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As Cruzadas: um ato de amor!

Certamente você já ouviu falar das Cruzadas, seja de maneira boa ou


ruim. Os detratores delas, geralmente escritores iluministas, as demonizam
chamando os cruzados de fanáticos religiosos que eram mandados para o
Oriente por papas gananciosos que queriam poder e destruir a pobre cultura
islâmica na região. Ou outros que não tem um argumento tão infantil, mas
falam que foram um fracasso e que não serviram para nada, porque apenas a
Primeira Cruzada foi vitoriosa e os cristãos perderam os territórios
reconquistados.

Para analisar esse interessantíssimo período histórico da Baixa Idade


Média, é preciso que abandonemos qualquer concepção moderna de mundo
como a materialista ou individualista e que olhemos do ponto de vista das
pessoas que viveram esses fatos. Cruzada é uma guerra santa, proclamada
pelo papa e que participam nobres e voluntários, assim como ordens militares
religiosas, para retomar a Terra Santa. A Terra Santa é o território no Oriente
Médio em que surgiu o Cristianismo, ou seja, a cidade de Jerusalém.
A cidade de Jerusalém já esteve no domínio de vários povos, mas o que
nos interessa agora é o domínio romano da Judéia a partir de 63 a.C., e
quando se torna uma província romana no ano 6. Como todos sabem,
Jerusalém estava sob o domínio dos judeus que acreditavam que o Messias
estava vindo. No entanto, quando Jesus Cristo é crucificado em torno de 30-33
d.C., pelos soldados romanos a mando dos fariseus, surge uma nova religião
que nasceu de uma heresia judaica, o Cristianismo. Essa religião passa a se
espalhar rapidamente pelo Império Romano, apesar dos primeiros cristãos
realizarem suas práticas religiosas escondidos das autoridades romanas. O
primeiro imperador a perseguir os cristãos foi Nero (54-68), que incendiou
Roma em 64 para colocar a culpa nos cristãos e começar a perseguição oficial.
Então a perseguição continuou por muito tempo e houve períodos de maior e
de menor perseguição. Alguns imperadores eram extremamente cruéis com os
cristãos como Nero, Domiciano, Septímio Severo, Diocleciano, mas a maioria
deles não se importava muito, e as perseguições independiam deles.

A coisa vai mudar quando em 312 o imperador Constantino decreta o fim


da perseguição oficial aos cristãos, e em seu leito de morte em 337 ele será
batizado, apesar de ser por um sacerdote ariano. A partir dele a maioria dos
imperador vão ser cristãos, apesar de alguns arianos, e em 380 o imperador
Teodósio vai se converter ao Catolicismo e declarar como religião oficial do
Império. Só que a divisão final do Império em Ocidente e Oriental é feita em
395, e o Império do Ocidente acaba caindo para os povos germânicos.

Apesar do Império do Ocidente cair em 476, boa parte de sua população


já era católica, e quando vão se formar os novos reinos bárbaros, em que os
reis eram geralmente arianos, a coisa vai complicar. Em alguns lugares a elite
bárbara ariana vai perseguir os católicos, e em outros a tolerância é plena. No
ano de 600, praticamente todos os novos reinos bárbaros já tinham os reis
convertidos ao Catolicismo. As conquistas de Justiniano de 535 a 565,
imperador do Oriente que vai reconquistar a Itália e o norte da África também
vai contribuir para o espalhamento da fé católica.

No entanto, com a morte de Maomé e o surgimento de uma nova


religião, o Islã, as coisas complicam bem mais. De 632 a 750 os convertidos ao
Islã vão seguir o ensinamento religioso da Jiade (Jihad) de guerra religiosa e
vão conquistar um imenso território no norte da África, Oriente Médio e Ásia.
No século XI, o Império Seljúcida conquistou a Ásia Menor (Turquia moderna),
que era cristã desde a época de São Paulo. Em apenas 120 anos, os
muçulmanos vão conquistar a Síria, o Egito, norte da África, quase toda a
Península Ibérica, o Império Sassânida que era persa, e vão chegar quase na
Índia. O pensamento islâmico divide o mundo em dois campos: o território do
islã e o da guerra. Não há nenhum território para o Cristianismo ou para
qualquer outra religião. Num Estado muçulmano, cristãos e judeus podem ser
tolerados sob a lei islâmica. No entanto, no islã tradicional, Estados cristãos e
judaicos devem ser destruídos e suas terras, conquistadas. 

(Europa e Norte da África no ano 600)


(Europa, Norte da África e Oriente Médio em 750)

O Império Bizantino, nome moderno para o antigo Império Romano do


Oriente, quase foi totalmente conquistado pelos muçulmanos, e teve que fazer
uma série de reformas econômicas pesadas de livre mercado e abandonar a
gigantesca burocracia romana, para sobreviver ao longo do século VII. Após
aguentar o tranco e voltar lentamente a ser hegemônico ao longo dos anos de
717 a 1025, sobrevivendo também a ataques dos ávaros e dos búlgaros, o
Império Bizantino recupera alguns territórios nos Balcãs até 1025. No entanto,
em 1054 tem o Grande Cisma do Oriente quando o Cristianismo se divide em
Igreja Católica Apostólica Romana e Igreja Ortodoxa, e o Império Bizantino
acaba ficando com a Igreja Ortodoxa. Soma-se a isso, o novo Império dos
turcos seljúcidas que passam a atacar pesadamente o Império Bizantino a
partir de 1064, chegam nos portões de Constantinopla em 1076, e
conquistando quase toda a Turquia até 1095.

É nesse contexto que começa a Primeira Cruzada em 1095, com o


imperador bizantino Aleixo I pedindo ajuda militar do Concílio de Placência no
conflito do império com os turcos liderados pelos seljúcidas. Isso foi seguido no
final do ano pelo Concílio de Clermont, durante o qual o papa Urbano II apoiou
o pedido bizantino de ajuda militar e também exortou os cristãos fiéis a
empreender uma peregrinação armada a Jerusalém.
(divisão entre Cristãos Ortodoxos e Católicos após 1054)
(Anatólia em 1097, antes do Cerco de Niceia e da Batalha de Dorileia)

Os governantes islâmicos nos territórios cristãos conquistados eram


extremamente discriminatórios e intolerantes com os cristãos e judeus. Se você
escolhesse se manter um cristão ou judeu, você estaria sujeito a uma série de
instituições discriminatórias, você seria obrigado a usar certas roupas que
distinguem você do resto, você não podia levar provas num tribunal contra um
muçulmano, você não poderia comprar um cavalo, não poderia construir novas
casas de culto, teria que pagar impostos especiais como o jizya, um imposto
por cabeça, ou o Kharaj, um imposto sobre a terra. Além disso, você poderia
estar sujeito à perseguições à qualquer momento. Aqueles cristãos ou judeus
que não se convertessem ao islã, eram deixados em paz desde que pagassem
seus impostos especiais e não desrespeitassem o califa. Não podemos ter
certeza da porcentagem de pessoas por religião nesses novos territórios
muçulmanos, mas sabemos por exemplo que no Egito, até a peste negra na
década de 1340, a religião majoritária era o Cristianismo Copta. Já para os
pagãos, os muçulmanos ofereciam a conversão ao Islã ou a morte, tirando o
Zoroastrismo persa.

O primeiro califado foi o Omíada, de 660 a 750, onde a capital era


Damasco na Síria. Durante esse período, os islâmicos vão usar um estilo de
arte predominantemente grego, e você não veria muita diferença entre a arte
islâmica neste período, com a arte bizantina. No entanto, quando muda para o
califado Abássida é que o mundo islâmico passa a ser meio alienígena para os
olhos ocidentais, quando eles mudam a capital para Bagdá. O islã passa a ter
enorme influência persa com isso, já que antes os servos eram gregos. O
zoroastrismo dos persas foi encarado da mesma forma que o judaísmo e o
Cristianismo. Bagdá se tornou um grande polo comercial, e a cidade atingiu 1
milhão de habitantes em 940, a segunda cidade a atingir essa patamar, sendo
Roma a primeira.

Embora os bizantinos tenham recuperado Creta, Chipre e a cidade de


Antióquia, e todas as áreas gregas, eles não tinham interesse em retomar
Damasco. Durante o reinado de Basílio II, ele poderia ter retomado Jerusalém,
mas ele estava mais focado nos Balcãs, e porque ele não queria que um
contigente de muçulmanos entrassem no Império Bizantino, porque não
saberia como lidar com eles.

Após 850, o califado Abássida começou a se separar em áreas


separadas e semi-separadas. Na Espanha você vai ter o califado da Andaluzia
ou Al Andaluz, no norte da África e na Síria você tem o Califado Fatímida, e na
Síria e Iraque vai ter o Califado Abássida e outros. O mais rico e poderoso era
o Califado Fatímida, que tinha a capital em Cairo, e eram xiitas. O Califado
Fatímida tinha os lugares sagrados do Islã, as cidades de Medina e Meca, e os
lugares sagrados cristãos e judeus, que é Jerusalém. Além disso, o Califado
Fatímida estava em paz com o Império Bizantino. Mas após a década de 1060,
quando as inundações do Nilo falham, o Califado Fatímida inteiro começa a
entrar em caos. E foi o carregamento de comida da Crimeia e de
Constantinopla, feita pelo Império Bizantino, que manteve o Califado Fatímida
estável durante 20 anos. A partir de 1007, o terrível califa do califado Faítimida,
Abu Ali Almançor Taricu Aláqueme, começou a perseguição ativa dos cristãos
de Jerusalém, e destruiu a Igreja do Santo Sepulcro em 1010.

O Império Bizantino começa a decair lentamente a partir de 1025,


porque ele era governado por um número de cidades facções, a aristocracia
fundiária e a administração civil, ambas que achavam que seus interesses
estariam garantidos se desmantelassem as forças armadas. Eles queriam
abolir as milícias camponesas, que por séculos foram a espinha dorsal da
defesa bizantina.

O califado Abássida vai ser influenciado pela cultura helenística e cristã


de Damasco, e pela cultura persa de Bagdá. Teve um período que os
escritores islâmicos consideram como uma Revolução Científica Islâmica. Eles
inventaram a destilação de álcool, o primeiro uso da bússula, grandes
descobertas na matemática, a tradução para o árabe via siríaco dos clássicos
filosóficos gregos, etc. Mas a partir de 861 até 945, vai ter uma decadência
interna, perdendo as províncias periféricas. Então o califado se fragmenta em
vários estados concorrentes.

Parece que está tudo bem, os califados se entendendo com os


bizantinos, então o que dá errado para começar a Primeira Cruzada? Os
turcos. Os turcos entraram no Oriente Médio por volta do século VI, e
trabalharam como mercenários para o imperador bizantino. Eles eram tribos
nômades que às vezes se convertiam ao Cristianismo, mas na maioria das
vezes se convertiam ao Islã, principalmente a partir do século VII. A partir dos
séculos IX e X, os turcos são cada vez mais levados ao serviço pelos califas
abássidas, e são usados como soldados e administradores. Os principais
inimigos dos turcos eram o Califado Fatímida. O principal golpe que os
bizantinos sofreram foi em 1071, quando os turcos ganham de um exército
mercenário do imperador Romano IV, e capturam o imperador. O sultão
Alparslano então fala para Romano IV: “se você tivesse ganhado, o que faria
comigo?”; e Romano IV responde algo como: “Bom, eu poderia ter colocado
você em uma exposição neste hipódromo em Constantinopla, ou poderia ter te
matado, algo assim”. Então Alparslano fala: “Então eu farei algo melhor que
isso, eu te libero, pode ir para casa”. E nos próximos anos até 1095, os turcos
seljúcidas tomam toda a Turquia, que agora estava em um controle frouxo de
um grupo de senhores da guerra turcos. E os turcos vão formar o Império
Seljúcida, e o Sultanato de Rum na Turquia, que vai durar até 1308. Os turcos
proibiram a peregrinação cristã no território que conquistaram, e passaram a
atacar peregrinos, roubá-los, e até escravizavam eles, e esse é um dos motivos
para começar a Primeira Cruzada.

Então diante dessa situação, o imperador bizantino Aleixo I Comneno,


que assumiu em 1081, faz uma série de medidas para controlar a situação. Ele
assume com 24 anos e era um homem muito inteligente, e uma das primeiras
coisas que faz é fazer uma aliança com os venezianos. Essa aliança era
porque os normandos tomaram as possessões bizantinas no sul da Itália e
fizeram o reino deles lá, o reino da Sicília, e os venezianos iriam proteger os
bizantinos contra ataques dos normandos nos Balcãs. Aleixo também apoia os
territórios balcânicos sobreviventes do Império, e tenta lentamente recuperar
áreas dominadas pelos turcos. Só que Aleixo não tinha mercenários o
suficiente, não tinha soldados o suficiente, e então escreve ao papa Urbano II
pedindo ajuda. O papa convoca os nobres no Concílio de Clermont em 1095,
começando assim a Primeira Cruzada.
Fazendo uma rápida análise do clima, a partir do ano 900 vai começar o
período medieval quente, que vai durar até 1300. Nesse período vai ter uma
Revolução Agrícola na Europa medieval que vai fazer com que a população da
Europa dobre de 1000 a 1347, antes da peste negra. Para se ter uma ideia, as
estimativas são: na Itália havia 4 milhões de pessoas em 500, 2,5 milhões em
650, 5 milhões em 1000, 10 milhões em 1340; em Espanha e Portugal havia 4
milhões em 500, 3,5 milhões em 650, 7 milhões em 1000, 9 milhões em 1340;
na França e Holanda havia 5 milhões em 500, 3 milhões em 650, 6 milhões em
1000, 19 milhões em 1340; na Alemanha e Escandinávia havia 3,5 milhões em
500, 2 milhões em 650, 4 milhões em 1000, 11,5 milhões em 1340.

Além disso, as invasões vikings e dos magiares já tinham acabado na


Europa por volta de 1050, e a França, Alemanha e Inglaterra eram governadas
por relações feudais ou semi-feudais que garantiam uma descentralização
política, que promovia a prosperidade econômica e social. Muitos servos vão
ser libertados e vão começar a ir para as cidades que estão crescendo rápido e
vão começar a fazer parte da burguesia ou da baixa nobreza.

O discurso do papa Urbano II é icônico, porque ele convoca qualquer


homem fisicamente capaz deve pegar a cruz e marchar para o leste, e não
para salvar o Império Bizantino, mas para recuperar os lugares sagrados para
a Cristandade. No seu discurso ficou famosa a frase “Deus Vult” que seria algo
como “A Vontade de Deus”, falando que é a vontade de Deus que retomemos a
Terra Santa dos invasores infiéis.

(Papa Urbano II Pregando na Primeira Cruzada - Francesco Hayez)


(Estátua do Papa Urbano II em Clermont, hoje Clermont-Ferrand.)

No entanto, antes de falar da Primeira Cruzada em específico, vamos


falar de um evento engraçado que aconteceu no mesmo ano, 1096, que foi a
Cruzada dos Mendigos. Pedro, o Eremita conseguiu reunir uma multidão de
velhos, mulheres e crianças, para ir para Jerusalém. Começaram a atacar
judeus europeus, para conseguir dinheiro para fazer a cruzada, os primeiros,
foram os judeus da Renânia. Ele conseguiu reunir 100.000 pessoas para seu
exército. Parte deles foram aniquilados pelos búlgaros, e apenas 30.000
chegaram em péssimas condições em Constantinopla. O imperador bizantino,
obrigou-os a se alojar perto da fronteira muçulmana, onde foram arrasados
pelos turcos. Somente um pequeno grupo sobreviveu e conseguiu se juntar aos
cavaleiros da 1ª Cruzada. O exercito do Eremita conseguiu uma vitória em
Nicéia, tomando a fortaleza da região, porém era uma armadilha dos turcos,
que os cercaram e cortaram os canais que levavam água aos invasores, e eles
morreram de sede depois de uma semana. Os que se juntaram a 1ª Cruzada
morreram de um ataque de flechas, e o q sobrou fugiu em pânico.

(Pedro, o Eremita)

A Primeira Cruzada (1096-1099)


Em agosto de 1096, partiram 4 exércitos semi-regulares para se
encontrarem em Constantinopla. Esses exércitos estavam sob a liderança
nominal de dois homens, Raimundo IV, Conde de Toulouse, que era o mais
velho, rico e experiente dos cavaleiros, e Ademar de Monteil, bispo de Le Puy,
e representante oficial do papa. Outros líderes importantes são Beomundo de
Taranto, um aventureiro normando do sul da Itália, que deu muito trabalho para
Aleixo I quando invadiu os Balcãs. Também participa seu sobrinho Tancredo,
que se torna príncipe da Galiléia e regente de Antióquia. E por fim, o grande
Godofredo de Bulhão, que era francês e foi o primeiro rei do reino de
Jerusalém. Outros que participaram foi Balduíno de Bolonha, Hugo I de
Vermandois (irmão do excomungado Filipe I da França), Robert Curthose
(irmão de William II da Inglaterra), e seus parentes, Estêvão II, conde de Blois,
e Robert II, conde de Flandres.

A filha do imperador Aleixo I, Anna Comnena, escreveu o livro A


Alexíada, publicado em 1148, que a história mais completa e sofisticada da
época.
Os cruzados chegaram em Constantinopla, com cerca de 30.000 a
35.000 homens, incluindo 5000 de cavalaria. Eles chegam com pouco comida e
pedem ajuda a Aleixo I, que pede para os líderes jurarem lealdade a ele e
retornarem ao Império Bizantino as terras recuperadas dos turcos. Então os
cruzados cruzam para a Ásia Menor, e a primeira cidade que eles precisam
tomar dos turcos é Nicéia, que é tomada em junho de 1097. Em 1 de julho, um
grande exército turco ataca as tropas de Beomundo, perto de Dorileia, que é
quase derrotado, mas a chegada de Raimundo de Toulouse e Godofredo de
Bulhão salva o dia. É nessa batalha que o bispo Ademar de Monteil leva seus
homens para a batalha.

A próxima parada é Antióquia, que é muito importante para garantir as


linhas de volta para Constantinopla. Os cruzados chegam na cidade em
outubro de 1097, e Estêvão de Blois descreve a cidade como “uma cidade
grande além da crença, muito forte e inatacável”. Antióquia tinha sido
pesadamente fortificada por Basílio II, e tinha sido tomada pelos turcos há 10
anos, só que os turcos entraram quando um traidor abriu os portões. Agora os
cruzados estão nas muralhas da cidade com os portões fechados, e em janeiro
de 1098, milhares de soldados cruzados estão morrendo de fome, chegando a
comer os próprios cavalos. Em março chega uma frota inglesa trazendo
suprimentos, mas mesmo assim muitos desanimam. Ademar considera que
isso é por causa do pecado que está assolando os cruzados, e ordena que as
mulheres sejam banidas do acampamento, e impõe uma rodada rigorosa de
orações, jejuns, e procissões sobre os muros de Antióquia. Alguns como
Estêvão de Blois desertam. No meio do caminho de volta à Constantinopla,
Estêvão encontra Aleixo I, que estava indo em direção aos cruzados para
ajudar, e fala que a cruzada está sendo um fracasso, e então os dois voltam
para Constantinopla.

Então em junho de 1098, um traidor abre os portões de Antióquia de


novo, só que desta vez para os cruzados. Então os cruzados entram e matam
a maior parte da população muçulmana, e muitos cristãos gregos, sírios e
armênios na confusão. Então Antióquia foi tomada, outra grande conquista
para os cruzados. Só que dois dias depois, em 4 de junho, um exército turco de
40.000 homens chega na cidade e agora eles que estavam fazendo um cerco.
Os cruzados ainda estão com falta de comida, e aguentam o cerco por 12 dias.
De acordo com um historiador muçulmano Ibn al-Athir, os ricos comiam seus
cavalos e os pobres comiam carniça e folhas das árvores. Beomundo e
Ademar tem que barrar os portões da cidade para evitar deserções em massa.
Peter Bartolomeu teve um sonho onde Santo André lhe mostrou a localização
da lança sagrada que perfurou Cristo na Cruz, que podia ser encontrada sob o
piso de uma catedral de Pedro em Antióquia. Então os cruzados cavam na
catedral e não acham nada, até que segundo relatos, Peter achou a lança.

(São Longino, a Santa Lança que feriu Jesus)

Então com a relíquia nas mãos, o ânimo dos cruzados aumenta


bastante, e em 28 de junho de 1098, eles marcham com a Santa Lança e
pegam o exército turco de surpresa, que são totalmente derrotados. No
entanto, depois da vitória em Antióquia, há surtos de tifo e o bispo Ademar
acaba falecendo da doença. Os cruzados se recusam a entregar Antióquia
para Aleixo I, e Beomundo é proclamado príncipe da cidade, que está disposto
a deixar os outros irem a Jerusalém sem ele.
(Miniatura do cerco de Antióquia, Sébastien Mamerot, c. 1490)

Em junho de 1099, os cruzados chegam nas muralhas de Jerusalém.


Em 15 de julho, as tropas de Godofredo de Bulhão, aproximam suas torres de
cerco perto o suficiente das muralhas para atravessar. Quando eles entraram
na cidade, fizeram um massacre, e tomaram a cidade. De acordo com a Gesta
Francorum, escrita por alguém que estava lá, disse que o Emir se rendeu aos
cruzados e abriu os portões. Desta vez os peregrinos entraram e mataram os
sarracenos até o templo de Salomão, e a batalha durou até o final do dia,
quando o templo foi coberto de sangue. Os pagãos ficaram sob a proteção de
Tancredo e Gastão de Beert. E assim termina a Primeira Cruzada.
Os Estados Cruzados (1099-1291)

Em agosto de 1099, os cruzados em Jerusalém descobriram que havia


uma grande força de reforço islâmica chegando, um grande exército egípcio.
Essa força consistia de cerca de 20.000 homens mandados pelo califado
Fatímida, e em 10 de agosto, Godofredo de Bulhão saí de Jerusalém para
combatê-los, com um exército de cerca de 10.000 homens. Em 12 de agosto,
Godofredo lança um ataque surpresa na cidade portuária de Áscalão, e
consegue uma vitória avassaladora, com cerca de 13.000 islâmicos mortos e
há um grande saque, e o vizir do Egito foge de volta para Alexandria.

Então agora os cruzados estavam estabelecidos na Terra Santa, e a


pergunta que fica é: e agora? O papa Urbano II falou para recuperar os lugares
sagrados, mas não falou nada sobre quem iria governar o local, ou se era para
entregar para o poder cristãos mais próximo, que era o Império Bizantino.
Muitos cruzados estão voltando para a Europa, só que já estavam
estabelecidos os reinos cruzados. Beomundo ficou como rei de Antióquia,
porque quando Estêvão de Blois voltou para Constantinopla e encontrou o
imperador Aleixo I, Estêvão falou que as coisas estavam indo muito ruim em
Antióquia e os cruzados estavam com tanta fome que estavam comendo seus
cavalos. Aleixo I entendeu que a cruzada tinha sido um fracasso e voltou para
Constantinopla, e Beomundo entendeu que Aleixo e os bizantinos não iriam
mais ajudá-los, e então não devolveu o domínio de Antióquia para os
bizantinos.

Em 1098, o irmão de Godofredo, Balduíno I, toma Edessa dos turcos, e


funda o condado de Edessa, onde governa como conde. A coroa de Jerusalém
é oferecida a Raimundo de Toulouse, mas ele se nega, e diz que não pode ser
rei onde Cristo uma vez reinou. Então a coroa é oferecida a Godofredo, que se
recusa a ser rei, mas governa com o título de “Protetor do Santo Sepulcro”. No
entanto, depois da batalha de Ascalão, apenas 300 cavaleiros armados restam
em Jerusalém. Além disso, em 18 de julho de 1100, Godofredo morre, e o
Patriarca Latino de Jerusalém espera governar a cidade como um protetorado
papal. No entanto, os amigos de Godofredo imediatamente convocam Balduíno
I, conde de Edessa, seu irmão. E no natal de 1100, os cruzados forçam o
Patriarca Latino a coroar Balduíno I como o rei de Jerusalém, o qual governou
até a sua morte em 1118. Balduíno estabelece boas relações com Aleixo em
Constantinopla, com os egípcios do califado Fatímida e com o califa em Bagdá,
e com os turcos. E tirando Ascalão, que só vai ser ocupada pelos cruzados em
1153, todas as cidades costeiras são ocupadas. As cidades comerciais de
Pisa, Gênova, e Veneza vão ser muito importantes porque elas tem uma frota
grande e eficaz, e vão levar soldados à Terra Santa e transportar grande
quantidade de peregrinos.

Já Beomundo que tinha se tornado o governante do principado de


Antióquia, acaba sendo capturado pelos turcos em 1100, e fica como
prisioneiro por três anos, até que alguém o resgate. E nesses 3 anos, Antióquia
é governada por seu sobrinho Tancredo. Em 1104, Beomundo retorna a
Europa para juntar soldados e dinheiro, só que para isso ele precisa passar
pelo mar controlado por Aleixo e seus aliados venezianos. Então falam que
Beomundo está morto e transportam seu corpo num caixão com furos até a
Itália. Na Itália, Beomundo chega em Roma e instiga o papa a ficar contra o
Império Bizantino, e contra Aleixo. Então ele viaja pela Europa Ocidental à
procura de dinheiro e homens. Henrique I da Inglaterra se recusa a deixá-lo
entrar, mas Filipe I da França aceita ele e oferece a mão de sua filha
Constança. Com isso, Beomundo consegue todos os homens e dinheiro que
precisava, mas em vez de voltar para Antióquia, ele lidera 34.000 homens nos
Balcãs e ataca o Império Bizantino. Em 1108, ele sitiou a cidade de Dirráquio,
mas Aleixo era esperto e bloqueia ele, forçando-o a negociar. Então os dois se
encontram e assinam o tratado de Devol, e Beomundo é forçado a jurar
lealdade a Aleixo, se torna seu vassalo e concorda em aceitar o Patriarca
Grego em Antióquia, que será governada por um homem do Império.
Beomundo foi humilhado e nunca mais pode voltar para Antióquia, e morre em
1111.

Os outros reinos do mapa que falta falar é o reino armênio da Cilícia e o


principado de Trípoli. Com o auxílio dos cruzados, os armênios defenderam-se
contra os turcos, tanto em ações militares conjuntas na Cilícia como pelo
estabelecimento dos estados cruzados em Antioquia e Edessa. O príncipe
Leão I, que governou de 1129 a 1140, anexou as cidades costeiras da Cilícia
ao principado, consolidando assim a liderança arménia na região. Leão I
acabaria por ser derrotado pelo imperador João II Comneno em 1137, que
considerava a Cilícia como uma província bizantina. Foi aprisionado,
juntamente com vários outros membros da sua família, e morreu
no cárcere três anos depois. Teodoro II, filho e sucessor de Leão I, também foi
aprisionado, mas fugiu em 1141 para voltar a lutar contra Constantinopla.
Inicialmente obteve vitórias, mas em 1158 acabaria por se declarar vassalo
de Manuel I Comneno. O primeiro membro da dinastia dos Rubenidas a obter o
título de rei seria Leão II, que subiu ao poder em 1187 ainda como príncipe. O
reino armênio da Cilícia só cairía em 1375 para o domínio do Sultanato
Mameluco do Egito.

Já o principado de Trípoli foi estabelecido em 1102 por Raimundo IV de


Toulouse, que lentamente foi tomando as fortalezas dos emires de Trípoli.
Raimundo tentou, sem sucesso, conquistar Homs, nas margens do rio Orontes,
uma cidadela cuja posse permitiria uma resistência mais prolongada. Iniciou o
cerco a Trípoli em 1104, mas a cidade resistiu ainda vários anos, abastecida
por mar pelos egípcios. O domínio só seria plenamente estabelecido em 1110
por Bertrando de Toulouse, filho de Raimundo. O condado de Trípoli prestava
vassalagem ao reino de Jerusalém, e foi um dos últimos a cair, em 1289.

A vida nos Estados Cruzados

Os Estados Cruzados duraram de 1099 até 1291, quando o último


estado caí nas mãos dos mamelucos, que é o reino de Jerusalém. Enquanto
algumas cidades ficaram 200 anos de boa, outras foram tomadas e depois
reconquistadas, como a própria Jerusalém que foi conquistada pelos
muçulmanos liderados por Saladino em 1187. Mas após a tomada de
Jerusalém em 1187 por Saladino, e da Terceira Cruzada de 1189 a 1192, o
papel dos cruzados passa a ser apenas de contenção dos territórios, e
nenhuma cruzada após a Terceira vai ser vitoriosa, a não ser a Sexta, mas que
foi vencida com diplomacia.

Quando você fosse falar com uma autoridade oficial dos reinos
cruzados, geralmente você iria falar em francês, mas quando fosse falar com
pessoas comum, geralmente você usaria o grego, ou o árabe, e outros dialetos
locais.

No reino de Jerusalém, o rei era eleito por um tribunal superior, e em


1118, Balduíno II é eleito pelo tribunal, após a morte de Balduíno I. Apesar de
tentarem implementar uma administração feudal na região, ainda havia
resquícios da administração bizantina e árabe. Por exemplo, na agricultura,
todas as terras agrícolas eram governadas por um sistema de senhorios e
inquilinos, chamado iqta, que veio dos muçulmanos. A alta corte auxiliava o rei
em todos os assuntos importantes, algo como uma Casa dos Lordes.

Sobre a população cristã no território, é estimado que cerca de metade


da população era cristã, e segundo Bernard Hamilton, cerca de 140.000
europeus imigraram para o Reino de Jerusalém na segunda metade do século
XII. Considerando que havia cerca de 230.000 cristãos ortodoxos no Reino de
Jerusalém, e que houve a chegada destes 140.000, cerca de 60% da
população do reino era cristã, e para os outros reinos cruzados deve ter sido
mais ou menos a mesma porcentagem.

De acordo com um relato de Ibn Jubair, por volta de 1170, no seu livro
que em tradução literal seria “Viagens no Egito, Palestina e Síria”: “Todos que
são novos imigrantes das terras francas tem caráter mais rude do que aqueles
que se aclimataram e se mantiveram associados com os muçulmanos”.

Outro relato é o de Usama ibn Munqidh, que escreve no final do século


XII, na sua autobiografia:

“Nós chegamos na casa de um dos velhos cavaleiros que


vieram na primeira expedição dos francos. Ele havia sido
retirado do registro e do serviço e tinha uma propriedade em
Antióquia onde ele vivia. Ele trouxe uma boa mesa e comida
extremamente limpa e excelente. Ele me viu me abstendo de
comer e disse: ‘Coma, fique tranqulo que eu não como a comida
do franco. Eu tenho mulheres egípcias como cozinheiras. Eu
como somente o que elas cozinham e carne de porco não entra
na minha casa.’. Então eu comi, cautelosamente e saímos.”.

Essa citação é interessante porque mostra a assimilação que os francos


fizeram, mostrando um cavaleiro que fala árabe bem, come comida árabe e
mora em uma casa com arquitetura oriental em Antióquia, e o que ele serve é
aceitável para seus convidados islâmicos.
(Christian And Moor Playing Chess. from The Book of Games of Alfonso X, c.
1285. Reproduced in Lebedel, "Les Croisades, origines et consequences", p.
108.)

Na Terra Santa, além dos francos católicos, havia tolerância para as


várias denominações cristãs: gregos ortodoxos, sírios ortodoxos, armênios, e
maronitas. Os cânones produzidos no Concílio de Nablus em 1120, a
constituição efetiva do Reino de Jerusalém, menciona a regulação das relações
entre cristãos e muçulmanos e cristãos e judeus. Não fala nada sobre como
tratar as outras denominações cristãs, o que sugere que não houve nenhuma
perseguição. Tanto os judeus, quanto os muçulmanos eram proibidos de se
estabelecerem na cidade de Jerusalém. Os judeus foram permitidos viver sobre
seus próprios costumes, estavam sujeitos às suas próprias leis e tribunais, a
única diferença é que seus antigos senhores muçulmanos foram substituídos
pelos francos. Aos muçulmanos foi permitido seguir a religião em todo o reino,
exceto na cidade de Jerusalém. Em outro relato do mesmo livro, Ibn Jubair fala:

“Nós deixamos Tibnin por uma estrada que passava por


fazendas onde vivem muçulmanos que se dão muito bem sob os
francos... Os muçulmanos tem suas próprias casas e se
governam à sua maneira. É assim que as fazendas e grandes
aldeias são organizadas no território franco. Muitos muçulmanos
são extremamente tentados a se estabelecer aqui quando eles
vêem as condições nada confortáveis em que seus irmãos vivem
nos distritos sob domínio muçulmano. Infelizmente para os
muçulmanos, eles sempre têm motivos para reclamar sobre as
injustiças de seus chefes e nas terras governados por seus
correligionários, enquanto eles podem ter nada além de elogios
à conduta dos francos, cuja justiça eles sempre podem confiar.”

Então podemos concluir que no reino de Jerusalém tinha um sistema


legal muito mais limpo que nos estados islâmicos circundantes. Outro relato é
de Usama ibn Munqidh, também na sua autobiografia, em que ele foi em uma
mesquita para fazer suas orações, e ele era bem amigo dos templários, que
eram donos do templo e deixaram ele entrar. Só que há um imigrante franco
que estava lá que viu que Usama estava virado para Meca enquanto rezava, e
fala que ele deveria se virar para o leste. Os templários então tiram gentilmente
esse homem e pedem desculpas a Usama, falando que ele era um recém
chegado que não entendia os costumes do local.

Usama ibn Munquidh também entra em uma disputa jurídica com um


homem conhecido como o príncipe de Baniyãs, que fica na fronteira do que
hoje é o Líbano e Israel. Então Usama leva esse caso para a alta corte em
Jerusalém, e acusa o príncipe falando que ele atacou e apreendeu seu
rebanho, falando que era a época que as vacas estavam no período fértil, e os
bezerros morreram ao nascer, e ele devolveu a manada completamente
arruinada. O rei de Jerusalém se voltou para seus seis ou sete cavaleiros, e
decidiram que o príncipe de Baniyãs devia indenizar este homem pelo gado
que ele arruinou.

É claro que não podemos falar que esses dois casos eram a regra para
como os muçulmanos eram tratados, mas mostra que houve considerável
respeito e vários casos onde os muçulmanos foram tratados com justiça.

Os cânones 13 e 14 puniam o sexo entre um homem cristão e uma


mulher escrava muçulmana, com castração e expulsão. O cânone 15 proibe o
sexo consentido entre uma mulher cristã e um homem muçulmano. Não havia
nada na lei proibindo o sexo consensual entre homens cristãos e mulheres
muçulmanas livres. Também não havia nada falando de casamento entre
pessoas de diferentes denominações cristãs, nem de um cristão e uma judia,
ou qualquer outra combinação. Após 1187, os reinos cruzados vão ficar mais
na defensiva e na esfera dos reinos católicos da Europa.

Na elite governante, o casamento entre denominações cristãs era


extremamente comum. A mulher do rei Balduíno I era Morfia de Melitene, que
era da ortodoxia armênia, e reinou Jerusalém de 1116 até 1126/28. Um dos
primos de Balduíno II, Waleran de Le Puiset se casou com a filha de um lorde
armênio em al-Bira.

Durante as duas últimas décadas, estudos de documentos, assistidos


por computador, demoliram a narrativa iluminista de que os cruzados eram
sem-terra e inúteis que aproveitaram a oportunidade para roubar e pilhar um
território distante. Especialistas descobriram que, em geral, os cavaleiros
cruzados eram homens ricos que possuíam muitas terras, e que abriram mão
de tudo voluntariamente para realizar a santa missão. Participar de uma
Cruzada não era algo barato, até senhores ricos podiam facilmente ficar pobres
junto com suas famílias por participarem de uma. Eles participavam
porque tinham a esperança de ajuntar tesouros onde nem as traças nem a
ferrugem os poderiam consumir. 

Eles tinham profunda consciência do quanto eram pecadores, e estavam


dispostos a suportar as privações da Cruzada como um ato penitencial de amor
e caridade. A Europa está repleta de documentos medievais que confirmam
esses sentimentos, documentos por meio dos quais aqueles homens falam
conosco até hoje. É claro que eles não se opunham a capturar espólios quando
isso era possível, mas as Cruzadas eram notoriamente ruins para a pilhagem.
Poucas pessoas enriqueciam, e a grande maioria retornava sem nada,
“apenas” sabendo que lutou por uma causa justa.

Urbano II deu aos cruzados dois objetivos, e ambos continuaram sendo


essenciais para as Cruzadas orientais nos séculos seguintes. O primeiro era
resgatar os cristãos do Oriente, e como disse seu sucessor, Inocêncio III:

Como pode um homem amar o próximo como a si


mesmo, segundo o preceito divino, quando, sabendo que seus
irmãos na fé são mantidos pelos pérfidos muçulmanos em estrito
confinamento e oprimidos pela mais pesada servidão, não se
dedica à tarefa de libertá-los? É por acaso que ignorais que
milhares de cristãos são mantidos na escravidão e na prisão
pelos muçulmanos, além de serem torturados com inúmeros
suplícios?

O segundo objetivo era libertar Jerusalém e outros locais santificados


pela vida de Cristo. A palavra cruzada é moderna, e os cruzados medievais
consideravam-se peregrinos que realizavam atos de justiça no trajeto em
direção ao Santo Sepulcro. Se você participasse de uma Cruzada tinha os
pecados passados e futuros perdoados pelo papa.
A reconquista de Jerusalém foi um ato de restauração, não de
colonialismo, e uma declaração aberta de amor a Deus. Os medievais sabiam,
é claro, que Deus tinha poder para reconquistar Jerusalém para si — na
verdade, Deus tinha poder para pôr o mundo inteiro sob seu governo
novamente. Porém, como pregou São Bernardo de Claraval, sua recusa em
fazê-lo era uma bênção para seu povo:

Digo novamente: levai em conta a bondade do Todo-


poderoso e prestai atenção em seus planos de misericórdia. Ele
impõe a si uma obrigação para convosco (ou antes simula isso),
de modo que possa ajudar-vos a satisfazer vossas obrigações
para com Ele… Considero abençoada a geração que pode
aproveitar a oportunidade de uma indulgência tão rica como
essa.
.
A conversão forçada dos muçulmanos nunca foi o objetivo, até porque o
bispo Alcuíno de York (735-804) já mostrou três séculos atrás, quando foi
conselheiro do imperador Carlos Magno, que toda conversão é voluntária. O
objetivo dos cruzados era derrotá-los e defenderem-se deles. Só no século XIII
que os franciscanos começaram a tentar converter os muçulmanos, mas tais
tentativas foram em grande medida infrutíferas e ao fim e ao cabo foram
abandonadas. Não era incomum muçulmanos se convertendo ao Cristianismo,
mas ocorreu em número menor.
Cinquenta anos depois, quando a Segunda Cruzada estava sendo
preparada, São Bernardo pregou muitas vezes que os judeus não deviam ser
perseguidos:

Perguntemos a qualquer um que conhece as Sagradas


Escrituras o que o Salmo vaticina sobre os judeus. “Não rezo
pela destruição deles”, ele diz. Os judeus são para nós as
palavras vivas da Escritura, pois sempre nos recordam o que
Nosso Senhor sofreu… Sob o governo dos príncipes cristãos,
eles suportam uma difícil servidão, mas “apenas esperam o
momento de sua libertação”.

Contudo, um monge cisterciense contemporâneo de São Bernardo


chamado Rodolfo incitou as pessoas contra os judeus da Renânia, apesar de
Bernardo ter escrito várias cartas para exigir que ele parasse com aquilo. No
final das contas, ele se viu obrigado a ir pessoalmente até a Alemanha, onde
alcançou Rodolfo, enviou-o de volta ao seu convento e interrompeu os
massacres. 

Judeus morreram durante as Cruzadas, mas o objetivo delas não era


matar judeus. Papas, bispos e pregadores deixaram claro que os judeus da
Europa deviam ser deixados em paz. Numa guerra moderna, chamamos
mortes trágicas como essas de “dano colateral”. Mesmo com tecnologias
inteligentes, os Estados Unidos mataram um número muito maior de inocentes
em guerras do que os cruzados jamais poderiam imaginar.

A antiga fé do cristianismo, com seu respeito pelas mulheres e sua


aversão à escravidão, não apenas sobreviveu, mas prosperou. Sem as
Cruzadas, ela poderia muito bem ter seguido o caminho do Zoroastrismo persa,
outro rival do islã, rumo à extinção. E vale lembrar que durante as Cruzadas, o
tráfico de escravos bérbere feito pelos muçulmanos foi interrompido, já que o
reino de Jerusalém agora tinha contato com o mar Vermelho.

As mulheres na Europa medieval tinham bem mais direitos do que no


resto do mundo, e obviamente bem mais do que no mundo islâmico. Uma
mulher solteira podia assinar contratos, emprestar dinheiro, dispor de suas
propriedades como quisessem. Apenas mulheres casadas tinham que ter a
permissão do marido para assinar contratos e fazer outras coisas. Em grande
parte da Europa medieval, mulheres tinham mais autonomia do que em épocas
posteriores, como no século XIX.

Nas cruzadas, não era comum um cavaleiro levar sua esposa e filhos
para a Terra Santa. No entanto, há alguns casos interessantes para ser
falados. Margaret de Beverly, uma mulher de Yorkshire, que visitou a Terra
Santa na década de 1180, lutou no cerco de Jerusalém, jogando pedras nos
sarracenos que estavam tentando escalar os muros. Ela foi feita prisioneira,
mas foi resgatada, e depois foi em várias outras peregrinações. Foi
escravizada pelos sarracenos outra vez, e novamente foi resgatada. Depois ela
voltou para Yorkshire e sua vida foi escrita por um de seus sobrinhos.

Outro caso interessante é de Eleanor da Aquitânia, que acompanhou o


rei Luís VII da França na Segunda Cruzada de 1147 a 1148. Em 1191, Ricardo
Coração de Leão, rei da Inglaterra, levou sua esposa Berengaria de Navarra e
sua filha Joana, rainha da Sicília, para a Terra Santa na Terceira Cruzada
(1189-1192). De 1247 a 1254, Margaret de Provença acompanhou seu marido,
o rei Luís IX da França, na Sétima Cruzada (1248-1254) no Egito. E em 1271,
Eleanor de Castela, acompanhou seu marido, lorde Eduardo, filho do rei
Eduardo I, na Nona Cruzada (1271-1272). É verdade que as mulheres iam para
a batalha como auxiliares dos soldados, levando comida e água, e trabalhando
como enfermeiras, mas no fronte de batalha, um sarraceno não vê diferença, e
elas teriam que batalhar como qualquer outro cruzado.

A expectativa de vida de um homem da elite inglesa na Inglaterra


medieval de 1330 a 1479 era cerca de 21,7 anos, enquanto de uma mulher da
elite era de 31,1 anos. Tudo bem que temos que considerar o efeito da peste
negra também, que dizimou quase metade da população da Inglaterra, mas
mostra que a mulher viver mais que o homem sempre foi regra. Se você é
homem e chegou nos 20 anos, você poderia esperar viver no máximo até os
40, e se você é mulher, você esperaria viver até os 60.

Como governantes, se destaca Melisenda de Jerusalém (1105-1161),


que governou Jerusalém desde a morte de seu pai Balduíno II em 1131 até
1153. Ela fez questão de preencher todos os cargos em Jerusalém com seus
apoiadores e ela era popular entre o povo comum. De acordo com William de
Tiro, ela reinou com tanta habilidade que é considerada equiparável a seus
antecessores. Se ela tivesse viva no cerco de Jerusalém feito por Saladino em
1187, o destino da cidade poderia ter sido diferente.

Como guerreira, se destaca Florine da Borgonha (1083-1097), filha de


Eudo I, duque da Borgonha, e Sibylla da Borgonha. Ela se casou com Sweyn,
filho de Sweyn II da Dinamarca, e ela e seu marido levaram 1500 cavaleiros
para a Terra Santa na Primeira Cruzada. Eles foram pegos de surpresa na
Turquia, e em número menor, Sweyn conseguiu se defender dos turcos por um
dia, incluindo Florine, que lutou bravamente ao seu lado, mas foi ferida por sete
flechas. Ambos caíram juntos no campo de batalha, depois de ter visto todos
os seus cavaleiros e mais fiéis servos perecerem ao seu redor.

Outra guerreira importante foi Ida da Aústria (1055-1101), casada com


Leopoldo II da Aústria, e mãe de Leopoldo III. Em 1101, ela se juntou em uma
expedição consequente da Primeira Cruzada, e levantou e coordenou seu
próprio exército para Jerusálem. Ela foi emboscada junto com seu exército em
setembro ao se aproximar dos reinos cruzados, em Heracleia Cibistra, no
sudeste da Turquia. Há uma versão da história que diz que ela morreu em
batalha, e outra que ela foi capturada e foi levada para um harém, onde teria
dado à luz a Zengi, um  atabegue de Mosul e Alepo ao serviço dos turcos
seljúcidas, fundador da dinastia dos zênguidas. Já Alberto de Asquigrão diz
que, de acordo com algumas pessoas, ela foi levado ao Reino de Coração, na
antiga Pérsia, em exílio permanente. A versão de que ela morreu em combate
parece ser a mais provável, tendo em vista que é baseada em relatos de
pessoas que participaram das batalhas na terra santa, e tiveram acesso a
fontes mais confiáveis.

Temos também a história de Sigelgaita de Salerno (1040-1090),


princesa lombarda, filha de Guaimar IV, príncipe de Salerno, e casada com
Roberto de Altavila, pai de Beomundo. Ela não lutou numa cruzada, mas
liderou tropas na batalha de Dirráquio em 1081, onde ela lutou com armadura
completa, reorganizando as tropas de Roberto quando elas foram repelidas
num ataque inicial do exército bizantino. Em 1083, ela retornou para a Itália
com Roberto para defender o Papa Gregório VII contra o imperador Henrique
IV, na questão da querela das investiduras. Ela o acompanhou também numa
segunda campanha contra os bizantinos e estava ao lado do marido quando
ele morreu na Batalha de Cefalônia em 1085. Acabou que não morreu em
batalha, mas em Cetrato na Itália, e foi enterrada, conforme seu desejo, em
Montecassino.

Outra filha de Roberto de Altavila era Emma de Altavila (1080-1120),


governadora de Brindisi, uma antiga comuna italiana. Brindisi estava sob cerco,
e parecia perto da queda, e Emma manda uma mensagem ao general
bizantino dizendo que iria se render. Enquanto ela mantinha essa
correspondência diplomática, ela estava mandando mensagens para seu filho
Tancredo em 1107, que tinha participado da Primeira Cruzada, dizendo para
ele se apressar. Então enquanto ela estava fazendo o povo de Brindisi saudar
o imperador, Tancredo apareceu com um exército e expulsou o ataque
bizantino.

Além das nobres, mulheres comuns também iam para as batalhas na


Terra Santa. Segundo os relatos de Imad ad-Din, cronista árabe no século XII,
e William de Tiro, durante o cerco de Jerusálem de 1180 e 1190, havia
mulheres que iam para a guerra vestindo roupas masculinas, e agiam como
homens corajosos, num ato de piedade, e que mostrou resistência masculina,
“apesar da fraqueza do sexo”.
(Florine da Borgonha, pintura de Gustave Doré do século XIX)

O mundo Mediterrâneo depois de cerca do ano 200 d.C., era um lugar


muito insalubre e que era devastado periodicamente por doenças epidêmicas e
pandêmicas. Vários escritores como Paulo o Diácono (720-799), Ekkehard I

(910-973), William de Malmesbury (1080-1143), entre outros, já falavam que o


sul da Europa e o mundo Mediterrâneo era mais insalubre e tinha mais
doenças do que o norte e centro europeu. Era muito comum os cruzados
morrerem de tifo, lepra, a ponto de até os reis de Jerusalém terem lepra, como
Balduíno IV, herói da Segunda Cruzada, que usava uma máscara de ferro para
esconder o rosto todo deformado pela lepra.

A medicina da época era bem rudimentar em comparação ao que temos


hoje, apesar de ocorrerem avanços importantes nessa área. Os hospitais foram
criados na Idade Média pela Igreja Católica, tanto que tem a ordem dos
Hospitalários, que era uma das ordens militares religiosas que iam para a Terra
Santa ajudar a cuidar dos doentes e feridos. Alguns vão falar que a medicina
árabe era bem mais avançada, mais isso é fácil, já que eles viviam na região
há 400 anos, e conhecem as doenças da região muito melhor do que os
europeus que estão acostumados a um clima mais frio.

A perda de Jerusalém

(Saladino aceitando a rendição de Guido de Lusinhão, 1187, Said Tahsine)

O reino de Jerusalém teve ótimos governantes nos seus primeiros 70


anos. Você tem Balduíno I, que governou de 1100 até 1118 e criou um reino
sólido. Depois vem Melisenda que governou de 1131 a 1152, que foi uma ótima
administradora e foi bem popular. Depois Balduíno III, que governou de 1143
até 1162, e conquistou Ascalão em 1153, deixando o reino mais bem
defendido. E de 1163 a 1174 governou Amalrico I, que era um diplomata
habilidoso.
Os poderes islâmicos eram fracos e desunidos. A Síria estava dividida
entre emires turcos rivais, o califado Fatímida no Egito é xiita e visto com maus
olhos pelos outros muçulmanos, e o califado Abássida em Bagdá foi dominado
por sultões turcos que precisam garantir a sua posição. Os emires de Damasco
que muitas vezes controlavam grande parte da Síria, estavam com medo das
outras potências islâmicas. A relação entre o reino de Jerusalém e Damasco
era tão boa que o emir e o rei cristãos concordaram em dividir as receitas
fiscais da região a sul de Damasco. Os emires de Alepo apoiavam o condado
de Edessa porque tinham mais medo do reino de Jerusalém.
Em relação aos bizantinos, em 1112, Aleixo I escreve uma carta para
todos os reinos islâmicos para se juntarem contra os cruzados. Isso aconteceu
porque depois que Beomundo teve que jurar lealdade para Aleixo, quem estava
tomando conta de Antióquia era Tancredo da Galileia, que se recusa a aceitar
o domínio bizantino no reino. Nenhum dos reinos muçulmanos respondeu ao
chamado de Aleixo, mas quando a notícia se espalha para o povo de Alepo, o
povo se rebela e fala que: “o rei dos romanos é mais muçulmano que o príncipe
dos fiéis”.
É nessa época que surgem os ḥaššāšīn, que eram membros de uma
legião de mercenários sanguinários Nizaris liderada em seu auge por Hassan i-
Sabbah (1050-1124), e é daí que vem a palavra “assassino”. Eles tinham uma
rede descentralizada de castelos que eram liderados por um líder carismático.
Hassan i-Sabbah é sucedido por Rashid al-Din Sinan (1131-1193) conhecido
popularmente como O Velho da Montanha. Eles fumavam uma erva chamada
haxixe, enfrentaram os exércitos cristãos e também se lançaram para cumprir
missões acordadas. Pertenceram à denominada Ordem Ismaili, estabelecendo
seu centro de operações nos montes de Elburz, área localizada ao norte do Irã,
construindo a fortaleza de Alamut, abreviatura de Aluh Amujt, conhecida como
Nido de Águilas. Uma das primeiras vítimas emblemáticas teria sido o vizir
turco Nizam Al-Mulk, em Bagdá em 1092, por ordem de seu sucessor, Malik
Shah.
Para o Islã, essas pessoas eram consideradas apóstotas e eram
perseguidos. Nizam Al-Mulk por exemplo, perseguiu essa ordem e foi
assassinado por Bu-Tahir que se infiltrou na residência do califa em Bagdá e
matou o vizir. Os assassinatos eram feitos com adagas, as vítimas eram
atacadas de perto, e os assassinos não faziam nenhum esforço para cair fora.
Pelo treinamento que eles tiveram, eles eram capaz de aguentar as mais
terríveis torturas, e podiam se infiltrar em qualquer lugar, não importa o quão
vigiado era. O rei de Jerusalém Conrado I de Monferrato, que governou de
1190 a 1192 foi morto por esses hassasins.

(Um agente da ordem dos assassinos (esquerda, com turbante branco),


esfaqueia fatalmente Nizam al-Mulk, um vizir Seljuk, em 1092, o primeiro de
vários assassinatos políticos pela seita)

Eles não tinham geralmente ambições políticas, mas queriam converter


todo mundo para sua seita islâmica herética. Parece que eles só queriam se
defender e obter o mesmo tipo de tolerância que as “pessoas do livro” tinham,
ou seja, a mesma tolerância que cristãos e judeus tinham no mundo islâmico.
Eles existiram por cerca de dois séculos, até que foram esmagados pelos
mongóis. Nem todos os seguidores dessa seita herética eram membros da
ordem dos assassinos, mas todos os membros da ordem eram dessa seita.
O primeiro governante que começou uma luta adequada contra os
francos foi Imad al-Din Zengi (1084-1146), que era turco. A sua principal
ambição era se tornar um grande homem no Levante islâmico, não
necessariamente formar um poder expansionista islâmico para acabar com os
estados cruzados. Em 1137, ele ataca o sultão de Damasco, e Jerusalém
fornece ajuda a Damasco. No mesmo ano acontece a Batalha de Ba'rin, onde
Zengi esmaga o exército cruzado e o rei Fulque de Anjou tem a permissão de
se render, mas ele escapa com as tropas sobreviventes. Em 1140, ele sitia
Damasco mas se retira quando Jerusalém manda um exército de socorro. Ele
percebe que embora vença batalhas, os francos não desistem, e então ele se
volta para o condado de Edessa, o qual conquista totalmente em 1144. Em
1145 ele é assassinado, mas ele quebra o mito da invencibilidade dos Estados
Cruzados. A perda de Edessa vai desencadear na Segunda Cruzada, o qual
iremos detalhar melhor.
Em 1 de dezembro de 1145, o papa Eugênio III convoca a Segunda
Cruzada, e os nobres que responderam foram Luís VII dos francos, e Conrado
III do Sacro Império Romano-Germânico. No entanto, o papa queria o sacro
imperador fora da Cruzada, porque precisava de apoio no sul da Itália contra os
normandos. Além disso, o imperador bizantino Manuel I Comneno tinha um
tratado de defesa mútua com os turcos, já que seu inimigo também eram os
normandos na Sicília.
Em 1147, Conrado II saí de Regensburg e chega em Constantinopla. Lá
ele encontra Manuel I e o convida para a Cruzada contra os turcos. Então eles
partem juntos, mas infelizmente são aniquilados em Dorileia, na Turquia perto
de Nicéia. Uma pequena parte dos homens que sobreviveram chegam até
Jerusalém e são reforçados por homens mandados pelo mar.
O mesmo ocorre com o exército dos francos, que é massacrado em
Loadicéia, a 60 Km a leste de Éfeso na costa oeste da Turquia. Com isso,
apenas os reis Luís VII e Conrado III chegam em Jerusalém, e com bem menos
soldados com que partiram. E ainda eles inventaram que se tomassem
Damasco eles dariam maior profundidade estratégica para o reino de
Jerusalém. Só que Jerusalém tinha uma boa relação com Damasco, e mesmo
assim Luís VII e Conrado III forçam o reino a atacar Damasco, e o ataque falha
miseravelmente. Além disso, eles decidiam atacar Bosra, que também foi
fracassado. Então os dois reis voltam para a Europa, deixando o reino de
Jerusalém com um novo inimigo, e o condado de Edessa jamais será
reconquistado. A cruzada foi um total fracasso.
Depois que Zengi morreu, seu filho Nur ad-Din, consolida o domínio na
Síria. Quando seu domínio começa a entrar em conflito com o reino de
Jerusalém, lentamente ele vai aceitando a ideia da jihad islâmica. Em 1149, ele
ataca o principado de Antióquia e domina quase todos os seus territórios,
tirando a cidade de Antióquia em si e uma faixa pequena de território
circundante, e o restante do território do principado fica sob domínio bizantino
por um tempo. Em 1150, ele derrota Joscelino o último conde de Edessa, que
estava tentando reestabelecer o condado, e ele é cegado e morre na prisão
nove anos depois. Em 1154, ele toma Damasco e acaba com a sua aliança
com os francos. Em 1160, ele derrota o príncipe de Jerusalém, Reinaldo de
Châtillon, e o torna cativo por 16 anos. Ninguém ligava para Reinaldo a ponto
de fazer um resgate, e então ele é solto depois porque não valia para nada. De
1163 a 1169, o rei de Jerusalém Amalrico I tenta conquistar o Egito para
quebrar o cerco que está se fechando sobre ele, e em 1167 ele conquista
Alexandria e estabelece o controle indireto sobre o Egito.
(conquistas de Amalrico)

No entanto, os cruzados são expulsos do Egito em 1169, e em 1170,


Nur ad-Din toma o controle do Egito e expulsa os francos. Agora Nur ad-Din
governa tanto a Síria, quanto o Egito, quanto a cidade de Jerusalém, esta
última através de um jovem chamado Saladino.
(perda do Egito pelos cruzados)

Em 1174, Balduíno IV se torna rei de Jerusalém, o famoso “rei leproso”


que além de bastante habilidoso, foi um dos homens mais corajosos e de maior
fortaleza que o mundo já viu. Em 1176, o reino de Jerusalém e o Império
Bizantino formaram uma aliança estreita e por causa do apoio naval bizantino
Amalrico conseguiu conquistar Alexandria por 2 anos. Em setembro de 1176,
tem a batalha de Miriocéfalo, que acaba com Constantinopla como uma grande
potência numa derrota desastrosa que encolhe as fronteiras do Império
centenas de quilômetro dos reinos cruzados. Em 1186, você tem um golpe em
Constantinopla e Andrônico I Comneno é o novo imperador e assume uma
postura radicalmente anti-ocidental e se alia com as potências islâmicas.
Com tudo isso contra ele, Balduíno IV faz milagre, e com 13 anos de
idade ele ataca Damasco em 1174, para atrair Saladino para longe de suas
fronteiras, e o plano é bem sucedido. Enquanto Saladino assediava a cidade de
Alepo, Balduíno IV partiu em socorro desta cidade, junto com Raimundo de
Trípoli, e conseguiu uma importante vitória contra os muçulmanos em 1176. No
mesmo ano, um certo Filipe da Alsácia, conde de Flandres, exigiu um grande
contingente de guerreiros francos para tentar uma expedição contra Saladino
na Síria do norte. Como Balduíno esperava muito do apoio prometido por
Filipe, cedeu grande parte de seu exército a ele, e Jerusalém ficou mais
desguarnecida e Saladino não pensou duas vezes. Em 1177, com a ajuda dos
cavaleiros templários, ele inflinge uma grande derrota a Saladino em
Montgisard, que o manda embora por vários anos, além de mantêr Jerusalém
intacta frente ao mundo islâmico. Com apenas 375 cavaleiros, 80 templários e
de 2000 a 4500 de infantaria, Balduíno IV venceu os 30.000 combatentes de
Saladino. Antes da batalha, Balduíno IV sentiu a hesitação de seus homens, e
ajoelhou diante da Vera Cruz, a relíquia da cruz verdadeira onde Cristo foi
pregado, e rezou com a voz embargada pelas lágrimas. Diante de tal provação
e vendo a comoção de seu rei, os soldados cristãos se encheram da mais pura
coragem e juraram lutar até a morte. Daí o que se sucedeu na batalha de
Montgisard, só a providência divina é capaz de explicar. De acordo com um
contemporâneo dos fatos, um patriarca da Igreja Jacobita chamado Miguel a
batalha foi assim:

“Em seguida engajaram a batalha. No mesmo instante, o


Senhor fez cair violenta tempestade, que levantava a poeira do
lado dos francos e a lançava no rosto dos turcos. Então os
francos, compreendendo que o Senhor havia aceito seu
arrependimento, tomaram coragem, enquanto os turcos deram
meia-volta e fugiram. Os francos os perseguiram, matando e
massacrando durante o dia todo.”.

O próprio Saladino só conseguiu saiu vivo desta batalha graças a


rapidez do seu cavalo e a devoção da sua guarda pessoal, que foi toda
eliminada enquanto ele fugia. A batalha terminou com 27.000 baixas para
Saladino e 1100 para Balduíno, mais 750 feridos. Infelizmente a lepra
continuou avançando, e Balduíno IV foi ficando mais debilitado, não podendo
mais se sustentar montado em um cavalo, e ele tinha que ser carregado no
campo de batalha numa liteira. Também participaram da batalha o Grão-Mestre
dos Cavaleiros Templários, Odo de Saint Amand, e Reinaldo de Châtillon.
Reinaldo, já tinha sido cativo dos muçulmanos por 16 anos, e depois dessa
batalha, ele voltou a importuná-los e chegou um dia que ele assaltou uma
importante caravana de muçulmanos que iam à Meca. Assim, Saladino ficou
furioso e saiu do Egito e quebrou a trégua feita entre ele e Balduíno, atacando
a Galileia em 1182. Reinaldo suplica o auxílio de Balduíno IV, que sendo
carregado por uma liteira, conseguiu em duas ocasiões afastar o perigo,
alcançando vitórias táticas contra Saladino na batalha do Castelo de Belvoir em
1182 e fazendo Saladino recuar no cerco de Crac de Moab em 1183.
A lepra estava tão avançada que ele não podia nem enxergar mais, e
ainda tinha o fato dele não ter filhos. Então ele resolve confiar sobre o marido
de sua irmã Sibila, Guido de Lusinhão. No entanto, depois ele ve como Guido
era insignificante e resolve designar o pequeno Balduíno V, seu sobrinho, filho
de Sibila e o ex-marido Guilherme de Monferrato. Balduíno IV, o heróico rei de
Jerusalém, acaba morrendo em 1185 com apenas 24 anos de idade. Seu
sobrinho e novo rei, Balduíno V, era uma criança e acaba morrendo no ano
seguinte. E Guido de Lusinhão assumiu a coroa junto com Sibila, e sofreu a
maior derrota cristã das Cruzadas na batalha de Hatim em 1187, em que os
muçulmanos tomam Jerusalém novamente. Guido é feito prisioneiro e a cruz
verdadeira é tomada. Todos os templários e cavaleiros Hospitalários são
mortos a mando de Saladino, e Reinaldo é morto pelo próprio Saladino.
(A batalha de Monte Gisardo, 1177, por Charles-Philippe Larivière)

(rei Balduíno IV interpretado pelo ator Edward Norton no filme “Cruzada” de


2005)
(ilustração de Balduíno IV, o rei leproso)

Saladino planejava massacrar os cristãos de Jerusalém, mas quando


Balião de Ibelin (1143-1193), chefe da guarnição restante, ameaça destruir os
lugares sagrados islâmicos e massacrar todos os muçulmanos da cidade, um
acordo alternativo é sugerido por Saladino. O acordo era que os cristãos
restantes poderiam sair de Jerusalém desde que pagassem um resgate, e
quem não pudesse pagar seria escravizado.
(Batalha de Hatim)

Após a batalha de Hatim, Jerusalém dificilmente poderia ser salva. Após


as grandes vitórias de Balduíno IV, Guido devia ter ficado na defensiva e talvez
Jerusalém resistisse por mais alguns anos. Todas as próximas cruzadas,
apesar de reconquistarem alguns territórios, serão sempre de contenção de
dano. Apenas após a Sexta Cruzada, que os cristãos em 1229 conseguiriam a
posse de Jerusalém por 10 anos, com a diplomacia feita entre o rei Frederico II
de Hohenstauffen do Sacro Império Romano Germânico, mas que seria
perdida em 1244 com a derrota cristã em Gaza. E assim fica o mapa dos
Estados Cruzados após os desastres descritos.
Terceira Cruzada (1189-1192)
Depois das derrotas cristãs desastrosas de 1187, ainda havia algumas
possessões que não haviam caído, e uma delas era a cidade de Tiro, conforme
o mapa da página anterior. Quem merece destaque aqui é Conrado de
Monferrato (? – 1202), que tinha se casado com a irmã do imperador bizantino
Manuel Comneno, e tomou o controle da cidade de Tiro e não se rendeu de
jeito nenhum, juntando um exército com os refugiados de Jerusalém e outros
lugares da Terra Santa. Saladino tenta conquistar a cidade mas não consegue
de jeito nenhum, nem quando captura o pai de Conrado e ameaça matá-lo, e
Conrado aparece nas muralhas da cidade com uma besta, dizendo: “Meu pai
teve uma vida longa e agradável, se isso acaba agora, deve acabar agora”.
Então ele levanta a besta e prepara para atirar, e Saladino diz que ele era um
jovem muito malvado, e libera o pai dele.
A perda de Jerusalém causou um grande choque para os europeus e
então o papa Gregório VIII convoca a Terceira Cruzada. Todo mundo
concordou em mandar uma ajuda para os francos, exceto Henrique II da
Inglaterra que estava em guerra com Filipe II da França, e o papa consegue
fazer uma trégua entre eles em janeiro de 1188. Só que Ricardo, o filho de
Henrique II, acaba ficando do lado de Filipe II e renova a guerra. Outro que
atendeu ao pedido foi Frederico Barbarosa, o sacro imperador romano
germânico, que tinha lutado na Segunda Cruzada 40 anos antes, e agora ele
estava com 70 anos.
O imperador bizantino era Isaque II, que era um fantoche veneziano, que
foi colocado no poder após a remoção de Andrônico que era muito anti-
ocidental. Isaque fez um tratado secreto com Saladino, para retardar os
cruzados em seu caminho pelo Império Bizantino. Quando isso vaza, a
reputação dos gregos bizantinos vai por água abaixo. Frederico Barbarosa
aparece em Constantinopla, grita com Isaque, e o convence a ter uma visão
mais positiva da Cruzada. Então Frederico marcha pela Turquia, e obtêm uma
vitória sob os turcos em Iconium, no sul da Turquia. No entanto, enquanto ele
estava cruzando um rio na Turquia, ele cai do cavalo e morre possivelmente de
ataque cardíaco, mas outros falam que ele morreu afogado no rio. Com isso a
maior parte do exército alemão volta para casa. O único líder alemão que
chega na Terra Santa é Leopoldo da Aústria, que era primo de Conrado de
Monferrato, que chega com poucos homens.
Em 1189, Henrique II morre e Ricardo é proclamado Ricardo I da
Inglaterra, o acaba com os problemas que estavam tendo na Inglaterra, já que
Ricardo faz as pazes com Filipe II da França. Tanto a Inglaterra quanto a
França eram governadas por uma classe de vikings francófonos que são
mantidos juntos por laços de sangue, casamento e ódio geral. E Ricardo I,
também conhecido como Ricardo Coração de Leão, saí para a Cruzada em 4
de julho de 1190, junto com seu primo Filipe II da França. Só que ao invés de
passar por Constantinopla e pela Turquia como de costume das outras duas
cruzadas, eles resolvem ir até Marselha e pegar um barco até a Terra Santa
direto. Eles param na Sicília no inverno e Ricardo toma a cidade de Messina,
após um desentendimento com o rei da Sicília. Eleonor da Aquitânia aparece
com Berengária para ser a noiva de Ricardo, só que Ricardo era casado com a
irmã de Filipe II. Então ele se casa com Berengária, e vai começar uma mágoa
entre os dois reis, que vai aumentar ao longo da Cruzada.
Filipe II chega na cidade de Acre em 20 de abril de 1191, perto de Tiro.
Ele encontra uma disputa já que Guido de Lusinhão foi liberado por Saladino e
ele ainda era oficialmente o rei de Jerusalém. No entanto, Conrado de
Monferrato tem o apoio da alta corte de Jerusalém, e é casado com Isabella,
filha de Amalrico I, último rei efetivo de Jerusalém. Guido é visto como um
perdedor, que perdeu a batalha de Hatim, enquanto Conrado é visto como um
herói de Tiro. Filipe apoia Conrado, mas tenta fazer um acordo onde Guido
reinaria Jerusalém até sua morte, e depois Conrado assumiria o título. E desde
agosto de 1188, Guido tem tentado recuperar sua reputação e ainda tem
alguns soldados do seu lado, e investiu na cidade de Acre, fazendo um cerco
na cidade. E Acre, que não tinha importância alguma, agora passou a ter e
Saladino reune o maior exército que ele conseguiu e está sitiando o cerco de
Guido na cidade.
Enquanto isso, Ricardo está no Chipre, porque alguns de seus navios
naufragaram lá. O Chipre era parte do Império Bizantino, mas era governado
por um membro renegado da família imperial, Isaque Comneno, que clama ser
o verdadeiro imperador bizantino. Esse Isaque, pega o dinheiro que tinha nos
navios que naufragaram e aprisiona os marinheiros. Isso enfurece Ricardo, que
encena uma invasão anfíbia completa do Chipre e em maio de 1191 ele
consegue o controle total da ilha, e Isaque se rende com a condição que não
fosse preso. Então o Chipre acabou sendo a primeira colônia inglesa. Agora os
cruzados tem uma base numa ilha fértil e populosa, onde vai ser a base deles
até 1571.
No Chipre, Ricardo é visitado por Guido de Lusinhão que reclama que
Filipe II está apoiando Conrado, e Ricardo acha conveniente dar apoio total a
Guido. Ricardo chega em Acre em 7 de junho de 1191, onde a frota inglesa
destrói a flotilha de ajuda islâmica para Acre. No dia seguinte, Ricardo toma
conta do cerco da cidade. Em 12 de julho de 1191, Acre se rende, numa
negociação entre os francos dentro da cidade, os francos que estavam
cercando a cidade, e as tropas de Saladino que estavam cercando esses
francos. A rendição tinha a condição de que os francos não massacrarão a
guarnição ou a população islâmica, e Saladino devolverá a cruz verdadeira e
todos os prisioneiros cristãos e 20.000 dinares. Saladino se recusa a pagar a
primeira parte desses 20.000 dinares e então os 2700 homens da guarnição
que estavam marchando entre as linhas francas e as linhas de Saladino, são
massacrados a mando de Ricardo.
Leopoldo da Aústria ficou muito chateado com essa conduta de Ricardo,
porque Ricardo o tratou como um subordinado. Filipe II se sente na sombra de
seu primo e depois de um tempo ele volta para a França. E agora Ricardo
Coração de Leão era o único líder ocidental na Cruzada, e ele pensa em
mandar suas tropas para Jerusalém, mas ele sempre esteve muito preocupado
em não jogar fora a vida de seus homens. Então antes de ir para Jerusalém ele
marcha para a cidade de Jafa. Saladino queria provocar Ricardo para uma
batalha, mas Ricardo se recusa, e o prestígio de Saladino é destruído, porque
ele nunca mais ousa enfrentar uma batalha com Ricardo, e o exército de
Saladino começa a se desintegrar. Então em 7 de setembro de 1191 ocorre a
batalha de Arsuf, onde Saladino ataca Arsuf que fica a 30 milhas ao norte de
Jafa, só que Ricardo tem uma vitória pesada sobre Saladino, com muitas
poucas perdas para Ricardo e uma grande perda para Saladino. Então Jafa
cai, e Ricardo estabelece lá a sua base para mandar as suas tropas para
Jerusalém.
(Batalha de Arçufe, Ricardo I da Inglaterra, 1191, por Eloi Firmin Feron)
No entanto, Ricardo preferia conseguir o que queria sem batalhas, e
abre negociações secretas com Saladino, e oferece que o irmão de Saladino
se case com a sua irmã, e os dois sejão coroados rei e rainha de Jerusalém, e
a cruzada acaba, e Ricardo e Saladino podem voltar para casa. O ponto de
discórdia é que Ricardo insistiu que o irmão de Saladino se converta ao
Cristianismo. Mas apesar de Saladino discordar, ele e Ricardo formam uma
amizade e nunca param de negociar, se corresponder, e compartilharem
elogios. No entanto, como essas negociações falharam, Ricardo marcha para
Ascalão e toma a cidade, que é um ponto de estrangulamento muito importante
para as comunicações entre Síria e Egito. Ricardo agora está pronto para
marchar para Jerusalém, mas Conrado de Monferrato se recusa a dar qualquer
apoio. Em janeiro de 1192, Ricardo estava a 12 milhas de Jerusalém, e
provavelmente poderia ter pego a cidade, que estava quase indefesa. Ricardo
pensa que consegue tomar a cidade, mas que não consegue mantê-la. Então
Ricardo volta e fica irritado com Conrado, porque ele poderia ter mais confiança
em tomar Jerusalém se tivesse a ajuda das tropas de Conrado.
A coisa começa a piorar quando Saladino começa a negociar
secretamente com Conrado, e ao mesmo tempo com Ricardo. Em abril de
1192, há uma eleição da alta corte para o rei de Jerusalém, e eles escolhem
Conrado, com ninguém votando no Guido de Lusinhão. As coisas complicam
ainda mais para Ricardo quando ele recebe más notícias de casa, onde o
príncipe João da Inglaterra e Filipe II da França estão tramando para substituir
ele no trono. No entanto, se Ricardo sair da Terra Santa, Conrado poderia
começar uma guerra civil. Então Ricardo vende o Chipre para Guido de
Lusinhão, para ele ser rei de algum lugar e não brigar com Conrado. E ao
mesmo tempo, Ricardo aceita Conrado como rei de Jerusalém, que foi rei até
28 de abril de 1192, quando foi morto por um dois hassasins nas ruas de Tiro,
que saltam sobre ele e o esfaqueiam até a morte. Um dos assassinos é morto
no lugar, e o outro é preso e torturado, e este clama que o assassinato foi
encomendado pelo rei Ricardo da Inglaterra. No entanto, essa possibilidade foi
descartada. Assim que Conrado morreu, Ricardo envia navios para a Terra
Santa levando seu sobrinho, Henrique de Champanhe, que é aclamado rei de
Jerusalém e imediatamente dá a Ricardo total apoio moral e militar, e se casa
com a viúva de Conrado e filha de Amalrico I.
(representação dos ḥaššāšīn)
Em 7 de junho de 1192, Ricardo Coração de Leão marcha de novo
contra Jerusalém, mas novamente ele fica a 12 milhas da cidade e acha que
não consegue conquistar a cidade e mantê-la. Em julho, Saladino recaptura
Jafa, mas ele perde de vez, porque há um motim no seu exército vencedor, e
Ricardo aparece e inflinge mais uma derrota em Saladino, onde Saladino tem
que recuar em total desgraça diante Ricardo. Depois disso, Saladino tem que
desmembrar seu exército, e ele está sem dinheiro e prestígio. Só que Ricardo
também está mal, porque está doente e recebe mais más notícias de casa,
onde seu irmão malvado João, e seu primo cruel Filipe II da França. Ricardo
está em uma posição fraca, mas Saladino não sabe disso, e Ricardo sabe
exatamente quais são os problemas de Saladino. Então em setembro de 1192
é assinado o tratado de Jafa, onde é bem mais favorável aos francos. O tratado
reconhecia os territórios cristãos entre Tiro e Jafa, os peregrinos cristãos
tinham livre acesso a todos os lugares sagrados, e Ascalão é desmilitarizada e
entregue a Saladino. Em 9 de outubro de 1192, Ricardo Coração de Leão volta
à Inglaterra e nunca mais retorna à Terra Santa e morre em 1199. Em 4 de
março de 1193, Saladino morre de febre amarela, e seu império se fragmenta,
e o tratado de Jafa funciona na prática entre francos e muçulmanos pelos
próximos 50 anos.
Depois que termina a Terceira Cruzada, Ricardo Coração de Leão volta
para a Inglaterra, mas seu navio acaba naufragando na costa do mar Adriático
e ele vai pela Europa disfarçado para ninguém o reconhecer. No entanto, nos
arredores de Viena ele é reconhecido e o senhor de Viena era Leopoldo, primo
de Conrado de Monferrato, o mesmo Leopoldo que se sentiu insultado em Acre
e considerado um subordinado de Ricardo. Ricardo é preso e acusado do
assassinato de Conrado. De acordo com a história, Ricardo pediu para que os
assassinos fizessem uma declaração para inocentá-lo, e Rashid ad-Din Sinan,
o “Velho da Montanha” respondeu com um carta de total exoneração,
apontando que a decisão de matar Conrado era só dele. Então Ricardo é
entregue ao Sacro Imperador Romano Germânico que decide mantê-lo
prisioneiro até que um resgate seja pago de 100.000 libras de prata. E todos
nós sabemos que o resgate foi criado por Robin Hood e Isaac de York à frente
da comunidade judaica inglesa. Depois do resgate, ele volta para a Inglaterra, e
morre em 1199 enquanto sitiava um castelo sem importância na França.
Sobre os outros, Guido morre em 1194, como rei do Chipre. Em 1207,
Henrique de Champanhe, rei de Jerusalém, sofre uma pesada queda no seu
palácio em Acre e morre. Sua esposa Isabella se casa com Amalrico de Chipre,
e o reino de Jerusalém continua até 1291, só que não mais tendo a cidade de
Jerusalém. A família de Guido, os Lusinhão, continuam reinando o Chipre até
1480, e o Chipre se mantêm a única base católica no Mediterrâneo oriental
após 1291. E assim fica o mapa da Terra Santa após a Terceira Cruzada:
(reconquistas de Ricardo Coração de Leão na Terra Santa)
A ascenção de Veneza

(representação de como era Veneza medieval)


Veneza foi fundada em 25 de março de 421, logo preenchida com
refugiados de outras cidades nas regiões destruídas pelos godos e pelos
hunos. A sua localização era boa para defesa por causa da cadeia de ilhas no
mar Adriático, era cercada do lado da terra por pântanos, pestilentos para
qualquer atacante, e com isso evitou desastres repetidos que ocorreram no
resto da Itália do ano 400 a 900. Em 814, durante as conquistas de Pepino,
filho de Carlos Magno, o Sacro Império Romano renuncia à soberania sobre
Veneza, após uma tentativa fracassada de sitiar a cidade quando seu exército
foi dividido por uma praga que veio dos pântanos. Em 992, o touro de ouro
concede independência formal de Veneza, uma concessão do imperador
bizantino. Em 1000, era um poder naval e uma cidade com poder suficiente
para contrabalancear o poder entre o Sacro Império Romano Germânico e o
Império Bizantino.
(República de Veneza no ano 1000)

(Veneza no começo da Idade Moderna)


De 800 a 900 Veneza foi se transformando lentamente num lugar que
vivia da pesca para um importante centro comercial. Inicialmente Veneza era o
lugar onde escravos do centro e norte da Europa, geralmente eslavos pagãos
eram colocados em barcos e vendidos para o norte da África muçulmano. De
961 a 969, o Império Bizantino reconquista Creta, Chipre e a Síria, e acaba
com a pirataria árabe no mar oriental, e abre espaço para o renascimento do
comércio no mar em larga escala. E Veneza é um dos principais beneficiados
dessa recuperação do comércio. Por volta do ano 1000, Veneza é uma
sociedade comercial de “alta confiança”, e um dos berços do capitalismo
moderno. O arranjo institucional de Veneza exigia um grau de honestidade em
suas interações comerciais uns com os outros e com seus vários parceiros
comerciais. As inovações de Veneza nos próximos três séculos incluem: o
surgimento de sociedades anônimas de responsabilidade limitada, bolsas de
valores e mercados financeiros secundários, letras de câmbio, hipotecas,
outros instrumentos financeiros, leis de falência capazes de distinguir entre
iliquidez e insolvência, uso da álgebra para conversões de moeda, depósito
bancário, agentes locais permanentes em todos os principais locais de
negócios.
A constituição veneziana tinha um doge eleito para toda a vida por uma
oligarquia de aristocracia mercantil, e os poderes do doge são balanceados por
dois tribunos eleitos anualmente. Não há conflitos institucionais entre os
interesses mercantis e os interesses agrícolas. Além disso, tinha impostos
sobre lucros mercantis baixos, segurança dos direitos de propriedade, o que
faz um constante reinvestimentos dos lucros e promove uma acumulação de
riqueza. Uma grande inovação é a possibilidade legal de negociar as
corporações, a colleganza. Você tinha um enorme risco mercantil porque
demorava um mês para navegar de Veneza até Constantinopla, você passava
três semanas comprando mercadorias e carregando-as, e fazia um longo e
tranquilo caminho de volta, passando pelas cidades costeiras, levando dois
meses. Se você voltar pode ter um lucro de pelo menos 100%. Soma-se a isso,
você tem que construir e equipar um navio, que custa muito caro. Aí que entra
a colleganza entre o ativo mercante e o passivo investidor. Os comerciantes
colocam pouco ou nenhum capital, e os investidores pagam todo o custo de
montagem do navio e compra de tecido holandês. Mercadores navegam para o
leste, vendem tecidos, compram pimenta/seda e outros produtos, e retornam a
Veneza. E os lucros eram divididos de acordo com o contrato, geralmente 1/4
para o comerciante, e 3/4 para os investidores. Se a viagem traz uma perda, os
comerciantes não suportam essas perdas, e a perda total é suportada pelos
investidores, mas esses investidores só são responsáveis por dívidas até o
valor de seu investimento inicial, o que significa responsabilidade limitada. Às
vezes, quase toda a população de Veneza estava envolvida na compra e
venda de ações nesses empreendimentos mercantis.
O Império Bizantino que estava em maus bocados no final do século XI,
pede ajuda aos venezianos contra os ataques normandos nos Balcãs,
prometendo vários benefícios. Em 1082, o imperador bizantino Aleixo entra em
campo contra os normandos e no final de 1095 os normandos são expulsos
dos Balcãs. Só que os bizantinos pensavam que estavam lidando com
bárbaros do Ocidente, tal qual o Império Romano unificado contratava
mercenários bárbaros para fazer parte de seu exército. Só que Veneza já era
uma potência comercial, com um capitalismo bem desenvolvido, e em uma
geração, Veneza toma o controle de todo o comércio marítimo do Império
Bizantino. Em 1182, havia grandes e autônomos distritos venezianos em
Constantinopla e outras cidades do Império, e 20.000 venezianos em
Constantinopla formavam um estado dentro de outro estado. Em 1118, Aleixo
morre, e seu filho João II Comneno escolhe não renovar o acordo pessoal feito
entre seu pai e os venezianos. Tarde demais e em 1124, Veneza declara
guerra e invade as ilhas de Rodes, Chios, Samos, Lesbos, Andros, e captura
Cefalônia no mar Jônico. Em 1126, João II tem que ceder e conceder todos os
privilégios aos venezianos.
Em 1100, após a Primeira Cruzada, uma frota veneziana de 200 navios
chega perto de Jafa e os cruzados francos estavam desesperados por apoio
naval e os venezianos concordam em ajudá-los em troca de isenção de
impostos em todo o reino de Jerusalém. De 1122 a 1124, o reino de Jerusalém
pede ajuda novamente aos venezianos para tomar a cidade de Tiro em troca
de mais privilégios. Os venezianos ganham a confirmação dos privilégios
comerciais e fiscais existentes, um terço da cidade de Tiro, uma rua, uma
padaria, uma casa de banhos, e uma igreja em cada cidade do reino de
Jerusalém. Em maio de 1123, os venezianos esmagam uma frota egípcia e
capturam a cidade de Acre. Em julho de 1124, eles tomam a cidade de Tiro,
mas os venezianos, mais zelosos pelo comércio do que pela limpeza religiosa,
não garantem nenhum massacre, mas usam a cidade como base importante
para uma penetração mais profunda nos mercados orientais. A frota veneziana
humilha a frota bizantina a caminho de casa. E na Segunda e Terceira Cruzada
os venezianos forneceram apoio naval por um preço usual.
As relações entre os bizantinos e os venezianos vai se deteriorar a partir
de 1126, e o Império Bizantino já estava em perigo desde 1025. Você tinha
uma nobreza faminta por terras que destruiu o equilíbrio social e militar interno,
você tinha uma burocracia inchada e corrupta sugando a riqueza do povo, e
ainda tinha esses venezianos dentro do Império que não eram tributados. O
imperador Manuel I, que governou de 1143 a 1180, o último imperador efetivo,
começa a cultivar as outras cidades comerciais italianas Gênova e Pisa, e
concede privilégios semelhantes a elas. Em 1170 há a guerra comunal em
Constantinopla entre os venezianos e os genoveses, onde os venezianos
fazem um massacre feroz dos genoveses. Em resposta, o imperador aprisiona
todos os venezianos do Império, confisca suas propriedades e revoga seus
privilégios. Os venezianos declaram guerra, e embora os venezianos percam
por causa de uma peste, e a guerra dura de 1171 a 1177. Na década de 1180,
a relação desigual está de volta na mesa e a cooperação virou ódio e
ressentimento.
Em 1176, tem a batalha de Miriocéfalo, um colapso repentino e final do
poder militar bizantino, onde eles perdem tudo o que recuperaram desde 1071.
Em 1182, Andrônico, neto de Manuel I assume o trono bizantino e ele
diagnostica os problemas do Império muito bem, que era a nobreza faminta por
terras, a burocracia inchada e os venezianos não tributados. Ele tenta resolver
todos os problema do Império de uma vez, e ele massacra toda a comunidade
italiana mercantil em Constantinopla, e em 1185 há um golpe de estado contra
ele, onde ele é torturado até a morte horrivelmente por três dias, e todas as
suas leis são revogadas. Depois assume Isaque II inaugurando a dinastia
ângela, que estava comprada pelos mercantes italianos.

Tudo isso culmina na Quarta Cruzada de 1202 a 1204, que vai ser um
desastre completo. O papa Inocêncio III apelou a uma cruzada em 1198, só
que tem um problema porque Ricardo Coração de Leão morreu em 1199, e o
rei João II da Inglaterra não estava interessado em uma Cruzada. Além disso,
toda a França estava sob um incidente por causa de um casamento ambíguo
de Filipe II. O Sacro Império Romano Germânico não tinha um imperador no
momento, porque havia muitas reinvindicações. E pra completar a situação
passar por Constantinopla estava fora de cogitação. Então o que sobrou foi
fazer um acordo como Veneza, que transportaria as tropas na sua frota, por um
pagamento de 85.000 marcos. A cruzada foi empreendida por Balduíno IX,
Conde de Flandres, e Bonifácio II, Marquês de Monferrato. Só que apenas
50.000 marcos foram pagos, e então o plano muda: os venezianos fizeram um
plano com os líderes da Cruzada para eles reconquistarem Zara, que era de
Veneza mas estava na mão do rei da Hungria, que também era um cruzado.
Os cruzados tomam Zara e entregam para a República de Veneza, e o papa
excomunga todo mundo, mas os líderes da Cruzada conseguiram frustar a
publicação da bula do papa por um tempo.

Em 1195, o imperador bizantino Isaque II foi desposto e cegado por seu


irmão, que tomou o poder como Aleixo III. No entanto, Aleixo IV, filho de Isaque
II, fugiu e apelou aos cruzados para o ajudarem a transportá-lo a
Constantinopla e colocá-lo junto com seu pai cego no trono, e em troca
forneceria recursos para pagarem os venezianos. Os cruzados aceitaram a
oferta e partiram em 1202, e partiram para atacar Constantinopla, a cidade
resistiu, mas depois, os cruzados conquistaram o imperio bizantino. Só que
Isaque II e Aleixo IV não conseguiram juntar dinheiro o suficiente para pagar os
venezianos e então em janeiro de 1204 há outro golpe de estado por Aleixo V,
e Isaque II morre e Aleixo IV é estrangulado na prisão. Aleixo V repudia o
acordo feito com os venezianos e diz que não vai pagar. Então Enrico Dandolo,
Doge de Veneza, que estava agora no comando da Cruzada, organiza um
cerco na cidade de Constantinopla.

As muralhas de Constantinopla construídas por Teodósio no século V


eram considerados impenetráveis, e por muito tempo foram, mas o Império
Bizantino não tinha mais marinha para garantir a segurança nos mares. Os
venezianos tinham uma grande marinha e em 12 de abril de 1204, e os navios
chegam perto o suficiente das muralhas marítimas para tomar algumas das
torres, e alguns cavaleiros se espremem por buracos na muralha. Eles
queimam boa parte da cidade, derrubam estátuas gregas antigas e as derretem
em moedas de cobre e latão, eles incendiam as bibliotecas, e destroem 90%
da literatura grega clássica, e um terço da cidade é destruída. Aleixo V foge da
cidade e vai para o oeste mas é capturado pelos cruzados e torturado até a
morte.

Os cruzados colocaram um imperador latino, e dividiram os territorios em


Império da Nicéia, Império Latino, Império Trebizonda, Despotado do Epiro,
que duram até 1260. Constantinopla fora saqueada completamente, e a
maioria dos cruzados voltou com o que roubara.

(A captura de Constantinopla em 1204, quadro a óleo por Tintoretto.)

Veneza acabou ficando com a ilha de Creta, e a maior parte das ilhas do
mar Egeu, e Creta vai permanecer sob seu domíno até 1668, e as ilhas jônicas
vão permanecer até Napoleão Bonaparte dominar Veneza no início do século
XIX. Veneza chega a tomar um quarto do território do Império Bizantino, e o
resto foi dividido entre 4 impérios.

(mapa depois da desastrosa Quarta Cruzada)

As Outras Cruzadas

a) Cruzadas do Norte (1147-século XV)

No total houve nove cruzadas principais e outras um pouco diferentes


como a Cruzada Albigense (1208-1244), as Cruzadas do Norte (1155-séc XV),
e Reconquista Ibérica (722-1492).

As Cruzadas do Norte, foram expedições militares em direção ao Báltico


e algumas regiões da Escandinávia, começadas em 1147 quando uma cruzada
foi pregada contra os pagãos que viviam entre o rio Elba e o rio Oder. Parte do
motivo das Cruzadas do Norte é que a região da Escandinávia é de onde veio
os vikings, que aterrorizaram a Europa nos século IX e X, destruindo,
saqueando, estuprando, onde que passavam. Os vikings foram cristianizados
lá para o ano 1000, mas ainda tinha parte do território da Escandinávia e o
Báltico que ainda era pagão, e com a conversão ao Cristianismo ficaria mais
fácil lidar com esse povo caso houvessem novas invasões, ou para previnir
invasões. Além disso, pelo mapa abaixo, percebe-se que a partir de 1054,
quando tem o Grande Cisma do Oriente, tanto os católicos quanto os ortodoxos
estavam disputando quem iria conquistar mais fiéis, e fazendo meio que uma
corrida até o Círculo Polar Ártico.

Além disso, ir para o norte cristianizar os pagãos era uma alternativa


mais fácil para um cavaleiro alemão, porque era bem mais perto do que a Terra
Santa. Ela começou oficialmente quando o papa Celestino III proclamou a
Cruzada em 1193, porém os reinos cristãos da Escandinávia e o Sacro Império
Romano-Germânico já haviam, anteriormente a isto, iniciado um movimento
para subjugar seus vizinhos pagãos. Os povos que foram alvo dessas cruzadas
foram os Vendos e Rúgios Eslavos (1147), povos da atual Finlândia e perto de
São Petersburgo (1154), Estonianos, Livônios (1193-1227), lituanos (1300-
1316), Curônios, antigos prussianos, polábios, e Obotritas.

(Tribos bálticas em cerca de 1200)

Conrado I, o Duque polonês da Mazóvia, tentou sem sucesso conquistar


os pagãos da Prússia nas cruzadas de 1219 e de 1222. Sua fragilidade militar
o levou a convidar os Cavaleiros Teutônicos a participarem das lutas na
Prússia. Ele apelou para que os Cavaleiros defendessem suas fronteiras e
subjugassem os prussianos bálticos pagãos em 1226. No século XII sob o
comando do rei Ériko IX da Suécia, começou a conquista e colonização da
Finlândia. Em meados do séc. XIII, sob o comando de Birger Jarl e, por volta
de 1300, durante a regência de Torgils Knutsson.

No Báltico, durante um período de mais de 150 anos, que termina com a


chegada dos cruzados alemães à região, a Estônia foi atacada treze vezes
pelos principados russos e também por dinamarqueses e suecos. Os
Estonianos, por sua vez, fizeram incursões na Dinamarca e na Suécia.
Existiram tentativas pacíficas, pelos cristãos ocidentais, para a conversão dos
Estonianos, iniciadas com missões enviadas por Adalberto, Arcebispo
de Bremen em 1045-1072. No entanto, esses esforços de paz parecem terem
tido muito pouco sucesso.

Seguindo na esteira dos mercadores alemães, que navegavam agora


pelas antigas rotas de comércio dos vikings, um monge chamado Meinardo
desembarcou na foz do rio Daugava, na atual Letônia, em 1180 e foi feito bispo
em 1186. O Papa ordenou uma cruzada contra os pagãos Bálticos em 1193 e
uma expedição de cruzados comandados pelo sucessor de Meinardo, o bispo
Bertoldo, desembarcou na Livônia (parte da atual Letônia, cercando o golfo de
Riga) em 1198. Embora os cruzados vencessem sua primeira batalha, o bispo
Bertoldo foi ferido mortalmente e os cruzados foram repelidos. Os Livônios, que
vinham pagando tributos para o Principado Eslavo Oriental de Polócia,
inicialmente consideraram os alemães como úteis aliados, mas quando os
alemães tornaram-se uma ameaça, os Livônios pegaram em armas contra os
cruzados, e o norte da Estônia passou ao controle dos dinamarqueses.

Em 1199, Alberto de Riga foi designado pelo Arcebispo de Bremen para


cristianizar os países bálticos. Alberto iniciou sua tarefa empreendendo uma
viagem pelo Sacro Império Romano-Germânico, pregando uma cruzada contra
os países bálticos e foi nisto amparado por uma Bula Pontifícia, que declarou
que a luta contra os pagãos bálticos teria a mesma importância de uma
participação em uma cruzada à Terra Santa. Embora ele tenha chegado à foz
do rio Daugava, em 1200, com apenas 23 navios e 500 soldados, os esforços
do bispo asseguraram um constante fluxo de recrutas. Para assegurar a
presença militar permanente, foi fundada a ordem dos Irmãos Livônios da
Espada, em 1202. Ele também fundou um mercado em Riga, em 1201, queu
atraiu cidadãos do Império e a cidade prosperou economicamente. Por
solicitação de Alberto, o Papa Inocêncio III dedicou os países bálticos a Virgem
Maria para atrair recrutas para o seu exército e o nome "Terra de Maria" se
mantêm até os dias de hoje.

De 1208 a 1227, violentos ataques militares acorreram em diversos


pontos da Livônia, Lategália e em diferentes regiões da Estônia, com os
Livônios e Lategálios normalmente como aliados dos cruzados e os
Principados Eslavos Orientais aparecendo como aliados de diferentes lados em
diferentes ocasiões. As fortalezas estonianas situadas no alto das colinas,
foram sitiadas e tomadas várias vezes. Uma trégua entre os dois lados da
guerra foi firmada por três anos (1213-1215) e ela provou ser mais favorável
aos alemães, que consolidaram suas posições políticas e vão formar um
estado centralizado controlado pela Ordem Teutônica, que vão durar até 1525.
O líder livoniano Caupo foi morto em uma batalha próxima a Viljandi (Felim)
em 21 de setembro de 1217, mas a batalha foi uma derrota esmagadora para
os estonianos.

Em 1220, o rei Valdemar II da Dinamarca desembarcou próximo da


atual Talin, em 1219. Ele mandou construir uma fortaleza no local, que foi
sitiada pelos estonianos em 1220 e em 1223, mas ele conseguiu mantê-la.
Depois, todo o norte da Estônia passou para o controle dos dinamarqueses. A
última região da Estônia a resistir foi a ilha de Saaremaa, cujas frotas de guerra
atacaram a Dinamarca e a Suécia durante os anos de lutas contra os cruzados
alemães. Um forte exército de 20 000 homens sob o comando do legado
papal, Guilherme de Módena, atravessou o mar congelado enquanto a frota
estoniana estava obstruída pelo gelo, em janeiro de 1227. Após a derrota dos
pagãos, os cruzados atacaram os Curônios e os Semigálios, as tribos da
Letônia que viviam ao sul e oeste do rio Daugava.
Em cerca de 1230, o controle das Cruzadas do Norte passa para os
Cavaleiros Teutônicos, que lutam na Prússia, Livônia, Estônia e Finlândia. Em
1245, o papa Inocêncio IV permite que o Grão-Mestre da Ordem Teutônica
conceda indulgências para a Cruzada, sendo que nem mesmo o Rei de
Jerusalém tem esse direito de recrutar cavaleiros. Quando os Cavaleiros
Livônios foram massacrados pelos Lituanos na Batalha de Saule, em 1236,
coincidindo com uma série de revoltas na Estônia, a Ordem da Livônia foi
absorvida pela Ordem Teutônica. Os Cavaleiros Teutônicos não conseguiram
subjugar os pagãos da Lituânia, que oficialmente foram convertidos ao
catolicismo em 1386 com o casamento do Grão-Duque Jogaila com a rainha de
onze anos de idade, Jadwiga da Polônia. As forças polaco-lituanas derrotaram
os Cavaleiros Teutônicos na Batalha de Grunwald, em 1410, muito tempo
depois.

A Ordem Teutônica tentou conquistar


a Rússia Ortodoxa (particularmente as Repúblicas de Pskov e Novgorod), um
empreendimento endossado pelo Papa Gregório IX. Um dos maiores incentivos
para a conquista da Rússia foi a Batalha do Gelo, em 1242, onde os cavaleiros
teutônicos tiveram a maior derrota, para os habitantes da República de
Novgorod, liderados por Alexandre Nevsky. Com ou sem a benção do Papa, os
suecos também empreenderam diversas cruzadas contra a ortodoxa
Novogárdia.
(representação da batalha do Lago Peipus, em russo A batalha do Gelo)

Essas cruzadas acabaram sendo mais um banho de sangue e limpeza


étnica do que tendo um motivo nobre como as em direção a Jerusalém ou a
Reconquista Ibérica. No entanto, exageram sobre as atrocidades cometidos
pelos Cavaleiros Teutônicos. É verdade que eles fizeram a conversão forçada
de muitos pagãos, mas São Jacinto da Cracóvia (1185-1257), que tinha feito a
conversão voluntária de muitos pagãos do leste europeu, e em 1232 na Prússia
ele enfrenta os sambianos, que estavam praticamente em guerra com a Ordem
Teutônica, e ele converte os prussianos e repreende os cruzados teutônicos
que estavam praticando abusos nas cruzadas do Norte.

Também não falam que os povos pagãos do Báltico cometiam diversas


atrocidades. Segundo William Urban, os prussianos pagãos originais tinham o
costume de matar as meninas logo após o nascimento, e com isso as mulheres
prussianas eram escassas, e os pais podiam exigir uma noiva por um alto
preço pela venda de suas filhas. E também a poligamia era praticada e
esperava-se que um nobre tivesse várias esposas e concubinas, e para isso
era necessário invadir terras vizinhas para trazer mulheres prisioneiras. Os
nobres prussianos viviam da caça e da guerra, e do trabalho de seus escravos,
e as mulheres e crianças que eles capturavam nos ataques serviam como
ajudantes domésticos e concubinas, muitas vezes tratados como mercadoria
humana nos mercados de escravos regionais. Há alguma evidência de uma
rota comercial para o sul através da Polônia, e ninguém ficaria surpreso se
muitos cativos fossem vendidos nos rios russos, seguindo a rota tradicional de
escravos para os turcos e os bizantinos. Embora esse tráfico oriental já tivesse
passado do seu apogeu, e estava sendo interrompido por incursões nômades
no sul da Rússia, ainda era lucrativo.

É verdade que os nobres poloneses e alemães também não


trabalhavam, mas eles não viviam do trabalho de escravos ou da renda
derivada da venda de prisioneiros feitos na guerra. Em 1250, Midogas da
Lituânia aceitou o Cristianismo, retirando assim a justificativa para atacar as
suas terras, e os cavaleiros teutônicos abriram mão de conquistar os territórios,
sendo que eles podiam transformar um dos maiores inimigos da Cristandade
em um forte aliado. Em 1256, o rei Audegard II da Boêmia levantou um exército
tão poderoso, que os nativos locais perceberam que a resistência era inútil. Em
1257, os samaguideões pediram uma trégua de 2 anos para considerarem
suas opções, e os cruzados atenderam a esse pedido. Depois desse período, a
Ordem Teutônica parece ter se tornado mais violenta, e é verdade que fizeram
algumas atrocidades, mas longe de ser um genocídio. As Cruzadas do Norte
são um sucesso completo e os pagãos do Báltico e da Finlândia são todos
católicos por volta de 1400.

Na aquisição de Danzig teutônica, os cavaleiros teutônicos se


apoderaram da cidade em novembro de 1308. A ordem tinha sido chamada
pelo rei Vladislau I da Polônia. Segundo fontes históricas, muitos dos
habitantes da cidade, poloneses e aelmães, foram massacrados. Em 1402, a
Ordem Teutônica comprou de Brandemburg a Marca do Norte e manteve-a até
que ela fosse vendida ou penhorado novamente em 1454 e 1455,
respectivamente, pelos tratados de Cölln e Mewe. Em 1410, poloneses e
lituanos derrotam os teutônicos na famosa batalhad de Grunwald.
(Batalha de Grunwald, pintura de Jan Matejko.)

Em março de 1440, a Gentry (principalmente da Culmerlândia) e


das cidades hanseáticas de Danzig, Elbląg e Toruń e outras cidades
prussianas fundaram a Confederação Prussiana, livre do domínio da Ordem
Teutónica. Devido às grandes perdas e custos após a guerra contra a Polônia e
a Lituânia, a Ordem Teutónica aumentou mais os já altos impostos. Por outro
lado, as cidades não podiam se representar na Ordem Teutónica. Em fevereiro
de 1454, a Confederação Prussiana interessou ao rei Casimiro IV Jagelão da
Polônia sobre um possível apoio a uma rebelião para incorporar a então
Prússia na Polónia. O rei Casimiro IV e as cidades concordaram e teve início
a Guerra dos Treze Anos. A segunda paz de Thornem, em outubro de 1466,
acabou com a guerra e, supostamente, a Ordem Teutónica transferiu os seus
direitos sobre a metade leste de seu território para a coroa polonesa, que se
tornou a província da Prússia Real e a parte restante das terras da ordem
tornou-se um feudo da Polônia.

Durante a Reforma Protestante, convulsões religiosas e guerras


endémicas ocorreram na região. Em 1525, durante a Guerra polaco-teutónica
(1519-1521), Sigismundo II Augusto da Polônia e seu sobrinho, o último grão-
mestre da ordem teutónica, Alberto de Brandemburgo-Ansbach, membro de um
ramo da Casa de Hohenzollern, concordaram que este último iria renunciar à
sua posição, e iria adotar a fé luterana e assumiria o título de Duque da
Prússia. Desde então nomeada Ducado da Prússia, manteve-se como um
feudo polonês. Assim, em um acordo mediado em parte por Martinho Lutero, o
Estado católico romano teutônico foi transformado no Ducado da Prússia (em
alemão: Herzogtum Preußen), o primeiro Estado protestante.O restante do
Estado da Ordem Teutônica colapsará em 1561, durante a Guerra da Livônia
(1558-1583) entre Rússia e os países nórdicos.

(Os Estados da Ordem Teutônica por volta de 1260)


(Reino teutônico entre 1309 e 1410)

Ocerreram diversas revoltas pelos prussianos sob governo teutônico,


notavelmente em 1260, e a guerra foi selvagem. A Ordem Teutônica foi
acusada de assassinarem cristãos na Livônia, destruir igrejas seculares,
impedir conversões e comercializar com pagãos. Em 1310, o papa Clemente V
lançou uma investigação, porém nada se concluiu, e a Ordem suportou o dano
à sua reputação. Houve também algum reconhecimento que os rumores
estavam sendo espalhados por Ordem de rivais e de inimigos. O prestígio das
campanhas da Ordem na Prússia e Livônia atraíram nobres de toda a Europa,
incluindo o futuro Henry IV da Inglaterra (r. 1399-1413). No entanto, quando os
lituanos se converteram ao Cristianismo em 1389, a Cruzada perdeu seu
propósito, e tornou-se claro que os teutônicos estavam mais interessados em
política e pilhagens que na conversão.

A Ordem Teutônica desfrutou de muitos sucessos com o passar dos


séculos e de fracassos militares – notavelmente na defesa da Terra Santa e
contra os russos, porém conseguiu os dois feitos que sempre foram sua
intenção: disseminar o Cristianismo e ajudar o pobre e necessitado. A Ordem
converteu muitos pagãos nos territórios que conquistava, colonizando o local
com migrantes alemães e como parte de uma colonização sistemática. A
Ordem difundiu tecnologia, por exemplo, construindo um imenso moinho de
água em Danzig no início do século XIV. Suas habilidades com negócios eram
famosas em toda a Europa, bem como sua competência diplomática, gerando
um antigo provérbio alemão: “Se você se julga tão esperto, vá em frente e
engane os senhores da Prússia.”. Em certo sentido, a Ordem foi vítima de seus
próprios sucessos, pois suas habilidades administrativas e comerciais
frequentemente entravam em conflito com outros poderes. Além do mais,
quando os inimigos tradicionias da Lituânia se converteram ao Cristianismo, o
principal objetivo da Ordem deixou de existir.
(Estado Teutônico em 1466)

(decorrer das Cruzadas do Norte)


b) A Reconquista (722-1492)
Agora vamos falar da Guerra de Reconquista Ibérica (722-1492) que é
algo muito mais nobre. A península ibérica depois da queda do Império
Romano foi dividida entre o reino suevo e o reino visigótico, ambos bárbaros e
cristãos arianos. O reino suevo se converte ao catolicismo na década de 560,
mas foi anexado pelo reino visigótico em 585. No ano seguinte, o rei visigodo
Recaredo I se converteu ao catolicismo. Em 711 o reino visigótico é
inteiramente conquistado pelos mouros. Os mouros eram pessoas do norte da
África, mais especificamente do atual Marrocos, que se converteram aos Islã e
dominaram a Península Ibérica.
Conta-se que Rodrigo, o último rei dos visigodos, tenha chegado de
forma ilegítima ao poder em 710. E seus opositores, os bizantinos da região de
Ceuta, e também judeus e outros godos que não reconheciam seu reinado,
foram pedir a intervenção de chefes muçulmanos do norte da África. Então
Muça Ibne Nocáir (640-716), general do califado Omíada, com o auxílio de
generais bizantinos, judeus e godos, resolve atacar em 711. Os 7000 bérberes
comandados por Tarik Ibz Zyiad (670-720) desenbarcam na Espanha depois
de atravessarem o estreito de Gilbratar, e marcham rapidamente sob a
península até Guadelete, onde Rodrigo e os visogodos o esperavam para a
batalha. Nesse único embate, o reino visigótico desabou em pouquíssmo
tempo, e em questão de 4 a 5 anos, os muçulmanos tomaram quase toda a
Península. A maioria dos visigodos que sobreviveram à batalha se refugiram no
reino franco, e uma outra parte conseguiu escapar indo para o extremo norte
da Península Ibérica, e formaram o reino das Astúrias, a única resistência cristã
na Península.
(Península Ibérica em 750)
Pelágio foi aclamado o primeiro rei do reino das Astúrias, e em 718, sob
seu comando os cristãos conseguiram dar um primeiro passo rumo à
Reconquista. E com isso, os cristãos conseguiram uma vitória heróica na
mística batalha de Covadonga em 718, onde somente 10 guerreiros asturianos
sobreviveram na defesa da última região cristã da Península. Então os
muçulmanos resolveram atacar o reino franco, e conquistaram todo o sudoeste
da França, chegando próximo de Paris. Eles só são parados em 732 na batalha
de Poitiers, onde Carlos Martel impôs uma derrota avassaladora sob o exército
omíada, que recuaram novamente para a Espanha. Em 756, surge o emirado
de Córdoba, um califado independente na Espanha, rival do califado de Bagdá.
Em 785, Carlos Magno impôs a Marca Hispânica no norte da Espanha, como
divisa entre os francos cristãos e os muçulmanos, a partir dos montes Pirineus
e algumas fortificações. Em 778, ocorre a famosa batalha de Roncesvalles,
entre francos e vascões, onde o comandante da retaguarda de Carlos Magno,
Rolando, acabou morrendo em batalha, e os vascões foram vitoriosos. Essa
batalha inspirou a canção de Rolando, uma das música mais famosas de toda
a Idade Média, talvez a mais famosa, só que no lugar dos vascões, ele
colocam os muçulmanos, por causa do contexto da Reconquista e das
Cruzadas.
No século IX, São Tiago Maior, que foi um dos 12 apóstolos de Jesus,
teria supostamente aparecido miraculosamente em vários combates na batalha
de Clavijo em 844, conduzindo os cristãos à vitória. E com isso São Tiago foi
apelidado de Santiago Matamouros. Em 1063, o papa Alexandre II concede
indulgência geral aos franceses que fossem ajudar seus irmãos espanhóis.
Em 1008, no norte da Espanha estavam estabelecidos os reinos de
Leão-Galiza, Castela, Navarra, a Marcha Hispânica que era da França, e o
condado de Barcelona. O resto da Península, que era a maior parte, era o
Califado de Córdoba, que tinha surgido em 929. Nas mãos de Almançor, o
califado retornou aquele ímpeto expansionista, e retomou algumas cidades dos
recém formados reinos cristãos. Depois que Almançor morreu em 1002, os
cristãos tiveram um grande alívio. Em 1031, o Califado se fragmenta em uma
federação de 23 pequenos estados, as taifas, onde muitos brigavam entre si.
Então se aproveitando da situação Fernando I une os reinos de Leão e
Castela, por meio de um casamento com a rainha de Leão em 1037. Fernando
ataca e cerca os taifas de Toledo, Badajoz e Saragoça, e chega até a submeter
sob sua autoridade o taifa de Sevilha. Mas ele acaba por morrer em 1065, e
seu reino foi dividido entre seus herdeiros, formando o reino da Galiza, Leão, e
Castela. Seu filho, Afonso VI consegue reunificar Castela e Leão, e retoma as
ofensivas, principalmente pelo apoio do papa Gregório VII, que transforma a
Reconquista numa Cruzada. Os taifas de Sevilha, Saragoça, Valência e
Granada são duramente atacados por Afonso. Mas os reis muçulmanos dos
taifas de Sevilha, Badojos e Granada, resolvem apelar para um cara chamado
Yusuf Ibn Tashfin, chefe de uma nova facção de muçulmanos nômades do
deserto do Saara, que em pouco tempo foram imparáveis nas conquistas do
noroeste da África, os temíveis almorávidas.
(Fronteira nos tempos de Almançor)
Yusuf não só atendeu ao chamado dos reis muçulmanos, como ele viu
nisso a oportunidade de extender o domínio do Império Almorávida. Então em
1086 ocorre a batalha de Zalaca entre cristãos e almorávidas, que foi
desastroso para o lado cristão, fazendo Afonso e seus homens recuarem até
Toledo. Yusuf dá uma desanimada na consquista da Espanha porque seu filho
morreu nessa batalha, mas ele retorna quatro anos depois, e passa a
conquistar um por um os taifas de Al Andaluz.
(extensão do Império Almorávida em sua máximo extensão em 1120)
Nesse período da Reconquista, merece destaque a figura de El Cid.
Rodrigo Díaz de Vivar (1043-1099) foi um cavaleiro do reino de Castela e
senhor da guerra na Espanha medieval e veio a ser conhecido pelos mouros
como El Cid (“senhor” em árabe) e pelos cristãos como El Campeador
(Campeão). Ele nasceu em Vivar del Cid, um vilarejo próximo à cidade de
Burgos, em Castela. Como chefe de seus leais cavaleiros, veio a dominar o
Levante da Península Ibérica no final do século XI. Ele recuperou a cidade de
Valência do controle muçulmano por um breve período durante a Reconquista,
depois de 20 meses de cerco, criando o senhorio independente o “Señorío de
Valência” de 17 de junho de 1094 até sua morte em 1099. Sua esposa, Jimena
Díaz, herdou a cidade e a manteve até 1102 quando foi reconquistada pelos
mouros.
Os mouros ainda insistiam em atacar Barcelona, que só conseguiram
segurar as pontas por causa de um exército cristão vindo da França. A próxima
figura forte que surge agora é Afonso I de Aragão, que reinou de 1104 até
1134, chamado de “O Batalhador”. Ele retomou Saragoça em 1118, pulverizou
os inimigos em Cutanda em 1120, e cinco anos mais tarde ele fazia incursões
no coração do reino de Al Andaluz dos muçulmanos, em Córdoba e Granada.
Ele só perdeu uma batalha na sua vida, que foi a última que lutou. Mas ocorre
uma outra revolução no mundo islâmico, já que muitos muçulmanos achavam
os almorávidas puritanos, fanáticos, e materialistas demais. Então surgem os
almóadas, que se opuseram aos almorávidas, pregando a jihad contra eles. A
partir de 1145, a Espanha Almorávida vai decaindo, e vai se tornando do
Império Almóada. E os cristãos vendo os islâmicos brigando entre si, vão
aproveitar a situação para continuar a Reconquista.
Surge então a figura de Afonso Henriques, que é um herói de Portugal.
Em 868, nasceu o Condado Portucalense, o atual norte de Portugal, o qual era
muito importante e tinha bastante autonomia, porém era um vassalo do reino
de Leão. Em 1071, o Condado Portucalense é anexado ao reino da Galiza,
mas 20 anos depois ele reemergiu. Em 1109, nascia Afonso Henriques “O
Conquistador”, filho do conde portucalense Henrique que morreu três anos
depois, e Afonso se tornou conde aos três anos. Como ele era muito novo, sua
mãe, Teresa de León virá uma regente. Em 1120, ele assume uma posição
contrária a de sua mãe, e foi obrigado a sair do condado. Sua mãe havia se
aliado com Fernão Peres de Trava, de uma das casas mais fortes da Galiza.
Como isso poderia ser ruim para a autonomia da região, em 1128, Afonso
Henriques volta com a ajuda de um exército e luta contra sua mãe que estava
com o exército da Galiza, na batalha de São Mamede. Afonso acaba ganhando
e vira assim o conde de Portugal. Ele estava lutando pela independência da
região e lutou várias batalhas, e em 1139 ocorreu uma das mais difíceis, a
batalha de Ourique. Nessa batalha, o exército de Afonso Henriques se deparou
com um exército mouro bem maior. Diz a lenda que Afonso teria uma visão
com Jesus, onde ele garantira a vitória se Afonso espalhasse a palavra por
todo o reino. Então Afonso acabou ganhando a batalha e foi nomeado rei de
Portugal pelo seu exército. Em 1149, acontece o cerco de Lisboa, onde ele
acaba ganhando novamente. Com o passar dos anos ele conquista mais um
pouco de territórios até que em 1179, a Igreja reconhece a independência de
Portugal. Afonso Henriques acaba morrendo em 1185 na sua casa em
Coimbra, até hoje não tem consenso sobre o motivo.

(Representação do Cerco de Lisboa, por Alfredo Roque Gameiro (1917).)

Em 1212, o arcebispo Rodrigo Jiménez de Toledo, quer enfim reuinir as


forças cristãos e fazer o Cristianismo prevalecer de vez na Península Ibérica.
Então ele reúne um grande exército e no mesmo ano ocorre a batalha mais
decisiva da Reconquista, a Batalha de Navas de Tolosa, e a Europa inteira
envia voluntários e o papa prega a cruzada espanhola. Três reis ibéricos se
unem para a emprentada, Sancho VII de Navarra, Pedro II de Aragão e Afonso
VIII de Castela. Alguns especialistas contam 60.000 cristãos contra 120.000
muçulmanos, mas logo se estabeleceu a desordem no exército dos almóadas,
e com a derrota, muito de seu exército foi dizimado.
(batalha de Navas de Tolosa, 1212)
Em 1236, temos a reconquista de Córdoba, que estava a 525 anos em
mãos muçulmanas. Em 1248, temos a reconquista de Sevilha pelas tropas de
Fernando III de Castela. Agora só sobrava o pequeno reino de Granada, que à
essa altura já era vassalo do reino de Castela. Quando Fernando III morre em
1252, só faltava o pequeno pedaço de Granada para ser retomado. Isso
começa a se dar em 1482, com Fernando II de Castela e Isabel de Aragão, que
utilizando de um jogo diplomático e de alguns enfrentamentos, em 10 anos eles
terminam a Reconquista da Península Ibérica, conquistando Granada em 1492.
(A rendição de Granada por Francisco Pradilla Ortiz)

Os islâmicos clamam que a Espanha islâmica foi um lugar de paz e


tolerância religiosa entre cristãos, islâmicos e judeus. Eles citam Maimônides
(1138-1204), um intelectual judeu, e Averróis (1126-1198) um filósofo islâmico
aristotélico, e ambos viviam em Córdoba. Também falam que as traduções
árabes de Aristóteles foram passadas da França para a Espanha. No entanto,
falta evidências arqueológicas para essas alegações de que era um paraíso de
tolerância religiosa, e há evidências literárias falando de massacres de judeus
em 1066 e expulsão de cristãos em 1126. Como os islâmicos ficaram tanto
tempo na Península era inevitável que os hispânicos absorvessem alguns
elementos culturais deles. Por exemplo, algumas palavras do espanhol e
português foram inspiradas no árabe como as palavras “alface”, “almirante”,
“algodão”.
A reconquista começa em 722 e em 1123 o processo de Cruzada na
Espanha foi regularizada pelo Primeiro Concílio de Latrão, e depois disso
houve ajuda estrangeira substancial. Após a reconquista ser terminada em
1492, a monarquia espanhola unificada promoveu a conversão forçada de
200.000 judeus e 100.000 continuaram como judeus. Em 1609, fez a mesma
oferta de conversão forçada à maioria islâmica, que depois disso desapareceu.
Porém, depois de 1492, não estamos falando mais de uma Cruzada, porque o
território já foi reconquistado, e também já não estamos falando de feudos
medievais e sim de um estado nação espanhol e português.

c) Cruzada Albigense (1208-1244)

Por fim, temos a cruzada albigense (1208-1244) no sul da França. No


sul da França, na região de Albi, havia um problema que era o catarismo, uma
heresia do Cristianismo. Os cátaros eram maniqueístas e acreditavam que o
Universo era a luta entre o bem e o mal, e por causa disso o mundo material é
inerentemente corrupto e o reino de Satanás. O reino espiritual era o reino do
bom deus é um refúgio dos fardos do mundo material. Para eles, quanto mais
você se conectava com o mundo físico, mais você se corrompe no reino de
Satanás. Além disso, os cátaros diziam que a Igreja era um covil de ladrões, e
que era a prostituta que lemos em Apocalipse, etc. Essas pessoas não agiam
sozinho, e agiam através de uma rede de vassalagem e suserania, e recebiam
apoio do conde Raimundo VI de Toulouse, que aproveitava desse movimento
religioso para conquistar mais poder. Ele deixava que seus vassalos cátaros
praticassem violência contra os católicos, saqueassem mosteiros, e até
assassinassem padres. Os cátaros também agiam como bandidos nas
estradas, saqueando caravanas, e recebiam refúgio nas terras do conde de
Toulouse. O papa Inocêncio III faz tentativas diplomáticas para reverter o
catarismo, mas essas tentativas falham, e o papa declara uma cruzada contra
o conde em 1208.

Vale lembrar que além de falarem mal da Igreja Católica, esses cátaros
incitavam o suicídio e matavam mulheres grávidas, já que eles acreditavam
que tudo que tem no mundo físico é de Satanás. Para eles a vida era algo ruim,
e ficavam sem comer por muito tempo, porque diziam que a comida alimenta o
corpo mas não a alma. Eles também destruiam plantações alheias, ou seja, era
um bando de criminosos.

Inocêncio III convoca o abáde de Cister para fazer a pregação em prol


dessa Cruzada. Ao mesmo tempo, ele manda um notório apostólico chamado
Milon, para tentar negociar com o conde de Toulouse. As exigências de Milon
ao conde eram: que ele puna os bandidos saqueadores de estradas, restaure e
indenize todos os mosteiros e igrejas que ele saqueou, acabem com os
impostos que ele criou, e acabe com a heresia cátara. Raimundo VI comete
perjúrio, e então os cruzados começam a expedição.

Então os cruzados marcharam para Languedoc, tomaram as cidade de


Carcassonne e Béziers. No entanto, apesar da guerra ser justa, eles foram
injustos na forma de fazer a guerra. Eles causaram dano colateral evitável com
mulheres e crianças. Muitos cruzados pensaram então em se retirar, já que
naquela época os soldados tinham muito mais liberdade de desistir de uma
batalha. Um desses cruzados eram Simão IV, conde de Montfort, que
participou da Quarta Cruzada, era um gênio militar, e era casado com uma
mulher muito virtuosa, chamada Alix de Montmorency.

Simão se viu abandonado, porque ele foi o primeiro a se opor à essas


atrocidades, e poucos homens estavam do lado dele. No entanto, chegou um
ponto que lhe deram razão e o abáde de Cister nomeou ele como chefe da
Cruzada. Então os cruzados começaram a ter vitórias, mas ao mesmo tempo o
papa Inocêncio III queria a conversão de Raimundo VI, porque ele não queria
que a guerra resultasse na total destruição da casa de Toulouse. Além disso,
Inocêncio III temia que a batalha perdesse o foco, que era o combate à heresia.

Então em 1208 houve um concílio em Avignon, que exigiu de Raimundo


VI o cumprimento de suas promessas em St-Gilles. Esse concílio o acusou de
ser cúmplice dos hereges cátaras e de ter engendrado o assassinato do beato
Pierre de Castelnau. Então Raimundo VI enrolou o papa por mais algum
tempo, até que em 1210, o concílio excomungou Raimundo VI e a guerra
aberta começou. Os hereges cátaras começaram na ofensiva, e cercaram a
cidade de Castelnaudary em 1211, mas Simão de Montfort contra-atacou e
venceu. Com isso, Raimundo VI recorreu ao rei de Aragão, Pedro II, veterano
de Cruzada, e que era cunhado dele. Pedro II envia 20.000 soldados de
infantaria, e 40.000 cavalarianos. Enquanto isso, Simão só conseguiu reunir
800 cavalarianos, sendo 250 cavaleiros e 650 sargentos montados. Além disso,
Simão tinha 700 soldados de infantaria.

No entanto, apesar de estar com número bem menor, Simão estava ao


lado de Deus. Na batalha de Muret em 1213, Simão de Montfort dividiu a sua
cavalaria em três esquadrões, e comandou um deles pessoalmente. Os
primeiros dois esquadrões atacaram as linhas do rei de Aragão com todo
ímpeto, toda a audácia e todo o poder de choque que caracteriza a cavalaria.
Enquanto que o terceiro esquadrão, comandado por Simão, numa operação de
flanco, atordoou aquilo que restava das linhas e muitos bateram em retirada.
No meio da confusão, o rei Pedro II de Aragão foi mortalmente ferido e morreu.
Então Simão de Montfort desceu de seu cavalo, chorou ao lado do cadáver de
Pedro II de Aragão, rezando para Deus que tivesse misericódia de sua alma.
Além disso, Simão deu os espólios da batalha em benefício dos pobres. No
meio de todo esse caos, estava São Domingos de Gusmão, que sempre
carregava um crucifixo crivado de setas.

O conde de Toulouse, aterrorizado depois dessa perda, resolve


reconciliar com a Igreja, através de um tratado com o cardeal do papa, Pedro
de Benevento, só que Raimundo VI perdeu todas as posses para Simão de
Montfort. Em 1215 houve o concílio de Latrão, que ia decidir o destino da casa
de Toulouse, onde eles decidiram dar a Raimundo VII o marquesado de
Provence. Ainda assim, Raimundo VII se sentia injustiçado, e disse que faria de
tudo que a moral católica permitisse para recobrar as suas terras. O papa
disse, abençoando o jovem, que o princípio de todas as suas ações seja bom,
e o fim seja ainda melhor.

A partir daí houve uma inversão e Simão de Montfort perdeu a sua


humildade, se tornando governante daquelas terras. Ele começou a desarmar o
povo, subjulgar o povo, enquanto os Toulouse se tornaram humildes e
penitentes. E então Simão perdeu todo apoio que ele tinha em Toulouse e as
pessoas se revoltaram contra ele. Numa última tentativa de reconquistar
Toulouse ele tentou um último cerco, e nessa batalha ele foi mortalmente ferido
por um disparo de manganela, e Deus lhe concedeu a graça de um
arrependimento final. Enquanto isso, Raimundo VII cumpriu a sua palavra e fez
de tudo que estava ao seu alcance para manter as suas terras, chegando até a
enfrentar o reino da França. Acabou tendo que negociar com a França por
meio de casamentos, trocas de territórios, mas morreu em paz em 1248.

Em 1229 essa guerra termina, com a Inquisição foi criada para erradicar
os cátaros remanescentes, operando no sul de Toulouse, Albi, Carcassonne e
outras cidades durante todo o século XIII, e uma grande parte do XIV. Os
cátaros serão novamente perseguidos nas inquisições espanholas e
portuguesa, só que essas inquisições não são feitas pela Igreja e sim pelo
Estado. Vale lembrar que o papel da Inquisição era apenas dizer se houve
heresia e entregar a pessoas para um tribunal civil que ia decidir qual a
punição, caso ele fosse condenado. A Inquisição trouxe o direito à defesa, a
condenação só acontecia com provas concretas, e o acusado era avisado com
antecedência; vasta investigação do caso e das provas; o inquisidor tinha que
ser especialista em direito comum e canônico; podia-se recorrer ao Papa; entre
muitos outros pontos positivos. A Inquisição serviu como uma alternativa aos
tribunais que seguiam a constituição de Justiniano, que condenava
automaticamente os hereges à morte. E isso fica evidente com o estudo da
época, ao ver réus pedindo transferência dos seus casos para os tribunais
inquisidores, pois sabiam que eles eram mais eficientes nas suas
investigações, eram mais honestos e tinham maior taxa de inocentados. 

(mapa da Cruzada Albigense)


(Pintura de São Domingos de Gusmão e Simão de Montfort na Batalha de
Muret, em 12 de setembro de 1213)

O Fim dos Estados Cruzados

Por volta de 1200, a presença franca na Terra Santa é considerada


incômoda, com quem coexiste no estado normal das coisas. O segundo reino
de Jerusalém era rico e próspero tanto quanto o primeiro. Depois de 1175,
começa a haver trocas de produtos como especiarias, pimentas, e outros luxos
vindos da Índia, e do Extremo Oriente, que antes iam para Alexandria, passam
a ir para a Síria. Depois de 1193, Acre se torna o porto mais importante do
Mediterrâneo para o comércio oriental. Também tinha uma substancial
manufatura e exportação de vidrarias, bens de metal, tecidos, couro, açúcar, e
madeira.

Em 1212 ocorre um evento estranho que é chamado de Cruzada das


Crianças, mas não é uma cruzada de verdade. A história é que tinha uma
crença de que Jerusálem só podia ser tomada por crianças, já que eram almas
puras. No entanto, essa história é um misto de fantasia e fatos. Supostamnte
50 mil crianças teriam sido colocadas em navios, e morreram de frio e fome no
trajeto, algumas foram vendidas como escravas no norte da África pelos turcos,
outras dispersaram, outras foram escravizadas e sequestradas pelos
muçulmanos. Obviamente não é uma cruzada porque não foi convocada pelo
papa, e não tem a participação de cavaleiros e nobres, mas parte da história é
verdadeira.

a) Quinta Cruzada (1217-1221)


O que nos interessa agora é a Quinta Cruzada (1217-1221). Ela ocorreu
pela iniciativa do papa Inocêncio III, que a convocou em 1215 no quarto
Concílio de Latrão, mas foi somente posta em prática por Honório III, seu
sucessor no trono de São Pedro. Ela foi liderada por André II, rei da Hungria,
Leopoldo VI, da Áustria, João I de Brienne, rei em título
de Jerusalém e Frederico II, imperador do Sacro Império. O imperador
Frederico II concordou em organizar a expedição.

Eles decidiram que para conquistar Jerusálem, era preciso conquistar o


Egito primeiro, já que este controlava este território. Em maio de 1218, as
tropas de Frederico II puseram-se a caminho do Egito, sob o comando de João
de Brienne. Desembarcados em São João D'Acre, decidiram atacar Damieta,
cidade que servia de acesso ao Cairo, a capital. Em agosto atacaram a cidade
e depois de conquistar uma pequena fortaleza de acesso, aguardaram
reforços. Em junho, foram reforçadas pelas tropas papais do cardeal Pelágio,
homem autoritário, que não quis subordinar-se a Brienne e também interferiu
constantemente nos assuntos militares.

Após uma série de crises na liderança egípcia, os cruzados conseguiram


ocupar o campo inimigo. O sultão acabou por oferecer o reino de Jerusalém e
uma enorme quantia se os cristãos se retirassem, mas o cardeal Pelágio,
acabou por convencer os restantes a recusar. Eles consideravam que os
muçulmanos não iriam resistir aos cruzados quando Frederico II chegasse com
seus exércitos.

Começaram a atacar Damieta, e após algumas batalhas sofreram uma


derrota, o sultão renovou a proposta, que foi novamente recusada. Depois de
um cerco de 9 meses, a cidade caiu. Os conflitos se alongaram tanto, que os
egípcios conseguiram recuperar as forças. Lançaram-se numa ofensiva, mas
os muçulmanos foram retirando-se e levaram os cruzados a uma armadilha;
sem comida e cercados acabaram por ter de chegar a um acordo: retiravam-se
do Egito e tinham suas vidas salvas. Tiveram também de aceitar uma trégua de
oito anos. Não obtiveram todos os seus objetivos, já que os reforços
prometidos por Frederico II não chegaram, razão pela qual ele foi
excomungado pelo papa Gregório IX. Essa foi a última cruzada para a qual o
papado mandou suas próprias tropas.

(rota dos nobres da Quinta Cruzada)


(Cerco ao porto egípcio de Damieta.)

b) Sexta Cruzada (1228-1229)


Então em 1227, o sacro imperador Frederico II, lança a Sexta Cruzada
(1228-1229) para tentar se redimir do erro com seus compatriotas da Quinta
Cruzada, na qual foi excomungado. Ele não gostava de combates e preferia
resolver as coisas com o diálogo, além de ser apaixonado pelo islã. Ele era
fluente em árabe, francês, latim, alemão, grego e italiano. Ao mesmo tempo, o
papa proclamou outra Cruzada, desta vez contra Frederico, e seguiu atacando
as possessões do imperador na Península Itálica. 
O pequeno exército de Frederico II, auxiliado pelos cavaleiros
teutônicos, foi diminuindo com as deserções, e uma semi-hostilidade das forças
cristãs locais devido à sua excomunhão pelo Papa. Aproveitando das
discórdias entre os sultões do Egito e de Damasco, Frederico II conseguiu pela
diplomacia um vantajoso tratado com o sultão Camil do Egito, sobrinho de
Saladino. Foi assinado então o Tratado de Jafa em 1229, em que o sultão
concedeu aos cristãos a posse de Jerusalém, Belém, Nazaré e Sídon por 10
anos. Em contrapartida, os cristãos reconheciam a liberdade de culto para os
muçulmanos. Por causa disso, o Papa excomunga Frederico II mais uma vez.
Frederico foi coroado rei de Jerusalém junto com sua esposa Isabel II, e
os dois governaram até 1228. Atacado pela Igreja, receoso de perder seu trono
na Germânia e o trono de Nápoles, regressou à Europa. Retomou relações
com Roma em 1230. No entanto, a derrota dos cristãos em Gaza fê-los perder
os Santos Lugares em 1244.

(territórios recuperados por Frederico II depois do Tratado de Jafa em 1229)


Após o fim dos dez anos da trégua de 1229, uma expedição militar
cristã, com poucos homens e poucos recursos, lideradas por Ricardo de
Cornualha e Teobaldo IV de Champanhe, encaminhou-se para a Palestina, a
fim de reforçar a presença cristã nos lugares santos. Não pôde impedir,
entretanto, que, em 1244, Jerusalém caísse nas mãos dos turcos muçulmanos.
Em 1255 deu-se o desastre de Gaza.

c) Sétima Cruzada (1248-1254)


Nesse ano, quando o papa Inocẽncio IV abriu o Primeiro Concílio de
Lyon, e o rei da França Luís IX, posteriormente canonizado como São Luís,
expressou o desejo de ajudar os cristãos do Levante. Luís IX levou três anos
para embarcar, mas o fez com um respeitável exército de 35.000 homens. Luís
IX aproveitou as perturbações causadas pelos mongóis no Oriente e partiu, de
Aigues-Mortes, para o Egito em 1248, começando assim a Sétima Cruzada
(1248-1254). Escalou no Chipre em setembro de 1248, atacando depois o
Egito.

Em junho de 1249, foi recuperada para os cristãos Damieta, que serviria


de base de operação para a conquista da Palestina. O sultão novamente
ofereceu Jerusálem, e novamente foi recusado, mesmo erro da Quinta
Cruzada. Em 1250, quase conquistou o Cairo, só não o conseguindo por causa
de uma inundação do Nilo e porque os muçulmanos se apoderaram das
provisões alimentares dos cruzados, o que provocou fome e doenças como
o escorbuto nas hostes de São Luís. Ao mesmo tempo, Roberto de Artois,
irmão do rei, depois de quase vencer em Almançora, foi derrotado devido a sua
imprudência.
Perante este cenário, com seu exército dizimado pelo tifo, São Luís
bateu em retirada. O rei foi feito prisioneiro em Almançora, sendo
posteriormente libertado após o pagamento de um avultado resgate (800 mil
peças de ouro) e restituição de Damieta, em maio de 1250. Só a resistência da
rainha francesa em Damieta, permitira que se conseguisse negociar com os
egípcios.
Livre do cativeiro seguiu para a Palestina em companhia de seu
irmão Carlos D'Anjou, onde permaneceu quatro anos na Terra Santa. Só
abandonaria a Palestina em 1254, depois de conseguir recuperar todos os
demais prisioneiros cristãos e de ter concluído um esforço de fortificação das
cidades francas do Levante. 

(Partida de Luís IX para a Cruzada (Gustave Doré))


(mapa da trajetória de Luís IX na Sétima Cruzada)

d) A ameaça dos mongóis


No século XIII surge outra força poderosa, só que desta vez no Extremo
Oriente, os mongóis. Os planaltos da Mongólia eram ocupados por cinco tribos
poderosas: os Keraites, Mongóis, Naimans, Merquites e os Tártaros. Essas
cinco tribos brigavam toda hora entre si, e a dinastia Jin da China estava muito
feliz com isso. A dinastia Jin e os tártaros atacavam, matavam, conquistavam,
destruíam, saqueavam, até que surge a figura de Temudjin, filho de um rico
chefe mongol. Temudjin queria ser os reis dos mongóis, mas eles já tinham um
rei, Kurtait. Então Temudjin une todas as tribos da Mongólia e em 1206 forma o
Império Mongol, assumindo o nome de Gengis Khan.
Gengis Khan criou o código de leis, proibiu a venda de mulheres,
reprimia brigas internas e roubo. A religião deles era o Tengriismo, uma forma
de paganismo, mas você podia fazer parte de outra religião de boa. Os pobres
e o clero não pagavam impostos. Foi como líder militar que ele mais brilhou,
desenvolvendo um novo exército, com corpos de 10, 100, 1000 e 10.000
soldados, comandados por homens de confiança de Khan. Esses corpos eram
conhecidas como as temíveis hordas mongóis. Com guerreiros montados a
cavalo, Khan começa sua marcha em direção à sua maior glória, os rus de
Kiev. Com seu exército implacável ele parte para o oeste e inicia a invasão
mongol da Rússia de Kiev em 1223. No entanto, Gengis Khan morre em 1227,
e seu neto seria responsável pela conquista final da Rússia, Batu Khan, que
leva os mongóis a serem o único povo da história a derrotar os russos em
pleno inverno. Ele desintegra todos os principados russos da Rússia de Kiev, e
subjulga os povos eslavos até o final do século XV.
Após essa grande conquista ele foi invadir a Polônia, Hungria, República
Theca, Aústria, Croácia, e Bulgária. No entanto, a Polônia, a Hungria e a
Bulgária consegue pará-los e não são dominados. A Europa inteira tinha 70
milhões de habitantes e o Império Mongol sozinho tinha 100 milhões. De todas
as ordens militares religiosas, apenas os templários enviaram reforços contra
os mongóis na batalha de Mohi no reino da Hungria em 1241, e na batalha de
Legnica entre uma força armada de poloneses e alemães em 1241. Os
cavaleiros lutavam com espadas e escudos e os mongóis com cavalos e arcos.
O grande Khan Ogedei avança para a Europa com toda a sua força, mas algo
surpreendente acontece: ele acaba morrendo do nada em 1241 e sem seu
líder, os mongóis acabam abandonando a Europa.
Com a morte de Ogedei, sua esposa Toregene assume o poder e se
torna a mulher mais poderosa do mundo. Mas o novo imperador seria seu filho,
Guyuk Khan, mas que reinou só dois anos de 1246 a 1248 até morrer doente.
Um conselho de aristocratas chamado Kurultai se reúnem e escolhem o novo
imperador, Mongke Khan, neto de Gengis Khan, filho de Tului e não de Ogedei.
Então ocorre um conflito interno entre o filho de Ogedei e Mongke Khan, com
Mongke vencendo. Mongke era um grande Khan, e seguia as leis, não era um
bêbado, era tolerante com as religiões estrangeiras, tinha templos budistas,
mesquitas, e Igrejas. A capital Karakorum era adornada com arquitetura
europeia, chinesa e persa. Ele confiou sua administração aos muçulmanos e
empreendeu uma série de reformas econômicas. Com as finanças em dia era
hora de atacar, desta vez o sul da China e o Oriente Médio.
Em 1258, os mongóis conquistam e saqueiam Bagdá, a maior cidade
islâmica, sob o comando de Hulagu, irmão de Mongke. Esse saque leva o
sistema islâmico à beira do colapso, e 80.000 pessoas são massacradas.
Depois ele ataca a Síria e destrói completamente o califado Abássida. Depois
foi a vez de Damasco e Alepo. Eles só foram parados pelo poderoso sultanato
mameluco a caminho do Egito. Em 1260, os mongóis derrotam os mamelucos
na batalha de Ain Jalud.

(saques mongóis na Síria e Palestina em 1260)


Para piorar, no sul da China, os mongóis tiveram contato com doenças e
o grande Khan Mongke morre em batalha, levando o Império ao caos. Mas ele
tinha um irmão, o salvador do Império, Kublai Khan. Kublai queria a China, mas
os mongóis queriam Kublai, que os ignorou. Então o irmão de Kublai, Ariq Boke
se torna o novo Khan. Então começa a guerra civil Toluid entre os dois irmãos
e Kublai vence e se torna o novo Grande Khan. Mas Kublai ainda queria a
China, e ele conquista a China, destrói a dinastia Jin, e cria a dinastia Yuan em
1271.
A rota da Seda volta a funcionar, o mercado volta a funcionar e a Europa
e a Ásia ficam felizez. Mas quando Kublai morre em 1294, os mongóis perdem
seu líder e o Império é dividido entre quatro canatos: o Canato da Horda
Dourada, a Dinastia Yuan, Ilcanato e o Canato da Chagatai. A dinastia Ming
briga com os mongóis da China, os mongóis se separam e acaba a Pax
Mongólica.
Gengis Khan foi um dos líderes mais cruéis e sanguinários da história,
matando cerca de 40 milhões de pessoas em suas campanhas na Eurásia.
Para comemorar suas vitórias sobre os russos, os mongóis colocaram dezenas
deles deitados no chão, colocaram um portão em cima e fizeram um banquete
em cima do portão, esmagando todos. Em algumas batalhas os mongóis
colocavam manequins montados nos cavalos para parecer que eles tinham
mais soldados do que realmente tinham. Aqueles que resistissem aos mongóis
tinham um tratamento extremamente violento e selvagem, como o príncipe
muçulmano de Mayyafaraqin que quando capturado foi obrigado a comer a
própria carne. O sistema de irrigação de Bagdá foi completamente destruído, e
o entorno da cidade se tornou um deserto. Por incrível que pareça os cristãos
de Bagdá vão ser poupados, porque a mãe de Hulagu era cristã, e sua esposa
favorita era cristã.
Em 1260, Beomundo VI de Antióquia tenta fazer um acordo com os
mongóis, onde ele tenta persuadir outros governantes francos da Terra Santa a
se aliarem aos mongóis contra os islâmicos. Os mongóis dobram o território do
principado de Antióquia por causa desse acordo. Os mongóis repetidamente
oferecem Jerusalém como incentivo, e há negociações com o papa e o rei da
França. Em 1268, os mamelucos capturam Antióquia, marcando o fim do
principado.
O fim da Horda Dourada só iria ocorrer em 1502, após a Rússia
unificada começar a se expandir para o leste. A dinastia Yuan mongólica na
China cairia em 1368. E o último canato, o Canato de Chagatai só irá cair em
1687.

(auge da extensão do Império Mongol, em 1259)


O reino de Jerusalém sempre foi hostil aos mongóis, e viam eles como
mais terríveis que os muçulmanos. Inclusive o reino garantia passagem livre
dos mamelucos pelo seu reino, do Egito para a Síria. No entanto, os
governantes islâmicos estão ressentidos por alguns governadores cristãos
apoiarem os mongóis, como Beomundo VI. Em 1269, Eduado I da Inglaterra
vai para a Terra Santa e tenta fazer um acordo com os mongóis que sobraram
e não é ajudado por ninguém, e acabou sendo inútil a sua vinda. O general
muçulmano que venceu os mongóis, Qutuz, é assassinado por seus generais e
o sultão Baibars se torna o grande governante islâmico no Levante e agora é
capaz de se voltar contra os francos por sua colaboração parcial com os
mongóis. E depois de Baibairs, ainda há dois sucessivos líderes islâmicos
fortes que são Qalawun, que governou de 1279 a 1290, e Al-Ashraf, que
governou de 1290 a 1293.

(Conquistas das Campanhas Do Sultão Baibars (1261-1277))


Soma-se a esse fortalecimento islâmico após os ataques mongóis, o fato
que a Oitava Cruzada em 1270, foi a mais fracassada e extremamante
humilhante para os cristãos. Em 1265, os mamelucos tomam Cesareia
Marítima, Haifa e Arsuf, e em 1266 ocupam a Galileia e parte da Armênia, e em
1268 conquistam Antióquia. O Oriente Médio vivia uma época de anarquia
entre as ordens religiosas cristãs que deveriam defendê-lo, bem como entre
comerciantes genoveses e venezianos.
e) A Oitava Cruzada (1270)
O rei francês Luís IX (São Luís), retomou então o espírito das cruzadas e
começou a Oitava Cruzada, embora sem grande percussão na Europa. O
plano era extremamente maluco e tinha tudo para dar errado: geograficamente,
o teatro de operações não era o Levante mas antes Túnis, e o propósito, mais
que militar, era a conversão do emir da cidade ao Cristianismo. O governador
Mostanser recebeu-o de armas nas mãos.
Só que essa cruzada é tão vergonhosa e humilhante, que eles mal
desembarcaram as forças francesas em Túnis, e foram acometidas por uma
peste que assolava a região, ceifando inúmeras vidas entre os cristãos, entre
eles São Luís e um dos seus filhos.

(A morte de São Luís)


O outro filho do rei, Filipe, o Audaz, ainda em 1270, firmou um tratado de
paz com o sultão e voltou à Europa. Chegou a Paris em maio de 1271 e foi
coroado rei, em Reims, em agosto do mesmo ano. Seu filho, Filipe IV, seria o
responsável por perseguir e queimar os templários na fogueira em 1307.

f) A Nona Cruzada (1271-1272)


Mas calma que ainda não acabou, ainda tem a Nona Cruzada (1271-
1272). Em 1268, o sultão Baibars tinha reduzido o reino de Jerusalém à uma
pequena faixa entre Sídon e Acre. A paz era mantida pelos esforços do rei
Eduardo I, apoiado pelo Papa Nicolau IV. Em 1271 e inícios de 1272, Eduardo
conseguiu combater Baibars, após firmar alianças com alguns de seus
adversários. Em 1272, estabeleceu contatos para firmar uma trégua, mas
Baibars tentou assassiná-lo, enviando homens que fingiam buscar o batismo
como cristãos. Eduardo, então, começou os preparativos para atacar
Jerusalém, quando chegaram notícias da morte de seu pai, Henrique III.
Eduardo, como herdeiro ao trono, decidiu retornar à Inglaterra e assinou um
tratado com Baibars, que possibilitou seu retorno e assim terminou a Nona
Cruzada.
(O Retorno do Cruzado, por Karl Friedrich Lessing)
Quando Antióquia foi tomada em 1268, todos foram massacrados,
exceto os cristãos mais ricos, que foram resgatados. Possivelmente esse foi o
maior massacre de toda a história das Cruzadas, e a cidade foi destruída e
hoje só restam ruínas. Em 1278, Hugo III retira a corte da cidade de Acre para
o Chipre. Em 1287, Qalawun toma a Lataquia no principado de Trípoli. Em
1289, aliados venezianos pedem que Qalawun tome Trípoli e destrua o
comércio genovês, e ele cumpre. Trípoli é tomada em meio ao massacre geral
de cristãos, e a cidade é arrasada. Os francos agora desesperadamente se
preparam para defender o último ponto de resistência cristã, uma pequena
faixa que incluia a cidade de Acre e Beirute. Em 6 de abril de 1291, Al-Ashraf
chega em Acre com um grande exército e poderosas máquinas de cerco. Tem
um longo cerco de Acre, de 4 de abril até 18 de maio, e a cidade tinha defesa
corajosa, mas as muralhas foram golpeadas a rublo. Suprimentos chegam do
Chipre e eles preparam uma evacuação acelerada de mulheres e crianças.
Templários, hospitalários e francos lutam lado a lado à medida que mais
inimigos entram na batalha. Eles são expulsos de volta para o cais, mas a
resistência dá tempo para muitos civis serem evacuados para Chipre. Em 18
de maio, Acre é uma cidade muçulmana, e ocorre um massacre geral dos
cristãos, e quase nenhum prisioneiro foi deixado para o mercado de escravos.
O castelo templário ainda está segurando e os cavaleiros continuam
fazendo uma limitada evacuação dos civis para o Chipre. Al-Ashraf oferece
termos de rendição favoráveis e os templários aceitam, mas imediatamente é
quebrado por muçulmanos em ataques de pilhagem e estupro, e os templários
lutam. Al-Ashraf oferece os mesmos termos, os templários ofereceram salvo-
conduto para organizar a rendição, e são imediatamente apreendidos e
decapitados. Os templários que sobraram decidem lutar até a morte.
Em junho de 1291, Al-Ashraf chega em Tiro com o mesmo poderoso
exército. A guarnição era pequena demais para defesa, então as pessoas são
evacuadas para o Chipre. Em agosto de 1291, Sídon, Tiro, Beirute e Haifa
caem sem nenhuma resistência. Em Monte Carmelo os monges são
assassinados e os monastérios são queimados. O Chipre estava lotado de
refugiados aterrorizados, mas o poder marítimo mantém a ilha segura. Todas
as cidades tomadas na costa são destruídas.
(Matthieu de Clermont défend Ptolémaïs en 1291, by Dominique Papety (1815–
49) at Versailles)
Considerações Finais

E é esse o fim lento e doloroso dos Estado Cruzados. As Cruzadas


foram extremamente importantes para o Ocidente, e sem elas provavalmente
os muçulmanos teriam conseguido destruir o Império Bizantino bem mais cedo
e tentado conquistar a Europa pelo leste. O islã sempre foi uma religião
violenta e expansionista e sempre teve o objetivo de dominar a Europa. O
Império Bizantino acabou se destruindo por si mesmo, mais do que pelo
estrago da Quarta Cruzada e das conquistas dos turcos otomanos, que vão
conquistar Constantinopla em 1453, marcando o fim do Império de quase 1100
anos.

As Cruzadas tiveram um motivo extremamente nobre, que era


reconquistar o território perdido para os muçulmanos e proteger os peregrinos
e cristãos vivendo sob o julgo muçulmano. Eu defenderia que todos os
territórios tomados pelos muçulmanos no norte da África e Oriente Médio e
Ásia fossem devolvidos aos seus respectivos donos, seja as propriedades dos
moradores bizantinos, as propriedades dos persas, das tribos da Arábia, etc.
Mas infelizmente o que deu para fazer foi reconquistar a Península Ibérica e
uma pequena parte do Levante, em que se formou os reinos cruzados, e todos
os que participaram destes eventos são heróis, extremamente corajosos.
Obviamente houve pessoas que participaram das Cruzadas e fizeram coisas
terríveis como Reinaldo de Châtillon, mas as Cruzadas em geral são um ato de
amor.

O reino armênio da Cilícia caiu apenas em 1375, dominado pelo


sultanato mameluco do Egito. Apesar da religião não ser o Catolicismo romano
e sim a Ortodoxia armênia, ainda é uma forma de Cristianismo, e este reino
pode ser considerado como um reino cruzado. E o Chipre, que serviu para
refúgio para muitos cristãos após a queda dos estados cruzados, caiu apenas
em 1489 quando a casa de Lusinhão deixou de reinar a ilha, e em 1571 o
Chipre caiu sob domínio muçulmano sob o Império Turco-Otomano. Algumas
ilhas gregas estavam sob o comando dos Cavaleiros de São João, e só cairiam
em 1522, e fugiram para Creta. Os cavaleiros ficaram em Creta até 1530,
quando o sacro imperador romano germânico lhes deu a ilha de Malta e Gozo.
Hoje em dia há quem discorde da ameaça muçulmana na Europa,
depois dos Estados Unidos e a OTAN promoverem inúmeras guerras no
Oriente Médio que desestabilizaram a região ainda mais e junto com as
políticas de fronteiras abertas da União Europeia, fez milhares, talvez milhões
de islâmicos entrarem na Europa como refugiados. Enquanto devido à políticas
progressistas, os europeus estão quase não tendo filhos, devido a abortos,
eutanásias, casamentos gays, e devido à degeneração moral causada pelo
consumismo keynesiano; os muçulmanos tem 12 filhos, com várias esposas, e
estão crescendo rapidamente e se tornando maioria na Europa. É só ver a
quantidade de ataques terroristas que teve na Europa nas últimas duas
décadas, que vemos o estrago que essas pessoas fazem, e o único jeito de
reverter isso é fechar as fronteiras contra os muçulmanos e mandar embora os
que já estão no território, e se precisar convocar mais uma cruzada.
O islã surgiu quando Maomé vai a Meca, e fala para todo mundo que os
deuses deles eram falsos, e ele é expulso da cidade. Algum tempo depois ele
volta com um exército, conquista a cidade, espalha as suas ideias, e morre.
Após sua morte, juntaram seus ensinamentos e criaram o Alcorão e o jihad, a
guerra de dominação de outros territórios para impor um governo islâmico e
obrigar os outros a se converter ao Islã.
O Catolicismo Apostólico Romano é a religião que sempre pregou a
liberdade, o respeito ao próximo, e sempre foi contra à escravidão, ajudando a
abolí-la em todos os lugares que pudesse, e a única que conseguiu limitar
pesadamente o poder dos reis e dos nobres, criando o sistema mais próspero e
capitalista que o mundo já viu, a Cristandade medieval feudal. Enquanto isso, o
Islã se impôs pela força e conquistou um território gigantesco, tanto cristão,
quanto persa, quanto pagão. E o Islã sempre foi uma espécie de seita político-
jurídica que prega a submissão dos conquistados à religião, e que mata infiéis.
Os lugares que eram dominados pelo islã sempre tiveram um controle bem
maior do governo sobre a vida dos indivíduos, tanto que hoje alguns países da
África são categorizados como estando sob o “Socialismo Árabe”.
É óbvio que pode haver pessoas boas que se autointitulam muçulmanas,
e pessoas más que se consideram cristãs, esse não é o ponto. O ponto é que a
noção de bem e mal é objetiva e a ética sempre foi sobre fazer o bem. Então
pode haver alguém que é muçulmano que é bom? Óbvio que sim, mas ele
seria considerado um mal muçulmano, porque o Alcorão sempre pregou o
jihad, a submissão aos preceitos, matar infiéis, tratar a mulher como objeto
sexual, apedrejar homossexuais e adúlteras, etc. Assim, como em 2000 anos
de Igreja Católica, existiu apenas 36 Doutores da Igreja, para você ver o nível
de santidade que a pessoa tem que ter para ser considerada um.

Referências
https://templariodemaria.com/a-verdade-nao-contada-sobre-as-cruzadas/
https://etimologia.com.br/assassino/
https://pt.ticotourandtravel.com/33416-rhodes-greek-island-home-of-knights-of-
st

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