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Introdução……………………………………………………………………………………………………………………2
Estudo: à procura de uma definição, Origens……………………………………………………………….3
O Estudo em Czerny……………………………………………………………………………………………………..4
O Estudo em Chopin……………………………………………………………………………………………………..5
O Estudo em Liszt…………………………………………………………………………………………………………10
O Estudo em Schumann……………………………………………………………………………………………….12
O Estudo em Rachmaninoff…………………………………………………………………………………………..13
O Estudo em Scriabin……………………………………………………………………………………………………15
O Estudo em Debussy…………………………………………………………………………………………………..16
O Estudo em Ligeti……………………………………………………………………………………………………….17
Conclusão…………………………………………………………………………………………………………………….18
Referências Bibliográficas…………………………………………………………………………………………… 19
1
Introdução
2
Estudo: à procura de uma definição; Origens
Estudo, traduzido do termo francês étude, pode ser definido como uma pequena peça
intrumental direcionada para a prática de uma determinada vertente técnica, com o intuito de
a abordar segundo um prisma que seja igualmente consistente do ponto de vista musical,
aproximando-se do prelúdio no que diz respeito ao estudo enquanto exercício composicional1.
Contrariamente ao exercício, exige-se não só da vertente técnica como da sensibilidade
interpretativa.
Sendo somente estabelecido em 1799, onde se menciona pela primeira vez a o termo estudo
enquanto género, figurando em Etude de Clavecin ou Choix de passages difficiles doigtés, tirés
des auters les plus célébres (Estudo de cravo ou escolha de passagens de dedilhação difícil,
tirados dos autores mais famosos), designava-se inicialmente de estudo tanto obras individuais
como coletâneas, mas também figurava em subtítulos de outras obras.2
Verifica-se, contudo, uma ambiguidade em termos da distinção deste género e de outros,
como o exercício, que os dicionários e as enciclopédias da época não clarificaram. De acordo
com Thomas Busby, o estudo é ‘’(…) um termo aplicado pelos mestres modernos (…) a (…)
exercícios (…)’’, definindo exercício como ‘’(…) qualquer composição direcionada a melhorar a
voz, os dedos do jovem praticante (…)’’3. Também J.F.Danneley, em Uma Enciclopédia ou
Dicionário da Música, e Castil-Blaze, em Dicionnaire de Musique Moderne, não expõem de forma
clara esta diferença, estabelecendo-os quase como designações para um mesmo termo, sendo
que Castil-Blaze afirma que o estudo se distingue por ser puramente instrumental (e não vocal).4
J.E.Häuser define estudo como ‘’(…) peças de prática (…) especificamente, aquelas que visam
uma aprendizagem adequada da dedilhação, melismas e ornamentações, etc.’’ e exercício como
‘’ (…) peças de prática através das quais se pode alcançar um maior nível de destreza e de
execução’’5. Gustav Schilling simplificou a problemática desta diferenciação, escrevendo
mesmo ‘’Exercício, o mesmo que Estudo’’, sendo ‘’somente peças preparatórias para melhorias
técnicas que, de certa forma, são uma tabela de pronunciação da linguagem da arte musical
pura’’6.
Face a estas divergências na terminologia, Karl Borromäus von Miltitz escreveu, no ano de
1841, o artigo Exercice und Etude (Exercício e estudo), no qual escreve: ‘’Exercícios para os dedos
sem espírito são verdadeiros exercícios, exercícios para os dedos feitos com inspiração são
Estudos’’. Os estudos de Cramer são considerados por von Miltitz como um modelo para este
género, chegando mesmo a afirmar que a publicação de exercícios desinspirados era inútil, visto
que cabia a cada professor, no contexto de cada aluno, inventar exercícios que se adequassem
ao problema em questão. Von Militz referiu as drásticas mudanças ocorridas na conceção do
exercício entre os anos de 1800 e 1840, pois, com Cramer, dizia respeito a uma peça individual
e identitária, sendo que, por volta de 1840, se tinha degenerado numa ‘’broca de dedos’’ sem
imaginação que se materializava numa sucessão de padrões. Alude-se também, neste trabalho,
ao facto de o estudo já não significar uma obra total, mas sim peças individuais.7
O estudo deixou igualmente marcas noutros géneros pianísticos, nomeadamente as Variações,
as quais se desenvolvem a partir de um tema que é apresentado de forma exaustiva, a Tocatta,
que explora até ao limite os problemas do piano no que diz respeito ao toque, como acordes e
saltos, e o Prelúdio, que se aproxima do Estudo pela sua natureza tendencialmente
monotemática.
3
O Estudo em Czerny
Carl Czerny (1791-1857) foi um professor cuja obra assume uma carga essencialmente
pedagógica. Mesmo tendo composto missas, aberturas e concertos, dedicou-se
maioritariamante ao Estudo.
Sendo praticamente exercícios para os dedos, os seus Estudos direcionam-se tendencialmente
para uma probemática técnica relacionada com arpeggios, escalas, stacatto, etc.. São peças de
curta duração cujo desenrolar do discurso se dá por pequenos motivos que se sucedem por
repetição e que aparecem dispostos segundo sequências ascendentes e descendentes, como
surge exemplificado abaixo.8
4
O Estudo em Chopin
Só com os Estudos compostos por Fryderik Chopin (1810-1849) é que este género se
estabeleceu como uma obra de arte complexa em termos do material musical, conjugando de
forma integrada e equilibada esta sofisticação com a componente técnica9. Abordam aspetos
técnicos específicos, como oitavas, terceiras e a velocidade da mão esquerda, numa linguagem
e estruturação harmónica inovadora, implicando uma condução melódica complexa e
integrando estrutuas rítmicas irregulares, aspetos estes que os diferenciaram dos produzidos
até então. Configuram igualmente incentivos à evolução de mecanismos do piano, de modo a
permitir novos timbres e movimentos digitais mais rápidos.10
Chopin escreveu três Opus de estudos: Doze Grandes Estudos, Op.10 (1828), Doze Novos
Estudos para Pianoforte, Op.25 (1833), e os 3 Novos Estudos, compostos para o método de
Moschelles. Chopin introduz a ideia de estudo não só como peça benéfica para a técnica, como
também uma maneira de ultrapassar as pecularidades de um determinado estilo composicional,
isto é, uma obra numa certa tonalidade de índole introdutória para outras obras do mesmo
compositor11.
As inovações imprimidas na vertente da harmonia no Estudo por Chopin passam
fundamentalmente pelo uso de sonoridades inesperadas, concebidas através de cadências
retardadas, modulações para tonalidades distantes e do recurso a dissonâncias não preparadas
nem resolvidas. Em termos das inovações no domínio técnico, destacam-se o uso de terceiras e
sextas consecutivas, o alargamento da mão por arpeggios e acordes quebrados, o uso de temas
que abrangem, por vezes, três e quatro oitavas, destacando-se também a variação de caráter
improvisativo dos temas apresentados.12
Apresentam-se em seguida alguns excertos de estudos com vista a iustrar algumas destas
inovações.
O estudo apresentado a cima, o n.º 3 do Op. 10, apelidado ‘’Tristesse’’ , é uma obra de caráter
polifónico, apresentando uma linha melódica em legatto. Foca-se primordialmente na condução
da linha melódica numa textura polifónica densa (de quatro vozes), trabalhando a capacidade
de fraseado, principalmente dos terceiro, quarto e quinto dedos da mão direita. Este estudo
implica igualmente uma notável capacidade de controle dos estratos intermédios, cuja
intensidade deve estar abaixo da linha melódica mais aguda.
5
Figura 4: Estudo Op.10 n.ª3, compassos 46-50
Este excerto do mesmo estudo, que ilustra uma sucessão de sextas/sétimas diminutas numa
intensidade de forte, é demonstrativo da riqueza de acontecimentos musicais que é
paradigmática dos Estudos de Chopin, devido ao contraste com a simplicidade e sublimidade da
linha melódica inicial, como também revela , por extensão, um sentido de sonoridade
inesperada que é reiterado pelas sonoridades diminutas, que transformam sequencialmente a
tonalidade segundo uma lógica cromática.
Segue-se outro exemplo:
O nono e o décimo compasso, por sua vez, evidenciam o recuso à variação do tema
apresentado na mão esquerda, o qual, por sua vez, já incorpora mudanças rítmicas face ao tema
6
apresentado inicialmente. Realça-se igualmente a irregularidade rítmica do tema da mão direita
face à métrica da célula da sextina e relativamente à do próprio compasso. Contudo, a
problemática neste segmento centra-se na passagem do polegar na ligação entre registos, a qual
é abordada com sensibilidade composicional, como é possível inferir através da riqueza
polifónica enunciada.
Os estudos de Chopin podem ser classificados (de acordo com a dimensão musical que
abordam)13 em:
Estudos para a extensão da mão e posições fixas: Estudos que abordam a flexibilidade e o
relaxamento dos pulsos e, no caso do Estudo Op.10 n.º4, centra o desenvolvimento harmónico
numa sucessão de posições fixas formada pelos dedos 1, 2, 3 e 4 de cada mão. Destacam-se os
Estudos Op.10 nº4, Op.10 n.º9, Op.10 n.º11, Op.25 n.º3, Op.25 n.º9.
7
Figura 10: Estudo Op.25 n.º3
Estudos para o fraseado: Estudos que se focam no desenvolvimento do controlo da mão com
vista a delinear claramente uma linha melódica, mais especificamente o movimento dos
polegares, contrariando a tendência de articular com uma intensidade excessiva (Op.10 n.º10),
saltos da mão (Op.25 n.º 4) e appogeuturas (Op.25 n.º5).
Estudos para as notas dobradas: Estudos que visam fundamentalmente alcançar a naturalidade
de movimentos perpétuos marcadamente ritmados, procurando uma execução fluída que
transcenda as subdivisões definidas (Op.10 n.º2) à qual se alia a dimensão da sincronização
(Op.25 n.º6), sempre com uma base de legatto bastante consistente. Fazem igualmente parte
deste grupo o Op.10 n.º7, o Op.25 n.º8 e o Op.25 n.º 10.
8
Figura 13: Estudo Op.25 n.6
Estudos de arpeggios: Estudos que se debruçam sobre divisões de arpeggios com o objetivo a
obter um caráter de ligeireza no discurso (Op.10 n.º5) e de salientar uma voz (Op.10 n.º11).
9
O Estudo em Liszt
10
Figura 18: Estudo La Campanella
11
O Estudo em Schumann
Na sequência da análise de um tema e variações escrito para flauta por um amador, Schumann
compôs Doze Estudos Sinfónicos, baseados no mesmo tema. Apesar de se apresentarem num
formato no qual há a apresentação de um tema e a enunciação das respetivas variações, cada
estudo afigura-se como identitário e independente.
Todos os estudos se alicerçam no tema e incorporam as suas características melódias,
harmónicas e rítmicas. O seu grau de individualidade advém principalmente dos contrastes
acentuados em termos do tempo e anotações expressivas.
O facto de o tema assumir um papel residual contribui igualmente para o afastamento desta
obra da conceção tradicional do Tema e Variações. Nunca figurando de forma igual, aparece
numa das vozes (Figura 19), por acordes (Figura 20) ou por insistência rítmica (Figura 21). Estes
estudos aderem a uma limpidez estrutural ligada ao molde formal ABA e à organização do
discurso em células de 4 compassos e frases de 8 compassos, por influência do tema.17
Assim, a correlação entre o Estudo e Tema e Variações efetuada por Schumann constitui um
exemplo da diversificação formal do Estudo.
12
O Estudo em Rachmaninoff
13
Figura 25: Op.39 n.º8
14
O Estudo em Scriabin
15
O Estudo em Debussy
Debussy escreveu Doze Études como sua última obra, com o intuito de “atormentar” o
pianista. Como o próprio compositor descreve, “Poder-se-á concordar comigo no sentido em que
não há necessidade de tornar a técnica mais triste do que já é, que se poderá tornar mais séria;
e esse pequeno charme nunca arruinou nada”.20
Apesar de tratar de problemáticas já anteriormente exploradas, como terceiras e sextas
paralelas, Debussy reformulou a visão sobre estas questões com as suas peculiaridades
estilísticas, tratando igualmente tópicos pouco convencionais, como ornamentos, quartas
dobradas, sonoridades opostas e notas repetidas. Mudanças repentinas no andamento também
são incorporadas nestes Estudos, como, por exemplo, no Estudo n.º1, dedicado a Czerny. Neste
exemplo também a preferência pela diversidade de padrões rítmicos é colocada em primeiro
plano. Frisa-se também, nestas peças, variações bruscas de dinâmica (Figura 30).21
Uma das marcas mais significativa deste grupo de Estudos prende-se com a total ausência de
indicações de dedilhação e do uso de pedal, pois Debussy considerava inconcebível restringir
diversos tipos de mão a uma técnica formatante. Como Debussy explicita, “A ausência de
dedilhação é um excelente exercício, suprime o espírito de contradição que nos induz a escolher
ignorar a dedilhação do compositor, e prova aquelas palavras – Ninguém é mais bem servido
por outro do que pelo próprio”.22
16
O Estudo em Ligeti
Considerados marcos importantíssimos no repertório para piano do século XX, estes estudos
distribuem-se por três volumes, embora tenha sido intenção do compositor compor doze
Estudos em dois livros, de modo a dar continuidade ao legado de Debussy.
Ligeti aponta como génese destes Estudos a “exploração e a combinação de duas ideias
composicionais: a hemíola, dependente da métrica, como era usada por Robert Schumann ou
Chopin; e o princípio de pulsação aditiva da música Africana”23, conferindo-lhe uma atmosfera
de “caos organizado”.
Salientam-se o recurso a ostinatos (Figura 31), à polirritmia (Figura 32) e à justaposição de duas
métricas diferentes (Figura 33). Estas obras exigem do intérprete um grande grau de
flexibilidade em termos da dinâmica, que varia ao longo dos Estudos entre pppppppp e ffffffff,
demonstrando a predileção de Ligeti pelo exagero: “Quando estás repugnado, deves estar mais
repugnado; quando estás histérico, deves estar mais histérico; quando estás na miséria, deves
estar mais assim. Tudo deve ser mais e mais, mais, mais”.24
17
Conclusão
18
Referências Bibliográficas
1
Leichtentritt, Hugo; Musical Form (Cambridge, Mass.: Harvard University Press, 1951)
2
Allgemeinte musikalische Zeitung, Vol.II (1799/1800)
3
Busby, Thomas; A Complete Dictionary of Music (3ª edição, 1811)
4
Danneley, John; An Encyclopedia, or Dictionary of Music (Londres: Preston, 1825)
5
Castil- Blaze, F r.Henri Jos.; Dictionnaie de Musique Moderne (Paris: Au magasin de la lyre
moderne, 1825)
6
Schilling, Gustav; Encyclopadie der gesammten musikalischen Wissenschaften, oder Universal-
Lexikon der Tonkurst (Stuttgart: F.H.Kohler, 1840)
7,9,12
Ganz, Peter Felix; The Development of the Etude for Pianoforte (Northwestern University,
Evanston, Illinois, 1960)
8,13,18,19,20,21,22
Feliciano, Erlina P.; The development of the piano etude from Frederic Chopin to
Claude Debussy: an analytical study of representative piano etudes from nineteenth century
composers (Boston University, 1960)
10,11,14,16
Tsong, Mayron K.; Análise ou inspiração? (Rice University, 2002)
13
Delle Vigne, Aquiles; Viaggio nell’intimo di un pianista (Florestano, 2006)
15
Balan, Theodor; Franz Liszt (Editura Muzicala, 1963)
17
Kuznyetsov, Ivan; Contextualização sócio-político-cultural de seis obras de Rachamaninov,
Scriabin e Prokovief (IPL-ESML, 2012)
23,24
The importance of Ligeti’s piano etudes in compositional and pianistic aspects: Why it is
necessary to analyze igeti etudes prior to learning; Can, Toros (International Journa of Arts &
Sciencies, 2011)
19