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Protagonismo e subjetividade:

ARTIGO ARTICLE
a construção coletiva no campo da saúde mental

Protagonism and subjectivity:


collective construction in the field of mental health

Eduardo Henrique Guimarães Torre 1


Paulo Amarante 1

Abstract This paper is a reflection on the ori- Resumo O artigo reflete sobre as origens e as
gins as well as conceptual and historical bases bases históricas e conceituais da produção de
of the production of subjectivity by the subject subjetividade do sujeito considerado louco.
that is considered insane. The importance of Analisa a importância do conceito de aliena-
the concept of mental alienation in the shap- ção mental na formação do lugar social da lou-
ing of the social place of insanity in modern cura na sociedade moderna e, com ele, a con-
society is analyzed in parallel with the consti- stituição de um sujeito alienado, incapaz de
tution of an alienated subject, incapable of sub- subjetividade e de desejo: um não-sujeito da
jectivity or desire: a non-subject of medical- loucura “medicalizada”. Em continuidade, após
ized insanity. Then, after an elaboration about uma elaboração sobre a genealogia da subje-
the genealogy of subjectivity, a reflection is pre- tividade, reflete sobre as práticas atuais no
sented on the current practices in the field of campo da saúde mental que têm como proposta
mental health that aim at the collective con- a construção coletiva do sujeito da loucura,
struction of the subject of insanity no longer não mais como sujeito alienado, mas como pro-
as an alienated subject but as a protagonist, tagonista, isto é, de uma nova relação social
which means a new social relationship with com a loucura.
insanity. Palavras-chave Saúde mental, Loucura, Sub-
Key words Mental health, Insanity, Subjec- jetividade
tivity

1 Departamento
de Administração e
Planejamento, Escola
Nacional de Saúde Pública,
Fundação Oswaldo Cruz.
Av. Leopoldo Bulhões,
1.480/7o andar –
21041-210 – Manguinhos –
Rio de Janeiro – RJ.
cebes@manguinhos.ensp.
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Torre, E. H. G. & Amarante, P.

I – A alienação mental ou o não-sujeito res recortados por este “modo-indivíduo” (Bene-


da loucura “psiquiatrizada” vides, 1993).
Com a criação do “modo-indivíduo”, uma
A história da loucura nos séculos XVIII e XIX nova forma de exercício de poder passa a ser
é quase sinônimo da história de sua captura constituída; poder não mais centrado unica-
pelos conceitos de alienação e, mais tarde, de mente no Estado, mas articulado a ele de vá-
doença mental. Esse processo tem seu signifi- rias maneiras, materializando-se em práticas,
cado vinculado à criação de um novo modelo instituições e saberes. Essa forma de exercício
de homem ou de um novo sujeito na moder- do poder, denominado de disciplina ou poder
nidade. Essa nova noção de sujeito se funda disciplinar (Foucault, 1983) é uma forma de
no surgimento da idéia de indivíduo e se con- controle que funciona por um processo contí-
cretiza na consolidação do sujeito do conheci- nuo de normatização, imposição de normas
mento cartesiano, pautado na racionalidade aos corpos dos indivíduos, que são modelados
científica que se torna hegemônica como mé- para se tornarem produtivos. Através da sua
todo de produção de conhecimento. Fazendo grande estratégia, o confinamento, o poder dis-
emergir um pensamento mecanicista, basea- ciplinar fabrica indivíduos eficientes e produ-
do nos princípios de causalidade e previsibi- tivos e faz o sistema funcionar, determinando
lidade, esta racionalidade permite o surgimen- a produção ou a exclusão: O indivíduo não ces-
to de um sujeito da Razão. A loucura se torna sa de passar de um espaço fechado a outro, cada
seu contraponto: é capturada como sujeito da um com suas leis: primeiro a família, depois a
desrazão. escola, (...) depois a caserna, (...) depois a fá-
Analisar a história da loucura remete à ana- brica, de vez em quando o hospital, eventual-
lise de como a modernidade se constitui como mente a prisão, que é o meio de confinamento
forma de pensamento e organização social e por excelência (Deleuze, 1992).
como ela forja uma forma de lidar com a lou-
cura como fenômeno humano e social. Em ou- O conceito de alienação
tras palavras, uma análise da forma da produ-
ção de saberes e de exercício do poder sobre A experiência individual e coletiva que se
os sujeitos que constitui a modernidade. tem de um fenômeno é uma produção social
O indivíduo, fundado e reconstruído por e histórica, como os discursos sobre um obje-
elementos distintos em diferentes momentos, to ou fato o são. No caso da doença mental, is-
pelo cartesianismo, pelo liberalismo, pela Re- to é ainda mais claro, pois a partir da criação
volução Francesa, pelo iluminismo, pelas ciên- do hospício, a loucura torna-se verdade mé-
cias humanas, cria uma nova noção de sujei- dica (Birman, 1978). Michel Foucault, a partir
to que funda a nova experiência de homem, de História da loucura na idade clássica (1978)
ligada à interioridade, ao individualismo e, inverte a explicação científica das reorganiza-
fundamentalmente, à norma. O sistema capi- ções institucionais, demonstrando como as ins-
talista precisa de indivíduos para funcionar, tituições surgem de necessidades sociais e não
ou de um modo-indivíduo de subjetividade: de descobertas científicas ou do aprimoramen-
...um mesmo modo de subjetivação, presente to do conhecimento; o asilo seria o a priori da
desde pelo menos o século XVIII, quando ga- psiquiatria, e não o contrário. Através do prin-
nha força “o indivíduo” como dominância de cípio do confinamento e do ideal da normati-
expressão da subjetividade. Este modo, compos- zação do sujeito louco no asilo é produzida uma
to também por linhas diversas – o liberalismo nova experiência do fenômeno da loucura.
político ascendente; o romantismo valorizador No processo de apropriação da loucura pe-
das expressões de “cada um”; o êxodo de gran- la medicina o conceito de alienação tem um pa-
de parte da população do campo para a cidade pel estratégico, no momento em que torna-se
e a instauração de uma nova utilização do cor- sinônimo de erro; algo não mais da ordem do
po nas relações de trabalho; a mudança nas re- sobrenatural, de uma natureza estranha à ra-
lações entre o domínio público e o privado; a zão, mas uma desordem desta. A alienação é
criação de novos equipamentos sociais, difuso- entendida como um distúrbio das paixões hu-
res de ideais da burguesia ascendente, etc. – pas- manas, que incapacita o sujeito de partilhar
sa a se apresentar em diferentes práticas sociais do pacto social.
produzindo objetos e sujeitos conforme este mo- Alienado é o que está fora de si, fora da rea-
do. Desta forma, encontraremos diferentes sabe- lidade, é o que tem alterada a sua possibilida-
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de de juízo. Através do conceito de alienação nação exige um conjunto de medidas que só
o modo de relacionamento da sociedade para podem ser reunidas num estabelecimento ex-
com a loucura passa a ser profundamente in- clusivamente consagrado à mesma.
termediado por uma ciência que, num primei- A argumentação de Pinel a favor da insti-
ro momento, Philippe Pinel define como o alie- tucionalização tem como base dois pontos fun-
nismo. Se o alienado é incapaz do juízo, inca- damentais relacionados ao conceito de isola-
paz da verdade, é, por extensão, perigoso, pa- mento. Por um lado, no princípio do hospital
ra si e para os demais. O principal autor da clí- como lugar de exame, em que isolar é o a prio-
nica psiquiátrica, Emil Kraepelin, considera em ri do conhecer, tal qual no método da Botâni-
seu mais importante livro, publicado em 1905, ca de Lineu, explicitado por Pinel em seu Trai-
que todo alienado constitui, de algum modo, um té médico-philosophique sur l’aliénation men-
perigo para seus circunstantes, porém, em espe- tale ou la manie como o método mais adequa-
cial, para si próprio (Kraepelin, 1988). do à ciência. Por outro lado, o isolamento é te-
No contexto imediatamente posterior à Re- rapêutico pois a instituição passa a ser orga-
volução Francesa, em que Pinel dá início à nizada de forma a afastar as influências malé-
transformação do hospital de Bicêtre, em 1793, ficas, morbígenas, que causam e agravam a alie-
a elaboração do conceito de alienação possi- nação: a instituição é o instrumento de cura.
bilita a manutenção do internamento do lou- O isolamento, semelhante ao estado in vi-
co, na medida em que ele já era um dos habi- tro, afasta as influências maléficas e a conta-
tantes do antigo “hospital” que, com a revolu- minação. O afastamento serve para identificar
ção, seria extinto. Isso ocorre na medida em diferenças entre os objetos. Distinguir os “man-
que o internamento deixa de ter uma nature- sos” dos “agitados”, os “melancólicos” dos “sór-
za filantrópica ou jurídico-política, tal qual didos” e “imundos”, os “suicidas”, ou seja, es-
no período absolutista, e passa a ter o caráter quadrinhar cada tipo classificável, evitando
de tratamento. Se a alienação é um distúrbio que sua convivência agrave seu estado. O hos-
das paixões, o seu tratamento torna-se a reedu- pício, através do isolamento terapêutico, permi-
cação moral, ou tratamento moral, como pre- te a possibilidade da cura e do conhecimento
fere Pinel. Somente após um processo peda- da loucura a um só tempo. O isolamento é ao
gógico-disciplinar realizado no interior do mesmo tempo um ato terapêutico (tratamen-
hospício, o alienado pode recobrar a razão e, to moral e cura), epistemológico (ato de co-
assim, tornar-se sujeito de direito, tornar-se nhecimento) e social (louco perigoso, sujeito
cidadão. Para ser livre, entende-se, é necessá- irracional).
rio fazer escolhas, desejar e decidir, atributos Essas operações, como princípios teóricos
impossíveis para um alienado. Mas, essa ex- e atos institucionais propiciam um método;
clusão da cidadania não caracteriza uma vio- fazem “ver” diferente a figura do louco, agora
lência ao direito do alienado, na medida em um “alienado mental”, produzem uma visibili-
que seu internamento é de natureza terapêuti- dade específica sobre a loucura, construindo
ca, e não significa perda de direitos. Nesse sen- um estar louco e um ser louco diferente, no
tido, o direito maior do alienado é o de receber qual o tratamento fundamental é regrar no-
um tratamento. Para os reformadores de en- vamente, “dobrar o alienado à razão”, numa
tão, trata-se de um processo de inclusão ao di- espécie de ortopedia da alma. Surge o mundo
reito a um tratamento. correcional, no qual a disciplina proporciona
A institucionalização da loucura torna-se, um retorno à razão. O conceito de “alienação”
enfim, uma regra geral, um princípio univer- produz um lugar para o louco, excluído do
sal. Pinel fundamenta com as seguintes pala- pacto social, o lugar do sujeito da desrazão ou
vras esta necessidade imperiosa de institucio- da ausência de sujeito – sujeito racional e res-
nalização: Em geral é tão agradável, para um ponsável cívica e legalmente – sujeito deliran-
doente, estar no seio da família e aí receber os te sem cidadania que deixa de ser um ator so-
cuidados e as consolações de uma amizade ten- cial para tornar-se objeto do alienismo.
ra e indulgente, que enuncio penosamente uma A história do manicômio mostra como se
verdade triste, mas constatada pela experiência criou o processo de lidar com o sujeito aliena-
repetida, qual seja, a absoluta necessidade de do, alheio, estrangeiro a si próprio, que não é
confiar os alienados a mãos estrangeiras e de sujeito. No manicômio coloca-se em funcio-
isolá-los de seus parentes (apud Castel, 1978). namento a regra, a disciplina e o tratamento
Conclui ainda que o caráter particular da alie- moral para a reeducação do alienado, através
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do que se torna possível a construção do con- A análise genealógica busca entender as


ceito de uma subjetividade alienada, desregra- condições de possibilidade para a produção
da. Ao mesmo tempo, a instituição torna-se o do sujeito, para a invenção de formas de vida
lugar de tratamento e a institucionalização, nas redes da história (Foucault, 1974a; 1979a).
uma necessidade. Isto significa que a noção de subjetividade pas-
saria a ter outros sentidos. Se no conhecimen-
to que busca a verdade dos paradigmas cien-
II – Genealogia da subjetividade tíficos, o sujeito e o objeto são previamente
e complexidade dados, a subjetividade é um dado a priori, um
princípio de individuação, que independe das
A produção de subjetividade condições históricas. O conhecimento é capaz
de revelar a essência das coisas. Assim, a sub-
As últimas décadas foram intensamente jetividade é algo do indivíduo, de sua interio-
transformadoras dos modos de vida. As mu- ridade, onde está uma faculdade racional. Uma
danças se deram em todos os âmbitos, dos cos- subjetividade a-histórica e apolítica a desvelar
tumes e valores até a vida cotidiana e o espaço um mundo imutável. A razão é o fio condutor
e tempo urbanos. Na política, a democracia que garante a ordem interior e uma continui-
está em questionamento (Santos, 1998; Viei- dade entre o mundo e a consciência racional.
ra, 1997). Na tecnologia, as telecomunicações Na análise genealógica, o conhecimento é
de terceira geração, a informática e as mídias tomado como invenção, no sentido de um
constróem outros modos de circulação e uti- olhar para o mundo que se faz no olhar, criação
lização da informação (Castells, 1997; Lévy, de um modo de existência, de uma possibili-
1993; Deleuze, 1992). No campo do conheci- dade de vida. Não revela algo próprio da na-
mento, a ciência vem passando por transfor- tureza, mas sim o que inventamos sobre ela.
mações profundas, e a forma de entender a Por sua vez, a subjetividade é produto das re-
produção de conhecimento passa a ter novos des da história; é, então, descentrada do indi-
rumos com a crítica do modelo científico mo- víduo, sendo sempre coletiva e nunca indivi-
derno e seu paradigma newtoniano (Santos, dual. É produzida nos registros coletivos da
1997; Prygogine & Stengers, 1991), que con- sociedade e da cultura, através de mecanismos
cebe o conhecimento como um meio de reve- e estratégias os mais diversos, que definem os
lar a verdadeira natureza das coisas. modos de existência regulados pelas leis, ver-
A abordagem contemporânea sobre a lou- dades e crenças, produzindo subjetividades e
cura se inspira, em grande parte, na análise formas de vida. A produção de subjetividade
histórica da sociedade e das formas de saber- funciona forjando modos de existência, que
poder da modernidade, tendo como ponto de modelam as maneiras de sentir e pensar dos
partida, portanto, a noção de produção históri- indivíduos. Mas, se a subjetividade também
ca, que tem sido muito cara às ciências sociais não é natural, é produzida, assim como seu
e humanas das últimas décadas, pretendendo padrão ideal, a invenção de formas de vida na-
um enfoque crítico ao seu fazer ciência. Pensar da mais é que a produção de subjetividade – a
em produção histórica de saberes, instituições, subjetividade passaria a ter uma dimensão es-
objetos de conhecimento, formas de sociabi- tética, com efeitos políticos. A subjetividade
lidade, de trabalho, de sensibilidade, de comu- não estaria dada, não seria interior ao indiví-
nicação, de subjetividade, remete a uma mes- duo, mas seria produzida pelos vetores mais
ma operação metodológica na produção de diversos presentes na coletividade. Para Guat-
conhecimento: não considerar as coisas e even- tari ... seria conveniente dissociar radicalmen-
tos como naturais e acabadas, buscar a com- te os conceitos de indivíduo e de subjetividade.
preensão de um momento histórico-social pa- Para mim, os indivíduos são resultados de uma
ra entender a emergência de novos olhares e produção de massa. O indivíduo é serializado,
práticas sobre o homem, e considerar o pró- registrado, modelado. (...) A subjetividade não
prio homem como uma invenção. A necessi- é passível de totalização ou de centralização no
dade de historicizar os objetos torna-se fun- indivíduo. Uma coisa é a individuação do cor-
ção de todos aqueles que buscam analisar o po. Outra é a multiplicidade dos agenciamen-
homem e a sociedade contemporânea, e vem tos da subjetivação: a subjetividade é essencial-
sendo a convergência de grande parte do de- mente fabricada e modelada no registro do social
bate atual. (Guattari, 1986). E ainda: ...não é apenas o con-
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teúdo cognitivo da subjetividade que se encon- a cognição é uma invenção de si e do mundo,
tra aqui modelado mas igualmente todas as suas provocando bifurcações irreversíveis na sub-
outras facetas afetivas, perceptivas, volitivas, jetividade (Maturana & Varela, 1995). É a pro-
mnêmicas... (Guattari, 1992). dução histórica do próprio sujeito, sujeito e
A subjetividade é descentrada do indiví- objeto não são dados prévios ao processo de co-
duo, passando a ser constituída por forças dis- nhecer, mas são engendrados a partir de práticas
seminadas no campo social e por suas positivi- cognitivas concretas. A cognição não encontra
dades, que buscam a sua modelagem, seriali- seu fundamento nem na unidade do sujeito cog-
zação e homogeneização. Os processos de sub- noscente nem numa suposta identidade do ob-
jetivação dos equipamentos sociais e dos dis- jeto (Kastrup, 1997).
positivos políticos de poder têm a função de A partir dessas noções, talvez fosse possí-
definir coordenadas semióticas determinadas, vel constituir uma história política do conhe-
que se infiltram no comportamento dos indi- cimento, de seus fatos e seu sujeito, ou seja, a
víduos, fazendo com que suas funções e capa- política da verdade (Foucault, 1974a). Mas só
cidades sejam utilizadas e docilizadas. Mas não há história da verdade se não houver sujeito
se trata de um movimento unilateral de um absoluto. A noção central da genealogia, como
poder como entidade que subjuga o indivíduo, um método de análise e um instrumento eficaz
e sim de uma naturalização das práticas e dis- na superação da filosofia e da ciência tradicio-
cursos. Assim, como há equipamentos sociais, nais, é a noção de ‘Erfindung’ (invenção), pon-
práticas, discursos, tecnologias institucionais to de partida para problematizar a filosofia da
para modelagem e serialização da subjetivida- representação e o método naturalista (Fou-
de, há movimentos de resistência e ruptura cault, 1979; Nietzsche, 1983).
que produzem singularizações (Guattari, 1992; Qual a importância dessa reflexão para o
Guattari & Rolnik, 1985) na subjetividade, mo- campo da saúde mental? Para responder a
dos de pensar e de viver que escapam aos gran- questão, é preciso compreender que o pensa-
des processos de captura das máquinas capi- mento científico, construído na modernidade
talistas de produção de subjetividade (Guatta- como forma privilegiada e legitimada de mé-
ri, 1981). Dessa forma, todos estão “trabalhan- todo de produção de conhecimento, torna-se
do” na produção de subjetividades, principal- o modelo através do qual todos os discursos
mente aqueles que têm seu discurso legitima- científicos vão se produzir. Dentre eles, os dis-
do, como “trabalhadores sociais” os mais va- cursos das ciências humanas e sociais, que bus-
riados. A produção de subjetividade pode fun- cam se enquadrar no modelo lógico matemá-
cionar para naturalizar ou desnaturalizar sa- tico, na causalidade, na previsibilidade, no de-
beres e instituições sociais os mais diversos em terminismo e evolucionismo, na neutralida-
qualquer ponto ou instância do sistema social: de, na objetividade, isto é, no modelo de ra-
Aquilo que se convencionou chamar de “traba- cionalidade do pensamento científico moder-
lhador social” – jornalistas, psicólogos de todo no e propriamente das ciências naturais. A me-
tipo, assistentes sociais, educadores, animado- dicina e a psiquiatria são exemplos muito cla-
res, gente que desenvolve qualquer tipo de tra- ros desse fato (Foucault, 1975; 1979; 1987) e
balho pedagógico ou cultural em comunidades apontam para a pertinência da atitude crítica
de periferias, em conjuntos habitacionais, etc. aos modelos de saúde mental que são repro-
– atua de alguma maneira na produção de sub- duzidos pelos profissionais do campo.
jetividade. Mas, também, quem não trabalha
na produção social de subjetividade? (Guatta- Complexidade e loucura
ri, 1986).
A partir desse referencial, busca-se uma re- A razão e o paradigma científico clássico
lação mais móvel com o conhecimento, um entram em crise com as transformações da so-
pensamento nômade (Deleuze, 1985), que des- ciedade contemporânea e as novas formas de
naturalize as verdades acabadas e coloque em pensamento em diversos campos das ciências
questão o próprio processo de conhecimento. exatas e humanas, como a física quântica, a
O sujeito não existe a priori – está em cons- biologia, a química, a antropologia, a psicolo-
tante constituição. O “sujeito do conhecimen- gia, a filosofia, a política, e em todos os campos
to” não é um fundamento inquestionável so- a complexidade dos objetos coloca a raciona-
bre o qual o conhecimento se dá. O conhecer lidade clássica em xeque. O modo-indivíduo
não serve para representar um mundo dado, de subjetividade do século XIX se modifica na
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era virtual e da biotecnologia. Na “nova alian- vés desta operação que é possível uma psiquia-
ça” da complexidade nas ciências (Prygogine tria da loucura.
& Stengers, 1991), o sujeito do conhecimento Um objeto se configura pelo seu sistema de
de Descartes não é mais absoluto, e os sujei- relações; a racionalidade introduz uma simpli-
tos se tornam histórico-estéticos, capazes de ficação, através do reducionismo que o méto-
engendrar sua autopoiese (Maturana & Vare- do científico e psiquiátrico operam, e que a re-
la, 1995), na qual um sujeito e um objeto não tomada da complexidade busca desmistificar.
preexistentes se fazem em sua relação. Não Para Sacks (1995), a doença é um processo
mais a especialização, a fragmentação e o iso- no sujeito, não é um defeito no corpo, no ór-
lamento. Reconstruir os objetos em sua com- gão ou no funcionamento bioquímico. É um
plexidade requer a superação dessas opera- processo referente à conduta e à forma de olhar.
ções. É precisamente nas relações que se con- Há uma complexidade no processo saúde-
figuram, num meio caótico e em desequilíbrio, doença que ultrapassa o orgânico simples. O
constituído por forças em choque que criam que parece desvio quando se coloca em rela-
constante interferência, que a existência con- ção a uma norma, se mostra como outra lin-
creta das coisas se manifesta. guagem, outros caminhos neurais e de apren-
O isolamento foi uma das estratégias cen- dizagem cultural, outras subjetividades, que
trais para a elaboração do conceito de aliena- insistimos em desqualificar como inferiores
ção, que produz o louco como sujeito do er- aos modos padronizados de experiência. Na
ro. O isolamento como um princípio científi- doença há uma construção de subjetividade
co diz respeito a tirar os objetos de investiga- radicalmente diversa, por isso nunca se pode
ção de seus meios caóticos e tirar as interfe- tratar o sintoma, é preciso tratar o sujeito.
rências do ambiente natural, transportando Existem casos em que a medicação psiquiátri-
ao ambiente asséptico do laboratório. Nos de- ca, ao fazer um anteparo à doença, não resol-
paramos com um problema epistêmico fun- ve o problema ou até mesmo pode agravar a
damental: como estudar a doença isolando o situação. Nesse sentido é possível pensar que
louco pelo esquadrinhamento do hospital? O o delírio pode ser necessário como processo.
princípio se funda na idéia de que para tratar A doença deve ser repensada como fato cultu-
é preciso conhecer, e para conhecer torna-se ral e como caminho; é preciso aprender com
imprescindível retirar quaisquer influências a doença. Em vez de um tempo e espaço abso-
externas. A observação in vitro tira as más in- lutos, uma temporalidade e uma espacialida-
fluências, permite a separação em tipos para de produzidos.
a constituição de um espaço de conhecimento. A noção de clínica também se transforma
No entanto, surge uma importante questão: a na abordagem ético-estética (Deleuze & Guat-
observação in vitro não transformaria a na- tari, 1972), na qual a subjetividade é coletiva
tureza da doença? Em outras palavras, a ex- e não individual. Se a subjetividade não é mais
periência da institucionalização não alteraria um componente do indivíduo, a clínica psico-
a experiência da alienação? O que a psiquia- lógica clássica, que se centrava sobre a subje-
tria concebe como efeitos da cronicidade da tividade individual, perde sua sustentação. O
natureza da doença mental não seriam efei- conceito de clínica se amplia, tomando a for-
tos largamente produzidos pela instituciona- ma de um ato analítico que age sobre a pro-
lização? dução de subjetividade, serializando-a ou sin-
Ora, para o saber psiquiátrico, a degenera- gularizando-a, aproximando-se da noção de
ção é causada pela doença mental, sem nenhu- analisador adotado no âmbito da análise ins-
ma ligação com as formas de relação institu- titucional (Coimbra, 1995). A clínica, nesse
cional que se estabelece com a loucura e o lou- sentido, não é executada pelo especialista, pois
co. A doença mental concebida sob um ponto a análise se produz sem se centrar em um su-
de vista naturalista é a noção que dá o supor- jeito que a realize, nem como uma interpreta-
te fundamental da prática, do poder e do sa- ção ou revelação do oculto; a análise se pro-
ber psiquiátricos. A História da loucura de- duz em um campo de forças, seja num grupo,
monstra a história do asilamento da loucura numa relação psicoterapêutica, nas relações
e de sua medicalização e patologização, e sua do hospital, da fábrica, da escola, do hospício,
transformação em doença mental: Nossa so- em espaços os mais distintos. Clínica torna-se
ciedade não quer reconhecer-se no doente que uma relação estratégica nos espaços sociais, e
persegue ou encerra (Foucault, 1975). É atra- não o ato médico ou psicoterapêutico do es-
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paço do consultório. Pode se exercer em dife- cault, 1987) tornaram-se referências funda-
rentes pontos, heterogêneos, do campo social. mentais para o entendimento da mediação do
dispositivo psiquiátrico na produção da doen-
ça mental. Com a constituição da psiquiatria e
III – A construção coletiva do sujeito do dispositivo clínico é construída uma tec-
da saúde mental nologia material e subjetiva que funciona no
dispositivo da psiquiatria. Através da genea-
É possível perceber hoje no campo da saúde logia do sujeito, podemos pensar como este
mental no Brasil um expressivo processo de deixa de ser algo dado e torna-se uma produ-
transformação do lugar do louco como ator ção, uma subjetividade produzida como doen-
social, como sujeito político. Uma das faces ça mental, que incide sobre os corpos institu-
desse processo refere-se à ampliação do con- cionalizados.
ceito de “reforma psiquiátrica”. O objetivo é Uma outra contribuição importante para
não reduzi-lo a um processo exclusivamente a desmontagem do dispositivo psiquiátrico é
restrito a mudanças administrativas ou técni- de Franco Basaglia, tanto por sua produção
cas dos serviços. Ou seja, procura-se construir teórica quanto pelos processos de transforma-
um conceito de reforma psiquiátrica que não ção do campo da saúde mental por ele lidera-
seja sinônimo de reforma da assistência psi- dos em Gorizia e Trieste. Por um lado, pelo
quiátrica, a exemplo dos processos que ocorre- princípio da “luta contra a institucionaliza-
ram nos anos 60 e 70. ção”, que diz respeito à idéia de desconstrução
do manicômio, entendido como o conjunto
Dispositivo da complexidade – de práticas multidisciplinares e multiinstitu-
uma nova relação com a loucura cionais, exercitadas e reproduzidas em múlti-
plos espaços sociais, e não apenas no interior
Todo o debate crítico em torno da saúde do hospício (Basaglia, 1981). Por outro lado,
mental e do processo de reforma psiquiátrica, pela recusa à tecnificação, ou à vocação tera-
na atualidade, bem como a literatura da área pêutica, isto é, a simples substituição de tec-
colocam a desconstrução como uma busca de nologias antigas por novas. E, finalmente, pe-
superação dos paradigmas clássicos, de críti- lo princípio de construção de uma relação de
ca da verdade e neutralidade nas ciências, de contrato com o sujeito que substitua a relação
problematização das concepções naturalistas de tutela instaurada pela psiquiatria.
de subjetividade, saúde, doença e loucura e de Entende-se por modelo manicomial aque-
reconstrução de sua complexidade. Colocam le que se funda na noção de que a experiência
também a incapacidade da psiquiatria de ex- psíquica diversa é sinônimo de erro. O delírio
plicar ou curar o seu objeto de intervenção, a não seria uma expressão do desejo, mas sim
doença mental (Basaglia, 1981 e 1985; Rotelli, mera externalização do erro. Assim entendi-
1990). A desconstrução está relacionada à no- do, um dos aspectos mais importantes no pro-
ção de invenção, de construção do real, de pro- cesso de transformação radical do modelo ma-
dução da subjetividade, recolocando em dis- nicomial torna-se, exatamente, a superação do
cussão a ciência e a psiquiatria. “Desconstru- conceito de doença. Não se trata, obviamen-
ção” do dispositivo psiquiátrico e clínico em te, de negar a diversidade da experiência do
seus paradigmas fundantes e suas técnicas de delírio ou da alucinação, mas de não utilizar
poder-saber. Desconstrução como uma “ação o conceito de doença (igual a erro) na relação
prática de desmantelamento das incrustações com o sujeito. Nesse sentido Rotelli propõe,
institucionais que cobriam a doença; foi ne- no lugar do objeto doença mental, o objeto
cessário tentar colocar entre parênteses a doen- existência-sofrimento do sujeito em sua rela-
ça como definição e codificação dos compor- ção com o corpo social (Rotelli, 1990).
tamentos incompreensíveis, para buscar su- Para Basaglia, a psiquiatria colocou o su-
primir as superestruturas dadas pela vida ins- jeito entre parênteses para ocupar-se da doen-
titucional, para poder assim individualizar ça como fenômeno da natureza. Assim, numa
quais partes eram de responsabilidade da doen- atitude intensamente husserliana, Basaglia
ça e quais da instituição, no processo de des- (1981) propõe uma inversão, isto é, colocar a
truição do doente e da doença” (Basaglia, 1981). doença entre parênteses para tornar-se possí-
História da loucura na idade clássica (Fou- vel lidar com o sujeito e não com a doença: O
cault, 1978) e O nascimento da clínica (Fou- colocar entre parênteses a doença mental não
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Torre, E. H. G. & Amarante, P.

significa a sua negação, no sentido de negação crise e pela periculosidade do indivíduo em


de que exista algo que produza dor, sofrimento, relação a si e aos outros, como o ato terapêu-
mal-estar, mas a recusa à aceitação da comple- tico que busca a cura, como sua objetivação
ta capacidade do saber psiquiátrico em explicar na forma de corpo doente. Formas que preci-
e compreender o fenômeno loucura/sofrimento sam ser desmontadas. Estas instituições fun-
psíquico, assim reduzido ao conceito de doença. cionam com base em uma relação codificada en-
A doença entre parênteses é, ao mesmo tempo, tre “definição e explicação do problema e res-
a denúncia e a ruptura epistemológica que se posta (ou solução) racional”, tendencialmente
refere ao “duplo” da doença mental, isto é, ao ótima. Para esclarecer melhor a ação deste pa-
que não é próprio da condição de estar doente, radigma racionalista problema-solução é sufi-
mas de estar institucionalizado (Amarante, ciente referir-se à terapia no âmbito da medici-
1994). na. A terapia, entendida não tanto como uma
Nesse sentido, o papel do técnico se trans- relação individual entre médico e paciente mas
forma quando ele se coloca sob outros prin- sobretudo como um sistema organizado de teo-
cípios; se ele faz funcionar a tecnologia da ria, normas, prestações –, é, em geral, o proces-
doença mental, fortalece o dispositivo psiquiá- so que liga o diagnóstico ao prognóstico, que con-
trico. Mas, se transforma sua forma de inter- duz da doença à cura. Este é portanto um siste-
venção, trabalha no sentido da desmontagem ma de ação que intervém em relação a um pro-
desse dispositivo. Isso significa pôr em fun- blema dado (a doença) para perseguir uma so-
cionamento um dispositivo de desinstituciona- lução racional, tendencialmente ótima (a cura)
lização e reinserir a complexidade dos proble- (Rotelli, 1990).
mas com os quais lida. Significa ainda abrir Entretanto não estamos lidando mais com
mão das interpretações da loucura segundo um problema dado, mas construído e sem so-
erro, incapacidade, inferioridade, doença men- lução padrão, buscando reconstruir sua com-
tal, e potencializá-la como diferença, um mo- plexidade. Nesse sentido, entende-se que: ... o
do diferente de relação com o mundo. Enfim, primeiro passo da desinstitucionalização foi o
não usar o saber como técnica normativa, mas de começar a desmontar a relação problema-so-
como possibilidade de criação de subjetivida- lução, renunciando a perseguir aquela solução
des. A técnica deixa de ser instrumento da vio- racional (tendencialmente ótima) que no caso
lência quando a prática funciona como uma da psiquiatria é a normalidade plenamente res-
desconstrução da clínica. No lugar do diagnós- tabelecida (...) ... na relação que liga o proble-
tico, a tomada de responsabilidade (Dell’Ac- ma à solução, é a solução que formula o proble-
qua, 1992) e a quebra da hierarquia. Se a clí- ma (...) Por isso, a reproposição da solução reo-
nica se sustenta no conceito de doença que, rienta de maneira global, complexa e concreta
por sua vez, é o fundamento do poder-saber a ação terapêutica como ação de transformação
médico-psiquiátrico, o colocar esse conceito institucional (...) O processo de desinstitucio-
em questão eqüivale a fazer funcionar o que nalização torna-se agora reconstrução da com-
poderíamos denominar de “dispositivo da plexidade do objeto. A ênfase não é mais colo-
complexidade”, isto é, a desconstrução da clí- cada no processo de “cura” mas no projeto de
nica (na qualidade de clínica psiquiátrica). Es- “invenção de saúde” e de “reprodução social do
se é o cerne da atuação política dos novos ope- paciente” (Rotelli, 1990).
radores da desinstitucionalização: Mas a clí- A desconstrução questiona as bases do dis-
nica não é apenas um olhar. Agora a doença, positivo psiquiátrico, em sua competência pa-
bem fora de parênteses, se revela como o lugar ra atuar frente à loucura. Novas tecnologias
geométrico das incrustações judiciárias, diag- científicas, que se destinem à cura da doença
nósticas e científicas aplicadas sobretudo, e sem mental, continuam apenas apresentando um
contradição, às classes subalternas. Conjunto de problema que não pode ser resolvido. Não há
aparatos administrativos, disciplinares, cientí- modernização que resolva a questão sempre
ficos, normativos, coerentes com o velho estatu- nebulosa da cura em psiquiatria. A cura se tor-
to epistemológico da doença... (Rotelli, 1990). na a ação de produzir subjetividade, sociabi-
A questão central que se coloca é que o dis- lidade – mudar a história dos sujeitos que pas-
positivo da clínica é o mecanismo que permi- sa a mudar a história da própria doença. Para
te lançar visibilidade sobre o processo de saú- Rotelli (1990) a hipótese é a de que o mal obs-
de-doença, e que traz consigo táticas funda- curo da psiquiatria está em haver separado um
mentais como a internação, justificada pela objeto fictício, a “doença”, da existência global
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complexa e concreta dos pacientes e do corpo so- toma pode ser forma de resistir à mortifica-
cial. Sobre essa separação artificial se construiu ção, último recurso de produção de si mesmo.
um conjunto de aparatos científicos, legislati- O doente é já unicamente um corpo institucio-
vos, administrativos (precisamente a “insti- nalizado, que vive como um objeto e que, às ve-
tuição”), todos referidos à “doença”. É esse con- zes, tenta – quando ainda não está completa-
junto que é preciso desmontar (desinstituciona- mente domado – reconquistar mediante acting-
lizar) para retomar o contato com aquela exis- out, aparentemente incompreensíveis, os carac-
tência dos pacientes, como “existência” doente. teres de um corpo pessoal, de um corpo vivido,
Faz-se necessário forjar um novo concei- recusando identificar-se com a instituição (...)
to no lugar de doença, um novo objeto que ... lhe é negada – de forma concreta e explícita
reavalie o fenômeno da loucura, sem escamo- – a possibilidade de reconstruir um corpo pró-
tear sua complexidade, ao mesmo tempo que prio que consiga dialetizar o mundo (Basaglia,
impeça ser ela, a loucura, capturada na doen- 1985).
ça. Se a separação provém do princípio do iso- Essa é uma questão fundamental, pois é o
lamento na versão pineliana, o novo objeto de- movimento de tomada de responsabilidade in-
ve ser útil para criar um “tratamento” que não dividual e coletiva que se constitui como meio
seja moral ou medicalizante, e que supere es- para a transformação institucional e para o
se princípio. O próprio termo “tratamento” processo de desconstrução. O trajeto que com-
torna-se inadequado e perde seu sentido ori- preende da saída da condição de sujeitado, um
ginal, já que a atuação não mais se caracteri- corpo marcado pelo exame clínico e pelo diag-
za como reduzida à terapêutica: Concretamen- nóstico psiquiátrico, até a transformação em
te transformam-se os modos nos quais as pes- um usuário do sistema de saúde que luta pa-
soas são tratadas para transformar o seu sofri- ra produzir cidadania para si e seu grupo pas-
mento, porque a terapia não é mais entendida sa necessariamente pelo aspecto central da au-
como a perseguição da solução-cura, mas como tonomia. Ao invés da cura, incitação de focos
um conjunto complexo, e também cotidiano e de autonomia. A cura cede espaço à emanci-
elementar, de estratégias indiretas e mediatas pação, mudando a natureza do ato terapêuti-
que enfrentam o problema em questão através co, que agora se centra em outra finalidade:
de um percurso crítico sobre os modos de ser do produzir autonomia, cidadania ativa, descons-
próprio tratamento. O que é, portanto, nesse truindo a relação de tutela e o lugar de objeto
sentido “a instituição” nessa nova acepção? É o que captura a possibilidade de ser sujeito. Pa-
conjunto de aparatos científicos, legislativos, ad- ra Rotelli (1990) a emancipação terapêutica
ministrativos, de códigos de referência e de re- (que se torna o objetivo substituto da “cura”) só
lações de poder que se estruturam em torno do pode ser (cientemente) a mobilização de ações
objeto “doença”. Mas se o objeto ao invés de ser e de comportamentos que emancipem a estru-
“a doença” torna-se “a existência-sofrimento tura inteira do campo terapêutico. Ou ainda: A
dos pacientes” e a sua relação com o corpo so- governabilidade teve a psiquiatria entre os seus
cial, então desinstitucionalização será o proces- instrumentos de gestão da desordem e da misé-
so crítico-prático para a reorientação de todos ria. O dispositivo psiquiátrico funciona em es-
os elementos constitutivos da instituição para paços os mais disseminados, mas tem por ex-
este objeto bastante diferente do anterior (Ro- celência o seu exercício no manicômio. O ma-
telli, 1990). nicômio é: o lugar zero da troca. A tutela, a in-
A operação que torna o doente um objeto ternação têm esta única finalidade: subtração
é a mesma que o desistoriza. A “objetivação” das trocas, estabelecer relações de mera depen-
do louco, segundo Basaglia, impede que ele dência pessoal (Rotelli, 1990). No manicômio,
crie o seu próprio corpo pessoal, tornando-o a sociabilidade é reduzida a zero. Esse é um
um corpo institucional. Para Basaglia (1985) dos problemas que se colocam: o problema não
a aproximação de tipo objetivante acaba por in- é cura (a vida produtiva) mas a produção de vi-
fluir sobre a idéia que o doente faz de si mesmo, da, de sentido, de sociabilidade, a utilização das
o qual – através deste processo – só pode com- formas (dos espaços coletivos) de convivência
portar-se como corpo doente, exatamente da dispersa. (Rotelli, 1990).
mesma maneira em que vivem o psiquiatra e a Guattari (1992) entende que a cura não é
instituição que cuidam dele. uma obra de arte, mas deve proceder do mesmo
Alguns pacientes ainda buscam não serem tipo de criatividade. A interpretação não forne-
tragados pela instituição, e o que parece sin- ce chaves padronizadas para resolver problemas
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Torre, E. H. G. & Amarante, P.

gerais (...) mas deve constituir um acontecimen- ligados, pois a psicose, no contexto dos sistemas
to, marcar uma bifurcação irreversível da pro- carcerários tradicionais, tem seus traços essen-
dução de subjetividade... Esse trabalho se ini- cialmente marcados ou desfigurados. É somen-
cia com medidas básicas de abertura dos me- te com a condição de ser desenvolvida em torno
canismos de violência e enclausuramento e dela uma vida coletiva no seio de instituições
necessita, principalmente, do estabelecimen- apropriadas que ela pode mostrar seu verdadei-
to de novas relações entre os pacientes, a equi- ro rosto, que não é o da estranheza e da violên-
pe e os psiquiatras. Assim é que, para Rotelli, cia, como tão freqüentemente ainda se acredi-
o objetivo prioritário da desinstitucionalização ta, mas o de uma relação diferente com o mun-
é transformar as relações de poder entre insti- do (...) Os psicóticos, objetos de um sistema de
tuição e os sujeitos e, em primeiro lugar, os pa- tratamento quase animal, assumem necessaria-
cientes. Inicialmente, isto é, no trabalho de des- mente uma postura bestial (...) No estilo de vi-
construção do manicômio, essa transformação da comunitária que era então o de La Borde na-
é produzida através de gestos elementares: eli- queles anos, os doentes me apareceram sob um
minar os meios de contenção; restabelecer a re- ângulo completamente diferente... (Guattari,
lação do indivíduo com o próprio corpo; recons- 1992).
truir o direito e a capacidade de uso dos objetos Atualmente, vários serviços de saúde men-
pessoais; reconstruir o direito e a capacidade da tal ou de atenção psicossocial vêm sendo im-
palavra; eliminar a ergoterapia; abrir as portas; plantados no Brasil. A década de 1990 assistiu
produzir relações, espaços e objetos de interlo- à produção de um bom número de novas ins-
cução; liberar os sentimentos; restituir os direi- tituições e experiências locais. Uma das neces-
tos civis eliminando a coação, as tutelas jurídi- sidades atuais é a de compor uma rede de co-
cas e o estatuto de periculosidade; reativar uma municação entre esses trabalhos, que possa en-
base de rendimentos para poder ter acesso aos riquecê-los e fortalecê-los através de trocas e
intercâmbios sociais (Rotelli, 1990). debate. A transformação que se opera na sub-
O ato terapêutico ganha outros sentidos. jetividade dos doentes e da instituição, quan-
É possível perceber como os conceitos formam do se trabalha para a desconstrução do para-
uma rede: a clínica encerra a atuação sobre a digma psiquiátrico, pode ter grande amplitu-
doença, que requer um diagnóstico que a re- de, rompendo com conceitos e reinscrevendo
conheça e possibilite a escolha do tratamento a forma da loucura na sociedade: Essa ativi-
ou ato terapêutico apropriado, que por sua vez dade incessante de questionamento [e mobili-
objetiva a cura. A desmontagem e desnatura- zação], aos olhos de um organizador-conselho,
lização dessa rede, bem como a proposição de pareceria inútil, desorganizadora e, entretanto,
novos conceitos ou novos sentidos para os é somente através dela que podem ser instaura-
mesmos conceitos é o trabalho da desinstitu- das tomadas de responsabilidade individuais e
cionalização. O ato terapêutico, se não é mais coletivas, único remédio para a rotina burocrá-
fundado sobre a doença e não provém da au- tica e para a passividade geradas pelos sistemas
toridade médica, torna-se a própria organiza- de hierarquias tradicionais (Guattari, 1992).
ção coletiva, convertendo-se em tomada de res- O trabalho de desinstitucionalização leva,
ponsabilidade e produção de subjetividade: ao necessariamente, à produção de um novo ti-
invés de fundar-se sobre uma regra imposta de po de subjetividade, que permita a manifesta-
cima, a organização se convertia, por si mesma, ção do devir-louco sem interditar sua expres-
num ato terapêutico ... (Basaglia, 1985). são, sem regulá-lo no jogo das sanções insti-
Aos poucos, as relações passam a não se as- tucionais e legais ou objetificá-lo, fazendo com
sentar mais nas hierarquias, mas na sociabili- que se desistorize e deixe de ser um sujeito. É
dade e na produção de instâncias coletivas, a produção de um novo lugar para a subjeti-
através do trabalho de mudança dessas rela- vidade louca, o estabelecimento de uma nova
ções e na produção de outras formas de ex- relação com ela, e a criação de fissuras na seria-
pressão para o louco e sua loucura que se mos- lização psiquiátrica. Para isso, é preciso a to-
tram não só viáveis, mas inovadoras e de ex- mada de um sentido para a própria existência
trema riqueza. Guattari relata sua própria ex- e da produção de sua própria singularidade:
periência em relação a este processo: Foi en- O que visávamos, através de nossos múltiplos
tão que aprendi a conhecer a psicose e o impac- sistemas de atividade e sobretudo de tomada de
to que poderia ter sobre ela o trabalho institu- responsabilidade em relação a si mesmo e aos
cional. Esses dois aspectos estão profundamente outros, era nos libertarmos da serialidade e fa-
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zer com que os indivíduos e os grupos se reapro- mente equipamentos e equipes extra-hospitala-
priassem do sentido de sua existência em uma res, mas reinventá-la ao mesmo tempo em que
perspectiva ética e não mais tecnocrática. Tra- se desenvolvem outras práticas sociais com a aju-
tava-se de conduzir simultaneamente modos de da direta das populações concernidas (Guatta-
atividades que favorecessem uma tomada de res- ri, 1992).
ponsabilidade coletiva e fundada entretanto em Um dos riscos que se corre, se não houver
uma re-singularização da relação com o traba- clareza da desinstitucionalização como des-
lho e, mais geralmente, da existência pessoal. A construção do dispositivo e do paradigma psi-
máquina institucional que instalávamos não se quiátricos, é o de sair do manicômio e conti-
contentava em operar uma simples remodela- nuar reproduzindo os mecanismos do dispo-
gem das subjetividades existentes, mas se pro- sitivo psiquiátrico, operação que Castel (1978)
punha, de fato, a produzir um novo tipo de sub- chama de aggiornamento, algo como um cos-
jetividade (Guattari, 1992). mético da psiquiatria, uma reforma superfi-
Um dos caminhos mais importantes para cial, que mantém a função da psiquiatria co-
o qual aponta a desinstitucionalização é o da mo saber-poder. Para Guattari podem-se criar
criação de novas relações com a loucura, que se equipamentos psiquiátricos ágeis no seio do te-
processa a partir da mudança das relações ins- cido urbano sem por isso trabalhar no campo
titucionais internas e de desmontagem dos dis- social. Simplesmente miniaturizaram as anti-
positivos da clínica e da psiquiatria, mas cer- gas estruturas segregativas e, apesar disso, inte-
tamente não se restringe a isto. Novas subje- riorizaram-nas (Guattari, 1992).
tividades e um novo lugar para o sujeito lou- Entende-se desconstrução como um pro-
co só são produzidos em relação com o social. cesso social complexo, de desmontagem do
O trabalho de desconstrução do manicômio dispositivo psiquiátrico, que não tem fim, ou
necessariamente extravasa o contexto institu- não pretende constituir, um modelo ideal, mas
cional específico. A desinstitucionalização atin- sim dar novo significado às relações e colocar
ge então seu objetivo mais amplo de questio- questões imanentes às situações-problema.
namento das instituições e subjetividades ca- Nesse sentido, é um processo que precisa, por
pitalísticas: é a desconstrução como transfor- definição, ser reinventado incessantemente, e
mação cultural: Trabalhando regularmente com questionar também o conjunto dos segmentos
sua centena de pacientes, La Borde se encontrou sociais que deveria ser (...) objeto de uma ver-
progressivamente implicada em um questiona- dadeira “revolução molecular”, quer dizer, de
mento mais global sobre a saúde, a pedagogia, uma re-invenção permanente (Guattari, 1992).
a condição penitenciária, a condição feminina, Para Rotelli a produção da vida e a repro-
a arquitetura, o urbanismo. (...) E começamos dução social seriam os objetivos e a prática da
a sonhar com o que poderia se tornar a vida nos instituição inventada. Para ele estas devem evi-
conglomerados urbanos, nas escolas, nos hospi- tar as estreitas vias do olhar clínico, assim co-
tais, nas prisões etc., se, ao invés de concebê-los mo da investigação psicológica e da simples com-
na forma da repetição vazia, nos esforçássemos preensão fenomenológica, e fazer-se tecido, en-
em reorientar sua finalidade no sentido de uma genharia de reconstrução de sentido, de produ-
re-criação interna permanente. Foi pensando ção de valor, tempo, responsabilizar-se, de iden-
em uma tal ampliação virtual das práticas ins- tificação de situações de sofrimento e de opressão,
titucionais de produção de subjetividade que, reingressar no corpo social, consumo e produ-
no início dos anos 60, forjei o conceito de “aná- ção, trocas, novos papéis, outros modos mate-
lise institucional” (Guattari, 1992). riais de ser para o outro, aos olhos do outro (Ro-
Através do trabalho no campo social a des- telli, 1990b). Um aspecto importante no sen-
construção atinge seu sentido mais abrangen- tido de superar essa redução clínica individua-
te, como processo social amplo e complexo de lizante diz respeito à redefinição do lugar do
participação popular, territorialização dos ser- sujeito da diferença na sociedade. Para tanto,
viços, envolvimento de diferentes atores so- o processo passa a contar com o que vem sen-
ciais, e mudança da relação social com o fenô- do denominado de protagonismo do sujeito
meno da loucura. O melhor espaço de reabi- “alienado”, através das organizações de usuá-
litação é a cidade (Basaglia, 1982), não um ser- rios e movimentos de empowerment com con-
viço que ofereça tão-somente uma tecnologia quistas significativas em termos de representa-
de cura: Recentrar a psiquiatria na cidade não ção política e social. Essa redefinição é reali-
significa implantar aí mais ou menos artificial- zada através da desmontagem político-social
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Torre, E. H. G. & Amarante, P.

da construção do lugar da diferença como um fóruns sociais de formulação de políticas da


lugar inferior e do papel social destinado ao área, tal como nos conselhos de saúde e comis-
alienado. O protagonismo começa com a crí- sões de saúde mental (nos dois casos tanto em
tica dos lugares que se quer produzir; funda- nível nacional, quanto estadual e municipal).
mentalmente, dois lugares possíveis: o de pa- Essas têm sido as referências teóricas e cul-
ciente, demente, alienado, tutelado e depen- turais que têm fundamentado e orientado o
dente ou o de sujeito político, de direito, que processo de desconstrução das práticas de ins-
debate o tratamento e a instituição, que par- titucionalização da loucura, e que têm trans-
ticipa e interfere no campo político. formado o lugar social da mesma. Do sujeito
A construção coletiva do protagonismo re- alienado, incapaz, irracional, a um protago-
quer a saída da condição de usuário-objeto e a nista, desejante, construtor de projetos, de ci-
criação de formas concretas que produzam um dadania, de subjetividade. Enfim, é importan-
usuário-ator, sujeito político. Isso vem ocor- te ressaltar que significativa parte dessa cons-
rendo através de inúmeras iniciativas de rein- trução tem sido possibilitada em decorrência
venção da cidadania e empowerment, como da atitude epistemológica proposta por Basa-
atenta Vasconcelos (2000), por meio de inter- glia de colocar a doença entre parênteses, fa-
venções via associações de usuários ou de co- zendo da intervenção uma estratégica não de
operativas sociais, ou ainda da participação cura/reabilitação, mas de invenção da saúde,
política de tais atores nos mais importantes de reprodução social dos sujeitos.

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