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Constantino

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Constantino I

Imperador Romano

Reinado 25 de julho de 306
a 22 de maio de 337

Predecessores Constâncio I
Galério

Sucessores Constantino II
Constâncio II
Constante I

Coimperadores Galério (306–311)
ou rivais Valério Severo (306–307)
Magêncio (306–312)
Maximiano (306–308)
Licínio (308–324)
Maximino II (310–313)

Nascimento c. 27 de fevereiro de 272


Naísso, Mésia Superior, Império Romano

Morte 22 de maio de 337 (65 anos)
Nicomédia, Bitínia, Império Romano do Oriente

Sepultado em Igreja dos Santos Apóstolos

Nome completo Flávio Valério Constantino

Esposas Minervina
Fausta

Descendência Crispo
Constantino II
Constâncio II
Constantina
Constante I
Helena

Dinastia Constantiniana

Pai Constâncio I

Mãe Helena

Religião Cristianismo
(anteriormente politeísmo romano)

 Nota: Para outros significados, veja Constantino (desambiguação).


Constantino I (Naísso, 27 de fevereiro de 272 – Nicomédia, 22 de
maio de 337), também conhecido como Constantino, o Grande, foi
um imperador romano, proclamado Augusto pelas suas tropas em 25 de
julho de 306,[1] que governou uma porção crescente do Império Romano até a
sua morte.[2]
Constantino derrotou os imperadores Magêncio e Licínio durante as guerras
civis. Ele também lutou com sucesso contra os francos e alamanos,
os visigodos e os sármatas durante boa parte de seu reinado, mesmo depois
da reconquista da Dácia, que havia sido abandonada durante o século anterior.
Constantino construiu uma nova residência imperial em Bizâncio, chamando-a
de Nova Roma. No entanto, em honra de Constantino, as pessoas chamavam-
na de Constantinopla, que viria a ser a capital do Império Romano do
Oriente durante mais de mil anos. Devido a isso, ele é considerado como um
dos fundadores do Império Romano do Oriente. Hoje, ela é nomeada 'Istambul'
e foi também, capital do Império Turco-Otomano, de 1453 até o final deste em
1922.

Fontes
Constantino era um governante de grande importância histórica e sempre foi
uma figura controversa.[3] As flutuações na reputação de Constantino refletem a
natureza das fontes antigas de seu reinado. Estas são abundantes e
detalhadas,[4] mas foram fortemente influenciadas pela propaganda oficial do
período,[5] e são muitas vezes unilaterais.[6] Não há histórias de sobreviventes ou
biografias que lidaram com a vida de Constantino e do Estado. [7] Os mais
próximos subsídios são a Vida de Constantino de Eusébio de Cesareia, uma
obra que é uma mistura de elogio e hagiografia.[8] Escrito entre 335 e cerca de
339,[9] a Vita exalta virtudes morais e religiosas de Constantino.[10] A Vita cria
uma imagem tendenciosamente positiva de Constantino, [11] que os historiadores
modernos vêm frequentemente contestando a sua fiabilidade. [12] A mais
completa vita secular de Constantino é do anónimo Origo Constantini.[13] Uma
obra de data incerta,[14] o Origo concentra-se em acontecimentos militares e
políticos, em detrimento de assuntos culturais e religiosos. [15]

Ascensão a Augusto do Ocidente


Nascido em Naísso, na Mésia Superior (actual Niš na Sérvia), filho
de Constâncio Cloro (ou Constâncio I Cloro) e da filha de um casal de donos de
uma albergaria na Bitínia, Helena de Constantinopla,[16] Constantino teve uma
boa educação — especialmente por ser filho de uma mulher de língua grega e
haver vivido no Oriente grego, o que facilitou-lhe o acesso à cultura bilíngue
própria da elite romana — e serviu no tribunal de Diocleciano depois do seu pai
ter sido nomeado um dos dois césares, na altura um imperador júnior,
na Tetrarquia em 293. Embora a sua condição junto de Diocleciano fosse em
parte a de um refém, Constantino serviu nas campanhas do césar Galério e de
Diocleciano contra os sassânidas e os sármatas. Aquando da abdicação
conjunta de Diocleciano e Maximiano em 305, Constâncio seria
proclamado augusto, mas Constantino seria descartado como césar em
proveito de Valério Severo (também conhecido modernamente como Severo II,
título que jamais usou, para não ser confundido com o grande imperador do
século anterior, Septímio Severo).
Pouco antes da morte do seu pai, em 25 de julho de 306, Constantino
conseguiu a permissão de Galério para se reunir a ele no Ocidente, chegando
a fazer uma campanha juntamente com Constâncio Cloro contra os pictos,
estando junto do leito de morte do seu pai em Eburaco (atual Iorque)
na Britânia,[17] o que lhe permitiu impor o princípio da hereditariedade em seu
proveito, proclamando-se "césar" e sendo reconhecido como tal por Galério,
então feito "augusto" do Oriente.[18] Desde o início de seu reinado, assim,
Constantino tinha o controle da Britânia, Gália, Germânia e Hispânia, com sua
capital em Augusta dos Tréveros, cidade que fez embelezar e fortificar.

Termas construídas por Constantino em Augusta dos Tréveros (Tréveris), capazes de atender


milhares de pessoas

Nos dezoito anos seguintes, combateu uma série de batalhas e guerras que o
fizeram o governador supremo do Império Romano. Como Maximiano desejava
retomar a sua posição de augusto, da qual se havia afastado a contragosto
juntamente com Diocleciano, Constantino recebeu-o na sua corte e aliou-se a
ele por um casamento em 307 com a filha de sete anos de Maximiano, Fausta,
[a]
 o que lhe permitiu ser reconhecido tacitamente como Augusto em 308 por
Galério numa conferência tetrárquica em Carnunto (atual Petronell-
Carnuntum na Áustria). Em 309, no entanto, Constantino enfrentaria o seu
sogro, que tentava recuperar abertamente o poder, capturando-o
em Marselha e mandando assassiná-lo. Em 310, Constantino seria
formalmente reconhecido como Augusto por Galério. [19] Severo havendo sido
entrementes eliminado, em 307, por Magêncio, filho de Maximiano que se
havia proclamado imperador em Roma, Constantino deveria acabar por
enfrentar o seu cunhado para conseguir o domínio completo do Ocidente
romano. Após uma série de mediações fracassadas e lutas confusas,
Constantino, após apoiar o usurpador africano Lúcio Domício Alexandre,
cortando o fornecimento de trigo de Roma, de 308 a 309, desceu em 312 até
Itália para eliminar Magêncio.
Essas guerras civis constantes e prolongadas fizeram de Constantino, antes de
mais nada, um reformador militar, que, para aumentar o número de tropas à
sua disposição imediata, constituiu o cortejo militar do imperador (comitatus)
num corpo de tropas de elite autossuficiente - um verdadeiro exército de
campanha — principalmente pelo recrutamento de grande número de
germanos que se apresentavam ao exército romano nos termos de diversos
tratados de paz, a começar pelo rei alamano Croco II, que teve um papel
decisivo na aclamação de Constantino como Augusto. [20]

Religião
Fólis de Constantino, cunhada em Lugduno, na Gália, por volta de 310, com o Deus Sol Invicto

O facto de Constantino ser um imperador de legitimidade duvidosa foi algo que


sempre influiu nas suas preocupações religiosas e ideológicas: enquanto
esteve diretamente ligado a Maximiano, ele apresentou-se como o protegido
de Hércules, deus que havia sido apresentado como padroeiro de Maximiano
na primeira tetrarquia. Ao romper com o seu sogro e após o ter eliminado,
Constantino passou a colocar-se sob a proteção da divindade padroeira dos
imperadores-soldados do século anterior, Deus Sol Invicto, ao mesmo tempo
que fez circular uma ficção genealógica (um panegírico da época. Para
disfarçar a óbvia invenção, dizia, dirigindo-se retoricamente ao próprio
Constantino, que se tratava dum facto "ignorado pela multidão, mas
perfeitamente conhecido pelos que te amam") pela qual ele seria o
descendente do imperador Cláudio II — ou Cláudio Gótico — conhecido pelas
suas grandes vitórias militares, por haver restabelecido a disciplina no exército
romano, e por ter estimulado o culto ao Sol.[21]
Constantino acabou, no entanto, por entrar na História como primeiro
imperador romano a professar o cristianismo, na sequência da sua vitória
sobre Magêncio na Batalha da Ponte Mílvia, em 28 de outubro de 312, perto
de Roma, que ele mais tarde atribuiu ao Deus cristão. Segundo a tradição, na
noite anterior à batalha sonhou com uma cruz, e nela estava escrito em latim:

“ In hoc signo vinces”



De manhã, um pouco antes da batalha, mandou que pintassem uma cruz nos
escudos dos soldados e conseguiu uma vitória esmagadora sobre o inimigo.
Esta narrativa tradicional não é hoje considerada um facto histórico, tratando-se
antes da fusão de duas narrativas de factos diversos encontrados na biografia
de Constantino pelo bispo Eusébio de Cesareia.
No entanto, é certo que Constantino era atraído, enquanto homem de Estado,
pela religiosidade e pelas práticas piedosas — ainda que se tratasse da
piedade ritual do paganismo: o senado, ao erguer em honra a Constantino o
seu arco do triunfo, o Arco de Constantino, fez inscrever sobre este que sua
vitória se devia à "inspiração da divindade" (instinctu divinitatis mentis), o que
certamente ia ao encontro das ideias do próprio imperador. Até um período
muito tardio do seu reinado, no entanto, Constantino não abandonou
claramente a sua adoração com relação ao deus imperial Sol, que manteve
como símbolo principal nas suas moedas até 315.
Cristograma de Constantino

Só após 317 é que ele passou a adotar clara e principalmente lemas e


símbolos cristãos,[22] como o "chi-ró", emblema que combinava as duas
primeiras letras gregas do nome de Cristo ("X" e "P" sobrepostos). No entanto,
já quando da sua entrada solene em Roma em 312, Constantino se recusou a
subir ao Capitólio para oferecer culto a Júpiter, atitude que repetiria nas suas
duas outras visitas solenes à antiga capital para a comemoração dos jubileus
do seu reinado, em 315 e 326.[23]
A sua adoção do cristianismo pode também ser resultado de influência
familiar. Helena, com grande probabilidade, havia nascido cristã e demonstrou
grande piedade no fim da sua vida, quando realizou uma peregrinação à Terra
Santa, localizou em Jerusalém uma cruz que foi tida como a Vera Cruz e
ordenou a construção da Igreja do Santo Sepulcro, substituindo o templo
a Afrodite que havia sido instalado no local — tido como o do sepultamento de
Cristo — pelo imperador Adriano.
Mas apesar do seu batismo, há dúvidas se realmente ele se tornou cristão.
A Enciclopédia Católica afirma: "Constantino favoreceu de modo igual ambas
as religiões. Como sumo pontífice ele velou pela adoração pagã e protegeu
seus direitos". E a Enciclopédia Hídria observa: "Constantino nunca se
tornou cristão". No dia anterior ao da sua morte, Constantino fizera um
sacrifício a Zeus, e até o último dia usou o título pagão de pontífice
máximo (pontifex maximus). E, de facto, Constantino, até ao dia da sua morte,
não havendo sido batizado, não participou de qualquer ato litúrgico, como
a missa ou a eucaristia. No entanto, era uma prática comum na época retardar
o batismo, que era suposto oferecer a absolvição a todos os pecados
anteriores — e Constantino, por força do seu ofício de imperador, pode ter
percebido que as suas oportunidades de pecar eram grandes e não desejou
"desperdiçar" a eficácia absolutória do batismo antes de haver chegado ao fim
da vida.[24]
Qualquer que tenha sido a fé individual de Constantino, o facto é que ele
educou os seus filhos no cristianismo, associou a sua dinastia a esta religião, e
deu-lhe uma presença institucional no Estado romano (a partir de Constantino,
o tribunal do bispo local, a episcopalis audientia, podia ser escolhida pelas
partes de um processo como tribunal arbitral em lugar do tribunal da cidade [25]).
E quanto às suas profissões de fé pública, num édito do início de seu reinado,
em que garantia liberdade religiosa, ele tratava os pagãos com desdém,
declarando que lhes era concedido celebrar "os ritos de uma velha
superstição".[26]
Esta clara associação da casa imperial ao cristianismo criou uma situação
equívoca, já que o cristianismo se tornou a religião "pessoal" dos imperadores,
que, no entanto, ainda deveriam regular o exercício do paganismo — o que,
para um cristão, significava transigir com a idolatria. O paganismo retinha ainda
grande força política — especialmente entre as elites educadas do Ocidente do
império — situação que só seria resolvida por um imperador
posterior, Graciano, que renunciaria ao cargo de pontífice máximo em 379 —
sendo assassinado quatro anos depois por um usurpador, Magno Máximo.
Somente após a eliminação de Máximo e de outro usurpador pagão, Flávio
Eugénio, por Teodósio I é que o cristianismo tornar-se-ia a única religião legal
(395).
O imperador romano Constantino participou em grande parte na inclusão na
igreja cristã, mas, não na questão dos dogmas, pois, isso cabia aos bispos e
Constantino não tinha formação teológica para tal. Um Édito dos mais
conhecidos foi o Édito de Constantino, promulgado em 321, que determinou
oficialmente o domingo como dia de repouso, com exceção dos lavradores —
medida tomada por Constantino. Na verdade Constantino utilizou-se da sua
prerrogativa de, como Pontífice máximo, de fixar o calendário das festas
religiosas, dos dias fastos e nefastos (o trabalho sendo proibido durante estes
últimos).[27]

Reformas religiosas, militares e administrativas


Ver também: Constantinismo, Perseguição religiosa no Império
Romano e Reviravolta de Constantino

Constantino: mosaico em Santa Sofia

Constantino legalizou e apoiou fortemente a cristandade por volta do tempo em


que se tornou imperador, com o Édito de Milão, mas também não tornou o
paganismo ilegal ou fez do cristianismo a religião estatal única. Na sua posição
de pontífice máximo — cargo tradicionalmente ocupado por todos os
imperadores romanos, e que tinha a ver com a regulação de toda e qualquer
prática religiosa no império — estabeleceu as condições do seu exercício
público e interferiu na organização da hierarquia quando convocado, seguindo
uma prática, no que diz respeito aos cristãos, que já havia sido inaugurada por
um imperador pagão, Aureliano, que fora chamado a arbitrar uma querela entre
o bispado de Antioquia e o bispado de Roma, que excomungara Paulo de
Samósata, bispo de Antioquia, por heresia. O imperador reafirmara o que já era
do direito circunscricional da Igreja Romana — ou seja, que as igrejas cristãs
locais, no que diz respeito a sua organização administrativa — inclusive quanto
a eleição dos bispos — deveriam reportar-se à igreja de Roma, a capital.
A sua vitória em 312 sobre Magêncio resultou na ascensão ao título
de augusto ocidental, ou soberano da totalidade da metade ocidental do
império, reconhecida pelo pagão Licínio, único augusto do Oriente após a
eliminação de Maximino Daia. A vitória de Constantino teve uma consequência
militar imediata: Constantino aboliu definitivamente a guarda pretoriana, que
havia sustentado Magêncio e, com ela, os interesses políticos da
aristocracia italiana, substituindo-a por um corpo de tropas de elite ligadas à
pessoa do imperador, as escolas palatinas, que, a partir daí, seriam o núcleo
do sistema militar romano, enquanto os velhos corpos de tropa territoriais eram
negligenciados.[28] As escolas eram principalmente regimentos de cavalaria, que
serviam como uma força-tarefa ligada à pessoa do imperador, e seu principal
objetivo era garantir uma capacidade de ação imediata em caso de guerra civil
ou externa; quanto às forças de defesa territorial, os limítanes, estas acabaram
por se reduzir a uma mera força policial de fronteira, entrando em declínio
imediato na sua capacidade combativa.[29] O objetivo destas reformas militares
era principalmente político, colocando a quase totalidade das forças militares
móveis à disposição imediata do imperador — com a exceção de certas
unidades territoriais que eram equiparadas às forças móveis e
chamadas pseudocomitatenses — concentradas em áreas urbanas onde
pudessem ser mantidas abastecidas pelos fornecimentos que eram agora a
maior parte do soldo militar (os pagamentos em dinheiro, tornando-se
recompensas esporádicas pagas aquando da ascensão ou dos jubileus de
ascensão do imperador ao trono).[30]
Quando Licínio expulsou os funcionários cristãos da sua corte, Constantino
encontrou um pretexto para enfrentar o seu colega e, tendo negada permissão
para entrar no Império do Oriente durante uma campanha contra os sármatas,
fez disto a razão para derrotar e eliminar Licínio em 324, tornando-se
imperador único.
Diante da ameaça da heresia ariana, que ameaçava as bases da Doutrina
Cristã, Constantino, convocou o Primeiro Concílio de Niceia, um grande centro
urbano da parte oriental do império, em 325, um ano depois da queda de
Licínio. Duas questões principais foram discutidas em Niceia (atual İznik): a
questão da Heresia Ariana que dizia que Cristo não era divino, mas o mais
perfeito das criaturas, e também a data da Páscoa. É sabido que o imperador
não tinha especial preocupação com discussões filosófico-doutrinárias, assunto
que delegava aos "acadêmicos", nem fazia questão em ser a autoridade
suprema da Igreja, pois reconhecia a autoridade do Bispo de Roma.
"O que encontramos aqui em Constantino ainda não é cesaripapismo
[31]

bizantino, isto é, tutela absoluta da Igreja por parte do imperador. Bem mais, a
forma do concílio imperial era tão nova quanto era novo o fato de um imperador
amigo dos cristãos ser soberano do Império".
Constantino só foi batizado e cristianizado no final da vida. Ironicamente,
Constantino poderá ter favorecido o lado perdedor da questão ariana, uma vez
que ele foi batizado por um bispo ariano, Eusébio de Nicomédia (que não deve
ser confundido com o biógrafo do imperador, Eusébio de Cesareia). A
inclinação que Constantino e seu filho e sucessor na condição de augusto
único, Constâncio II, demonstraram pelo arianismo, é bastante explicável, na
medida em que ambos tentaram apresentar a figura do imperador como um
análogo do Cristo ariano: uma emanação divina, reflexo terreno do Verbo.[32] A
tempestuosa relação de Constantino com a Igreja da época dá conta dos
limites da sua atuação no estabelecimento da Ortodoxia: pouco antes de sua
morte, em 335, ele mandou exilar, na capital imperial de Augusta dos
Tréveros (Tréveris), o patriarca de Alexandria Atanásio, campeão da ortodoxia,
por suas violentas atitudes antiarianas, e apesar do facto de que Atanásio
continuou a ser perseguido pelos sucessores de Constantino, o abertamente
ariano Constâncio II e o pagão Juliano, o Apóstata, foi a sua visão teológica
que acabou por prevalecer.

Estátua de Constantino em Iorque, onde foi aclamado augusto

Ao mesmo tempo que velava pela unidade religiosa do império, Constantino


quis resolver o problema da divisão da elite dirigente numa aristocracia
senatorial com acesso exclusivo às "dignidades" (as velhas magistraturas
republicanas, sem poderes ou responsabilidades, e transformadas numa mera
hierarquia de status) e numa hierarquia burocrática de funcionários imperiais
com funções administrativas efetivas e pertencentes à ordem equestre: após
326, os altos funcionários passam à pertencer à ordem senatorial (os clarissimi)
e o número de senadores passa de 600 a 2 mil, com os requisitos de entrada
elevados (em Roma, os ex-questores deixam de ser senadores, e a entrada no
senado passa a depender da pretura; na nova capital de Constantinopla, o
acesso ao senado seria garantido aos ex-titulares do posto de tribuno da plebe,
velha magistratura ressuscitada). Com a entrada do alto pessoal administrativo
na ordem senatorial, quaisquer pretensões de independência política da velha
aristocracia ficaram eliminadas; a escolha de todos os imperadores
subsequentes seria feita exclusivamente na família do imperador ou através do
exército.[33] Em contrapartida, no entanto, Constantino parece haver cedido aos
senadores no final do seu reinado o direito de elegerem, eles mesmos,
questores e pretores e assim determinarem que pessoas queriam fazer
ingressar na sua ordem, abandonando a prática da nomeação imperial de
novos senadores, a adlectio. O senado, assim, se continuou sem o poder de
fazer uma política própria, passou a ter o poder de estabelecer um "cadastro de
reserva" da administração imperial. Por outro lado, paralelamente à carreira
senatorial "padrão", a qual se chegava pela eleição às magistraturas, forma-se
uma carreira alternativa, pela qual indivíduos não oriundos da aristocracia
tradicional se tornam automaticamente senadores ao serem nomeados pelo
imperador para cargos de hierarquia senatorial. [34] Por outras palavras: o título
de senador passou a significar uma posição na hierarquia administrativa, e não
uma função pública (excetuando-se, aí, o governo local de Roma). O que
aconteceu com os senadores romanos foi apenas o exemplo mais notável do
que aconteceu em todo o império com sua cristianização: as identidades
culturais e políticas locais deixaram de contar diante da hierarquia burocrática
central.[35]

Fundação de Constantinopla
Para resolver definitivamente o problema logístico da distância entre a capital e
as principais frentes militares da época, sem recorrer ao expediente de uma
residência imperial "interina", Constantino reconstruiu a antiga cidade grega
de Bizâncio, que dedicou em 11 de maio de 330 chamando-a de Nova Roma,
dotando-a de um senado e instituições cívicas (catorze regiões, um fórum,
distribuições de trigo, um prefeito urbano) semelhantes aos da antiga Roma.
Tratava-se, no entanto, de uma cidade puramente cristã, dominada pela Igreja
dos Santos Apóstolos, junto à qual se encontrava o mausoléu onde
Constantino seria sepultado.[36] Os templos pagãos de Bizâncio foram nela
preservados, mas neles foram proibidos os sacrifícios e o culto das imagens
dos deuses.[37] Após a morte de Constantino, Bizâncio foi
renomeada Constantinopla, tendo-se gradualmente tornado a capital
permanente do império. A fundação de Constantinopla foi complementada pelo
tratado (foedus) realizado entre Constantino e seus descendentes com
os godos, que, a partir de 332, passaram a defender a fronteira do Danúbio e
fornecer homens ao exército romano, em troca de abastecimentos. [38] A
mudança da capital imperial enfraqueceu a influência do papado de Roma e
fortaleceu a influência do bispo de Constantinopla sobre o Oriente, um dos
eventos notáveis que provocariam futuramente o Grande Cisma do Oriente.

Sucessão
Um ano depois do Primeiro Concílio de Niceia, em 326, portanto, durante uma
viagem solene a Roma para a comemoração dos seus vinte anos de reinado,
Constantino mandou matar o seu próprio filho e sucessor designado Crispo, um
general competente que provavelmente foi suspeito de intrigar para derrubar o
pai. Pouco depois, sufocaria a sua segunda mulher Fausta num banho
sobreaquecido, provavelmente por suspeitar que ela tivesse intrigado contra o
seu enteado Crispo. Mandou também estrangular o cunhado Licínio, que se
havia rendido em troca da vida e chicotear até à morte o seu filho (e sobrinho
do próprio Constantino). Foi sucedido pelos seus três filhos com
Fausta: Constantino II, Constante I e Constâncio II, os quais dividiram entre si a
administração do império até que, depois de uma série de lutas confusas,
Constâncio II emergiu como augusto único.

A limes danubiana e oriental no tempo de Constantino, com os territórios conquistados no curso das


campanhas germano-sarmáticas (de 306 a 337). O mapa representa também o Império
Romano pouco depois da morte de Constantino (337), com os territórios "repartidos" entre os seus
três filhos (Constante I, Constantino II e Constâncio II)

Morte
Na Páscoa de 337 Constantino havia percebido que a sua morte chegaria em
breve. Dessa forma chamou Eusébio de Nicomédia e pediu-lhe os
sacramentos.[39] Morreu em Ancirona, nos subúrbios de Nicomédia (atual cidade
turca de Izmit), ao sul do Mar de Mármara.[40]

Apreciações póstumas
Constantino foi uma figura controversa já na sua época: o último imperador
pagão, seu sobrinho Juliano, dizia que ele era atraído pelo dinheiro e que
buscou acima de tudo, enriquecer-se e aos seus partidários [41] — traço este (de
saber enriquecer os seus amigos) que também foi reconhecido pelo
historiador Eutrópio e pelo próprio Eusébio de Cesareia.[42] O historiador
pagão Zósimo criticou severamente as suas reformas militares.[43] Mas como
primeiro imperador «cristão», Constantino foi reverenciado durante toda
a Idade Média, seja pela cristandade oriental, que o tinha como fundador
do Império Bizantino — e a Igreja Ortodoxa acabou por canonizá-lo — seja
pela ocidental, que, sem lhe atribuir o status de santo, considerava haver ele
criado os Estados Papais, territórios doados ao Papa pela chamada Doação de
Constantino. Só com o Iluminismo o seu legado começou a ser pesadamente
criticado, e o historiador inglês Edward Gibbon, no seu livro clássico sobre a "A
História do Declínio e Queda do Império Romano" caracteriza-o como um
general romano de velha cepa a quem o poder absoluto (e, por extensão, o
cristianismo) havia convertido num déspota oriental. [44] Com a secularização da
sociedade moderna, a apreciação de Constantino em função exclusivamente
das suas reformas religiosas perdeu acuidade - e ele passou a ser analisado
em termos da sua própria época, como um dos fundadores, juntamente
com Diocleciano, do Baixo-Império (ou Dominato), do qual ele estabeleceu as
estruturas políticas e sociais básicas.[36]

Notas

O Commons possui uma categoria com imagens e outros ficheiros sobre Constantino

 Constantino já era casado com Minervina e afastou-se dela para


[a] ^

poder casar-se com Fausta.

Referências
1. ↑ M. A., Linguistics; B. A., Latin. «Constantine the Great's Legacy Included
Spreading Christianity».  ThoughtCo (em inglês). Consultado em 28 de
setembro de 2020
2. ↑ «Constantine I - Christianity, Life & Death -
Biography». www.biography.com. Consultado em 5 de outubro de 2020
3. ↑ Barnes, Constantine and Eusebius, 272.
4. ↑ Bleckmann, "Sources for the History of Constantine" (CC), 14; Cameron, 90–
91; Lenski, "Introduction" (CC), 2–3.
5. ↑ Bleckmann, "Sources for the History of Constantine" (CC), 23–25; Cameron,
90–91; Southern, 169.
6. ↑ Cameron, 90; Southern, 169.
7. ↑ Bleckmann, "Sources for the History of Constantine" (CC), 14;
Corcoran, Empire of the Tetrarchs, 1; Lenski, "Introduction" (CC), 2–3.
8. ↑ Barnes, Constantine and Eusebius, 265–68.
9. ↑ Drake, "What Eusebius Knew," 21.
10. ↑ Eusebius, Vita Constantini 1.11; Odahl, 3.
11. ↑ Lenski, "Introduction" (CC), 5; Storch, 145–55.
12. ↑ Barnes, Constantine and Eusebius, 265–71; Cameron, 90–92; Cameron and
Hall, 4–6; Elliott, "Eusebian Frauds in the "Vita Constantini"", 162–71.
13. ↑ Lieu and Montserrat, 39; Odahl, 3.
14. ↑ Bleckmann, "Sources for the History of Constantine" (CC), 26; Lieu and
Montserrat, 40; Odahl, 3.
15. ↑ Lieu and Montserrat, 40; Odahl, 3.
16. ↑ Cf. Jean-Michel Carrié & Aline Roussele, L'Empire romain en mutation: des
Sévéres à Constantin, 192-337, Paris Seuil,1999, ISBN 2.02.025819.6,
pgs.219/220
17. ↑ Cf. Carrié & Roussele, ibid., pg.220
18. ↑ Carrié & Roussele, ibid., pg.743
19. ↑ Carrié & Roussele, ibid., pgs. 221/222 e 744; M. Christol & D. Nony, Rome
et son Empire, Paris, Hachette, 2003,pg.236
20. ↑ M. Christol & D. Nony, ibid.,pgs.235/236
21. ↑ Christol e Nony, op.cit., pg.236
22. ↑ Christol e Nony, op.cit., pg.237
23. ↑ Carrié & Roussele, op.cit., pgs.254/255
24. ↑ Cf. Paul Veyne, Quand notre monde est devenu chrétien, Paris, Albin
Michel, 2007, pgs.111/114
25. ↑ Brown, Peter. Power and Persuasion in Late Antiquity, Madison, The
University of Wisconsin Press, 1992, pg. 100
26. ↑ Código Teodosiano, 9.16.2, citado por Peter Brown, Rise of Christendom 2a.
edição,Oxford, Blackwell Publishing, 2003, pg. 74
27. ↑ Carrié & Rousselle, op.cit., pg.258
28. ↑ Ramsey MacMullen, Le Declin de Rome et la Corruption du Pouvoir, Paris,
Les Belles Lettres,1991, pg.308
29. ↑ Arther Ferrill, A Queda do Império Romano, Rio de Janeiro,Jorge Zahar
Editor, 1989, pg.43
30. ↑ Edward N. Luttwak, The Grand Strategy of the Roman Empire, Baltimore,
The Johns Hopkins University Press,1979, pgs.178/179
31. ↑ KAUFMANN, KOTTJE, MOELLER, WOLF (Orgs.), Thomas, Raymund,
Bernd, Hubert (2012). História Ecumênica da Igreja Vol. 1. São Paulo: Paulus,
Sinodal, Loyola. p.  135
32. ↑ Christol & Nony, op.cit., pg.259
33. ↑ Christol & Nony, op.cit., pg.247
34. ↑ Carrié & Roussele, op.cit., pgs.659/660 e 658
35. ↑ Brown, Peter. op.cit., pg. 19
36. ↑ Ir para:a b Christol & Nony, op.cit., pg.240
37. ↑ Carrié & Roussele, op.cit., pg.257
38. ↑ Christol e Nony, op.cit., pg.267
39. ↑ MONTANELLI, Indro. História de Roma. 2ª ed. Trad. Luís de Moura
Barbosa. São Paulo: Imbrasa, 1966, pág. 325.
40. ↑ «Hoje na História: 337 - Morre o Imperador Constantino I, a tempo de
receber o batismo». operamundi.uol.com.br. Consultado em 21 de maio de
2021
41. ↑ Long, Jacqueline. "Julian Augustus' Julius Caesar", IN Maria Wyke,
ed., Julius Caesar in Western Culture, Blackwell, Malden, MA,2006, pg.76
42. ↑ Apud Paul Veyne, Le Pain et le Cirque, Paris, Seuil, 1976, pg.760, nota263
43. ↑ Luttwak, Edward. op.cit., pg.188
44. ↑ Gibbon, Decline and Fall of the Roman Empire, Chicago, Encyclopaedia
Britannica, 1952, V.1, pg.256
Constantino I
Dinastia Constantiniana
c. 27 de fevereiro de 272 – 22 de maio de 337

Sucedido por
Precedido por
Constantino II, Constâncio II
Galério e Constâncio I
e Constante I
Imperador Romano
25 de julho de 306 – 22 de maio
de 337
com Galério (306–311), Valério
Severo (306–307), Magêncio (306–312),
Maximiano (306–308), Licínio (308–
324) e Maximino II (310–313)

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