
gón nos conduzem a uma narrativa da imagem de uma única rosa, e sua obra, e as cenas e situações deixaram de ser simuladas para
não de uma rosa universal, genérica, igual a todas as outras de serem efetivamente construídas ou vivenciadas.
sua espécie.

Runo Lagomarsino Samuel Beckett

1977, Lund, Suécia. Vive em Malmö, Suécia, 1906, Dublin, Irlanda – 1989, Paris,
e São Paulo, Brasil. França.

Nas obras de Runo Lagomarsino os processos históricos e dis- Um homem conversa consigo mesmo sobre a vida, a morte, o amor e
cursivos que sustentam relações geopolíticas se tornam visí- o absurdo da existência. Ao completar 69 anos, prepara-se para
veis. Ainda que apresentem um posicionamento político definido, gravar um depoimento sobre sua trajetória – procedimento rea-
em muitos casos essas obras têm um aspecto inacabado, frag- lizado a cada aniversário – enquanto depara-se com o próprio
mentário, agindo como provocações, reflexões abertas sobre as relato gravado há trinta anos, quando ainda era jovem e feliz.
relações de território e exclusão. Em suas instalações, obje- A última gravação de Krapp (1958) é uma das peças mais conheci-
tos e vídeos muitas vezes apropria-se de casos específicos que das de Samuel Beckett. Como em Esperando Godot (1952), história
se apresentam como metáforas. Em Untitled (Extended Arguments), de dois homens que aguardam infinitamente um tal senhor Godot,
por exemplo, apresenta um fragmento do jogo de futebol entre a o texto aborda temas como solidão, angústia, fracasso e impo-
URSS e o Chile em 1973, do qual o time soviético não partici- tência diante da transitoriedade e da falta de sentido da vida.
pou em protesto à ditadura de Pinochet. A subversão das regras “Quanto a mim, nunca soube contar minha própria história, como
do jogo e a aparente tranquilidade com que os jogadores chile- nunca soube viver ou contar a história dos outros. Como pode-
nos encenam o gol da vitória favorecem a reflexão. Nos últimos ria ter feito isso, se nunca tentei? Me mostrar agora, às vés-
anos, Lagomarsino fez residências artísticas em diversos paí- peras de desaparecer, ao mesmo tempo que ao estranho, graças
ses, inclusive no Brasil, onde desenvolveu trabalhos que apre- à mesma graça, isso seria muito engraçado”, escreve em Malone
sentam uma visão crítica sobre a construção da nossa história a Morre (1951). O humor ácido e a consciência crítica da condição
partir de temas como a herança colonialista e as relações de humana estão presentes nessas e em outras produções, como poe-
conflito e aproximação com a cultura norte-americana. mas, ensaios e textos para cinema, rádio e televisão.

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Saul Fletcher Sheila Hicks

1967, Barton, Inglaterra. Vive em Londres, 1934, Hastings, Estados Unidos. Vive em
Inglaterra. Paris, França.

As fotografias de Saul Fletcher funcionam como anotações ou Na obra de Sheila Hicks, é através da linha que a cor ganha
apontamentos. Sem títulos e em pequenos formatos, integram uma volume, e por meio de relevos, esculturas e instalações tem-
única e longa sequência de imagens. Entre o estranho e o fami- -se o espaço. Em seus pequenos trançados, os Minimes, ou nos
liar, o espontâneo e o encenado, não chegam a compor uma narra- gigantescos painéis, a cor é matéria tátil. A artista foi muito
tiva, mas reúnem fragmentos de um olhar poético sobre o mundo. influenciada pelos estudos cromáticos de Josef Albers e pelos
Como um caderno visual de notas, as fotografias deste artista trabalhos têxteis de Anni Albers. Seu interesse pela tecela-
registram o modo como ele percebe, recorta e recria a rea- gem se intensificou a partir do contato com a confecção pré-
lidade, transitando de um tema a outro: de paisagens inver- -colombiana, que a fez estudar os vários métodos de tecela-
nais a retratos de amigos e familiares, passando por composi- gem ao redor do mundo. Além da experiência óptica da cor, seus
ções que reúnem pinturas e objetos, além de cenas dos lugares trabalhos ativam o corpo, pois, mesmo sem tocá-los, as textu-
onde habita. A obra de Fletcher parece existir em um entre-lu­ ras dos materiais parecem despertar memórias sensoriais e emo-
gar – entre o que se revela e o que é apenas sugerido, entre tivas. O trabalho de Sheila Hicks é como um segredo que jamais
o segredo e a confissão. Ainda que protagonizadas pelo próprio será revelado, uma chave para olhar o mundo por uma perspec-
artista e seu contexto mais imediato, as fotos de Fletcher não tiva espiritual. Seus Trésors et secrets, por exemplo, pare-
se mostram íntimas nem impessoais; guardam uma melancolia e uma cem apenas manipulações formais de cores, linhas e tecidos, mas
estranheza que apontam para questões como a solidão, a passagem escondem objetos pessoais que desconhecemos, os quais a artista
do tempo e uma sensação de desorientação. envolve e oculta, cada um como se secretamente arquivasse suas
memórias.

Sigurdur Gudmundsson Theching Hsieh

1942, Reykjavík, Islândia. Vive em 1950, Nan-Chou, Taiwan. Vive em Nova York,
Amsterdã, Holanda, e Xiamen, China. Estados Unidos.

Sigurdur Gudmundsson é um importante artista conceitual islan- Como a própria vida levada aos seus limites pode se tor-
dês, com uma produção iniciada na década de 1960 que se desen- nar uma obra de arte? E como submeter a arte ao mesmo desafio,
volve em diferentes meios, como fotografia, escultura, perfor- forçando-a aos seus limites até que se confunda com a vida?
mance e literatura. Durante as décadas de 1970 e 80 realizou a Tehching Hsieh realizou uma série de performances que o colo-
série fotográfica Situations, na qual vemos o artista em cenas cavam em situações limite e indagavam sobre as fronteiras do
absurdas: inclinado perfeitamente a 45º imitando um mastro ao campo artístico. Realizadas em Nova York, entre 1978 e 1999,
seu lado em uma praia, ou então tentando se esconder sob uma suas cinco primeiras performances duravam um ano cada e consti-
lajota da calçada. O artista cria relações diretas, de estra- tuíam desafios físicos e mentais. Primeiro, permaneceu um ano
nheza e equilíbrio, entre seu corpo e os objetos e espaços, em confinado em uma cela no seu ateliê, sem poder ler, escrever,
imagens muitas vezes bem-humoradas, mas que, quando vistas em conversar, escutar rádio ou ver TV. Em seguida, comprometeu-se
conjunto, ganham uma dimensão dramática. Suas obras são poe- a registrar todas as horas do dia por um ano. Em sua terceira
mas visuais para os quais não encontramos equivalências racio- experiência, viveu 365 dias nas ruas, sem jamais entrar em um
nais, embora tenhamos sempre o impulso de procurá-las. “Temo espaço coberto. Na quarta, ficou amarrado a uma mulher durante
muito os significados”, disse. Seus trabalhos não são visuali- um ano, sem poder tocá-la. A quinta performance (1985-86) anun-
zações de ideias verbais, e sim desvios e aproximações de dife- ciava um distanciamento do mundo da arte: ele ficou um ano sem
rentes ideias plásticas. ler, ver, fazer ou falar de arte. A partir de então, propôs-se
a viver treze anos produzindo arte sem mostrar o seu trabalho,
até completar 49 anos, quando deixou de atuar como artista.

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Tiago Carneiro da Cunha Waldemar Cordeiro

1973, São Paulo, Brasil. Vive no Rio de 1925, Roma, Itália – 1973, São Paulo,
Janeiro, Brasil. Brasil.

Tiago Carneiro da Cunha explora o que há de mais desprezível, Waldemar Cordeiro é considerado um dos fundadores e princi-
repulsivo e bizarro nos estereótipos que habitam a existên- pais teóricos do movimento de arte concreta no Brasil, nos
cia humana. A violência aciona seus personagens. Ele espreita anos 1950. Foi também pioneiro no desenvolvimento da arte ele-
a cultura popular, a política, os falsos valores, a mídia, os trônica no país, no início da década de 1970. Vindo da Itália
filmes de terror, a arte, interrompendo o fluxo cotidiano para em 1946, fixou-se em São Paulo; atuou inicialmente como jor-
fazê-los ressurgir, segundo o artista, como “estatuetas que nalista, ilustrador e crítico de arte. Em 1952, criou o grupo
tenham um mínimo de autoanálise e saibam que fazem parte de um Ruptura, ao lado dos artistas Geraldo de Barros, Lothar Charoux
sistema corrupto e cínico, que vai absorvê-las para transformá- e Luís Sacilotto, entre outros. Marcado pelo abstracionismo
-las em ídolos falsos. […] é minha tentativa de ser realista”. geométrico, o movimento propunha uma completa renovação da arte
Tão importante quanto o tema é a manipulação da forma em suas brasileira, rompendo com o figurativismo e adotando postula-
esculturas de acetato, resina e faiança. Macacos imitando dos racionalistas para a produção. Nos anos 1960, o rigor con-
esfinges, monstros amorfos saídos de pântanos, formas larvais cretista deu lugar a experiências mais livres em pintura e aos
que moldam homens corpulentos com semblantes satíricos e cavei- chamados “popcretos”, obras criadas por Cordeiro a partir de
ras que lembram bibelôs de pedras preciosas são tentativas de objetos cotidianos e sucata. No final dessa década, realizou os
aliar sua linguagem formal a uma crítica ácida e irônica. Não primeiros trabalhos com computador, que, para o artista, sig-
se trata de pesquisar a forma como um elogio ao pessimismo, mas nificavam um desdobramento lógico da arte concreta, ao tomarem
de esculpir e modelar camadas de ilusão, humor e loucura. por base programas numéricos.

Xu Bing Yuki Kimura

1955, Chongqing, China. Vive em Pequim, 1971, Kyoto, Japão. Vive em Kyoto, Japão, e
China, e Nova York, Estados Unidos. Berlim, Alemanha.

A relação entre a caligrafia chinesa e a tradição é o ponto Yuki Kimura investiga a correspondência entre imagens e obje-
de partida do trabalho de Xu Bing. Formado no departamento de tos, descontextualizando-os e propondo novas relações a par-
impressão da Central Academy of Fine Arts, em Pequim, come- tir do uso. Na exposição Untitled (2010), a artista reimprimiu
çou sua carreira artística produzindo gravuras, nas quais, gra- fotografias encontradas pelo mundo, nos álbuns do avô ou envia-
dualmente, incorpora processos de impressão como tema. Nessas das por amigos. Após manipulá-las, agregou as imagens a elemen-
obras, ampliou os limites deste procedimento secular ao ponto tos escultóricos e as cobriu parcialmente com pedras, tocos de
de utilizar um segmento da Muralha da China como matriz para madeira ou velas derretidas. Em Katsura Project, Kimura retoma
uma gigantesca impressão em Ghosts Pounding the Wall (1990). As uma série de 24 fotos deixadas por seu avô, a partir da hipó-
relações entre linguagem e cultura, entre escrita e paisagem, tese de que ele usou apenas um rolo de filme para registrar 24
que permeiam os seus primeiros trabalhos, ganham posição de locais de um percurso turístico do vilarejo em que vivia. Na
destaque em suas obras das últimas duas décadas. Uma paisagem instalação, os pontos identificados no mapa da vila são trans-
feita com ideogramas chineses no lugar das árvores e montanhas, ladados ao espaço expositivo, com distribuição similar das
ou, ainda, a invenção de um novo sistema de códigos gráfi- fotografias suspensas, como se revivêssemos o caminho circu-
cos que parte da escrita inglesa para formar palavras semelhan- lar e o olhar daquela paisagem. Além de obstruir essas imagens
tes aos ideogramas está entre os seus trabalhos que provocam o com vasos de plantas, a artista cria justaposições poéticas de
cruzamento de sistemas linguísticos e culturais, revelando a imagens que evocam o passado com objetos cotidianos, que nos
intensa relação entre as sociedades e seus signos. conectam ao presente.

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gloSSário

Alberto Cruz (1917-) · Professor, poeta e arquiteto chileno, Classicismo · Período cultural que surgiu no Renascimento,
foi um dos fundadores do Instituto de Arquitetura da Univer- entre os séculos 14 e 16. Em contraposição ao divino e ao
sidade Católica de Valparaíso, no Chile. A faculdade, fun- sobrenatural, conceitos fortemente abarcados na Idade Média,
damentada na relação entre arte, poesia e arquitetura, teve o classicismo tomou forma através da valorização e do res-
extrema importância frente à ditadura de Pinochet. Cruz, gate de elementos artísticos da cultura clássica greco-
fortemente influenciado pelas teorias de Le Corbusier, fun- -romana. Possuía como características a influência do pen-
dou com um grupo de amigos e alunos a Corporación Cultural samento humanista, a valorização do homem e da natureza, o
Amereida, em 1969. Atualmente, é sócio da corporação e pro- antropocentrismo, o racionalismo e a busca por equilíbrio,
fessor da Universidade de Valparaíso. rigor e pureza formais. Neste período, com os trabalhos de
artistas como Leonardo da Vinci, Michelangelo, Rafael Sanzio
Arte conceitual · Movimento artístico que se desenvolveu na e Botticelli, conquistou-se o uso da perspectiva, do claro-
Europa, Estados Unidos e América Latina, de meados da década -escuro e da representação próxima ao real na arte. As obras
de 1960 a meados de 70. De modo geral, os artistas vincula- do classicismo evocam o artista como um criador individual e
dos à prática conceitual privilegiavam o conceito, a ideia, autônomo, que busca a expressão de suas ideias e sentimen-
o processo, a experiência, o projeto ou a ação que consti- tos por meio da arte, liberto do dogmatismo da igreja domi-
tuía cada trabalho, em detrimento da produção de objetos de nante até então.
arte (únicos, permanentes e acabados). Enfatizavam a arte
como coisa mental e o artista como pensador, não como arte- Eneida · Poema épico escrito por Virgílio no século 1 a.C.,
são. Tampouco havia a exigência de que o próprio artista aborda as origens e o espírito do povo romano. Inspirado
construísse a obra, já que muitas delas apresentavam-se com na Odisseia e na Ilíada, de Homero, Virgílio narra a lenda
instruções, mais ou menos precisas, para o espectador, de do troiano Eneias, que, após a destruição de Troia e lon-
como realizar determinada ação ou projeto. Por trás desse gas viagens erráticas pelo Mediterrâneo, funda uma colô-
investimento em outras possibilidades de pensar, fazer e nia troiana em Lácio, Itália. Além do emprego linguístico e
apresentar arte (diferentes das que se conheciam até então), do conteúdo poético, a Eneida também atuou como propaganda
estava uma importante crítica ao sistema da arte e aos seus política, uma vez que exaltava a expansão do Império Romano.
mecanismos de legitimação e comercialização das obras. Os A epopeia serviu de modelo estrutural e poético para vários
readymades de Marcel Duchamp, cujo estatuto artístico é con- autores, como Lucano, Dante e Camões.
ferido pelo contexto em que são apresentados, são considera-
dos um importante precedente da arte conceitual. Fluxus · Em busca de uma palavra que trouxesse as noções de
movimento, mudança, ação e fluidez, George Maciunas esco-
Barroco · Período cultural florescido entre o final do século lheu “fluxus” para ser o título de uma revista de textos de
16 e meados do século 18 na Itália, difundiu-se pelos paí- artistas, que aos poucos aglutinou membros de forte atua-
ses católicos da Europa e da América, inclusive no Brasil. ção política e radicalmente contra o sistema da arte. Allan
Toda produção artística do barroco (expressa na arquitetura, Kaprow, Nam June Paik, Yoko Ono e tantos outros integravam o
música, pintura, escultura, literatura, mobiliário etc.) grupo Fluxus, valorizando a criação colaborativa e trazendo
tende ao assimétrico, ao extravagante, ao apelo emocional, suas referências e diferentes linguagens de atuação: música,
inexistente até então na arte renascentista, de caracte- cinema, dança, performance, instalação, literatura, poesia.
rísticas clássicas e idealistas. As obras barrocas, como as Os artistas do grupo se manifestavam em eventos artísticos e
pinturas de Caravaggio, Rembrandt, Tintoretto, Rubens e as em publicações (Fluxus Inc.), e também trocavam correspon-
esculturas de Bernini, abusam de contrastes abruptos de luz dências, construindo uma intensa rede de interação artística
e sombra, diagonais impetuosas e temas que sugerem o natu- no mundo inteiro. Seus trabalhos tinham como característi-
ralismo ou a veracidade da imagem. Os objetos e seres huma- cas o uso de materiais simples, a fácil reprodutibilidade e
nos são retratados tal como parecem, com suas marcas do a ideia de “faça você mesmo”, de Yoko Ono, que defendia que
tempo, seus defeitos físicos, seus traços bizarros e feios, objetos e ações artísticas poderiam ser feitos por qualquer
sem retoque algum. O termo “barroco” pode servir também para pessoa.
qualificar algo que prime por excesso, sinuosidade, ruído;
ou pela riqueza de detalhes, como nos filmes de Pedro Almo- Gustave Courbet (1819-1877) · Para o pintor realista fran-
dóvar ou nas apresentações da cantora Lady Gaga. cês Gustave Courbet, a ênfase romântica nos sentimentos e na
imaginação significava uma fuga da dura realidade. Socia-
lista e politicamente engajado, foi acusado de vulgaridade

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na abordagem dos temas, bem como de falta de conteúdo espi- último livro e junta-se ao anterior como um grande desafio
ritual. Isso porque repudiava os sentimentalismos e a ide- aos críticos e leitores.
alização da natureza, caros à vertente romântica. Paisa-
gens marítimas, trabalhadores do campo e mulheres em poses John Cage (1912-92) · Artista multidisciplinar, foi um dos pro-
sensuais não constituíam projeções poetizadas do real, mas tagonistas da vanguarda modernista no pós-guerra. Conhecido
fragmentos do cotidiano, tal como este se apresentava ao por suas composições musicais, experiências sonoras, uso
artista. Em Origem do mundo (1866), retratou fielmente o não convencional de instrumentos e ideias relativas a sons,
órgão sexual feminino, abalando as estruturas do academi- ruídos, acaso, aleatoriedade e silêncio, Cage dizia que a
cismo artístico e chocando a moral burguesa. ausência da intenção e a aceitação do que acontece era o que
mais importava. Foi um dos pioneiros da música eletrônica,
Heterônimos · Personalidades fictícias que habitam um único ao utilizar fitas magnéticas e rádios em suas composições, e
autor, que lhes atribui características distintas e comple- era interessado por filosofia oriental, especialmente pelo
tas: nome, endereço, profissão, data de aniversário, visões zen-budismo e pelo I Ching: o livro das mutações. Uma de
de mundo, personalidade e opiniões. Identidades distintas, suas peças mais famosas, 4′33″ é uma composição emblemática
os heterônimos são como “eus” fragmentados e múltiplos que e polêmica em três movimentos, com duração total de 4 minu-
residem no artista. Ficcionais em princípio, essas identida- tos e 33 segundos, em que nenhuma nota é tocada ao longo da
des tornam-se verdadeiras na manifestação artística variada sua execução. Em outra peça, anunciou a apresentação de um
do autor primordial. Os heterônimos de Fernando Pessoa, por concerto no qual durante os primeiros trinta minutos nem um
exemplo, tornaram-se referência na literatura, o que gerou único som foi emitido no palco. Nos trinta minutos seguin-
uma profunda reflexão sobre a identidade. tes, uma gravação dos trinta minutos iniciais, com vaias e
movimentos do público inquieto, ocupou o auditório, convo-
Immanuel Kant (1724-1804) · Filósofo prussiano, estudou inti- cando tudo e todos como intérpretes sonoros do instante pre-
mamente as questões da estética e elaborou conceitos sobre sente, em constante mutação e sempre renovado. “Nenhum som
o belo, até então tido como algo que a razão não poderia teme o silêncio que o extingue, e não há silêncio que não
compreender. Assim, sua obra Crítica da faculdade de jul- esteja grávido de som”, disse o artista.
gar (1790) transformou as bases do juízo estético ocidental.
Considerado o pai da filosofia crítica, Kant também desen- Karlheinz Stockhausen (1928-2007) · Conhecido por ser o cria-
volveu importantes estudos nas áreas do conhecimento, da dor da música eletroacústica, exerceu um papel importante e
ética e da religião, em seus famosos trabalhos Crítica da controverso na música contemporânea. Seu trabalho influen-
razão pura (1781) e Crítica da razão prática (1788). ciou desde uma geração do experimentalismo até verten-
tes populares, como o rock, o pop e, principalmente, o ele-
James Joyce (1882-1941) · A vida de James Joyce, escri- trônico. Inspirado pelos músicos concretos de Paris, que
tor modernista cuja obra tem, como tema central, a rela- faziam experimentações com a reprodução de sons já existen-
ção entre os diferentes estágios de desenvolvimento do homem tes, Stockhausen analisou e estudou os sons em sua compo-
e a vida, foi marcada pelo exílio, pela pobreza e por uma sição mínima. Construiu ondas sonoras por meio de senoides,
dedicação total à sua arte. Joyce tinha uma relação obses- dando um novo rumo para a produção musical no mundo todo.
siva com o passado, do qual buscava incansavelmente se dis- Tido por muitos como louco, compôs obras de enorme preci-
tanciar. Dubliners (1914) foi seu primeiro livro, cujo tema são matemática, e também peças que são exercícios de medita-
permearia todo seu trabalho: a cidade natal que abandonou. ção através do som. A questão da espacialidade sonora também
Retrato do artista quando jovem (1916) é um romance auto- importava ao músico: em Gruppen, criou uma peça para três
biográfico escrito a partir do fluxo de consciência – téc- orquestras, onde o público posicionava-se entre elas e expe-
nica em que pensamentos, sensações e impressões se misturam rimentava diferentes sensações dependendo do local em que
sem sequência lógica ou sintática, dando ao leitor a sensa- estivesse. Quarteto de cordas para helicópteros foi apresen-
ção de mergulho no pensamento do personagem. Com esse livro, tada pelo quarteto Arditti dentro de quatro helicópteros em
estabelece-se como importante escritor modernista e consa- pleno voo.
gra-se com Finnegans Wake (1939), conhecido por seu experi-
mentalismo extremo em uma narrativa que se esvai em sonhos, Kasimir Maliévitch (1878-1935) · Pintor soviético, Maliévitch
a linguagem em puro jogo, tornando-o, para muitos, um livro fez parte da vanguarda russa e foi mentor do movimento
inacessível. Ulisses, obra principal do modernismo, foi seu suprematista. Como outros artistas russos, não tinha a
intenção de representar a natureza, mas criar objetos iné-

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ditos. Levou o abstracionismo geométrico a sua forma mais métricas metálicas, articuladas por dobradiças, que podem
simples. Maliévitch escolheu figuras básicas, como círculo, tomar diversas formas quando manipuladas pelo público, cuja
quadrado e triângulo, para ilustrar relações sobre um mundo experiência deixa de ser exclusivamente visual para se tor-
feito de cores e geometria puras, uma realidade sem objetos, nar espacial, tátil, corporal. Seus trabalhos passam a se
de absoluta abstração. Quadrado negro sobre fundo branco é focar nos sujeitos e nas relações entre as pessoas, assu-
sua obra mais famosa: resultou no rompimento radical com a mindo progressivamente dimensões psicanalíticas e terapêuti-
arte existente na época. cas no fim de sua carreira artística.

Land art · Conhecida também como earth art, são acréscimos, Mallarmé (1842-98) · Poeta e crítico literário, teve papel fun-
construções ou até alterações na paisagem em ampla escala. damental na poesia da segunda metade do século 19 com seu
São como instalações site-specific – realizadas especifica- projeto de criar uma “máquina poética”, que, embora não
mente para um lugar – na natureza. Em Quebra-mar em espiral tenha se concretizado, resultou em um poema-constelação.
(1970), Robert Smithson construiu uma estrada em espiral com Destacou-se por seus textos ao mesmo tempo lúdicos e obscu-
pedras de basalto negro e terra sobre as águas avermelhadas ros, caracterizados pela musicalidade, experimentação grama-
e poluídas do Great Salt Lake (Estados Unidos), medindo 1500 tical e sofisticação de pensamento. Mallarmé acreditava que
metros de comprimento e quinze de largura. Em Te Tuhirangi um bom poema era construído através da beleza da linguagem:
Contour, Richard Serra construiu na Nova Zelândia uma escul- “não se faz um poema com ideias, mas com palavras”. Em “Um
tura de 257 metros de extensão por 6 de altura que contorna lance de dados jamais abolirá o acaso”, construiu um poema
o relevo da topografia local. É comum que as formas dessas com caracteres de tamanhos e tipos diferentes, que pode ser
obras, por seus tamanhos monumentais, só possam ser vistas lido de várias maneiras simultaneamente. Em “A tarde de um
inteiramente a partir de fotografias aéreas. fauno”, marco do simbolismo na literatura francesa, criou
um monólogo onírico relatando as experiências sensuais de
Le Corbusier (1887-1965) · Arquiteto, urbanista e pintor, des- um fauno em seu esforço de alcançar ninfas em um bosque. O
tacou-se entre as grandes personalidades do século 20. poema inspirou Claude Debussy, na música, e Vaslav Nijinsky,
Conhecido pela preocupação com a funcionalidade dos proje- na dança. Pelo resto de sua vida, Mallarmé dedicou-se a
tos, criticava o esforço artificial pela ornamentação, bas- colocar suas teorias literárias em prática e a escrever a
tante presente na época. Realizou pesquisas envolvendo um obra intitulada Grande trabalho, que ficou incompleta devido
novo modo de enxergar a arquitetura, baseando as formas de a sua morte.
seus edifícios nas necessidades humanas. Entendia a casa
como uma máquina de habitar e, em concordância com os avan- Manifesto antropofágico · Escrito por Oswald de Andrade e
ços industriais, utilizava novos materiais, como concreto publicado em 1928, tinha como objetivo repensar a dependên-
armado, vidro plano em grandes dimensões e outros produ- cia cultural brasileira. O texto prega a antropofagia – o
tos industrializados. Suas Unités d’habitation, constru- canibalismo – como meio de produção artística. Oswald pro-
ções horizontais modulares projetadas como parte da renova- punha a deglutição dos valores e ideias europeus pelos mitos
ção da França após a Segunda Guerra Mundial, visam garantir primitivos dos índios e africanos. Em vez da educação pas-
o conforto ambiental de seus moradores e têm suas principais siva, catequética, sugeria uma digestão ativa e até agres-
medidas baseadas no comprimento dos membros do corpo humano. siva da cultura estrangeira. É, ao mesmo tempo, espécie de
Le Corbusier foi um dos primeiros a compreender a neces- ensaio sobre a história brasileira e proposta de novos rumos
sidade de um planejamento urbanístico racional, adequado à para o modernismo.
vida moderna. Brasília foi concebida segundo suas teorias.
Na arte, com o pintor Amédée Ozenfant, fundou o movimento Marcel Duchamp (1887-1968) · Desafiou o pensamento convencional
purista nos anos 1920, uma corrente derivada do cubismo. sobre processos artísticos e as dinâmicas de comercializa-
ção de obras de arte. Inicialmente, próximo aos cubistas, o
Lygia Clark (1920-88) · Gostava de se intitular pesquisadora, artista se envolveu com uma investigação sobre a descontex-
rompendo com suas investigações as barreiras da arte. Conhe- tualização dos objetos do cotidiano, como proposta artística
cida por sua forte atuação no neoconcretismo, partiu do – os readymades. Para o artista, essas operações deviam des-
plano da imagem pictórica para objetos tridimensionais. Seus locar a atenção do objeto de arte e enfatizar a atitude ou
trabalhos caminhavam no sentido da dissolução da represen- pensamento do artista. Roda de bicicleta (1913), Porta-gar-
tação e do compartilhamento da criação da obra de arte com rafas (1914) e Fonte (1917) são seus readymades mais conhe-
o espectador. Na série Bichos (1960), constrói figuras geo-

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cidos. Duchamp segue influenciando experiências artísticas entre os movimentos artísticos do pós-guerra (expressionismo
que têm como expressão o desejo de aproximar arte e vida. abstrato, arte pop) e as práticas artísticas contemporâneas.

Margaret Mee (1909-88) · Foi uma das mais importantes ilus- Montaigne (1533-92) · Escritor e ensaista francês, Montaigne
tradoras botânicas do século 20. Durante trinta anos morou propôs maneiras de pensar que escapassem do caminho da eru-
no Brasil e dedicou sua vida a viajar e retratar plantas da dição e elegeu a generalidade da humanidade como objeto de
Amazônia brasileira. Ao aliar ciência e sensibilidade artís- análise. A obra Ensaios tomou-lhe vinte anos de estudos.
tica em seus desenhos, Mee, além de documentar centenas de Nela, encontram-se escritos pessoais sobre um modo de pensar
espécies da flora brasileira, alertou o mundo sobre o perigo crítico em relação à sociedade do século 16. Em três volu-
de sua extinção iminente pela devastação das florestas. Além mes, inaugurou o gênero literário do mesmo nome. O ambiente
de sua contribuição para o desenvolvimento da botânica, a de instabilidade na Europa, devido aos conflitos entre cató-
artista também atuou positivamente no estudo das cores, for- licos e protestantes, refletiu-se na produção de Montaigne,
mas e técnicas de grafite e aquarela sobre papel. marcada pela dúvida e pelo ceticismo. Criticava radicalmente
os costumes, os saberes e as instituições da época e, em
Merce Cunningham (1919-2009) · Bailarino e coreógrafo norte- seus ensaios, analisou-os profundamente. Propunha o estudo
-americano, Merce Cunningham foi um dos responsáveis por e o questionamento dos assuntos em detrimento das respos-
mudar os rumos da dança moderna. Ao eliminar a hierarquia tas. O escritor acreditava que os valores morais não podem
que dominava o balé, posicionando os bailarinos para a ocu- ser objetivos e universais, mas que dependem do sujeito e da
pação total do espaço cênico, Cunningham concedeu ao espec- situação em que ele se encontra.
tador uma nova maneira de observar a dança. Pela influên-
cia do compositor John Cage, foi responsável pela separação Paul Valéry (1871-1945) · Poeta, ensaísta e filósofo francês,
entre dança e música. Desenhou movimentos de maneira inde- foi expoente do simbolismo na poesia, destacando-se por seu
pendente de composições musicais, tendo o corpo e a gestua- pensamento político e sociológico. Fortemente influenciado
lidade como ponto central de sua obra. pelo poeta Mallarmé e pelo movimento simbolista, acreditava
no valor musical da poesia e buscava fazer da criação poé-
Minimalismo · Conceito comum a diversas linguagens artísti- tica um trabalho de precisão. “La jeune parque”, sua obra-
cas, em particular às artes plásticas, à música e ao design, -prima, foi considerado um dos maiores poemas do século 20.
embora apresente características particulares em cada área.
Em geral, refere-se a obras reduzidas aos seus elemen- Poesia concreta · Por volta da década de 1950, os poetas
tos mais essenciais. O minimalismo nas artes plásticas foi Augusto de Campos, Haroldo de Campos, Décio Pignatari, José
um movimento surgido no final da década de 1960 nos Estados Lino Grünewald e Ronaldo Azeredo, interessados na estrutura
Unidos, fundamentado no pensamento do modernismo artístico que compõe um poema, envolveram-se com um projeto poético de
europeu e em sua vontade de simplificação e abstração (como natureza “verbivocovisual”, isto é, que explorava o som, a
nas esculturas de Rodin, Brancusi e Picasso). Artistas como visualidade e o sentido das palavras de maneira relacional.
Dan Flavin, Frank Stella, Donald Judd, Robert Morris e Agnes A poesia concreta propunha outras experiências para ler/ver/
Martin priorizaram formas geométricas elementares, produzi- ouvir/pegar um poema. A diagramação, o espaço em branco da
das industrialmente em aço, compensado de madeira ou lâmpa- página e a materialidade das palavras, que ocupam espaços e
das fluorescentes e dispostas no espaço expositivo de forma tornam-se sons, alargaram as noções do âmbito literário da
a valorizar no espectador a percepção de seu corpo em rela- poesia.
ção à peça escultórica e ao espaço em que ambos se inserem.
Assim, descartavam qualquer ação manual do artista ou qual- Prazer retiniano · Termo cunhado por Marcel Duchamp para defi-
quer atributo interno à escultura, tais como tema, repre- nir as obras de arte voltadas para uma pura admiração da
sentação, composição, subjetividade ou significado. Proce- imagem enquanto elemento visual. O artista afirmava que uma
dimentos de repetição e seriação de volumes escultóricos no obra só estaria completa se houvesse uma troca intelectual
espaço tornaram-se frequentes entre estes artistas, e fra- com o espectador. Essa ideia transformou toda a produção
ses como “você vê o que você vê” (Frank Stella), “uma coisa artística que se seguiria e dela derivou o que hoje se chama
depois da outra” (Donald Judd) e “[…] visualmente mínimas, arte contemporânea.
mas espacialmente poderosas” (Donald Judd, sobre exposi-
ção de Robert Morris) ajudam a ilustrar as ideias do grupo. Readymade · Termo cunhado por Marcel Duchamp em 1912 para
O minimalismo nas artes plásticas é hoje visto como ponte designar uma peça elaborada a partir de um ou mais objetos

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de uso do cotidiano, selecionados sem critérios estéticos, na arte, que floresceram na Europa após a Primeira Guerra
produzidos em larga escala e expostos como obras de arte em Mundial, reunindo artistas de feições muito variadas e que
museus e galerias. Ao elevar à condição artística objetos empregavam diferentes modalidades artísticas (como escul-
industrializados e sem valor estético, Duchamp realizou uma tura, literatura, pintura, fotografia, artes gráficas e
crítica radical ao sistema da arte, em que a assinatura da cinema) e canais de expressão (revistas, manifestos, exposi-
obra e o espaço expositivo seriam decisivos para a imputação ções e outros) para uma contestação radical de valores. Con-
do termo “obra de arte”. A criação de Fonte (1917), um mic- tra a repressão dos instintos ou dos condicionamentos men-
tório sobre um pedestal, assinado por R. Mutt (pseudônimo de tais, pretendiam tornar o delírio um mecanismo produtivo,
Duchamp), foi o marco inicial para utilização de readymades criador; assim, admiravam a arte feita por loucos e por
no mundo da arte. crianças (supostamente isentos de fatores culturais e racio-
nalidade) e criaram inúmeros jogos e estratégias para burlar
Reprodutibilidade · Qualidade do que é reprodutível. Cópia, sua própria mente, dando mais ênfase aos processos criativos
imitação ou repetição, única ou em série. Tornou-se um con- do que ao produto final. Entre os pintores e criadores de
ceito fundamental para a compreensão dos sistemas de produ- imagens, como Salvador Dali, Max Ernst, Man Ray e Miró, téc-
ção econômica, industrial e cultural na modernidade. O teó- nicas como colagem e a assemblage foram largamente utiliza-
rico Walter Benjamin, ao referir-se à invenção da fotografia das, ancoradas na possibilidade da justaposição de sentidos
no ensaio “A obra de arte na era de sua reprodutibilidade desconexos, nas ideias de acaso e de escolha aleatória.
técnica” (1936), diz que o progresso das técnicas de repro-
dução destruiria a aura que envolve as obras de arte, uma Walter Benjamin (1892-1940) · Ensaísta, crítico literário,
vez que estas perderiam seu status de raridade – com objetos filósofo e tradutor alemão de origem judaica. Influen-
individualizados e únicos – ao se dissolverem em cópias tec- ciado por doutrinas aparentemente antagônicas, como o ide-
nicamente idênticas. As técnicas de reprodução, porém, pos- alismo alemão, o materialismo marxista e a mística judaica
suem um cerne positivo, na medida em que atuam para a modi- de Gershom Scholem, seu trabalho contribuiu imensamente para
ficação da percepção estética e também possibilitam uma nova a teoria da estética. Conhecedor da língua e cultura fran-
relação da obra de arte com as massas populares. cesas, traduziu para o alemão obras fundamentais de Charles
Baudelaire e Marcel Proust. Em uma abordagem materialista-
Sonia Delaunay (1885-1979) · Pintora abstrata e designer de -histórica, Benjamin discutiu temas concretos da arte, da
moda, trabalhou com artes aplicadas à pintura, cenografia, literatura e da vida social, apresentando outra compreensão
design de interiores e estamparia têxtil. Utilizando a abs- da história humana. Por isso, é considerado, além de filó-
tração geométrica em seus trabalhos, Delaunay fazia combina- sofo, um crítico de ideias e fatos. Seu ensaio mais famoso,
ções entre cores primárias e, ocasionalmente, tons terrosos. “A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica”,
Conhecida por introduzir a arte na vida cotidiana através foi considerado a primeira grande teoria materialista da
de roupas e acessórios, a artista dizia que suas pinturas arte e fundou as bases para o pensamento artístico após as
se tornavam “mais acessíveis e compreensíveis através dos revoluções industriais.
tecidos”. Com seu marido, o artista plástico Robert Delau-
nay, desenvolveu estudos acerca do uso da cor e a teoria da
simultaneidade, que trata da sensação de movimento que surge
a partir da proximidade entre cores contrastantes. Tam-
bém realizou experimentos na poesia, colaborando com o poeta
Blaise Cendrars e o escritor Tristan Tzara. Utilizou a arte
gráfica para experimentar a fusão simbólica entre palavra,
corpo e movimento – seus famosos vestidos-poemas.

Surrealismo · Impulsionados pelas teorias de Sigmund Freud, em


particular as expressadas em seu livro Interpretações dos
sonhos (1899), artistas e literatos reunidos em Paris na
década de 1920 passaram a dar grande importância ao mundo
onírico, à irracionalidade e ao inconsciente. O caráter
antirracionalista do surrealismo coloca-o em posição diame-
tralmente oposta às tendências construtivas e formalistas

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faixaS do cd de áudio

OBRAS SONORAS férico de múltiplas vozes, formando um tecido invisível de


ondas eletromagnéticas perceptível apenas através da escuta.
1 Sergei Tcherepnin · Maize Mantis Disappears [Louva-a-deus
Milho desaparece] · 2010 6 Sarah Washington (Mobile Radio) · Hearing in Tongues –
“Originalmente para cinco canais, essa peça é parte da per- Episode 7 [Audição em línguas – Episódio 7] · 2007
formance que fiz em colaboração com a artista Lucy Dodd. Uma peça sobre a história bíblica de Babel, na qual cada
Além de compor a música para o trabalho, interpretei o papel episódio apresenta uma língua diferente – este em português.
do Louva-a-deus Milho, criatura imaginária que transita com Sarah criou uma composição poética sem entender as palavras.
a plateia por uma sala cheia de som. À medida que o Louva- Produzida originalmente para a Tate Modern, Londres.
-a-deus Milho e plateia se movem, diferentes tons surgem no
aparelho auditivo dos presentes. A composição é ativada por 7 Maryanne Amacher · Dense Boogie I [Boogie denso I] · 1999
uma experiência vívida e flutuante desses tons de ouvido.” Este é um exemplo do que Amacher chamou de música “som de
ouvido”. Se você ouvir no volume certo e entre os dois alto-
2 Meris Angioletti · Chorus [Coro] · 2011 -falantes, ouvirá som saindo deles, mas também experimentará
Coro é uma instalação sonora com vozes de seis cantores ado- o som construído por seu próprio aparelho auditivo. Esses
lescentes, alunos do conservatório em Mântua, Itália. Eles tons não estão no ar, estão em sua cabeça! Não se assuste,
recitam uma ode criada pela artista a partir da sua pesquisa não são perigosos. São conhecidos cientificamente como “tons
de línguas imaginárias e suas origens. O trabalho é proje- de combinação” e Amacher compôs uma coleção de “personagens
tado para o coro que, como na tragédia grega, fornece um sonoros” usando essa técnica em seções de áudio em suas ins-
comentário sobre o que acontece na peça. talações e apresentações. Amacher Archive/Tzadik Records.

3 Icaro Zorbar · Bailarina · 2011 8 Knut Aufermann (Mobile Radio) · Radio Feedback [Feedback de
Sobre a superfície do LP um pedaço de fita faz a agulha vol- rádio] · 2006
tar a seu ponto de partida. Repetidamente. Breve introdução ao uso de transmissores de rádio como ins-
trumentos eletrônicos e o feedback como estética sonora.
4 Helen Mirra e Ernst Karel · Hourly Direction Sound
Recordings, Arizonan Sonoran Desert (stereo excerpt, 4 9 Ricardo Basbaum · Ouvido de corpo, oído de grupo · 2010
January) [Gravações de som em sentido horário, deserto de Conversa coletiva realizada durante residência no evento
Sonora no Arizona (excerto estéreo, 4 de janeiro)] · 2012 ¡Afuera! Arte en Espacios Públicos, Córdoba, Argentina,
Versão estéreo de projeto colaborativo de gravação de uma com colaboração de Carina Cagnolo, Juan Gugger, Guillermina
caminhada e locação no Arizona. O marcador direcional, o Bustos, Huenu Peña, Manuel Molina, Mara Maldonado, Marcela
triângulo, ocorre no início da primeira gravação horária, Bacigalupo, Marina Perren e Victoria Liguori. Gravado e
e depois sete segundos adicionais em cada gravação horá- finalizado em 7 e 8 de outubro de 2010. Estúdio Say no More,
ria subsequente, ou seja em 0′07″, 0′14″, 0′21″ e assim por La Metro, Escuela de Diseño y Comunicación Audiovisual. Téc-
diante. Além disso, o triângulo é tocado por um momento mais nicos de Gravação e Pós-produção: Cecília Zenarruza e Eze-
longo em cada gravação horária subsequente – 1, 2, 3 segun- quiel Marcellini.
dos, e assim por diante. Assim, a primeira gravação do dia
tem o som de triângulo mais breve em seu início, e a última 10 Julio d’Escriván · Tokyo Nocturnal [Noturno de Tóquio] ·
tem o som mais longo próximo ao seu final. O comprimento 2012
total de cada gravação horária de som direcional desse modo Esta é uma “mix-partitura” (mixagem da música escrita, não
é um múltiplo de sete segundos (63), e, com isso, um dia de de uma gravação!) do duo para mezzo soprano e sax soprano de
caminhada (sete gravações) perfaz 7 horas e 21 segundos. Fuminori Tanada e “Dashu no sho” de Ichiro Nodaira. Inter-
pretação de FUSIL: Julio d’Escriván (laptop), Ainhoa Merzero
5 Paulo Vivacqua · Radio Polyphony [Polifonia de rádio] · 2003 (soprano) e Iñigo Ibaibarriaga (sax).
Trabalho realizado em colaboração com Peter Lasch, Fede-
rico Marulanda e Kelvin Park, com Thing.FM e as rádios WKCR 11 David Moreno · Friction 2012 [Fricção 2012] · 2012
(NYC), WFMU (NJ). São quatro canais de áudio transmitidos “Friction 2012 é um trabalho recente remixando algumas de
por estações de rádio (dois FMs e dois internet streaming) minhas fitas análogas de meados dos anos 1990. O material-
que, durante um mês, segundo um calendário, eram tocadas -fonte é uma combinação de gravações de campo, instrumentos
simultaneamente ou em partes. Os quatro canais foram sobre- acústicos de confecção própria e manipulação de fitas magné-
postos e mixados como camadas de um território sonoro atmos- ticas com que eu trabalhava na época.”

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LEITuRAS DE OBRAS para águas rasas) com auxílio de uma grande vara. Essas gra-
vações foram feitas em uma latitude de 52,201333 graus Norte
12 Nascimento/Lovera · Sin Título (Mapa de La Habana) [Sem e longitude de 0,115833 graus Leste, bem próximo do meri-
título (Mapa de Havana)] diano de Greenwich, em 5 de abril de 2012 às 16h08 GMT.
Lida por: Maria da Glória Espírito Santo de Araújo
(copeira), Mario Rodrigues (gerente de RH, Materiais e Manu- 20 Julio d’Escriván · People coming to board the punts, at
tenção), Ricardo Ohtake (diretor do Instituto Tomie Ohtake) the Mill Pond, Cambridge, England (perspective from the pub
e Nino Cais (artista visual). steps) [Pessoas chegando para embarcar nas chalanas, em
Mill Pond, Cambridge, Inglaterra (perspectiva dos degraus do
13 Thomas Sipp · Still from Le jour des frites [Foto de cena de bar)]
Le jour des frites]
Lida por Galciani Neves (pesquisadora e curadora) e Mila 21 Knut Aufermann (Mobile Radio) · The Sound of Yeast at Work
Chiovatto (coordenadora do Núcleo de Ação Educativa da Pina- [O som de fermento em ação] · 2009
coteca do Estado de São Paulo). Este é o som de vinho fermentando em barris na adega viní-
cola de Rudolf e Rite Trossen em Kinheim-Kindel, vale do
14 Simone Forti · Slant Board [Prancha inclinada] Mosel, Alemanha.
Lida por Arlete Persoli (coordenadora do Centro de Convi-
vência Educativa e Cultural de Heliópolis), Hermes de Souza 22 Knut Aufermann (Mobile Radio) · The Sound of Gravity at Work
(gestor da ONG Nova União de Arte e líder comunitário), [O som da gravidade em ação] · 2009
Paulo Miyada (curador) e Rodolfo Viana (diretor superinten- Este é o som de atracadouros flutuantes elevando-se enquanto
dente da Bienal). os barcos a eles amarrados são erguidos em uma eclusa.
Eclusa de Berching, canal do Reno ao Danúbio, Baviera, Ale-
15 Hreinn Fridfinnsson · Sanctuary [Santuário] manha.
Lida por Rita Marinho (gerente administrativo), Ubiratan
D’Ambrosio (matemático e professor universitário) e Cao 23 Leandro Tartaglia e Mariano Ast · Preparación de un mate
Szpigel (estudante). [Preparo de um mate] · 2012
Ouvem-se os sons da cozinha no momento de preparar um mate.
16 Ilene Segalove · Jackson Pollock “Lavender Mist” 1952
[“Lavender Mist”, de Jackson Pollock 1952] 24 Julio de Paula · Asseio · 2004
Lida por Tiago Athayde (pesquisador e pintor) e Pio Santana Os sons da casa e do entorno dela integram nosso HD afetivo.
(técnico de currículo de arte da Secretaria da Educação do Tanto quanto indispensável para o asseio da cidade em pleno
Estado de São Paulo). século 21, a vassoura nos remete a uma paisagem sonora car-
regada de nostalgia e aprisionada num passado remoto. São
AMBIENTES SONOROS Paulo, Perdizes.

17 Helen Mirra e Ernst Karel · Hourly Direction Sound 25 Julio de Paula · Entremeio · 2008
Recordings, Arizonan Sonoran Desert (stereo excerpt, 16 Da entrada do edifício à porta do apartamento, o elevador
January) [Gravações de som em sentido horário, Deserto de desempenha o papel de mediador entre o público e o privado.
Sonora no Arizona (excerto estéreo, 16 de janeiro)] · 2012 Sua paisagem de espelhos está em comunhão com o condômino,
num só espírito de introspecção. São Paulo, Campos Elíseos.
18 Paulo Vivacqua · Aula de balé · 2012
Gravação de aula de balé em um estúdio de dança do Rio de 26 Julio de Paula · Pastoril · 2012
Janeiro. Com colaboração da bailarina Maria Noujaim. Campo, vasto campo. O silêncio envolve a passagem de dois
mil anos na cena em que os pequenos pastores partem em busca
19 Julio d’Escriván · Mooring several punts, at the Mill Pont da ovelha desgarrada. Peru, Vale Sagrado dos Incas.
at Cambridge, England (perspective from the weir) [Atracagem
de várias chalanas, em Mill Pond, Cambridge, Inglaterra 27 Icaro Zorbar · The Rain [A chuva] · 2007
(perspectiva da represa)] Somente relâmpagos e trovões. Somente luz e sombra.
As mais antigas faculdades da Universidade de Cambridge
foram construídas às margens do pequeno rio Cam. Para
navegá-lo, as pessoas usam chalanas (barcos de fundo plano

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créditoS

FUNDAÇÃO BIENAL DE SÃO PAULO Projetos e produção

Fundador: Francisco Matarazzo Sobrinho 1898–1977 (presidente perpétuo) • Produtores: Felipe Isola, Fernanda Engler, Helena Ramos, Janayna Albino,
Joaquim Millan, Marina Scaramuzza, Waleria Dias, Arthur Benedetti
Conselho de Honra: Oscar P. Landmann † (presidente)
(logística de transporte), Grace Bedin (transporte), Viviane Teixeira
• Membros do Conselho de Honra composto de ex-presidentes: Alex (assistente geral), Luisa Colonnese (assistente), Macarena Mora
Periscinoto, Carlos Bratke, Celso Neves †, Edemar Cid Ferreira, Jorge (assistente), Marcos Gorgatti (assistente)
Eduardo Stockler, Jorge Wilheim, Julio Landmann, Luiz Diederichsen
• Cenotécnico: Metro Cenografia | Quindó de Oliveira
Villares, Luiz Fernando Rodrigues Alves †, Maria Rodrigues Alves †,
Manoel Francisco Pires da Costa, Oscar P. Landmann †, Roberto Muylaert • Museologia: Macarena Mora, Graziela Carbonari, Bernadette Ferreira,
Heloísa Biancalana
• Conselho de administração: Alfredo Egydio Setubal (presidente em
exercício) • Montagem de obras: William Zarella

• Membros vitalícios: Adolpho Leirner, Alex Periscinoto, Benedito José • Projeto luminotécnico: Samuel Betts
Soares de Mello Pati, Carlos Bratke, Gilberto Chateaubriand, Hélène
• Projeto audiovisual de obras: Maxi Audio Luz Imagem
Matarazzo, Jorge Wilheim, Julio Landmann, Manoel Ferraz Whitaker
Salles, Miguel Alves Pereira, Pedro Aranha Corrêa do Lago, Pedro • Transporte: Arte3 Log, ArtQuality
Franco Piva, Roberto Duailibi, Roberto Pinto de Souza, Rubens José
Expografia: Metro Arquitetos Associados: Martin Corullon (arquiteto
Mattos Cunha Lima
responsável), Helena Cavalheiro (arquiteta), Felipe Fuchs (arquiteto),
• Membros: Alberto Emmanuel Whitaker, Alfredo Egydio Setubal, Aluizio Bruno Kim (arquiteto), Marina Iioshi (arquiteta), Francisca Lopes
Rebello de Araujo, Álvaro Augusto Vidigal, Andrea Matarazzo, Antonio (estagiária), Rafael de Sousa (estagiário)
Bias Bueno Guillon, Antonio Bonchristiano, Antonio Henrique Cunha
Comunicação
Bueno, Beatriz Pimenta Camargo, Beno Suchodolski, Cacilda Teixeira
da Costa, Carlos Alberto Frederico, Carlos Francisco Bandeira Lins, • Coordenação de comunicação: Felipe Taboada (coordenador), Júlia Frate
Carlos Jereissati Filho, Cesar Giobbi, Claudio Thomas Lobo Sonder, Bolliger (assistente de comunicação), Julia Bolliger Murari (assessora
Decio Tozzi, Elizabeth Machado, Emanoel Alves de Araújo, Evelyn de imprensa)
Ioschpe, Fábio Magalhães, Fernando Greiber, Fersen Lamas Lembranho,
• Coordenação de design: Ana Elisa de Carvalho Price (coordenadora),
Gian Carlo Gasperini, Gustavo Halbreich, Jackson Schneider, Jean-Marc
Felipe Kaizer (designer gráfico), Roman Iar Atamanczuk (assistente de
Robert Nogueira Baptista Etlin, Jens Olesen, Jorge Gerdau Johannpeter,
design), André Noboru Siraiama (estagiário), Douglas Higa (estagiário)
José Olympio da Veiga Pereira, Marcos Arbaitman, Maria Ignez Corrêa
da Costa Barbosa, Marisa Moreira Salles, Nizan Guanaes, Paulo Sérgio • Coordenação editorial: Cristina Fino (coordenadora), Diana Dobránszky
Coutinho Galvão, Pedro Paulo de Sena Madureira, Roberto Muylaert, (editora), Alícia Toffani (assistente editorial)
Rubens Murillo Marques, Susana Leirner Steinbruch, Tito Enrique da
• Coordenação de internet: Victor Bergmann (coordenador)
Silva Neto
• Apoio a coordenação geral: Eduardo Lirani (assistente administrativo)
Conselho fiscal: Carlos Alberto Frederico, Gustavo Halbreich, Pedro Aranha
Corrêa do Lago, Tito Enrique da Silva Neto • Gerenciamento de documentação audiovisual: Rena Lanari

Diretoria executiva • Assessoria de imprensa: A4 Assessoria

Heitor Martins (presidente), Eduardo Vassimon (1º vice-presidente), • Desenvolvimento de website: Conectt
Justo Werlang (2º vice-presidente)
• Desenvolvimento do Jogo Educativo Online: Zira
• Diretores: Jorge Fergie, Luis Terepins, Miguel Chaia, Salo Kibrit
• Registro audiovisual: Mira Filmes (coordenação): Gustavo Rosa de Moura
(diretor geral), Bruno Ferreira (coordenador, fotógrafo e editor),
Francisco Orlandi Neto (fotógrafo e editor), Rafael Nantes (editor),
30ª BIENAL DE SÃO PAULO
Brunno Schiavon (assistente de edição), Joana Brasiliano (designer),
Curadoria: Luis Pérez-Oramas (curador), André Severo (curador associado), Luciana Onishi (produtora executiva), Juliana Donato (produtora), Leo
Tobi Maier (curador associado), Isabela Villanueva (curadora assistente) Eloy (fotógrafo), Nick Graham Smith (trilha sonora)

Curadores convidados: Ariel Jimenez (Roberto Obregón), Helena Tatay (Hans- • Workshop de identidade visual
Peter Feldmann), Susanne Pfeffer (Absalon), Vasco Szinetar (Alfredo
• • Designers convidados: Armand Mevis & Linda Van Deursen, Daniel Trench,
Cortina), Wilson Lazaro (Arthur Bispo do Rosário)
Elaine Ramos, Jair de Souza, Rico Lins
Assessoria curatorial: Andre Magnin (Frédéric Bruly Bouabré, Ambroise
• • Participantes do workshop: Adriano Guarnieri, Cecília Oliveira da
Ngaimoko-Studio 3Z), Beatrix Ruf (Mark Morrisroe), Joaquim Paiva (Alair
Costa, Daniel Frota de Abreu, David Francisco, Débora Falleiros
Gomes), John Rajchman (Fernand Deligny, Xu Bing), Justo Pastor Mellado
Gonzales, Miguel Nobrega, Pedro Moraes, Rafael Antônio Todeschini,
(Ciudad Abierta), Luciana Muniz (Alair Gomes), Micah Silver & Robert The
Renata Graw, Renato Tadeu Belluomini Cardilli, Tatiana Tabak,
(Maryanne Amacher), Pia Simig (Ian Hamilton Finlay), Sandra Alvarez de
William Hebling
Toledo (Fernand Deligny), Teresa Gruber (Mark Morrisroe)
• • Equipe Bienal: Ana Elisa de Carvalho Price, André Stolarski, André
Diretor superintendente: Rodolfo Walder Viana
Noboru Siraiama, Douglas Higa, Felipe Kaizer, Matheus Leston, Roman
Consultor: Emilio Kalil Atamanczuk, Victor Bergmann

Coordenação geral de produção: Dora Silveira Corrêa • • Coordenadora de produção: Rena Lanari

Curadoria Educativo Bienal: Stela Barbieri Educativo Bienal

Coordenação geral de comunicação: André Stolarski Carolina Melo (assistente de curadoria), Guga Queiroga (secretária)

• Supervisão geral: Laura Barboza

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• Relações externas: Helena Kavaliunas (coordenadora), Ana Lua Contatore Veliago Costa, Anne Bergamin Checoli, Beatriz Ricci Aranha, Bianca
(assistente), Juliana Duarte (assistente), Maíra Martinez (assistente) Panigassi Zechinato, Bianca Selofite, Breno Feijó Alva Zunica, Bruna
Amendola Dell Arciprete, Bruna Gomes da Silva, Bruno Brito, Bruno Cesar
• Voluntários: Rosa Maia (coordenadora), Chyntia Rafael da Silva,
Rossarola dos Santos, Camila Sanches Zorlini, Camila Terra Rodrigues,
Daniela Fajer (Arquitetura), Débora Borba, Gaelle Pierson, Giuliana
Carlos Eduardo Gonçalves da Silva, Carolina Brancaglion Pereira, Carolina
Sommantico, Isadora Reis (Arquivo Bienal), Karla Shulz Sganga
Laiza Boccuzzi, Carolina Oliveira Ressurreição, Carolina Tiemi Takiya
(Produção), Lucia Abreu Machado, Marcelle Sartori, Maria Cecília
Teixeira, Caroline de Freitas Flores Ferreira, Caroline Pessoa Micaelia,
Lacerda de Camargo, Maria Fillipa Jorge, Maria Varon (Arquivo Bienal),
Catharine Rodrigues, Clarisse Gomes Valadares, Danielle Sleiman, Daphine
Marina Mesquita, Paola Ribeiro, Paula de Andrade Carvalho, Paulo
Juliana Ferrão, Desiree Helissa Casale, Diego Castro da Silva Cavalcante,
Franco, Tereza Galler, Vera Cerqueira
Diran Carlos de Castro Santos, Edivaldo Peixoto Sobrinho, Elaine Mateus
• Ensino: Carlos Barmak (coordenador), Daniela Azevedo (coordenadora) de Oliveira Rodrigues, Elfi Nitze, Elisabeth Costa Marcolino, Erivaldo
Aparecido Alves Nascimento, Fabio Lopes do Nascimento, Fábio Moreira
• Pesquisa: Marisa Szpigel
Caiana, Felipe Eduardo Narciso Vono, Felipe Magyar Mei, Felipe Teixeira
• Produção de conteúdo e palestras: Denise Adams, Galciani Neves, Guga Rocio, Fernanda Dantas da Costa, Fernanda Xavier de Mendonça, Fernando
Szabzon, Leandro Ferre Caetano, Matias Monteiro, Otávio Zani, Ricardo Augusto Fileno, Filipe Monguilhott Falcone, Flávia Marquesi de Souza,
Miyada, Tiago Lisboa Francisco Ferreira Menezes, Frederico Luca L. e Silva Ravioli, Gabriel
de Aguiar Marcondes Cesar, Gabriele Veron Chagas Ramos, Gerson de
• Comunicação: Daniela Gutfreund (coordenadora), Beatriz Cortés
Oliveira Junior, Giovana Souza Jorqueira, Giuliano Nonato, Glaucia Maria
(documentação/sala de leitura), Denise Adams (fotógrafa), Fernando
Gonçalves Rosa, Guilherme Pacheco Alves de Souza, Inaya Fukai Modler,
Pião (fotógrafo assistente), Sofia Colucci (estagiária), Simone Castro
Isabel Hatsumi Resende Miyamoto, Isabela de Souza Contini, Isabella da
(jornalista), Amauri Moreira (documentação audiovisual)
Silva Finholdt, Isabella Pugliese Chiavassa, Isabelle Daros Pignot,
• Produção: Valéria Prates (coordenadora), Bob Borges (produtor), Elisa Isadora do Val Santana, Isadora Fernandes Mellado, Ísis Arielle Ávila
Matos (produtora), Marcelo Tamassia (produtor), Dayves Augusto Vegini de Souza, Jailson Xavier da Silva, Jaqueline Lamim Lima, Jaqueline
(assistente de produção), Eduardo Santana (produtor), Mauricio Yoneya Machado Gentilin, Jessica Cavalcante Santos, Jéssica Juliana Kim, João
(assistente), Danilo Guimarães (estagiário) Ricardo Claro Frare, Joice Palloma Gomes Magalhães, Jonas Rodrigues
Pimentel, Jorge dos Santos Feitosa, Josinaldo Firmino dos Santos, Juan
• Formação de educadores: Laura Barboza (coordenadora geral)
Manuel Wissocq, Julia Pontes de Souza, Juliana Cristina Takahachi,
• Coordenadores: Elaine Fontana, Pablo Tallavera Juliana Meningue Machado, Juliana Rodrigues Barros, Karen de Marcos
Veiga, Lara Teixeira da Silva, Laura da Silva Monteiro Chagas, Leandro
• Supervisores: Anita Limulja, Carlos Alberto Negrini, Carolina Velasquez,
Eiki Teruya Uehara, Letícia Scrivano, Lígia Magalhães Marinho, Liliane
Debora Rosa, Marcos Felinto, Mayra Oi Saito, Pedro Almeida Farled,
Vieira da Costa Soares, Lívia de Campos Murtinho Felippe, Luana Oliveira
Rodrigo De Leos, Paula Yurie, Talita Paes
de Souza, Lucas Itacarambi, Lucas Ribeiro da Costa Souza dos Santos,
Arquivo Bienal: Adriana Villela (coordenadora), Ana Paula Andrade Marques Luciano Wagner Favaro, Luís Carlos Batista, Luis Henrique Bahu, Luísa
(pesquisadora), Fernanda Curi (pesquisadora), Giselle Rocha (técnica em De Brino Mantoani, Luisa de Oliveira Silva, Luiz Fernando Misao Costa,
conservação), José Leite de A. Silva (Seu Dedé) (auxiliar administrativo) Luiza Americano Grillo, Luiza Maria Fernandes da Silva Oliveira, Maíra
de Cássia Cerminaro Sciuto, Mara Cristina Silva Moreira, Marcela Dantas
Assessoria jurídica: Marcello Ferreira Netto
Camargo, Márcia Gonzaga de Jesus Freire, Marcos Paulo Gomide Abe, Maria
Finanças e controladoria: Fabio Moriondo (gerente), Amarildo Firmino Gomes Augusta Bortolasi de Souza Aranha, Marian Macedo de Macedo, Mariana
(contador), Bolivar Lemos Santos (estagiário), Fábio Kato (auxiliar Ferreira Ambrosio, Mariana Peron, Mariana Teixeira Elias, Marília Alves
financeiro), Lisânia Praxedes dos Santos (assistente de folha de de Carvalho, Marília Persoli Nogueira, Marilia Rodrigues Pozzibon, Marina
pagamento), Thatiane Pinheiro Ribeiro (assistente financeiro) Laraia Alegre, Marina Ribeiro Arruda, Mayara Longo Vivian, Maysa Martins,
Mona Lícia Santana Perlingeiro, Natalia da Silva Martins, Natalia
Marketing e Captação de Recursos: Marta Delpoio (coordenadora), Bruna
Ghacham Fernandes, Natalia Marquezini Tega, Nathalia de Paula Pinto,
Azevedo (assistente), Gláucia Ribeiro (assistente), Raquel Silva
Nayara Datovo Prado, Paula Carolina de Andrade Carvalho, Paula Uehara
(assistente administrativa)
Kalili, Paulo Victor F. de B. M. Delgado, Pedro Gabriel Amaral Costa,
Recursos Humanos e Manutenção: Mário Rodrigues (gerente), Geovani Benites Pedro Henrique Moreira, Priscila Nascimento Pires, Pyero Fiel Ayres da
(auxiliar administrativo), Rodrigo Martins (assistente de recursos Silva, Rachel Pacheco Vasconcellos, Rafael de Souza Silva, Rafael Ribeiro
humanos), Manoel Lindolfo Batista (engenheiro eletricista), Valdemiro Lucio, Rafaela Priolli de Oliveira, Rai de Miranda Pinto, Raphaela Bez
Rodrigues da Silva (coordenador de compras e almoxarifado), Vinícius Chleba Melsohn, Raquel Soares de Oliveira, Raul Leitão Zampaulo, Raul
Robson da Silva Araújo (comprador sênior), Wagner Pereira de Andrade Narevicius dos Santos, Renan Pessanha Daniel, Renan Torquato Godinho,
(zelador) Renata Gonçalves Bernardes, Ricardo Henrique Marques da Silva, Ricardo
Vasques Gaspar, Richard Melo, Rômulo dos Santos Paulino, Roseana Carolina
Secretaria Geral: Maria Rita Marinho (gerente), Angélica de Oliveira Divino
Ayres Lourenço, Samantha Kadota Oda, Sandra Costa Ferreira, Sarah de
(auxiliar administrativa), M. da Glória do E.S. de Araújo (copeira),
Castro Ribeiro, Silvana dos Santos Medeiros, Simone Dominici, Sofia do
Josefa Gomes (auxiliar de Copa)
Amaral Osório, Stella Abreu Miranda de Souza, Suzana Panizza Souza,
Tecnologia da Informação: Marcos Machuca (assessor especial), Leandro Suzana Sanches Cardoso, Taize Alves Santana, Talita Rocha da Silva,
Takegami (coordenador), Jefferson Pedro (assistente de TI) Thais Regina Modesto, Thamires Gaspar, Victoria Pékny, Viviane Cristina
da Silva, Viviane Cristina Tabach, Willian Andrade, Wilson de Lemos V.
Relações institucionais: Flávia Abbud (coordenadora), Mônica Shiroma de
Cabral, Yolanda Christine Oliveira Fernandes, Yudi Rafael Lemes Koike,
Carvalho (analista)
Yukie Martins Matuzawa
Educadores em formação (Primeira fase): Adriana Amossi Dolci Leme Palma,
Adriano Vilela Mafra, Aline de Cássia Silva Escobar Aparício, Aline
Marli de Sousa Moraes, Amanda Capaccioli Salomão, Aminah Barbara Martins
Hamid Haman, Ana Carolina Cabral Motta, Ana Carolina Druwe Ribeiro,
Ana Flavia Baldiviezo Cáceres, Ana Paula Lopes de Assis, André Benazzi
Piranda, André Rabelo Simões, Andrea Lins Barsi, Anike Laurita de Souza,
Anna Carolina Ferreira Lima, Anna Livia Marques de Souza, Anna Luísa

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Caderno do Professor
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Trigésima Bienal
Material Educativo

PUBLICAÇÃO Agradecemos a Alexandre Xavier, Alvaro Alves Filho, Amanda Tojal, Américo
Martins, Ana Claudia Leite, Ana Mae Barbosa, Anny Christina Lima, Arlete
Concepção: Luis Pérez-Oramas, Stela Barbieri, André Severo, Tobi Maier,
Persoli, Cao Szpigel, Carlos Eduardo Povinha, Celio Jorge Deffendi, Claudia
Isabela Villanueva, Comunicação Bienal, Educativo Bienal
Rosenberg Aratangy, Cleide do Amaral Terzi, Clélia Pastorello, Danilo
Supervisão geral: Stela Barbieri Miranda, Derdic, Devanil A.Tozzi, Diego Scalada, DuPont, Elaine Cristina
Sena, Felipe Ribeiro, Fernanda Beraldi, Fernando Carvalho, Flávia Andréa
Coordenação geral: Daniela Gutfreund
Carvalho, Galciani Neves, Guilherme Teixeira, Herman Jacobus Cornelis
Concepção, coordenação e realização (CD de áudio): Matheus Leston Voorwald, Hermes de Souza, José Minerini Neto, Juliana Braga, Julio Jose
Agostinho, Lilian Graziele, Maria Brant, Maria da Glória Espírito Santo
Coordenação editorial: Editorial Bienal
de Araujo (Dona Glorinha), Maria de Lourdes Freire Maia, Maria José Dias
Pesquisa e redação: Daniela Gutfreund, Fernanda Albuquerque, Galciani Neves, Castaldi, Mario Rodrigues, Martin Grossmann, Maurício Yoneya, Mauro Lucas,
Lígia Nobre, Marisa Szpigel, Matheus Leston, Tiago Lisboa Mila Chiovatto, Nilva Luz, Nino Cais, Patricia Durães, Paulo Miyada, Pio
Santana, Rede TV, Regina Ponte, Rejane Coutinho, Renata Bittencourt, Ricardo
Glossário: Ricardo Miyada, Stella Miranda
Ohtake, Rita Marinho, Rodolfo Viana, Rodrigo de Faria e Silva, Rosangela
Revisão: Editorial Bienal, Bruno Tenan Amato, Roseli Ventrella, Ruy Ohtake, Salete dos Anjos, Sandro Cano, Tadeu
Chiarelli, Tiago Lisboa, Ubiratan D’Ambrosio, Vera Cabral, Viviane Sarraf,
Tradução: Cid Knipel Moreira, Gênese Andrade da Silva
Wagner Santos e Walter Vicioni.
Design gráfico: Design Bienal
Instituições parceiras: Ana Pato (Associação Cultural Videobrasil), André
Pré-impressão: Pancrom Douek (Museu da Cidade de São Paulo), Andrea Amaral (MAC-SP), Angela Fontana
(Escola Vera Cruz), Arthur Amador (Museu da Imagem e do Som), Claudinei
Impressão: Pancrom e Alliança Gráfica
Roberto (Museu Afro Brasil), Claudio Cretti (Centro Cultural São Paulo),
Cristiane Alves (Museu da Casa Brasileira), Daina Leyton (MAM-SP), Debora
Buonano (Museu Belas Artes de São Paulo), Débora Vaz (Colégio Castanheiras),
Todos os direitos reservados à Fundação Bienal de São Paulo.
Denise Pollini (FAAP), Elaine Fontana (Museu Lasar Segall), Elisabeth
Os textos, imagens e conteúdo de áudio constantes deste material são Scatolin (Escola Vera Cruz), Eneida Fausto (MuBE), Evandro Nicolau (MAC-SP),
protegidos por leis de direitos autorais e não podem ser reproduzidos sem Felipe Paros (Centro da Cultura Judaica), Giuliano Tierno (Centro Cultural
autorização de seus autores ou representantes legais. São Paulo), Hermes de Sousa (Nova União da Arte), Iara Christo Lopes
(Instituto Unibanco), Inês Raphaelian (Museu da Cidade de São Paulo), Jânio
de Oliveira (Fundação Julita), Lalada Dalglish (Unesp), Luciana Chen (Centro
Cultural Banco do Brasil), Lucília Guerra (ETEC de Artes), Marcelo Monzani
(Museu Lasar Segall), Maria Christina Marx (MASP), Mariana Serri (Instituto
Tomie Ohtake), Marlene Hirata Uchima (EE Prof. Moacyr Campos), Mila
Chiovatto (Pinacoteca do Estado de São Paulo), Mirca Bonano (Instituto Arte
na Escola), Nilva Manosso (FDE), Oiram Bichaff (Colégio Guilherme Dumont
Villares), Patricia Marquesoni Quilici (Centro Cultural Banco do Brasil),
Paulo Portella Filho (MASP), Pedro Molina (Centro Cultural da Espanha),
Priscila Arantes (Paço das Artes), Regina Ponte (Museu da Cidade de São
Paulo), Roberto Bertani (Instituto de Arte Contemporânea), Roseli Martins
Evangelista (Instituto Moreira Salles), Sidnei da Silva (Memorial da América
Latina), Silvia Naccache (Centro de Voluntariado), Tatiana Fecchio da Cunha
Gonçalves (Colégio Castanheiras), Thelma Löbel (Museu da Casa Brasileira),
Valeria Dias Barzaghi Toloi (Itaú Cultural), Valquiria Prates (Associação
Cultural Videobrasil) e William Keri (Museu Belas Artes de São Paulo).

Este material foi produzido em papel Triplex 375g/m², papel Supremo


DuoDesign 250 g/m², papel Off-set Alta Alvura 120g/m², papel Couchê
Adesivo Fosco 90g/m² e Tyvek® 1073 75g/m² fabricado pela DuPont. As fontes
utilizadas pertencem à família tipográfica Constelar Mono (criada para o
projeto de identidade visual da Trigésima Bienal de São Paulo).

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