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e-mail : cristianofarias@ufg.br ( C. F. Almeida )
Doutor em Planejamento de Transporte, Professor do Programa de Pós-Graduação Projeto e Cidade (PPG Projeto e Cidade),
Universidade Federal de Goiás (UFG).
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e-mail : yaeko@unb.br ( Y. Yamashita )
Doutora em Planejamento de Transporte, Professora da Faculdade de Tecnologia (FT), Universidade de Brasília (UnB).
2.1.1. Perroux e as regiões econômicas 2.1.2 Teoria dos pólos de crescimento e pólos de
desenvolvimento
Sobre o aspecto econômico, François
Perroux (1964) admite que o espaço possa ser Perroux elaborou a Teoria dos Pólos de
encarado sob três óticas: (i) o espaço econômico Crescimento e de Desenvolvimento baseado em
como conteúdo de um plano; (ii) o espaço observações, na qual o crescimento econômico
econômico como um campo de forças; (iii) o não se faz de forma difusa por todo o espaço, mas
espaço econômico como um conjunto se manifesta em certos pontos chamados de pólos
homogêneo. Como consequências surgem, então, de crescimento com intensidades variáveis, daí se
três tipos de regiões econômicas: a região plana, a propagando por diversos canais com efeitos
região polarizada e a região homogênea (HADDAD terminais distintos (ANDRADE, 1987).
et al., 1972; CLEMENTE e HIGACHI, 2000). O pólo de crescimento ocorre devido ao
O conceito de espaço como conteúdo de surgimento de uma indústria motriz, sendo esta a
um plano dá origem a região de planejamento. indústria que realiza a separação dos fatores da
Assim, um órgão público ou qualquer outro agente produção, provoca a concentração de capitais sob
econômico possui sua região de planejamento que um mesmo poder e decompõe as tarefas. A
influencia suas decisões e é afetada por estas. Os indústria motriz tem um crescimento mais elevado
planos de desenvolvimento regional são exemplos do seu produto que o crescimento médio do
típicos de delimitação de região de planejamento produto nacional. Esse crescimento não é
pelo setor público (CLEMENTE e HIGACHI, 2000). permanente, mas se faz sentir por certo período
A região polarizada resulta da interdependência de tempo (PERROUX, 1964).
existente entre várias áreas, as vezes, A indústria motriz, em sua ação de ponto
pertencentes a regiões homogêneas diversas, de atração para a mão-de-obra e produtora de
devido a influência comercial das aglomerações uma série de produtos, dinamiza a vida regional,
urbanas (COMBES et al., 2005). atraindo outras indústrias e criando a aglomeração
A região homogênea corresponde ao espaço populacional que estimulará o desenvolvimento
contínuo em que cada uma das partes que o das atividades agrícolas nas áreas fornecedoras de
constituem apresenta características que a alimentos e de matérias-primas, além de
aproximam uma das outras (BOUDEVILLE, 1961; desenvolver a formação de atividades terciárias
CLEMENTE e HIGACHI, 2000). (Ferreira, 2012). Surge, o que Perroux chama de
O poder de atração que uma cidade exerce em complexo industrial, caracterizado pela presença
torno da área que a cerca, resultado das relações de uma indústria-chave. Dentre as indústrias do
que realiza com as áreas ou outras cidades, complexo, é considerada indústria-chave aquela
provoca a formação de áreas de influência e de que proporciona crescimento superior das vendas
regiões polarizadas. A economia, por meio do de outros produtos em relação ao próprio
comércio, é a atividade regionalizante e, em crescimento de suas vendas. As indústrias-chave
função dela, se estende o raio de ação das cidades. são quase sempre aquelas que produzem
Por esse motivo, se ampliam ao seu redor as vias matérias-primas, energia, transporte (ANDRADE,
de transportes pelas quais aumenta a sua força de 1987).
atração (SANTOS, 1953). Embora Perroux tenha desenvolvido sua
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teoria em função da indústria, decorrente do fato problemas existentes no campo do transporte, a
da economia moderna liderada pela atividade saber: capacidade de via, rota de caminho mínimo,
industrial e de realizar seus estudos em países estudo de mobilidade, entre outros (ALMEIDA et
industrializados, ele estende a função motriz às al., 2003).
atividades primárias, tais como exploração mineral A representação de um dado sistema de
e produção agrícola. transportes sob o enfoque da teoria dos grafos é
Em resumo, pode-se dizer que, para associada ao conceito usual atribuído as redes.
Perroux, o pólo é o centro econômico dinâmico de Nesse caso, uma rede de transporte é constituída
uma região, de um país ou de um continente, e por nós e arcos onde os nós são considerados
que o seu crescimento se faz sentir sobre a região importantes pontos no espaço e os arcos são
que o cerca, pois este cria fluxos da região para o ligações físicas entre tais pontos.
centro e refluxos do centro para a região. O
desenvolvimento regional estará sempre ligado ao 2.2.2. Custos em redes de transporte
desenvolvimento do seu pólo. Grande parte das análises em transporte
refere-se ao custo generalizado. Esse é o custo de
2.2 REDE DE TRANSPORTE
uma viagem tal como percebido pelo usuário da
A história de desenvolvimento das redes rede, e é uma medida composta de todos os
surgiu pela necessidade de distribuição de alguns fatores que são relevantes a tomada de decisão.
serviços: saneamento, energia elétrica, transporte. Os mais significantes componentes são os custos
Tais redes tinham formatos reticulares e foram diretos, como taxas, combustível, etc., e as
classificadas como redes técnicas urbanas, pois despesas que são função da qualidade do serviço.
eram responsáveis apenas pela distribuição desses Ao se trabalhar, apenas com os custos diretos de
serviços em ambientes urbanos onde existia maior transporte, serão determinados níveis de
concentração populacional, sendo analisadas por referência em termos de preços de fretes para a
meio de fluxos materiais (DUPUY, 1998). determinação de rotas, cada rota constituída por
Com o incremento populacional e arcos. Assim, é possível avaliar diferentes rotas e
consequente aumento da demanda por esses identificar qual oferece menor custo (BELL e IIDA,
serviços, houve a necessidade de se estender as 1997).
análises para um campo mais amplo, surgindo o
conceito moderno de rede. Sob tal ponto de vista, 2.2.2.1. Custos de transporte em um arco
assume-se uma rede de transporte como uma Na representação de rede de transportes,
estrutura física constituída por elementos de um uma forma de associar custo aos arcos pode ser
sistema de transporte e por elementos abstratos em termos de deslocamento ou restrição de
como desejos, ações e relações existentes entre a capacidade e operação, especialmente a restrição
infraestrutura de transporte e o meio ambiente. associada a técnicas disponíveis e condições do
O grau do relacionamento entre tais elementos sistema viário, as quais são representadas pelos
definirá a intensidade das alterações espaciais que arcos. A notação do custo de arco é, em geral, uma
ocorrerão no meio onde se localiza a rede. função do fluxo do arco (POTTS e OLIVER, 1972). O
fluxo considerado nesse estudo refere-se ao
2.2.1. Teoria dos grafos no estudo de redes de
transporte de carga, onde o custo operacional de
transporte
transporte de carga é usado como custo a ser
Os termos da teoria dos grafos usados no analisado no deslocamento de veículos pelos
transporte podem ser relacionados com objetos arcos. Considerando o modelo usado pela maioria
geográficos reais onde os nós e arcos representam dos operadores de transporte de carga no Brasil, o
características específicas desses objetos. A teoria custo de transporte no arco é definido
dos grafos destaca-se pelo auxílio a solução de matematicamente pela Equação (1).
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ETAPA 7: DETERMINAÇÃO DAS REDES DE Foi definida uma rota de custo mínimo para
TRANSPORTE MULTIMODAL DE CARGA cada PC. Todos os arcos da rede de transporte
básica foram considerados na determinação
Esta etapa é fundamentada na Teoria dos
dos caminhos mínimos;
Grafos. Algumas atividades foram realizadas para a
No caso dos nós que representam os PC
determinação das três redes de transporte
referentes à indústria motriz de produção de
multimodal de carga, a saber: definição de
mandioca, consideraram-se as capitais
pressupostos para o desenvolvimento da rede de
estaduais como destinos na análise de custo de
transporte multimodal de carga; determinação dos
transporte. Pois a maior parte da produção de
custos de transporte; associação de custos de
mandioca é consumida na própria região, e
transporte à rede básica – alimentação do banco
como a população da região se concentra nas
de dados; composição de cenários; e a
capitais, supõe-se que as capitais podem
representação das redes de transporte.
representar os destinos de viagens geradas por
Sub-etapa 7.1: definição de pressupostos para o tais nós centróides;
desenvolvimento da rede de transporte Os portos marítimos da região de estudo, por
multimodal de carga desempenhar a função de porto de exportação
de produtos, foram considerados os nós
Os pressupostos definidos para o
destinos das viagens geradas pelos nós
desenvolvimento das redes foram:
centróides que representam os PC;
Foram criados três cenários que representem
Nas análises de custos para a determinação dos
situações distintas (statu quo, investimentos
caminhos mínimos são considerados os custos
em infraestrutura de transportes, e estratégica)
operacionais nos arcos e nos nós (transbordo);
e que são fundamentais para a concepção das
Foram definidos veículos de carga a serem
três redes;
considerados no cálculo do custo operacional
A rede considerada é representada por um
de transporte. Além disso, algumas
grafo direto;
características dos veículos foram identificadas,
As viagens tem origem nos nós centróides;
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a saber: itens que constituem os custos fixos Onde:
(cfv) e variáveis (cvv) dos veículos; capacidade cnj = custo de transporte no nó nj;
de carga (P); velocidade média (Vm); e o Tij = tarifa portuária de utilização da infra-estrutura
comprimento (Di) da via; hidroviária (R$/ton);
T2j = tarifa portuária de utilização da infra-
Sub-etapa 7.2: determinação dos custos de transporte estrutura terrestre (R$/ton);
A determinação dos custos de transporte é Opj = serviços de movimentação de carga (R$/ton).
importante para a identificação de caminhos mínimos,
os quais permitiram a determinação das rotas que
constituem as redes de transporte. Para isso, foram Quanto ao valor correspondente aos
considerados dois tipos de custos, os custos serviços de movimentação de carga (Op), também
operacionais de transporte nos arcos e os custos de conhecido como manuseio, adotou-se o valor de
transbordo (Equação 6).
3,00 R$/ton para todos os portos e produtos
I J considerados na análise, isso se justifica por dois
C ' rota coa i cn j Eq. [6] motivos. Primeiro diz respeito à dificuldade em
i 1 j 1
obtenção de dados de manuseio de cargas em
Onde:
cada porto e para cada produto, pois geralmente
C ' rota = custo direto de transporte da rota de uma
origem a um destino; no Brasil, este serviço é executado por operadores
coai = custo operacional de transporte no arco ai privados, os quais não disponibilizam tais valores.
por tonelada (R$/ton); Segundo, com a dificuldade em se obter tais
cnj = custo operacional de transporte no nó n j por dados, optou-se por usar a média dos valores de
manuseio disponibilizado pelo Relatório Técnico
tonelada (R$/ton).
da Antaq (2006), considerando todos os produtos
Para o calculo do custo operacional de movimentados nos portos e terminais hidroviários
transporte nos arcos, utilizou-se a Equação (5). da Região Amazônica. No caso de transbordo em
Como a rede básica é constituída por arcos que um terminal que não seja hidroviário ou porto, o
representam rodovias, rios e ferrovias, para cada custo de transbordo corresponde a parcela
modo de transporte foi definido um veículo e para referente ao manuseio de carga (Op).
cada tipo de veículo foram coletados os valores
correspondentes aos custos fixos e variáveis. Estes Sub-etapa 7.3: associação de custos de transporte
valores foram coletados em empresas a rede básica – alimentação do banco de dados
transportadoras que operam na Região
Os custos operacionais de transporte
Amazônica.
foram determinados para os arcos e nós. No caso
Além dos custos operacionais de
do custo operacional no arco (coai), este foi
transporte nos arcos, outro custo foi determinado
determinado em função da extensão da via ou
para a análise de caminho mínimo, o custo de
distância do arco (Di). Assim, tanto as expressões
transbordo. O custo de transbordo é admitido
determinadas para os modos de transporte quanto
como o custo de transferência de cargas entre os
os valores calculados para cada porto foram
diferentes modos de transportes. O custo de
usados para alimentar o banco de dados,
transbordo foi determinado usando a Equação (7).
associando-os por meio de um software de SIG.
Apesar de existir uma série de tarifas cobradas nos
portos, optou-se por usar as tarifas referentes a Sub-etapa 7.4: composição de cenários
utilização da infraestrutura hidroviária (T1) e
Nesse estudo, três cenários foram
utilização da infraestrutura terrestre (T2), pois
foram as únicas tarifas encontradas para os portos criados e consequentemente três redes de
transporte multimodal de cargas foram
em análise.
elaboradas. O principal aspecto que diferenciou os
cn j T1 j T2 j Op j Eq. [7] três cenários diz respeito as modificações na
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infraestrutura de transportes da região e que O/D para os três cenários, obtendo-se um
resultou em modificações espaciais das estruturas conjunto de rotas que ao final constituíram as
das redes, a saber: estruturas de três redes de transporte. A
Cenário 1 - statu quo: considerou-se a situação determinação das rotas foi executada usando os
atual da infraestrutura de transportes valores dos custos operacionais calculados na
existente. Este cenário possibilitou ter uma sub-etapa 7.2 e um software de SIG que possui
visão real da situação atual da Região em sua base ferramental o algoritmo de Dijkstra
Amazônica quanto aos deslocamentos dos para a determinação de caminhos mínimos.
principais produtos por meio da infraestrutura
de transporte existente; Sub-etapa 7.4: representação das redes de
Cenário 2 - investimentos em infraestrutura de transporte multimodal de carga
transportes: foram admitidas alterações na Nessa sub-etapa foram determinadas
infraestrutura de transportes da região três redes de transporte (statu quo, PAC, e
considerando o Plano de Aceleração do estratégico). Cada rede foi composta pelas rotas
Crescimento (PAC) elaborado pelo governo de custo mínimo, as quais foram identificadas para
brasileiro que previu investimentos em cada pólo de crescimento, representado por um
infraestruturas voltados para todos os modos nó centróide. Para cada origem (PC) foram
de transporte; considerados mais de um destino (porto)
Cenário 3 - estratégico: considera tanto os diferente, consequentemente obtiveram-se rotas
investimentos do PAC quanto a suposição de distintas e custo operacionais diferentes para tais
total navegabilidade dos rios Araguaia e rotas. Ao final, foram identificadas as rotas que
Tocantins, permitindo a conexão da Região constituem cada rede, as quais são aquelas que
Amazônica com a região central do Brasil. possuem os menores custos operacionais de
Considerando a rede básica elaborada na transporte. As redes determinadas para os
Etapa 6, foram determinadas rotas de custos cenários 1, 2 e 3 estão representadas pelas Figuras
operacionais de transporte mínimos entre os pares 8, 9 e 10 respectivamente.