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A Conversão de Constantino

Nas proximidades do Natal do ano de 312, o imperador romano Constantino o Grande, enfrentou
Maxêncio, um seu rival ao trono de Roma. Nas vésperas das duas batalhas que travou então ele
jurou ter escutado vozes divinas bem como assegurou ter visto claramente signos no céu que lhe
davam o ganho da causa. Esses acontecimentos, lendários ou não, tiveram notável efeito na
história da fé do mundo ocidental visto que a vitória de Constantino na ponte Milvio, que cruzava o
rio Tibre, acelerou a conversão dos romanos à religião de Jesus Cristo.

Os sinais do céu

"Uma surpreendente conjuntura fez com que a ação de Constantino pela Palestina tivesse uma
repercussão histórico-universal que se estendeu por muitos séculos."
J.Burckhardt – Die Zeit Constantinus des Grossen , 1853

Segundo Eusébio de Cesaréia, o primeiro historiador da igreja cristã, falecido em 341, foi o próprio
imperador Constantino o Grande, quem lhe confessou ter tido as duas visões que o convenceram
de que Cristo o escolhera para missões extraordinárias. A primeira delas deu-se nas vésperas da
batalha Saxa Rubia, quando ele teria visto no céu, em meio as nuvens, a poderosa imagem da
cruz e uma voz que lhe dissera Meus Pace est cum Vos . . .In Hoc Signo Vinces, “Minha paz está
contigo... com este signo vencerás”. E de fato, assim se deu. Apesar de inferiorizado, Constantino
bateu fácil o então seu rival chamado Maxêncio. Não havia, entretanto, vencido a guerra. Dias
depois, em 28 de outubro de 312, um pouco antes de ter que atravessar a Ponte Milvio sobre o rio
Tibre, travando uma outra batalha para poder chegar ao centro de Roma, novamente ouviu uma
voz. Desta vez ela ordenara-lhe que removesse a águia imperial dos escudos romanos, colocando
um outro símbolo no seu lugar. De imediato Constantino providenciou a alteração , afixando neles
as letras “chi” (“c” em grego, que tinha forma de um xis) e “rho” (“p” em grego), que vinham a ser as
iniciais gregas de Cristo, logo encimadas pela coroa de espinhos. Os inimigos foram esmagados
nas estreituras da ponte, e o próprio Maxêncio pereceu afogado no Tibre.

A Conversão de Constantino - O Édito da tolerância

Aparentemente aquela era mais uma das tantas batalhas travadas entre os caudilhos romanos -
começadas quatro século antes pela vitória de Sila no ano de 82 a.C. - , para decidir quem seria o
senhor dos destinos da Cidade Eterna. Porém não foi assim. Ela, a batalha da ponte Milvio, mudou
não só o império mas boa parte do mundo. No ano seguinte à vitória, em 313, em sinal de gratidão,
o imperador vitorioso publicou o Édito de Tolerância em Milão, concedendo liberdade religiosa aos
cristãos, considerando sua fé como religio licita. O alivio entre os perseguidos foi imenso. A longa
caçada que o governo romano movera por dois séculos e meio contra os seguidores de Cristo,
com sua esteira de mártires, vítimas da tortura e de flagelos mil, chegava ao seu fim.
Uns anos antes de Constantino alçar-se ao poder, Diocleciano um dos seus antecessores,
culpando os cristãos pelo incêndio do palácio da Nicomédia, ocorrido em 303, ordenara uma
implacável batida geral em todo império contra eles (encarcerou inclusive São Nicolau, o Nicolau
de Myra, um velhinho de barbas bem brancas que adorava presentear a meio mundo,
carinhosamente conhecido mais tarde como Santa Claus, o nosso Papai Noel). Foi a última que
eles sofreram, pois com Constantino tudo se alterou, tanto é que ele determinou a construção de
basílicas por todos os lados para celebrar sua adesão à Revolução da Cruz. Todavia, mesmo
convertido à doutrina da mansidão, o imperador não livrou-se das paranóias e das brutalidades
inerentes ao cargo. Insuflado pela imperatriz Fausta, sua segunda mulher, Constantino ordenou,
em 326, que estrangulassem o seu filho Crispo, em quem viu atos conspirativos.

Em busca da expiação
Constantino vez a cruz no céu, o signo da sua vitória
Não suportando a morte do neto favorito, horrorizada com o acontecido, Helena, a imperatriz-mãe,
desancou-lhe o verbo, passando-lhe uma reprimenda em regra. Inteirando-se do caso, das
maquinações da nora, é bem provável que a augusta matrona tenha exigido que Constantino,
carrasco do filho, executasse também a esposa, que até então lhe dera cinco outros filhos.
Obediente à matriarca, ele assim o fez, determinando aos seus sicários que esfaqueassem Fausta
na hora do banho. Deu-se-lhe então uma enorme culpa. A morte de Crispo e de Fausta deixou
Constantino e a sua mãe arrasados. Caíram em depressão. Foi então que Helena, quase uma
octogenária, seguramente em busca da expiação dos pecados, partiu de Nápoles para a Palestina,
a pátria piedosa de Jesus e das relíquias sagradas. Se bem que já existisse em Jerusalém um
roteiro dos Lugares Santos, fixando os passos do galileu na cidade, Helena pôs mãos à obra.

Com os vastos recursos do império à disposição, e mesmo da fortuna pessoal dela, do filho e da
ex-nora assassinada, com impressionante dedicação e energia, liderando uma equipe de
arqueólogos, arquitetos e engenheiros, ela determinou a construção do Santo Sepulcro e de
inúmeras outras obras sacras espalhadas pela Terra Santa. Não só isso. Numa das escavações
feitas no alto do Gólgota, em busca do sepulcro onde o corpo de Cristo teria sido colocado findo o
suplício, encontraram três antigas cruzes bem próximas umas das outras. Foi a glória de Helena. O
próprio lenho onde o Senhor fora sacrificado, a Santa Cruz, caíra em suas mãos. A augusta mãe
sentiu-se então redimida (a Igreja Cristã também , canonizando-a como Santa Helena). De alguma
forma ela supôs que tal graça era sinal de que os crimes do filho estavam perdoados. E assim,
resultado de batalhas vencidas, de crimes seguidos de arrependimentos, o cristianismo se afirmou
como religião oficial do império romano e de parte considerável do mundo.

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