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A Evolução Das Políticas de Saúde Mental e Da Legislação Psiquiátrica No Brasil
A Evolução Das Políticas de Saúde Mental e Da Legislação Psiquiátrica No Brasil
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"Os homens são tão necessariamente loucos que não ser louco significaria
ser louco de um outro tipo de loucura"
Pascal
1.INTRODUÇÃO
A loucura tem sido encontrada nas mais diversas sociedades em variadas épocas,
seguindo-se a estas manifestações a freqüente identificação do indivíduo louco
como o diferente, o outro, aquele que não se encontra na esfera do aceitável e não
se mostra capaz de se manter na coletividade como os indivíduos tidos como
normais, embora sua circulação tenha sido relativamente tolerada em sociedades
pré-capitalistas. Seja por um suposto resultado de possessões demoníacas ou de
inspiração divina, o fato é que o portador de distúrbios mentais freqüentemente
encontrou para si o espaço da exclusão, com a negação da sua cidadania e da
presunção de capacidade que se tem da maioria dos seres humanos.
Ao mesmo tempo, existe o temor da coletividade em relação ao desconhecido, o
receio quanto a esta pessoa que se expressa de forma confusa, com
comportamentos peculiares e, muitas vezes, perturbadores da ordem pública, sem
que pareça ter noção dos danos que possa provocar ou do esforço que se faz no
sentido de conter ou minimizar os seus atos.
Deste modo, para que se agisse efetivamente em relação a este elemento estranho
seria necessário identificá-lo, o que nunca se mostrou tarefa fácil nas variadas
tentativas de isolamento. Foram muitos os critérios, variáveis no tempo, mas em
geral seguindo imperativos políticos, religiosos e ideológicos. Considerando que
nem mesmo atualmente se dispõe do discernimento capaz de impor
definitivamente os limites da normalidade, a identificação do "anormal" sempre se
fez de forma externa, mediante a observação do seu comportamento junto a outros
homens. A inadaptação é presumida, podendo mesmo resultar de causas diversas
do transtorno mental cientificamente concebido. É importante ressaltar que isto
não se refere ao anti-social que infringe as normas legais, o chamado delinqüente,
seja este insano ou não, e sim àquele ao qual se atribui a causa de um mal estar
social devido a uma condição que lhe é inerente, estando a ocorrência ou não de
crimes em posição secundária.
5. DECRETO 24.559/1934
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Desde que a separação entre o doente mental e outros indivíduos tidos como
normais e sociáveis foi estipulada, a prioridade era o que o doente poderia
representar ( ou ameaçar) em se tratando de assuntos civis ou penais e na
preservação da ordem pública.A concepção de medidas tendo em vista atender a
esta pessoa acometida de distúrbio mental enquanto fim em si mesma, e não em
relação a outras questões, respeitando a sua condição de ser humano antes de
tudo, é bastante recente.
Compreender que se trata de definir o destino de uma pessoa, e não de um centro
convergente de implicações sociais, é a proposta da atual política de saúde mental,
que tem entre suas conquistas a Lei 10.216/2001, e se mostra não como um
resultado de concepções exclusivamente médicas, mas de uma mobilização de
diversos setores sociais e campos do conhecimento, como a Sociologia, a
Antropologia, a Psicologia e o Direito. Este último tem um papel fundamental
nesta nova política, na medida em que permite promover garantias de cidadão ao
doente mental, possibilitando a defesa de sua dignidade enquanto pessoa humana.
A atual lei psiquiátrica constitui um avanço, mas não basta por si mesma, fazendo-
se necessária a fiscalização efetiva por parte do Ministério Público, das comissões
de defesa dos Direitos Humanos e da sociedade como um todo, no que tange à
regulação das internações involuntárias e da implantação de uma assistência
coerente com os parâmetros atuais, em que se privilegia o atendimento extra-
hospitalar ao máximo possível. Desta forma, pode-se iniciar uma tentativa de
resgatar uma dívida histórica que a sociedade moderna contraiu em relação ao
portador de transtorno mental.
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: Parte Geral. 2.ed.São Paulo:Atlas, 2002.
(Direito Civil.
Autor
Camila Freire Macedo