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No fim do século VI, Roma desabava no caos e com ela agonizava toda
uma civilização. Os rumos da história mudavam drasticamente quando um
monge beneditino foi escolhido Papa. Era Gregório I, a quem a História
qualificou de "o Magno".
A catástrofe
A luz da esperança
Com efeito, ensina-nos o Papa Bento XVI: "A vida é como uma viagem no
mar da História, com freqüência enevoado e tempestuoso, uma viagem na
qual perscrutamos os astros que nos indicam a rota [...]. Certamente, Jesus
Cristo é a luz por antonomásia o sol erguido sobre todas as trevas da
História. Mas para chegar até Ele precisamos também de luzes vizinhas, de
pessoas que dão luz, recebida da luz dEle".
Primeiros anos
Vox populi, vox Dei. Gregório foi, sem dúvida, o varão providencial
escolhido por Deus para governar a Igreja naqueles tempos difíceis e
decisivos.
Viera à luz no ano de 540, numa nobre e antiga família romana,
profundamente católica e com longa história de fidelidade à Cátedra de São
Pedro.
Longa preparação
A graça operou então a definitiva conversão daquela alma feita para voar
nos horizontes infinitos da Fé.
Gregório, monge
Entretanto, "não se acende uma luz para colocá-la debaixo do alqueire, mas
sim para ser posta sobre o candeeiro" (Mt 5, 15). A Sabedoria divina ia
lentamente preparando esse varão incomum, por vias não imaginadas por
ele, para ser uma verdadeira luz do mundo a brilhar no firmamento da
Igreja e da Civilização Cristã.
Após quatro anos de paz monacal foi, por ordem do Papa Bento I,
ordenado diácono regional, ou seja, encarregado da administração de uma
das regiões eclesiásticas que nessa época dividiam a cidade de Roma.
E pouco depois o novo Papa, Pelágio II, que reconhecia em Gregório uma
longa experiência em assuntos seculares e uma provada virtude, o enviou
como apocrisiário (núncio) à capital do Império do Oriente,
Constantinopla.
"Como sucede às vezes a uma nave, atada ao cais de modo descuidado, ser
arrastada pelas ondas para fora do porto quando sobrevém uma tormenta,
assim encontrei-me subitamente no oceano dos assuntos do século" ,
escrevia ele, narrando sua nova situação.
Por volta do ano 585, pôde Gregório retornar a Roma. Seu maior desejo era
retirar-se definitivamente do mundo e enclausurar-se em seu amado
mosteiro de Santo André. Porém, os deveres do apostolado e a voz da
obediência o chamaram mais uma vez para outros caminhos.
Uma antiga tradição refere que certo dia, caminhando pelas ruas da cidade,
ele deparou-se com um grupo de jovens escravos anglos, provindos da
longínqua Britânia. Contristado, ao ver gente tão cheia de qualidades
submersa nas trevas do paganismo, exclamou: "Não são anglos, mas
anjos!" Providencial encontro que o moveria a fazer todo o possível para
levar a luz do Evangelho a esse povo e, mais tarde, a promover a conversão
de todos os novos e temidos habitantes de Europa: os bárbaros.
Pediu licença ao Papa para dirigir-se ao país dos anglos, com o objetivo de
trazê-los ao seio da Igreja. Mas, atendendo às súplicas do povo romano,
que não queria ver-se privado de um varão cuja santidade já era notória,
Pelágio II o reteve na Cidade Eterna e, ademais, o chamou a si, para servir-
se dele como experimentado conselheiro.
Assim procedendo, São Gregório fechava para sempre a última porta que
unia a Europa com o mundo antigo, nascido do paganismo, e plantava a
semente de uma nova civilização que cresceria sob a luz do Evangelho,
regada pelo preciosíssimo Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo.
esplendor das glórias terrenas. Desprezemos com toda a alma este mundo
quase extinto, e imitemos a conduta dos santos".
Abandonada quase totalmente pelos bizantinos, a antiga urbe foi duas vezes
sitiada pelos ferozes lombardos. Mas em ambas, graças à fortaleza e
habilidade do novo Papa, o cerco foi levantado e eles se retiraram.
Empenhado não na destruição, mas na conversão dos invasores, São
Gregório assinou uma trégua com eles e procurou por todos os meios atraí-
los à verdadeira Fé. Depois de não poucas tentativas, foi possível - graças
ao fervor e à influência da princesa Teodolinda, filha do rei católico da
Baviera e esposa do caudilho dos lombardos - batizar o filho do casal e
preparar assim a futura conversão de todo o povo.
A Gália mereceu especial atenção do santo Papa. Travou ele boas relações
com os soberanos francos, renovou o clero decadente e simoníaco, ordenou
a convocação de sínodos e procurou com energia pôr fim às cruéis práticas
pagãs que ainda perduravam.
Onde pôde São Gregório manifestar todo seu ardor missionário, foi na
conversão da Grã Bretanha. Outrora província do Império, esta ilha tinha
sido evangelizada já nos primórdios do Cristianismo. Porém, invadida e
dominada pelas tribos dos bárbaros anglos e saxões, a luz da Fé quase se
havia apagado.
Tudo nesse varão providencial fora grande, graças à sua humilde docilidade
diante dos desígnios do Espírito Divino que governa a Esposa de Cristo.
Quando todo um mundo parecia desabar no caos, soube São Gregório
confiar cegamente no triunfo da Santa Igreja e, pelo dom de sabedoria que
o Espírito Santo lhe concedera, discernir novos rumos e metas para o povo
de Deus. Pode-se afirmar, sem a menor dúvida, que pelo vastíssimo
horizonte descortinado por seu olhar contemplativo passaram todos os
problemas do tempo, e não houve obra que ele deixasse de empreender
para alargar o Reino de Cristo.