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Roma Invicta Aeterna!

A história de Roma sempre fascinou e ainda fascina muita gente. A


grandeza do tamanho do Império, as inacreditáveis obras de arquitetura
(estradas, aqueodutos, esgostos, pontes, etc), o incrível desempenho e
treinamento das legiões romanas, a assimilação de diversas culturas, o direito
romano, etc. Roma é o exemplo perfeito de como se constrói uma civilização, e
como ela é destruída. De uma simples junção de sete aldeias no monte
Palatino, que abrigava qualquer que quisesse fugir de guerras, prostitutas,
pirtatas, bandidos, escravos foragidos, etc; se tornou um dos maiores Impérios
da história, com uma população de 88 milhões de pessoas em 117 no seu
auge. Vamos ver os fatores que fizeram sua ascenção, e queda a partir da
crise do Terceiro Século (235-285).
Mito de Fundação

Como boa civilização muito antiga, Roma tem um mito de fundação. No


entanto, Roma tem outras versões do mito de fundação da cidade, além do de
Rômulo e Remo sendo amamentados por uma loba, e que valem a pena
ressaltar.

Segundo a principal lenda: Rômulo e os cidadãos de sua pequena


comunidade estavam em luta com seus vizinhos, um povo conhecido como
sabinos, no local onde mais tarde se ergueria o Fórum, centro político da Roma
de Cícero. As coisas estavam indo mal para os romanos, e eles foram forçados
a bater em retirada. Como última tentativa de vencer, Rômulo orou ao deus
Júpiter — não exatamente a Júpiter, mas a Júpiter Stator, o “Júpiter que
mantém os homens firmes”. Construiria um templo em agradecimento,
prometeu Rômulo ao deus, caso os romanos resistissem à tentação de fugir e
defendessem sua terra contra o inimigo. Fizeram isso, e o Templo de Júpiter
Stator foi erigido exatamente naquele lugar, o primeiro de uma longa série de
santuários e templos construídos na cidade em homenagem à divina ajuda
para assegurar a vitória militar de Roma.

Seja como for, escavações feitas no subsolo da cidade atual ao longo


dos últimos cem anos descobriram alguns vestígios, que talvez remontem até o
ano 1000 a.C., a uma pequena vila junto ao rio Tibre que pode ter se tornado a
Roma de Cícero. Estimam que Roma e Grécia começaram mais ou menos na
mesma época, no século VIII a.C. O "Livro da cronologia", de ninguém menos
que Ático, o amigo e correspondente de Cícero, coloca a data da fundação da
cidade por Rômulo o terceiro ano do sexto ciclo das Olimpíadas, ou seja, 753
a.C.

O Tibre, explica Cícero,facilitou a importação de suprimentos do exterior


e exportação de excedentes; e as colinas nas quais a cidade foi construída
proporcionaram não apenas uma defesa ideal contra ataques inimigos, mas
também um ambiente de vida saudável cercada por uma “região pestilenta”
(malária).

Os meninos, explica Lívio, nasceram de uma sacerdotisa virgem


chamada Reia Sílvia, na cidade italiana de Alba Longa, nas colinas Albanas,
logo ao sul do local onde nasceria Roma. Ela não assumira esse encargo
sacerdotal como virgem de livre vontade, mas foi obrigada a isso isso após
uma luta fratricida pelo poder, que levou seu tio Amulius a assumir o reinado de
Alba Longa depois de destronar o irmão, Numitor, pai de Sílvia. Amulius então
usou a proteção do sacerdócio — uma honraria ostensiva — para evitar a
incômoda aparição de quaisquer herdeiros e rivais provenientes da linhagem
do irmão. Essa precaução acabou se mostrando inútil, pois Reia Sílvia logo
ficou grávida. Segundo Lívio, ela alegou ter sido estuprada pelo deus Marte.
Lívio parece hesitante em aceitar isso, tanto quanto Cícero; Marte, sugere ele,
poderia ter sido um pretexto conveniente para encobrir um caso amoroso
absolutamente humano.

Assim que ela deu à luz os gêmeos, Amulius ordenou que seus servos
atirassem os bebês no rio vizinho, o Tibre, para que se afogassem. Mas os dois
sobreviveram. Pois, como costuma acontecer em histórias como essa em
muitas culturas, os homens a quem foi dada essa desagradável tarefa não
seguiram as instruções ao pé da letra. Puseram os gêmeos em uma cesta e,
em vez de colocá-los diretamente na água do rio — que estava na cheia —,
deixaram-nos na água que invadia as margens. Antes que os bebês fossem
levados pela correnteza à morte certa, a famosa loba protetora veio em seu
auxílio. Lívio foi um daqueles romanos céticos que tentaram racionalizar esse
aspecto particularmente implausível do conto. A palavra latina para “loba”
(lupa) também era usada coloquialmente para indicar uma prostituta (lupanare
era o termo-padrão para “bordel”). Afinal, não seria plausível que uma prostituta
local, em vez de uma besta selvagem, tivesse encontrado os gêmeos e
cuidado deles? Qualquer que fosse a identidade da lupa, um bondoso pastor
logo encontrou os meninos e os levou com ele.

Rômulo e Remo viveram com a família do pastor, sem serem


reconhecidos, exceto anos mais tarde, quando — já dois jovens — acabaram
por acaso encontrando com o avô, e rei deposto, Numitor. Após restaurarem o
seu reinado de Alba Longa, partiram para fundar sua própria cidade. Lívio
sugere que a mesma rivalidade e ambição que haviam arruinado a relação
entre Numitor e Amulius foram transmitidas às gerações seguintes até chegar a
Rômulo e Remo. Rômulo escolheu a colina conhecida como Palatino, onde foi
erguida mais tarde a magnífica residência dos imperadores e que nos deu a
palavra “palácio”. Na briga que se seguiu, Remo, que escolhera a Aventino,
saltou acintosamente por cima das defesas que Rômulo havia construído em
volta de seu ponto preferido. Então Rômulo matou Remo, mas há pessoas
como o historiador Dionísio de Halicarnasso, que escolheram retratar um
Rômulo inconsolável diante da morte de Remo (“perdeu a vontade de viver”).

(Rômulo e Remo abrigados por Fáustulo Por Pietro de


Cortona, ca. 1643, Museu do Louvre, Paris)

Então Rômulo declarou Roma um “asilo” e incentivou o populacho e os


despossuídos do resto da Itália a se juntarem a ele: escravos foragidos, piratas,
prostitutas, troianos sobreviventes, bandidos expulsos de outras tribos itálicas,
pobres da periferia etrusca, ambiciosos colonos gregos, etc. Roma tinha
respeito a todos os povos, desde religião até as armas. Os deusus de outros
povos eram assimilados no Panteão romano. Tudo isso resultou na vinda de
um grande número de homens. A fim de arrumar mulheres, conforme relata
Lívio, Rômulo precisou recorrer a um ardil — e ao estupro. Ele convidou os
povos vizinhos, os sabinos e os latinos, da área em torno de Roma conhecida
como Latium, para uma festa religiosa com diversões, com as famílias e tudo.
No meio dos festejos, deu o sinal a seus homens para abduzirem as mulheres
jovens que haviam vindo com os visitantes e levá-las embora como esposas.
As estimativas variam de apenas trinta até uma cifra espuriamente precisa e
implausivelmente grande de 683 mulheres. Lívio defende que os romanos
sequestraram apenas mulheres solteiras, e que foi seguido por uma conversa
amorosa e por promessas de afeto dos homens para com suas novas noivas.
Os romanos, explica ele, tinham feito primeiro a coisa certa, propondo aos
povos dos arredores um tratado que daria a ambos o direito de casar com as
respectivas filhas. E depois que esse pedido foi rejeitado, que os romanos
partiram pra violência.

Salústio no seu "História de Roma", fala do ponto de vista dos mais


ferozes inimigos de Roma: “Desde o início, eles não possuíram nada, exceto o
que haviam roubado: sua casa, suas esposas, suas terras, seu Império”.
(O Rapto das Sabinas, por Nicolas Poussin, 1637–38, no Museu do Louvre.)

O poeta Ovídio [Publius Ovidius Naso] escolheu uma linha diferente. No


seu espirituoso poema, “Lições de amor”, inverte a história de Lívio sobre a
abdução e apresenta-a como um modelo primitivo do flerte: erótico, em vez de
conveniente. Segundo Ovídio, os romanos começam tentando “descobrir a
garota da qual cada um deles mais gosta” e vão atrás dela com “mãos
desejosas” assim que o sinal é dado. Logo estão cochichando bobagens doces
aos ouvidos de suas presas, cujo óbvio terror apenas intensifica o apelo sexual
neles. Festas e diversões, como o poeta reflete de modo perverso, sempre
foram bons lugares para arrumar uma moça, desde os primeiros dias de Roma.
Ou, dito de outro modo, que grande ideia teve Rômulo para recompensar seus
leais soldados. “Quero me alistar já”, brinca Ovídio, “se você me prometer esse
tipo de pagamento.” Os pais das moças foram à guerra contra os romanos para
resgatar as filhas. Os romanos derrotaram os latinos com facilidade, mas não
os sabinos, e o conflito se prolongou. Foi nesse momento que os homens de
Rômulo sofreram um pesado ataque em sua nova cidade e ele foi obrigado a
pedir a Júpiter Stator que fizesse os romanos pararem de simplesmente fugir
para salvar suas vidas. As hostilidades só cessaram graças às próprias
mulheres, que agora já estavam contentes com seu destino de esposas e mães
romanas. Elas entraram corajosamente no campo de batalha e imploraram
para que seus maridos, de um lado, e seus pais, de outro, parassem de lutar.
“Preferimos morrer”, explicaram, “do que viver sem vocês, como viúvas ou
órfãs.”. E houve paz. Não só houve paz, como se passou a considerar que
Roma se transformara numa cidade conjunta, romano-sabina, uma única
comunidade, sob o governo compartilhado de Rômulo e do rei sabino Tito
Tácio. Alguns anos mais tarde, Tácio foi assassinado na cidade vizinha,
durante um tumulto que em parte ele mesmo provocara. Rômulo virou
novamente o único governante, primeiro rei de Roma, com um reinado de mais
de trinta anos.

Outra versão do mito, é a do herói troiano Eneias, que fugiu da cidade


de Troia após a mítica guerra entre gregos e troianos como a Ilíada de Homero
nos mostra. Depois de conduzir seu filho pela mão e de carregar seu idoso pai
das ruínas em chamas da cidade, ele chegou à Itália, onde seu destino foi
refundar sua cidade natal em solo italiano. Mas essa lenda é mais difícil de
acreditar, porque a cidade de Troia caiu no século XII a.C. e Roma teria sido
fundada no século VIII a.C..

O fato de Roma ter sido criada por Rômulo para abrigar todo tipo de
pária social, como mendigos, escravos, prostitutas, refletiu a extraordinária
abertura e boa vontade da cultura política romana em incorporar estrangeiros,
o que a diferenciou de todas as outras sociedades ocidentais que conhecemos.
Os habitantes desses territórios conquistados, “províncias”, como os romanos
os chamavam, foram aos poucos obtendo cidadania romana, e os respectivos
direitos e proteções legais. Isso culminou em 212 d.C., quando o imperador
Caracala transformou todo habitante livre do Império em cidadão romano. O pai
de Caracala, Septímio Severo [Septimius Severus], foi o primeiro imperador
oriundo de território romano na África; Trajano e Adriano, que reinaram meio
século antes, provinham da província romana da Hispânia. Quando em 48 d.C.
o imperador Cláudio defendeu diante de um Senado relutante que os cidadãos
da Gália deviam ter permissão para se tornar senadores, ele passou algum
tempo lembrando os que Roma havia sido receptiva a estrangeiros desde o
início.

A escravidão romana foi em alguns aspectos tão brutal quanto os


métodos romanos de conquista militar. Mas para muitos escravos romanos,
particularmente aqueles que trabalhavam em contextos domésticos urbanos e
não na fatigante labuta dos campos ou das minas, não era necessariamente
uma pena perpétua. Eles regularmente obtinham sua liberdade, ou a
compravam com suas economias; e se o seu dono fosse um cidadão romano,
então obtinham também a cidadania romana, sem quase nenhuma
desvantagem em relação àqueles que haviam nascido livres. A escala era tal
que alguns historiadores admitem que, por volta do século II d.C., a maioria da
população de cidadãos livres da cidade de Roma tinha escravos em algum
ponto de sua ancestralidade.

No fim do século I d.C., ou início do segundo, o poeta satírico Juvenal


[Decimus Junius Juvenalis], que adorava escarnecer das pretensões romanas,
atacou o esnobismo — outro aspecto da vida em Roma — e ridicularizou os
aristocratas que se gabavam de uma árvore genealógica de vários séculos. Ele
termina um de seus poemas com uma estocada nas origens de Roma. Em que
se baseia toda essa arrogância, afinal? Roma era desde os seus primórdios
uma cidade composta por escravos e fugitivos (“Quem quer que fosse seu
ancestral mais antigo, ele seria ou um pastor ou algo que eu preferiria não
mencionar”).

“Rômulo” foi uma criativa construção baseada em “Roma”. Ou seja,


“Rômulo” foi apenas o arquetípico “Senhor Roma". Eneias passou a ser visto
como o fundador não de Roma, mas de Lavínio; seu filho Ascânio foi posto
como fundador de Alba Longa — a cidade de onde Rômulo e Remo foram
expulsos antes de fundarem Roma.

Um bom exemplo é um ritual que tinha lugar na cidade todo ano em


dezembro, conhecido como Septimontium [Sete colinas]. O que acontecia
nessa celebração não é muito claro, mas um erudito romano observou que
“Septimontium” era o nome de Roma antes de se tornar “Roma”, e outro deu
uma lista das “colinas” envolvidas nesse festival: Palatium, Velia, Fagutal,
Subura, Cermalus, Oppius, Caelius e Cispius.

Em termos básicos, os enterros mais antigos no Fórum devem ter


ocorrido por volta de 1000 a.C., as cabanas no Palatino são de cerca de 750-
700 a.C. (um número que tem o fascínio de estar bem próximo a 753 a.C.). Por
volta do século VI a.C. Roma era uma comunidade urbana, com um centro e
alguns edifícios públicos. Antes disso, para as fases mais antigas, temos
suficientes achados esparsos relativos ao período central da Idade do Bronze
(entre cerca de 1700 e 1300 a.C.) para sugerir que algumas pessoas moravam
no local, em vez de simplesmente “passarem por ali”. Quanto ao período
intermediário, podemos ter relativa certeza de que vilas maiores se
desenvolveram, provavelmente (a julgar pelo que ficou nos túmulos) com um
grupo cada vez mais rico de famílias da elite; e que em algum momento estas
se uniram em uma única comunidade cujo caráter urbano ficou claro por volta
do século VI a.C. Roma ja tinha contado com o mundo exterior, porque nas
escavações romanas foi encontrado um bracelete de marfim numa menina no
cemitério e a cerâmica grega (feita em Corinto ou Atenas). Há também sinais
de ligações com o norte, na forma de umas poucas joias e ornamentos em
âmbar importado; não há pistas de como eles chegaram ao centro da Itália,
mas indicam contatos, diretos ou indiretos, com o Báltico.

A península Itálica, entre 1000 e 600 a.C., era extremamente variada.


Havia muitos povos independentes, com tradições culturais, origens e línguas
diferentes. Os mais bem documentados são os assentamentos gregos no sul;
cidades como Cumae, Taranto e Nápoles [Neapolis], fundadas a partir do
século VIII a.C. por imigrantes de algumas das maiores cidades da Grécia —
convencionalmente conhecidas como “colônias” mas que não eram “coloniais”
no sentido moderno da palavra. Os etruscos ao norte, passando pelos latinos
e sabinos às portas de Roma até chegarmos ao sul, com os oscanos, que
constituíam a população original de Pompeia, e os samnitas mais adiante. O
desenvolvimento, partindo de assentamentos esparsos até chegar a uma
comunidade urbana, que quase podemos detectar em Roma parece ter
acontecido mais ou menos na mesma época por toda a região vizinha ao sul.
(Sete colinas onde Roma foi fundada)

Reino de Roma (753 – 509 a.C.)

Tito Lívio lista que sete reis comandaram Roma durante este período:
Rômulo, Numa Pompílio, Túlio Hostílio, Anco Márcio, Tarquínio Prisco, Sérvio
Túlio e Tarquínio, o Soberbo.

Os reis não assumiam de forma hereditária, mas eram eleitos pelos


patrícios (aristocracia), que decidiam o novo rei com base em candidatos ao
trono. Os reis tinham poder militar, político e religioso, porém não tinham
absolutamente o poder legislativo, pois qualquer lei que o rei fizesse tinha que
ser aprovada no Senado.
Os romanos, que eram um grupo de famílias com um antepassado em
comum e que praticava a mesma religião, constituía uma gens, um clã
patrilinear (gens Fábia, gens Cornelia). Por sua vez, várias gentes formavam
uma cúria. O agrupamento dessas associações de descendentes formaram as
tribos, que se reuniram e formaram cidades, e por ultimo deu origem a um
Estado.

Durante o Reino (753-509 a.C.), temos uma ênfase quase completa no


direito privado, e o pater familias (pai de família) era considerado juíz, rei ou
sacerdote, dentro de seu lar. A união de várias famílias formava uma cúria. A
fonte do direito privado era o costume. Com a República (509-27 a.C.) passa a
ter um maior enfoque do direito público, porque vai se basear na democracia
ateniense. E isso só vai piorar até virar o completo coletivismo do Império (27
a.C. - 476 d.C.).

O direito romano fornece a base da Civil Law. A ideia de justiça de Roma


se baseia em Ulpiano, que diz que justiça é dar a cada um o que lhe é devido.
Cícero reproduz a ideia dos gregos de que um direito decorre da natureza das
coisas. Na época de Cícero ainda eram os jurisconsultos, que aplicavam o
direito, e que revelavam o direito por meio da razão. O jurisconsulto era uma
pessoa que tinha a sabedoria prática à respeito do direito, e não era um
servidor público como um pretor. Depois a justiça passou a ser aplicada pelos
magistrados, mas eles não diziam o direito, só podendo colher provas e aplicar
o direito. Juris Dicere era aquele que dizia o direito, e daí vem a palavra
jurisdição.

O exército romano era formado por legiões, que por muito tempo o
alistamento foi voluntário. Rômulo começou recrutando voluntários das três
tribos que formava o reino. A primeira legião era formada por 3.000 infantarias
e 300 cavaleiros, escolhidos entre a população romana entre 17 e 46 anos de
idade. Os soldados não eram remunerados e ainda precisavam pagar por seu
equipamentos e armamentos, sendo os mais ricos os cavaleiros, e os mais
pobres a infantaria. Os primeiros “salários” dos soldados surgiram a partir do
século V a.C. já na República, mas eram muito escassos, e os soldados
enriqueciam com os espólios da guerra. O exército romano então era uma
guarda voluntária de pequenos proprietários, os plebeus. E foi assim até as
reformas de Caio Mário em 107 a.C., onde os pequenos proprietários eram
suficientemente prósperos para custear suas armas e armaduras, e depois das
campanhas militares, eles voltavam às suas terras para de dedicar ao cultivo e
a criação de animais.

Há uma inscrição em pedra em latim arcaico, no final do século VI a.C.


ou início do século V a.C., descoberta em 1977 num local à cerca de 65 Km ao
sul de Roma, que é um dos maiores indícios que havia uma milícia privada na
cidade ainda no reino. Esta escrita uma dedicatória ao deus Marte (aqui, no
latim da época, indicado pela última palavra, “mamartei”) dos “suodales” de
Publius Valerius (aqui, “popliosio valesiosio”, na primeira linha), talvez um dos
semilendários cônsules no primeiro ano da República, Públio Valério Publícola
[Publius Valerius Publicola].

(incrição em pedra que é um indício que existia milícia privada na cidade.


Fonte: SPQR – Uma História da Roma Antiga)

Os romanos sabiam que existiam deuses, mas a religião romana não se


preocupava com a moralidade ou a salvação pessoal. Os romanos faziam
rituais que tinham o propósito de manter boas relações entre Roma e os
deuses, assegurando sucesso e prosperidade. O sacrifício de animais era
recorrente, e alguns rituais eram tão malucos quanto o da festa de Lupercália,
onde os homens jovens corriam nus na cidades, açoitando qualquer mulher
que encontrassem pela frente. Havia a figura das virgens vestais, que eram
sacerdotisas do politeísmo romano, e deviam manter o voto de castidade com
risco de pena de morte.

Segundo Mary Beard:

“É exatamente isso o que vemos, de uma forma bem


vertiginosa, na história que Lívio nos conta sobre o tremendo
alarde com que a deusa Grande Mãe foi trazida a Roma da Ásia
Menor, em 204 a.C., ao final da Segunda Guerra Púnica. Um
livro sobre oráculos romanos, que se supunha remontar ao
reinado dos Tarquínios, recomendava que a deusa Cibele, como
era também chamada, fosse incorporada ao panteão romano. A
série de divindades adoradas em Roma era assumidamente
elástica, e a Grande Mãe era a divindade padroeira do lar
ancestral dos romanos — a Troia de Eneias —, e por isso, em
certo sentido, pertencia à Itália.” (BEARD, Mary, 2015).

Em 750 a.C. tem a batalha do Lago Curtius entre romanos e sabinos,


onde os dois reinos são unidos. Em 730 a.C. os Veios invadem Roma, mas
Rômulo os derrota 2 anos depois. Rômulo criou as instituições políticas de
Roma, onde havia 12 lictores, que eram funcionários públicos, que serviam de
guarda-costas dos magistrados, coisa que provavelmente foi copiada dos
etruscos. Ele criou o Senado, e dividiu o povo em tribos: latinos, etruscos e
sabinos. O guardião da cidade chamava Praefectus Urbi, o antecessor dos
prefeitos. Os patrícios eram nomeados para o senado, que eram 100. O
senado tinha quase nenhum poder sobre o rei. Mesmo nos postos mais altos
da ordem política romana, considerava-se como “romanos”, pessoas de
qualquer parte, e até ex-escravos podiam chegar ao topo.

Depois de Rômulo, governou Numa Pompílio de 716 a 673 a.C., que


tinha um temperamento pacífico e criou a maior parte das instituições religiosas
de Roma e o calendário, e criou o título de Pontifex Maximus, o maior
sacerdote, de onde vem a palavra Pontífice do papa. Depois veio Túlio Hostílio,
que governou de 673 a 642 a.C. que conquistou Alba Longa, venceu a batalha
de Malitiosa em 653 a.C. contra os sabinos. A população da cidade em seu
reinado dobrou, com o acolhimento dos sobreviventes de Alba Longa. Há uma
pintura de Jacques-Louis David que retrata dois grupos de três homens, um trio
de cada lado, que concordaram em se enfrentar em nome de suas
comunidades. David imagina os Horácios de Roma recebendo suas espadas
do pai. Um deles voltaria para casa vitorioso, mas acabaria matando a irmã
(aqui vista aos prantos), noiva de um dos três inimigos. Era uma história que
para os romanos, tanto quanto para os franceses do século XVIII, celebrava o
patriotismo e também questionava o preço a se pagar por ele.

(O Juramento dos Horácios, 1784, Jacques-Louis David)

O quarto rei seria Anco Márcio, que governou de 642 a 614 a.C., e em
638 a.C. tem a segunda guerra sabina, com a vitória dos romanos, que
consquistam parte do território sabino. Em 621 a.C. o porto de Óstia é fundado,
com Roma finalmente chegando ao mar. Anco Márcio também vai mandar
construir a primeira ponte que cruza o rio Tibre, e também o primeiro
aqueoduto de Roma.

As grandes famílias etruscas que se fixaram em Roma, contingente


importante na expansão etrusca, e se integraram na população local
constituíram uma parte desta classe governante e deram a Roma três reis, dos
quais se salienta Tarquínio Prisco, Sérvio Túlio e Tarquínio, o Soberbo que
reinaram desde c. 625 a. C. a 510 a. C. Com isso, Roma vai passar a ser uma
verdadeira cidade-estado. Por isso, talvez até podemos considerar a cidade de
Roma como uma sociedade libertára de 753 a.C. até 625 a.C.. Roma teve forte
influencia etrusca, e com isso expandiu e se tornou um poder regional. Eles
pegavam uma tecnologia ultrapassada e a adaptavam às suas necessidades.
As estradas romanas, sistemas de distribuição de água através de canais,
construção de grandes muralhas, vem das tecnicas etruscas. O primeiro
grande feito de engenharia romana foi por volta de 600 a.C. por ordem do rei
Tarquínio Prisco, a Cloaca Máxima, um grande sistema de esgotos, que
funciona até hoje. Os ductos subterrâneos dos esgotos também eram usados
para drenar a área pantanosa entre os vilarejos de Roma.

No entanto, vale lembrar que os etruscos não formavam um único


estado, e sim vilas e cidades independetes que partilhavam uma língua e
cultura artística em comum. O primeiro dos reis etruscos é Tarquínio Prisco,
que governou de 614 a 579 a.C.. Em 608 a.C. tem a guerra latina e em 591
a.C. outra guerra sabina, ambas com a vitória dos romanos. Tarquínio criou o
Fórum romano e os Jogos Circenses, e o primeiro Circus Maximus, um
hipódromo onde eles adaptaram as bigas de guerra, criaindo as corrida de
cavalos.. Em 600 a.C., é fundada a Cloaca Máxima, um grande sistema de
esgotos, que funciona até hoje. Além disso, ele aumenta o número de soldados
efetivos no exército, e aumenta o número de senadores para 300. Em 579 a.C.
assume Sérvio Túlio, que governaria até 535 a.C. sendo morto por seu
sucessor, Tarquínio, o Soberbo. Sérvio Túlio foi um reformador político e
inventor do censo romano, e assim como seu sucessor, parte dos reis que
foram populistas ao invés de aristocráticos. Ele abandonou a divisão por tribos
feita por Rômulo, e dividiu a cidade em distritos, e a população em classes
sociais. O exército também passou por uma mudança, e os solados eram
atribuídos à uma função, de acordo com a classe social que pertenciam. Já
Tarquínio, o Soberbo, era um clássico rei absolutista, que matava seus rivais
sem piedade, e explorava o povo de forma cruel, obrigando-os a trabalhar em
seus fanáticos projetos de construção. Em 532 a.C. os latinos se tornam
aliados de Roma, em 529 a.C. os Volscos atacam Roma sem sucesso, em 520
a.C. Sabinos e Équos atacam Roma também sem sucesso. Em 512 a.C. ocorre
o cerco de Ardea, e finalmente em 509 a.C. Tarquínio é derrubado pelo
Senado, e é proclamada a República Romana (509-27 a.C.).
O ponto de ruptura foi quando um dos filhos dele estuprou a virtuosa
Lucrécia. O estupro de Lucrécia é um dos eventos mais marcantes de toda a
história romana, porque além de ser um dos fatores que derrubou a monarquia,
foi algo que marcou profundamente a cultura romana. A história começa com
um grupo de jovens romanos buscando formas de matar o tempo enquanto
sitiavam a cidade vizinha de Ardea. Uma noite, bêbados, estavam competindo
para ver quem tinha a melhor mulher, a melhor esposa, a mais casta, quando
um deles, Lúcio Tarquínio Colatino [Lucius Tarquinius Collatinus], sugeriu que
deveriam simplesmente voltar para casa e inspecionar as mulheres; isso iria
demonstrar, afirmou ele, a superioridade de sua Lucrécia. O que de fato ficou
provado: enquanto todas as demais esposas foram descobertas divertindo-se
em festas na ausência de seus maridos, Lucrécia fazia exatamente o que era
esperado de uma mulher romana virtuosa — trabalhava em seu tear, na
companhia de suas criadas. Ela então, ofereceu um jantar ao marido e a seus
convidados.

No entanto, durante essa visita, Sisto Tarquínio [Sextus Tarquinius]


sentiu uma paixão violenta por Lucrécia, e poucas noites depois voltou à casa
dela. Após ter sido gentilmente recebido, foi até o quarto dela e exigiu-lhe que
fizesse sexo com ele, ameaçando-a com uma faca. Quando viu que a simples
ameaça de morte não a convencia a ceder, Tarquínio passou a explorar o
medo dela de uma desonra: ameaçou matá-la e assassinar também um
escravo para que ficasse a impressão de que havia sido flagrada na mais
infame forma de adultério. Diante disso, Lucrécia cedeu, mas, depois que
Tarquínio voltou para Ardea, mandou chamar o marido e o pai e contou-lhes o
sucedido, e em seguida se matou.
("História de Lucrécia". 1496-1504. Por Botticelli, no Isabella Stewart Gardner
Museum, em Boston, EUA.)

Depois desse terrível episódio, ficou marcado para sempre nos romanos
a figura da mulher virtuosa que preserva a sua castidade, pois Lucrécia se
matou depois que a perdeu.

Lúcio Júnio Brutus [Lucius Junius Brutus] — que havia acompanhado o


marido de Lucrécia até ao local do episódio — arranca a adaga do corpo dela
e, enquanto a família está ocupada demais em conversas, promete livrar Roma
para sempre dos reis. O nome Brutus é bem recorrente na história de Roma,
sempre envolvido em uma história de traição. Tarquínio, o Soberbo fez uma
tentativa de promover uma contrarrevolução na cidade e, quando esta falhou,
juntou forças com o rei Lars Porsenna da cidade etrusca de Clúsio, que montou
um cerco a Roma com o objetivo de restaurar a monarquia — mas foi
derrotado pelo heroísmo de seus habitantes "recém-libertados". A Conspiração
Tarquiniana foi uma conspiração elaborada por senadores e líderes da Roma
Antiga em 509 a.C. para reintegrar a monarquia e para colocar Tarquínio, o
Soberbo de volta ao trono. Os conspiradores foram descobertos e executados.
Plínio, o Velho, não foi o único estudioso antigo a acreditar que Lars Porsenna
foi rei de Roma por um tempo; se isso de fato ocorreu, ele pode ser outro
daqueles reis perdidos e o fim da monarquia talvez tenha sido muito diferente.
Abandonado por Porsenna, como conta a história-padrão, Tarquínio foi buscar
apoio em outra parte. Acabou sendo derrotado em meados da década de 490
a.C. (há divergência quanto à data exata) junto com alguns aliados que
recrutara nas cidades latinas vizinhas, na batalha do lago Regilo [Regillus], não
muito longe de Roma.

A monarquia poderia ter sido no contexto de uma pequena comunidade


arcaica de poucos milhares de habitantes,vivendo em cabanas de taipa em um
grupo de colinas perto do rio Tibre. Com a influência etrusca, foi adotado o
alfabeto grego. Pela média de tempo que um rei governa, é provável de que ou
a monarquia romana durou menos que 250 anos, ou tiveram mais reis, que não
temos evidência histórica ainda. Ao fazerem o arranjo da sucessão de reis (que
não era hereditária) seguiam complexos procedimentos legais que envolviam a
indicação de um interrex (um “inter-rei”), voto popular para o novo monarca e a
ratificação pelo Senado. Na época que o último rei foi destronado, estimam que
Roma tinha de 20.000 a 30.000 habitantes. Outros já estimam que em 500
a.C., apenas 9 anos depois da República ser proclamada, Roma já tinha
130.000 pessoas, sendo mais ou menos o número de habitantes das cidades
gregas de Atenas e Corinto. Sobre a origem dos reis, dizia-se que: Numa,
assim como Tito Tácio, era sabino; Tarquínio Prisco era da Etrúria e filho de um
refugiado da cidade grega de Corinto; Sérvio Túlio era, filho de um escravo ou
no mínimo de um prisioneiro de guerra. Por volta do século VI a.C. Roma já era
uma comunidade urbana pequena. Já haviam sido feitos algumas obras de
drenagem para previnir inundações da cidade. E a cidade era murada desde
Sérvio Túlio.

A Via Salaria foi uma das primeiras estradas em Roma, que ia desde a
muralha Serviana em Roma, até Castrum Truentinum, na costa do mar
Adriático, perfazendo 242 Km. A estrada tem esse nome por causa que os
sabinos a usavam para transportar sal do mar Adriático até a bacia do rio Tibre,
e alguns historiadores consideram que a Salaria e o comércio do sal estiveram
ligados às origens de Roma. No entanto, as estradas romanas até a construção
da Via Ápia em 312 a.C. eram de terra, e não as que conhecemos hoje, pela
sua maravilhosa engenharia.
(Localização dos antigos povos do Lácio)

(Roma alla fine dell´età regia, Andrea Pacchiarotti)


(Il territorio della città di Fidenae nel VI secolo a.C. (in giallo).)
(Triunfo de Tarquínio Prisco. 1541. Iluminura medieval (Eton College Library
Bd. 1, MS 92, Bl. 49).)

(Mapa do território romano em 500 a.C. Baseado no mapa presente na página


27 do livro Grande Civilizações do Passado - A civilização romana de Tim
Cornell e John Matthews.)
República (509 – 27 a.C.)

Brutus e Colatino (marido de Lucrécia) se tornaram os dois primeiros


cônsules da República. Eram eleitos dois cônsules uma vez por ano. Mas na
prática não mudou muita coisa, porque os cônsules tinham mais papel de reis
do que de governantes democratas. A ideia deles era que cada cônsul
verificaria seu colega, e o mandato limitado deles possibilitava que fossem
acusados se abusassem dos poderes de seu ofício. Além dos dois cônsules
anuais, havia uma série de cargos menores, incluindo os pretores e questores
abaixo deles (os romanos costumavam chamar esses oficiais de “magistrados”,
mas sua função não era essencialmente ligada às leis). O Senado, composto
em sua maioria por aqueles que haviam previamente ocupado cargos públicos,
atuava como um conselho permanente, e a organização hierárquica dos
cidadãos e a Assembleia das Centúrias, falsamente atribuídas ao rei Sérvio
Túlio e com a calorosa aprovação de Cícero, davam sustento ao
funcionamento da política romana.

Roma era uma república aristocrática, com elementos de monarquia,


aristocracia e democracia. Os cônsules exerciam o poder monárquico, o
Senado o aristocrático, e as Assembleias o poder democrático. Para ser um
senador você precisava de uma certa quantidade de terra valendo um certo
valor de aluguel, e ter nascido na classe patrícia, além de ter exercido um
cargo público pelo menos uma vez na vida. O Senado tinha de 300 a 600
membros, e eles podiam aprovar decretos, e instruções para funcionários que
não tinham força legal, ou seja, eram simplesmente consultivos. Todas as
concessões de dinheiro do tesouro tinham que ser aprovadas pelo Senado. Se
as assembleias aprovassem uma lei que o Senado não gostou, este podia se
recusar a permitir que qualquer dinheiro fosse gasto na aplicação da lei. O
Senado também administrava a administração civil da cidade, política externa e
com toda a estratégia militar na guerra. Em situações extremas, o Senado
podia declarar lei marcial e suspender a Constituição e nomear um ditador por
seis meses.

As Assembleias populares eram divididas em Comitia e Concilia. A


Comitia era formada por todos os cidadãos, enquanto a Concilia por
específicos grupos de cidadãos. Elas podiam decidir nas eleições de oficiais
públicos; promulgar ou apelar leis; confirmar e ratificar sentenças de morte de
cidadãos; declarar guerra ratificar tratados de paz; ratificar tratados de aliança.
Dentre os oficiais eleitos tínhamos os:

 Cônsules: eleitos uma vez por ano, eram os oficiais mais altos, com
poder supremo na esfera civil e criminal;
 Pretores: administravam a lei civil e comandavam exércitos provinciais;
 Censores: eleitos a cada 5 anos, para governar por 18 meses,
supervisivam hábitos morais, fazia censos e tirava membros inúteis do
Senado;
 Edil: eleitos para fazer afazeres domésticos em Roma e jogos e shows
públicos;
 Questores: assistentes dos cônsules e governadores das províncias;
 Tribunos: eram dois, eleitos pelos plebeus, tinham poder de veto contra
leis que prejudicassem a classe plebeia.

A Constituição fazia com que o Senado (aristocracia), Assembleias


(democrático) e os cônsules (monárquico), tivessem enorme dificuldade de
agredir os direitos do povo. A sociedade era dividida basicamente entre
patrícios e plebeus, sendo que os primeiros eram uma pequena elite de mais
ou menos 200 pessoas, que traçavam sua ascendência desde os primeiros
senadores apontados por Rômulo, e que monopolizavam cargos públicos em
Roma, e tinham vários privilégios legais. Já os plebeus são todo o resto dos
cidadãos livres, ou seja, mulheres, crianças e escravos, não contam. As
mulheres e crianças herdavam o status social dos seus maridos e pais,
respectivamente.

Um patrício ideal era aquele que cultivava suas próprias terras e vivia
frugalmente, era chefe de uma família com mulheres, filhos e escravos, tendo
poder absoluto sob a vida e os bens de sua casa. Se sua fazenda fosse perto
de Roma, ele saía toda manhã para cultivar seus campos com suas próprias
mãos, ou supervisionar quem estivesse, e se estivesse longe de Roma, ele
tinha uma pequena casa no campo. Um patrício era proibido por lei e pelo
costume, de se envolver com o comércio, ser coletor de impostos das
fazendas, e não podia concorrer ou assumir qualquer contrato estatal, então
ele concorreria a cargos, que eram preenchidos por eleição popular, e duravam
um ano. Esses cargos não eram remunerados e envolviam uma massa de
administração e de outros trabalhos, muitas vezes envolvendo risco de vida, e
os patrícios se candidatavam a esses cargos porque era seu dever ancestral.
Uma vez que conseguisse o cargo, ele cumpria seus deveres com o melhor de
suas habilidades, e depois se juntaria ao Senado.

Roma até a Segunda Guerra Púnica (218-201 a.C.) era uma pequena
cidade, com a maioria da população agrária, e a Itália era povoada
basicamente por cidadãos e não-cidadãos que eram pequenos proprietários
livres, que possuíam pequenas fazendas, que seria herdado aos seus filhos.
Apesar dos patrícios possuírem um abismo de privilégios políticos em relaçãos
aos plebeus até 297 a.C., as fazendas dos patrícios eram geralmente, do
mesmo tamanho, ou apenas um pouco maiores do que as dos plebeus. Era
quase impossível diferenciar cidadãos e não-cidadãos e plebeus e patrícios,
até o começo das Guerras Púnicas. A escravidão apesar de existir, era uma
minoria pequena na Itália, e sua utilização era mais suplementar, do que a
base do sistema, e por muito tempo foi assim. Roma era basicamente um
pequeno paraíso agrário de pequenos proprietários livres, com riquezas quase
no mesmo nível dos patrícios, desde sua fundação em 753 a.C. até 218 a.C..

As características que os romanos tinham que os tornavam únicos, eram


que: eles tinham extremo patriotismo e um senso de auto-sacrifício; um forte
teor religioso e respeito por leis e costumes ancestrais; eram extremamente
honrosos quando negociavam e lidavam com estrangeiros; tinham grande
dedicação às artes militares; e tinham a capacidade de absorver outras nações
e compartilhar cidadania.

No mesmo ano que o rei caiu, os estruscos atacam Roma, e os latinos


quebram sua aliança com os romanos. O antigo rei Tarquínio, o Soberbo, se
juntou contra os etruscos que passaram a atacar e cercar Roma. Roma estava
cercada pelo rei Lars Porsena, de Clúsio, e Gacius Mucius Scaevola se
voluntariou para tentar assassinar o rei etrusco. No entanto, ele acabou
matando o secretário do rei, e foi levado como prisioneiro. Ele então pôs a mão
no fogo que tinha sido aceso para o sacrifício, e sua mão ficou em cinzas. Lars
Porsena ficou tão impressionado que ele liberou Scaevola, fez as pazes com
Roma, e abandonou o cerco da cidade. Temos evidências que os etruscos
governaram Roma por um tempo, mas Scaevola realmente existiu. No entanto,
para que ficar com a verdade, se a lenda é tão boa, e mostra que realmente
existia um senso de extremo patriotismo e auto-sacrifício por parte dos
romanos.

(Caio Múcio perante o rei Lars Porsena com a mão direita no fogo. 1706-8.


Por Giovanni Antonio Pellegrini, no Ca' Rezzonico, em Veneza.)

Os romanos derrotam os latinos na batalha do Lago Regilo em 496 a.C.,


e os latinos voltam a ser aliados de Roma. Em 494 a.C. os Sabinos, Équos, e
Volscos atacam Roma. Os soldados plebeus recusaram-se a marchar contra o
inimigo, e em vez disso se separaram para o monte Aventino. Os plebeus
exigiram o direito de eleger seus próprios oficiais. Os patrícios concordaram, e
eles retornaram ao campo de batalha. Os plebeus chamaram seus novos
oficiais "tribunos da plebe". Os tribunos teriam dois assistentes, chamados
"edis da plebe". Há uma história de um tal de Caio Márcio Coriolano [Gaius
Marcius Coriolanus], que recebeu esse nome por ser bem sucedido no cerco
da cidade volsca de Corioli, e depois foi exilado e liderou os volscos contra
Roma. Segundo a opinião geral, era um herói de guerra que virou traidor por
volta de 490 a.C., e que teria invadido a própria terra não fosse a intervenção
da mãe Vetúria, e da esposa Volúmnia, para dissuadi-lo. Roma homenageou o
serviço prestado pelas mulheres com a construção do Templo da Fortuna das
Mulheres.

("Romanas imploram a Coriolano". 1652-3. Por Nicolas Poussin, no Museu


Nicolas Poussin, em Les Andelys, França.)

Em 489 a.C. os Hérnicos atacam a República romana. Em 484 a.C.


Roma está em guerra com os Sabinos, Équos e Veios. Em 477 a.C. os Veios
vencem os romanos na batalha de Cremera, e em 472 a.C. os Volscos
novamente atacam Roma. Em 468 a.C. temos o ultimo confronto entre os
sabinos e a República Romana. Em 461 a.C. temos mais uma guerra contra os
Équos, que são derrotados na batalha de Monte Algidus em 458 a.C.. Em 450
a.C. novamente os Volscos e Équos atacam a republica, e são derrotados na
batalha de Córbio em 446 a.C..
Há outra história de um tal de Lúcio Quíncio Cincinato [Lucius Quinctius
Cincinnatus], que se tornou ditador em 458 a.C.. Roma estava em perigo de
perder a guerra contra os Équos, e então eles elegeram Cincinnatus como
ditador, que deixou sua lavoura e usou seus poderes emergenciais para
recrutar todos os homens aptos para a batalha. Após o recrutamento, ele
derrotou os inimigos externos, e 15 dias após sua nomeação como ditador, ele
renunciou e voltou ao trabalho na lavoura. Esse caso mostra o quanto os
romanos eram compremetidos com a lei, e Cincinato era considerado o patrício
ideal.

(Cincinnatus Leaves the Plough to Dictate Laws to Rome, Juan Antonio


Ribera's c. 1806)

Em 444 a.C. a cidade de Veios ataca Roma, e são derrotados em 437


a.C. na batalha das Fidenas. Em 408 a.C. temos mais uma guerra contra os
Veios, onde os romanos resistem, e tem o cerco de Veios em 406 a.C. por
Marco Fúrio Camilo, e após 10 anos, os romanos derrotam finalmente a cidade
de Veios. O exército romano estava sitiando Falérios [Falerri] em 408 a.C., uma
cidade etrusca, quase impossível de tomar. Até que um dia, um mestre escolar
em Falérios decidiu que estava cansado de viver em uma cidade sitiada, então
ele reuniu a sua classe, que continha os filhos dos líderes da cidade e os levou
para fora da cidade e para o acampamento romano e se apresentou ao
comandante romano.

("Camilo expulsa o professor de Falérios e seus alunos". 1637. Por Nicolas


Poussin, atualmente no Louvre, Paris.)

Esse comandante era Camillus, e quando esse mestre disse que “aqui
estão os filhos de todos os principais cidadãos em Falérios, você pode usá-los
como reféns para obrigar a cidade a se render”, Camillus se sentiu tão ultrajado
com essa oferta, que fez o mestre ficar nu e amarrado, e levado aos meninos
da escola, que o açoitaram em todo o caminho de volta para a cidade e foram
deixados entrar nos portões. E Camillus disse: “Nós não lutamos contra
meninos, mas contra homens e vamos vencer pela habilidade e coragem
romana”. Os habitantes de Falérios ficaram tão impressionados que enviaram
uma fatura ao senado em Roma, implorando pelo direito de rendição. “Você
prefere honra vermelha na guerra para uma vitória imediata, agora
reconhecemos voluntariamente sua vitória”. O quanto de verdade tem nesse
mito jamais saberemos, mas mostra que por muito tempo os romanos tiveram
uma honra e respeito enquanto negociavam com estrangeiros.

Roma tinha uma exímia capacidade de absorver outras nações e


compartilhar cidadania. Enquanto os habitantes das cidades-estado gregas se
consideravam membros de uma única família, e era impossível um estrangeiro
conseguir cidadania, os romanos consideravam sua cidadania como uma
categoria legal, e eles ofereciam cidadania romana aos povos dominados.
Com isso, o número de cidadãos romanos sempre cresceu na história, e
quando os escravos romanos eram libertos eles recebiam cidadania romana
com limitações, mas os filhos deles recebiam cidadania completa.

Em 394 a.C. um grande exército gaulês se move para o sul, e em 387


a.C. os romanos são derrotados por eles na batalha de Alia, onde os gauleses
saqueiam Roma, e os latinos declaram independência de Roma. Dizem que
esse saque dos gauleses, feito por Breno foi tão violento, que dizem que Roma
teve ser refundada por Camilo. Breno, exige uma quantia em ouro de Roma, e
ficou famosa a cena deles pesando o ouro numa balança para comparar com o
peso do aço.
(Camillus Rescuing Rome from Brennus, Sebastiano Ricci – Detroit Institute of
Arts)
(Breno, estátua no Museu Nacional da Marinha, Paris)

No entanto, ainda é discutida a gravidade desse saque. Segundo Lívio,


os habitantes não sabiam dos soldados que fugiram para Veios e pensavam
que os únicos sobreviventes teriam sido os que conseguiram chegar na cidade,
uma força minúscula, e entraram em pânico. Os gauleses sênones chegaram
em Roma e viram que a muralha não estavam guarnecida e acamparam para
passar a noite. Os jovens em condição de lutar foram enviados para defender
a Cidadela do Capitolino, mas a maior parte da população fugiu para as colinas
ou cidades vizinhas e para suas propriedades rurais. Os sacerdotes e
as virgens vestais fugiram com as relíquias sagradas dos romanos. Um plebeu,
Lúcio Albino, que estava fugindo, viu-as andando e levou-as até Cere, uma
cidade etrusca na costa que era aliada de Roma, em sua carroça. A situação
era tão difícil que romanos deixaram os idosos e doentes para trás, e Lívio
afirma que os que eram plebeus se prepararam para defender suas casas e
os patrícios vestiram suas roupas e joias mais finas e se sentaram em
suas cadeiras curuis em frente de suas casas. Os sênones entraram na cidade
pela Porta Colina, que estavam sem defesa, e começaram a saquear a cidade.  

E Lívio continua dizendo que depois de alguns dias, os sênones


resolveram atacar o Capitólio, mas não conseguiram vencer os determinados
defensores e montaram um cerco. Alguns de seus homens, enviados à zona
rural para conseguir alimento, aproximaram-se da cidade de Árdea,
onde Camilo estava exilado depois de ser acusado de apropriação indébita.
Marco Fúrio Camilo organizou os habitantes numa força de combate e atacou o
acampamento gaulês, e a luta continuou perto da cidade seguinte, Âncio, cujos
habitantes se juntaram aos romanos. Neste meio tempo, os sobreviventes da
batalha que haviam fugido para Veios começaram a se reagrupar e derrotaram
os bandos de saqueadores etruscos que estavam devastando o território de
Veios. Eles escolheram Quinto Sedício, um centurião, como seu líder. Seu
exército rapidamente cresceu quando alguns dos habitantes de Roma que
fugiram para Veios se juntaram, assim como voluntários vindos de todo
o Lácio. Então o próprio Sedício decidiu convocar Marco Fúrio Camilo, mas era
necessária uma aprovação do Senado para que ele assumisse como
comandante das forças romanas, e então, um mensageiro foi enviado até
Roma. Ele conseguiu chegar escondido até a Cidadela do Capitolino, mas o
Senado declarou que era necessário que a assembleia do povo deveria
reconvocar Camilo e declará-lo ditador. Camilo então foi escoltado de Árdea
até Veios.

Os sênones, porém, encontraram as pegadas deixadas pelo mensageiro


e descobriram o caminho que ele utilizou em sua escalada, e conseguiram
chegar ao topo durante a noite sem serem detectados pelos guardas e nem
pelos cães. Porém, os gansos sagrados de Juno alertaram os romanos. Marco
Mânlio, um consular, reuniu os romanos e conseguiu repelir o ataque gaulês, e
com isso foi muito elogiado e um dos guardas foi executado por negligência.
Logo em seguida uma epidemia irrompeu no acampamento gaulês, o que levou
a uma trégua.

Os gauleses intimidaram os romanos, esfomeados, a se renderem, mas


os líderes romanos, que estavam esperando pelo exército reunido em Veios, se
recusaram. Porém, os exaustos homens que defendiam o Capitólio imploraram
por negociações de paz. Os gauleses concordaram em abandonar a cidade por
mil libras de ouro. No entatno, os sênones trapacearam utilizando contrapesos
mais pesados para pesar o ouro e, quando os romanos protestaram, Breno
atirou sua espada na balança e disse palavras intoleráveis aos ouvidos
romanos: "Ai dos vencidos!" (Vae victis!).

Antes que a pesagem do ouro tivesse terminado, Camilo chegou em


Roma e ordenou que o ouro não fosse levado. Os sênones afirmaram que um
acordo já havia sido fechado, mas Camilo contestou que o acordo fora tratado
por um oficial subordinado a ele e, portanto, era inválido. Camilo propôs o
combate e os sênones foram facilmente derrotados. Oito milhas a leste de
Roma, os romanos conseguiram uma nova vitória, que segundo Lívio: "o
massacre foi total: o acampamento deles foi capturado e nem um mensageiro
sobreviveu para reportar o desastre".

Outro que falou deste episódio foi o grego Diodoro Sículo, que fez um
relato muito menos detalhado, onde os sênones passaram o primeiro dia após
a batalha cortando cabeças, como era seu costume. Em seguida, marcharam
até Roma e acamparam perto da cidade por dois dias. Enquanto isto, os
habitantes da cidade, desesperados, acreditavam que o exército todo havia
sido aniquilado e que não havia chance alguma de resistir. Muitos fugiram para
outras cidades enquanto os líderes da cidade ordenaram que comida, ouro,
prata e outras posses valiosas fossem levadas para a Cidadela do Capitolino.
Os sênones pensaram que o barulho que ouviam na cidade era uma armadilha
que estaria sendo preparada. Ainda assim, no quarto dia, Breno e seus
homens invadiram a cidade e passaram a saqueá-la. Eles não atacaram
nenhum civil e sofreram muitas baixas tentando capturar a cidadela. Sem
sucesso, montaram um cerco.

Enquanto isto, os que fugiram para Veios conseguiram expulsar os


etruscos que estavam saqueando o território e capturaram prisioneiros e
recuperaram o saque. Os soldados romanos que haviam fugido para Veios os
emboscaram e tomaram suas armas, e muitos soldados foram recrutados na
zona rural. Segundo Diodoro, o mensageiro escolhido para levar as notícias do
novo exército romano aos romanos cercados foi Comínio Pôncio, que
conseguiu chegar ao Capitólio sem ser percebido e avisou que o exército em
Veios esperava apenas uma oportunidade para atacar.  Segundo ele, foi neste
ponto que os romanos decidiram negociar uma paz e convenceram os
gauleses a deixar a cidade em troca de ouro. A maioria das casas romanas
havia sido queimada e todos os que ficaram haviam sido mortos. Diodoro
afirma que os gauleses foram derrotados na "planície Trausiana" (um local não
identificado) por um exército etrusco quando estavam voltando do sul da Itália.

Hoje em dia, acredita-se que o resgate de Roma por Camilo seja falso,
já que ele não é nem mencionado por Diodoro, nem Políbio, outro historiador
grego.  Estrabão, outro historiador grego,  afirma que os sênones foram
derrotados por Cere e que o ouro romano foi recuperado, confirmando a versão
de Diodoro. Plutarco menciona que Aristóteles afirmou que Roma teria sido
salva por "um tal Lúcio", que pode ser o mesmo Lúcio Albino que levou as
virgens vestais até Cere. É possível ainda que os sênones teriam ido a Clúsio
por terem sido contratados por uma das duas facções políticas em conflito para
interferir as disputas políticas da cidade, um motivo mais plausível que a
romanceada versão de Aruns tentando vingar sua esposa.

Lívio afirma que a cidade foi incendiada e que teria, depois disto,
adquirido uma aparência caótica por causa da reconstrução apressada. Os
historiadores modernos como Tim Cornell discordam do tamanho do dano
causado à cidade, lembrando que não há nenhum vestígio arqueológico dos
danos provocados pelo saque. Sinais de incêndio que acreditava-se no
passado terem sido da época deste saque foram depois datados para a época
da instauração da República. Cornell acredita que os gauleses saquearam de
fato a cidade, mas só queriam o saque e deixaram a maior parte dos edifícios
em paz até serem subornados, mais ou menos como fizeram os visigodos em
410.

O que importa é que este episódio ficou muito marcado na mente dos
romanos, que passaram a ter um grande terror dos gauleses, e inclusive pode
ter inspirado Júlio César a conquistar a Gália de 58 a 51 a.C., como forma de
vingança, além de expandir o poder. Por causa deste saque, perdemos muitos
registros históricos dos primeiros 370 anos da história romana, que temos que
confiar mais em mitos e relatos de terceiros.
Em 387 a.C. Volscos, Équos, Sabinos, Etruscos, e Hérnicos,
aproveitando da fragilidade de Roma, declaram guerra à república. Em 382
a.C. Équos e Sabinos são derrotados pelos romanos, e em 380 a.C. a liga
latina se alia com Roma. A Liga Latina (aprox. século VII a.C. - 338 a.C.) foi
uma confederação de aproximadamente 30 aldeias e tribos latinas, próximas
da antiga Roma, organizada para assegurar sua mútua defesa. A Liga Latina
foi originalmente fundada sob a liderança de Alba Longa, para garantir proteção
a seus membros contra os inimigos das áreas vizinhas. Durante o século VI
a.C., os reis etruscos trataram de estabelecer seu domínio sobre a cidade
latina de Arícia, mas a atuação da Liga evitou a invasão etrusca. A república
romana tinha feito aliança com a liga em 493 a.C..

De 375 a 370 a.C. ficou conhecido como os anos de anarquia, quando


ocorreu uma crise constitucional durante a qual os tribunos da plebe usaram
seus votos para impedir a eleição de magistrados seniores. Durante esses
anos, os Volscos e Hérnicos atacam a República Romana, sem êxito. Tudo
isso sob o ditador Marco Fúrio Camilo que foi eleito tribuno consular por seis
vezes, em 401, 398, 394, 386, 384 e 381 a.C., e nomeado ditador, em 396,
390, 389, 368 e 367 a.C. De 369-367 a.C. temos o cerco de Velitrae (atual
Vellitri). Em 367 a.C., uma lei foi aprovada, na qual exigiu-se a eleição de ao
menos um edil plebeu cada ano. Em 443 a.C., o censor foi criado, e em 366
a.C., o pretor. Também em 366 a.C., edil curul foi criado. Durante as reformas
no século IV a.C. fez com que toda lei que fosse aprovada na assembleia da
plebe teria força de lei.

Em 367 a.C. é aprovada a primeira lei que começaria as presepadas


econômicas de Roma. Um dos primeiros reformadores populistas romanos, o
tribuno Licínio Stolo, aprovou uma lei que essencialmente declarava uma
moratória sobre a dívida. A lei permitia aos devedores não mais pagarem os
juros sobre principal caso o restante da dívida fosse pago dentro de um período
de três anos.

Em 352 a.C., a situação financeira de Roma continuava complicada, e o


Tesouro resolveu arcar com inúmeras dívidas privadas que haviam sido
caloteadas. Na época, era suposto que os devedores eventualmente
reembolsariam o Estado, e quem acha que isso aconteceu é inocente de achar
que empresar dinheiro para o governo é um investimento seguro.

Para se ter uma ideia, em 357 a.C., a maior taxa de juros permitida para
empréstimos era de, aproximadamente, 8%. Dez anos depois, tal taxa foi
considerada alta demais, e os administradores romanos reduziram o teto para
4%.  Em 342 a.C., essas reduções provaram não ser capazes de acalmar os
devedores e melhorar a situação econômica. Até que o governo teve a
brilhante ideia de abolir os juros. Com isso, as pessoas passaram a não mais
emprestar dinheiro, e essa situação perdurou até essa lei que proibia os juros
passar simplesmente a ser ignorada.

No começo da história de Roma, só havia o escambo, onde o gado


bovino era considerado meio de troca. Com o passar do tempo, os romanos
passaram a usar, em vez de gado, pedaços de cobre ou bronze. Esses caroços
eram chamados de aes rudes (áspero metal) e tinham que ser pesados em
uma balança para cada transação.

Houve um aumento no comércio e Roma tornou-se um dos mais


prósperas cidades do mundo antigo. Essa prosperidade foi baseada no cobre
não cunhado, depois bronze, metal que foi medido em peso de acordo com um
sistema fixo de unidades. Foi emitido pelo Tesouro romano na forma de
lingotes pesando 3½ libras (1,6kg) com o total respaldo do Estado e era
conhecido como aes signatum (metal estampado), porque era carimbado pelo
governo com uma vaca, águia ou elefante ou outra imagem. Às vezes, eles
foram feitos para se assemelhar a uma concha de vieira. Em 289 a.C., esses
lingotes foram substituídos por moedas de bronze fundido com chumbo
discoidal aes grave (metal pesado). Eles representavam dinheiro nacional e
“foram colocados em circulação pelo Estado e [cada um] só tinha valor na
medida em que os símbolos nos quais seus números eram registrados eram
escassos ou por outro lado.". Este dinheiro foi, portanto, baseado na lei e não
no conteúdo em metal (embora esse conteúdo fosse padronizado e a moeda
tivesse algum valor intrínseco, ao contrário da maioria das moedas atuais). Isso
pode ser considerado como um dos primeiros exemplos do uso bem-sucedido
do dinheiro fiduciário.
Até 300 a.C. houve um aumento insuperável na riqueza pública e
privada dos romanos. Isso pode ser medido no ganho de terra. Após a
conclusão da Segunda Guerra Latina em 338 a.C. e a derrota dos etruscos, a
República Romana aumentou em tamanho de 2.135 milhas quadradas (5.525
quilômetros quadrados) para 10.350 milhas quadradas (26.805 quilômetros
quadrados) ou 20% da Itália peninsular. Em conjunto com a expansão de sua
área de terra, a população aumentou de cerca de 750.000 para um milhão,
com 150.000 pessoas vivendo na própria Roma. Os meios de troca eram
rigorosamente regulados de acordo com o aumento da população e do
comércio e a inflação era zero.

O sistema monetário tradicional foi destruído em 267 a.C. quando a elite


patrícia obteve o privilégio de cunhar moedas de prata. Essa mudança foi
tipificada por um patrício que foi ao Templo de Juno Moneta (de onde deriva a
palavra dinheiro), e converteu um saco cheio de denários de prata em cinco
vezes seu valor original pelo simples expediente de estampar um novo valor no
moedas. Ele assim embolsou uma diferença muito substancial em senhoriagem
para sua própria conta privada.

A antiga moeda de prata romana era conhecida como dracma que foi
modelado em uma moeda usada no sul grego da península. Mais tarde, foi
substituído pelo denário menor e mais leve. Havia também um meio denário,
chamado quinário e um quarto de unidade chamado sestércio. Ainda mais
tarde, o sistema foi complementado com o victoriatus, um pouco mais leve que
o denário e provavelmente destinado a facilitar o comércio com os vizinhos
gregos de Roma.

Um importante documento elaborado foi a Lei das Dozes Tábuas, feitas


e aplicadas por pressão dos plebeus em 451 a.C.. Nesse conjunto, estava
escrito como deveriam ser os julgamentos, as punições para os devedores e o
poder do pai sobre a família. Elas ficavam estampadas no Fórum Romano para
que todo mundo pudesse ver, mas infelizmente foram perdidas depois do
saque dos gauleses em 390 a.C.. O que temos hoje são fragmentos dela, mas
é possível observar algumas coisas interessantes:
 Tábua I - Estabelece as normas dos processos, como se deve fazer a
abertura e o encerramento de um julgamento, a obrigação do réu
comparecer ao julgamento, etc.
 Tábua II - Acredita-se que continuava descrever os procedimentos no
direito processual, como a presença obrigatória do juiz durante o
julgamento. Também tratava sobre o furto e suas punições.
 Tábua III – Fala sobre o julgamento e das penas que deveriam ser
aplicadas aos devedores. Uma das punições, por exemplo, afirmava que
os credores poderiam vender o devedor para saldar a dívida contraída.
Igualmente, decretava que uma propriedade tomada do inimigo, poderia
voltar ao antigo dono por meio da força. Ela consagra o direito à
propriedade privada, inclusive quando esta pertencia ao inimigo.
 Tábua IV - Expõe os poderes do chefe de família, conhecido como
“pater familias”. O pai detinha o direito de matar um filho que nascesse
com alguma deformidade, por exemplo. Da mesma forma, podia vendê-
lo como escravo.
 Tábua V – Caracteriza as heranças e tutelas. Indicava que se uma
pessoa morresse sem herdeiros ou testamento, quem receberia a
herança seria o parente mais próximo. Garantia que os bens de uma
família permaneceriam nesta mesma família, sem que um governante ou
outra pessoa pudesse tomá-los.
 Tábua VI - Esta descrevia como deveria ser a compra e a venda de
propriedades. Como as mulheres eram vistas como objetos, também
aqui se explica as condições pelas quais o marido deve proceder ao
rejeitar a esposa.
 Tábua VII - Aborda os delitos cometidos contra a propriedade, seja um
bem imóvel ou um escravo. Se alguém destruiu algo, deverá pagar a
reconstrução ou ser punido por esta ação.
 Tábua VIII - Estabelecia as medidas entre as propriedade vizinhas e
regras de convivência entre os vizinhos. Igualmente determinava as
distâncias que deveriam ser deixadas livres para construção de
caminhos entre as propriedades.
 Tábua IX - Assegurava as regras do direito público, por isso acredita-se
que era uma continuação da anterior. Proibia a entrega de um
concidadão ao inimigo e a realização de assembleias noturnas.
 Tábua X - Estabelecia as leis onde se garantia o respeito aos túmulos e
aos mortos. Tinham como fim impedir que as tumbas fossem saqueadas
por ladrões ou profanadas por inimigos políticos do falecido.
 Tábua XI – Determinava a proibição do casamento entre patrícios e
plebeus. Esta lei buscava garantir que os privilégios continuariam nas
mãos dos patrícios e não seriam perdidos através das alianças
matrimoniais. Esta proibição acabaria com a Lei Canuleia, em 445 a.C.
 Tábua XII – A última tábua versava sobre questões do direito privado
como furtos ou a apropriação de objetos de forma indevida (invasões ou
durante a ausência dos proprietários, por exemplo). Neste último
estavam incluídos os escravos. Esta lei visava garantir a propriedade
privada tanto dos plebeus como dos patrícios.

De acordo com a historiadora britânica Mary Beard:

“A julgar pelas Doze Tábuas, Roma em meados do século V


a.C. era uma cidade agrícola, com complexidade suficiente para
reconhecer divisões básicas entre escravo e cidadão livre e
entre as diferentes categorias de cidadãos, e sofisticada o
bastante para ter concebido alguns procedimentos formais para
lidar de modo consistente com disputas, regulamentar relações
sociais e familiares e impor regras básicas para atividades
humanas como o descarte dos mortos. Mas não há evidência de
que fosse mais do que isso.” (BEARD, Mary. 2015).

De 367 a 287 a.C. temos um período que ficou conhecido como Conflito
das Ordens. Foi uma luta dos plebeus para obter plenos direitos políticos e
paridade com a elite, que passou a ser vista como uma luta heroica pela
liberdade. Duzentos anos após os tribunos da plebe serem criados em 494
a.C., havia poucos privilégios dos patrícios além do direito de exercer alguns
cargos antigos de sacerdócio e de usar uma forma particular de calçado
adornado. Em uma reforma que Cipião Barbato teria testemunhado em 287
a.C., as decisões dessa assembleia passaram a ter automaticamente
obrigatoriedade legal sobre todos os cidadãos romanos. Em outras palavras, foi
dada a uma instituição plebeia a força de legislar sobre e em nome do Estado
como um todo, e entre 494 e 287 a.C., em meio a greves e violência, todos os
altos cargos e postos do sacerdócio foram aos poucos sendo abertos aos
plebeus. Em 367 a.C. os plebeus passaram a poder virar cônsules, e a partir de
342 a.C. os dois cônsules da República poderiam ser plebeus se fossem
eleitos. Em meados do século IV a.C., a assembleia da plebe promulgou a lei
Ovínia, onde censores podiam agora nomear senadores. Os plebeus já
estavam mantendo um número significativo de cargos magisteriais, e o número
de senadores plebeus provavelmente aumentou rapidamente. Contudo,
permaneceu difícil para um plebeu entrar no senado se ele não era de uma
família de políticos conhecidos, como a nova aristocracia plebeia emergente.
Plebiscitos de 342 a.C. colocaram limites nos cargos políticos; um indivíduo
podia manter apenas um ofício de cada vez, e dez anos deviam decorrer entre
o fim de seu mandato oficial e sua reeleição. Em 337 a.C., o primeiro pretor
plebeu foi eleito. Em 326 a.C. a escravidão por dívidas foi abolida.

Ao mesmo tempo, os plebeus estavam pesadamente endividados depois


da época da anarquia. A lei Licínia Sêxtia de 367 a.C. serviu para acelerar o
pagamento de dívidas e impôs um limite à acumulação de terras públicas (ager
publicus) por cada pater familias, bem como o número e ovelhas e gado que
podia pastar nelas enquanto outras, promulgadas em 357, 352 e 347 a.C.,
tentaram reduzir e regularizar os tipos de juros. Pouco depois, em 342 a.C.,
a lei Genúcia determinou a ilegalidade de empréstimos a juros, conforme já foi
falado. Por volta de 287 a.C. a vida dos plebeus era miserável, provavelmente
devido à dívida generalizada. Os plebeus exigiram assistência, mas os
senadores negaram. O resultado foi uma última secessão plebeia, que se
separaram para o monte Janículo. Para combater a secessão, Quinto
Hortênsio foi nomeado ditador e uma lei (a lei Hortênsia), que pôs fim à
exigência a qual os senadores patrícios deviam concordar antes que qualquer
projeto de lei pudesse ser considerado pela assembleia da plebe. Com isso, o
controle dos patrícios foi desmorando e passando para essa nova aristocracia
plebeia nascente, com os plebeus conseguindo igualdade política com os
patrícios. Contudo, a condição da classe plebeia média não mudou nada. Um
pequeno número de famílias plebeias alcançou a mesma posição que as
antigas famílias aristocráticas patrícias sempre tiveram, mas os novos
aristocratas plebeus tornaram-se desinteressados na condição da classe
plebeia média como os antigos aristocratas patrícios tinham sempre feito.

Em 362 a.C. temos a guerra Herníca, e os hernícos são derrotados em


358 a.C.. No mesmo ano, 358 a.C. temos mais uma guerra contra os etruscos,
que são derrotados. Em 344 a.C. a cidade de Cápua, um pouco mais ao sul de
Roma, pede ajuda contra os Samnitas, e um ano depois ocorre a batalha de
Monte Gauro, com a vitória romana. Em 340 a.C. os latinos se erguem contra
os romanos uma última vez, e os Volscos se juntam a eles. Ocorre então a
batalha de Vesúvio com vitória romana em 340 a.C.. E em 337 a.C. os volscos
e latinos são derrotados totalmente.

Em 327 a.C. ocorre a Grande Guerra Samnita, e a República Romana


ataca os Samnitas e seus aliados. Ocorre a batalha de Imbrinius em 325 a.C.,
mas os romanos são humilhados na batalha das Forcas Caudinas em 321 a.C.,
e ainda perdem a batalha de Láutulas ambas para os samnitas. Em 312 a.C.
aproveitando que Roma está fraca, os etruscos declaram guerra, mas são
derrotados na batalha do Lago Vadimo em 310 a.C. No mesmo ano, os
Úmbrios se juntam à guerra contra os romanos, sendo derrotados em 308 a.C.,
mesmo ano que os etruscos assinam um tratado de paz com Roma. Em 306
a.C. ocorre uma revolta dos Hérnicos que são facilmente derrotados. Em 305
a.C. os Samnitas são pesadamente derrotados pelos romanos na batalha de
Boviano, que marca o fim da Segunda Grande Samnita. Em 298 a.C. ocorre a
Terceira Guerra Samnita, onde os romanos com seus aliados lucanos e
picentes, contra os Samnitas, com seus aliados etruscos, úmbrios, e os
gauleses sênones. Em 296 a.C. os romanos destroem a Liga Samnita na
batalha de Sentino, e em 290 a.C. os samnitas são conquistados pela
república romana, marcando o fim das guerras samnitas. Em 282 a.C. os
sênones são parcialmente conquistados e alguns são expulsos.
(Soldados romanos ganhando a vantagem durante a Batalha de Bovianum)

Em 280 a.C. começam as guerras pírricas, entre os reinos de Épiro


(região da Albânia e Grécia), o reino da Macedônia, as cidades-estados da
Magna Grécia, contra a República romana, aliada com os cartagineses. Apesar
de Cartago ter de fato prometido ajudar Roma em 280 a.C., é incerto qual
ajuda foi providenciada e qual a sua importância para o resultado da guerra. No
final do conflito, os cartagineses se envolveram em sua própria guerra contra
Pirro na Sicília. O conflito começou como um pequeno conflito entre Roma e a
cidade de Tarento sobre uma violação de um tratado naval por um dos
cônsules romanos. Porém, Tarento havia ajudado o monarca grego Pirro do
Epiro em seu conflito com Córquira e pediu ajuda dele contra os romanos. Pirro
ainda se envolveu numa série de conflitos internos da Sicília e também na
batalha siciliana contra o domínio cartaginês, e ele reduziu a influência
cartaginesa consideravelmente.

A guerra tem esse nome por causa do rei Pirro de Épiro e da Macedônia,
e ela provou que as legiões romanas são fortes e que já podiam competir com
o exército helênico, já que as cidades-estados gregas já não conseguiam mais
se defender. A vitória nessa guerra deu confiança aos romanos pare enfrentar
Cartago nas Guerras Púnicas (264-146 a.C.), um poderoso império naval e
comercial no norte da África, com exércitos e marinha privada e elefantes
usados na batalha. Linguisticamente, a Guerra Pírrica deu origem à expressão
"vitória pírrica", um termo que descreve uma vitória alcançada a um custo muito
alto. Sua origem está na descrição de Plutarco da reação de Pirro ao reporte
de que havia vencido uma batalha: "Se formos vitoriosos em mais uma batalha
contra os romanos, estaremos completamente arruinados" depois da batalha
de Ásculo em 279 a.C. que venceram os romanos mas a um custo muito alto.
Os romanos também perderam a batalha de Heracleia. Nessas batalhas, os
gregos de Pirro utilizavam elefantes de guerra. Pirro é então derrotado na
Batalha de Benevento em 275 a.C., marcando o fim da guerra. Os romanos
conquistam Tarento em 272 a.C. e de 269 a 264 a.C. o resto da península
itálica, conquistando os etruscos, picentes, messápios, Peuctianos, e
Lucanianos.

(pintura retratando a Batalha de Ásculo)


Vale lembrar que apesar dos romanos cometerem atrocidades com
vários povos conquistados, as tribos inimigas de Roma na península itálica
eram tão militaristas quanto Roma, e se pudessem fariam essas mesmas
atrocidades contra o povo romano. Vários escritores romanos já eram
ferrenhos críticos do imperialismo romano, como o historiador Tácito diz no
século II d.C.: “Eles criam desolação e chamam isso de paz”.

Logo depois, em 264 a.C. estoura a Primeira Guerra Púnica que durará
até 241 a.C.. A maior parte da Sicília era habitada por muitos cartagineses, em
luta constante com as colônias gregas da Magna Grécia. Os romanos
intervieram e uma de suas legiões, com o apoio de Siracusa, ocupou a cidade
de Messina, na batalha de Agrigento. Os cartagineses declararam guerra a
Roma. Os romanos vencem a batalha naval de Milas (260 a.C.), e a batalha
naval de Sulci (258 a.C.). Em 258 a.C. os romanos tentam invadir a cidade de
Cartago, mas falham miseravelmente perdendo a batalha de Tunís. Em 255
a.C. ocorre o desastre de Kamarina, onde os romanos perdem 50.000 homens
numa tempestade. Aleria é conquistada pelos romanos, mas eles são
facilmente repelidos. Os romanos vencem Cartago na batalha de Panormo em
251 a.C. e no mesmo ano ocorre o cerco de Lilibeu, na Sicília, que durou até
241 a.C.. Em 250 a.C. Cartago vence os romanos na batalha de Drepana, mas
é derrotada na batalha das Ilhas Égadas em 241 a.C. marcando o fim da
Primeira Guerra Púnica.
(O inferno no mar nas Guerras Púnicas.)

Em 238 a.C. Roma conquista a Sicília e a Córsega, duas ilhas do


Mediterrâneo. Em 234 a.C. Cartago conquista a Ibéria, parte do leste da atual
Espanha. Em 229 a.C. estoura a primeira guerra Ilírica, contra o reino da Ilíria
(atual Balcãs), da rainha Teuta. Roma vence e passa a controlar a pirataria no
mar Adriático, e fez um tratado de aliança com os gregos. Em 225 a.C. os
romanos são derrotados pelos gauleses na batalha de Faesalae e na batalha
de Telamão, e em 222 a.C. na batalha de Clastídio. Em 221 a.C. a cidade de
Sagunto da península ibérica se junta à Roma como aliado. No mesmo ano
estoura a Segunda Guerra Ilírica onde os romanos vencem e conquistam a
cidade de Dimale. Em 218 a.C. Aníbal faz o cerco de Sagunto e assim começa
a Segunda Guerra Púnica (218-201 a.C.). Em novembro e dezembro, Aníbal
cruza os gelados Alpes com seus elefantes de guerra, e após uma gelada
travessia, pega os romanos de surpresa. Ele derrota os romanos na batalha de
Ticino e Trebia, e Roma perde o controle da gália cisalpina. Roma com isso
desembarca sua frota na Ibéria, e os celtas da Ibéria se juntam aos romanos
contra os cartagineses. Em 217 a.C. Aníbal destroi o exército romano de Caio
Flamínio numa emboscada matando-o, na batalha do Lago Trasimeno, perto
de Roma. Em 216 a.C Aníbal ainda na península itálica derrota os romanos na
batalha da Canas, esmagando o exército romano liderado por Varrão. Os
Lucanos, Brutii, Samnitas, Capuanos, e gregos da Sicília, rompem com Roma e
se aliam à Cartago.
(Aníbal cruza os Alpes – imagem meramente ilustrativa)

Em 215 a.C. os romanos derrotam os cartagineses na batalha da Ibéria,


no leste da atual Espanha, e Siracusa se alia com Cartago. Aníbal conquista
Cápua, e ocorre uma rebelião do povo Nuráguica na Sardenha romana. Em
214 a.C. a Macedônia se alia a Cartago e ataca a Ilíria romana. No mesmo
ano, os romanos derrotam os cartagineses infilitrados na península itálica na
Batalha de Benevento. O cônsul Fábio Máximo Verrucosus (Verrugoso) que
assume em 214 a.C. até 212 a.C. tem um importante papel na Segunda Guerra
Púnica, porque ele venceu Cartago indo conquistando aos poucos, e é por isso
que hoje existe o termo "socialismo fabiano", que são aqueles estadistas que
vão socializando as coisas aos poucos, gerando dependência, destruindo a
cultura aos poucos, como gramscianos. Fábio assumiu o comando pouco antes
de Canas, e evitou batalhas campais com Aníbal e fez um jogo de adiamentos,
combinando táticas de guerrilha com uma política de terra arrasada, para
desgastar o inimigo (daí o “protelador”). A associação esquerdista britânica
Fabian Society adotou seu nome e exemplo — e sua mensagem era: “se você
quer que a revolução triunfe, deve, como Fábio, saber esperar”.

Em 213 a.C. começa um longo cerco de um ano e meio de Siracusa


pelos romanos. No mesmo ano, os númidas (povo do norte da África, logo
abaixo de Cartago) se aliam à Roma, e os Massílios se juntam à Cartago. Em
212 a.C. Aníbal conquista Tarento, exceto pelo porto. E em março deste ano,
os romanos derrotam os cartagineses na segunda batalha de Benevento.
Aníbal derrota os romanos na batalha da Herdônia, um pouco ao sul dessa
ultima batalha. A Liga Etólia se alia à Roma em 211 a.C., onde participava
cidades gregas como Atenas, Esparta, Anfisa, Delfos, Tegeia. Eles ajudam
lutando contra a Macedônia. No mesmo ano, Cápua é reconquistada pelos
romanos, mas eles são derrotados na Batalha do Bétis Superior no sul da atual
Espanha. Os celtas ibéricos deixam a aliança com Roma, e o famoso Cipião
Africano toma o comando das legiões ibéricas. Em agosto de 210 a.C. os
romanos são derrotados pelos cartagineses na segunda batalha de Herdônia.
Em novembro de 210 a.C., Esparta e o reino de Pérgamo se aliam com Roma.
Em junho de 209 a.C. Tarento é reconquistada pelos romanos.
Em maio de 208 a.C. Cipião Africano derrota os cartagineses na Batalha
de Bécula, no sul da Espanha. Em outubro do mesmo ano, Aníbal mata os dois
cônsules romanos numa batalha. Asdrúbal Barca, general cartaginês e irmão
de Aníbal, em 207 a.C., marcha para Roma, mas é vencido e morto na batalha
de Metauro. Os romanos tem uma vitória contra os cartaginenses na batalha de
Ilipa em 206 a.C. no sul da Espanha, conquistando todo o território cartaginês
na península ibérica. No mesmo ano, tem fim a guerra Macedônica, e a
Numídia e Massília trocam de lado, agora Numídia estava do lado de Cartago,
e Massília de Roma. Em 204 a.C. os romanos invadem a África cartaginesa, e
derrotam os númidas na batalha de Cirta em 203 a.C.. No mesmo ano, Cartago
é derrotada na batalha de Insubria, e são expulsos de vez da península itálica.
Em outubro, Aníbal volta para Cartago, e é derrotado na batalha de Zama em
outubro de 202 a.C., marcando a derrota de Cartago e o fim da Segunda
Guerra Púnica.

(A Batalha de Zama, por Cornelis Cort, 1567)


Os cartagineses foram forçados a pagar mais indenizações à Roma, a
doar suprimentos para suas tropas, a libertar prisioneiros e ceder seus navios
de guerra. Além disso, Cartago ficou proibida de fazer guerra sem autorização

de Roma. No entanto, Cartago era uma cidade grande, repleta de pessoas


talentosas e não demorou a prosperar novamente. Desenvolveu com sucesso
a agricultura e continuou com as práticas comerciais marítimas.

Como os cartagineses foram proibidos de fazer guerras sem a


autorização dos romanos, estes então mandam os Numidas, seus aliados na
África, atacarem Cartago, que sem poder reagir, sofre com os ataques. Por
diversas vezes rogaram permissão ao Senado Romano para contra-atacar,
mas todas foram negadas. Então, após três anos, finalmente os cartigeneses
decidem se defender e Roma encontrou uma razão para a guerra. No ano 149
a.C., as legiões atacaram e cercaram a cidade de Cartago. A Terceira Guerra
Púnica dura até 146 a.C.. Roma suborna os políticos de Cartago para
desarmar seus cidadãos, e eles fazem. A população cartaginesa então mata os
políticos e montam uma marinha e exército privado e resistem por 3 anos.
Infelizmente não conseguem resistir e são vencidos por Cipião Emiliano que
destruiu completamente a cidade de Cartago, escravizando os sobreviventes,
incendiando a cidade, e as terras sendo cobertas com sal, para nada crescer
ali. Esse é o triste fim de uma civilização próspera, que vinha dos fenícios,
muito rica, com mercadores profissionais, exércitos mercenários, e marinha
privada.
(Império Cartaginês e República Romana em 264 a.C. no começo da Primeira
Guerra Púnica)
(representações da cidade de Cartago)

A Segunda Guerra Púnica (218-201 a.C.) foi brutal para os romanos, e


nos 17 anos que Aníbal passou na península itálica, cerca de 400 cidades
foram destruídas pelos cartagineses ou pelos romanos. Todo o norte da
península itálica, habitada pelas tribos gaélicas e celtas foi devastada pelos
romanos, já que os gauleses acolheram e cooperaram com Aníbal, e os
romanos retaliaram com uma força avassaladora. Em 218 a.C. tinha mais ou
menos 270.000 cidadãos romanos e em 208 a.C. isso caiu para 137.108,
quase a metade, sendo que a maior parte da queda teria que ter sido pelos
efeitos colaterais da luta na Itália. Sob o comando do general Fábio Máximo, os
romanos aplicaram contra Aníbal, a mesma técnica que seria aplicada pelos
russos contra Napoleão e contra Hitler, 2000 anos mais tarde, a famosa “tática
da terra arrasada”. Essa tática consiste em recuar destruindo todo o que pode
servir de suprimento para seu inimigo, como plantações, indústrias,
armamentos, construções, etc. Por isso que tanta gente morreu nessa guerra
não para os confrontos diretos, mas para os efeitos colaterais da tática de terra
arrasada. Com a necessidade do exército romano lutar pela primeira vez fora
da Itália, na Espanha e norte da África, os campos estavam desprotegidos na
Itália, e eles voltaram da guerra, e viram suas propriedades devastadas, um
completo terreno baldio.

Depois da Segunda Guerra Púnica, a Itália foi aberta à importação


“gratuita” de alimentos da Sicília, da Sardenha, e do Norte da África,
principalmente grãos, produzidos em climas mais quentes, em fazendas
industrializadas que tinham trabalho escravo. O custo do cultivo de grãos na
Sicília e no norte da África era muito menor do que na Itália, mesmo quando o
grão não era importado pelo estado romano, e distribuído “gratuitamente” aos
cidadãos.

Apesar da população da Itália e de Roma se recuperar rápido, o número


de pequenos proprietários livres vai diminuir cada vez mais, e será fundada
uma nova Itália, sem aquela liberdade, e o paraíso agrário que era Roma nos
primeiros 500 anos de sua existência. Agora a maioria das terras da Itália não
eram mais de proprietários livres, mas sim do Estado romano, que confiscou as
terras, como represália contra aquelas cidades que ficaram do lado de Aníbal.
Depois da Segunda Guerra Púnica, o Estado romano, agora mais poderoso, se
viu desesperadamente necessitado de dinheiro, muito disso fornecido por
empréstimos por plebeus ricos. Em vez de juros, o Estado romano achou
conveniente conceder grandes extensões de terra em arrendamentos
nominais, ou aluguéis muito baixos. A ideia era que os credores ficassem com
essas terras em arrendamento, até que o Estado romano pudesse reembolsar
o capital que havia sido adiantado. Quando a Itália começou a se recuperar da
crise, o valor das rendas destes terrenos recuperou-se muito fortemente e
ultrapassou largamente as rendas nominais ou muito baixas previstas nos
arrendamentos. É provável que os credores tenham observado os seus
empréstimos e os rendimentos que eles derivavam de sua posse arrendada
dessas terras, e decidiram que manteriam as terras, que permitiriam que os
empréstimos passassem de ano a ano sem resgate.

A outra solução foi vender muito da terra confiscada para os patrícios


que tinham dinheiro suficiente para gastar, ou arrendando em condições
semelhantes às concedidas aos credores de guerra. Havia restrições legais e
conseutudinárias sobre a quantidade de terra que os patrícios podiam ter, mas
essas leis eram ignoradas ou contornadas. Até mais ou menos 160 a.C. o
preço de mercado da terra era muito baixo. Ao longo do século II a.C. vai surgir
em Roma pela primeira vez uma pequena classe de proprietários de terras,
muito ricos, os latifúndios, que usavam principalmente trabalho escravo. Assim,
a Itália foi transformada aos poucos de uma região de cultivo de grãos, para
uma região onde se cultivava gado ou ovelhas, ou se cultivava plantações de
oliva, de azeitonas, coisas que necessitavam de grandes desembolsos de
capital, e só foi possível isso para quem tivesse grandes latifúndios. Os
pequenos proprietários livres não tiveram escolha senão vender suas
propriedades para os grandes latifúndios, e se mudar para outros lugares.
Alguns com muita sorte conseguiram se mudar para as colônias latinas
recentes no Norte da África e na Sicília, ou teria que ir para uma cidade que foi
despovoada durante a Segunda Guerra Púnica. Agora as cidades estavam
sendo repovoadas com uma classe de desempregados, o que gerará imensa
pobreza e conflitos que falaremos mais tarde. A população da cidade de Roma
cresceu enormemente, subindo para 1.000.000 de habitantes no ano 100 a.C..

A cidade de Roma então após 200 a.C. se encheu de pobres, que foram
morar nas Insulas. Uma Insula, que em latim significa uma ilha, era tipo um
bloco de apartamentos, que no fundo tinha lojas e outros prédios comerciais, e
às vezes tinham 10 andares. Quanto mais alto era o andar que a pessoa
morava, mais pobre ela era, e mais insalubre e lotado era o andar. Esses
blocos não tinham água corrente, eram feitos com o material mais barato e
vagabundo que tivesse, e um pequeno quarto podia agrupar uma família
inteira, tendo até 20 ou 30 pessoas, tal qual vemos em Cuba ou na antiga
União Soviética. Os aluguéis eram pagos com atraso, e a criminalidade
aumentava. Como a estrutura era muito precária, era comum ter incêncios e
várias pessoas morrerem pulando desesperadas de andares altos, ou
simplesmente a estrutura desmoronava.
(representação de uma Insula romana)

Essa nova subclasse urbana vivia sobre o regime de patrono e cliente.


Lembrando que não havia polícia, nem assistência social, ou justiça criminal
eficiente. Além disso, Roma tinha uma cultura de desprezo pelo trabalho
assalariado, de trabalhar para alguém. Para entender como esse sistema de
patrono e cliente funcionava é só lembrar do filme “O Poderoso Chefão”. Se
você fosse um jovem pobre, sem qualquer perspectiva, sua melhor aposta
seria se ligar a um homem rico, e você se tornaria seu cliente.

O cliente era obrigado a se apresentar na casa de seu patrono todas as


manhãs para cumprimentá-lo ou apresentar petições. Você seria convidado
para seus jantares, seria alimentado, e em troca você faria serviços que
poderiam ser exigidos. Se você fosse um cidadão romano com direito à voto,
você teria que votar no seu patrono, ou nas pessoas que ele nomear. Se você
tiver uma habilidade especial, você prestaria serviços para outros clientes do
seu patrono, sem receber nada obviamente. Você poderia se combinar com
outros jovens que estão na sua situação, para interromper as reuniões
eleitorais dos patronos rivais. Pode ser que você tenha que assassinar alguém,
ou participar de assembleias desenfreadas. E quando seu patrono morrer, você
será seu cliente herdeiro, e quando você morrer, seus filhos serão clientes do
seu patrono. Um patrono podia ser também um cliente, de alguém mais rico do
que ele. Quase tudo que essa massa de gente pobre fugindo para as cidades
precisavam, era conseguido com essas relações, o que substituia um sistema
de justiça criminal. Um patrono e cliente não podiam testemunhar um contra o
outro nos tribunais, e os filhos do patrono e cliente original herdavam o mesmo
relacionamento.

O novo Estado romano agora também enriquecia enormemente com os


triunfos das guerras que se envolvia. Os governantes derrotados normalmente
tinham que pagar enormes indenizações pelo crime hediondo de resistir à
Roma. Em 197 a.C. Filipe V da Macedônia teve que pagar 1000 talentos de
prata (aproximadamente 66.000 libras), depois de ser derrotados por Titus
Quinctius Flamininus. Em 188 a.C. Antíoco III, rei da Síria, teve que pagar
15.000 talentos de ouro. Além disso, eles subornavam potências estrangeiras,
como no caso de Ptolomeu XII, pai de Cleópatra, que foi deposto em
Alexandria em um golpe de estado, e foi à Roma pedir ajuda para reconquistar
o trono. O Senado forneceu a assistência, junto por Júlio César e Pompeu, e
ele conseguiu o trono com a ajuda de um exército romano. O primeiro suborno
registrado foi em em 171 a.C. quando havia leis sérias sobre receber suborno
de potências estrangeiras, que eram obviamente ignoradas. As eleições
passaram a ser muito violentas e cheias de subornos.

Entre a Segunda Guerra Púnica e a Terceira, com a total destruição de


Cartago, Roma também vai entrar em vários outras guerras. Em abril de 200
a.C. temos a segunda guerra Macedônica, e uma rebelião gaulesa estoura no
norte da Itália, mas esses ultimos são vencidos na batalha de Cremona. Em
198 a.C. Esparta se junta na Guerra Macedônica, e Roma domina tanto a Liga
Aqueia tanto a Liga Etólia. A Macedônia é derrotada na Batalha de
Cinoscéfalos em 197 a.C., acabando assim a guerra, e a Macedônia virando
um estado cliente de Roma. Em 195 a.C. estoura a Guerra Lacônia, também
na Grécia, e Esparta é forçada a entrar na Liga Aqueia pelos romanos. Em 194
a.C. a tribo Boii ataca o norte da Itália romana, mas são derrotados na Batalha
de Placêntia no mesmo ano. Em 192 a.C. estoura uma guerra entre a
República Romana e os gregos selêucidas. A Liga Etólia se junta ao Império
Selêucida, e no ano seguinte, Roma derrota os selêucidas na batalha das
Termópilas. E em 190 a.C., sob o comando de Cipião Asiático, impuseram
derrota decisiva a Antíoco, “o Grande”, da Síria. A Etólia é anexada pelos
romanos em 189 a.C. e Roma derrota mais uma vez os selêucidas na batalha
de Magnesia no mesmo ano. No mesmo ano, estoura a Guerra Gálata, entre
gauleses da Galácia e os romanos e o reino de Pérgamo. Roma vence na
Batalha do Monte Olimpo em 189 a.C.. No ano seguinte é assinado o tratado
de Apameia, onde os territórios conquistados são cedidos à Pérgamo.

Vale lembrar que depois que Alexandre, o Grande morreu em 323 a.C.,
seus sucessores formaram dinastias rivais, que se envolveram em séries mais
ou menos ininterruptas de guerras e disputas, entre eles e com Estados
menores e coalizões em suas vizinhanças. Pirro foi um desses soberanos.
Antíoco IV, o Epifânio foi outro: após sua detenção em Roma e tentativas de
política populista em casa, conseguiu em seu reinado de dez anos, entre 175
a.C. e 164 a.C., invadir o Egito (duas vezes), o Chipre, a Judeia (o que
provocou também a revolta dos Macabeus), o Império Parta e a Armênia. A
Revolta dos Macabeus começou em 167 a.C. quando a prática do judaísmo foi
proibida por Antíoco IV, o judaísmo antigo, da lei mosaica que era precursora
do Cristianismo. Os macabeus foram os integrantes de um exército
rebelde judeu que assumiu o controle de partes da Terra de Israel, até então
um Estado-cliente do Império Selêucida. Os macabeus fundaram a dinastia
dos Hasmoneus, que governou de 164 a 37 a.C., reimpuseram a religião
judaica, expandiram as fronteiras de Israel e reduziram no país a influência
da cultura helenística. Seu membro mais conhecido foi Judas Macabeu, assim
apelidado devido à sua força e determinação. Os macabeus durante anos
lideraram o movimento que levou à independência da Judeia, e que
reconsagrou o Templo de Jerusalém, que havia sido profanado pelos gregos.
Após a independência, os hasmoneus deram origem à linhagem real que
governou Israel até sua subjugação pelo domínio romano em 37 a.C..
Os primeiros judeus conhecidos que chegaram a Roma em 161 a.C.
foram Yehuda e Macabeu. Esses primeiros judeus romanos se empregavam
como artesãos, mascates e lojistas. Na última ocupação, eles também se
entregaram a empréstimos de dinheiro. Como comunidade, viviam
separadamente em apartamentos. Eles se governavam de acordo com suas
próprias leis e estavam isentos do serviço militar. Em 139 a.C. os judeus, que
não eram cidadãos romanos, foram expulsos por Praetor Hispanus por fazer
proselitismo, mas logo voltaram. Em 19 d.C., por meio de um senatus
consultum, o imperador Tibério expulsou 4.000 judeus, que estiveram
envolvidos em vários escândalos, mas nenhuma dessas expulsões foi
devidamente aplicada e sua presença contínua, em particular como usurários,
desempenharia um papel significativo no declínio e colapso do Império
Romano. Em 135 d.C., o imperador Adriano expulsaria os judeus de Roma.

Em 181 a.C. a Guerra Celtibérica estoura, e os romanos começam a


controlar os celtibéricos. Mas um ano depois, ocorre a revolta ligúrica no norte
da Itália, mas os ligúrios são derrotados na Batalha de Gênova no mesmo ano.
Em 179, termina a Primeira Guerra Celtibérica, com a vitória dos romanos. Mas
no mesmo ano, a Macedônia deixa de ser um protetorado romano e se torna
independente. Em 177 a.C. rebeldes da Sardenha se revoltam contra Roma,
mas são vencidos facilmente. Em 171 a.C. estoura a Terceira Guerra
Macedônica, e Roma é derrotada na batalha de Calínico. Um ano depois o
reino Odrísio sai da guerra e a Liga Aqueia também. Em 169 a.C. ao invés de
conquistar a Grécia, Roma decide saquear o país. No mesmo ano, o reino de
Ardiaei se junta à Macedônia. Em 168 a.C. Roma destrói a Macedônia na
Batalha de Pidna, a qual é dividida em quatro reinos. O reino Ardiaei é
dissolvido e alguns territórios são conquistados em 167 a.C.. Em 166 a.C. os
romanos fazem a "pacificação" da tribo Histri no atual Croácia. Em 156 a.C.
estoura a guerra romana-dálmata que dura um ano, com a vitória dos romanos.
Em 154 a.C. estoura a Segunda Guerra Celtibérica, onde Roma vence.

Em 155 a.C. estoura a Guerra Lusitana na Ibéria. Em 150 a.C. a guerra


Lusitana se espalha por mais territórios da península ibérica. Temos um grande
herói lustiano que é Viriato que guerreou contra os romanos por 11 anos, de
150 a 139 a.C. Roma falou para os lusitanos largarem as armas, e eles muito
inocentes largaram, e Roma massacrou eles. No entanto, Viriato sobreviveu, e
montou uma resistência fazendo uma campanha militar juntando outros povos,
e venceu os romanos por 10 anos, e Roma só ganhou dele quando o traiu
subornando os tententes lusitanos para assassiná-lo.

(A morte de Viriato de José de Madrazo)


(Monumento a Viriato, Viseu - Portugal)

Em 149 a.C. um usurpador chamado Andrísco se proclama rei e une a


Macedônia com a ajuda da Trácia. Em 148 a.C. os romanos derrotam a
Macedônia na batalha de Pidna, e anexam todo o territorio. Em 146 a.C. a Liga
Aqueia declara guerra contra Roma, começando a Guerra Aqueia, mas os
romanos destroem a rica cidade grega de Corinto no mesmo ano, dando fim à
guerra. A cidade foi totalmente saqueada e queimada, e o povo escravizado.

("A última noite de Corinto", obra de Tony Robert-Fleury. O saque de Corinto foi
o grande feito de Múmio, o que lhe valeu o título de "Acaico")

Não podemos deixar de falar da influência da cultura grega na civilização


romana. Horácio, na Epístola II, 1, pag 156-57, diz que: "Graecia capta ferum
victorem cepit et artes intulit agresti Latio", ou "A Grécia embora capturada, fez
seu selvagem captor cativo, e trouxe as artes para roma incivilizada.". Roma
conquistou a Grécia com seu aço, e a Grécia conquistou Roma com suas artes.

Com exceção do direito romano e dos jogos de gladiadores, tudo o que


chamamos de civilização romana, vem dos gregos, às vezes, até totalmente
copiado dos gregos. Os romanos também criaram uma literatura própria, em
modelos gregos. Depois os romanos ainda vão incorporar o monoteísmo
judaico, ou seja, o Cristianismo, que vem do judaismo antigo.

Dentre as contribuições dos gregos temos:


 uma poesia notável;
 a ideia de história no sentido de criar a ideia de investigar causas,
tentando olhar para eventos históricos como parte de um processo de
desdobramento;
 o desejo de dar uma representação precisa à forma humana, e as
habilidades técnicas que eles desenvolveram para fazer isso;
 os gregos nos deram a maior parte do nosso pensamento político;
 a ciência, apesar de ainda incompleta pelo desprezo grego pela
experimentação. Os fundamentos da biologia, física, química, etc;
 Medicina científica, pela ideia de considerar o corpo humano como uma
máquina que podia ser reparada;
 a Matemática.

Os gregos tiveram que resolver tudo para si, o que é realmente notável.
Os judeus e os cartagineses entenderam que a língua grega era muito útil para
comunicar-se além-fronteiras, e que havia alguns aspectos da civilização
grega, que deviam ser incorporados. Mas essa influência era parcial, e a parte
principal da cultura grega era rejeitada.

A colonização grega costumava ser predominante na costa da Ásia


menor, como na Turquia e norte do Egito. Mas eles tinham uma grande
presença no sul da Itália, bem antes de Roma surgir. Os etruscos eram
bastante civilizados, e eram bastante influenciados pelos gregos, em sua arte e
cultura geral. Então os etruscos foram influenciados pelos gregos, e os
romanos foram influenciados pelos etruscos mais tarde. Os romanos não
ligavam muito para os gregos, porque os romanos eram um povo de
agricultores e soldados. Mas isso mudou lá para 300 a.C. quando os romanos
tomaram o controle de toda a Península Itálica, incluindo as colônias gregas.
Depois da Primeira Guerra Púnica, os romanos tomam conta da Sicília, que era
grega. Roma enriqueceu bastante com essa guerra, e começou a surgir uma
elite, que tinha alta cultura. Então agora que os romanos estão poderosos e
tem uma elite que tem alta cultura, por que não se tornar gregos como os
macedônios fizeram?
(Colonização grega no Mediterrâneo)

Quintus Fabius Pictor e Lucius Cincius Alimentus, dois senadores e que


lutaram na Segunda Guerra Púnica, ambos escriviam histórias sobre a guerra e
sobre Roma, em grego. Mas como os romanos são extremamente patriotas,
teve uma resistência em adotar a língua grega. Então eles fizeram o latim como
a língua dominante nos domínios de Roma, mas o grego seria aceito. Mas o
latim seria remodelado em uma linguagem de literatura de primeira. Cipião
Emiliano, que destruiu Cartago em 146 a.C. e foi contra as reformas de Tibério
Graco em 133 a.C., ele reuniu em torno de si, um círculo de filósofos e
historiadores gregos, como Políbio, e o estoico Panécio de Rodes, e encorajou
a fusão do poder romano, com a cultura grega. Mas houve também uma
reação contra isso, como a de Cato, o Velho [Marcus Porcius Cato] (234-149
a.C.), que odiava os gregos, e fazia leis contra a exibição pública do luxo, que a
classe rica de alta cultura fazia em grego.

As primeiras obras sobreviventes de literatura latina que temos, são as


obras de homens como Tito Mácio Plauto e Públio Terêncio Afro, que eram
imensamente populares na época. Muitas das peças de Plauto são traduções
diretas de originais de dramaturgos gregos como Menandro, ou são baseadas
em originais gregos mas fortemente reformuladas para um público romano.
Isso é importante, porque muito do teatro grego foi perdido depois da idade de
ouro de Eurípedes, Sófocles, Aristófanes, e tudo que sabemos vem das
imitações romanas. Os mosaicos romanos em Pompeia no primeiro século
depois de Cristo, mostram pessoas vestindo roupas gregas, e as peças eram
predominantemente gregas, exceto pelo uso do latim. Em 250 a.C. a Odisseia
é traduzida para o latim, pelo grego Olivius Andronicus. Lucretius (Titus
Lucretius Carus), que viveu de 99 a 55 a.C., escreveu um poema épico
chamado De Rerum Natura, uma exposição da filosofia Epicurista de atomismo
e materialismo, e ele também influenciou Newton e Galileu. Catullus (Gaius
Valerius Catullus), que viveu de 84 a 54 a.C., que fez o uso perfeito da métrica
lírica grega no latim, e desde o Renascimento, é considerado um dos maiores
poetas romanos que já existiu. Temos Marco Túlio Cícero (106-43 a.C.) que
era um poeta competente e um grande mestre da prosa latina, e Júlio César
(100-44 a.C.), um dos grandes escritores da prosa latina, um mestre do latim
simples e elegante.

Por volta de 250 a.C., um garoto, ou muitas vezes uma garota, iria ser
colocada na escola, na idade dos 7 anos, para aprender latim e grego. Os
romanos liam todos os clássicos gregos, e eram perfeitamente capazes de
fazer discursos em grego, ou escrever cartas em grego.

No entanto, em relação à filosofia grega, os romanos tinham bastante


hostilidade. Carneades (214-129 a.C.) um dos grandes filósofos do Ceticismo,
e foi um dos sucessores de Platão. Ele tinha alguma notoriedade política em
Atenas, e é mandado para Roma, para colocar uma posição diante do Senado.
Quando ele chega em Roma, ele cai num esgoto e quebra a perna, e ele teve
que ficar na cidade por algum tempo. Havia alguns romanos que se
interessavam por filosofia, e insistiram para ele ficar na cidade, e dar algumas
palestras públicas, sobre filosofia. Depois, o Senado baniu qualquer filósofo em
Roma, para supostamente evitar a corrupção moral da juventude. Vale lembrar
que Sócrates foi morto pelas autoridades atenienses, por supostamente
corromper os jovens também. Quando Sula saqueia Atenas em 86 a.C., uma
bagunça de anotações de aula de Aristóteles foi encontrada em um porão, e
elas foram tiradas e publicadas pelos romanos, e isso é basicamente tudo o
que temos dos escritos de Aristóteles.
Os romanos estavam interessados nos estoicos, porque eles achavam
que havia uma supremacia da razão perante a emoção, a insistência de que a
felicidade vem da compreensão do Universo e do nosso lugar, a alegação que
se você alinha a razão com a natureza você nunca será infeliz, e o imperativo
de calma e atenção ao dever. Tudo isso encanta bastante os romanos, porque
isso se encaixa com os valores históricos deles. Os estoicos tiveram pesada
influência na lei romana, no conceito de lei natural. E o direito romano depois
disso, é uma tensão entre a lei natural e a lei das nações. Para eles existe uma
lei natural que pode ser derivada por um processo de contemplação racional, e
a lei das nações, que são as leis estabelecidas em qualquer lugar particular,
serão baseadas em algum grau, na lei natural. O maior estoico romano foi
Cícero.

A segunda linha filosófica que os romanos abraçaram, foi o Epicurismo.


Epicuro nasceu em 341 a.C. e morreu em 270 a.C., e pode ser considerado o
grande apóstolo do utilitariismo e do materialismo. Ele falava que o único
propósito da vida era a busca por prazer, mas no sentido da ausência de dor, e
não necessariamente os prazeres carnais e comer e beber. Para ele os deuses
não tem importância particular, e quando você morrer já era, então você deve
aproveitar o máximo possível da vida. Ele afirmava que tudo no mundo é feito
de átomos, que estão em movimento, e tudo que vemos são combinações de
átomos. Seus escritos sobre física se perderam, mas Lucrécio fez um resumo
de sua obra, que é o que temos hoje. Muitas pessoas de classe média em
Roma, se interessaram no Epicurismo, para fugir das disputas políticas, apenas
cuidar da sua vida, e tratar os outros decentemente. Cícero tentou combater a
onda crescente de Epicurismo em Roma, apesar dele próprio ter publicado o
resumo de Lucrécio sobre Epicuro. Mas não havia como ele parar a influência
do Epicurismo, que crescia rápido na Itália.

As artes romanas também vão ter pesada influência da arte grega, mas
os romanos buscam retratar as pessoas de forma realista. Então era costume
os ricos contratarem escultores gregos para fazerem estátuas e bustos de
pessoas ricas, famosas ou poderosas, mas essas pessoas eram sempre
retratadas de forma realista, com rugas, cicatrizes, e rosto feio, porque era
costume romano o realismo na escultura.
Apesar de todas essas conquistas territoriais de Roma, a única
obrigação que os romanos impunham a todos que ficavam sob seu controle,
era a de fornecer soldados para seus exércitos. Não havia então forças de
ocupação romanas ou qualquer tipo de governo imposto por eles. Em outros
casos, eles impuseram grandes indenizações em dinheiro a alguns Estados,
um total de mais de seiscentas toneladas de lingotes de prata só na primeira
metade do século II a.C. Ou ainda, assumiram os regimes regulares de taxação
já estabelecidos por governantes anteriores. E algumas vezes conceberam
novas maneiras de extorquir ricas receitas, como as minas de prata da
Espanha, por exemplo, antes parte do domínio de Aníbal, passaram para o
domínio dos romanos, e muitos escravos trabalhavam lá.

Por volta do século IV a.C. os romanos tinham quase meio milhão de


soldados disponíveis. Para se ter noção Alexandre, o Grande tinha 50.000 nas
suas campanhas no Oriente, e a Pérsia tinha 100.000 quando invadiram a
Grécia em 480 a.C.. Os romanos estenderam sua cidadania a algumas
comunidades de amplas áreas do centro da Itália, às vezes, completa, outras
limitada. A maioria tinha o que se conhecia como direitos latinos, como
intercasamentos com romanos, direitos mútuos para a realização de contratos,
trânsito livre e assim por diante. Era possível você ser um cidadão romano, e
de outra localidade ao mesmo tempo. Segundo o historiador grego Políbio
(200-120 a.C.) a Constituição ou sistema política de Roma, combinava os
melhores aspectos da monarquia, da aristocracia e da democracia, esta última
não tendo nenhuma qualidade. Os cônsules representavam o poder
monárquico, o Senado o poder aristocrático, e o povo o democrático. O
segredo, sugeria Políbio, estava em uma delicada relação de pesos e
contrapesos entre cônsules, o Senado e o povo, de modo que nem monarquia,
nem aristocracia, nem Senado nunca prevaleciam inteiramente. Isso é mais ou
menos como foi a Idade Média, que o rei, a Igreja, e as autoridades
intermediárias (condes, duques, vassalos, etc), cada um tinha sua esfera de
atuação, com nenhum prevalecendo, e um contrabalançeando o outro.

Desde cedo em sua história, a cidade teve um sistema-padrão de


determinar o valor monetário pelo peso do metal, o que está evidente nas Doze
Tábuas, que atribuem penas em unidades de bronze. Mas não houve
cunhagem como conhecemos até o final do século IV a.C., quando as moedas
“romanas” foram cunhadas pela primeira vez, no sul da Itália, provavelmente
para pagar atividades bélicas ou construção de estradas. Em meados do
século II a.C. os lucros das guerras tornaram os romanos o povo mais rico do
mundo que eles conheciam, ou seja a Europa e norte da África. Milhares e
milhares de cativos viraram mão de obra escrava que trabalhava nos campos
romanos, em suas minas e fábricas, explorando recursos em uma escala muito
mais intensiva do que já ocorrera antes e alimentando a produção romana e o
crescimento de sua economia. Em 167 a.C. Roma se tornou um Estado livre de
impostos: o tesouro estava tão cheio — graças, particularmente, aos espólios
da recente vitória sobre a Macedônia — que a taxação direta dos cidadãos
romanos foi suspensa, exceto em emergências, embora eles continuassem
sujeitos a uma série de outras cobranças, como tributos alfandegários ou uma
taxa especial sobre a libertação de escravos. Durante a Segunda Guerra
Púnica, a moeda básica de bronze, o as, teve seu peso reduzido, de quase
trezentos gramas para pouco mais de cinquenta, a famosa inflação. Os fundos
ainda estavam em mãos privadas nessa época.

De 287 a 133 a.C. vamos ter internamente em Roma a supremacia da


Nova Nobreza, já que a Lei Hortência foi bem sucedida no seu propósito, e
nenhuma mudança política importante ocorreu durante esse período. Nas
décadas finais desta era, muitos plebeus ficaram mais pobres, com as longas
campanhas militares que forçaram os cidadãos a deixarem suas fazendas para
lutar, enquanto suas propriedades caíram em desuso. A aristocracia rural
começou a comprar fazendas falidas a preços promocionais, mas como os
preços das commodities caíram, muitos fazendeiros já não podiam mais operar
suas fazendas com lucro. O resultado foi a falência total de muitos agricultores
e massas de plebeus desempregados logo começaram a inundar Roma e,
assim, as fileiras das assembleias legislativas. As pessoas começaram a votar
em que lhe prometesse mais e com isso, uma nova cultura de dependência
estava emergindo, na qual cidadãos olhariam por qualquer líder populista por
auxílio.

Após a destruição de Cartago e o saque e destruição de Corinto, vamos


ver as instituições da República começarem a ser abaladas. Muitos diziam que
enquanto Roma tinha um inimigo externo como Cartago, Macedônia e Grécia,
deixava o governo na linha, e com a falta de um inimigo “o caminho da virtude
era abandonado em favor do caminho da corrupção”. Em 149 a.C. foi criado
em Roma um tribunal criminal permanente, com objetivo principal de oferecer
indenizações aos estrangeiros e o direito de obter reparação contra extorsões
cometidas pelos governadores romanos. Era uma forma de combater a
corrupção, o que conforme Murray Rothbard provou, é o lubrificante das
engrenagens do comércio. Pode ver que todo regime de esquerda, pode até
liberar estuprador da prisão, mas quer pena de morte para corrupto. Na China,
o maior crime que você pode cometer é de corrupção, sendo um membro do
Estado chinês, e na União Soviética o maior crime era traição e corrupção. Por
que será? A corrupção é uma falha do sistema interno do Estado, que é o que
na maioria dos países do mundo permita que a sociedade ainda funcione.
Pensa bem, o que normalmente definimos como corrupção? Senador ou
deputado qualquer desviando dinheiro “público” que ia para a educação, para
comprar roupa de grife para a esposa? Ótimo! É menos pior o cara gastar em
roupa de grife para a esposa, do que gastar para financiar uma máquina
burocrática de doutrinação de crianças e adolescentes para idolatrar o Estado.
O único parâmetro para saber se a corrupção é boa ou ruim, é se o ato é moral
ou não. Por exemplo: se um soldado nazista da SS, faz vista grossa quando ve
um judeu, e fala pra este pagar uma cerveja pra ele, e em troca ele finge que
não viu, ou até o ajuda a fugir, isto é um ato de corrupção, porque ele está
desobedecendo ordens do governo nazista, mas está fazendo algo belo e
moral.

Cícero dizia que a amizade era a harmonia entre os homens, atos de


benevolência. E o próprio dizia que todo governo é inimigo de seu povo, apesar
dele ser membro do governo. Cícero era advogado também, e ganhou dinheiro
com a profissão, enquanto era proibido por lei os advogados receberem
honorários por seus serviços. Muitos pessoas da maioria dos países do mundo
hoje, só sobrevivem graças a corrupção. O Brasil por exemplo, tem a maior
carga tributária do mundo, e a carga tributária indireta, ou seja, por meio de
regulações é uma das piores do mundo. O brasileiro médio só sobrevive por
causa da sonegação e da corrupção, porque é menos pior molhar a mão do
fiscal, do que perder tua empresa, ou perder tudo.

O casamento na sociedade romana era praticado principalmente entre


os ricos, e como uma forma de aliança política, e de produção de filhos
legítimos que herdariam a cidadania romana se ambos os pais fossem
cidadãos, ou atendessem a várias condições que regiam o “intercasamento”
entre estrangeiros. O dote que o pai da noiva oferecia era devolvido em caso
de divórcio. O papel da mulher era se dedicar ao marido, produzir a geração
seguinte, ser uma administradora do lar, contribuir para a economia doméstica.
A castidade e a fidelidade eram vistas como virtudes femininas, mas diferente
da visão cristã, a mulher romana era punida com a morte caso não fosse casta
e fiel. Mas na realidade, apesar de existir o mito de que a mulher podia ser
espancada até a morte por tomar um copo de vinho, ou que a execução de
uma esposa flagrada em adultéria era direito do marido, não existe um único
exemplo de que isso realmente tenha acontecido.

No século I a.C. começou a surgir a imagem de uma mulher liberada,


que desfrutava de uma vida livre, sexual, adúltera, sem muitas restrições
impostas pelo marido, pela família, ou pela lei. A mulher romana tinha mais
liberdade que a do mundo grego ou do Oriente próximo, e quando falamos em
liberdade, falamos de fato em liberdade, e não nas mentiras que o feminismo
prega. Após a morte de seu pai, uma mulher adulta poderia ser dona de
propriedades por direito próprio, comprar e vender, herdar, ou fazer um
testamento e libertar escravos, muitos dos direitos que só foram ter na Grã-
Bretanha em 1870. A única restrição era a necessidade de haver um guardião
nomeado (tutor) para aprovar qualquer decisão ou transação que a mulher
fizesse. Com as reformas de Augusto, as cidadãs livres que tivessem três filhos
eram libertadas da exigência de ter um guardião, e ex-escravas precisavam ter
quatro filhos. Toda mulher era obrigada a casar, a não ser que fosse uma
Virgem Vestal (sacerdotisa do politeísmo romano), que optavam ou eram
obrigadas a permanecer solteiras e fazer o voto de castidade.

Pela medicina precária da época, uma a cada cinquenta mulheres tinha


probabilidade de morrer no parto, e se fosse muito jovem a probabilidade era
ainda maior. Mas mesmo as crianças que eram paridas em segurança, se
pareciam fracos ou deficientes eram jogados fora ou abandonados em algum
depósito de lixo. As meninas eram menos desejadas pelos pais, por causa do
preço de seu dote, o que fazia com que eram mais descartadas do que os
meninos. A estimativa é que metade das crianças que não eram descartadas
morriam por volta dos 10 anos de idade, de todo tipo de doença ou infecção.
Apesar disso, se passasse dos 10 anos, poderia viver até 50 anos, ou até 65
anos, e idosos não eram tão raros assim em Roma, mesmo na população
comum. Na literatura romana, há uma imagem assustadora de que o pai
poderia aplicar punições terríveis aos filhos em caso de desobediência,
chegando ao ponto de execução, mas novamente não há indícios dessa
prática.

Em Roma, a educação era privada e feita para educar sacerdotes do


politeísmo romano, e filhos da nobreza pelos pais. Eles normalmente se
concentram em um professor ou grupo de professores renomados por sua
sabedoria. Depois que era concluida a educação familiar, os jovens eram
educados por tutores, contratados pelas famílias ricas. Essa vai ser a regra
durante todo o reino e república romana, e até algum período do Império. O
que se sabe é que no final do Império, já existia um sistema público, para
treinar funcionários públicos. Na década de 60 a.C. foi encontrado nos
“destroços do Antikythera”, o “mecanismo de Antikythera” — um intricado
dispositivo de bronze com um mecanismo de relógio, ao que parece projetado
para prever os movimentos dos planetas e outros eventos astronômicos.
Embora muito distante do primeiro computador do mundo, como ele
ocasionalmente foi apelidado, devia ter como destino a biblioteca de algum
cientista romano.
(A máquina de Anticítera (fragmento A – frente); a maior engrenagem é visível
na máquina e possui aproximadamente 140 milímetros de diâmetro)
(Reconstrução do mecanismo de Antikythera no Museu Arqueológico Nacional
de Atenas (feita por Robert J. Deroski, com base em Derek J. de Solla Price.)

Especula-se que já havia o uso de lingotes de ouro, que pelo menos


teriam exigido menos vagões, ou, o mais provável, para algum sistema de
pagamento por meio de papéis financeiros ou apólices, e portanto para um
sistema de banco e crédito relativamente sofisticado, que sustentava a
economia romana, do qual sobrevivem apenas evidências fugazes.

Em meados do século I a.C. deveria haver numa estimativa aproximada


algo em torno de 1,5 e 2 milhões de escravos na Itália, o que correspondia a
cerca de 20% da população total. Os escravos domésticos tinham condições
de vida que variam de cruéis e rígidas, a outras que beiravam o luxo. Os
ajudantes escravos de homens ricos em mansões luxuosas, de médicos
particulares ou de conselheiros literários, geralmente de origem grega, viviam
vidas confortáveis. No reinado do imperador Nero, alguém teve a brilhante ideia
de fazer os escravos usarem um uniforme específico, mas que foi descartada
porque os escravos iriam ver o quanto eles eram numerosos. Os romanos
libertavam muitos escravos não porque eram bons, mas porque quando os
escravos chegavam à velhice, ficavam improdutivos, e porque os ex-escravos
mesmo depois de libertos ainda tinham obrigações para seu senhor.

A escravidão era algo que sempre existiu no Mediterrâneo, e


considerado normal para gregos e romanos. São raros os pensadores que
eram contra essa instituição na Antiguidade, como Alcidamas de Elaia, que no
século IV dizia: “Deus criou todo mundo livre. Ninguém é feito escravo pela
natureza”. Aristóteles por exemplo, no livro “A Política” fala que:

“Mas há alguém assim destinado pela natureza a ser um


escravo e para quem tal condição é conveniente e correta, ou
melhor, nem toda escravidão é uma violação da natureza? Não
há dificuldade em responder essa questão, com base tanto na
razão quanto no fato. O fato de alguns devem governar e outros
serem governados é uma coisa não apenas necessária, mas
conveniente desde a hora de seu nascimento alguns são
marcados para a sujeição, outros para governar”. (Aristóteles,
cerca de 330 a.C.)

Para os romanos como o advogado Gaius em 161 dizia: “Escravidão é o


estado que é reconhecido pelo direito das Nações em que alguém está sujeito
ao domínio de outra pessoa contrária a natureza.”. Os romanos acreditavam
que a escravidão era contra a natureza humana, mas que era uma instituição
necessária para a civilização, visto que todas as outras sociedades à sua volta
eram escravistas. No contexto histórico do Antigo Testamento, a escravidão
era basicamente uma servidão por dívida ou de prisioneiros de guerra que
teriam sido mortos, e a servidão os salvou, como explica Gaius.

A Lei da Antiga Aliança proibia crueldade com escravos e previa sua


libertação, proibindo a escravidão propriamente ditas. Visões cristãs sobre a
Antiga Aliança é o modo como os cristãos de modo geral, nas várias confissões
/ denominações / ministérios cristãos têm acolhido, aplicado e/ou interpretado a
Aliança Mosaica ou Lei de Moisés. E em 1 Coríntios 7,23 temos: “Por alto
preço fostes comprados, não vos torneis escravos de homens”. Enquanto
pagãos como Sêneca diziam que escravos eram inferiores, a Igreja Católica
colocava escravos como papa (Pio I e Calixto I).

A escravidão romana vinha principalmente de prisioneiros de guerra, e


temos algumas estatísticas que mostram quantas pessoas eram escravizadas.
Depois da destruição de Cartago em 146 a.C., Cipião Aemiliano escravizou
60.000 cartagineses. Caio Mário escravizou 140.000 címbrios, que eram parte
de tribos germânicas, em 101 a.C. Lúcio Emílio Paulo Macedônico escravizou
150.000 gregos nas guerras contra a Macedônia e Grécia entre 180 e 160 a.C..
Pompeu e César, escravizaram juntos mais de 1.000.000 de asiáticos e
gauleses. Os traficantes de escravos eram chamados de mangonees e
acompanhavam o exército romano em suas campanhas, e compravam
prisioneiros de guerra. Escravos podiam ser vendidos em leilões em público, ou
em contrato privado.

Normalmante os escravos eram trabalhadores agrícolas que


trabalhavam nos grandes latifúndios. Mais pra frente, veremos que depois da
Segunda Guerra Púnica (218-201 a.C.) a classe de proprietários livres no
campo, foi sumindo e dando lugar a grandes latifúndios escravistas. A
sociedade romana tinha um enorme preconceito com o trabalhador assalariado
que trabalha para outra pessoa, e com isso os escravos começaram a ser
usados em qualquer profissão que você imaginar. Para os escravos que
desobedecessem, eram mandados para os ergastulum, uma prisão
subterrânea muito pequena e escura, onde eles seriam acorrentados às
paredes e morreriam trabalhando na escuridão. Essas prisões só foram
tornadas ilegais durante o reinado do imperador Adriano (117-138). Alguns
imperadores criaram leis para reduzir as oportunidades do mestre matar seus
escravos, e se o escravo ficasse muito velho, ou muito doente e desgastado,
você podia abandoná-lo, e muitos eram abandonados numa ilha no rio Tibre,
para morrer. Algumas pessoas comuns eram caridosas e atravessam o rio para
alimentar esses escravos, que continuavam a ser propriedade do senhor, e
este podia recuperá-lo. No reinado do imperador Cláudio (41-54) os
abandonados na ilha passaram a ser libertados.

Se um escravo fugisse, um cidadão comum não tinham permissão para


abrigá-lo. Se você encontrasse um escravo fugitivo, você teria que entregá-lo
às autoridades, para retorná-lo ao seu mestre. Havia caçadores de escravos
fugitivos, trabalhando como caçadores de recompensas. Os escravos também
podiam ser gladiadores, onde eles seriam propriedade do lanista. Não era
comum os gladiadores matarem uns aos outros, porque um gladiador era caro,
então se um ficasse com um ferimento simples, a luta costumava acabar, e
alguém era declarado vencedor.
(O Mercado de Escravos’ de Gustave Boulanger)

(Mercado de Escravas Sexuais, imagem meramente ilustrativa)

Pedanius Secundos por exemplo, foi prefeito da cidade de Roma em 61


a.C., e teve 400 escravos. Gaius Caecilius Isidorus, era ex-escravo e deixou
4116 escravos em seu testamento em 8 a.C.. Um escritor grego Athenaeaus
(170-230) escreveu que algumas pessoas tinham de 10 a 20 mil escravos, o
que é uma possibilidade, embora provavelmente uma raridade. Vedius Pollio,
um romano extremamente rico, na época do nascimento de Cristo, mantinha
um tanque com peixes carnívoros, e jogava os escravos que lhe desagradasse
nesse tanque. Os romanos dependiam de conquistas militares de outros povos
para reebastecer o número de escravos. Com o tempo, com a crise do terceiro
século e com o Cristianismo, o tratamento dos escravos foi ficando menos pior,
e a escravidão foi lentamente decaindo, até que na época de Justiniano (482-
565), imperador do império romano do oriente, quase não havia escravos no
império, entrando em extinção.
(Pintura de Lawrence Alma Tadema, representando um escravo romana de
uma família rica)

Muitos eram escravos sexuais, tanto mulheres quanto homens, e viviam


em bordeis, trabalhando em celas, grande o suficiente para uma cama simples.
Não havia janelas nas celas, ou seja, havia pouca iluminação, e pouco ar
circulando, o que deixava o ambiente ainda mais fedido. Sêneca (4 a.C. – 65),
que foi um filósofo estoico, que foi tutor e depois primeiro ministro do imperador
Nero, narrava como era a venda das escravas à prostituição.

Houve várias rebeliões de escravos, como as três Guerras Servis. A


razão era que depois da Segunda Guerra Púnica (218-201 a.C.), a Itália, o
norte da África e a Sicília, se tornaram grandes latifúndios escravistas. A
Primeira Guerra Servil ocorreu de 135 a 132 a.C., na Sicília, liderada por Euno,
um escravo da Síria. Ele tinha visões religiosas, e inspirou 400 escravos a se
revoltarem também. Eles pegam as autoridades romanas de surpresa, e
capturam uma cidade no interior da Sicília. Ao mesmo tempo, um homem
chamado Cleão, um escravo cilício, levanta seu próprio exército de escravos,
destroem o seu latifúndio, e invadem uma cidade no sudoeste da Sicília e
matam toda a população. Euno e Cleão juntam suas forças, e Euno é
declarado rei da Sicília tomando o nome de Antíoco, e Cleão vira seu
comandante militar. Em 134 a.C. o cônsul Publius Rupilius chega com um
exército para suprimir a revolta, e depois de dois anos de luta muito intensa,
Euno é levado vivo e preso, e morre de psiríase na prisão. Eles resistem às
legiões romanas por três anos, formando um cinturão em toda a Sicília central.
Essa revolta inspira outras em todo o Mediterrâneo, como em Delos.

Em 104 a.C., o cônsul Caio Mário estava recrutando soldados para


sua campanha contra os címbrios na Gália Cisalpina e pediu ajuda ao rei
Nicomedes III da Bitína, na Ásia Menor, que recusou o pedido, afirmando que
os publicanos romanos tinham escravizado uma quantidade enrome de seus
súditos por causa de dívidas. Então o Senado determinou a libertação dos 800
escravizados dos reinos aliados de Roma, e proibiu a escravidão nesses
reinos. Mas isso irritou os escravos oriundos de outras regiões controladas
diretamente pela República Romana, que também queriam ser libertados, e
então iniciaram uma rebelião, que ficou conhecida como a Segunda Guerra
Servil (104-100 a.C.).

A revolta foi, inicialmente liderada por Sálvio, que seguiu o exemplo


de Euno, que, trinta anos antes, liderou os rebeldes na Primeira Guerra Servil.
Sálvio adotou o nome de Trifão, referência ao imperador selêucida Dódoto
Trifão, e organizou um exército com milhares de escravos bem treinados e bem
equipados, incluindo 2000 cavaleiros e 20.000 infantes e recebeu o apoio de
um cilício chamado Atenião, que organizou uma revolta de escravos da Sicília
ocidental.

Em 103 a.C., o Senado envia o pretor Lucius Licinius Lucullus para


reprimir a rebelião com um exército de 17.000 homens, que desembarcou no
oeste da Sicília e marchou contra os rebeldes fortificados em Caltabellotta.
Essa expedição, apesar dos sucessos iniciais, foi derrotada. Em 101 a.C., foi
enviada uma nova expedição liderada pelo cônsul romano Mânio Aquílio que
conseguiu sufocar a revolta. O exército romano na ilha chegou a somar 50.000
homens para enfrentar os escravos, que chegaram a 60.000 combatentes.
Após o fim da rebelião, o Estado romano proibe os escravos de terem armas
em todo o território.
Um evento que é impossível deixar de falar, é a rebelião de escravos
comandada por Espártaco (Spartacus). Em 73 a.C. estoura a Terceira Guerra
Servil, o qual o famoso gladiador participa, e lidera uma grande rebelião de
escravos em Cápua, que chegou a ter 70.000 rebeldes além de agregados
(velhos, mulheres, crianças). Os gladiadores eram o único tipo de escravo que
ainda tinha acesso à armas depois da proibição após a Segunda Guerra Servil.
No começo da rebelião ele teve muito sucesso, ele subiu no Monte Vesúvio, e
Roma mandou um pretor Caio Cláudio Glabro, que cercou o Vesúvio. Então
Spartacus construiu cordas, desceu atrás das linhas inimigas, invadiu o
acampamento romano, e matou todo mundo que estava ali. Então Roma
começou a mandar legiões, como a de Publica e Clodianus, e Spartacus vence
essas legiões. Então Roma manda um de seus melhores generais que era
Marco Licínio Crasso com 8 legiões. Um dos comandantes das legiões de
Crasso, o Numius cometeu o erro "Crasso" de dividir as forças, e morreu.
Crasso ainda tinha 6 legiões e foi pra cima de Spartacus. Spartacus foi até a
Sicília, onde ele fez acordos com os piratas cilicianos para transportá-lo até a
Sicília, mas eles eram turcos, e não apareceram. A unica opção de Spartacus
foi voltar e enfrentar Crasso, que infelizmente ele perdeu na batalha do Rio
Silário em 71 a.C..

Spartacus e seus aliados morreram nessa batalha e seu corpo jamais foi
achado, provavelmente foi jogado em uma vala coletiva ou abandonado.
Crasso ordenou que parte dos prisioneiros fossem crucificados na Via Ápia,
estrada que ligava Roma à Cápua. Segundo Apiano, 6000 prisioneiros foram
crucificados. A fama de Spartacus e seu exército de escravos não acabou após
a sua morte. Historiadores e escritores da época escreveram sobre ele, e
muitos fizeram pichações em homengaem à ele. Depois dessa, nenhuma
grande revolta de escravos ocorreu novamente nos territórios romanos. A fama
de Spartacus foi resgatada no século XIX por pintores e escritores, que
enxergavam nele um líder rebele. O próprio Marx achava Spartacus um herói e
a maior figura de toda a Antiguidade, apesar de na realidade a figura marxista
se assemelhar muito mais à Crasso.

Alguns dizem que o número de pessoas que o exército rebelde de


Spartacus chegou é exagerado. Dizem que boa parte do exército eram parte da
população livre e cidadã da Itália, incluindo alguns ex-soldados de Sula, que se
sentiam mais à vontade em campanha militar contra seus inimigos que os
expropriaram, do que arando a terra.

(o ator Kirk Douglas interpretando Spartacus, no filme de 1960)

Após essa revolta de Spartacus, as autoridades romanas começaram a


fazer leis que humanizavam a condição dos escravos, para evitar futuras
revoltas. Mestres costumavam liberar escravos, no que eles chamavam de
Manumissio – que podia ser em cerimônias públicas, realizada na frente de um
juíz, ou na frente de famílias ou amigos. Um escravo podia ser libertado por:

 uma ação particularmente boa para com o dono do escravo, ou por


amizade ou respeito. Vemos isso no filme Ben Hur, onde o personagem
principal é libertado depois de salvar a vida de seu mestre no navio em
que estavam naufragando depois de uma batalha naval.
 às vezes, um escravo ganhava e economizava dinheiro suficiente para
comprar sua liberdade e a liberdade de um companheiro escravo,
frequentemente um cônjuge.
 escravos também poderiam ser libertados por um desejo do proprietário
no testamento após sua morte.

A libertação de escravos era comum em Roma, menos para escravos


agrícolas. Mesmo que o dono libertasse os escravos que trabalhavam nas
plantações, não iria melhorar muito a vida dele, porque ele não sabia fazer
outra coisa da vida. O Manumissio era uma prática muito difundida em Roma, e
se você tivesse outra cidadania antes de ser escravo, você adquiria cidadania
romana quando fosse libertado. Obviamente havia muitos senhores de
escravos extremamente sádicos e cruéis, mas também havia muitos que
tratavam relativamente bem os seus escravos. Uma analogia boa é pensar que
a maioria das pessoas, gosta de cães e gatos, cuida deles, ama eles, trata
como membros da família, e fica extremamente triste quando eles morrem.
Muitos senhores eram assim com seus escravos, tratando como um membro
da família, deixando-os como tutores de seus filhos, e protegendo eles quando
o senhor não estava, e ficavam tristes quando eles morriam. Mas obviamente o
escravo não podia sair da casa do senhor enquanto não fosse libertado, assim
como não deixamos nossos cães e gatos, ou outros animais de estimação,
fugir de casa. Numa carta de Plínio, o Jovem (61-114) ele fala:

“Estou muito chateado com a doença entre meus


escravos, alguns deles já morreram, incluindo homens ainda
mais jovens. Em casos como este, encontro conforto em dois
pensamentos, estou sempre pronto para dar liberdade aos meus
escravos para não achar a morte deles tão prematura se
morrerem homens livres, também permito que meus escravos
façam um testamento que considero juridicamente vinculativo.”

Em 133 a.C. Tibério Graco foi eleito tribuno e tentou aprovar uma lei que
limitaria a quantidade de terra que qualquer indivíduo poderia possuir, ou seja,
queria uma reforma agrária. Já tinha uma lei que era a lei Licínia de 367 a.C.,
que limitava os cidadãos romanos a possuirem menos que 330 acres de terra,
mas com a Segunda Guerra Púnica, os latifúndios formados ignoraram isso.
Vale lembrar que a destruição da classe dos pequenos proprietários de terra,
para dar lugar a grandes latifúndios escravistas, fez também com que
houvesse uma crise no exército romano, já que só podia servir no exército
quem tivesse uma certa quantidade de terra.

Os aristocratas, que estavam a perder uma grande quantia em dinheiro,


foram obviamente opositores ferrenhos a esta proposta. Tibério apresentou
esta lei a assembleia popular, mas a lei foi vetada por um tribuno
chamado Marco Otávio, e então Tibério usou a assembleia popular para
contestar Otávio. A ideia que um representante do povo deixaria de sê-lo
quando agisse contra os desejos do povo era contra a teoria constitucional
romana. Se levada à sua conclusão lógica, esta teoria removeria todas as
restrições constitucionais sobre a vontade popular, e colocaria o Estado sob o
controle absoluto de uma temporária maioria popular. Sua lei foi promulgada,
mas Tibério foi assassinado com 300 de seus associados, quando pôs-se à
reeleição para o tribunato. Estima-se que 75.000 famílias receberam terras
totalmente grátis devido a essa legislação. Esse foi um programa
governamental que forneceu, “gratuitamente”, terra, moradia e até mesmo
oportunidades de negócio, tudo financiado ou pelos pagadores de impostos ou
pela pilhagem de nações recém-conquistadas. Entretanto, tão logo foi
permitido, muitos colonos ingratos venderam suas terras e retornaram à
cidade.

Além disso, ele também tinha proposto reduzir o tempo de serviço militar
de 17 anos até 46 anos, e de dar o direito das pessoas de recorrerem aos
vereditos do júri nos tribunais, e adiciona aos senadores servindo nos júris, um
número igual de cavaleiros. Muitas pessoas ficaram com muito medo de que
ele liderasse uma revolução, como as que estavam acontecendo nas cidades-
estado gregas, onde demagogos os líderes do povo, e derrubam a ordem
estabelecida. A morte de Tibério Graco e seus apoiadores foi o primeiro
derramamento de sangue civil na história da República, e criou um terrível
precedente: “se essas pessoas venceram outras por meio da violência, por que
eu também não posso?”. O banho de sangue que foi o século I a.C. no mundo
romano, começa com esse precedente. A comissão de terras é financiada e é
permitido colocar em prática as partes menos radicais da proposta de Tibério,
mas de forma bem lenta.

Tibério também aprovou o primeiro programa de alimentação subsidiada


de Roma, o qual oferecia cereais a preços baixos para muitos cidadãos.
Inicialmente, aqueles romanos que ainda se apegavam a ideais como auto-
suficiência e independência ficaram estarrecidos com esse conceito de
assistencialismo compulsório; no entanto, não demorou muito para que
dezenas de milhares estivessem recebendo os cereais subsidiados, e não
somente os necessitados. Qualquer cidadão romano que ficasse nas filas do
posto de coleta de cereais tinha o direito à assistência estatal. Um cônsul rico
chamado Lúcio Calpúrnio Pisão Frugi, que se opunha a esse programa, foi
visto na fila. Ele alegou que, dado que era a sua riqueza que estava
compulsoriamente financiando aquilo tudo, então ele pretendia obter sua fatia.

Por volta de 300 d.C., esse programa já havia sido modificado diversas
vezes. O cereal que até então era apenas subsidiado passou a ser totalmente
“gratuito”; e, no auge, um terço de Roma já era contemplado pelo programa, o
qual se tornou um privilégio hereditário, passado de pai para filho. Outros
gêneros alimentícios, incluindo azeite de oliva, carne de porco e sal, foram
continuamente adicionados ao programa, que cresceu até se tornar o segundo
maior gasto do orçamento imperial, atrás somente dos gastos militares.  E
como sempre a fala do Milton Friedman sempre está correta: “Não há nada
mais permanente do que um programa temporário do governo”.

O irmão de Tibério, Caio Graco, foi eleito tribuno em 123 a.C., e queria
enfraquecer o Senado e fortalecer as forças democráticas. Caio proibiu as
comissões judiciais, e declarou o senatus consultum ultimum como
inconstitucional, que eram duas ferramentas que permetiam o senado eliminar
rivais políticos. Esta última proposta não foi popular com os plebeus e ele
perdeu muito de seu apoio. Ele queria proteger os cidadãos do banimentos
pelos magistrados sem um julgamento, dividir terras pública entre o povo,
suprir os soldados com roupas às custas do Estado, garantir cidadania a todos
os aliados italiotas, fundar colônias em Tarento e em Cápua, e em Cartago,
onde os pobres seriam assentados em uma nova cidade, construir estradas e
prover grãos a baixo preço para os pobres. As três mais impopulares era o
subsídio estatal à agricultura para fornecer graõs a baixo custo aos pobres, o
de fornecer cidadania a todos os aliados da Itália, e o de dividir terras públicas
entre o povo. Todas essas leis são passadas pela Assembleia, exceto a da
cidadania para os italiotas. Além disso, Caio Graco tentava também policiar as
atividades dos senadores. Segundo as regulamentações, eram apenas os
senadores e seus filhos que podiam ser processados pela lei. E os júris que os
julgavam deviam ser compostos exclusiva e especificamente por uma classe
dos que não eram senadores, das fileiras dos “equestres” ou “cavaleiros”
(equites) romanos. Os equites estavam no topo da hierarquia romana de
riqueza, detentores de substanciais propriedades, o que os colocava à parte da
grande maioria dos cidadãos comuns, e com frequência tinham íntimas
ligações com senadores. Eram muitos milhares por volta do final do século II
a.C., em comparação com algumas poucas centenas de senadores. Pra ficar
mais claro, os equites eram os empresários corporativistas da época, que
faziam aliança com o Estado romano, para esmagar a concorrência, e lhes
garantir imenso poder.

Graças a outra lei de Caio, alguns equestres estavam envolvidos em


negócios potencialmente lucrativos de taxação provincial. Foi Caio quem
primeiro dispôs que a coleta de impostos na nova província da Ásia deveria,
como muitas outras responsabilidades do Estado, ser contratada com
empresas privadas, frequentemente de propriedade dos equestres. Esses
provedores eram conhecidos como publicani — “provedores de serviços
públicos” ou “publicanos”, como os coletores de impostos são chamados nas
antigas traduções do Novo Testamento, o que confunde os leitores modernos.
Eram realizados em Roma leilões periódicos de direitos específicos de taxação
em províncias individuais, onde a empresa que desse o melhor lance passava
a recolher os impostos, e tudo aquilo que conseguisse arrecadar além da
coleta era considerado seu lucro. Colocado em outros termos, quanto mais os
publicani fossem capazes de arrochar os provinciais, maior o seu ganho — e
eles não eram passíveis de processo sob a lei de reparação de Caio. Estava
consolidado então o corporativismo romano, que só vai piorar nos próximos
séculos, e que vai influenciar dois séculos mais tarde, Benito Mussolini e seu
fascismo, o qual queria recriar o Império Romano.

Caio candidatou-se a um terceiro mandato em 121 a.C., mas foi


derrotado e então morto por representantes do senado com 3000 de seus
partidários no monte Capitolino, em Roma. O comandate foi o cônsul Lúcio
Opímio cancelou a maior parte de sua legislação. Depois da morte de Caio,
vão surgir duas facções políticas em Roma, os populares, que queriam
extender suas reformas, e os optimates, que queriam manter os privilégios das
classes possuidoras. Mas isso é muito longe de ser uma disputa entre bons e
maus, ricos e pobres, porque havia ricos e pobres nos dois partidos, e os
interesses de cada pessoa eram bem diferentes.

A lei de Caio de 123 a.C. permitia que todos os cidadãos romanos


comprassem cerca de 73 libras de grãos todo mês, a um preço abaixo do preço
de mercado. Esse grão era importado como tributo da Sicília e do Norte da
África, e depois do Egito. Na primeira instância, cerca de 40.000 adultos são
elegíveis para receber o grão, e depois de 62 e 58 a.C. esse número vai
aumentar. E o número de pessoas recebendo grãos subsidiados sobe para
aproximadamente 320.000, até ser reduzido para 150.000 por Júlio César, e
fixada em 200.000 por Augusto. Esse subsídio não foi abolido até 614, já no
Império Bizantino.

Acho que uma boa comparação é colocar os irmãos Graco como


socialistas da época que queriam reformas radicais que não funcinonariam, e a
aristocracia sentorial, os optimates, o Estado como os fascistas, que querem
manter a dominação dos grandes latifundiários escravistas. Os irmãos Graco
estavam certos em criticar o establishment romano da época, mas o que eles
propunham não iria resolver a situação, porque é só mais uma medida
populista que a médio e longo prazo iria piorar a situação.

Segundo Décimo Júnio Juvenal (55 d.C. – século II), um poeta e


retórico romano do século I e II, autor das Sátiras, o povo romano não se
importava com mais nada a não ser corridas de bigas, e distribuição de pão,
com as quais os imperadores os haviam subornado, e assim despolitizado.
(Cenotaph of the Gracchi, 1853 (bronze), Guillaume, Eugene (1822-1905))

Em 133 a.C. Eumenes III se torna rei de Pérgamo, e sua revolta é


derrotada pelos romanos em 129 a.C. Em 125 a.C. o povo de Fregellae tentou
se separar de Roma, mas foram esmagados sob o comando do mesmo
general Opímio que tinha matado Caio Graco. Em 121 a.C. estoura uma guerra
entre arvenos e alóbrogres, contra Roma, mas são derrotados facilmente por
Roma, um ano depois. Em 118 a.C. ocorre a Segunda Guerra Romano-
Dálmata e acaba em 117 a.C. com a vitória romana. Em 115 a.C. ocorre uma
revolta Celtibérica.

Em 118 a.C. o rei Micipsa morre e a Numídia é dividida entre seus três
filhos: Jugurtha, Adherbal, e Hiempsal. Jugurtha mata Hiempsal, e se vira para
Adherbal que foge para Roma e pede ajuda ao Senado, já que a Numídia era
aliada de Roma e um rico território agrícola. Jugurtha tinha subornado
senadores o suficiente para ficar ao seu lado, e então a Numídia é dividida
entre os ele e Adherbal. Então Jugurtha ataca Cirta, onde seu irmão estava, e
era uma cidade cheia de mercantes italinanos e cidadãos romanos. Adherbal
decide que ele vai abrir os portões e deixar Jugurtha entrar, porque agora o
Senado escolherá entre os vários requerentes. Mas Jugurtha mal entra na
cidade, e seu irmão Adherbal estava sendo torturado até a morte, e então ele
ordena um massacre de toda a população adulta da cidade, que inclui milhares
de cidadãos romanos e italianos. Em 112 a.C. começa a guerra contra a
Numídia, contra o rei Jugurtha, que subornava soldados romanos para ficarem
do seu lado em 111 a.C.. O Senado manda o cônsul Lucius Calpurnius Bestia
para destruir Jugurtha, mas foi subornado por ele, e a guerra não vai a lugar
algum. Jugurtha é então chamado para testemunhar em Roma, mas ele
suborna o tribuno para bloquear seu testemunho. Então um rival de Jugurtha,
pretendente do trono da Numídia, é morto em Roma. Em 110 a.C. o rei
Jugurtha derrota alguns exércitos romanos e suborna outros. Em 109 a.C. tem
uma batalha inconclusiva entre Numídia e Roma, a batalha de Muthul.

Em 108 a.C. Caio Mário toma o poder, e faz as suas reformas no


exército. Basicamente o exército antes das reformas marianas, era formado por
legiões que os ricos tinham. O alistamento era totalmente voluntário, e quem
tinha legiões eram as famílias ricas de Roma. Os plebeus ou pequenos
proprietários se alistavam voluntariamente e depois que acabava o conflito,
eles dispersavam e iam fazer outras coisas, cuidar da sua vida normal. Caio
Mário fez o alistamento ser obrigatório, e o exército permanente e sustentado
por impostos. Essas reformas foram feitas porque como já foi falado, havia uma
escassez de recrutas, por causa da destruição gradual da classe de pequenos
propreitários livres. Ele acaba com a necessidade de ter alguma propriedade
para servir no exército, e consegue juntar um exército permanente de mais de
100.000 homens. Durante 500 anos, Roma conseguiu se defender muito bem
com essas milícias de pequenos proprietários, até a Segunda Guerra Púnica.
Esse passo dado por Caio Mário é muito importante, porque agora existe um
exército que pode ser usado para movimentos hostis contra a República
Romana. Mário então volta para a África, e termina a guerra em dois anos.
Jugurtha é capturado e é levado à Roma para marchar acorrentado nas ruas.
Caio Mário teve apoio do partido dos populares, que era a facção de
senadores romanos progressistas. O outro partido era o do optimates, com os
senadores conservadores. Os Populares defendiam uma maior intervenção das
assembleias populares no governo da República Romana e a perda gradual do
poder absoluto do senado romano. As suas ideias políticas incluíam a
atribuição de cidadania romana a todos os povos que viviam sob domínio
romano e reformas agrárias com vista a pôr fim aos latifúndios pouco
produtivos. Fizeram parte desse partido, Caio Mário, Lúcio Cornélio Cina, os
irmãos Graco, Públio Clódio Pulcro e Júlio César, futuro ditador. Já os
optimates queriam a limitação das assembleias populares romanas e o
regresso ao poder incontestado do senado romano. Eram fundamentalmente
contra a cedência da cidadania romana às populações das recém-
adquiridas províncias romanas, incluindo os povos que habitavam a própria
Itália, como os Samnitas por exemplo. Fizeram parte deste partido, Sula,
Cícero e Pompeu.

Em 104 a.C. Mário é reeleito cônsul in absentia, um processo irregular


mas para eles era necessário para conter as invasões címbrias no norte. Em
115 a.C. os címbrios começam a migração da Jutulândia (atual Dinamarca)
para o sul. Os címbrios foram os primeiros germânicos a cruzarem o Reno e à
invadirem o território romano, e podemos dizer que eles são ancestrais do
inglês moderno. Eles marcham, saqueiam e queimam cidades, basicamente o
que os povos bárbaros fazem. No mesmo ano, a cidade de Narbonne, é
fundada no sul da França. Em 113 a.C. começa a Guerra Címbria, com os
romanos sendo pesadamente derrotados pelos címbrios na batalha de Noreia.
Em 107 a.C. os romanos são derrotados na batalha de Burdigala pelos
Címbrios. Em 105 a.C. os romanos são pesadamente derrotados pelos
Címbrios na batalha de Aráusio. Em 104 a.C. os Címbrios tomam parte do
território romano no norte da Espanha e Portugal. Em 102 a.C. os Címbrios
dividem suas tropas em dois, e uma parte ataca a Gália e perde para os
romanos na batalha de Águas Sêxtias. Em 101 a.C. a outra parte das tropas
dos Címbrios atacam o norte da Itália e são derrotados de uma vez por todas
na batalha de Vercelas.
(mapa da migração címbria)

Em 106 a.C. Lúcio Cornelius Sula toma o comando. Em 104 a.C. estoura
a Segunda Guerra Servil, outra rebelião de escravos na Sicília, e dura até 100
a.C. quando é reprimida. Em 96 a.C. o rei de Cirene (atual norte da Líbia e
Egito) cede seu reino à Sula. Em 91 a.C. Caio Mário retorna à proeminência
política, depois de sair em 99 a.C.. Sula e Mário vão ser os líderes dos dois
partidos rivais em Roma, sendo Sula líder dos Optimates, Mário líder dos
Populares. Em 91 a.C. Marsi, Picentes, Samnitas, Hirpinos, e Sabinos,
declaram sua independência da República Romana, formando a Itália. Isso
marcou o início da Guerra Social, que seria violentíssima. Em 89 a.C. Roma
derrota Itália na batalha de Ascalum, mas com pesadas perdas e considerável
pânico gerado na população. Roma decidiu fornecer cidadania plena àqueles
italianos que não haviam pegado em armas contra Roma, ou que estavam
dispostos a combater os separatistas da Itália. Isso foi importante porque a
maior parte da população da península itálica agora tinha cidadania plena, e a
Itália era agora o mais próximo do que conhecemos como Estado-Nação, e o
princípio de que os “romanos” poderiam ter dupla cidadania e duas identidades
cívicas, a de Roma e de sua cidade natal, virou norma. O norte da Itália era
habitado pelos gauleses, que receberam a cidadania romana em 42 a.C., após
ser aplicado um decreto de Júlio César, após sua morte.

Em 89 a.C., estoura a guerra Mitridática entre Roma e o reino do Ponto


(região do leste da Turquia, Geórgia e Crimeia), onde o rei Mitridates chegou a
oferecer a liberação de qualquer escravo romano que assassinasse o senhor.
A ambição de Mitridates era tornar o reino do Ponto a maior potência da Ásia
Ocidental, e dominar o mar Egeu e o Mediterrâneo Oriental. Suas motivações
são potencializadas pelo fato de que os romanos estavam sendo cada vez
mais predatórios na Turquia e na Grécia. Em 88 a.C. Mitridates faz um
massacre de romanos e italianos na Turquia, onde 80.000 morreram, com
alguns dos homens morrendo tendo ouro derretido derramados goela abaixo,
no melhor estilo Khal Drogo matando Viserys em Game of Thrones. A ideia de
Mitridates era vincular todo o mundo grego a um crime comum contra os
romanos, um crime que não pode ser varrido para debaixo do tapete, e que
forçará os gregos a lutarem por sua independência ou a serem punidos
pesadamente pelos romanos. E com isso, várias cidades-estado gregas
declararam apoio a Mitridates, como Atenas, Tebas e Corinto.

Em 88 a.C. Sula se rebela contra o Senado e marcha em direção à


Roma. É a primeira vez que um general romano volta seu exército contra
Roma, contra a República. Em 87 a.C. Sula conquista Roma e toma comando
da campanha do leste, e Caio Mário foge para a África, na região da antiga
Cartago. Sula desembarca na Grécia, faz um cerco em Atenas. E no mesmo
ano, Caio Mário faz uma rebelião e toma Roma, mas morre em janeiro de 86
a.C.. Em 86 a.C. Sula derrota o reino do Ponto na Batalha de Queroneia e
saqueia Atenas, e todas as outras cidades gregas mudam para o lado de Sula,
que perdoa sua revolta e elas não são atacadas. No ano seguinte, derrota o
reino do Ponto novamente na Batalha de Orcômeno Em 83 a.C. Sula
desembarca em Brindisi, sul da Itália. A Segunda Guerra Mitridática estoura e
consiste basicamente de saques romanos. Sula derrota a facção de Mário na
batalha de Monte Tifafa, e a Sardenha se junta à Sula. Espanha também se
junta à ele, e Marco Licínio Crasso se torna proeminente na política romana,
inclusive se aliando a Sula. Em 82 a.C. Sula vence as tropas de Mário na
batalha de Sacriporto e conquista Roma. A Numídia se junta à rebelião de
Mário. Sula vence mais uma vez as tropas de Mário na batalha de Colline
Gates, que resulta em 50.000 mortes. Romanos são derrotados na batalha de
Halís, e com isso termina a segunda guerra Mitridática. Em 81 a.C. Cneu
Pompeu Magno se torna uma figura política proeminente.

Sula se torna ditador vitalício no mesmo ano, e termina a sua guerra


civil. Em sua ditadura, ele retirou todos os poderes legislativos às assembleias
populares e solidificou o poder senatorial. Sula presidiu um reino de terror e o
primeiro expurgo organizado de inimigos políticos da história romana, tanto que
muitos comparam ele com Josef Stalin. Ele lançava listas friamente
burocráticas daqueles que seriam exterminados, e seu sadismo era enorme.
Em 88 a.C. declarou seus rivais na cidade como hostes, a primeira vez que
temos notícia de se utilizar esse termo publicamente. Sula foi o primeiro ditador
no sentido moderno do termo. Ele cancelou o programa de ração de trigo
subsidiada de Caio Graco, além de dobrar o tamanho do Senado para 600
membros, e mudou o método futuro de recrutamento de modo a assegurar que
seu novo porte fosse mantido. A partir de agora, qualquer um que tivesse um
cargo menor de questor, podia entrar no Senado, e o número de questores
subiu de oito pra vinte. Além disso, ele impediu que qualquer cargo pudesse
ser exercido duas vezes no prazo de dez anos, e reduziu drasticamente os
poderes dos tribunos, aumentados pelos irmãos Graco. Depois de Sula, a
República se torna um zumbi político, onde qualquer um pode se tornar ditador
e resolver as coisas simplesmente matando qualquer um que estiver na sua
frente.

Ele decretou que até 10% das dívidas de cada cidadão deveriam ser
canceladas, o que colocou os credores em uma posição difícil. Ele também
restaurou e reforçou a lei que decretava que uma taxa máxima de juros sobre
empréstimos, provavelmente similar à lei de 357 a.C. A crise foi piorando
continuamente, e, para tentar resolver a situação, em 86 a.C., outra lei que
cancelava nada menos que 75% das dívidas privadas foi aprovada — sob o
consulado de Lúcio Cornélio Cina e Caio Mário.
Uma das pessoas que ficou ao lado de Sula foi Júlio César, quando
tinha apenas 16 anos. Uma de suas tias era casada com Mário, o que torna
César e Mário parentes por casamento, e César é casado com a filha de Cina,
um dos colegas de Mário. Quando Júlio César tinha 16 anos, Sula ordena que
ele se divorcie da sua esposa, e César obviamente se recusa. E ainda, César
estava na lista dos preescritos que seriam mortos por Sula, e então ele foge de
Roma, se refugiando em um dos pântanas fora de Roma. Ele acaba sendo
capturado pelos homens de Sula, e será condenado à morte. No entanto, seus
vários parentes e amigos, que também são bem conectados com Sula,
imploram pela vida de César. Sula concorda em poupar Júlio César, mas não
entende porque estavam implorando pela vida deste homem, e que não vê nele
nenhum Caio Mário, mas muitos Mários, e que seria melhor acabar com ele
agora, enquanto ainda tem apenas 16 anos.

Em 80 a.C. general Sertório se rebela contra Roma na Hispânia. Sula


abdica do posto, e morre dois anos depois de uma doença muito desagradável.
Em 79 a.C. a rebelião Sertoriana se alastra para toda a Espanha. Em 78 a.C.
general Lépido se revolta contra a República Romana no norte da Itália, mas é
derrotado no mesmo ano. Em 78 a.C. estoura a Terceira Guerra Dalmáta, que
termina dois anos depois Em 77 a.C. a guerrilha de Sertório está a todo vapor,
e Roma tentando combater. Em 75 a.C. Júlio César é capturado por piratas,
perto das províncias asiáticas, e os piratas queriam 20 talentos de prata por
seu resgate. César cai nas risadas e diz que ele valia pelo menos 50 talentos, e
enquanto seus amigos estavam levantando o dinheiro em Roma, César passou
38 dias com os piratas, e é liberado quando seus amigos pagam. Então ele vai
para a Ásia, cria uma força militar e naval e persegue esses piratas, encontra-
os, e recupera os 50 talentos de prata, e muito mais ouro e prata que eles
tinham. Depois ele vai até a prisão, extrai os piratas, e os crucifixa. Com esse
relato, podemos ter ideia de quem era César.

Em 74 a.C. a Bitínia é deixada para Roma por seu último governante.


Estoura a Terceira Guerra Mitridática, e o reino do Ponto derrota Roma na
batalha naval da Chalcedônia. Em 73 a.C. os romanos derrotam o reino do
Ponto na batalha de Cízico, e em 72 a.C. derrotam novamente na batalha de
Cabira. Em 72 a.C. Sertório é assassinado e sua rebelião acaba. Em 70 a.C. os
romanos invadem a ilha de Creta. Em 69 a.C. tem a guerra entre romanos e a
Armênia, onde os romanos vencem a batalha de Tigranocerta. No ano
seguinte, os romanos vencem a batalha de Artaxata, e no mesmo ano os
selêucidas se libertam da Armênia no atual território da Síria. Em 68 a.C. o
reino do Ponto derrota Roma na batalha de Zela.

A pirataria era um grande problema no último século da República


Romana. Eles saqueavam cidades, cobravam taxas dos locais, e
sequestravam pessoas importantes, pedindo por resgate. Muitos deles
operavam com a ajuda de administradores romanos que eram corruptos. Em
68 a.C., os piratas saqueiam o porto de Óstia, capturam dois pretores e seus
lictores, e a filha de um cônsul. Esse saque fez com que os preços dos
alimentos aumentasse em Roma a partir de 67 a.C., porque os armadores se
recusam a tomar riscos, e se retiram da rota de comércio do Mediterrâneo.
Agora Roma depende de carregamentos de milho da Sicília e do Norte da
África, e a fome começa a surgir. Quando surge fome, a população começa a
se rebelar, como diria Napoleão: “O país está à três refeições de uma
Revolução”. Então as autoridades romanas tem que fazer alguma coisa, e
Pompeu recebe 500 navios de guerra, 120.000 de infantaria, 5000 de cavalaria,
e total poder na esfera de operações militares, na esfera de 50 milhas para o
interior. Ele agora tinha toda a autoridade no Mediterrâneo Oriental, e Pompeu
limpa o mar de piratas em três meses. A pirataria no Mediterrâneo só vai voltar
a dar problema em 430, quando os vândalos tomam Cartago. Depois de acabar
com esse problema, Pompeu vira seus esforços para destruir Mitridates.

A partir da década de 70 a.C. o rudimentar Império da obediência havia


se transformado em um Império de anexação. Se antes, as regiões
conquistadas por Roma, tinham apenas algumas responsabilidades como a de
fornecer soldados, agora estavam sob controle direto de Roma, como uma
província. Antes disso, os habitantes locais que foram conquistados,
mantinham seu próprio calendário, cunhagem de moedas, deuses, sistemas
jurídicos e governo civil.

Em 66 a.C. Marco Túlio Cícero vira uma figura política proeminente, e a


partir desse ponto, começamos a ter fontes históricas muito bem
documentadas, o que facilita nosso entendimento. No mesmo ano os Partos se
alia com Roma, e ataca a Armênia. A Armênia faz um acordo de paz com
Roma e os Partos, e se tornam vassalos de Roma. No mesmo ano, romanos
vencem o reino do Ponto na batalha de Licus. Em 65 a.C. Pompeu faz uma
campanha militar na Geórgia e tem uma rebelião no reino de Bósforo (atual
Crimeia). Em 64 a.C. o reino Selêucida se torna um estado cliente de Roma.

Depois que Sula morreu, Crasso e Pompeu encontraram os populares


atacando ferozmente a Constituição de Sula. Na condição de desmantelarem
os componentes mais abomináveis da constituição, ambos foram eleitos
cônsules em 70 a.C.. Em 66 a.C., um movimento para usar meios
constitucionais, ou ao menos pacíficos, para resolver a situação de várias
classes começou. Após vários fracassos, os líderes do movimento decidiram
usar todos os meios que fossem necessários para realizar os objetivos deles. O
movimento se uniu sob um aristocrata chamado Lúcio Sérgio Catilina. O
movimento estava baseado na cidade de Fésulas, que foi um viveiro natural de
agitação agrária. Os descontentes do campo estavam para avançar sobre
Roma, e serem auxiliados por um levante dentro da cidade. Após assassinar os
cônsules e muitos dos senadores, Catilina seria livre para aprovar suas
reformas. A conspiração foi colocada em movimento em 63 a.C.

 O cônsul do ano, Cícero, interceptou mensagens que Catilina havia


enviado numa tentativa de recrutar mais membros. Como resultado, os
principais conspiradores em Roma (incluindo ao menos um cônsul anterior)
foram executados por autorização (de constitucionalidade duvidosa) do
senado, e o levante planejado foi interrompido. Cícero então enviou um
exército, que cortou as forças de Catilina em pedaços. Após a conspiração de
Catilina, os populares perderam totalmente o crédito, e a figura do Senado foi
reconquistando o respeito. Cícero foi responsável por desmantelar a Segunda
Conspiração de Catilina, executando sumariamente seus líderes, uma decisão
que resultaria em seu exílio anos depois.

Catilina tinha prometido o cancelamento total das dívidas. No entanto, de


alguma forma, ele foi derrotado, provavelmente pela oposição formada por
banqueiros e por cidadãos romanos que já haviam quitado suas dívidas.
("Cícero denuncia Catilina". 1889. Afresco de Cesare Maccari no Palazzo
Madama, em Roma.)

Parece que Catilina queria implementar medidas populistas, como o


cancelamento de dívidas, uma proibição dos ricos obterem receita, restaurarar
as propriedades confiscadas por Sula, e uma redistribuição de terras na Itália.

A ideia de Cícero era que os optimates deviam continuar no poder, mas


que devem mudar seu comportamento, tendo muito mais decência, e com isso
o povo vai ficar quieto e não se revoltar. Em 70 a.C. ele processa Caio Verres,
um governador corrupto da Sicília, e graças a isso, a atenção se volta para um
tratamento mais humano com os provincianos, e este é um dos motivos para o
corte de impostos feito no leste mais tarde por César e Pompeu.

Em 63 a.C. Caio Júlio César se torna uma figura política proeminente.


No mesmo ano tem fiz as guerra Mitráticas e o reino do Ponto se torna um
estado cliente de Roma. E ainda no mesmo ano, o estado cliente selêucida se
torna província romana de vez. Em 63 a.C. Pompeu se envolve em uma guerra
civil judaica, onde dois líderes disputavam a Judéia. O estado cliente da Judéia
é criado, e em 63 a.C. temos a batalha de Pistoria. Em 62 a.C., Pompeu
retornou vitorioso da Ásia, mas o senado, eufórico por seus sucessos contra
Catilina, recusou-se a ratificar os acordos que ele havia feito. Assim,
quando Júlio César retornou de seu governo na Hispânia em 61 a.C., ele achou
fácil fazer chegar a um entendimento. César e Pompeu, junto com Crasso,
estabeleceram um acordo privado, agora conhecido como Primeiro Triunvirato.
Sob o acordo, os arranjos de Pompeu seriam ratificados, e César foi eleito
cônsul em 59 a.C..

Em 63 a.C. havia uma espécie de crise de crédito em Roma, e Cícero


teve que barrar uma proposta de distribuição de terras na Itália, para alguns
pobres da cidade. No final da década de 60 a.C. o número de moedas
cunhadas havia caído tanto, que ao todo havia menos moedas em circulação
do que alguns anos antes. Provavelmente essa política de austeridade
monetária foi adotada para conter a crise que tinha começado com as políticas
populistas dos irmãos Graco. No último século da República, as condições de
vida eram precárias para boa parte da população, e havia fome crônica.
Pompeu e César sabiam que a parte oriental da República, só seria controlada
se os impostos fossem reformados e reduzidos. O estado romano coletava os
impostos antecipadamente de uma empresa de homens ricos, eles pagam os
impostos de uma província pelos próximos três ou cinco anos, e extraem o
dinheiro mais os juros que acham que são devidos. Era esse sistema que
levava a instabilidade crônica nas províncias do leste, e com isso César e
Pompeu reduzem os impostos em um terço, mas depois disso os fazendeiros
fiscais estão fora do bolso, porque já adiantaram o dinheiro para o Estado.
Então César recebe uma conta complexa da Assembleia, que alivia os
publicani, onde estão todos os amigos de Crasso.

Com César como cônsul, chamou seu colega no cargo, Marco Calpúrnio


Bíbulo, que era um aristocrata extremo. César submeteu as leis que ele tinha
prometido a Pompeu para as assembleias. Bíbulo tentou obstruir a
promulgação destas leis, e assim César usou meios violentos para assegurar a
promulgação. César facilitou a eleição do antigo patrício Públio Clódio
Pulcro para o tribunato em 58 a.C. Clódio começou a privar os inimigos
senatoriais de César dos dois líderes mais obstinados deles, Catão, o Jovem e
Cícero. Clódio foi um opositor de Cícero, pois o último tinha testemunhado
contra ele em um caso de sacrilégio. Clódio tentou Cícero a executar cidadãos
sem julgamento durante a conspiração de Catilina, resultando em um exílio
auto-imposto de Cícero e o incendiamento de sua casa em Roma. Clódio
aprovou uma lei que forçou Catão a liderar uma invasão do Chipre que
manteria-o fora de Roma por alguns anos. Clódio também aprovou uma lei
para expandir o subsídio parcial de grãos aos cidadãos para uma distribuição
totalmente livre e “gratuita”.

Clódio formou grupos armados que aterrorizaram a cidade e


posteriormente começaram a atacar os seguidores de Pompeu, que em
resposta fundou grupos de contra-ataque liderados por Tito Ânio Papiano
Milão. A aliança política do triunvirato estava desmoronando. Domício
Enobarbo correu para o consulado em 55 a.C., prometendo tomar o comando
de César. Posteriormente, o triunvirato foi renovado em Luca. A Pompeu e
Crasso foi prometido o consulado de 55 a.C., e o mandato de César como
governador foi estendido por cinco anos. Crasso liderou uma expedição
malfadada com legiões lideradas por seu filho, o tenente de César, contra
o Império Parta. Isto resultou em sua derrota e morte na batalha de Carras.
Finalmente, a esposa de Pompeu, Júlia, que foi filha de César, morreu no
parto. Este evento cortou o último laço remanescente entre Pompeu e César.

Em 58 a.C. os romanos conquistam o Chipre. No mesmo ano temos a


migração dos Helvéticos para dentro de Roma, e Júlio César começa suas
conqusitas na Gália. Os helvéticos eram uma das tribos gálicas que viviam
onde hoje é a Suiça, e achavam que seu território era insuficiente para sua
população. Então eles queriam ir para a área da Gália céltica, e a melhor
maneira de fazer isso era passar pela província romana de Provença, por
razões geográficas. Eles mandam uma mensagem pedindo permissão a César
para cruzar seus territórios, e César nega, e os helvéticos passam mesmo
assim e César declara guerra. Os Helvéticos são derrotados por César, na
batalha de Bibracte, e os suevos também na batalha de Vosges. O que
realmente começou como uma guerra de defesa, passou a ser uma conquista
de toda a Gália, que compreende ao território atual da França, Bélgica e um
pedaço da Holanda. Pelo mapa abaixo, podemos ver onde ocorreram as três
principais guerra na Gália, onde na primeira César toma a área verde, na
segunda conquista a área azul, e uma terceira guerra onde ele esmaga uma
rebelião em toda a Gália.

Os Éduos se tornam um protetorado. A Sequânia se submete à Roma, e


Língones, Leuci, Pictões, se tornam protetorados. Em 57 a.C. César derrota os
belgas na batalha de Sabis, e da fim à Confederação Belga. Nérvios, Eburões,
são subjulgados por César. Em 56 a.C. temos guerras de invasão com os
Vénetos, Venelii, Carnutes, Turones, Andes. Aquitanos, Santões, são
conquistados. Nantuates, Veragri, Seduani, são derrotados. Morinos, Menoppi,
são subjulgados. Em 55 a.C. começa a invasão da Gália, e César faz sua
primeira campanha na Britânia. No ano seguinte faz a segunda. Em 54 a.C.
Nérvios, Eburões, e Menoppi, se rebelam contra César. Em 53 a.C. Crasso é
morto na batalha de Carras, e sua cabeça é enviada como um troféu. Armênia
troca de lado. Treveri sao subjulgados. Em 52 a.C. temos uma grande rebelião
na Gália, onde César é derrotado na batalha de Gergovia, e os gauleses na
batalha de Alesia. Éduos e Helvéticos se rendem, e em 51 a.C. os Pictões
também. E tem o Cerco de Uxeloduno no mesmo ano, onde a Gália é
finalmente conquistada. No próprio livro de César, ele fala que matou 1 milhão
de gauleses, mas esse número é provavelmente exagerado, e ele deve ter
matada cerca de 100 mil, porque a população da Gália não era tão grande
assim. Ainda assim, é um genocídio, e César cometeu atrocidades e
massacres, incluindo de mulheres e crianças, saques em massa de
propriedades, etc. A Gália só seria transformada em uma província quando
Augusto proclama o Império em 27 a.C., e só foi totalmente pacificada, mais ou
menos no ano 80.

Os gauleses não eram bárbaros, que tinham seus corpos pintados,


correndo e grunindo. Muitos deles viviam em cidades, eles tinham dinheiro,
instituições republicanas, também usavam letras gregas para escrever sua
língua, ou seja, eles não são selvagens. O que a gente chama de povos
bárbaros, é porque os gregos chamavam qualquer um que não falasse grego
de bárbaro, e os romanos pegaram esse preconceito, quando eles
conquistaram os gregos. Então bárbaro era qualquer povo que não tinha
cultura latina, então até o Império Parta era considerado bárbaro, mas não
necessariamente eram selvagens. É óbvio que muitas das tribos bárbaras que
conhecemos como os visigodos, francos, ostrogodos, saxões, jutos, vândalos,
tinham um nível civilizacional inferior aos romanos, mas muitos deles não eram
selvagens no stricto sensu do termo.
(Vercingetórix joga sua espada aos pés de César, simbolizando sua rendição.
Por Lionel Royer, no Museu Crozatier)

César também queria conquistar a ilha do Reino Unido, que viria a se


tornar a província romana da Britânia, 100 anos depois, no reinado do
imperador Cláudio. A razão dele querer conquistar a Britânia era porque ele
acreditava que tinha pérola muito preciosas na ilha, além de ouro e prata. Mas
a principal razão mesmo é que como ele derrotou os gauleses, eles podiam
fugir para a Britânia e formar suas instituições em Kent e Sussex, porque os
povos celtas da ilha falavam uma língua celta semelhante ou até idêntica. E
esses gauleses que estivesse em Kent e Sussex podiam dar apoio a
insurgentes gauleses na recém conquistada Gália romana. César queria invadir
a Britânia para parar as incursões através do atual canal da Mancha. Ele chega
em Dover, e encontra vários bretões, e decide que não é um bom lugar para
desembarcar, então eles vão mais ao norte e desembarcam em Deal. Eles
encontram um exército dos bretões, e então César não chega muito perto da
costa, e os romanos vão até a praia com água batendo no pescoço. Eles
derrotam os bretões, mas César decide voltar, porque o mar naquela região era
muito agitado em setembro.

No entanto, ele volta no ano seguinte, em 54 a.C., e estabelece o que


parece ser o mesmo tipo de controlador da Britânia como é estabelecido na
Gália, chegam a tomar a atual Londres, mas depois há um levante repentino, e
ele teve que se retirar e fez vários tratados com reis e chefes dos bretões.

Em 52 a.C. Clódio foi assassinado em batalha por Tito Milão. Em 1 de


janeiro de 49 a.C., um agente de César apresentou um ultimato ao senado. O
ultimato foi rejeitado, e o senado então passou uma resolução que declarou
que se César não entregasse seus exércitos até julho daquele ano, seria
considerado um inimigo da república. O Senado adota Pompeu como campeão
contra César, e aprovou um senatus consultum ultimum, que investiu Pompeu
com poderes ditatoriais. Em 10 de janeiro de 49 a.C. Júlio César cruza o rio
Rubicão, e marcha para Roma. Passar pelo Rubicão, era um caminho sem
volta, e como César sabia disso, ele fala sua famosa frase: “Os dados estão
lançados”. O rápido avanço de César fez Pompeu fugir pra Grécia, e César
entrou em Roma sem nenhuma resistência.

(Júlio César e a X Legião)


Em 48 a.C. Júlio César se proclama ditador, e aumenta seus poderes
imensamente, no nível que os futuros imperadores terão. Em 48 a.C., César
recebeu poderes tribunícios perpétuos. Isto fez sua pessoa sacrossanta, deu a
ele o poder do veto no senado, e permitiu-lhe dominar a assembleia popular.
Em 46 a.C., recebeu poderes censoriais, que usou para preencher o senado
com seus próprios partidários. César então elevou a composição do senado
para 900. Com isso, a aristocracia do Senado ficou cada vez mais submetida a
ele. César também se prepara contra uma guerra com o Império Parta. César é
vencido na Batalha de Dirráquio, e os Optimates são derrotados na batalha de
Farsalos. Pompeu tinha fugido para o Egito pedir asilo, porque eles estavam
devendo dinheiro a ele. O Egito já não era há muito tempo dominado por
faraõs, e tinha uma cultura grega e helênica desde a conquista de Alexandre, o
Grande, mas eles tinham alguns costumes egípcios que a dinastia Ptolomaica
adotou. Um desses era o casamento incestuoso, e o casal Ptolomeu XIII e
Cleópatra VII, que eram irmãos, estavam em guerra civil um contra o outro. Os
egípcios achavam Pompeu um perdedor, e já estavam achando César como o
grande vencedor, e então eles chamam Pompeu, e quando este está chegando
na costa, é assassinado. Pompeu foi esfaqueado até a morte, sua cabeça é
cortada e levada para Alexandria, e seu corpo nu é jogado no mar
Mediterrâneo. Alguns dias depois, César aparece com a frota romana, e os
egípcios lhe mostram a cabeça de Pompeu, e ele fica revoltado, falando que
matou seu amigo e genro, e pune os responsáveis pelo assassinato.

César decide apoiar Ptolomeu XIII na guerra civil, mas depois que ele
conhece a Cleópatra, ele meio que se casa com ela, e eles tem um filho. Só
que César já era casado em Roma, e não era possível que cidadãos romanos
pudesse casar com estrangeiros. César faz o cerco de Alexandria, e o reino do
Ponto derrota Roma na batalha de Nicópolis. Em 47 a.C. César derrota o Egito
na batalha do Nilo, e derrota o reino do Ponto na batalha de Zela. Em 46 a.C.
César derrota os Optimates na batalha de Thapsus, e a Numídia é
conquistada. Em 45 a.C. César derrota os Optimates na Batalha de Munda, na
Hispânia.

Muitos pensaram que quando ele tomou o poder, ele seria um novo
Sula, e fazer aquelas listas de quem iria ser assassinado, e que iria morrer pelo
menos 20.000 pessoas, como na ditadura de Sula. No entanto, quando ele
toma o poder, ele anistia todo mundo, ele perdoa os líderes perdedores, e lhe
dá cargos públicos.

Em 45 a.C. quando César retorna à Itália, 300.000 pessoas tinham que


ser alimentadas diariamente no celeiro público. A usura estava florescendo
com consequências desastrosas. Os principais usurários, muitos dos quais
eram judeus, cobravam taxas de juros de até 48% ao ano. Como Lucius
Annaeus Seneca (4 a.C. - 65 d.C.), o filósofo, comentaria mais tarde em De
Superstitione: “Os costumes daquela nação mais criminosa ganharam tal força
que agora foram recebidos em todas as terras. Os conquistados deram leis ao
conquistador.”

César compreendia perfeitamente os males da usura e como combatê-


los. “Ele reconhecia a profunda verdade de que o dinheiro é um agente
nacional, criado por lei para um propósito nacional, e que nenhuma classe de
homens deve retirá-lo de circulação para causar pânico, para que os
especuladores possam fazer subir as taxas de juros, ou poderia comprar
propriedades a preços ruinosos depois de tanto pânico.”.

Dentre as reformas de César, temos o Calendário Juliano de 365 dias no


ano com um dia adicional adiconado em fevereiro a cada 4 anos. Júlio César
também criou um grande número de colônias além-mar para reassentar os
pobres da cidade de Roma, nos moldes da iniciativa de Caio Graco com sua
bem-sucedida colônia em Cartago. Ele reduziu pela metade o número de
receptores de trigo, para cerca de 150 mil no total. Também estendeu a
cidadania romana para aqueles que viviam no extremo norte da Itália, e propôs
garantir status latino à população da Sicília. Ele perdou praticamente 1/3 de
suas dívidas com o Estado, já que a indústria dos publicani estava ao limiar do
colapso em 59 a.C., e declara que os juros não podiam ser maiores que 1% ao
mês. O controle da casa da moeda foi transferido dos patrícios (usuários) para
governo. Moedas de metal baratas foram emitidas como meio de troca. Foi
decretado que não poderiam ser cobrados juros sobre juros e que os juros
totais cobrados nunca poderiam exceder o capital emprestado (em regra
duplum). A escravidão foi abolida como meio de quitação de dívidas, e os
aristocratas foram forçados a empregar seu capital e não acumulá-lo.
Ele incentivou a reconstrução de Cartago e Corinto como cidades
romanas, e também funda a cidade de Arles na França, e Sevilha na Espanha,
e envia cerca de 80.000 romanos pobres para colonizar essas novas cidades,
que rapidamente se tornam cidades grandes e ricas. Ele aumenta o número de
senadores para 900, muitos de fora da Itália. Ele reforma as leis e os tribunais
para baratear a justiça e mais seguro para todas as classes. Ele reforma o
governo e a política tributária das províncias, o que aumenta os impostos, mas
há menos chances de problemas sérios. O dole de milho foi regulamentado, as
comunidades provinciais foram emancipadas, e a moradia “gratuita” foi
fornecida a 80.000 famílias pobres.

Mas ele também tinha planos ainda mais ambiciosos de reformular o


governo romano, incluindo tentativas de regularizar — até de microgerir — todo
tipo de aspecto da organização civil, não só em Roma, mas em toda a Itália.
Isso abrangeria desde questões sobre quem poderia exercer cargos em
comunidades italianas (nada de coveiros, alcoviteiros, atores ou leiloeiros, a
não ser que estivessem aposentados) até questões como a manutenção de
estradas (donos das casas seriam responsáveis pela calçada em frente a sua
residência) e administração do trânsito (nada de veículos de carga pesada em
Roma durante o dia, exceto para propósitos como a construção ou reparos de
templos, ou remoção de entulho de demolições). Um de seus planos era
reconstruir Roma como a capital do Império, para rivalizar com Alexandria. E
por fim, queria fundir todo o Império em um conjunto de províncias uniformes,
com sua capital em Roma.

No entanto, a questão que fica é: e agora? Júlio César já estava na casa


dos 50 anos, o que significa que ele iria viver apenas mais uns 10 anos, que
era a expectativa de vida para a época. Ele pensa em se proclamar rei, mas a
população romana como um todo tinha aversão à ideia de reis, desde que a
república foi fundada. Em 44 a.C. Marco Antônio no grande festival de
Lupercália, faz um teste e coloca uma coroa na cabeça de César e se curva
para ele. César olha em volta para ver a reação das pessoas, e todo mundo
vaia e há grunidos de horror. Então César tira a coroa da cabeça e fala que vai
colocar na cabeça de Júpiter, em seu templo.
César foi assassinado em 17 de março de 44 a.C. no Senado, numa
conspiração de senadores liderados por Caio Cássio e Marco Bruto. Marco
Antônio é avisado e corre para avisar César, mas não consegue chegar a
tempo. Muitos estavam receosos que César logo ressuscitaria a monarquia e
declararia a si próprio rei. Outros temiam perda de propriedade e prestígio com
César realizando reformas agrárias em favor das classes sem-terra. Ficou
famosa a frase falada por Júlio César: “Até tu Brutus”, em seu leito de morte.
Como César era muito populista, ele costumava perdoar vários que lutaram ao
lado de Pompeu na guerra civil, como na batalha de Farsalas, para mostrar que
tinha clemência, e isso foi provavelmente a causa dele não conseguir previnir o
assassinato. No dia seguinte o Senado declara anistia todos os assassinos, e
declara Júlio César como um Deus, para que ninguém pudesse revogar as leis
que ele criou.

(A morte de César por Vincenzo Camuccini, entre 1804 e 1805.)

Em 49 a.C. Marco Antônio tinha se tornado uma figura política


proeminente, e em 44 a.C. o sobrinho de Júlio César, Caio Octaviano também.
Marco Antônio era filho de um senador corruto, e como é mostrado na minisérie
Roma, um devasso que vive bebendo e transando. Mas apesar disso, ele se
torna um bom líder militar, e se destaca na guerra civil lutando ao lado de
César. Marco Antônio começa a caçar os conspiradores que mandaram
assassinar Júlio César, e imediatamente Cássio e Bruto fogem da cidade. Caio
Otávio tinha então apenas dezoito anos e logo começou a capitalizar em cima
do nome famoso que ganhou na adoção, passando a se fazer chamar Caio
Júlio César — embora para os seus inimigos, assim como para a maioria dos
modernos escritores desejosos de evitar confusões, seja conhecido como
Otaviano [Octavianus] (isto é, “ex-Otávio”). E tem uma terceira pessoa que é
Marco Aemiliano Lépido, que era leal a César, e que manda seus exércitos
para Roma para manter a paz.

Cícero tinha ficado do lado de Pompeu e dos optimates na guerra civil,


mas é perdoado por César durante sua ditadura. Apesar de Cícero não ter
conspirado no assassinato de César, ele diz que foi necessário mas
incompleto, porque Marco Antônio também tinha que morrer. Cícero assume o
controle do Senado, mas com os conspiradores Bruto e Cássio fora de Roma,
ele não teve apoio militar. Cícero se alia à Octaviano para tentar legitimar o
controle no Senado. Quando Marco Antônio decide expulsar o irmão de Bruto
de sua província da Gália Transalpina, Cícero declara ele como um traidor, e
os dois cônsules são mandados contra Antônio, junto com Octaviano para dar
apoio moral, já que o filho de César encouraja as tropas. Os rebeldes de Marco
Antônio marcham para o Norte, e são derrotados na batalha de Mutina, mas os
dois cônsules enviados por Cícero são mortos. Quando Octaviano chega em
Roma, ele demanda que o Consulado retire a restrição de idade, para ele
governar, e quando o Consulado se recusa, ele marcha contra Roma e intimida
o Senado a colaborar. Como cônsul, Octaviano declara todos os assassinos
como traidores, revogando a anistia concedida pelo Senado, e uma nova
guerra civil está por vir.

Os Libertadores de Bruto e Cássio se revoltam na Macedônia. Então em


43 a.C. é formado o Segundo Triunvirato, entre Octaviano, Marco Antônio, e
Aemiliano Lépido, na Conferência de Bonônia. Eles mantiveram poderes
parecidos com o de Júlio César, e o Senado e as Assembleias permaneceram
impotentes. A primeira atitude do Triunvirato foi de fazer uma lista dos 500 ricos
cúmplices e associados ao assassinato de César, para matá-los e confiscar
sua riqueza, e Cícero é um deles. No mesmo ano, Cícero é assassinado a
mando de Marco Antônio.

A área verde é controlada por Marco Antônio, a marrom por Lépido, a


roxa foi Octaviano, em laranja era a Itália, a Sicília por Sexto Pompeu (filho de
Pompeu, o Grande), e em vermelho temos os territórios controlados pelos
assassinos de César, Bruto e Cássio. O que está em amarelo escuro e claro
são os estados clientes de Roma.

Em 42 a.C. os Libertadores são derrotados na batalha de Filipos, e


Cássio e Bruto são derrotados, e os dois cometem suicídio. Otaviano voltou de
Filipos para a Itália a fim de supervisionar um grande programa de confisco de
terras destinado a prover pacotes de assentamento a 100.000 soldados em
vias de se aposentar e perigosamente insatisfeitos, ele logo enfrentou a
oposição armada de Fúlvia e do irmão de Marco Antônio, Lúcio Antônio. Eles
encamparam a causa dos proprietários de terras que haviam sido
expropriados, e conseguiram controlar a cidade de Roma, embora por breve
tempo. Otaviano não demorou a submetê-los a um cerco na cidade de Perusia
(atual Perugia). A fome obrigou-os a se render no início de 40 a.C., mas o
palco havia sido montado para mais de uma década de guerras, entremeadas
por breves tréguas, entre as diferentes facções que clamavam representar o
legado de César. Octaviano também terminou de fundar as colônias para os
pobres em Cartago e Corinto, Arles e Sevilha. Isso torna Roma um lugar muito
mais salubre, porque não está mais cheia de tantos pobres, o que acalma
consideravelmente o povo, e a prosperidade volta no lado Oeste da República,
e todo mundo começa a olhar com bons olhos para ele.

Marco Antônio tinha se casado com Otávia, irmã de Otaviano, mas na


prática estava tendo um caso com a rainha Cleópatra do Egito, o qual teve dois
filhos gêmeos. Otaviano usou esse fato politicamente para falar que Marco
Antônio iria abandonar Roma e transferir a capital da República para
Alexandria. Marco Antônio só vai se divorciar formalmente de Otávia em 32
a.C.. Além disso, Marco Antônio vai dividir a parte que ele controla no leste em
três, entre os três filhos que ele teve com Cleópatra.

(Imagem meramente ilustrativa, não oficial)

Em 41 a.C. a os partos saqueia a Síria romana. Os partos eram um povo


iraniano nômade, que residiam antigamente na Ásia Central, perto de Bactria.
Em 250 a.C. eles tinham se revoltando contra seus senhores gregos do Império
Selêucida, e em 139 a.C. se expandem para o oeste, tomando toda a
Mesopotâmia. Em 53 a.C. o Império Parto ia da Anatólia até o rio Indo, e parte
de seu propósito é destruir a influência grega na Ásia depois das conquistas de
Alexandre, o Grande (356-323 a.C.). E os gregos, tiveram que escolher se aliar
com Roma ou com o Império Parto, e escolheram continuar submetidos à
Roma, porque tinham um enorme medo dos Partos.

(Império Parta em 1 d.C.)

O primeiro contato que os romanos tiveram com os partos foi durante o


governo de Sula, que fez um acordo para nenhum dos dois impérios
ultrapassar a fronteira do rio Eufrates. Essa paz dura 30 anos, até o governador
da Síria, Galbino, se envolver em uma disputa pelo trono parta. E com isso,
Galbino invade o território parta por um breve período de tempo. Ele propõe
uma invasão total do Império Parto, mas o Senado se recusa. Em 53 a.C.
Crasso decide invadí-los, o Senado se nega, mas como Crasso é
extremamente rico, ele monta um exército privado de 40.000 homens e invade.
Ele começa tomando cidade por cidade, mas os partos tinham homens a
cavalo com armadura muito bem blindada, e arqueiros muito poderosos, e os
romanos sofrem uma derrota total em Carras. Crasso foge, tenatando voltar
para o território romano, mas ele é morto junto com seu filho, e apenas 10.000
dos seus homens conseguem retornar para território romano. O resto foi feito
prisioneiro e torturado, e Augusto depois vai insistir pros prisioneiros serem
devolvidos.
Rebeldes aliados de Marco Antônio, se revoltam em Roma. Em 39 a.C.
os partos perdem a batalha de Cilician Gates. Em 38 a.C. Aquitanos se
revoltam na Gália. Os germânicos Ubii invadem a Gália romana, os partos
atacam a Síria romana. Em 36 a.C. Augusto conquista a parte que era do filho
de Pompeu e de Lépido, que é deposto e colocado em prisão domiciliar. Em 36
a.C. a Armênia troca de lado e volta para Roma. No mesmo ano, Marco
Antônio começa uma guerra contra o Império Parta, e Armênia durante a
guerra volta para o lado dos Partos. Em 34 a.C. Marco Antônio anexa a
Armênia. Em 32 a.C. a República romana restaurada por Octaviano, declara
guerra ao Egito de Marco Antônio. No mesmo ano, Marco Antônio decide ir
junto com Cleópatra para a Grécia, e prepara uma invasão da Itália. Outro erro
crasso que Marco Antônio comete é que como seus filhos com Cleópatra são
meio gregos, a imagem dele fica ainda mais manchada, porque quem
governará depois de sua morte será seus filhos gregos, e não romanos. Esse
escândalo é organizado por um homem chamado Caio Mecenas, que era uma
espécie de ministro da propaganda de Octaviano. E olha a jogada de mestre:
quando ele declara guerra à Marco Antônio, ele está declarando guerra ao
Egito, e não a um romano, então não é mais uma guerra civil, mas uma
invasão a outro país, para supostamente salvar a parte leste da república das
mãos de Marco Antônio, e salvar Antônio dele mesmo, e proteger as tradições
romanas. Maior jogada que isso, talvez foi só a feita por Diocleciano em 285,
que contarei mais a frente. Em 31 a.C. Marco Antônio é derrotado na batalha
naval do Ácio, e comete suicídio com seu amor, Cleópatra. Em 30 a.C. a
Armênia volta a ser um fantoche do Império Parta. E o filho de César com
Cleópatra, Cesário tinha que morrer, porque poderia ser um perigo mais tarde,
e ficou famosa a frase: “ Um César é o suficiente para o mundo”.

Em 27 a.C. em janeiro, Octaviano se proclama imperador, e passa a se


chamar Augusto. Ele devolve a autoridade das legiões e províncias para o
Senado, e recebeu o título de Augusto (um título inventado, significando algo
próximo de “Reverenciado”) e príncipe. Este último cedia a Augusto o controle
sobre todas as legiões existentes na república, elevando-o ao posto
de imperador, apesar de as instituições republicanas romanas continuarem
existindo. Com isso começava o Império Romano como conhecemos, com a
sua fase inicial de Principado, que durará de 27 a.C. até 285 d.C., com Augusto
sendo o primeiro imperador e o que durou mais tempo em toda a história do
Império, e até mais do que os reis Sérvio Túlio e Numa Pompílio.

(território romano no em 44 a.C.)


(Augusto de Prima Porta, Museus Vaticanos)
Império (27 a.C. – 476 d.C.)

Um dos primeiros passos de Augusto, foi devolver ao Senado o que


restava de eleições, deixando o povo de fora. Ele controlou o Exército romano
ao contratar e demitir diretamente os comandantes de legiões e fazer de si
mesmo o governador geral de todas as províncias onde houvesse presença
militar. Ele diminui o exército de 60 legiões para 28. Ele começou a fazer um
minucioso controle da vida dos cidadãos, regulando a vida sexual das classes
mais altas, ameaçadas de sofrer penalidades políticas, se não produzissem
filhos o suficiente, até estipular o que as pessoas podiam trajar no Fórum,
deixando apenas togas. E, diferentemente de qualquer um antes dele, dirigiu
os tradicionais mecanismos do apoio literário romano para uma campanha
coordenada, com patrocínio centralizado. Augusto tinha escritores como Virgílio
e Horácio em sua folha de pagamento, e a obra produzida por eles oferece
uma imagem memorável e eloquente de uma nova era de ouro de Roma e seu
Império. A Eneida de Virgílio foi obra obrigatória no currículo escolar de Roma,
e ainda permanece em muitos lugares do mundo até hoje.

No entanto, o Senado continuou existindo, com vários de seus privilégios


ampliados. Augusto morava não em um palácio, mas no tipo de casa do Monte
Palatino que você atribuiria a um senador qualquer. Ele costumava andar com
roupas simples entre a população mais simples, e às vezes usava a túnica do
sacerdote romano. Ele era chamado de príncipe, que vem de “primeiro
cidadão”, ao invés de ser chamado de imperador. No entanto, Augusto mandar
estampar seu rosto em todas as moedas de pequeno valor, e mandou levantar
estátuas suas em todos os lugares de Roma. Era um cara enigmático, e muito
astuto em política, não à toa, foi o imperador que governou por mais tempo.
Dizem que era um homem extremamente inteligente, podendo ser considerado
um gênio. O que sobrevive de relato dele próprio, é o livro Res Gestae, uma
espécie de currículo vitae dele, algo como “meus feitos”. É uma obra
autorreferente, partidária e com frequência vazada em tons cor-de-rosa, que
tem o cuidado de mascarar ou ignorar completamente as ilegalidades
criminosas do início da sua trajetória.
(Augusto como Pontífice Máximo)

Foram feitos dois censos romanos, um em 28 a.C. e outro em 14 d.C., o


que é o espaço de tempo do governo de Augusto. O primeiro contava
4.063.000 cidadãos romanos no Império, e o segundo 4.937.000 pessoas. Se
discute se esse número era apenas de homens, ou também mulheres e
crianças. A maior parte do Res Gestae, fala sobre vitórias e conquistas de
Augusto, obras em favor do povo romano e construções. Algumas dessas
conquistas incluem: o Egito tornado possessão romana; os partos obrigados a
devolver os estandartes militares romanos perdidos em 53 a.C.; um exército
romano chegando à cidade de Meroe no sul do Saara e uma frota avançando
pelo mar do norte; delegações alcançando pontos tão distantes quanto a Índia,
sem falar na miscelânea de reis renegados implorando misericórdia, com
nomes gratificantemente exóticos para o ouvido latino — “Artavasdes, rei dos
medos, Artaxerxes dos adiabenianos, Dumnobelauno e Tincômio dos bretões.

Ele tentava firmar a imagem de um imperador, ou melhor, um príncipe,


que estava preocupado com os cidadãos, era generoso, e em troca, os
cidadãos olhavam para ele como um patrono, protetor e benfeitor. Isso virou
marca do Império, e os próximos imperadores competiam para ver qual parecia
mais generoso com a população, e escrever a própria história de maneira mais
visível na cidade. Entre as construções, parte delas era um grande programa
de restaurações, abrangendo de estradas e aquedutos ao templo de Júpiter no
Capitólio, o monumento fundador da República. Augusto afirma ter restaurado
82 templos de deuses em um único ano. O novo Fórum de Augusto contava
com estátuas de Eneias e de Rômulo, além de claro uma dele mesmo. Os
pórticos ao redor tinham várias estátuas retratando outros “grandes homens da
República”, como Camilo, vários Cipiões, Sula e Mário. A mensagem é que o
curso da história romana levava à Augusto, que tinha sua estátua no centro de
todas. Interessante que ele nasceu em 63 a.C., mesmo ano da Conspiração de
Catilina.

O que Augusto fez foi assumir vários poderes ao mesmo tempo, sem
parecer que tinha. Ele tinha o poder de tribuno sem assumir o tribunato, o
poder de um cônsul, sem assumir o consulado. O Senado declarou que o mês
depois de Julho, por causa de Júlio César, seria Agosto, por causa de Augusto.
Ele assegurou que o Exército fosse fiel a ele e a ninguém mais, isolando
potenciais oponentes e transformou o Senado de uma aristocracia de dinastias
concorrentes, e possíveis rivais, em uma aristocracia voltada para servir e
honrar. Mas diferente de uma ditadura militar, as legiões romanas ficavam nas
fronteiras do Império, com apenas poucas tropas em Roma, como a Guarda
Pretoriana. Ele também assegurou sua posição cortando os vínculos de
dependência e lealdade pessoal entre os exércitos e seus comandantes
individuais, em grande parte graças a um processo simples e prático de
reforma da aposentadoria. A aposentadoria dos soldados era obviamente
financiada com impostos, e com um valor de cerca de 20 vezes o pagamento
anual que era dado aos soldados. Ou seja, ele nacionalizou de vez as legiões
romanas. Num cálculo grosseiro, usando os valores conhecidos dos salários
dos militares, a conta anual para um pagamento normal e mais os pacotes de
aposentadoria para o Exército todo daria algo em torno de 450 milhões de
sestércios. Isso era equivalente, em um cálculo ainda mais grosseiro, a mais da
metade da receita anual de impostos do Império. E ainda, Augusto mandou
fazer o registro de todos os generais triunfantes, desde Rômulo.

O Império Romano tinha um peso administrativo leve em comparação


com a burocracia de todos os Estados modernos. Mesmo assim, alguém
precisava comandar as legiões, governar as províncias, gerir os suprimentos
de trigo e água e atuar em termos gerais como delegado de um imperador que
não poderia fazer tudo. O Senado ainda tinha importância, e a principal fonte
da legislação romana foi por meio de decretos do Senado e pronunciamentos
do imperador. A separação entre Senado e classe equestre foi formalmente
feita, e uma nova estipulação da riqueza em 1 milhão de sestércios para os
senadores, e 400 mil para os equestres, foi definida. E o status foi tornado
hereditário por três gerações, com filhos e netos de senadores tendo as
vantagens sem nunca precisarem assumir funções públicas.

Em relação a economia, há um grande crescimento econômico gerado


por uma série de fatores. O primeiro deles é a paz que Augusto traz ao povo,
que tinha sido vítima de três guerras civis durante o último século da República.
Outra coisa que eles faz é abolir os fazendeiros fiscais em todo o Império – que
foi substituída por demandas fixas e previsíveis em toda a comunidade, mais
cinco por cento de imposto sobre o imposto interprovincial. Não há mais conluio
de fazendeiros fiscais e governadores corruptos - não há mais empréstimos a
juros extorsivos para pagar novos impostos. Ele promove a supressão da
pirataria e da bandidagem, e as estradas se tornam bem mais seguras. Foram
criadas 120 novas cidades na Europa, principalmente para conter veteranos
dispensados, mas uma explosão sem precedentes de crescimento urbano. E
por fim a abertura do comércio e sua expansão, com o Império Parta, a Índia e
a China. Essa expansão do comércio cria uma nova classe média mercantil,
muitas vezes compostas de ex-escravos.

Em 27 a.C., os romanos adotaram o padrão-ouro, que teria implicações


de longo alcance para a estabilidade financeira do império e levaria
diretamente ao seu fim. Anteriormente, durante a República Romana, as
moedas de ouro eram emitidas apenas em momentos de grande necessidade,
como durante a Segunda Guerra Púnica ou a campanha de Sula. Havia poucas
minas de ouro na Europa, exceto em lugares remotos como País de Gales,
Transilvânia e Espanha e, portanto, a maioria dos suprimentos só podia ser
obtida a partir do leste. Isso, por sua vez, exigia um exército grande e caro, que
se envolveu em constante conflito nas margens do império. A moeda de ouro
era conhecida como aureus. Também em circulação estavam as moedas de
prata denário e várias moedas de cobre: o sestércio, o dupondius e o as.

A escassez de ouro ou dinheiro-mercadoria frequentemente induzia


períodos de deflação como resultado da falta de um meio de troca circulante, o
que é ótimo, mas sabemos que Estados odeiam deflação. Em 13 a.C. uma
medida fez o peso do ouro aureus ser reduzido de 122 para 72 grãos e este
permaneceu o peso padrão até 310 d.C.. No entanto, os metais continuaram a
fluir para o leste para pagar itens de luxo, taxas religiosas e pagamentos de
usura. Além disso, o desgaste resultou na perda de um terço do total de
moedas em circulação durante um período de 100 anos.

Como o ouro era tratado como uma mercadoria, sua degradação não
era tolerada. O imperador Constantino (306-337) ordenou pessoalmente a
morte por falsificação e a queima de cunhadores públicos que cometeram
falsificação. Os cambistas, que não relataram um besante de ouro falsificado
(solidus), foram imediatamente açoitados, escravizados e exilados. Esses
regulamentos foram eficazes para o besante, que pesava 70 grãos e era um
pouco mais do que o besante que ainda circulava em 1025 e pesava 68 grãos.

O empresário romano não era um comerciante, mas um saqueador das


províncias, pois a pátria tinha uma base de produção industrial fraca, incapaz
de fornecer os bens manufaturados necessários. À medida que a
monetarização da sociedade continuava, com o rico parasita do homem
comum, os plebeus se tornaram mais escravos. A abolição do sistema de júri
foi sintomática do declínio do respeito e da importância do homem comum na
sociedade romana.

Logo no começo do Império, Augusto anexa o que sobrou da Hispânia


em 27 a.C. e termina em 19 a.C.. Em 23 a.C. os núbios atacam o Egito. Em 20
a.C. Augusto força a Armênia a aceitar um líder romano, e conquista as tribos
Bastarnas na região da Mésia. Em 19 a.C. os Garamantes no Saara são
derrotados, e tem uma expedição romana no deserto que chega até o atual
Mali. Em 16 a.C. temos a conquista da Récia e Nórica, região da atual Suiça e
Aústria. Em 13 a.C. começa as guerras contra as tribos germânicas na Magna
Germânia, e aos poucos todas elas vão sendo conquistadas até 4 a.C. quando
os romanos cruzam o rio Elba. Em 11 a.C. o reino Odrísio vira um protetorado
romano. Em 9 a.C. as tribos da Panônia são subjulgadas. Em 8 a.C. o reino do
Bósforo se torna estado cliente de Roma. Em 2 a.C. os romanos esmagam
uma revolta anti-romana na Armênia. Em 1 d.C. algumas tribos bárbaras
começam a se revoltar e a revolta é controlada pelos romanos no ano 5. No
ano 4, os Gaetuli se revoltam na Numídia e são vencidos em janeiro do ano 6.
No ano 6 a Judéia é anexada pelo Império Romano, e ocorre a revolta de
Judas na Galiléia. No mesmo ano, estoura a Guerra Batoniana, onde as tribos
ilírias se revoltam contra Roma, com a revolta sendo controlada no ano 9. No
ano 8 o Império Parta pede à Roma que nomeie um rei romano para eles. No
ano 9 ocorre a famosa batalha da floresta Teutoburgo, onde os romanos são
pesadamente derrotados pela União Germânica comandada por Armínio, onde
3 legiões romanas são quase completamente destruídas, e os territórios
germânicos são reconquistados por Armínio. Os germânicos continuam
avançando sob o norte da Gália, mas os romanos conseguem contê-los e
reconquistar o território da Gália. No ano 12 o rei persa pró-romano é deposto,
e o Império Parta volta a ser independente.
(imagem não oficial da Batalha da Floresta Teutoburgo)

A Batalha da Floresta Teutoburgo foi uma das maiores derrotas dos


romanos para os germânicos, com os romanos sofrendo baixas que chegaram
bem perto de 10% das forças armadas romanas.

Augusto sofre várias tentativas de golpe e conspirações, mas nenhuma


foi bem sucedida. Uma dessas foi a de Marco Inácio Rufo que de forma
privada, enquanto exercia o cargo de edil em 22 a.C., usou seu próprio dinheiro
para montar uma brigada de incêndio rudimentar na cidade. Augusto
desaprovou, mas decidiu se sobrepor a Inácio e disponibilizou seiscentos de
seus próprios escravos para o combate ao fogo. Alguns anos mais tarde, Inácio
tentou concorrer ao consulado sem a aprovação do imperador e com idade
inferior à legal. Isso não poderia ser um complô organizado contra o imperador:
seja como for, Augusto não estava em Roma para ser deposto, o que pode ter
sido a razão de Inácio achar que poderia levar adiante a ideia de concorrer.
Mas quando sua candidatura foi recusada, houve agitações populares. Ele foi
executado, por decisão do Senado, ao que parece com a concordância do
imperador ausente.
Augusto tinha muitas dificuldade de encontrar um sucessor, porque não
teve nenhum filho homem com sua esposa Lívia. Então ele casa sua filha Júlia,
com o filho de Lívia, Tibério. É por isso que chamamos a primeira dinastia do
Império Romano de dinastia Júlio-Claudiana (14-68), porque Augusto vinha de
Júlio César, e Tibério era filho de Lívia, o qual o seu primeiro marido chamava
Cláudio. Então em 14, Tibério se torna o novo imperador. Tibério Cláudio Nero,
o pai do novo imperador, havia lutado ao lado de Marco Antônio na guerra civil,
ou seja, já começava com o segundo imperador sendo filho do inimigo do
primeiro.

Tibério governou de 14 até 37, mas passou a última década de seu


governo na maior parte de tempo na ilha de Capri, mantendo contato apenas
remoto com a capital. Os romanos vão continuar fazendo campanhas militares
contra as tribos germânicas, até a União Germânica ir se dissolvendo, e os
romanos vencerem na batalha de Idistaviso em 16, apesar dos romanos não
conquistarem o território da Magna Germânia. Em 17 estoura uma revolta na
Numídia perto de Cartago, de um desertor númida do exército romano
chamado Tacfarinas. Ele fez uma coalizão com outras tribos líbias, mas era
frouxa, apesar da revolta durar até 24. Em 21 estoura uma revolta dos Aeudi e
Treveri na Gália, mas que é facilmente controlada e acaba em fevereiro de 22.
Em 28 os frísios saqueiam uma pequena parte da Gália, no extremo norte,
perto da atual Holanda. Em 36 tem a revolta de Cietae na Capadócia, mas é
controlada no mesmo ano. Seu reinado não teve quase nada de importante,
nem conquistas territoriais, mas foi tranquilo e com quase nenhuma revolta ou
crise.

Tibério cortou alguns impostos e aboliu outros, e em 33 houve uma


grande crise financeira que varreu todo o mundo Mediterrâneo. Era uma corrida
bancária e Tibério reagiu a isso com um grande pacote de socorro aos bancos
por meio de empréstimos livres a juros zero na tentativa de estabilizar o
mercado. Tibério interveio e cunhou vastas quantias de moedas de ouro e
prata em dinheiro, e acabou com a crise de liquidez. Tibério agia como
empresatador de última instância como um Banco Central, e despejou dinheiro
para reconstruir cidades destruídas por terremotos, e cortou os gastos públicos.
Ele normalizou o governo imperial, já que Augusto era considerado como um
estado de emergência, e que poderia haver alguma chance da República
retornar.

Foi no reinado de Tibério, que Cristo foi crucificado. É impossível falar da


história do Império Romano, sem falar da influência dessa nova fé monoteísta
que surgiu no território imperial. Tirando os judeus, todas as civilizações da
Antiguidade eram pagãs e politeístas, ou seja, acreditam em vários deuses e
não tem uma visão de religião como auto-aperfeiçoamento.

As características do paganismo antiga eram: etnocêntrico, ritualístico, e


centrado na tradição herdada. Para muitas pessoas, a religião pagã era como
um contrato feito entre sua comunidade e um ser sobrenatural, o deus
receberia honras e sacrifícios seus, e você receberia benefícios em guerra, ou
na agricultura, na diplomacia, etc. Para os gregos por exemplo, Afrodite e
Apolo favoreceram os troianos na Guerra de Troia, Diana era padroeira de
Éfeso, e Atena, da cidade-estado de Atenas. Para os gregos e romanos,
quando você morria, você iria encontrar um caronte, que é um barqueiro que te
levaria ao submundo, atravessando o rio Estige. Aqueles que eram favorecidos
pelos deuses, sendo pessoas boas ou se estivessem bem conectadas, iam
para os Campos Elísios, e aqueles odiados pelos deuses, iriam ser torturados
para sempre.

Platão no século IV a.C. propôs que a religião fosse remodelada para


que tivesse infinitas punições e infinitas recompensas na vida após a morte, e
ele fez isso como um meio de justificar a obediência das pessoas ao seu
estado policial totalitário, que ele acreditava que a humanidade precisava e
merecia. Depois das conquistas de Alexandre, o Grande, muitos povos se
juntaram, e conheceram a religião um do outro, e teve com isso um
crescimento das religiões de mistério, não gregas. Você vai ter Sibeli, Mitras,
Ísis, etc. Com isso você vai quebrar a ideia de paganismo antigo, e vai ter a
ideia de conversão pessoal, escolha pessoal, e salvação pessoal.

Com o domínio romano, as guerras vão parar no mundo grego e


helenístico, porque Roma proibia que as cidades-estado gregas entrassem em
guerra uma com as outras, e os reinos helenísticos da Síria e do Egito de
entrarem em guerra entre si.
Os judeus tinham a mesma visão de vida após a morte, dos gregos e
romanos. Para eles, todo mundo iria para o Sheol, um lugar escuro, no qual
espíritos sombrios chamados refa´im moravam. Você poderia sumonar os
espíritos dos mortos para responder perguntas sobre necromancia, que está
em 1 Samuel 28: 3-25, e a prática é proibida em Levíticos 20:27. Então tem o
cativeiro babilônico, e a absorção dos judeus nos reinos helenísticos, e o
desaparecimento da autonomia política judaica. E na revolta dos Macabeus,
você tem a ideia de martírio judaico, em que homens morreram para manter o
povo judeu vivo. Tinha basicamente três escolas particulares de crença, sobre
a salvação para os judeus, no século I a.C.. Você tem os saduceus, que eram
pessoas importantes, sacerdotes que administravam o templo, e não
acreditavam em vida após a morte, e na ressurreição dos mortos, eles
acreditavam na aliança entre deus e o povo judeu que era aplicada apenas
nessa vida. Você tinha os fariseus, que acreditavam em vida após a morte e
em ressurreição. E por fim, você tinha os Assinis, que tinham uma visão bem
platônica da alma, e acreditavam que depois que o corpo morria, a alma seria
libertada, e que os virtuosos desfrutarão de grande felicidade e prazer.

Os judeus entram na República romana depois de 60 a.C., quando a


Judéia é dominada pelos romanos, que governam por meio de reis clientes de
Roma. Em 6 a.C., um dos filhos de Heródes, o Grande, foi julgado
incompetente, e a Judéia, foi anexado ao Império Romano, como uma região
semi-autônoma da Síria, sob o domínio de um procurador romano. Muitos
judeus queriam independência política de Roma, e muitos além disso, queriam
a vinda do messias judeu, e que os salvaria. Os romanos não queriam a
independência política da Judéia, porque o Império Parta, que estava logo ao
lado, queria uma saída para o Mar Mediterrâneo. Então com isso, esse novo
estado judeu levaria pancada tanto dos romanos, quanto dos partos. Ao
mesmo tempo, a classe rica e de governantes judeus, não queria a
independência política de Roma, porque senão eles perderiam seus privilégios
que tinham com o domínio romano.

A razão pela qual Sinédrio estava tão nervoso sobre Cristo, é que ele
estava pregando para pessoas comuns, o que não era favorável para a classe
dominante judaica, e também não era favorável à submissão dessas regiões ao
domínio romano. Lembra a história de quando um dos fariseus mostra a Cristo
uma moeda, dizendo que é lícito pagar impostos à César, isso é uma tentativa
de armadilha. Se Cristo dissesse que não era lícito, porque César era um
governante ilegítimo, ele teria sido preso e sido empacotado diante de Pilatos,
com meia dúzia de testemunhas para testemunhar o que ele disse. Então
Cristo dá uma resposta evasiva, que pode ser tomada como o fundamento de
grande parte da filosofia política ocidental. Os governantes e a classe
dominante judaica tem pavor de Cristo, já que ele tinha grande parte do povo
judeu o ouvindo e seguindo. Então a classe dominante judaica persuadiu os
romanos a se livrarem de Cristo, e depois que Cristo morreu, eles também
eram hostis aos seguidores de Cristo. O alcance que Cristo tinha no povo judeu
como um todo, é prejudicado pelos esforços da classe dominante judaica, após
a cruxificação.

Depois da morte de Cristo, São Paulo vai pregar sua palavra em todo o
mundo romano, inclusive em sinagogas, e vai conquistar alguns convertidos
entre os judeus, com muito mais frequência do que pregar para o que pode ter
sido uma vasta multidão de gentios. Sempre que ele aparecia em Jerusalém,
ele estava acompanhado de um imenso número de convertidos de língua
grega. Os primeiros cristãos, os apóstolos sobreviventes de Cristo,
concordaram em abandonar todos os requisitos de circuncisão, ou qualquer
conformidade com a lei judaica. Se você se tornasse um cristão, não era mais
necessário se tornar um judeu primeiro, e depois aceitar que Cristo era um
messias dos judeus. A única exigência era que você não poderia participar de
nenhuma cerimônia pagã, se abster da poluição de ídolos, da fornicação, e se
abster de coisas estranguladas e de sangue. Nesse concílio, em Jerusalém,
por volta do ano 50, os apóstolos concordaram que eles não exigiriam mais a
conversão na fé judaica antes de você poder se tornar um cristão. Por volta de
60, o Cristianismo não era mais uma heresia judaica, mas a religião dos
gregos. E no ano 70, a autonomia da Judéia é destruída, junto com o templo de
Jerusalém. E o Cristianismo caminha para a fusão da filosofia grega com a
história judaica.

Nos próximos três séculos, o Cristianismo cresce à medida que uma


rede estreitamente ligada de comunidades em todo o Império cresce. É apenas
uma questão de tempo até que os imperadores romanos percebam que o
Cristianismo é a única fé possível para ser a fé imperial.

Em 37 assume então Caio Júlio César Augusto Germânico, também


conhecido como Calígula. Seu reinado foi curto, com apenas 4 anos de
governo, quando foi assassinado por três soldados da Guarda Pretoriana a
mando do Senado. Seu assassinato foi tão confuso e brutal quanto o de César,
mas a diferença é que a de César foi em público como forma de matar um
tirano, já a de Calígula foi em um corredor, sozinho, cortado em pedaços.
Augusto, um tempo atrás tinha criado as cohortes urbanae como forma de ser
uma concorrência policial à guarda pretoriana, que acumulava muito poder e
podia destroná-lo facilmente. Mas essa força policial concorrente não foi o
suficiente para impedir que a Guarda Pretoriana matasse Calígula, e tantos
outros imperadores depois de Cômodus. Vale lembrar que o próprio Augusto
tinha uma guarda pessoal formada por germânicos, pois ele acreditava que seu
barbarismo era um remédio contra a sua corrupção. E com isso, os germânicos
da guarda pessoal de Calígula, saíram matando qualquer um que achavam que
estava envolvido no complô.

Quanto à motivação do assassinato, especula-se que foi que seu


guarda-costas, agente e torturador, Cássio Quereia, que o matou, por causa
que Calígula zombava dele em público. Calígula era um daqueles reis malucos,
que fazia bacanais, praticava incesto com suas irmãs, e até queria tornar
cônsul o seu cavalo. Era extremamente vaidoso e cruel, sendo um dos
imperadores mais cruéis de toda história do Império, que adorava ver a
violências das gladiaturas, e gostava de ver os perdedores morrendo, ao invés
de serem perdoados. Em 40 o último rei da Mauritânia, Ptolomeu, é
assassinado por Calígula e suas terras são anexadas à Roma. No mesmo ano,
estoura a revolta de Edemon, liderada por um escravo alforriado pelo rei
Ptolomeu da Mauritânia antes da sua morte, e a revolta durou até 44, já no
reinado do imperador Cláudio. Muitos também falam que os bacanais e orgias
e o incesto são informações falsas sobre Calígula, e que havia uma série de
exageros com sua figura, mas nunca saberemos de fato.

Um de seus primeiros atos foi queimar todas as acusações de traição


apresentadas a Tibério, e também chamar de volta os exilados sobreviventes e
restaurou a propriedade confiscada. Ele também publicou todas as contas
públicas, o que era uma exigência que sempre existiu na República, e Augusto
também tinha feito em seu reinado. Ele também aboliu certos impostos
impopulares como um de 0,5% sobre testamentos, e outros impostos de
consumo. E também começou uma série de obras públicas como dois grande
aqueodutos que traziam água para Roma, considerando cavar um canal ao
longo da ilha de Corinto, que só foi feita durante o reinado de Nero. Ele
também aumentou o número de senadores por novas criações, particularmente
das províncias. Ele disse que exilou todas as escravas sexuais que viviam com
Tibério na ilha de Capri. Por um curto período de tempo ele restaurou a eleição
popular de cônsules e outros magistrados. Tudo isso foi nos primeiros sete
meses de seu reinado.

Em outubro de 37, ele adoece, provavelmente de febre, mas sobrevive.


Mas parece que foi esse evento, que fez com que ele mudasse completamente
seu comportamento, e deixasse de ser um bom imperador, com um reinado
promissor, para ser um tirano e sádico. Ele começa um expurgo total da ordem
senatorial, o estimam que ele matou centenas de senadores. Tanto Augusto
quanto Tibério eram adorados como deuses na parte oriental do Império, mas
eles faziam questão de não ser tratados assim na parte ocidental. Declarar um
imperador como deus, era comum para preservar todos os atos feitos por esse
imperador, depois de sua morte, e foi o que aconteceu como Júlio César. E
Calígula se declarou como uma divindade, e ele tinha um templo e um
sacerdócio. Tibério tinha deixado 3 bilhões de sestércios no tesouro na sua
morte, e Calígula gastou tudo isso em apenas um ano. Calígula então ficou
com dificuldades financeiras, e forçou a opressão fiscal dos ricos para nomeá-
lo como herdeiro em seus testamentos. Impostos sobre a prostituição e ações
judiciais foram criados. Ele chegou até a leiloar a vida dos gladiadores. Em um
ano, o Império estava completamente insolvente, já que a capacidade de
tributar as pessoas era bem menor do que hoje, e Calígula passou o resto do
seu governo, até 41, tentando espremer dinheiro de quem ainda tinha alguma
coisa.

Ele mandava construir estátuas de ouro dele em todas as províncias, e


quando chegou aos ouvidos dos judeus na Judéia, que Calígula iria mandar
construir uma estátua sua no templo de Jerusálem, os judeus negaram. Mas
não houve tempo para haver nenhuma revolta, porque Calígula foi assassinado
antes da estátua sua chegar a Judéia. Em 40, Calígula queria mudar a capital
para Alexandria, e governar de lá como um deus, o que não agradou de forma
alguma a aristocracia senatorial.

Quando Calígula morreu, seu rosto foi retirado de qualquer pintura,


moeda, ou aparição pública em todo o Império. Essa prática era conhecida
como Damnatio Memoriae e foi feita também com o imperador Geta, que foi
assassinado por seu irmão Caracala, e também vários outros durante a crise
do século III. Essa prática consistia em apagar da história uma pessoa que era
conhecida como tirana, ou por outros motivos mais sujos, como Stalin fazia
com Trotsky, mandando retirar sua imagem de toda foto que ele estava para
apagar a sua memória.

Depois da morte de Calígula, assume seu tio, Cláudio, um senhor de 50


anos, que foi escolhido pela Guarda Pretoriana. E Cláudio foi o primeiro
imperador a subornar a Guarda Pretoriana para garantir sua obediência e
lealdade, apesar de Augusto ter feito quase a mesma coisa. Cláudio também
não era flor que se cheire, e matou 35 senadores, de um total de seiscentos, e
trezentos equestres durante seu reinado, segundo uma contagem antiga. E era
também especialmente mau, e adorava as lutas de gladiadores, e não permitia
o mício, ou seja, o gladiador perdedor ter uma chance de sobreviver. Cláudio
tinha vários problemas físicos, e relatam que ele mancava, ele gaguejava, e
tinha vários problemas de estômago. Ele sabia falar etrusco e púnico, e
escreveu histórias sobre Cartago e sobre os Etruscos, geralmente em grego.

Um de seus primeiros atos é conceder anistia geral para aqueles


conspiradores que mataram Calígula, exceto o que participaram ativamente,
que são mortos. Ele também recorda todas as pessoas exiladas por Calígula, e
as pessoas que perderam propriedades por causa dele, que tiveram uma certa
restituição. Os únicos que não adoravam ele era o Senado. Ele fez reformas na
justiça, e humanizou um pouco a condição dos escravos. Os escravos que
estavam doentes eram jogados numa ilha no rio Tibre para morrer, e agora
Cláudio declarou que eles se tornariam livres se fossem jogados lá. E mestres
que matassem escravos doentes para economizar gastos médicos, seriam
culpados por assassinato. Dentre as obras públicas, ele mandou fazer uma
estrada que ligava a Itália ao rio Reno, um canal do Reno para o Mar do Norte,
e canalisou o rio Tibre para se tornar um canal ligando Roma ao porto de Óstia,
além de ser construído um novo porto em Óstia. Ele criou um programa de
subsídios ou seguro de finanças do Estado que encourajou as empresas
marítimas privadas a continuarem a transportar cereais de Alexandria à Óstia
todos os anos.

Cláudio chegou a casar quatro vezes, e dizem que ele é facilmente


dominado por mulheres. Sua terceira esposa, era Valeria Messalina, e teve
dois filhos com ela, Otávia e Britanico. Em 48, dizem que Messalina, que dizia
ser ninfomaníaca e com tendências de loucura, se divorciou publicamente de
Cláudio, e se casou com seu amante Caio Sílio. Esse fato pode ter sido o
começo de um golpe senatorial contra Cláudio, já que o Senado já não gostava
muito dele. O golpe foi reprimido com força imediata e de forma muito eficaz, e
os ministros de Cláudio prenderam Messalina e Sílio, e outras pessoas que
podiam estar envolvidas na conspiração, e mataram essas pessoas algo tempo
depois. Cláudio então estava a procura de uma nova esposa, e é apresentada
a ele, Agripina, sua sobrinha e mãe de Nero. Era proibido incesto entre tio e
sobrinha, mas eles abrem uma brecha legal para isso, para que o casamento
dê certo. Agripina, assim como outras mulheres da casa imperial, eram
monstruosamente obcecadas pelo poder. Agripina trabalhou para assumir
grandes áreas da administração do Império, e trabalhou para que seu filho
Nero, tivesse o mesmo status legal que o filho legítimo de Cláudio, Britânico. E
quando Nero é adotado por Cláudio, ele se torna o preferido, porque era mais
velho, e então se torna o herdeiro, apesar de Cláudio preferir que tanto Nero
quanto Britânico assumissem o controle depois que ele morresse. E além
disso, Nero se caso com Otávia, filha de Cláudio.

Em maio de 41, tem a expedição de Paulinos na África, chegando até o


que hoje é o Senegal, na costa oeste do Saara. Em 42 vamos ter o primeiro de
muitos usurpadores, que vão se revoltar contra o imperador, chamado Camillus
Scribonianus, que tomou controle da Dalmácia, mas sua revolta foi sufucada no
mesmo ano e ele foi executado. Em 43, Cláudio manda tropas invadirem a ilha
britânica, e confronta muitas tribos, vencendo na batalha de Medway no
mesmo ano, e outras tribos se aliando com Roma como os Icenos. Em 45, o
controle romano sobre o reino de Bósforo chega ao fim. Em 46, a Trácia, que
era um estado cliente, é anexada. Em 46, temos a revolta de Jacó e Simeão na
Palestina, mas que é facilmente controlada e terminada no ano seguinte. Em
50, os Chatti germânicos atacam o Império, sem muito êxito. No mesmo ano
tem mais uma expedição para a África, feita por Flaccus, onde ele chegou na
atual fronteira entre o Chade e a Nigéria. Em setembro de 51, a última tribo da
Britânia é conquistada, com boa parte da futura província da Britânia sendo
anexada. Cláudio morre em 54, muito provavelmente envenenado por Agripina,
e assume seu filho adotivo Nero.

Nero é conhecido como o imperador mais cruel e louco de todos, devido


à sua grande fama de incendiar Roma, e também por várias representações no
cinema, como no filme Quo Vadis de 1951. Em 58, o Império Parta toma
controle sob a Armênia, que era um estado cliente de Roma, mas no ano
seguinte, Roma recupera o controle. Em 60, Roma anexa novamente o Reino
do Bósforo, e em junho tem uma revolta da tribo Icenos junto com os
Trinovantes na Britânia, liderada pela rainha celta Boadiceia. Eles chegaram a
tomar e massacrar algumas cidades que estavam sob controle do Império
Romano. Depois de algumas perdas, o exército romano se reagrupou, e atraiu
os rebeldes para um terreno mais adequado às táticas de guerra romanas, e
conseguiu derrotá-los. Essa foi uma das revoltas mais violentas contra o
Império Romano, e de acordo com o historiador Tácito (97-século II), após a
derrota, Boadiceia teria se matado ingerido veneno, no ano 61.

Nero incendiou Roma em 64, como um inside job, para botar a culpa nos
cristãos e começar a perseguição oficial. Ele mata sua mãe afogada num barco
armadilha que estava preparado para afundar. Ele tortura cristãos, crucificando
vários e mandando para a arena para serem comidos por leões, conforme foi
bem mostrado novamente no filme Quo Vadis. É famosa a sua imagem
tocando uma lira, enquanto a cidade de Roma ardia em chamas.

Em 62, os romanos são derrotados pelos partos na batalha de Randeia,


e perdem territórios para o Império Parta, apesar de manterem a Armênia como
estado cliente. Em 66, ocorre a primeira Guerra Romana-Judaica, onde os
romanos perdem a batalha de Beth Horon em 66, e a revolta se espalha por
toda a Judeia, só sendo vencida em 70, e prolongada até 73. Em 68, Vindex
declara-se imperador em Lugnunense, e se alia com Galba, mas é derrotado
na batalha de Vesontio. Apesar disso, Nero suicida, e Galba é declarado
imperador em junho de 68. Os Roxalani saqueiam a Mésia no mesmo ano, e
em dezembro Vitélio é declarado imperador na Germânia. Em janeiro de 69,
Galba é assassinado pela Guarda Pretoriana a mando de seu sucessor Otão,
que governa de 15 de janeiro até 16 de abirl. Otão comete suicidio após perder
a batalha de Bedríaco em 14 de abril, e Vitélio assume. Estoura revoltas dos
Trinovantes, Frísios e Batavi, e em julho Vespasiano é declarado imperador na
Judéia, Síria e Egito. Em setembro, Vitélio é derrotado na Segunda Batalha de
Bedríaco, e assassinado em dezembro. E assume então Vespasiano,
marcando o fim do ano dos quatro imperadores.

Essa história do Nero é importante porque precisamos mantêr um certo


ceticismo histórico nas nossas análises. Porque os imperadores que eram
depostos ou mortos pelo Senado e pela Guarda Pretoriana eram obviamente
demonizados, sendo exagerado ou não. Nero não foi deposto, e sim se matou,
mas pode haver um certo exagero na sua loucura e tirania, que faz com que
vendam filmes marcantes e histórias tocantes, como a de Quo Vadis. Mesmo
Tácito admite, apontam os reabilitadores, que Nero foi o patrocinador de
medidas de ajudas efetivas para os desabrigados após o incêndio; e depois de
sua morte, 3 falsos Neros apareceram na região oriental do Império
reinvidicando o poder, e ninguém buscaria tomar o poder fingindo ser um
imperador que era odiado por todos. Eu pessoalmente acho que Nero era sim
um maluco, e está provado que ele começou a perseguição contra os cristãos,
e foi brutal nisso, embora possa ter alguns exageros em outros aspectos de
sua vida.

Vespasiano terminou seu reinado de forma tranquila, sem ser


assassinado. O motivo disso é que ele começou o costume de adotar os
herdeiros, já que não havia critério bem definido de quem iria ser o novo
imperador. Esse costume de adoção vai ser bastante comum no século II, e
funcionou bem, visto que os 5 Bons Imperadores governaram por bastante
tempo, e a Guarda Pretoriana e o Senado só iria assassinar o próximo
imperador em 192, que seria Cômodo. Marco Aurélio foi o primeiro imperador a
produzir um filho e herdeiro que sobreviveu à infância, e este filho o sucedeu,
que era Cômodo. Cômodo foi um dos mais malucos imperadores,
extremamente totalitário, e acabou sendo assassinado pelo Senado em 192.

Vespasiano é conhecido por ser um homem ganancioso, e por ser um


astuto administrador das finanças do Império, chegando ao ponto de instituir
um imposto sobre a urina humana, ingrediente na lavagem e processamento
de tecidos. Um ano depois de sua morte, em 80, foi terminado o Coliseu, que
demorou 10 anos para ficar pronto.

Não podemos falar de Roma sem falar obviamente no Coliseu, que é o


que todo mundo lembra, e uma obra de engenharia que impressiona até hoje.
Apesar de ocorrerem outras atividades no Coliseu, o que todo mundo lembra
são as lutas de gladiadores, muito bem mostrada no filme de 2000. No entanto,
as lutas de gladiadores não nasceram no Império, e muito menos no Coliseu.
Em 264 a.C. no primeiro ano da Primeira Guerra Púnica, Decimus Junius
Brutus Scaeva tinha 3 pares de gladiadores lutando até a morte em público, em
honra a seu falecido pai. Em 183 a.C. ainda na República, já havia lutas de
gladiadores como uma que ocorreu no funeral de Publius Licinius, e foi no
século II a.C. que eles foram difundidas e banalizadas. Em 105 a.C. temos a
evolução dos munera aos ludi, e em 65 a.C. é famosa a que Júlio César faz,
com seus 320 pares. Augusto depois vai criar as Leis Santuárias,  que foram
diversas leis aprovadas para evitar gastos exagerados (sumptus) em
banquetes e vestimentas, como o uso de tintura de púrpura tíria cara. Roupas
individuais também foram regulamentadas: cidadãos comuns do sexo
masculino foram autorizados a usar a toga viril (toga virilis) só ao atingir a
maioridade política. Nos primeiros anos do Império, os homens eram proibidos
de usar seda e detalhes nas roupas, incluindo o número de listras na túnica,
eram regulados de acordo com a classificação social. Obviamente que os
membros do Estado romano violava essas leis, que valiam apenas para os
cidadãos comuns. Em 80 d.C. Tito completa o Coliseu. Em 108 a.C. Trajano
comemora a vitória na Dácia, com 10 mil gladiadores e milhares de animais no
Coliseu.
(representação do Coliseu na época, com o toldo retrátil em cima)

Marco Aurélio viu que a coisa tinha saído do controle, e que os gastos
eram imensos, e tentou banir os jogos, ou pelo menos tentar limitar os gastos,
mas não conseguiu, porque seu filho Cômodo adorava os jogos e chegou a
lutar em alguns (obviamente em plataformas bem protegidas), reverteu tudo.

Quem promovia os jogos era o editor, responsável pela organização, e


quem definia se o gladiador ia sobreviver ou não (o polegar pra cima ou para
baixo). No começo, o editor era um empregado do Mumerator, nas gladiaturas
raiz. Com o tempo o editor passou a ser um oficial público, a serviço dos
magistrados ou dos imperadores. Outra figura era o lanista, que era o dono do
gladiador, que eram escravos ou voluntários, e que tinha poder de vida e morte
sobre os gladiadores, além de alugar os gladiadores e receber uma
indenização caso o gladiador morresse. O questor era um tipo de magistrado,
geralmente juízes, e eram os financiadores e patrocinadores dos jogos. Na
época do imperador Cláudio, havia uma lei que obrigava os questores a
financiar dois terços dos custos dos jogos provinciais. Havia o Doctore, que era
um gladiador aposentado, que treinava os gladiadores. O Lorarius era o
homem responsável por chicotear os gladiadores que hesitavam em lutar.
Havia o Rudis, que era o juíz. E havia os paegnarius que entretiam a população
nos intervalos das lutas, com lutas de brincadeira, músicas, etc. Esses últimos
mostram o caráter populista que as lutas se tornaram com o tempo.

O que os patrocinadores dos jogos queriam não era só entreter a


população, e sim criar uma rede de relacionamento político, e os magistratos
ou pessoas privadas compravam conectividade política, e posições e cargos
políticos, ganhando favores de pessoas mais importantes, como cônsules na
República, ou imperadores no Império. Antes as gladiaturas eram uma forma
de exaltar as virtudes militares para as tropas, e como um dever religioso
chamado Munos. Agora o Estado passou a ocupar essa esfera mítica, e
passou a ser uma exaltação da própria Roma para o povo, o que é muito
perigoso, e vemos isso também com o Estado ganhando papel de Deus com o
Iluminismo e laicismo. E esses jogos vão ficando cada vez mais violentos, com
execuções de prisioneiros e traidores, até que Nero para entreter Tiridates, o
rei da Armênia, organizou jogos com mulheres e crianças.

Plínio, o Jovem (61-112), que promovia banquetes e obras de caridade,


falava que ele podia se gabar do que fazia, e as pessoas que promoviam a
morte na arena não. Então desde sempre já havia algumas pessoas que já
viam com maus olhos as gladiaturas. Roma vestia os gladiadores escravos
com armaduras que lembravam os povos que eles conquistavam, como os
samnitas, os gauleses, germânicos, que eram ridicularizados e derrotados com
o “aço puro e viril” de Roma, dizendo que aquela era a civilização romana
derrotando os bárbaros. Mas espera aí: Roma invade a terra dos cara,
escraviza, mata, então quem é civilizado e quem é bárbaro aqui? Vale lembrar
que os romanos pegavam a palavra bárbaro dos gregos, que chamavam de
bárbaro todo mundo que não falava grego, e os romanos de quem não falava
latim ou não tinha cultura romana. Tertuliano (160-220) fala que eles tratam os
gladiadores como as pessoas mais baixas da hierarquia social possível, párias
da sociedade, mas ao mesmo tempo as pessoas idolatram o que eles fazem. E
com isso estamos na verdade numa posição inferior do que os bárbaros, ou as
pessoas que estão lutando pela sua vida na arena. E deixar o conceito de
bárbarie para a potência que domina o mundo militarmente é extremamente
perigoso, e vemos isso com os Estados Unidos do início do século XX para cá,
onde todo mundo está errado menos eles, e eles podem invadir qualquer lugar.

Juvenal (55- depois de 127) dizia que à medida que Roma perdia sua
natureza aristocrática e se tornava um regime populista, democrático e voltado
para as massas, a população deixou de demandar bens elevados como
segurança, defesa, justiça, e passou a demandar somente pão e circo. E
Cícero completa dizendo que à medida que as pessoas recebiam esse pão e
circo, elas se distraíam, e não pensavam mais em bens elevados que
pudessem realmente satisfazê-las. E esse corrompimento de Roma, é o
principal motivo de sua queda.

A primeira gladiatura aconteceu no Fórum Boário, que era um mercado


de gado. No ano 53 a.C. aconteceram os primeiros jogos em um anfiteatro, que
era um munus em memória de Gálios Cúrio. Ao longo do tempo foram
construídos 400 arenas, hoje existem 230 que sobrevivem, e eram
responsáveis pela morte de 8000 gladiadores por ano. O mais famoso dos
anfiteatros era o Coliseu (o Circus Maximus, ou o Anfiteatro Flávio). Cabiam 87
mil pessoas lá dentro, que eram distribuídas de forma muito organizada,
divididas inclusive por castas sociais. Mais perto da arena se sentavam os
imperadores no Pulvius, onde eles tinham uma visão mais privilegiada da
batalha. As Virgens Vestais, as sacerdotisas do politeísmo romano, se
sentavam em outros cubículos privilegiados. Depois, um pouco atrás se
sentavam os senadores, depois a classe equestres, depois os cidadãos livres,
e lá no fim se sentava escravos, estrangeiros e mulheres. O velário era o toldo
que era extendido e que protegia todos do Sol e era tão complexa a sua
operação que eles chamavam militares da marinha romana para operar. Mais
tarde, Domiciano (81-96) mandou construir o hipogeu, que eram aquelas
galerias subterrâneas do Coliseu, onde estavam as plataformas que alçavam
os elefantes para dentro da arena, os militares responsáveis pela logística, os
médicos, os lanistas, etc. E aclopado ao Coliseu tinha o Ludus Magnus, que
era uma escola de gladiadores, além do Sanitarium (um hospital onde os
gladiadores tinham excelente atendimento médico), o Spoliarium, onde o
gladiador era enterrado, e o Armamentarium, que era onde guardava o
armamento.

No Coliseu não ocorriam apenas as lutas de gladiadores, mas também


execuções como a dos Noxious (pessoas acusadas de alta traição, deserção),
e criminosos mais comuns, os danatium, que recebiam uma arma ruim, mas
que tinham alguma chance de sobreviver. Um desses Noxious era Androcles,
que foi condenado a ser devorado por leões, mas quando o leão foi solto, o
animal o abraçou ele, e nada aconteceu. Depois ele contou que era um
escravo vindo da África, e que conheceu esse leão na savana, e tirou o
espinho do pé dele, e eles ficaram amigos. A chande de ser exagero é grande,
mas a história é engraçada, e ele foi salvo porque a população ficou muito
impressionada. Existiam também lutas de gladiadores com os animais, que
eram chamadas de venationes e os que lutavam eram chamados de bestiarius.
E existiam também batalhas navais, as chamadas Naumaquias. Era muito
difícil em questão de engenharia fazer uma naumaquia, então as primeiras que
foram feitas por Júlio César, Augusto e Cláudio, foram feitos em um rio. César
fez a primeira no rio Tibre, Augusto colocou os navios como parte do cenário, e
atração principal era a briga entre 3000 prisioneiros de guerra que ele
convocou para morrer. Já Cláudio já quis encenar como era uma batalha naval,
e fez toda a cena dos navios se encontrando e foi ali que foi dita a famosa frase
“Ave Caesar, morituri te salutant”, em tradução livre “Ave César, aqueles que
vão morrer o saúdam”. Em 57 Nero faz uma naumaquia num anfiteatro, e Tito e
Domiciano fizeram no Coliseu, e depois deles esse costume entrou em
decadência.
(exemplo de uma Naumaquia, ou batalha naval no Coliseu)
(La naumaquia – Ulpiano Checa)

Num dia de luta, primeiro os magistrados entravam na arena,


acompanhados com vários lictores, carregando o fasces (um feixe de varas
amarradas em volta de um machado, e que depois viria se tornar o símbolo do
fascismo). Depois entrava eram as execuções, as venationes, com várias
bestas. Depois tinha um intervalo, e depois vinha os gladiadores, e tinha lutas
individuais ou em grupo.

Os gladiadores eram prisioneiros de guerra, ou escravos domésticos


fugitivos (caso tivessem bom porte físico), ou até voluntários. Tinha de tudo, até
do cara endividado que ia lá para ganhar um dinheiro e alimentar a família, até
o playboyzinho da classe equestre que queria dar uma de machão para as
moças. E esses voluntários compunham 50% dos gladiadores, e eram de elite.
Até 9 imperadores chegavam a lutar na arena, só que obviamente não lutavam
de verdade, eles ficavam em plataformas bem protegidas, ou era só encenação
mesmo. Um deles era o Comodus, que chegou a matar 100 bestas atirando
flechas e dardos, em uma plataforma privilegiada. Outra vez ele chegou a
degolar um avestruz, e pegou a cabeça do bicho e chegou pros senadores e
disse: “VOCÊS SÃO OS PRÓXIMOS!!!”.

Se um gladiador chegava a durar 4 ou 5 lutas, ele passou por um certo


filtro, e a expectativa de vida era algo em torno de 27 anos. Mas alguns
passavam dessa média e mesmo ficando mais velhos, a experiência
costumava contar mais que a idade, e existiam gladiadores que se
aposentavam com 40 anos, e um deles, Sigério de Cesaréia, se aposentou aos
60 anos. Se for pensar que a maioria da população morria antes de completar
25 anos, não era tão ruim assim ser um gladiador. Os gladiadores que não
eram escravos punidos recebiam ouro, mulheres, e dinheiro como prêmio. Por
lei, eles precisavam ficar 3 anos como gladiadores, mas muitos já tinham
dinheiro para comprar a sua liberadade. E a maioria não passava dos 27 anos
não porque morria, mas porque ia embora e ia fazer outra coisa da vida.

O ludus era a escola de gladiadores, que surgiram em 105 a.C. em


Cápua, e um dos maiores era o Ludus Magnus, que ficava aclopado ao Coliseu
e que chegava a ter 2000 gladiadores. Quando o cara entrava ali, ele estava na
mão do lanista, que tinha uma familia gladiatora. E os gladiadores faziam um
juramento, onde eles aceitavam passar por espancamento, queimadura na
pele, e pelo risco de morrer em combate. Muitos queriam mandar dinheiro para
a família, mas não podia porque tudo era propriedade do lanista, então havia
informalmente um acordo de cavalheiros entre o voluntário e o lanista. Os
gladiadores costumavam ter um dieta baseada em aveia, carboidratos e feijão
e tinha uma camada de gordura para proteção. E a medicina deles era muito
avançado, e até o médico Cláudio Galeno (129-217) adquiriu suas habilidades
treinando com gladiadores no ludus de Pérgamo, na atual Turquia.

Os gladiodores também tinham um certo status com as moças de Roma,


e até a esposa de Marco Aurélio, Faustina chegou a trair ele com um gladiador.
E Marco Aurélio foi condecendente para padrões romanos, mandando os
guardas matarem o gladiador durante o ato sexual com sua esposa. Depois
disso, ele perdoou a esposa e teve 14 filhos com ela para mantê-la ocupada.
Outras mulheres contratavam gladiadores como seus guarda-costas para
mantê-los por perto contra potenciais inimigos, mas às vezes eles ficavam
perto demais. Havia também as gladiatrix, que eram gladiadoras mulheres,
mas que eram uma extravagância, e eram menos normais.
Depois que os gladiadores morriam, o que acontecia com a família? Os
gladiadores tinham uma espécie de sindicato privado, que eram os colegia
gladiatorum, que davam suporte emocional e financeiro para as famílias dos
gladiadores, para pagar o enterro ou sustentar uma viúva ou órfão. Há indícios
de lápides escrito “Para Hermes, dos seus colegas de cela”. Esse apoio
financeiro dos colegia funcionava até como uma forma de previdência privada,
onde um gladiador pagava a aposentadoria da família do amigo que morreu ou
da própria.

O editor que levantava o polegar para cima ou para baixo, era o que
decidia se o gladiador iria viver ou morrer. O polegar para baixo era para
poupar a vida do gladiador, que significava embainhe a espada. E o gladiador
recebia o mício quando era poupado, só que alguns jogos não tinha mício e
quem perdia morria. Os imperadores mais cruéis como Calígula e Cláudio
proibiam o mício porque gostavam de ver os gladiadores perdedores morrerem.
Só que a população começou a ficar incomodada com isso, primeiro porque a
lei natural estava lá no coração dos homens mesmo diante de toda essa
barbárie, e também porque eles começaram a matar gladiadores que eram
populares entre a população. Augusto chegou até a abolir esses jogos sem
mício por um tempo.

(Gladiador fazendo o gesto para receber o mício)


Tinha vários tipos de gladiadores, como os samnitas que usavam
armaduras extravagantes, o Murmillo que era infantaria pesada, que quase
sempre lutava contra o Retiarius, que usava uma rede e um tridente. Havia o
Dimachaerus que usava duas espadas, os equites que eram gladiadores
montados em cavalos, o Hoplomaco que usava armas pesadas. O Provocator
era o único que tinha uma couraça blindada no tórax. Os bestiários lutavam
contra bestas e eram os mais cabra macho de todos. O Scissor usava uma
leve armadura e uma espécie de gancho em forma de lâmina, no lugar da mão.
E por aí vai.
(desenhos dos vários tipos de gladiadores e também de funcionários do
Coliseu)

Dos gladiadores mais famosos temos Spiculus, que era gladiador


pessoal de Nero, que deu para ele palácios, escravos e riquezas que alguns
soberanos da época não tinham. Ou Tetraites famoso por suas lutas em estilo
murmilos que envolviam entrar na arena sem peito empunhando uma espada e
escudo e usando um capacete, ele é bem conhecido por sua vitória sobre
Prudes. Ou Hermes, que era bem treinado em usar várias armas de diferentes
tipos de gladiadores, e era versado em vários estilos de luta. Marcus Attilius era
um romano que estava endividado, e enfrentou Hilarus, um gladiador imperial
que já havia lutado 14 lutas e vencido 12 delas, e Attilius venceu. Carpophorus
era um bestiário muito talentoso em lutar contra animais como ursos, leões,
leopardos e rinocerontes, e chegou a matar 20 bestas e uma única batalha. Ele
chegou a matar algumas estrangulando, dando literalmente um mata leão, e é
tipo um Hércules dos gladiadores. Flamma era um soldado sírio que foi
capturado e lutou 34 lutas e recebeu a espada Rudis quatro vezes, mas
sempre voltava para a arena. Uma das gladiatrix famosas era Mévia, que
lutava topless, e com isso atraiu muitos romanos tarados. E também vale
lembrar de Crixus e Spartacus, que ambos lutaram na Terceira Guerra Servil
(73-71 a.C.).
(Carpophorus enfrentando um leão na arena)
As gladiaturas vão entrando em decadência conforme o Cristianismo vai
se espalhando pelo Império, e a população passa a ter uma moralização maior.
Por volta do ano 200, tinha em média, 200.000 cristãos vivendo no Império
Romano, que tinha por volta de 50 a 60 milhões de pessoas. De tempos em
tempos, durante os primeiros dois séculos d.C., as autoridades romanas
puniram os cristãos. Nesse período não houve uma perseguição geral ou
sistemática; só se registraram sinais disso em meados do século III d.C. Na
prática, a maioria das primeiras gerações de cristãos vivia sem ser perturbada
pelo Estado. No entanto, às vezes serviam como bode expiatório. Nero, por
exemplo, atribuiu-lhes a culpa pelo grande incêndio de Roma em 64 d.C, onde
ele começou a perseguição oficial. Domiciano (81-96) mandava matar os
cristãos ele mesmo, e fez as primeiras leis gerais contras os cristãos, a ponto
de Eusébio associar o regime dele ao que está escrito em Apocalipse 2:13,
quando menciona o martírio.

O Cristianismo rejeitava os deuses que Roma tinha, porque Roma


acolhia os deuses dos povos que conquistavam em seu Panteão, e os cristãos
são monoteístas. O mesmo valia, em certo sentido, para o judaísmo. Mas num
grau notável e sob alguns aspectos inesperado, os judeus conseguiram operar
dentro da cultura romana. Para os romanos, o cristianismo era muito pior.
Primeiro, ele não tinha um lar ancestral. Os romanos, em sua geografia
religiosa ordenada, esperavam que as divindades fossem de algum lugar: Ísis
do Egito, Mitra da Pérsia, o deus judaico da Judeia. O deus cristão não tinha
raízes, era exaltado como universal e procurava por adeptos. Momentos
místicos de iluminação podiam atrair novos devotos para a religião, digamos,
de Ísis. Mas o cristianismo era definido como um processo de conversão
espiritual totalmente novo. Além disso, o Cristianismo criticava a política
romana e a ideia de que os imperadores eram tratados quase como deuses.
Não precisa nem comentar porque os cristãos eram terrivelmente perseguidos,
é porque eles deslegitimavam o poder dos imperadores e das estruturas
romanas. A frase completa de Romanos 13 é: “Daí à César o que é de César, e
dai à Deus o que é de Deus”. Muitos usam essa frase para justificar que a
Igreja Católica é estatista e defende impostos, mas o que Cristo quis dizer é
que as pessoas tratem César, os imperadores, como pessoas comuns, e que
somente o Deus verdadeiro deve ser tratado com respeito e que devemos
seguir seus ensinamentos.

Um momento particularmente revelador é o relato que uma mulher cristã


fez do próprio julgamento, antes de ser morta em um anfiteatro da Cartago
romana em 203 d.C. durante o reinado de Septímio Severo (193-211). O
próprio Sétimo Severo tinha servos cristãos, mas só porque estes não se
revoltavam contra ele, e enquanto isso, ele fez uma grande perseguição aos
cristãos. O nome da mulher era Vibia Perpetua, uma cristã recém-convertida,
de 22 anos, casada e com um filho bebê, presença do procurator da província,
que assumira o lugar do governador recém-falecido . Seu interrogador fala que
ela será liberada se fizer um sacrifício para o imperador, e ele se nega, e ele
pergunta se ela é cristã, ela responde que sim, e é sentenciada à morte. Então
ela é jogada na arena junto com Santa Felicidade, e o gladiador se recusa a
matar a jovem cidadã romana. Mas se ele não matasse quem iria morrer era
ele, então Santa Perpétua pega a espada e corta a própria garganta, para
poupar a vida do gladiador.

(Execução de Santa Perpétua e Santa Felicidade)

O primeiro imperador a se converter ao Cristianismo, foi Constantino em


337, onde foi batizado em seu leito de morte. A partir dele, ao invés de templos
de Júpiter ou estátuas de imperadores, os imperadores passam a mandar
construir igrejas. Constatino decreta o fim da perseguição aos cristãos, mas
não consegue acabar ainda com as gladiaturas porque era algo ainda muito
arraigado na cultura romana.

Depois vem o Teodósio I (379-395), o imperador que se converteu ao


Cristianismo. Teodósio é famoso por fazer o massacre de Tessalônica em 390,
e receber uma bronca de Santo Ambrósio (340-397) e ser excomungado por
ele, além de ser proibido de entrar na Igreja e ser obrigado a se vestir de
mendigo e fazer penitência, pedindo perdão pelo massacre dos inocentes. Em
393 ele baniu os munera gladiatorum pagãos, e agora as lutas restringiam só
aos ludi.

Em 404, ocorre o martírio que acabou com as gladiaturas. São


Telêmaco era um espectador dos jogos, e entrou na arena para impedir que
um gladiador matasse o outro derrotado. A população se enfureceu e mandou
ele sair dali, ele se recusou e foi apedrejado até a morte. Quando isso chegou
aos ouvidos do imperador Honório (395-423), ele baniu de vez as gladiaturas.

Voltando a falar do reinado de Vespasiano, vejamos agora como foi a


sua política externa. Em 70 tem uma rebelião de brigantes na Britânia,
sufocada em 71. No mesmo ano, Jerusalém é conquistada e destruída, e Parisi
é conquistada. Em 78 a tribos dos Ordovicos é conquistada na Britânia.
Basicamente é isso, já que seu reinado é bem tranquilo, e sendo ele um bom
administrador, foi próspero também. Em 79 ele morre de causas naturais e
assume seu filho Tito. Em 80, tem a invasão de Agricolas na Caledônia, atual
Escócia. Tito é famoso por matar muitos judeus na revolta judaica, mas como
imperador só governa por 2 anos, e seu irmão Domiciano assume em 81. Em
83, tem a guerra contra a tribo Chatti na Germânia, e Roma conquista Campos
Decúmanos, uma pequena região dessa tribo. Em 85 os dácios invadem a
Mésia, e em 87 os romanos saem da Caledônia. As expedições para a África
continuam, sendo que de 62 a 67 ainda no reinado de Nero os romanos
chegaram na atual fronteira entre Uganda e Quênia, bem longe de Roma, já na
África central. Em 70 eles chegam na fronteira do atual Níger e Burkina Faso, e
a última expedição é em 90 onde eles chegam na fronteira dos atuais Chade
com Camarões. Em 89, os romanos atacam a tribo Quadi além do Danúbio,
entre a Germânia e a Dácia, e são derrotados. No mesmo ano, fazem um
tratado de paz humilhante com a Dácia (atual Romênia). Em agosto de 89, o
general Saturninus se declara imperador na Germânia, mas sua rebelião é
rapidamente suprimida. Em 92, Iazyges, Markomanni e Quadi atacam a
Panônia e são repelidos. Em 96, Domiciano é assassinado numa conspiração
palaciana, e o senador Nerva assume como imperador pelo Senado.

A partir de agora, Roma entra no período que ficou conhecido como o


dos “5 Bons Imperadores”, que são eles: Nerva, Trajano, Adriano, Antonino
Pio, e Marco Aurélio. O primeiro deles, Nerva, já era bem velho e morre em 98,
e assume o general Trajano. Trajano era da Hispânia, o que agora
representava que o imperador podia ser de qualquer província. Em 100,
estoura uma guerra contra os dácios e Roxolani, e os Iazyges se aliam com
Roma. Em 101, os romanos derrotam os dácios na batalha de Tapas, e em 102
na batalha de Adamclisi, e no mesmo ano fazem um acordo de paz. Em 105
estoura a segunda guerra contra a Dácia, e em 106 os romanos anexam o
reino Nabateu ao lado da Judeia. Em novembro de 106, Sarmizegetusa, a
capital da Dácia é conquistada, e o território se torna uma província romana.
Em 113, o Império Parta toma controle da Armênia, e no mesmo ano Roma
ataca os dois. A Armênia é conquistada no mesmo ano, e organizada como
uma província, e em 115 Trajano invade o Império Parta, tomando parte
considerável de seu território, e a capital Ctesifonte é conquistada, e é
organizada a província da Mesopotâmia. Mas em 116 estoura várias rebeliões
judaicas espalhadas no Egito, Chipre, Judéia, Síria, e em 117 Trajano morre na
Cilícia.

O segundo imperador dos 5 é Adriano, que derrota os rebeldes judeus, e


em 117, os Roxolani se revoltam. No mesmo ano, Adriano retira as forças
romanas do Império Parta e retorna seus territórios, e a Armênia é agora
estado cliente não mais uma província. Em 122 é começada a construção da
famosa muralha de Adriano que separa o norte da Britânia romana da Escócia,
com 4 metros de altura, 2,5 de largura, e 118 Km de extenção, ficando pronta
em 126. Para quem conhece Game of Thrones, a muralha da série é baseada
na muralha de Adriano.

(Muralha de Adriano)
Em 132 eclode a revolta de Bar Kokhba na Judéia, novamente por
judeus rebeldes, suprimida em 135. Em 133 ocorre uma invasão alana na
Capadócia vinda da Rússia passando pelo Caúcaso, em que parte é derrotada
e o resto recua e foge. Adriano unilateralmente perdoou 225 milhões de dinares
em impostos atrasados, o que gerou um grande ressentimento entre as
pessoas que já haviam dolorosamente se esforçado para pagar seus tributos
por completo. Em 138 Adriano morre e assume Antonino Pio, apoiado pelo
Senado. Em 139, ele conquista a Caledônia, e em 142 é começada a
construção da muralha Antonina nesta região, acima da muralha de Adriano.

(Muralha de Adriano e Antonina, por Brasil Escola)


Em 145 ocorre uma revolta pequena dos dácios, rapidamente reprimida
no mesmo ano. Em 151, estoura revoltas judaicas e aqueias, na Judeia e
Corinto, respectivamente, rapidamente reprimidas no mesmo ano. Em 152 tem
uma pequena revolta na Mauritânia, atual norte de Marrocos e Argélia, também
controlada no mesmo ano. Em 161, Antonino Pio morre, e assume Marco
Aurélio que escolhe Lúcio Vero como seu co-imperador.

Durante o reinado de Marco Aurélio, vai estourar a Praga Antonina, que


vai durar de 165 até 180. Tem esse nome, porque estourou durante a dinastina
Antonina que governou de 96 a 192.  Esta epidemia tinha como sintomas febre,
erupções cutâneas e diarreia, de acordo com Cláudio Galeno. De acordo com o
historiador romano Dião Cássio, no auge, a praga matava mais de 2000
pessoas por dia na cidade de Roma, com uma taxa de mortalidade de 25%
dentre os adoecidos. Estudos modernos estimam o total de mortos em mais de
5 milhões de pessoas, com algumas cidades perdendo até um-terço de suas
populações. Em particular, o exército romano foi bem enfraquecido pela peste,
com milhares de soldados adoecendo e morrendo, especialmente no leste.
("O anjo da morte indo até a porta de Roma", por Jules-Élie Delaunay.)

Fontes antigas concordam que a epidemia apareceu primeiramente


durante o cerco romano a cidade de Selêucia, durante o inverno de 165–166. O
historiador australiano Rafe de Crespigny especula que a praga pode ter se
originado na China (como sempre), durante a Dinastia Han, antes do ano 166
da era Cristã, segundo relatos feitos em registros chineses históricos.
Especula-se que a morte de Lúcio Vero em 169 foi causada por esta doença, e
talvez até a de Marco Aurélio em 180.

Em 162, o Império Parta toma controle da Armênia, e os Chatti invadem


a província da Germânia. Em 163, Roma retoma o controle da Armênia. Em
164 Lúcio Vero começa uma guerra contra os partos, e anexa alguns de seus
territórios, e saqueia Ctesifonte em 165. Em 165, as guerras marcomanas
começam, e os marcomanos e lombardos invadem o Império. Em 166 tem uma
massiva invasão das tribos germânicas que cruzam o Danúbio rumo a Sul. Em
167 os lombardos atacam a Panônia, e os Iazygy invadem a Dácia. Em 170, os
Costoboci, das tribos Sármatas, saqueiam a Mésia e a Macedônia. Em 171 é
feita a paz com os Roxolani, com os Iazygy e outras tribos Sármatas. Em 172 é
feita a paz com os Quadi, e no mesmo ano tem a revolta de Isidoro no Egito,
mas que é derrotada em meses. Um ano depois, os Quadi quebram seu
tratado com Roma. Em 173 os romanos são cercados em Marcomania, e os
Chauci e Ermunduri saqueiam a Bélgica. Os Chatti atacam Campos
Decúmanos. Os romanos milagrosamente conseguem sair do cerco em
Marcomania em julho de 173. Os bérberes atacam o norte do Marrocos e sul
da Espanha, sem sucesso. Em 174 é feita a paz com os Chauci e Ermunduri.
No mesmo ano é feita uma grande invasão romana contra os Quadi e
Marcomanos na Germânia. Em 175 um usurpador, chamado Avídio Cássio se
declara imperador na Síria, e Marco Aurélio faz às pressas uma paz com os
germânicos, em julho Avídio é assassinado. Em 176, Marco Aurélio eleva seu
filho Cômodo à Augustus. Em 177, os Quadi e Macomanos se rebelam contra
Roma. Em 180, Marco Aurélio morre na Récia, e Cômodo se torna imperador.

Marco Aurélio é conhecido por ser um rei filósofo, e seguidor da linha do


Estoicismo, onde escreveu seu Meditações nas campanhas militares de 171-
175. Seu conteúdo é representativo da filosofia e espiritualidade estoica, em
particular da orientação de Epicteto, mas não se limita estritamente a esta
corrente, incorporando alguns elementos do platonismo e do epicurismo, além
de tere citações de Antístenes, Crísipo, Demócrito, Eurípides e Homero.
Seguindo Epicteto, Marco afirma que todas as atribuições do bem ou do mal
são produto de julgamentos humanos. Como disse Epicteto, o que perturba as
pessoas não são as coisas em si, mas sim seus julgamentos sobre elas. A
tarefa do filósofo seria então submeter as impressões a um exame rigoroso,
certificando-se de não tomar como verdadeiras as impressões que incluam
quaisquer julgamentos de valor injustificados. Para ele o universo é fruto da
providência divina, e a felicidade está dentro do alcance, residindo na virtude e
no trabalho em prol do bem-estar coletivo, não fazendo distinção entre o bem
do indivíduo e o bem de toda a comunidade, comparando a comunidade com
um corpo e os indivíduos como seus membros, constituídos de forma a
trabalhar juntos, mas em muitas passagens se impõe ideais altos demais em
termos de conduta pessoal, enquanto lamenta a superficialidade, a rusticidade,
a impiedade e outras falhas em si mesmo e na humanidade em geral.
Meditações é reverenciado como um monumento literário a um governo de
serviço e dever. De acordo com Hays, o livro era um dos favoritos de Cristina
da Suécia, Frederico, o Grande, John Stuart Mill, Matthew Arnold e Goethe, e é
admirado por figuras modernas como Wen Jiabaoe e Bill Clinton. Tirando a
rainha Cristina da Suecia e Goethe, o resto ninguém presta, mas vale a
menção honrosa ao rei filósofo.

Enfim, logo que Comodus assume, em 180 ele se recusa a lutar contra
os germânicos, e abandona as regiões além do rio Danúbio. Em 181, tem uma
pequena guerra contra os Iazyges, que acaba em 182, sem mudança de
território. Em 183 tem uma revolta na Dácia, reprimida no mesmo ano. No
mesmo ano, Lucila, a irmã do imperador e viúva de Lúcio Vero, irritada com a
sua posição secundária e ciumenta da imperatriz reinante, armou um assassino
para matar seu irmão, mas que foi impedido pelos guardas. Enquanto
mergulhava no sangue e na luxúria, Cômodo confiou os assuntos públicos a
Perene, um ministro servil e ambicioso que obtivera seu posto pelo assassínio
de seu predecessor e que era dotado de bastante vigor e habilidade. Por meio
de atos de extorsão e o confisco de bens dos nobres, acumulara uma imensa
fortuna. Os guardas pretorianos estavam sob o seu comando imediato e o seu
filho, que já revelara gênio militar, comandava as legiões ilirianas. Perene
aspirava ao império, ou o que aos olhos de Cômodo equivalia ao mesmo crime.
Teria sido capaz de aspirar a ele se não houvesse sido obstado, surpreendido
e executado em 186.

Em 189 um monopólio dos grãos, amparado nas riquezas e no poder do


novo ministro Cleandro, gerou uma revolta. O povo acorreu em massa a um
palácio dos subúrbios, um dos retiros do imperador, e exigiu com vozes iradas
a cabeça do inimigo público. Cleandro mandou a guarda pretoriana, alguns
foram trucidados e muitos mais espezinhados até a morte. Todavia, quando os
cavalarianos se enfiaram pelas ruas, a perseguição foi detida por uma chuva
de pedras e dardos vinda dos tetos e das janelas das casas. Os guardas a pé,
havia muito ciumentos das prerrogativas e da insolência da cavalaria
pretoriana, tomaram o partido do povo. Os pretorianos cederam finalmente ante
o peso do número, e a maré da fúria popular voltou-se com redobrada violência
contra os portões do palácio onde Cômodo se entregava à luxúria. Cômodo
despegou-se do seu sonho de prazer e ordenou que a cabeça de Cleandro
fosse atirada à turba, o que acalmou instantaneamente o tumulto.

Em 184, os Caledônios invadem a Britânia, e os romanos são enviados


para além da muralha de Adriano. Mas em 185 tem um motim das legiões na
Britânia, que durará até 187. Em 186 o Império Parta toma controle da
Armênia, e tem outro motim das legiões, só que na Germânia, atual Bélgica.
Em 186-187 Comodus controla os dois motins e retoma alguns territórios

conquistados pelos Caledônios. Mas em 187 os Chatti invadem Campos


Decúmanos, rapidamente reprimidos. Cômodo recebia do fundo comum dos
gladiadores um estipêndio tão exorbitante que este se tornou um novo e
deveras ignominioso imposto sobre o povo romano. Em dezembro de 192,
Cômodo é assassinado a mando do Senado. O assassinato de Cômodo
ocorreu quando ele se recolheu para dormir, e enquanto sofria os efeitos do
veneno e da embriaguez, um jovem robusto, lutador profissional, entrou na sua
alcova e o estrangulou sem resistência. O corpo foi secretamente retirado do
palácio antes de a corte, ou a cidade, nutrir a mínima suspeita da morte do
imperador. Então assume Pertinax como imperador, oficial veterano que servira
sob Marco Aurélio.

No entanto, Pertinax é assassinado pela Guarda Pretoriana, já que quis


reformar o corrompido Estado romano, após um reinado de apenas oitenta e
seis dias. A Guarda Pretoriana então literalmente faz um leilão do trono, que é

vencido por um abastado e néscio senador Dídio Juliano. Mas Sétimo Severo é
declarado imperador na Panônia, e Pescenius Niger na Síria. Em julho de 193,
Didío Juliano é morto por Sétimo Severo, e Clódio Albino é declarado César
por ele. Em outubro de 193, Pescenius Niger é derrotado na batalha de Cízico
e na de Niceia. Em maio de 194, pescenius é derrotado e morto na batalha de
Issus, na Síria, e a cidade de Bizâncio é saqueada. Em 196 começa a guerra
entre Sétimo Severo e Clódio Albino, onde este último é derrotado e morto em
197 na batalha de Lugduno. Em 196, Caracala se tornou César de Sétimo
Severo, uma espécie de príncipe. Em março de 197, o Império Parta anexa
partes da Mesopotâmia, mas os romanos marcham e saqueiam Ctesifonte em
198, acabando com a guerra, além de anexarem parte do território. Em 198,
Caracala é declarado Augustus e Geta, seu irmão, é declarado César. Em 199,
Roma retoma o controle sob a Armênia. Em 202, Sétimo Severo começa
campanhas militares contra os Garamantes no deserto do Saara, e anexa parte
de seus territórios. Em 208, Sétimo Severo começa as campanhas militares
contra os Caledônios na Britânia. Em 209, os territórios da África são
reconquistados pelos Garamantes. Esses garamantes era um povo do Saara,
que construiu uma grande civilização baseada no deserto, e vendia pedras
para Roma. Em 209, Geta é declarado Augustus, e em 211 Sétimo Severo
morre em Eboraco, Britânia. Caracala e Geta então se tornam imperadores.

Sétimo Severo deu 18 anos de paz ao Império, mas a um custo muito


alto. Ele no início baniu a Guarda Pretoriana de Roma após o assassinato de
Pertinax, mas depois achou conveniente reestabelecer a Guarda quatro vezes
maior que anteriormente. Por ter descartado até mesmo as formas de
autogoverno, e por ter deixado a capital à mercê dos soldados, Gibbon
considera Sétimo Severo "o principal autor do declínio do império romano”.
Em 211, os romanos abandonam os territórios além da muralha de
Adriano. Em dezembro do mesmo ano, Geta é assassinado por Caracala. Em

213, Alamanos e Chatti invadem Campos Decúmanos. Em 214, Carpi e


Iazyges atacam a Dácia romana, mas não conseguem nada. Em 216, Caracala
começa uma guerra com o Império Parta, mas é morto no ano seguinte por seu
oficial pretoriano Macrinus, que se torna imperador. Em 217, os romanos são
derrotados na batalha de Nisibis, e a guerra termina com os partos retomando
os territórios. Em 218, Heliogábalo é declarado imperador pelas legiões sírias,
e Macrinus é derrotado na batalha de Antióquia e morto enquanto corria com
seu filho, e Heliogábalo (Elagabalus) se torna imperador. No mesmo ano, um
usurpador, chamado Gellius Maximus é declarado imperador na Síria, mas é
facilmente derrotado.

De acordo com Gibbon, Heliogábalo era extremamente degenerado e


ele:

“simulava copiar as vestes e maneiras do sexo feminino...


e desonrava as principais dignidades do império com distribuí-
las entre os seus numerosos amantes, um dos quais foi
publicamente investido do título e autoridade de imperador, ou,
como ele mesmo dizia com mais propriedade, de esposo da
imperatriz”. (GIBBON, Edward, 1776).

Heliogábalo tolamente tentou punir os guardas pretorianos pela sua


predileção por um jovem primo seu, Alexandre Severo, que o sucedeu . Em
221, Severo Alexandre é apontado César por Heliogábalo. Em 222,
Heliogábalo é assassinado pela Guarda Pretoriana, por uma conspiração
instigada por sua avó Júlia Mesa. Severo Alexandre é então o novo imperador.

Em 222 ocorre uma guerra civil no Império Parto, e os partos são


derrotados na batalha de Ramhormoz, e são anexados completamente pela
Pérsia em 224. Em 231, a Pérsia invade as províncias romanas do leste e toma
algumas partes delas. Em 232, o usurpador Taurinius é declarado imperador
na Síria, mas é rapidamente derrotado. No mesmo, ano Severo recupera os
territórios perdidos pela Pérsia em 231. Em 234, os Alamanos atacam a Gália
romana, e são repelidos. No entanto, em março de 235, Severo Alexandre é
assassinado por suas tropas, e assume Maximino Trácio, marcando o início da
terrível crise do século terceiro.

O reinado de Severo Alexandre foi razoavelmente próspero e ele usou


seus consideráveis talentos numa luta incessante contra os motins militares, de
uma a outra ponta do império, num dos quais seu amigo mais chegado e
conselheiro, o célebre advogado Ulpiano, foi perseguido até dentro do palácio
imperial e morto aos pés do imperador por causa de alguma imaginária desfeita
aos guardas pretorianos.

(Império romano no seu auge territorial durante o reinado de Trajano)

Durante esses dois primeiros séculos da era cristã, a maioria da


população do Império deveria ser de agricultores, pequenos proprietários de
terras, lutando para cultivar o suficiente para seu próprio sustento, às vezes
saindo-se melhor, conseguindo um pequeno excedente. Para essas famílias, o
domínio romano contava pouco, exceto por implicar um coletor de impostos
diferente, uma economia de maior porte onde podiam vender sua produção e
uma gama maior de bugigangas para comprar se tivessem algum dinheiro
sobrando.
No entanto, não há quase nenhum relato sobre essa população rural do
Império. O que há alguma coisa é relatos de pessoas mais simples vivendo em
vilas e cidades. Havia extrema pobreza urbana, e fica implícito que havia
pessoas sem teto, fossem locais ou estrangeiros, cidadãos, novos imigrantes
ou escravos fugidos, fazendo exatamente isto, acampando nos grandes
túmulos da aristocracia situados à beira das ruas nas principais cidades do
Império. Outros, preferiam improvisar cabanas apoiando algum anteparo
inclinado sobre qualquer muro que estivesse disponível, de arcos a aquedutos,
que segundo outras leis podiam ser demolidas se oferecessem risco de
incêndio ou ainda, se não, ter aluguel cobrado. As cidades romanas se
assemelhavam à cidades de Terceiro Mundo, com grande quantidade de
favelas, e pessoas pobres.

Nem mesmo a doação de trigo na cidade de Roma, fruto da iniciativa de


Caio Graco na década de 120 a.C., podia garantir a sobrevivência dessas
pessoas, mas certamente sublinha a responsabilidade do Estado pela
alimentação básica de seus cidadãos. No entanto, os beneficiários eram um
grupo grande, mas ainda assim limitado e privilegiado, de cerca de 250 mil
cidadãos homens nos séculos I e II d.C., que recebiam o suficiente para manter
cerca de duas pessoas à base de pão. Homens, mulheres e crianças sem
ocupação permanente ou habilidade especial, que devem ter tentado arrumar
algum trabalho eventual em bares e restaurantes ou na indústria do sexo, como
carregadores ou transportadores nas docas ou como peões na construção.
Havia bastante oferta desse tipo de trabalho.

Aqueles que precisavam de uma renda regular para sobreviver, ou seja,


a maioria da populaçao, trabalhavam, se pudessem, até morrer. Muitas
crianças trabalhavam a partir do momento em que estavam fisicamente aptas,
não importa se eram livres ou escravas. Uma lápide na Espanha mostra uma
criança de quatro anos, mostrada carregando suas ferramentas de mineração,
tenha sido colocada em memória de algum jovem mascote do sítio de
mineração. Mas é mais provável que tenha sido de um trabalhador ativo.
Somente os filhos dos ricos passavam a juventude aprendendo gramática,
retórica, oratória e filosofia.
No final do século I a.C., um padeiro empreendedor foi responsável por
um grande memorial a si mesmo e à esposa em um local nobre logo à saída
dos muros da cidade de Roma. Marcus Vergilius Eurysaces era provavelmente
um ex-escravo, e — a julgar pelo porte do túmulo, com dez metros de altura —
havia ganhado muito dinheiro com seus negócios. O epitáfio descreve-o como
“padeiro e fornecedor”, o que aponta no mínimo para uma rede de padarias e
provavelmente para lucrativos contratos públicos de fornecimento de pão.

Havia aspectos comunitários e sociais também, já que as lojas e oficinas


criavam um contexto para atividades conjuntas dos trabalhadores, para a
promoção dos interesses que eles tinham em comum e também um senso de
identidade. Por todo o Império, floresceram associações de comércio local , os
collegia, com membros que eram livres ou escravos, uma combinação que
reflete a usual mistura de status na maior parte das modalidades de trabalho.
Em um collegia sediado nos arredores de Roma, regras criadas no século II
d.C. estipulavam que qualquer escravo que se tornasse livre, teria que doar
“uma ânfora de bom vinho” aos demais, presumivelmente para uma festa de
celebração. Às vezes as sedes eram impressionantes, e as associações tinham
uma estrutura administrativa definida, regras e regulamentos, taxas de
admissão e anuidades, abrigar núcleos de discussão e jantares de
confraternização e também funcionar como agências de seguro para enterros.
Isso porque um dos motivos que levavam a pessoa a se filiar a alguma
associação era a garantia de um funeral decente, o que pode explicar em parte
o destaque dado às descrições dos trabalhos nos epitáfios. Você era enterrado
como carpinteiro, em um funeral pago por carpinteiros, e assim por diante.

Há também registro de várias tentativas de impor restrições legais ou


cobrar impostos dos bares e restaurantes. Tibério, por exemplo, ao que parece
proibiu a venda de bolos e doces, Cláudio aboliu totalmente as “tabernas” e
proibiu servir carne cozida e água quente (que presumivelmente era misturada,
no estilo romano, ao vinho — mas então por que não proibir o vinho?); e,
Vespasiano teria estipulado que bares e botequins não deveriam vender
nenhum tipo de comida, exceto ervilha e feijão. Mas provavelmente foi uma
legislação mais simbólica, e que o Estado romano jamais teria condições de
aplicar.
Os estabelecimentos que os romanos comiam era o oposto do que é
hoje: os romanos ricos, com suas cozinhas e várias salas, comiam em casa; os
pobres, se quisessem bem mais do que o equivalente antigo a um sanduíche,
tinham que sair. As cidades romanas eram cheias de bares, e era neles que
um grande número de romanos comuns gastava várias horas de sua vida fora
do trabalho. Os bares eram construídos segundo uma planta bastante
padronizada: um balcão defronte à calçada, para quem pedia comida “para
viagem”; uma sala interna com mesas e cadeiras para consumo no local, com
garçons servindo; e geralmente um mostrador para comida e bebida, assim
como um braseiro ou forno para preparar pratos e bebidas quentes. Era
comum jogos de azar, de tabuleiro e jogo de dados entre as pessoas que
frequentavam os bares, e vire e mexe acontecia brigas. O Estado romano
também tentou controlar os jogos, restringí-los à certos horários, mas também
não deu certo.

Em geral a lei estava fora do alcance da maioria da população, que,


frequentemente encarava julgamentos e processos legais mais como uma
ameaça a ser temida do que como uma possível proteção.

Considerando o mundo romano como um todo, zona rural e urbana, o


número de alfabetizados devia ser inferior a 20% dos homens adultos, e menor
que 5% da população total. Mas deve ter sido bem mais alto do que isso nas
comunidades urbanas, onde pequenos comerciantes, artesãos e escravos
precisariam de algum nível básico de alfabetização e de domínio de aritmética
para desempenhar suas funções (anotar pedidos, contar dinheiro, organizar
entregas e assim por diante). Há indicações também de que uma
“alfabetização funcional” proporcionava até mesmo às pessoas “medianas”
algum acesso ao que poderíamos considerar como alta cultura clássica. As
indicações são de que, mesmo em porções digeríveis, a poesia de Virgílio era
um bem cultural compartilhado, a ser citado, adaptado ou mesmo usado em
piadas e brincadeiras.

No final do século I, Corinto e Cartago, as cidades que foram destruídas


por Múmio e Cipião Emiliano em 146 a.C., eram agora duas das cidades mais
prósperas do Império. Até onde podemos saber, mesmo sob o domínio dos
imperadores, praticamente não havia nada como uma política geral para
condução do Império ou uma estratégia abrangente de posicionamento militar.
Na maioria das vezes o envolvimento do imperador seguia o padrão de Trajano
na Bitínia, de lidar com os problemas conforme apareciam. Houve um gradual
afastamento das grandes empresas de coletores de impostos amigas do
governo, cujo incentivo sempre havia sido extrair o máximo de dinheiro
possível da população das províncias. O sistema continuou diversificado e os
publicani seguiram desempenhando seu papel, mas uma parcela bem maior da
coleta de impostos passou à responsabilidade dos locais, o que também era a
opção mais barata. Na maioria das províncias, um oficial especialista em
finanças, ou procurator, designado pelo imperador, cuidava das propriedades
imperiais e supervisionava a coleta de impostos. O que pode-se afirmar com
certeza é que os romanos praticamente não fizeram nenhuma tentativa,
mesmo durante essa fase mais tranquila de controle imperial, de impor suas
normas culturais ou de erradicar tradições locais, apesar deles tentarem
aniquilar os druidas na Britânia.

A metade oriental do império continuou em grande parte falando grego,


não latim. Os calendários locais não foram muito alterados, exceto por algum
realinhamento ocasional ao ciclo de vida do imperador ou à celebração de seus
feitos. No Norte e Oeste do Império é que a imposição romana foi mais forte, e
cidades e vilas foram fundadas do zero no estilo romano. O padrão era que
hierarquias locais preexistentes foram transformadas em hierarquias que
serviam a Roma, e o poder dos líderes locais foi subordinado às necessidades
do governador imperial. Pausânias escrevia os dez volumes da sua Descrição
da Grécia (ou Periegesis), onde dá ao domínio romano tratamento exatamente
oposto: uma silenciosa erradicação, uma silenciosa destruição das culturas
locais, e talvez podemos considerar a primeira iniciativa globalista do mundo.
Já Plutarco criou o termo “cultura greco-romana” e em sua obra Vidas
Paralelas, ele compara as duas civilizações com figuras históricas parecidas.
Ele junta dois pais fundadores, Rômulo e o grego igualmente lendário Teseu;
dois grandes oradores, Cícero e o ateniense Demóstenes; dois famosos
conquistadores, Júlio César e Alexandre, o Grande; e um par de traidores
igualmente célebres, Coriolano e seu contemporâneo, o glamoroso mas pouco
confiável ateniense Alcibíades.
Havia nas províncias desobediência e sonegação de impostos,
resistência passiva e protestos populares, com frequência dirigidos tanto às
elites locais quanto aos romanos. Agora, rebelião aberta, armada, contra a
ocupação romana, parece ter sido rara nos dois primeiros séculos depois de
Cristo. Algumas dessas rebeliões são a do germânico Armínio, que destroçou
as legiões na Batalha da Floresta Teutoburgo, ou a guerreira e rainha celta
Boudiceia, que resistiu por 2 anos à ocupação romana da Britânia, além da
fortaleza de Massada, onde em 73 d.C. cerca de 900 rebeldes judeus, após
longo cerco, preferiram o suicídio à rendição, é hoje um monumento nacional
israelita. No entanto, esses conflitos são exceções.

A revolta judaica, que começou em 66 d.C., derivou em grande parte de


divisões na classe governante da Judeia e da desconfiança mútua entre ela e
as autoridades romanas. A ordem do governador de açoitar e crucificar alguns
judeus na província, que eram também cidadãos romanos, foi uma forte
provocação. A maior parte dos líderes rebeldes tinha conexões muito próximas
com a administração romana. Armínio, que massacrou as legiões de Varo, em
9 d.C., e Júlio Civil, que liderou outra rebelião germânica em 69 e 70 d.C., eram
ambos cidadãos romanos e ex-membros do Exército romano, além de
pertencerem à aristocracia local. Mesmo o levante de Boadiceia na Britânia em
60 d.C. segue esse padrão. Boadiceia pertencia a uma família da elite local de
colaboradores, e era viúva de Prasutagus, líder dos bretões do leste da
Inglaterra e aliado de Roma. Ao morrer, deixou metade de seu reino tribal para
o imperador e metade para suas filhas, uma divisão sensata que pretendia
assegurar uma continuidade pacífica. Nesse caso, segundo escritores
romanos, foi o comportamento de alguns romanos ao tomarem posse do
legado que provocou a centelha da rebelião. Eles avançaram com brutalidade
determinada, ou imprudente: soldados saquearam a propriedade de
Prasutagus, estupraram suas filhas e açoitaram a viúva. Como reação,
Boadiceia reuniu seus apoiadores e partiu para o ataque. A milícia de
Boadiceia destruiu instantaneamente três cidades romanas na nova província,
incendiando-as e matando cruelmente os habitantes.

As histórias de Tácito, e de outros escritores romanos, contêm longos


discursos de muitos dos destacados opositores ao domínio romano. Neles,
Boadiceia denuncia os luxos imorais da “civilização” romana e os seus modos
efeminados, ao mesmo tempo que lamenta a libertas perdida dos bretões —
uma perda simbolizada pelo estupro de suas filhas e por seu próprio
açoitamento. Júlio Civil na Germânia incentiva seus seguidores comparando o
domínio romano à escravidão, e não a uma aliança, ao listar as injustas
arrecadações feitas pelo poder imperial. Mas a fala mais memorável de todas,
presente na biografia que Tácito escreve de seu sogro, é a de um dos inimigos
de Roma, que, no discurso proferido antes de entrar em batalha contra
Agrícola, desafia o domínio romano e o que ele traz como consequência. Os
romanos, sustenta, são os ladrões do mundo, insaciáveis por domínio e lucro.
E numa frase muito citada que ainda faz sentido, resume o projeto imperial
romano assim: “eles criam desolação e chamam isso de paz”, “solitudinem
faciunt, pacem appellant”.

Por volta do ano 200, cerca de 20% da população livre era cidadão
romano. A cidadania dava vários benefícios, cobrindo uma ampla questão de
contratos e punições. Na década de 60 d.C., São Pedro foi crucificado
enquanto são Paulo desfrutou do “privilégio” de ser decapitado foi porque Paulo
era cidadão romano. Em 212, o imperador Marco Aurélio Antonino (Caracala),
decretou que qualquer cidadão livre, de qualquer parte do Império, tinha
cidadania romana completa. Em 211, Caracala assassinou seu irmão Geta,
que era um rival político. Quando Caracala tinha apenas 29 anos, em 217 d.C.,
quando foi assassinado por um de seus guarda-costas, Marco Opélio Macrino
[Marcus Opellius Macrinus], que aproveitou um momento íntimo em que o
imperador se aliviava à beira da estrada e o apunhalou. Muitos dizem que
Caracala queria ao promover todo mundo à cidadão romano completo, era
conseguir arrecadar mais impostos, já que os cidadãos romanos estavam
sujeitos ao imposto sobre herança. Ao longo do século III d.C., a distinção entre
os honestiores (literalmente “os mais honoráveis”, a elite rica, incluindo
soldados veteranos) e os humiliores (literalmente “os da classe inferior”) foi o
critério que passou a ter importância e a dividir os romanos novamente em dois
grupos, com direitos desiguais formalmente definidos na lei romana.

O Império tinha uma população de pouco mais de 50 milhões de


habitantes, o que o torna muito pouco povoado, se considerarmos que só a
Itália hoje tem 60 milhões de pessoas. A parte europeia tinha aproximadamente
24 milhões de pessoas, a parte asiática 19,5 milhões, e a parte africana 11,5
milhões. As estimativas apontam que a população inteira de toda a Britânia
romana não era muito maior que meio milhão de pessoas. De acordo com
evidências arqueológicas, é possível saber que a expectativa de vida média de
um cidadão comum era 22 anos. Os romanos tinham uma mortalidade infantil
muito alta, e 25% das crianças morriam antes de completar 1 ano de vida. Se
você sobreviver ao seu primeiro aniversário, você tem uma expectativa de vida
de 36 anos. Apenas 50% das crianças viviam até aos 10 anos. Se você
estivesse entre os 50% que sobreviveu, sua expectativa de vida seria de 47
anos. Mas isso é uma média, e Plínio o Velho, escreveu que haviam atrizes
que ainda estavam se apresentando com 100 anos de idade, tecelãs que ainda
estavam trabalhando aos 80, e assim por diante. Se você fizesse parte da
aristocracia senatorial, provavelmente viveria até os 50 de boa, mas se você é
das classes mais pobres viveria até os 40, e se você fosse um escravo do
campo, o tipo mais baixo de cidadão que existia, viveria até 30 anos. Mesmo se
você fosse o mais rico do Império, você pode se considerar com sorte, se você
passou dos 50.
(Maquete representando como era o centro da cidade de Roma, por volta do
ano 100)

(outra maquete representando Roma antiga, vista mais de longe)

Tudo o que sabemos de pessoas comuns trabalhando no campo, seja


escravos ou não, vem da literatura do século V em diante, quando a Igreja
começou a se interessar na evangelização dos distritos do interior, e você tem
o surgimento de santos e mártires de todo tipo, que eram trabalhadores
agrícolas. Mas mesmo assim, muita coisa que aprendemos dessas pessoas
ainda é muito indireto.

A maioria das pessoas comuns parece que não falava latim ou grego,
mas as suas línguas locais, como línguas celtas, germânicas, semíticas,
sármatas, etc. A diversidade linguística que Roma tinha era enorme, e muito
interessante para o que estamos acostumados a ver hoje. Uma das maneiras
de destruir a cultura de um povo é destruir a língua deste povo, e os Estados
Nações são mestres nisso. Obviamente o Estado romano se expandiu
consideravelmente durante o Império, mas não foi suficiente para destruir
muitas das autonomias locais que havia.
Os pobres de uma cidade como Roma, viviam com uma dieta de cerca
de 2000 calorias por dia, sendo que o mínimo para uma pessoa com hábitos
alimentares sedentários é cerca de 2400 calorias. Então a maioria dos pobres
de Roma estava num cenário de quase fome, e fora de Roma, nas outras
cidades e no campo, havia fomes ocasionais. Eles sobreviviam graças à
distribuição de grãos subsidiada pelo Estado, e pela caridade privada. O
mundo romano devia ter um padrão de desenvolvimento de países como China
e Índia antes de 1900, ou até antes de 1800.

Do ano 14 até 192, ou seja, da posse de Tibério, até a morte de


Cômodo, foram apenas 14 imperadores. De 193 a 293, foram mais de 70,
considerando usurpadores, coimperadores, ou “impostores”). Do século III pra
frente, os imperadores não costumavam ficar mais em Roma, mas à centenas
de quilômetros, às vezes até a capital era transferida para Ravena, Mediolano,
ou Constantinopla. Além disso, cada vez mais os imperadores governam sem o
Senado.
E assim, com a crise do terceiro século, essa qualidade de vida média
que o cidadão romano tinha nos dois primeiros séculos (obviamente muito
inferior ao que era antes da Segunda Guerra Púnica), vai se perder para
sempre.

Em março de 235, Severo Alexandre é assassinado por suas tropas, e


assume Maximino Traço, que é declarado imperador pelas legiões. Em junho
de 235, as tropas de Severo, derrotam os germânicos na batalha de Harzhorn.
O usurpador Magnus é declarado imperador na Germânia, mas é rapidamente
morto. Em setembro, o usurpador Quartinus é declarado imperador na Síria,
mas é morto por suas próprias tropas. Em fevereiro de 236, os Sármatas
Iazyges invadem a Dácia, e em maio os alamanos invadem a Récia mas estes
últimos são repelidos. Em março de 237, os alamanos novamente invadem a
Récia e são repelidos em agosto. Em 237, Maximino tenta confiscar a receita
independente de todas as cidades do império para ser usada pelos militares,
causou uma erupção de pequenas revoltas e uma delas, na África, reivindicou
a púrpura para Gordiano.

Em fevereiro de 238, Gordiano I e Gordiano II são declarados


imperadores em Cartago, mas são derrotados e mortos na Batalha de Cartago
em março. O Senado elege então Pupieno e Balbino como imperadores. Em
maio Maximino Traço é assassinado pelas suas tropas em Aquileia, a Pérsia
invade a Síria, e os godos invadem a Mésia. Em julho de 238, Pupieno e
Balbino são assassinados pela Guarda Pretoriana, e Gordiano III é eleito o
novo imperador. Em maio de 239, os carpi sármatas invadem a Dácia, e em
outubro do mesmo ano os sármatas são expulsos da Dácia. Em maio de 240, o
usurpador Sabiano é declarado imperador em Cartago, mas é rapidamente
preso. Em setembro de 240, os persas fazem um cerco em Antióquia, na
província da Síria, que só é quebrado em março de 241, e os persas recuam
um pouco. Em 243, os romanos derrotam os persas na batalha de Resena, e
os romanos avançam no território persa, mas são derrotados na batalha de
Misiche, onde Gordiano III é morto ou assassinado, e o prefeito pretoriano
Filipe I, o Árabe, se torna imperador.

Em abril de 245, os Quados saqueiam a Panônia, e e os sármatas carpi


atacam a Dácia. Em dezembro, os sármatas carpi atacam a Mésia, mas são
repelidos. Em maio de 246, o usurpador Silbanaco é declarado imperador na
Germânia Superior, mas é derrotado em julho. Em dezembro, o filho de Filipe I,
Filipe II, o Jovem, é declarado Augusto. Em fevereiro de 247, o usurpadro
Sponsiano é declarado imperador na Panônia, mas é derrotado em março. Em
janeiro de 248, o usurpador Pacatiano é declarado imperador na Dalmácia,
mas é derrotado em maio. Em outubro, os godos invadem a Mésia, e os
sármatas carpi invadem a Dácia novamente. Em março de 249, o general
Décio derrota os godos na Mésia, e ele é tão bem sucedido que seus generais
o proclamam imperador em junho. Em setembro, Décio mata Filipe, o Árabe na
batalha de Verona, e Filipe, o Jovem, é assassinado pelos Pretorianos.

Em janeiro de 250, os nômades invadem o Egito, mas são repelidos em


maio. Em abril, os godos invadem novamente a Mésia, mas Décio os derrota
na batalha de Nicópolis em julho, e recupera os territórios perdidos na Dácia
pelos sármatas. No entanto, a cidade de Filipópolis foi tomada de assalto após
uma longa resistência, e consta que cem mil pessoas sofreram um massacre
na pilhagem dessa cidade pelos godos liderados por Cniva. Décio recria o
cargo de censor e submete a escolha do censor à voz imparcial do Senado.
Em julho de 250, os godos derrotam os romanos na batalha de Beroe. Em
dezembro de 250, os usurpadores Prisco e Liciniano são declarados
imperadores na Mésia, mas são derrotados. Em março de 251, Herênio
Etrusco é declarado co-imperador de Décio. Em julho, os godos derrotam os
romanos e matam Décio e Herênio, e Treboniano Galo é declarado imperador
junto com o filho de Décio, Hostiliano. Em novembro, Hostilino morre em
circunstâncias suspeitas, e o filho de Treboninao, Volusiano é declarado co-
imperador.

Em maio de 252, os persas tomam controle da Armênia, e em novembro


saqueiam a Capadócia, na Síria romana. Em fevereiro de 253, os persas
saqueiam Antióquia, e os godos atacam novamente a Mésia. Em maio, o
general Emiliano destrói os godos e é declarado imperador. Em agosto,
Treboniano Galo e Volusiano são mortos por suas tropas, e Emiliano se torna
imperador. O usurpador Valeriano é declarado imperador na Germânia, e em
outubro Emiliano é morto por suas próprias tropas, e Valeriano se torna o novo
imperador, e aponta seu filho Galiano como co-imperador. Em maio de 254, os
godos avançam na Termópilas, e os saxões saqueiam o norte da Gália. Em
agosto, os godos são derrotados na batalha das Termópilas. Em novembro, os
bérberes invadem a Mauritânia e a Líbia romana, e o usurpador Urânia é
declarado imperador na Síria. O usurpador é facilmente derrotado, mas os
bérberes conseguem tomar uma faixa de terra da Mauritânia e Líbia romana.
Em março de 255, os godos anexam o reino do Bósforo, e os saxões saqueiam
a Britânia. Em agosto, os godos fazem uma incursão na Anatólia e ficam lá. Em
fevereiro de 256, os francos saqueiam a Germânia romana e o norte da Gália.
Em maio, os persas invadem a Síria, e os godos saqueiam a Anatólia. Em
setembro de 256, Valeriano tenta repelir os godos, mas seu exército é detruído
pela praga. Em novembro, os persas saqueiam Antióquia de novo.

Em janeiro de 257, o império é dividido em dois pela primeira vez, entre


Valeriano e Galiano. Galiano fica com a atual Turquia, Egito, Síria e Judéia, e o
restante fica com Valeriano. Em abril, Valeriano liberta a Síria, e os alamanos
atacam a Récia. Galiano emitiu um édito que proibia os senadores de
exercerem qualquer atividade militar e até mesmo de aproximar-se dos
acampamentos das legiões. Ele organizou um poderoso corpo de cavalaria,
estacionado em Mediolano - provavelmente como um posto avançado de
defesa contra a invasão da Itália pelo imperador gaulês Póstumo. Essa
mudança junto com as mudanças na técnica militar romana exigidas pela
guerra defensiva, que favorecia um exército de rápido deslocamento que
permitisse aos romanos entrar em contato o mais rápido possível com as
forças invasoras dos bárbaros saqueadores, tornar-se-ia o ponto de partida
para a formação de um verdadeiro "sindicato" de competentes generais, na sua
maioria ilírios, muitos dos quais, como Cláudio II, Aureliano e Probo,
ascenderiam ao trono depois. Em julho, os godos saqueiam mais uma vez a
Anatólia. Em junho de 258, os alamanos invadem a Récia, e a Itália. No mesmo
mês, os saxões saqueiam a Britânia novamente. Os alamanos chegam no
norte da Itália, mas são repelidos, na batalha de Mediolano, por Galiano.
Consta que trezentos mil homens desse povo guerreiro foram vencidos numa
batalha perto de Mediolano por Galiano em pessoa, à frente de apenas dez mil
romanos. No entanto, provavelmente isso foi exagero de um historiador, e
provavelmente foram feitos de um dos tenetes de Galiano.
Os suevos atacam os Campos Decúmanos e conquistam a região junto
com os alamanos em outubro de 259. Valeriano é cercado pelos persas em
Edessa, e ninguém sabe o que aconteceu com ele, só sabemos que ele foi
capturado. É suposto que ele foi obrigado a servir como suporte para os pés do
rei persa Xapur I, pelo resto da vida, e sempre que o monarca persa montava a
cavalo, punha o pé no pescoço de um imperador romano. O caos se instala.

Em junho de 260, os usurpadores Igneno e Regiliano fazem uma revolta


na Dalmácia e na Panônia, mas são mortos em agosto, e os Roxolanos
invadem a Panônia em junho. As legiões da Gália declaram independência, e
surge o Império Gálico. A Pérsia invade a parte sul da Anatólia, e a Síria
romana. Em outubro, a Britânia se junta ao Império Gálico, e partes da Dácia
são perdidas para os sármatas. Em janeiro de 261, os saxões saqueiam a
Britânia pela terceira vez. Em março tem uma grande invasão franca na Gália,
e o usurpadro Macrino na Anatólia, e Valente na Acaia são declarados
imperadores. Tarragona, a florescente capital da Hispânia, sofreu pilhagem e
quase destruição total pelos francos. Em junho, a Hispânia se junta ao Império
Gálico. Galiano derrota Valente, mas surge mais um no Egito em janeiro de
262, chamado Mússio Emiliano. Em abril, os Roxolanos saqueiam a Panônia, e
em maio Galiano suprime Mússio e Macrino. Em março de 263, Galiano tenta
uma invasão ao Império Gálico, mas é mal sucedida. Odenato derrota os
persas na Síria, mas o reino de Palmira é fundado na Síria, marcando mais um
separatismo de Roma, ainda que é um estado vassalo.

Em julho de 264, os nômades atacam o Egito, mas são forçados a


recuar em outubro. Em maio de 265, Galiano tenta mais uma invasão ao
Império Gálico, também mal sucedida. Um julho de 266, tem uma massiva
invasão naval gótica (godos) na Anatólia, e eles saqueiam o Chipre, Creta,
Esparta, Atenas e Bizâncio em 267. Os godos só são derrotados na batalha de
Nessos em novembro de 267. Em março de 268, o usurpador Laelino é
declarado imperador na Germânia, invade o Império Gálico, mas é derrotado
por eles, em julho. Laelino é morto por Póstumo, e Póstumo é morto por seus
soldados, e a Hispânia retorna ao domínio de Roma. O usurpador Aeréolo se
revolta em Mediolano, e é morto por Galieno em Mediolano, mas Galieno é
morto em uma trama feita por seu sucesso, Cláudio II, o Gótico. Em dezembro
de 268, Cláudio II derrota os alamanos na batalha do Lago Benaco. Em 269,
ele começa uma campanha contra os godos que estavam na Trácia e na
Mésia, e em junho derrota os godos na batalha de Naissus. No entanto, os
vândalos invadem a Panônia. Em outubro de 269, a Gália Narbonense é
reconquistada pelos romanos. Em janeiro de 270, Cláudio II morre na Panônia
e seu irmão Quintilo assume por dois meses, mas é contestado por Aureliano,
que se torna imperador em abril. No mesmo mês, o Império de Palmira se torna
independente de Roma.

Do ano 250 a 260, um epidemia varreu todo o Império, e durante algum


tempo 5000 pessoas morriam diariamente, e muitas cidades que haviam
escapado das mãos dos bárbaros ficaram inteiramente despovoadas. Mais da
metade da população de Alexandria morreu desta que ficou conhecida como a
peste de Cipriano, pois foi o bispo Cipriano de Cartago que a descreveu
primeiramente em 250. Essa peste assolou também os invasores, como os
godos que foram muito afetados e mortos por ela em 270. No entanto, o próprio
imperador Cláudio II, que venceu os godos em batalha, também morreu desta
peste. Com isso, o próximo imperador Aureliano, teve que entregar a Dácia aos
godos.

Aureliano é conhecido como o imperador que salvou o Império Romano


na crise do século III, e é conhecido por ser tipo um Super Man da vida real,
por suas campanhas militares muito bem sucedidas. Primeiro, ele mandou
construir uma grande muralha para cercar a cidade Roma, depois ele retirou
todos os poderes que o Senado ainda tinha, e fez reformas no exército para
torná-lo mais eficiente. Em abril de 270, os vândalos saqueiam a Panônia, e
junto com os juguntos saqueiam a Récia. Em julho, os sármatas conquistam de
vez a Dácia, e a rainha Zenóbia de Palmira anexa o Egito. Em novembro, os
marcomanos invadem a Itália, e os palmirenses conquistam o Egito. Em março
de 271, Aureliano é derrotado na batalha de Placência, e o usurpador
Domiciano é declarado imperador em Narbonense. Em junho de 271, os
marcomanos, que eram da tribo dos alamanos, chegam muito perto de Roma,
mas Aureliano os derrota na batalha de Fani, e o usurpador Domiciano é morto.
Em setembro, Aureliano derrota os alamanos na batalha de Pávia, a Dácia é
perdida de vez, e os godos invadem a Mésia, mas estes últimos são repelidos.
Em fevereiro de 272, Aureliano invade o Império de Palmira, e o seu general,
Probo invade o Egito. Em junho e julho de 272, Aureliano derrota os
palmirenses na batalha de Antióquia, e na batalha de Emesa. Em setembro, o
Império de Palmira é derrotado, mas se revolta em novembro, e em março de
273, Aureliano destrói a cidade de Palmira, dando fim de vez ao Império.

Em abril de 273, o usurpador Septímio é declarado imperador na


Dalmácia, mas é derrotado em três meses. Em agosto e setembro de 273, o
usurpador Faustino é declarado imperador, só que do Império Gálico, os
francos atacam seu império, e a Britânia volta ao domínio do Império Romano.
Em fevereiro de 274, Aureliano invade o Império Gálico, e derrota o imperador
Tetrico na batalha de Châlons em julho, dando fim ao Império Gálico. Em
março de 275, os alamanos e francos invadem a Gália, mas são facilmente
derrotados.

Parece que no fim das contas tudo deu certo, o Império sobreviveu, os
separatistas foram esmagados, Aureliano é um salvador e Super Man de
Roma, tudo dando certo, até que Aureliano é assassinado por suas tropas em
novembro de 275. Em janeiro de 276, o Senado elege Tácito como imperador,
descendente do grande historiador de mesmo nome, e os francos e alamanos
atacam o Império. Em abril, os godos saqueiam a Anatólia mais uma vez, e em
agosto Tácito morre ou de febre, ou assassinado por seus soldados. Seu irmão
Floriano assume como imperador, mas em setembro as legiões do oriente
declaram o general Probo como imperador, e Floriano marcha contra Probo,
mas é assassinado por suas tropas. Com Probo no poder, a crise do terceiro
século vai lentamente acabando.

Em maio de 277, os vândalos e Burgúndios invadem a Récia, mas são


derrotados em janeiro de 278. Em março de 278, os gépidas e sármatas
invadem e saqueiam a Mésia, e em junho os vândalos saqueiam a Panônia. Os
dois são repelidos. Em março de 279, os bérberes invadem o Egito, mas são
repelidos em setembro. No mesmo mês ocorre a revolta dos Isaurianos na
Anatólia, repelida em abril de 280. Em janeiro de 280, os usurpadores Bonoso
e Proculo se declaram imperadores na Germânia romana, e em abril o
usurpador Saturnino é declarado imperador no Egito e na Judéia. Os três são
derrotados em junho e julho. Em julho de 280, prisioneiros francos tomam o
navio em que estão e saqueiam todo o Mediterrâneo, e cidades como Atenas,
Siracusa, e Cartago. Em julho de 281, os francos saqueiam a Germânia
romana. Um junho de 282, o prefeito pretoriano Caro é declarado imperador na
Récia, e toma o poder em setembro. Probo é morto por suas próprias tropas, e
Caro se torna o imperador.

Em setembro de 282, os Quados e Sármatas atacam a Panônia. Em


março de 283, Caro nomeia seus dois filhos, Carino e Numeriano como
césares. Em junho, os francos saqueiam a Germânia romana. Em setembro,
Caro decide invadir a Pérsia, e em junho de 284, eles saqueiam Ctesifonte de
novo. Em julho de 284, Caro é morto atingindo por um raio na Pérsia, e seus
filhos que se tornam imperadores, são bem sucedidos em anexar a
Mesopotâmia, região da Pérsia tomada por eles. Em outubro, o usurpador
Sabino Juliano é declarado imperador na Panônia, Numeriano morre, e suas
legiões proclamam Diocleciano como imperador. Em janeiro de 285, o
imperador Carino derrota Sabino Juliano, mas Diocleciano marcha para Roma,
e em julho de 285, Carino é morto por seus soldados na batalha do Margo, e
Diocleciano se torna imperador, marcando o fim da grave crise do século
terceiro.
(Mapa do mundo romano em 271)

Ao final da crise do século terceira, o Império estava destruído. Já em 64


d.C., Nero tinha exaurido os cofres romanos por causa do Grande Incêndio de
Roma e também por causa de sua predileção pela gastança depravada (a qual
construiu um espalhafatoso palácio). Nero recorreu à inflação monetária para
financiar o império, inicialmente reduzindo o teor de prata do denário, de 98%
para 93%, o que permitiu que mais moedas fossem fabricadas com um mesmo
volume de prata.  Essa foi a primeira depreciação dessa magnitude em mais de
250 anos e gerou uma relativamente alta inflação de preços e temporariamente
abalou a confiança dos cidadãos romanos.

O primeiro imperador a conseguir controlar a inflação foi Domiciano (81-


96), que aumentou a quantidade de prata do denário para quase 100%. No
entanto, seus sucessores antoninos vão continuar depredando a moeda, e em
160, o denário vai lentamente desvalorizando até ficar com 80% de prata.

A pior desvalorização ocorreu sob o imperador-filósofo Marco Aurélio,


que desvalorizou o denário para um teor de 79% de prata com o intuito de
financiar suas constantes guerras e seus contínuos aumentos de gastos. E seu
filho Cômodo reduziu para 74%. A cada desvalorização da moeda os preços
eram pressionados para cima, e isso foi gradualmente diminuindo a confiança
do povo no sistema monetário romano.

Sob o Imperador Septímio Severo (que reinou de 193 a 211 d.C.), um


número crescente de soldados começou a exigir que suas bonificações fossem
pagas em ouro ou em mercadorias, para escapar da corrosão do poder de
compra do denário.  O filho de Severo, Caracala, que reinou de 198 a 217,
aprofundou a política de desvalorização da moeda até reduzir o teor de prata
do denário para 50% para financiar a máquina de guerra romana e suas
construções megalomaníacas.

 Pertinax e Macrino, tentaram retornar Roma a um sistema monetário


mais sólido aumentando o teor de prata do denário e fazendo algumas
reformas no sistema.  Mas sempre que um imperador fortalecia o denário, um
rival conseguia conquistar a lealdade do exército, destruindo todo o progresso
feito e frequentemente assumindo o trono.

Com o tempo, o denário de prata foi abandonado, e o mais jovem


imperador de Roma, Gordiano III (238 – 244), substituiu o denário pelo seu
concorrente, o antoniniano. No entanto, já no reinado do Imperador Cláudio II,
que reinou de 268 a 270, o antoniniano foi reduzido a uma levíssima moeda
que continha apenas 2% de prata. O antoniniano acabou sendo substituído
pelo aurelianiano, e este acabou sendo substituído pelo nummo. Diocleciano e
Constantino vão fazer reformas que vão reerguer o Império por um tempo, mas
os filhos do Constantino e as últimas dinastinas vão estragar tudo. Já em 341
d.C., o Imperador Constante I (337 - 350) diminuiu o nummo para apenas 0,4%
de prata.

O imperador Trajano conquistou a Dácia lotando os cofres do estado


romano com os espólios. Ao ver essa bonança, não tardou o lançamento de
um novo programa social, oalimenta, o qual competia com instituições
bancárias privadas ao oferecer empréstimos a juros baixos para proprietários
de terras e utilizava os juros para beneficiar crianças desprivilegiadas. Os
sucessores de Trajano deram continuidade a esse programa até que a
desvalorização do denário colaborasse para a extinção do programa. Trajano
também foi responsável por criar uma espécie de previdência social, mas era
mais para ele ser adorado, e não a mentalidade revolucionária iluminista, mas
obviamente o programa não deu certo.
(Porcentagem de prata no denário romano)

(quantidade de imperadores assassinatos na crise do século III)


(preço do trigo egípcio, dracmas por artaba)

Depois desse turbilhão que quase derrubou o Império e que envolveu


fome, pandemias, miséria e insegurança, Roma precisava urgente de um
reformador. E quem ficaria responsável por essas reformas seria Caio Aurélio
Valério Diocleciano. Os pais de Diocleciano foram escravos, e Diocleciano foi
sucessivamente distinguido com o governo da Mésia, as honras do consulado
e o importante comando dos guardas do palácio. Ele se distinguiu por seus
talentos na guerra persa e após a morte de Numeriano, o escravo, pela
confissão e julgamento de seus rivais, foi declarado o mais digno do trono
imperial.

Diocleciano era um homem muito inteligente e um governante ideal


como Augusto, e fundou um novo Império Romano. A partir do século III Roma
se torna uma monarquia hereditária de direito divino, deixando de ser um
principado, e passando a ser um Dominato, até a sua queda em 476.
Diocleciano tinha uma mente vigorosa aperfeiçoada pela experiência e pelo
estudo dos homens; uma sagacidade e diligência no trato dos assuntos
práticos; uma sensata mistura de liberalidade e economia, de brandura e rigor;
profunda dissimulação sob a capa de franqueza militar.

A primeira coisa que Diocleciano fez foi nomear um co-imperador,


Maximiano, que era mais arrogante, severo e turbulento. Diocleciano assumiu o
título de Jóvio e Maximiano de Hercúleo. Enquanto o mundo se mantinha em
movimento pela sabedoria onisciente de Júpiter, o braço invencível de Hércules
depurava a terra de monstros e tiranos. No entanto, Diocleciano decide dividir o
poder mais ainda, e nomeia dois césares, Galério e Constâncio Cloro. Esse
arranjo dos quatro ficou conhecido como Tetrarquia e durou de 293 ate 313.
Cada imperador assumiu o papel de pai dos césares, Diocleciano de Galério e
Maximiano de Constâncio Cloro. Constâncio Cloro ficou com a administração
da Britânia e Gália; Galério ficou com as províncias ilírias; Maximiano ficou com
a África, Hispânia e Itália; e Diocleciano ficou com a Trácia, Egito e as regiões
ricas da Ásia. Cada um deles era soberano dentro de sua própria jurisdição,
mas a autoridade conjunta dos quatro se estendia à monarquia inteira, estando
cada um deles preparado para assistir os colegas com seus conselhos ou sua
presença pessoal.
(território romano sobre a Tetrarquia)

A partir desse momento os imperadores não vão mais residir em Roma,


mas em outras cidades, que vão se desenvolver mais. A corte do imperador do
Ocidente era em Mediolano, e a do Oriente vai passar a ser Constantinopla
depois do imperador Constantino. Diocleciano estabeleceu sua capital e
residência na cidade de Nicomédia.

O Senado perdeu os poucos poderes que ainda lhe restava. Diocleciano


também reduziu consideravelmente o número de guardas pretorianos, seus
privilégios foram abolidos e seu lugar tomado por duas legiões leais da Ilíria, as
quais, com os novos títulos de Jovianos e Herculianos, foram nomeadas para
prestar serviço de guardas imperiais. Diocleciano levou o ardiloso príncipe a
adotar a majestosa pompa da corte da Pérsia. Aventurou-se inclusive a usar
diadema, um ornamento detestado pelos romanos como abominável insígnia
da realeza.

Diocleciano multiplicou as engrenagens da máquina governamental e


tornou-lhe o funcionamento menos rápido, mas mais seguro. Os impostos
aumentaram, e o número de ministros, de magistrados, de oficiais e de
servidores que enchiam os diferentes departamentos do Estado se multiplicou,
excedendo o das épocas anteriores. O imposto fundiário e a capitação, são
considerados como o intolerável e crescente vexame de sua própria época. Ele
estabelece um novo sistema de arrecadação de impostos, e um orçamento do
Estado. Não há mais a ideia de que as províncias mandam tributos para Roma,
e a base tributária é bastante ampliada. A incidência de impostos é bem
reduzida no começo, porque mais dinheiro vem dos impostos, mas cada
pessoa pagava menos.

Ele estabelece uma nova cunhagem de ouro, o Solidus, inicialmente 60


por libra, e depois 72 por libra, e valeria algo como 150 libras hoje. A maioria
das pessoas que eram pobres, jamais veria essa moeda na vida, e veria só
moedas de cobre e às vezes a de prata, chamada Siliqua. Ele também cria
novas regras para o recrutamento de soldados e para administração das
províncias.

Em 301, Diocleciano baixou o famoso Édito Máximo, que impunha um


congelamento de preços. Ele estipulou um teto de preços para carnes, cereais,
ovos, roupas e outros bens, e instituiu a pena de morte para qualquer um que
vendesse seus artigos a um preço maior do que o estabelecido.
(Édito Máximo de Diocleciano)

O resultado, como não poderia deixar de ser, foi que as pessoas


simplesmente pararam de colocar seus bens à venda no mercado, dado que
elas não mais poderiam obter um preço sensato por eles.  Comerciantes
estocaram seus bens, recusando-se a vendê-los pelo preço imposto pelo
governo.  Outros estocaram simplesmente para não correr o risco de serem
erroneamente acusados de estarem vendendo a preços acima do determinado,
ficando assim sujeitos a execuções.  Os trabalhadores reagiram ao
congelamento de salários desaparecendo do expediente ou simplesmente
ficando sentados, sem fazer nada. Após a morte de várias pessoas, os
romanos simplesmente passaram a ignorar esse decreto, até que a lei foi
finalmente revogada.

Diocleciano também foi o imperador que fez a última grande perseguição


aos cristãos. Ele queria proibir cristãos de envolverem-se na burocracia e em
questões militares e já achava que isso seria o suficiente para satisfazer os
deuses, porém Galério defendia seu extermínio. Os dois procuraram conselhos
do oráculo de Apolo em Dídimos. O oráculo respondeu que ímpios na Terra
impediam Apolo de proporcionar conselhos. Membros da corte informaram
Diocleciano que esses ímpios só poderiam ser os cristãos do império. O
imperador, à pedido da corte, cedeu aos pedidos por uma perseguição
universal. Em 24 de fevereiro de 303 ele publicou o Édito contra os Cristãos,
onde ordenava a destruição de escritos e locais de culto cristãos, além de
proibir os cristãos de se reunirem para realizarem o culto.

O sofrimento dos mártires acabou fortalecendo a determinação dos


cristãos. Maximiano e Constâncio não aplicaram os mesmos éditos posteriores
e deixaram os cristãos do ocidente em paz. Galério rescindiu os éditos em 311,
anunciando que a perseguição tinha fracassado em trazer os cristãos de volta
para a religião tradicional. A apostasia de alguns cristãos e a entrega de
escritos durante a perseguição desempenhou um papel central nas origens
do donatismo.

Em 305 ele é o primeiro imperador a se aposentar, e abdica do cargo.


Após ele abdicar, ele viveu o resto da vida tranquilo, e suas horas de lazer
eram satisfatoriamente empregadas em construção, plantio e jardinagem.
Diocleciano morre em 3 de dezembro de 311 de causas naturais. Após a sua
abdicação, a Tetrarquia vai começar a ser abandonada, com Maximiano traindo
a Tetrarquia se autoproclamando imperador em 306, o Império vai mergulhar
em guerras civis até a ascenção de Constantino.

Sobre as guerras que aconteceram no período, a primeira rebelião é na


Gália liderada por Eliano, em setembro de 285, suprimida em janeiro de 286
por Maximiano. Em maio de 286, os alamanos e burgúndios invadem a Gália,
mas são expulsos por Maximiano. Em setembro de 286, Diocleciano invade a
Armênia e retoma o controle, que estava sob os persas, e em janeiro de 287 a
Armênia se torna um protetorado romano sob o rei Tiridates III. Em julho de
287, o almirante Caráusio se revolta no norte da Gália e a Britânia se junta a
ele, criando o império Britânico em setembro. Em novembro de 287, Maximiano
derrota piratas francos na Gália. Em abril de 288, para evitar um conflito, a
Pérsia concede a Mesopotâmia para Roma. Em janeiro de 289, Maximiano
manda uma expedição que fracassa em derrotar o Império Britânico. No
mesmo mês, os sármatas e alamanos invadem a Panônia e são expulsos em
agosto. Em dezembro de 289, os pictos invadem o norte da Britânia, então
Império Britânico.
Em março de 290, os árabes atacam a Palestina, e são derrotados e
expulsos em agosto. Em agosto de 290, os Blêmios atacam o Egito e
Diocleciano concede territórios a eles. Em novembro, os francos atacam a
Britânia e são vencidos em março de 291. Em novembro de 291, os sármatas
atacam a Panônia e são expulsos em junho de 292 e derrotados por
Diocleciano em julho. Em março de 293 a tetrarquia é fundada e o Império é
dividido entre Diocleciano, Maximiano, Constâncio Cloro e Galério. Em maio de
293, os godos invadem a Mésia e são expulsos por Maximiano. Em julho,
Constâncio Cloro conquista a Gália Britânica, e Caráusio é assassinado. Em
fevereiro de 294, os Carpi atacam a Mésia, e em junho há uma massiva
invasão gótica na Panônia. A primeira é vencida em outubro, e a segunda em
dezembro. Em julho de 295, os usurpadores Domiciano e Aquileus se rebelam
no Egito, e em outubro há uma massiva invasão persa na Armênia, que é
conquistada rapidamente. Em abril de 296, os francos saqueiam a Mauritânia
no noroeste da África. Em agosto, Constâncio Cloro invade a Britânia, e em
setembro Galério é derrotado na batalha de Carrhae em setembro, na Síria
invadida pela Pérsia. Em outubro, os sármatas invadem a Panônia e são
repelidos dois meses depois, e em setembro Constâncio Cloro acaba com o
Império Britânico na batalha de Calleva Atrebatum.

Em março de 297, os alamanos invadem a Gália, mas são vencidos por


Constâncio Cloro, e os usurpadores do Egito são derrotados. Em junho, os
bérberes atacam a Mauritânia, mas são vencidos facilmente. Em outubro, o
usurpador Juliano é proclamado imperador na África, mas é rapidamente
morto. Em fevereiro de 298, os Carpi atacam a Panônia. Em maio, Galério
derrota pesadamente os persas na Armênia na batalha de Salata. Em agosto,
os bérberes atacam novamente a Mauritânia, alamanos invadem a Gália mas
são derrotados por Constâncio Cloro na batalha de Langres. Em janeiro de
299, Galério saqueiam Ctesifonte, capital persa, e reconquista os territórios
perdidos. Em março é feito um tratado de paz entre romanos e persas. Em abril
de 300, os francos atacam a Bélgica, e só são expulsos em 301. Em maio de
303, o usurpador Eugênio é declarado imperador na Síria, mas é morto
rapidamente. Em março de 304, os alamanos invadem a Gália, mas
Constâncio Cloro os derrota. Em maio de 305, Diocleciano e Maximiano
abdicam a apontam Constâncio Cloro e Galério como Augustos, e Valério
Severo e Magêncio são declarados Césares. E teve assim dezoito anos com
cinco guerras civis que assolaram o Império. Galério ficou com a Mésia, Grécia
e Turquia; Magêncio com o Egito, Judeia, Síria; Constâncio Cloro ficou com
Gália, Hispânia e Britânia; e Severo ficou com a Itália, Ilíria, África e Mauritânia.

Clemência, temperança e moderação distinguiam o afável caráter de


Constâncio Cloro, que preservou a modéstia de um príncipe romano. A esposa
de Constâncio era Helena, que era cristã e mãe de Constantino, e Constâncio
escondeu a vida inteira a religião de sua esposa. Flávio Valério Constantino era
uma figura alta e majestosa. Ele era intrépido na guerra, afável na paz, e em
toda a sua conduta, o ânimo ativo do jovem era temperado de prudência
habitual. Deixando o palácio de Nicomédia na calada da noite, Constantino
atravessou celeremente a Bitínia, a Trácia, a Dácia, a Panônia e a Itália e,
entre jubilosas aclamações populares, alcançou o porto de Boulogne no exato
momento em que seu pai se preparava para embarcar rumo à Britânia.

Quando Constâncio Cloro morreu em 306, quem iria assumir o trono era
seu filho Constantino, que manda uma carta a Galério falando de seu direito a
sucessão. Galério ficou furioso, mas para evitar uma guerra, deu-lhe apenas o
título de César e o quarto lugar entre os príncipes romanos, ao mesmo passo
em que conferia o lugar vacante de Augusto ao seu favorito Severo.

Galério também fez uma investigação muito precisa e rigorosa das


propriedades dos súditos com o propósito de uma taxação geral. Um
levantamento assaz minucioso de seus bens imóveis, e onde quer que
houvesse a menor suspeita de ocultação, recorria-se prontamente à tortura
para obter uma declaração sincera de suas fortunas pessoais. Os privilégios
que haviam elevado a Itália muito acima das demais províncias não eram mais
levados em conta, e os agentes do fisco começaram a recensear o povo
romano e fixar a proporção dos novos tributos. Os cidadãos da Itália não
tinham a carga de tributos pessoais desde a conquista da Macedônia no século
II a.C., e agora voltou a ter.

A fúria crescente do povo era encorajada pela autoridade, ou pelos


menos pela conivência do Senado, e os poucos remanescentes da Guarda
Pretoriana. E quem se tornou o líder popular por Magêncio que desposara a
filha de Galério e era filho de Maximiano. Com isso, eles massacram o prefeito
da cidade e em abril de 307, Magêncio se torna césar da Itália, África e
Mauritânia, e mata Severo. Então Galério manda invadir a Itália tomada por
Magêncio. Em dezembro de 307, a Hispânia se junta a Magêncio. Para
completar, em 308, Galério nomeia Licínio como Augusto no Oeste, na Ilíria.
Em abril de 310, Maximiano se declara Augusto em Narbonensis, mas é
rapidamente derrotado por Constantino e comete suicídio. Ou seja, por 4
meses em 310, o Império foi governado por seis imperadores: Constantino,
Galério, Magêncio, Licínio, Maximino, Maximiano.

No Ocidente, Constantino e Maxêncio fingiam respeitar seu pai


Maximiano. No Oriente, Licínio e Maximino acatavam com consideração mais
efetiva seu benfeitor Galério. Galério morreu em 311, quatro anos depois de
tentar invadir a Itália e destronar Magêncio, e seu reino é dividido entre Licínio
e Maximino. Licínio e Constantino se aliam, e secretamente Magêncio e
Maximino se aliam. Mas as virtudes de Constantino ganharam maior brilho pelo
contraste com os vícios de Maxêncio. Enquanto as províncias de Constantino
desfrutavam todo o bem-estar que a condição dos tempos podia propiciar, as
de Magêncio gemiam sob o domínio de um tirano tão desprezível quão odioso.
Além disso, Magêncio permitia a seus soldados que impunemente pilhassem
ou até mesmo massacrassem o povo indefeso. Constantino aproveitou e
concedeu uma audiência privada aos embaixadores que, em nome do Senado
e do povo, o conjuravam a livrar Roma de um tirano. E sem fazer caso das
advertências tímidas do seu conselho, resolveu atalhar o inimigo e levar a
guerra até o coração da Itália.

Magêncio, que considerava a Guarda Pretoriana como a mais firme


defesa do seu trono, restaurou o antigo efetivo, que somando-se aos restantes
italianos alistados no serviço do imperador, compunham uma formidável força
militar de 80.000 homens. Tinham sido recrutados 40 000 mouros e
cartagineses, e os exércitos de Magêncio se elevavam a 160.000 soldados de
infantaria e 18.000 de cavalaria. Enquanto isso, Constantino tinha 90.000
soldados de infantaria e 8 000 de cavalaria, mas como tinha que proteger as
fronteiras com o Reno, levou 40.000 soldados para a batalha contra Magêncio.
E também, como os soldados de Constantino estavam acostumados a lutar nas
fronteiras contra os bárbaros, eram mais experientes que os de Magênio,
acostumados à Itália.

Em maio de 311 Magênico ataca Constantino, conquistado quase toda a


Gália, mas Constantino recupera a província no final do ano. Em abril de 312,
Constantino derrota as tropas de Magêncio na batalha de Turim. Com isso, o
norte da Itália se aliou a Constantino e a próxima parada era Verona. Somente
com grande dificuldade, e após diversas tentativas infrutíferas, conseguiu
Constantino descobrir afinal um meio de atravessar o rio a certa distância
acima da cidade, onde a corrente era menos violenta. Então cercou Verona de
linhas firmes, levou avante seus ataques com prudente vigor e repeliu uma
desesperada surtida de Rurício Pompeiano, o general da cidade. No entanto,
Magêncio ainda tinha uma força considerável na Itália, e com a Guarda
Pretoriana a seu lado. Em outubro de 312, ocorre a famosa batalha da Ponte
Mílvia, onde Constantino vence Magêncio de vez, morto em batalha. Os
pretorianos, foram tomados de desespero e desejo de vingança. A despeito de
seus repetidos esforços, esses bravos veteranos não conseguiram recuperar a
vitória, mas tiveram uma morte honrosa, e observou-se que seus corpos
cobriram o mesmo espaço de terreno anteriormente ocupado pelas suas
fileiras. E depois dessa batalha, a Guarda Pretoriana é dissolvida por
Constantino e nunca mais vai voltar a existir.

No mesmo mês da batalha da Ponte Mílvia, Maximino ataca Licínio no


Oriente, mas é derrotado em outubro de 312 na batalha de Tzíralo. Em julho de
313, Maximino morre de causas desconhecidas, e Licínio é agora o único
imperador do Oriente. Em três anos fomos de 6 imperadores para apenas 2,
que são Constantino no Ocidente e Licínio no Oriente.

Em fevereiro de 316, começa a guerra entrea Constantino e Licínio. Em


outubro, Constantino vence Licínio na batalha de Cíbalas, na Panônia. Licínio
indica Valério Valente como Augusto, mas este é morto em janeiro de 317 para
firmar a paz entre Constantino e Licínio. Em janeiro de 317, Constantino
derrota Licínio na batalha de Márdia, na Trácia. Depois dessa batalha, os dois
imperadores firmam uma paz e seus filhos, Crispo e Constantino II, e o filho de
Licínio, Licínio II, se tornam césares.
Em fevereiro de 323, começa a segunda guerra entre Constantino e
Licínio. Em julho de 324, Constantino derrota Licínio na batalha de Crisópolis, e
Marciniano é declarado co-imperador de Licínio. Em julho, Crispo derrota
Licínio na batalha naval do Helesponto. Em setembro, Licínio é derrotado por
Constantino na batalha de Calcedônia, e Licínio é feito prisioneiro. Em
dezembro de 324, Constantino II é nomeado césar, sendo que em dezembro
de 323, Constâncio II foi nomeado césar aos 8 anos de idade. Em junho de
325, Licínio e Licínio II são executados por Constantino, na Tessalônica.
Constantino era agora o único imperador de um Império Romano unificado.

Em 330, Constantino funda a cidade de Constantinopla, no lugar onde


era Bizâncio. Esse é o evento que marca o total abandono de Roma como a
capital, e que vai fazer a cidade decair ainda mais, e começar a perder boa
parte de sua população. Constantino decreta em 313 o fim oficial da
perseguição aos cristãos, e no seu leito de morte em 337 ele se converteu ao
Cristianismo, por mais que alguns não contem porque ele foi batizado por um
sacerdote ariano. Constantino continua as reformas de Diocleciano, e durante o
seu reinado até 337 o Império vai passar por um Renascimento econômico e
moral.

(representação de Constantinopla)
(O Batismo de Constantino, por Rafael Sanzio)
(mosaico de Constantino em Santa Sofia)
(Estátua do Imperador Constantino I. Foto: Angelina Dimitrova /
Shutterstock.com)

No entanto, apesar da nobre atitude com os cristãos e ser um bom


administrador, ele fez algumas coisas bem erradas como mandar matar sua
esposa Fausta e seu filho Crispo em 326 por traição. Em dezembro de 333, o
filho de Constantino, Constante, se torna césar. Antes dos reinados de
Diocleciano e Constantino, calcula-se que apenas um vigésimo da população
da cidade de Roma era cristã.

Duas leis inusitadas foram promulgadas por Constantino: uma que


oferecia assistência financeira pública a famílias que, sem ela, poderiam seguir
a prática, comum naqueles tempos perturbados, de abandonar ou matar seus
filhos recém-nascidos; e a lei contra estupro ou mesmo sedução, que impunha
castigos brutais e severos, como o culpado ser queimado vivo, ser destroçado
por animais selvagens no anfiteatro, ter chumbo derretido derramado pela sua
garganta abaixo.

O imposto que o imperador Constantino decretou, visava que 1/10 de


toda a renda tinha que ser dízimo para a igreja cristã, apressou a destruição do
império. Por fim, a Igreja detinha de um terço a metade de todas as terras e
acumulou riqueza. Essa concentração de riqueza produziu uma grande
escassez de moedas. O dinheiro existia, mas não havia circulação ou
distribuição de bens e serviços. Em vez de reciclar o dinheiro do dízimo por
meio de investimentos na comunidade ou obras de caridade, como a
construção de hospitais, escolas e bibliotecas, grandes tesouros de ouro foram
concentrados atrás das paredes de 6,1 metros de espessura da cidade
fortaleza de Constantinopla e do Fortaleza do Vaticano em Roma.

Os cristãos formavam uma espécie de rede de comunidades livres


dentro do Império, que não estavam sujeitas diretamente ao controle imperial.
De acordo com Edward Gibbon:

“Por breve período, esses poderes foram exercidos de


conformidade com o parecer de um colégio presbiteral e com o
consentimento e aprovação da assembleia de cristãos. Os
primitivos bispos eram tidos como os primeiros de seus iguais e
os servidores honoríficos de uma comunidade livre. Sempre que
a presidência episcopal se vagava por morte, escolhia-se um
novo presidente entre os presbíteros pelo sufrágio de toda a
congregação, cada um de cujos membros se julgava investido
de caráter sagrado e sacerdotal. Por essa branda e igualitária
organização governaram-se os cristãos mais de uma centena de
anos após a morte dos apóstolos. Cada comunidade formava
por si uma república separada e independente, e embora os
mais distantes desses pequenos Estados mantivessem
intercâmbio amistoso por meio de cartas e delegações, o mundo
cristão não estava ainda unificado por nenhuma autoridade
suprema ou assembleia legislativa.” (GIBBON, Edward, 1776).

O bispo era o ecônomo natural da Igreja, eos fundos públicos ficavam


confiados à sua guarda, sem prestação de contas nem fiscalização. Enquanto
isso, os presbíteros se confinavam às suas funções espirituais, e a ordem mais
dependente dos diáconos só era usada na administração e distribuição da
receita eclesiástica. Mas enquanto as contribuições da comunidade cristã
fossem livres e voluntárias, o abuso de sua confiança não era muito frequente,
e os fins gerais em que a sua liberalidade era usada só honravam a instituição
religiosa. A perspectiva de alívio imediato e de proteção futura atraía muitos
daqueles infelizes que o descaso do mundo teria deixado entregues aos
infortúnios da carência, da enfermidade e da velhice. E grande número de
infantes abandonados por seus pais, de acordo com o costume desumano da
época, foram frequentemente salvos da morte, batizados, criados e mantidos
pela piedade dos cristãos e às custas do tesouro público.

Como a Guarda Pretoriana deixou de existir, os prefeitos pretorianos


passaram a ser uma espécie de ministros do imperador. Esses prefeitos
pretorianoa agora controlavam a moeda, as estradas reais, as estações de
posta, os celeiros, as manufaturas, e tudo quanto pudesse interessar à
prosperidade pública. As únicas cidades que estavam isentas de sua jurisdição
eram Roma e Constantinopla. O governo civil do império estava distribuído em
treze grandes dioceses, cada uma das quais correspondia à justa medida de
um poderoso reino. Os ministros de Constantino haviam exaurido a riqueza da
Gália exigindo vinte e cinco moedas de ouro como tributo anual por cabeça. A
política benévola do seu sucessor reduziu a capitação a sete moedas.

Mas a capitação sobre os proprietários de terra, teria possibilitado que


uma rica e numerosa classe de cidadãos livres ficasse isenta. Algumas
isenções, eram concedidas a proprietários que consumissem a produção de
suas propriedades. Tratavam-se outrossim com certa indulgência os
profissionais liberais. Todavia, todos os demais ramos da atividade industrial e
comercial estavam sujeitos à severidade da lei. O cruel tratamento dispensado
aos devedores insolventes do Estado é atestado, e foi talvez mitigado, por um
édito muito humanitário de Constantino que, abolindo o uso de cavaletes e
açoites, designa uma prisão espaçosa e arejada como local de seu
confinamento.

Em relação às guerras com os bárbaros, elas vão continuar nesse


período, que vão aproveitar as guerras civis romanas. Em agosto de 305, os
pictos invadem a Britânia, e Constâncio Cloro os derrota em fevereiro de 306.
Em julho de 307, Constantino derrota a tribos bárbara dos Bructeri. Em
dezembro de 308, o general Domício Alexandre se rebela contra Magêncio na
África, dominando todo o norte da África ocidental, e só é vencido no final de
309. Em março de 309, Constantino está em guerra contra os francos no norte
da Gália, e em dezembro Constantino reconquista a Hispânia. Em julho de 310,
os persas atacam os domínios de Maximino. Em fevereiro de 311, Constantino
derrota os francos. Em fevereiro de 312, Maximino esmaga uma rebelião
armênia. Em fevereiro de 314, os francos atacam a Gália novamente, mas são
expulsos por Constantino em agosto. Em junho de 317, tem a guerra com os
sármatas que serão expulsos em dezembro de 318. Em fevereiro de 318, tem
uma massiva invasão franca e alamana na Gália, que são derrotados por
Crispo. Em janeiro de 320, Crispo derrota os francos e restaura uma longa paz
nas fronteiras do Reno.

Em fevereiro de 322, os sármatas e Iazygi atacam a Panônia, e são


expulsos e derrotados em fevereiro de 323, com parte de seus territórios
anexados. Em fevereiro de 323, os godos cruzam o Danúbio, mas são
expulsos em novembro. Em abril de 328, começa uma luta de 3 anos com os
alamanos no norte da Gália. Em agosto, os sármatas cruzam o Danúbio, mas
são facilmente expulsos. Mas em maio de 329, eles voltam junto com os godos,
mas também são derrotados e expulsos até janeiro de 330. Em setembro de
330, a fortaleza dos Campos Decúmanos é reconquistada por Constantino na
Germânia. Em fevereiro de 332, Constantino II derrota os Visigodos no
Danúbio e reconquista partes da Dácia. Em março de 334, Constantino derrota
os invasores sármatas. Em julho de 334, o usurpador Calocaéro é declarado
imperador no Chipre, mas é rapidamente executado. Em fevereiro de 336,
partes da Dácia são reconquistadas por Constantino. No mesmo mês, os
persas invadem a Armênia, mas ocupam apenas uma parte.

Em maio de 337, Constantino morre e o Império é dividido entre seus


filhos e seu sobrinho. Constantino II fica com a Gália, Hispânia e Britânia;
Constâncio II fica com a Turquia, Síria, Mesopotâmia, Judéia, Arábia e Egito;
Constante fica com a Itália, África, Ilíria e Panônia; e Dalmácio fica com a
Grécia, Mésia e Trácia.

Logo em agosto de 337, Dalmácio é morto e seu reino é dividido entre


Constâncio II e Constante. Em novembro de 337, os persas tentam fazer um
cerco em Nisibis, que é fracassado. Em março de 338, Constante se submete a
Constantino II, em troca do domínio da Trácia. Em junho, os sármatas atacam
o Império e tomam partes da Dácia. Em julho de 339, Constante se rebela
contra sua submissão e retorna a Trácia a Constâncio II. Em novembro,
Constantino II ataca os domínios de seu irmão Constante. No entanto, em abril
de 340, Constantino II é assassinado em Aquileia e Constante toma seus
domínios na Gália, Britânia e Hispânia. Em julho de 340, a Pérsia anexa o resto
da Armênia, mas em novembro os armênios se revoltam com a ajuda dos
romanos, que recuperam partes do território armênio. Em março de 341,
Constante entra em guerra conta os francos, e em março, Constante entra em
guerra contra os pictos na Britânia. Os primeiros são expulsos em setembro de
342, e os segundos em julho de 343. Em 344 a Pérsia invade a Mesopotâmia,
mas perde a batalha de Singara em março, em que os romanos os forçam a
recuar, mas perderam alguns territórios.

Em setembro de 345, o rei persa faz um cerco em Nisibis de novo, e em


janeiro de 347 abandona o cerco, recuando. Em fevereiro de 348, os alamanos
invadem a Récia, mas são vencidos e expulsos em outubro. Em janeiro de 350,
Constante é assassinado por ser muito gay e Magnêncio é proclamado
imperador. Só que outro usurpador é proclamado em março, que é Vetrânio,
que fica com as províncias da Ilíria, Panônia e Grécia. No mesmo mês, o rei
persa tenta fazer um cerco a Nisibis pela terceira vez, mas larga o cerco em
novembro. Em novembro de 350, Vetrânio abdica e seus territórios passam
para o domínio de Constâncio II, imperador do Oriente. Em março de 351, Galo
é elevado a césar por Constâncio II, e estoura uma revolta judaica na
Palestina, que é sufocada em fevereiro de 352. Galo ficou com a Síria,
Palestina, Judeia e Arabia. Em setembro de 351, Magnêncio é derrotado por
Constâncio II na batalha de Mursa Maior, e em novembro os alamanos
invadem a Gália, expulsos em setembro de 352. Em maio de 352, Constâncio II
reconquista a Itália, e em agosto de 353, mata Magnêncio na batalha do Monte
Seleuco, reunificando o Império.

Em janeiro de 354, estoura mais uma guerra com os alamanos, que são
expulsos em julho. Em julho de 354, Galo é executado por traição. Em março
de 355, os francos e alamanos atacam a Gália, sendo expulsos em outubro. No
mesmo mês, o usurpador Silvânio é declarado imperador no norte da Gália, e
Juliano se torna césar. Há uma grande invasão germânica na Gália, e Juliano
os expulsa, derrotando os alamanos na batalha de Argentorato em agosto de
357, e integra parte dos francos em um foederati. Em abril de 357, os quadros
invadem e saqueiam a Récia. Em março de 358, os sármatos conquistam um
pedaço da Panônia, e os Jutungos saqueiam a Récia. Em março de 359,
Constâncio II derrota os quados além do Danúbio. No mesmo ano, os persas
atacam a Mesopotâmia. Os pictos atacam a Britânia em janeiro de 360, sendo
expulsos em agosto.

Dentre as heresias do Cristianismo nesse período, várias delas foram


perseguidas por Constantino e por seus filhos. Constantino proibia totalmente
as assembleias dos heréticos e confiscava suas propriedades públicas para
uso ou da receita ou da Igreja católica. As seitas contra as quais se voltava a
severidade imperial parecem ter sido as dos partidários de Paulo de Samosata.
Os montanistas da Frígia, que pregavam uma entusiástica série de profecias.
Essa heresia surgiu no século II, chefiado por Montano e duas profetisas da
Frígia, e dava ênfase à profecia extática e ao ascetismo rigoroso. Eles
acreditavam no advento imediato do Dia do Juízo, e, a seu ver, um cristão
decaído da Graça não poderia ser redimido. Um de seus principais adeptos foi
o historiador Tertuliano (170-212), um dos primeiros doutores da Igreja, autor
de inúmeras obras em defesa da Cristandade.

Outra heresia importante são os novacianos, que rejeitavam a eficácia


temporal do arrependimento. Eles tinham esse nome porque eram partidários
de Novaciano, heresiarca do século III, fundador de uma seita que punha em
dúvida a bondade de Deus e mostrava extrema severidade para com os
cristãos que, pelo temor de torturas, tinham retornado ao paganismo.

Temos os marcionistas, que eram seguidores de Márcion, que floresceu


em 144. Ele fundou a primeira grande heresia anticatólica e pregava um
dualismo semelhante ao dos gnósticos, rejeitava de todo o Deus do Velho
Testamento e encarecia a importância das práticas ascéticas.

Temos os valentinianos, sob cujas bandeiras se haviam aos poucos


congregado os diversos gnósticos da Ásia e do Egito. Era uma seita gnóstica
egípcia fundada por Valentim em 161, que sustentava a existência de dois
mundos, um visível e outro invisível. E temos os maniqueus, que tinham
recentemente importado da Pérsia uma combinação mais engenhosa de
teologia oriental e cristã.

Na África teve os donatistas no século IV, que começaram quando uma


acirrada disputa entre dois bispos, Ceciliano e Donato, acerca do governo da
Igreja africana, resultou no triunfo do primeiro graças à preferência imperial. Os
seguidores de Donato se inculcavam os únicos cristãos verdadeiros,
distinguindo-se tanto pelo seu zelo inflexível como pela sua aversão ao credo
ortodoxo e sua própria tendência para a cisma. Eles sustentavam que a Igreja
não devia perdoar e admitir pecadores, e que os sacramentos, como o batismo,
administrados pelos traditores (cristãos que negaram sua fé durante
a perseguição de Diocleciano de 303 a 305 e posteriormente foram perdoados
e readmitidos na Igreja) eram inválidos. A Igreja Romana admitia que
os traditores poderiam voltar ao corpo da ritualístico e ministrar os
sacramentos, desde que o fizessem seguindo o ritual correto, sem a
necessidade de rebatismo ou da reordenação. O donatismo só iria desaparecer
depois das conquistas muçulmanas na África no século VII.

Mas a mais importante de todas, e a que deu mais trabalho para


erradicar, foi o arianismo. O arianismo foi uma heresia que negava a
Santíssima Trindade, sustentada pelos seguidores de Ário, bispo de
Alexandria, que negava a consubstancialidade entre Jesus e Deus pai, que os
igualasse. Jesus então, seria subordinado a Deus Pai, sendo Ele (Jesus) não o
próprio Deus em si e por si mesmo. Segundo Ário, só existe um Deus
e Jesus é seu filho e não o próprio Deus. Ao mesmo tempo afirmava que Deus
seria um grande eterno mistério, oculto em si mesmo, e que nenhuma criatura
conseguiria revelá-lo, visto que Ele não pode revelar a si mesmo. Foi
condenada como heresia no Primeiro Concílio de Niceia em 325, que declarou
a consubstancialidade do pai e do filho, assim criando o credo nicênico, fixado
por Constantino. Por volta do começo do século IV, quase todos os povos
germânicos já tinham se convertido ao arianismo, e dois imperadores romanos
foram arianos, Constâncio II (337-361) e Valente (364-378), o último sendo
bispo ariano de Mursa.

Por que que essa heresia é tão perigosa? Se a Igreja na época tivesse
falado que Cristo era simplesmente uma criação de Deus, havia a possibilidade
de que os pagãos simplesmente abraçassem o Cristianismo dizendo que é só
mais um culto de Cristo, que é a manifestação do único deus verdadeiro, junto
com Júpiter, Apolo e todos os outros. E com isso o Cristianismo iria ser
absorvido pelo paganismo romano-bárbaro, e as pessoas iriam para a Igreja
assim como iriam para o templo de Júpiter, de Apolo, ou fazer o culto de Mitra,
de Ísis, etc. Mas a Igreja tinha a ideia de que não há salvação fora da Igreja
Católica. Então o arianismo era uma perigosa concessão ao paganismo, e foi
combatido pela Igreja e suprimido dentro das fronteiras do Império Romano.
(representação de São Nicolau de Mira metendo a porrada em Ário)

Vale lembrar que como os romanos eram pagãos e seu Império aceitava
todo tipo de religião, desde que não interferisse nos assuntos políticos de
Roma, todo o tipo de bárbarie pagã era praticada. Por exemplo, o infanticídio
era muito comum na Roma antiga, especialmente com meninas. Os romanos
geralmente não tinham o amor cristão de aceitar o filho de qualquer maneira, e
de tratar a vida como algo sagrado. Por causa disso, a população feminina
romana era extremamente baixa, sendo apenas 40% da população total. Além
disso, abortos eram muito comuns no mundo romano, apesar disso não ser
como hoje uma cartilha política, e esse assunto estar totalmente na mão dos
pais e maridos. Essa é uma das razões porque o Cristianismo se espalhou tão
rapidamente entre as mulheres romanas, porque proibia abortos e infanticídio.
O combate ao arianismo foi importante em especial para erradicar esse tipo de
barbaridade pagã.

A reação de Constantino após o Concílio de Nicéia foi de banir Ário a


uma das províncias remotas da Ilíria, e sua pessoa e seus discípulos foram
estigmatizados, por lei, com o odioso epíteto de “porfirianos”; suas obras foram
condenadas às chamas e aqueles em cuja posse encontrassem incorriam na
pena capital.
No entanto, três anos depois, os exilados foram chamados de volta, e
Eusébio de Nicomédia, que aos poucos retomava sua influência sobre o
espírito de Constantino, tornou a ocupar o trono episcopal de que havia sido
ignominiosamente destituído. O próprio Ário era tratado pela corte toda com o
respeito que teria merecido um homem inocente. Sua fé teve a aprovação do
sínodo de Jerusalém e o imperador parecia impaciente por reparar a sua
injustiça, pelo que promulgou uma ordem peremptória de que fosse
solenemente admitido à comunhão na catedral de Constantinopla. Os três
principais chefes dos católicos no Concílio de Nicéia, Atanásio de Alexandria,
Eustácio de Antioquia e Paulo de Constantinopla, foram destituídos, sob várias
acusações, por sentença de numerosos concílios e subsequentemente banidos
para províncias distantes por Constantino, que foi batizado pelo ariano Eusébio
de Nicomédia.

Os conflitos entre os cristãos nicênicos e os arianos iria se prolongar por


um bom tempo, apesar do período mais conturbado ser desde o Concílio de
Nicéia em 325 até 380, quando Teodósio fez do credo nicênico a religião oficial
do Império. O imperador Constâncio II tentou perseguir Atanásio de Alexandria,
mas sem sucesso, e os católicos resistiam. Atanásio foi levado ao ostracismo
na corte hospitaleira de Treves na Gália, onde ficou por 28 meses. Atanásio foi
trazido de volta à sua pátria por um honroso decreto de Constantino II, que
exprimia profunda convicção da inocência e do mérito de seu venerável
hóspede. Depois de voltar para o Oriente, Atanásia teve que fugir de
Alexandria devido a perseguições de Constâncio II, e passou três anos como
exilado no Vaticano. Ao fim dos três anos, Atanásio foi chamado à corte de
Milão pelo imperador Constante. A causa da verdade e da justiça teve o apoio
da influência do ouro, e os ministros de Constante aconselharam o soberano a
exigir a convocação de uma assembleia eclesiástica que poderia agir como
representante da Igreja católica. Como o imperador do Ocidente apoiava os
católicos, e o do Oriente apoiava os arianos, isso foi gerando os primeiros
sintomas de discórdia e cisma entre as Igrejas grega e latina, revelados no
concílio de Sardica, e que mais tarde vai contribuir para o Grande Cisma do
Oriente em 1054.
Em relação ao paganismo, Constantino suprimia inteiramente suas
práticas. Por exemplo, foram abolidos os sacerdotes afeminados do Egito, e
Constantino desempenhou os deveres de um censor romano quando ordenou
a demolição de diversos templos da Fenícia onde todas as formas de
prostituição eram devotamente praticadas à luz do dia e em honra de Vênus.
Os filhos de Constantino seguiram as pegadas do pai com mais fervor e menos
discrição, e multiplicaram-se aos poucos os motivos de rapina e opressão. No
entanto, tanto no Oriente quanto no Ocidente, tanto nas cidades quanto no
campo, um grande número de templos pagãos foram respeitados ou pelo
menos poupados. A multidão devota podia ainda fazer sacrifícios, festivais e a
procissões com a permissão ou conivência do governo civil.

Em fevereiro de 360, Juliano é declarado imperador, governando a


Gália, Hispânia e Britânia. Em janeiro de 361, Juliano marcha contra
Constâncio II, mas em novembro, Constâncio II morre na Cilícia de febre.
Juliano agora governa todo o Império, sendo o último imperador pagão. Ele
desprezava as honrarias, renunciava aos prazeres e cumpria com incessante
diligência os deveres do seu alto cargo. Ele também despediu um exército de
servos e escravos imperiais, buscou restaurar a independência e força dos
magistrados civis, e assumiu amiúde o papel de orador e juiz, dirigindo-se ao
Senado ou ouvindo casos no tribunal.

Juliano tem o nome de “O Apóstota” porque ele era fiel aos deuses de
Roma e Atenas, em reação à educação cristã que lhe foi dada pelo seu tutor-
carcereiro Constâncio, que lhe deu “a educação não de um herói mas de um
santo”. Segundo Gibbon, “quase degradavam o imperador ao nível de um
monge egípcio”. Juliano prometeu num dos seus primeiros éditos liberdade de
culto a todos os habitantes do mundo romano, trouxe de volta todos os cristãos
de diversas seitas que tinham sido exilados por Constâncio o e ordenou a
reabertura de todos os templos pagãos fechados. As honras e imunidades
clericais foram suspendidas, proibiu-se legar dinheiro a Igreja, excluíam-se os
cristãos do estudo de gramática e retórica. Os cristãos também foram
afastados gradualmente dos altos cargos no exército e no governo civil e
obrigados a pagar indenizações pelos templos pagãos que haviam destruído.
Se o reinado de Juliano não tivesse durado tão pouco, é capaz dele ter
começado uma guerra religiosa contra a Igreja. Seu sucessor, o cristão devoto
Joviano, reestabeleceu o Cristianismo como a religião oficial.

Em janeiro de 363, Juliano ataca a Pérsia e reconquista os territórios da


Síria e Mesopotâmia ocupados. Ele invade a Pérsia, e ocorre a batalha de
Ctesifonte e de Samarra, onde ele perde e morre em batalha em maio. O
imperador que assume é Joviano, mas que morre em fevereiro de 364,
supostamente por inalar gases tóxicos ou de indigestão. Joviano teve que
assinar um tratado humilhante com os persas, em que os persas obtiveram de
volta as cinco províncias romanas além-Tigre bem como a inexpugnável cidade
de Nisibis. Com isso acaba a dinastia Constantiniana, e se inicia a dinastia
Valentiniana, com Valentiniano I sendo declarado Augusto e seu irmão Valente
sendo declarado césar.

Flávio Valentiniano acaba ficando com a parte ocidental, e Flávio Júlio


Valente é elevado a Augusto e fica com o Oriente. Valentiniano, com sua
fisionomia viril, dava uma funda impressão de sensatez e inteligência, inspirava
respeito aos amigos e temor aos inimigos. Secundando-lhe os esforços da
impávida coragem, ele herdara as vantagens de uma constituição vigorosa e
sadia. Mercê dos hábitos de castidade e temperança, que contêm os apetites e
revigoram as faculdades, Valentiniano conservara a autoestima e a estima
pública. Valentiniano já tinha 43 anos de idade quando foi chamado para
assumir todo o Império, e Valente tinha 36 anos.

Valentiniano reformou a administração do Império, e todas as classes de


súditos que haviam sido prejudicadas ou oprimidas no reinado de Juliano foram
convidadas a corroborar suas acusações públicas. A maior parte dos ministros
do palácio e os governadores das províncias foram demitidos de seus
respectivos postos.

Podemos ver como Roma já tinha se tornado extremamente totalitária.


Nos confins da Itália e da Ásia, jovens e velhos vinham trazidos em cadeias
aos tribunais de Roma e Antioquia; e senadores, matronas e filósofos expiavam
em meio a ignominiosas e cruéis torturas. Multas e confiscos arruinavam as
famílias mais ricas, e os mais inocentes cidadãos temiam pela sua segurança.
Nas mais detestáveis províncias, os prisioneiros, os exilados e os fugitivos
constituíam a maioria dos habitantes. Valentiniano considerava a clemência
como fraqueza e a paixão como virtude. Frases como “Cortem-lhe a cabeça”,
“Queimem-no vivo”, “Que ele seja espancado até morrer”, saíam
frequentemente da boca do imperador, contra qualquer um que estivesse
professando leves ou imaginárias ofensas.

Os dois imperadores foram reformando gradualmente os abusos da


época de Constâncio, adotaram e aperfeiçoaram os planos de Juliano e do seu
sucessor, e evidenciaram um estilo e índole de legislação capazes de inspirar à
posteridade opinião das mais favoráveis no tocante ao seu caráter e governo.

Era intenção de Valentiniano que as artes da gramática e da retórica


fossem ensinadas, nas línguas grega e latina, na metrópole de cada província.
A norma de conduta para os estudantes é tanto mais curiosa quanto antecipa
os primeiros lineamentos da estrutura e da disciplina de uma universidade
moderna. Era essencial que eles trouxessem os competentes certificados
fornecidos pelos magistrados de suas províncias natais, e num registro público
ficavam anotados seus nomes, as profissões e os locais de residência. Aos
jovens estudantes proibia-se perder tempo em festas ou no teatro, e o termo de
sua educação se limitava à idade de vinte anos. O prefeito da cidade podia
castigar os indolentes e os refratários com vergastadas ou expulsão, e fazia um
relatório anual ao mestre dos ofícios, a fim de que o saber e os talentos dos
estudantes pudessem ser utilizados com proveito no serviço público. Olha a
burocracia romana inchando mais ainda!

Enquanto Valentiniano aumentou os impostos barbaramente, tratando


de extorquir sem escrúpulo uma elevada cota da propriedade privada, Valente
reduziu de um quarto, nos primeiros anos do seu reinado, o tributo do Oriente.
Os pagãos, os judeus e todas as várias seitas que reconheciam a divina
autoridade do Cristo estavam protegidos por lei, e Valentiniano só proibia
práticas secretas e criminosas que abusavam do nome de religião para
sombrios intentos de perversidade e desordem. A arte da magia era a que era
punida com mais rigor. Enquanto isso, o reinado de Valente no Oriente foi
marcado pelo conflito entre arianos e católicos, sendo ele próprio ariano.
No entanto, Valentiniano regulamentou e ordenou que freiras e bispos e
todos quantos pertencessem a ordens eclesiásticas ficassem incapacitados de
receber quaisquer doações testamentárias e se confinassem estritamente aos
direitos naturais e legais de herança. Na capital do império, as mulheres de
casas nobres e opulentas possuíam parte assaz considerável de propriedade
independente, e muitas delas, devotas, abraçavam as doutrinas do
cristianismo. Agora as imensas fortunas das damas romanas se iam
consumindo em pródigas esmolas e peregrinações dispendiosas.

Em 365, um grande terremoto aflingiu a maior parte do Império Romano.


Foi intensamente sentido nas costas da Sicília, da Dalmácia, da Grécia e do
Egito. Grandes barcos foram arrastados e instalados sobre os tetos das casas
ou à distância de três quilômetros da praia. As águas varreram as pessoas e
suas habitações e a cidade de Alexandria passou a comemorar anualmente o
dia em que cinquenta mil seres humanos perderam a vida na inundação.

A história de como Valentiniano morreu em 27 de novembro de 375 é


um pouco engraçada. Nos conflitos eternos entre romanos e bárbaros, um rei
bárbaro havia sido atraído a um banquete romano onde foi morto. Sua tribo, os
quados, se vingaram devastando várias províncias romanas, e Valentiniano
chefiou a maior parte de suas forças numa campanha de retaliação. Num
intervalo de calma, durante a guerra, os embaixadores dos quados foram
levados à presença do imperador para implorarem clemência. Em resposta, o
imperador de forma ingrata, baixa e insolente, furioso com os embaixadores,
gritou tanto que sofreu um ataque do coração e morreu em poucos minutos.
Sua severidade acabou sendo o que o matou no final das contas, e como
Dante provou em sua Divina Comédia, Deus afinal das contas tem senso de
humor.

Já que falamos bastante da reformulação do Estado romano feita por


Diocleciano e Constantino, que foi ampliando mais ainda a burocracia e
estatismo romano, vamos falar das consequências disso. Vamos imaginar a
vida de um civil normal, no Império Romano de 364 a 476. Antes de 364, ele
podia praticar esportes, tomar banhos públicos, etc. Agora, a desigualdade era
imensa, e só os mais ricos podiam encontrar emprego em uma cidade, ou
frequentar esses espaços. Os anfiteatros estão sendo usados como pedreiras,
porque os civis roubam as pedras, sendo que Valentiniano III, que governou de
425 a 455, teve até que decretar a proibição do roubo de pedras. As corridas
de bigas ficaram desatualizados, e as gladiaturas foram proibidas em 399 pelo
imperador Honório.

Nos últimos 200 anos do Império, a classe média do império quase


desapareceu, e 90% da população romana era pobre no século V. O povo
miserável trabalhava no campo, onde pagava impostos, e ganhavam
diaramente duas moedas de bronze, chamada Follis, que vale cerca de 2 pães.
Se você tivesse sorte, de vez em quando pode ganhar uma de prata, Siliqua,
que vale 300 Follis. Cedo ou tarde, você terá que se submeter ao escambo, já
que até as moedas de prata e bronze vão inflacionar e perder o seu valor. Seu
maior medo não são os bárbaros, mas sim o coletor de impostos romano. Entre
375 e 400 os impostos subiram cerca de 300%, o que significa que tudo será
do Estado (nada contra o Estado, nada fora do Estado). E você ainda será
obrigado a fornecer ao Estado, madeira, carvão, e trigo, reparar estradas e
prédios públicos, trabalhando de graça. A única arma que você tem contra os
coletores de impostos é o suborno.

Um jeito de ganhar dinheiro era vender os próprios filhos como escravos,


o que é completamente imoral, mas as pessoas não tinham escolha. De 300
em diante, há uma série de decretos dos imperadores, proibindo os cidadãos
de vender seus filhos como escravos, mas até meados dos século V, esses
decretos vão ser amplamente ignorados. A infinidade de decretos que te
proibiam de fazer qualquer coisa não é pouca. Então você se muda, vende sua
terra, só que em 390, o imperador Teodósio I proibe qualquer tipo de migração
dentro do reino. Então você e sua família são obrigados a viver onde estão
para sempre. Se você quiser mudar de emprego para tentar melhorar de vida,
não pode, porque o mesmo decreto proíbe que as pessoas mudem de
emprego. A única forma de mudar de emprego, era se um soldado te recrutar,
e você terá que servir 25 anos no exército. Se você evitar o recrutamento, você
será queimado vivo. A última possibilidade de se livrar disso tudo é você entrar
nos serviços de algum senador ou proprietário rico, e se tornar um arrendatário.
Ele vai ter proteger dos funcionários romanos, recrutadores e cobradores de
impostos, mas você será um escravo softcore do proprietário de terra. E
quando você se tornar inútil para ele, ele vai te jogar a céu aberto, e não vai
mais te proteger.

As terras da Itália, que tinham sido originariamente divididas entre as


famílias de proprietários libertos e indigentes, foram sendo compradas ou
usurpadas pela avareza dos nobres, e na época da queda da república,
calcula-se que somente dois mil cidadãos eram donos de riqueza
independente. Esse problema das terras só vai piorar ao longo do Império.

Outros fatores que contibuiram com a queda do Império é que não havia
um sistema de sucessão clara quando um imperador morria, e também com o
tempo as legiões romanas foram ficando ultrapassadas.

No começo, apenas um membro da Dinastia Júlio Claudiana podia se


tornar imperador. Mas em 69 um não membro da dinastia flaviana tomou o
poder, que era Vespasiano, após a guerra civil depois da morte de Nero.
Trajano abriu um precedente, com suas raízes hispânicas, em 98, e agora o
imperador podia vir de qualquer província. Em 196, Septímio Severo mostrou
que vencer todo mundo que está no seu caminho é o suficiente para se tornar
imperador. Macrino em 217, mostrou que você nem precisava ser senador,
bastava matar o imperador antecessor. E podia até eleger um trácio, como
Maximino Traço, em um escritório imperial, por suas legiões. A partir de 235,
qualquer um podia se tornar imperador.

A maior parte dos recursos e tempo do imperador era para se prevenir


que seus generais lhe matassem, e usurpassem o poder. Reconstruir estradas
significa que o usurpador poderá marchar mais rápido para te depor, reviver a
economia pode significar que você não terá dinheiro o suficiente para
desencorajar os motins dos soldados, e em vez de nomear pessoas capazes
para administrar as províncias e afastar os bárbaros, você irá nomear os servos
mais inofensivos, fornecendo pouco dinheiro. Pessoas capazes são uma
ameaça, porque se eles liderarem uma campanha bem sucedida contra os
bárbaros, ou administrassem muito bem uma província, podem acabar se
declarando imperadores, e liderarão forças contra você.

No final do Império, eles gastavam cerca de 50-60% dos gastos públicos


para manter as tropas militares. Além disso, muitos legionários adotaram o
padrão de matar seus imperadores e se juntarem ao usurpador, para evitar
uma guerra civil. Na batalha de Mursa, em 351, Constâncio II derrotou o
usurpador Magnêncio, mas naquele dia, cerca de 60.000 romanos morreram,
dos dois lados. Mesmo quando você não obrigue os soldados a lutar contra
seus compatriotas, e não corte o seu pagamento, você ainda pode ser morto
por qualquer um de seus soldados, por qualquer motivo. Aureliano foi morto por
ser severo, Severo Alexandre por ser covarde, Elagabalus por ser muito
degenerado, Constante era muito gay, Graciano negligenciou suas
responsabilidades, Maximino sitiou uma cidade por muito tempo, Probo forçou
os soldados a fazerem trabalhos manuais, e Carino ficou com a esposa de seu
centurião. Então o imperador passava pelo menos metade do seu tempo se
protegendo de possíveis usurpadores. Além disso, agir como uma pessoa
normal na frente das pessoas simples como Augusto fazia é perigoso, porque
você pode perder a sua aura divina, que o protege de ser deposto.

Além disso, as legiões romanas se tornaram incapazes de proteger o


Império, e careciam de mão-de-obra pra suprir a crescente demanda de novos
soldados. Um documento chamado Notitia Dignitatum de 420, dizia que tinham
600.000 soldados. Esse numero é bem exagerado, e muitos desses eram não
combatentes, pessoal de fronteira, etc. O número real, era mais ou menos
metade, 300.000, 125.000 para o do Ocidente, e 175.000 para o do Oriente. No
século I os italianos foram completamente isentos de ter que servir ao Exército,
já que eram considerados muito fracos para serviço militar. O imperador
Valentiniano III declarou que nenhum cidadão italiano é obrigado a servir no
Exército em 395. Os melhores soldados eram recrutados na Panônia e na
Mésia, mas boa parte dessas províncias estavam no lado Oriental do Império.
Além disso, a Britânia e boa parte da Hispânia foram perdidas em 410, e os
impostos africanos só podiam ser usados para proteger um suprimento vital de
grãos da África. O principal ponto de recrutamento ficou na Gália, que era
propensa ao separatismo.

Os romanos ainda tinham mais gente nas tropas, mas tinham


equipamentos e treinamento piores. Já os bárbaros adotaram o estilo de luta
romano, e os equipamentos também, de modo que na Antiguidade Tardia, você
não encontraria quase nenhuma diferença entre as tropas romanas e bárbaras.
Além disso, os alemães se tornaram a espinha dorsal do exército romano, que
começaram a confiar mais nos mercenários góticos, francos, ou hunos, do que
no seu próprio povo. Os benefícios de ser um militar romano acabaram, e os
salários ficaram baixos, não havia mais chances de ficar rico pilhando os
outros, e nem a chance de mudar seu status social depois dos 25 anos de
serviço militar. Com isso, ninguem mais se alistava, e ficava só germânicos no
exército praticamente.

Desde 212 todo habitante livre do Império recebia cidadania romana


completa. Os senadores enviavam seus trabalhadores mais dispensáveis para
servir ao exército, e esses ficavam geralmente bebendo, brincando e
intimidando civis, em vez de defender o Império. Então no final das contas, a
administração romana apenas pegou o ouro e contratou pra eles, mercenários
bárbaros.

Os germânicos também vão aos poucos se convertendo ao Cristianismo,


e em 325 eles já eram cristãos. No entanto, eles eram outra denominação do
que os católicos apostólicos romanos. Os germânicos que se converteram, se
converteram ao arianismo, uma heresia cristã que negava a Santíssima
Trindade, e acreditava que o filho é subordinado ao Pai.

A partir do século IV você começa a ter uma germanização de Roma,


porque além de mercenários bárbaros serem contratados por Roma, muitas
vezes germânicos eram contratados para o exército como recrutas normais.
Além disso, as classes mais altas, começam a assimilar alguns costumes
germânicos como o de beber cerveja e de usar calças.

O que o historiador Tácito (56-117) escreveu sobre os germânicos é em


grande parte confirmado pelos historiadores posteriores. Ele fala que os
germânicos nunca se contaminaram com casamentos com estrangeiros, e
permaneceram de sangue puro. As características física ele elenca como:
olhos azuis ferozes, cabelos avermelhados, são violentos mas também
capazes de suportar tarefas fatigantes, e não suportam calor ou sede, mesmo
que seu clima garanta períodos de frio e fome por causa da pobreza de seu
solo. Quando não estão em guerra passam boa parte do tempo caçando, e só
comem e dormem. Para os homens mais ousados e guerreios não há emprego
regular. O cuidado da casa e dos campos ficam para as mulheres, velhos e
fracos. Eles amam a indolência e odeiam a paz. Então podemos concluir que
eram nômades e tinham um certo desdem pelo trabalho fixo. Para Tácito os
germânicos são um povo desorganizados, com algumas qualidades e defeitos.

Além disso, o que Tácito diz sobre as instituições políticas germânicas


tem um toque de verdade. Segundo ele havia um certo de grau de democracia
entre eles, obviamente sem a participação de mulheres, estangeiros e
escravos. Era uma democracia dos armados, e podiam nomear reis, que eram
tirados de uma família em particular. No entanto, os reis não tinham o mesmo
poder que um imperador romano, e os reis tinham autoridade mas não poder.
Assuntos de governo interno e de guerra e paz eram resolvidos pela
assembleia da comunidade como um todo, ou na assembleia dos comuns. O
povo iria aprovar ou rejeitar a decisão, batendo suas lanças nos escudos se
aprovarem. Acusações criminais são ouvidas pela assembleia, não há juízes
em tempo integral. Você tinha a ideia da liberdade como algo que foi trazida
pela tribos bárbaras das florestas alemãs. Os anglo-saxões levaram essa ideia
de Assembleia do povo para a Inglaterra, a ideia de prestação de contas, e a
ideia de justiça como algo que é propriedade do povo como um todo, e não de
qualquer classe dominante em particular, e onde o povo participa da sua
administração. Até o século XIX eles tinham a ideia de que a liberdade é um
direito inato dos povos bárbaros.

Mesmo no lado germânico há cidades que até parecem romanas, e as


pessoas falam latim. Quando você vai mais para o norte, você encontra vilas
romanas, onde as pessoas não falam latim todo dia, mas quando lidam com
estrangeiros. E se você for mais ao norte ainda, as vilas desaparecem, mas as
pessoas ainda tem algumas familiaridade com o latim, e podem falar para fazer
negócios com você. Até você chegar no Báltico, onde você compra âmbar e
peles e volta. E no lado romano, também várias pessoas que falam alguma das
várias línguas germânicas. Desde a derrota romana na batalha da Floresta
Teutoburgo, até o final do século II, os romanos deixavam os germânicos
entrarem no Império porque não achavam que eles eram uma ameaça.

Além disso, a partir da década de 370, os hunos começam a chegar na


Europa. O hunos eram um povo nômade da Mongólia que decidiram se
expandir e atacar outros povos. Eles exerciam considerável poder sobre o
próprio império chinês, mas o imperador chinês Vouti, da dinastia Han,
humilhou os hunos com derrotá-los militarmente e ao mesmo tempo destruir-
lhes os aliados.

Os hunos parecem ter-se dividido em três grandes grupos: um


permaneceu no seu país natal e logo foi conquistado e absorvido por outra tribo
tártara conhecida como os sienpi. Um segundo grupo foi se estabelecer no
sudoeste da China, numa região a eles cedida pelo imperador chinês. E
finalmente, um terceiro grupo, mais audaz, arremessou-se para o Ocidente.
Esse terceiro grupo, por sua vez, tomou a dividir-se em dois, um ramo
meridional que construiu uma vasta civilização em volta do mar Cáspio, e um
ramo setentrional que atravessou toda a Asia e Europa oriental e, lá pelo fim do
século IV, subitamente surgiu entre os povos bárbaros, ao longo das fronteiras
ao nordeste do império romano.

Os hunos prontamente conquistaram e absorveram a grande nação dos


alamanos e então se precipitaram sobre os aterrados godos, que acreditavam
piamente que "as bruxas da Cítia (...) tinham copulado no deserto com espíritos
infernais, e que os hunos eram a prole dessa execrável conjunção”. Os
ostrogodos foram os seguintes a serem derrotados, e muitos deles se tomaram
súditos dos hunos.

Os hunos eram basicamente que nem os Dothraki do Game of Thrones,


soldados montados à cavalos, que saqueavam, matavam e estupravam quem
estivesse na sua frente. Os hunos pressionam as tribos germânicas que
passam a fugir para o sul e a entrarem no Império, às vezes pacificamente, às
vezes violentamente. Pelo mapa abaixo, podemos ver que os ostrogodos
ficavam na região da Rússia perto do Caúcaso. No outro mapa, podemos ver a
região em que os hunos chegaram na Europa, pressionando esse povo. Os
hunos inflingiram uma série de derrotas terríveis nos ostrogodos, e eles eram
tão brutais, que o rei ostrogótico cometeu suicídio para não cair nas suas
mãos. Os visigodos também são completamente derrotados, e depois que
verem o que os hunos faziam com os cativos, eles fogem desesperadamente
até atingir a fronteira com o Danúbio.
No reinado de Valentiniano, os nômades saqueiam a África romana em
junho de 364, e os saxões saqueiam e pilham a Britânia em agosto. Em
setembro de 365, o usurpador Procópio, ex-general do imperador Juliano, se
declara imperador em Constantinopla, e só é derrotado em maio de 366, na
batalha de Thyatira, e depois é executado. Em fevereiro de 367, há uma
grande conspiração onde os pictos e saxões atacam a Britânia, quase
tomando-a, e a Britânia só vai ser reconquistada em setembro de 368. Em
maio, os alamanos atacam a Gália, expulsos em outubro. Em outubro de 367, a
Pérsia invade e anexa a Armênia, e Graciano é declarado co-imperador de
Valentiniano. Em abril de 368, há a batalha de Solicínio, onde os romanos
vencem os alamanos. Em fevereiro de 368, a Aquitânia é pilhada pelos
saxões, e Valente destrói os visigodos, além do Danúbio.

Em fevereiro de 370, partes da Armênia são reconquistadas pelos


romanos. No mesmo mês, nômades, alamanos, saxões, quados e sármatas
atacam o Império, mas todos são repelidos até outubro. Em fevereiro de 371,
os nômades atacam o norte da África novamente, e são expulsos em outubro.
Em agosto de 372 tem a revolta de Firmo no norte da África, que só acaba em
março de 375, e a cidade de Cesareia é pilhada e incendiada. Em 373, os
hunos cruzam o rio Don, e o período de migração se inicia, onde as tribos
germânicas começam a imigrar para dentro do Império Romano, fugindo dos
terríveis hunos. Em junho de 373, os quados atacam a Mésia e os sármatas
atacam a Panônia. Os primeiros são expulsos em julho e os segundos em
setembro.

No final de 375, os hunos pressionam os visigodos que migram para o


Império Romano, na região da Mésia. Foram no total, aproximadamente um
milhão de visogodos que entraram no Império. Em novembro de 375,
Valentiniano morre, e Graciano é elevado a Augusto, e seu filho Valentiniano II
é elevado a César. Em setembro de 376, tem os primeiros confrontos entre os
romanos e os visigodos que migraram para a Mésia. Em abril de 377, os
saxões pilham a Britânia. Em março de 378, os alamanos atacam o Império,
mas são derrotados por Graciano em maio, na batalha de Argentovaria.

Quando os visigodos entraram no Império em 375, uma das exigências


dos romanos era que eles teriam que ser desarmados. Eles não aceitaram, e
para conservar as armas chegaram até a prostituir suas mulheres e filhas, com
alguma relutância. Além disso, os romanos instituiram um imposto opressivo
contra os godos famintos. Vendia-se alimentos a um preço exorbitante e, em
lugar de provisões salutares e substanciosas, os mercados estavam cheios de
carne de cachorro ou de animais imundos mortos de doença. Quando
esgotaram suas propriedades, os visigodos continuaram a manter esse tráfico
necessário com a venda de seus filhos e filhas. Eles achavam que era melhor
para a sua prole subsistir numa condição servil do que perecer numa condição
de miserável e desamparada independência. Os chefes dos visigodos eram
Alavivo e Frigiterno.

Os generais de Valente desarmaram os navios e as fortificações que


constituiam as defesas do Danúbio. O descuido fatal foi aproveitado por Alateu
e Safrax, que ansiosamente aguardavam o momento favorável para escapar à
perseguição dos hunos. Com a ajuda das jangadas e embarcações que foram
arranjadas às pressas, os chefes dos ostrogodos transportaram sem oposição
seu rei e seu exército e instalaram um acampamento hostil e independente nos
territórios do Império.

Em agosto de 378, após uma série de maus tratos feitos pelos romanos,
os visigodos vencem pesadamente os romanos na batalha de Adrianópolis, e
Valente é morto queimado vivo, e dois terços das forças romanas dispostas
para a batalha foram exterminados pela espada dos godos vitoriosos.

Em janeiro de 379, Teodósio, general vitorioso no norte da África e na


Britânia, é eleito imperador do Oriente por Graciano. De 379 a 380, os
visigodos saqueiam a Macedônia, Panônia e Grécia. Em junho de 381, os
hunos saqueiam a Panônia. Em abril de 382, Teodósio não teve escolha senão
dar o status de foederati aos visigodos. Esses foederati era um federado que
tinha desde os primórdios da República Romana, em que  identificava uma tribo
associada a Roma por tratado (foedus), mas que não tinha foro nem
de colónia romana nem de cidadania romana (civitas) mas que ainda assim
estava obrigada a fornecer um contingente de soldados, caso isso lhe fosse
solicitado. Os latinos eram considerados aliados de sangue, mas os demais
eram federados ou sócios (socii). Uma numerosa colônia de visigodos se fixou
na Trácia, e o restante dos ostrogodos foi assentado na Frígia e na Lídia. Suas
necessidades imediatas eram supridas por um fornecimento de cereal e gado,
e uma isenção de impostos durante alguns anos lhes encorajou a futura
diligência. Criou-se um exército de 40.000 godos para o serviço permanente do
império do Oriente.

Graciano suspendeu os direitos, imunidades e rendas oficiais que ainda


restavam ao clero pagão. Enquanto Teodósio colocou formalmente ao Senado
a questão de "se o culto de Júpiter ou o de Cristo deve ser a religião dos
romanos”. Sob a forte pressão do imperador, o voto em prol do Cristianismo
como religião oficial foi esmagador. Com isso, se seguiu nas províncias, a
apreensão ou destruição de todos os templos pagãos e lugares consagrados,
bem como a proibição de todas as reuniões, ritos e sacrifícios pagãos.

É interessante falar um pouco mais sobre Teodósio, porque foi ele quem
instituiu o Cristianismo Nicênico como a religião oficial do Império Romano em
380 no Édito de Tessalônica. A Igreja Católica começou a se formar como uma
instituição que poderia começar a competir com o poder do estado romano,
pelo menos em autoridade moral entre o povo. O episódio mais interessante e
emblemático é a disputa entre Santo Ambrósio e Teodósio.

Mas antes disso, vamos falar um pouco mais sobre a história desse
grande Santo e Doutor da Igreja. Quando Santo Ambrósio era adolescente, seu
pai morre, e então sua família vai à Roma, e ele se aprofunda nos estudos da
retórica, da literatura e da lei, e ele adentra o serviço público romano. Como
havia muita briga teológica com os arianos na época, Ambrósio foi chamado
para apaziguar a situação, e o grande parte do povo de Mediolano o aclamou
como bispo. Ele não concordou porque ele não era nem batizado, mas o
imperador Valentiniano achou interessante ele como bispo, e Ambrósio acata a
decisão.

Quando Graciano, filho de Valentiniano é assassinado, a esposa de


Valentiniano, Justina se torna uma espécie de imperatriz regente, e ela era
uma ariana fanática e odiava os católicos de Nicéia. E os arianos começaram a
dar mais trabalho para Santo Ambrósio, e os arianos se espalharam pelo
Império Romano, inclusive no meio militar. E Justina começou a perseguir
Ambrósio de todos os jeitos, mas a fé de Santo Ambrósio o salvou todas as
vezes. Então Justina mandou sicários, assassinos de aluguel para matar
Ambrósio, mas nenhum deles conseguiu, porque ele contava com muito apoio
popular, e pela proteção divina, e ainda chegou a converter um desses sicários
que tentou assassiná-lo, sendo por isso considerado padroeiro dos policiais.

Valentiniano II, que também era ariano, depois de tanto perseguir ele,
tem a audácia de pedir ajuda a Santo Ambrósio. Mas como Santo Ambrósio
não era orgulhoso ajudou Valentiniano II, e apaziguou Magno Máximo para ele
não invadir a Itália, em 383. Mas em 387, Magno Máximo resolve invadir
Mediolano, e Santo Ambrósio vende os bens da Igreja para ajudar os pobres.
Magno Máximo faz um estrago em Mediolano até que Teodósio I o derrotou e o
matou. Depois Ambrósio deu uma bronca em Teodósio I, que entrou na Igreja
falando que mandava em tudo. Teodósio faz o massacre de Tessalônica em
390, onde massacrou 7000 homens, mulheres e crianças, e Santo Ambrósio o
excomungou e o impediu de entrar na Igreja. Depois obrigou Teodósio I a se
vestir de mendigo e fazer penitência, pedindo perdão pelo massacre de
inocentes. Somente depois que Teodósio foi considerado suficientemente e
publicamente humilhado sobre o assunto, sua excomunhão foi revogada. Esse
episódio, além de lendário, é um tapa na cara de quem acha que a Igreja
Católica é estatista.
(Ambrósio nega a entrada na igreja a Teodósio por Anthony van Dyck, National
Gallery)
Em janeiro de 383, Arcádio é nomeado co-imperador de Teodósio. Em
abril de 383, o usurpador Magno Máximo é nomeado imperador da Britânia. Em
agosto, Graciano é assassinado por seus generais, e Máximo fica com o
controle da Britânia, Gália, Récia e Hispânia. Em fevereiro de 384, os hunos
invadem a Trácia. Em julho, Máximo é reconhecido como imperador do
Ocidente por Teodósio. Em outubro, Máximo nomeia seu filho Victor co-
imperador.

Em março de 385, os saxões pilham novamente a Britânia, e em março


de 386 novamente só que junto com os pictos. Em fevereiro de 387, os persas
invadem a Armênia e os sármatas invadem a Panônia. Em maio a Armênia é
dividida, e Máximo “ajuda” Valentiniano II, co-imperador de Teodósio, com os
sármatas. Em julho de 387, os pictos saqueiam a Britânia. Em novembro de
387, começa a guerra entre Teodósio e Máximo. Em março de 388, os saxões
pilham a Hispânia. Em julho de 388, Teodósio vence Máximo na Batalha dos
Salvar e o executa, reunificando o Império. Em julho, os alamanos anexam os
Campos Decúmanos. Em janeiro de 389, Teodósio coloca Valentiniano II como
imperador do Ocidente. Em abril de 389, os saxões e pictos pilham pela
milésima vez a Britânia. Em março de 390, os saxões pilham a Britânia. Em
maio, os visigodos se revoltam contra os romanos, deixando de ser um
foederati, mas voltam a ser em agosto. Em janeiro de 392, Teodósio devolve os
territórios para Valentiniano II. No entanto, em maio Valentiniano II morre
possivelmente por Arbogasto, e o usurpador Eugênio é declarado imperador do
Ocidente. Em janeiro de 393, Teodósio nomeia seu filho Honório como co-
imperador. Em agosto, os irlandeses pilham a Britânia. Em maio de 394,
Teodósio ataca o usurpador Eugênio, e o vence na Batalha de Frígido em
setembro, unindo o Império pela última vez. Em janeiro de 395, Teodósio
morre e o Império é dividido pela última vez entre seus filhos Honório na parte
ocidental e Arcádio na parte oriental.
(divisão final feita após a morte de Teodósio em 395)

Os dois eram muito jovens, com Honório tendo apenas 10 anos, e


Arcádio 18 anos. O Ocidente tinha a capital em Roma, e o Oriente em
Constantinopla. No entanto, depois a capital do Ocidente é movida para
Mediolano em 401, porque é mais perto do Reno. E quando as condições se
deterioram ainda mais, a capital é movida para Ravena, que é cercada de
pântanos, o que torna difícil conquistar por terra, e é ligada pela Via Ignatia a
Constantinopla, tem um porto e é uma viagem relativamente curta até
Constantinopla pelo mar.

Com isso o Império perde um tesouro em comum e uma zona militar em


comum. E com isso o leste rico é capaz de se tornar uma nova civilização, mais
avançada. O governante de verdade do leste era Rufinus, que era da Gália, e
não falava bem o grego. O governo oriental é um governo civil, e reduziu o
tamanho de suas forças armadas, e confia na sua diplomacia cada vez mais
elaborada para garantir sua defesa. Eles subornam os bárbaros, não envia
exércitos contra eles, e suborna para eles lutarem uns contra os outros. O leste
prospera tanto, que em uma geração, que o governo imperial em
Constantinopla estava abaixando impostos e abolindo impostos.

Enquanto isso, o oeste só decai. Os impostos da Síria, do Egito, da Ásia


Menor, fluiam para Roma, e agora não fluem mais. O império oriental estava
disposto a subsidiar a corte ocidental, mas não em questões militares, pois eles
não estavam preocupados com a fronteira com o Reno. E como Honório era
muito novo, quem estava no comando nos primeiros anos de seu reinado era o
chefe germânico das forças armadas, Stilicho (Estilicão).
(Honório, Imperador Romano Ocidental, 395-423, Jean-Paul Laurens (1838-
1921))

Honório excluiu todas as pessoas que eram contrárias à Igreja católica


de todos os cargos do Estado, rejeitou obstinadamente o serviço de quantos
dissentissem da sua religião, e arrebatadamente desqualificou muitos dos seus
mais bravos e mais hábeis oficiais que aderiam ao culto pagão ou perfilhavam
as opiniões do arianismo.

Para se ter uma ideia do quanto o estado de bem estar social romano
era gigante, a distribuição mensal de trigo se converteu numa cota diária de
pão. Um grande número de fornos foi construído e mantido com dinheiro
público, e na hora marcada, todo cidadão munido de um talão subia o lance de
escadas que houvesse sido prescrito para o seu distrito ou divisão e recebia,
como donativo ou a um preço muito baixo, três libras de pão para o consumo
de sua família. As florestas da Lucânia, fornecia, à guisa de tributo, um
abundante suprimento de carne salutar e barata. Durante cinco meses do ano,
uma cota regular de toucinho era distribuída aos cidadãos mais pobres, e fixou-
se o consumo anual da capital, numa época em que decaíra muito do seu
antigo esplendor, em três milhões seiscentas e vinte oito mil libras, de
conformidade com um édito de Valentiniano III.

E a germanização dos romanos se aprofunda. Stilicho era casado com a


irmã de Teodósio, e Arcádio se casa com uma alemã, e seu filho Teodósio II é
meio germânico, meio romano.

As coisas pioram quando em 401 os governantes do oriente resolvem se


livrar dos visigodos. O governo oriental dá um grande suborno para Alarico, o
líder dos visigodos, para ele tentar a sorte na Itália. Então em 401 os visigodos
liderados por Alarico vão para a Itália, e com isso a capital do Ocidente é
movida para Mediolano. Nenhum desses bárbaros queriam destruir o Império,
eles queriam é receber os benefícios de estar no Império. Stilicho agora estava
com sérios problemas, porque estava com exércitos inadequados, e tinha que
proteger a fronteira do Reno e Danúbio e ainda lidar com os visigodos. Por
mais que todas as vezes que as tropas de Stilicho encontram as de Alarico,
Stilicho vence, ele nunca consegue dar o golpe final. Em 406, Stilicho decide
ficar com a Ilíria, nos Balcãs, porque achava que era província do Ocidente
porque falavam latim, e na divisão de Teodósio, essa parte ficou com o Oriente.
Então parece que o plano era Stilicho se juntar a Alarico e conquistar essa
província, e Alarico ser feito governador dessa província, e em troca forneceria
soldados a Stilicho e defenderia a Itália.

Apesar desse plano realmente ser brilhante, em 406 uma vasta


confederação de bárbaros cruzam o Reno no inverno, quando o rio congelou.
Não há recursos para empurrá-los de volta, e eles se espalham pela Gália,
para Espanha, Norte da África. Então o esquema de Stilicho vai por água
abaixo, ele é preso e executado em 408. Parece ter sido um golpe com
colaboração do Oriente. Então há um massacre de alemães na Itália, e muitas
dessas pessoas mudam de lado, e vão para o lado de Alarico. O Senado em
Roma e o imperador em Ravena, se recusam a fazer negócios com Alarico.
Alarico aparece três vezes nos portões de Roma, e três vezes lhe foi dado
muito dinheiro para ir embora. Mas em 410, Alarico entra na cidade, e Roma
cai pelos visigodos, com a cidade sendo saqueada. Isso causa um tremendo
choque para o lado ocidental e oriental do Império. No norte da África, Santo
Agostinho ao ver isso começa a escrever o seu livro “A Cidade de Deus”, de
tão chocado que ficou, e observando esses fatos de perto, e escreve que não
tem mais como reerguer o Império, por causa do que ele se tornou.

Apesar de chocar muito esse acontecimento, os visigodos apesar de


saquear a cidade e levar todo o ouro que puderam carregar, não há muitas
perdas de vidas, não há muita destruição de propriedades, e os visigodos já
eram cristãos arianos faz um bom tempo. Alarico tem uma reunião longa e
amigável com o papa, as Igrejas são sacrossantas e não são saqueadas, e
passados alguns dias, Alarico e seus soldados saem de Roma. A queda da
cidade de Roma em 410 é mais marcante pelo psicológico abalado que deixou
as pessoas, já que Roma não era saqueada desde 390 a.C. pelos gauleses,
mas não é grande coisa em comparação aos acontecimentos que levaram a
queda do Império.

Apesar dos bárbaros que entraram no Império não serem selvagens,


eles não estão dispostos a sair, e convivem de forma bastante instável com os
administradores romanos. Eles não podem ser expulsos porque o Estado
romano não tem forças para isso, mas também muitos passam a desertar para
o lado dos bárbaros. O que os germânicos oferecem aos provincianos romanos
da Hispânia, Gália, e Itália, é impostos muito menores, e nada muito mais que
isso, e a vida vai continuar da mesma maneira. Além disso, o Império Romano
do Ocidente era muito pouco povoado, e tinha alguns vazios demográficos, e
terras sem ninguém também.

((Alarico entrando em Roma)


Em abril de 396, os visigodos saqueiam a Macedônia, e os saxões
saqueiam a Britânia. Em abril de 397 tem a revolta de Gildos na África,
subjulgada por Stilicho. Em março de 398, os visigodos novamente vão saquar
a Macedônia e Grécia. Em abril de 399, os vândalos pilham a Récia, e os
saxões pilham a Britânia. Em abril de 402, os visigodos são derrotados nas
batalhas de Polência e na batalha de Verona, no norte da Itália. Em 403, os
saxões, irlandeses e pictos, pilham a Britânia. Em 405, os godos invadem a
Itália, e em fevereiro de 406 há o cerco de Florença, até que eles são
derrotados em julho na batalha de Faesulae.

Em março de 406, o usurpador Graciano é trocado por Constantino III, e


os visigodos conquistam a Panônia a mando de Stilicho. Só que os visigodos
não são recompensados por conquistar a Panônia e em julho de 407, eles
conquistam a Récia. Em setembro de 406, Marcus é declarado imperador na
Britânia, e em dezembro tem o inverno sombrio onde o Reno congela e ocorre
uma grande migração de suevos, vândalos, alanos, e outras tribos para o
Império. Em setembro de 407, a Gália declara apoio a Constantino III. Em abril
de 408, Constantino III nomeia seu filho Constante como césar e ordena ele a
conquistar a Hispânia. Em junho de 408, Arcádio morre em Constantinopla, e
Teodósio II assume o Império Oriental. Em julho de 408, os visigodos invadem
a Itália e lançam um cerco sobre Roma. Em outubro, os saxões lançam saques
e ataques severos à Britânia. Em dezembro de 408, Roma é aliviada do cerco.
Em fevereiro de 409, Constantino III é reconhecido por Honório. Em junho de
409, os vândalos, suevos e alanos, cruzam as montanhas dos Pirineus para a
Hispânia. Em outubro de 409, Gerôntio se rebela contra Constantino III na
Hispânia, e nomeia seu filho Máximo imperador.

Em novembro de 409 há o segundo cerco à Roma pelos visigodos, e o


usurpador Prisco Átalo é declarado imperador. Em janeiro de 410, o norte da
Gália e a Britânia se juntam a Honório. Em março de 410, toda a Britânia é
abandonada pelos romanos, que transferem as tropas de lá para regiões onde
precisava mais. No mesmo mês o cerco de Roma é levantado, e Átalo invade a
África. Em junho, Átalo é forçado a renunciar pelos visigodos. Em agosto de
410, acontece o saque de Roma pelos visigodos comandados por Alarico I. Em
411, os francos e burgúndios invadem o Império. Em junho de 411, Máximo é
morto por seus soldados e seus territórios declaram lealdade a Honório. No
mesmo mês, Constantino III é executado por Honório, e suevos formam seu
reino no noroeste da Hispânia, ainda como foederati. Em setembro de 411,
Jovino se declara imperador na Germânia. Em novembro é formado o reino dos
alanos no sudoeste da Hispânia, e em março de 412, os vândalos foram seu
reino no sul da Hispânia. Em dezembro de 412, o usurpador Heracliano se
rebela na África, invade a Itália, mas é rapidamente morto. Em abril de 413,
Jovino e Heracliano são derrotados e logo executados.

Em setembro de 413, os burgúndios se tornam foederati na região da


Gália, perto da Récia. Em junho de 414, Prisco Átalo é novamente declarado
imperador pelos visogodos. No entanto, em março de 415, os visigodos
invadem os alanos e vândalos e depoem Átalo. Os visigodos fazem os alanos
recuarem bastante, e os alanos se tornam foederati em março de 416. Em
outubro de 416, os visigodos se tornam foederati no sudoeste da Gália. Em
julho de 419, outro usurpador chamado Máximo se rebela na Hispânia e os
suevos, vândalos e alanos lutam contra ele, e ele é executado em janeiro de
421. Em fevereiro de 421, Constâncio III é nomeado co-imperador de Honório,
mas governa somente até setembro, quando morreu de doença. Em setembro
de 421, começa a guerra entre o Império Oriental contra a Pérsia, que acaba
em junho de 422, resultando em nenhuma mudança de território. Em março de
422, os bérberes conquistam uma grande faixa de terra da Mauritânia, no norte
da África ocidental.

Em outubro de 422, os francos se tornam foederati no extremo norte da


Gália. Em agosto de 423, Honório morre em Ravena, e João se proclama
imperador em novembro. Em janeiro de 425, Teodósio II do Império Oriental
depõe João e coloca Valentiniano III como imperador ocidental, de apenas 6
anos de idade. Em janeiro de 426, os vândalos saqueiam a Mauritânia. Em
abril, os visigodos fazem um cerco em Arles, no sudeste da Gália. Em março
de 427, o usurpador Bonifácio se rebela e toma todo o norte da África
Ocidental. Em março de 428, os suevos atacam os alanos e vândalos, e os
romanos atacam os francos no norte. Em agosto de 428, a Armênia que era
vassala da Pérsia, é enfim conquistada por ela. Em fevereiro de 429 os
vândalos e alanos invadem a África, e há uma paz entre Valentiniano III e
Bonifácio. Em junho de 429, os visigodos e suevos retiram seu status de
foederati. Em janeiro de 430, os juguntos invadem a Récia, e os bérberes
invadem o oeste da Mauritânia, tomando o norte do atual Marrocos. Em março
de 430, os vândalos fazem um cerco em Hipona. Em maio de 430, os romanos
derrotam os juguntos.

Em julho de 431, os vândalos conquistam Hipona, e os romanos fazem


os visigodos recuarem. Em novembro, os visigodos e suevos voltam a ser
foederati. Em janeiro de 432, Bagauti começa a reinstalar a Britânia na
Armórica, atual Normandia na França. Em março, o general Aécio se revolta
contra o Império, mas é derrotado na batalha de Remini, e retorna ao poder
com a ajuda dos hunos. Em agosto de 434, há uma contra-ofensiva fracassada
na África. Em maio de 435, os vândalos se tornam foederati e trocam alguns
territórios com Roma. Em julho do mesmo ano, Bagauti se rebela na Hispânia,
mas seus territórios são conquistados pelos visigodos. Os burgúndios deixam o
status de foederati e se expandem um pouco para o norte. Em abril de 436, os
francos e visigodos também deixam o status de foederati e passam a se
expandir. Em 436, os hunos invadem os burgúndios, e Roma reassenta os
burgúndios em um foederati menor, na mesma região. Em setembro de 436, os
visigodos são derrotados na batalha de Narbone. Em setembro de 437, os
suevos invadem o resto da Hispânia, expandindo seu foederati para metade
ocidental da província. Em março de 439, os vândalos deixam seu status de
foederati e atacam Cartago e conquistam a cidade em outubro.

Em fevereiro de 440, começa a guerra do Império do Oriente com a


Pérsia, que acaba em maio com os persas conquistam um território bem
pequeno na Síria. No mesmo mês, os vândalos atacam o noroeste do Egito,
mas são facilmente repelidos pelo Império do Oriente. Em fevereiro de 440, os
francos invadem o norte da Gália e a Germânia. Em junho de 441, os suevos
deixam seu status de foederati e os francos saqueiam o norte da Gália. Em
julho de 442, o reino vândalo independente é fundado. Em dezembro de 442,
os visigodos novamente se tornam foederati. Em junho de 443, os francos
saqueiam Tréveros. Em janeiro de 444, os suevos tomam partes do leste da
Hispânia. Em abril de 444, os vândalos quebram a paz com os romanos e
tomam o resto do norte da África Ocidental. Em julho de 444, os francos
novamente saqueiam Tréveros. Em abril de 446, os romanos e visigodos
lançam uma campanha contra os suevos na Hispânia, mas é mal sucedida. Em
dezembro de 448, os suevos se tornam um reino independente. Em junho de
449, os romanos expulsam os francos da Colônia Agripina, e os romanos
vencem a batalha de Vicus Helena. Em agosto de 449, os visigodos
conquistam Tarragona. Em fevereiro de 450, há uma revolta armênia contra os
persas, mas são vencidos na batalha de Avarayr. Em março de 450, há uma
revolta de Bagauti, e ele toma Armorica dos romanos. Em julho de 450,
Teodósio II morre, e Marciano é eleito imperador do Oriente.

No entanto, apesar dos germânicos não serem bárbaros e violentos com


as pessoas normais, e já terem um grau superior de civilização porque já eram
cristão, mesmo que arianos, o mesmo não podemos dizer dos hunos. Os
hunos eram tipo os mongóis do final da Idade Média, e esses eram bárbaros no
stricto sensu do termo. Em abril de 395, eles lançam um ataque gigantesco na
Pérsia e no Império Oriental, e são derrotados nas batalhas de Ctesifonte e
Antióquia em julho. Em fevereiro de 407, eles saquiam a Trácia. Em junho de
425, eles conquistam a Panônia, e só vão sair em outubro de 427. Em abril de
433, algumas partes da Panônia são cedidas aos hunos. Em março de 434,
eles invadem a Trácia, e recuam em 435. No começo de 440, eles atacam o
Império do Oriente, e só saem em março de 441. Em abril de 447, eles
novamente invadem o Império Oriental, e derrotam os romanos na batalha de
Urus em agosto. Em julho de 447, Teodósio II concorda em pagar tributos aos
hunos, criando uma zona tampão. Em outubro de 450, os hunos invadem o
Império Ocidental, são vencidos por uma coalizão de francos, romanos,
burgúndios e visigodos, na batalha dos Campos Cataláunicos.

Eles então invadem a Itália em março de 452, saqueando Mediolano e


Aquileia. Eles destruiram completamente Aquileia, uma cidade muito grande e
rica, que permaneceu em ruínas por século depois que os hunos a destruíram.
Átila, o grande líder dos hunos leva eles até Roma, e é um pouco misterioso o
que acontece. O papa Leão I em 452 foi para fora dos portões de Roma e se
encontrou com Átila, e depois de horas de conversa, convenceu Átila e seus
hunos a desistirem de tomar a cidade, e eles foram embora.
(A reunião entre Leão Magno e Atilla (Stanza di Eliodoro), 1512, por Raffaelo
Sanzio da Urbino)

O general Aécio foi o último grande general romano, e conseguiu ganhar


dos Hunos na batalha dos Campos Cataláunicos, em 451. E graças a ele, os
romanos conseguiram colocar algumas tribos umas contra as outras. Visigodos
contra suevos, suevos contra vândalos, hunos contra burgúndios, francos
contra outros tipos de francos. Sua luta contra as hordas húnicas de Átila,
terminou exatamente quando Aécio repeliu as forças hunas na batalha dos
Campos Cataláunicos. A coalizão entre romanos, francos, burgúndios e
visigodos foi vitoriosa, mas Aécio se recusou a dar o golpe mortal nos hunos,
porque sabia que a ameaça huna era a única coisa que mantinha as tribos
germânicas na linha. O Império Huno se dissolveu depois da morte da Átila em
453, assassinado por uma espiã romana. Na batalha de Nedao, os hunos são
derrotados de vez por várias tribos germânicas e dispersam. No entanto, ainda
tinha 6 tribos germânicas para lidar, e Valentiniano III um ano depois mata
Aécio, num ato completamente estúpido e insano. O medo germânico dos
hunos, e o pragamatismo de Aécio eram as únicas coisas que mantinham o
Império ainda de pé, mesmo que em frangalhos.

(O assassinato de Flávio Aécio, por Jarek Nocon)


(Átila, o huno devastando a cidade de Aquileia, Itália, 452 dC - Ilustração de
Tancredi Scarpelli (1866-1937) em "Storia d'Italia")

Com o fim da ameaça dos hunos em 454, os bárbaros já dentro do


Império vão terminar de conquistar o Império do Ocidente. Em março de 455,
Valentiniano III é assassinado em Roma, e assume Petrônio Máximo, que era
fantoche dos bárbaros. Durante esses últimos 20 anos vamos ter imperadores
fantoches dos bárbaros, que não vão conquistar o que restou do Império,
porque queriam o reconhecimento do Império do Oriente. Em novembro, os
visigodos o status de foederati. Em maio os vândalos que já tinham seu reino
estabelecido no norte da África desde 442, saqueiam Roma. Petrônio se casa
com sua irmã Licínia Eudóxia, e força sua filha e se casar com seu filho.
Eudóxia apela para Genserico, rei dos Vândalos, para pedir ajuda, e fala que
uma de suas filhas já foi prometida a um dos filhos de Genserico. Genserico
transporta um grande exército até a Itália, marcha até Roma, e o papa Leão
Magno, novamente impede que Roma seja destruída convencendo Genserico,
que fala que não queria destruir a cidade, queria ir atrás do usurpador. Mas
Genserico saqueia a cidade em 455 e pega tudo que é de ouro e valioso, até a
arca da aliança, que tinha sido retirada de Roma pelo imperador Tito.
Genserico leva a família imperial sobrevivente de volta a Cartago, casa a
sobrinha do imperador com seu filho, e manda o resto da família imperial para
Constantinopla.

O imperador Petrônio é morto durante o saque e assume Ávito, general


proclamado imperador pelos visigodos e galomanos. Ávito é derrotado e
deposto por Ricímero em outubro de 456, que é quem realmente mandava
nesses últimos suspiros do Império.

(Saque de Roma em 455 pelos vândalos)

Em fevereiro de 456, os vândalos conquistam a Sardenha e o Império


Oriental conquista a Lazica. Em abril, os vândalos são derrotados na batalha
de Córsega, e o francos conquistam Tréveros. Em junho, os Vândalos
saqueiam Cápua, e os visigodos invadem o reino suevo. Em agosto, os suevos
são derrotados pelos visigodos na batalha de Orbigo, e no mesmo mês os
burgúndios conquistam Lugduno. Em novembro de 456, os vândalos e
bérberes conquistam o resto da África romana ocidental, e Ávito é deposto. No
mesmo mês, Marciano morre em Constantinopla, e Leão I é eleito imperador
do Império do Oriente.
Em 457 o general Júlio Valério Majoriano é apontado como imperador
pelo exército e apoiado por Ricímero. Majoriano merece um destaque porque
mesmo sendo um imperador fantoche, ele conseguiu algumas vitórias contra
os bárbaros em seu pequeno reinado até 461, e conseguiu recuperar alguns
territórios. Ele chegou a lutar em uma batalha junto com Aécio contra os
francos na Gália. Em junho de 457 os alamanos invadem a Itália, e são
derrotados em agosto na batalha de Campi Cannini. Em fevereiro de 458, os
Vândalos conquistam a Córsega e partes da Sicília. Em março, os Vândalos
pilham Campania, e os visigodos conquistam Arles. Em outubro de 458 os
romanos derrotam os visigodos na batalha de Arles, no sul da França. Em
fevereiro de 459 os alamanos invadem a Gália, e os burgúndios atacam. Em
abril os romanos derrotam os burgúndios, e reconquistam Lugduno. Em janeiro
de 460, os romanos invadem a Hispânia e fazem os visigodos perderam parte
considerável de seu território e voltarem a ser foederati em setembro. Tem uma
anarquia na Hispânia, e as Astúrias e a Cantábria se tornam livres no norte, ou
seja, nem no julgo romano, nem no julgo bárbaro. Em janeiro de 461 a Sicília é
libertada do dominínio dos Vândalos. No entanto, os romanos são
pesadamente derrotados pelos vândalos na batalha naval de Cartagena em
abril de 461, e Majoriano é assassinado em agosto, perto de Mediolano.

Em novembro de 461 o reino de Soissons é fundado no norte da Gália,


em torno de Paris, pelos soldados romanos que restaram lá. Líbio Severo é
declarado imperador por Ricímero, e morre de causas naturais 4 anos depois.
A partir de 462, gradualmente os suevos, visigodos, francos, alamanos,
burgúndios, invadem o que sobrou do Império Ocidental. Em maio de 462, os
visigodos conquistam Arles. Em outubro de 462 o reino independente visigótico
é fundado, e em julho de 463 atacam o reino de Soissons, mas são derrotados
em setembro na batalha de Orleans. Em outubro de 462, os ostrogodos
invadem o Império Ocidental. Em abril de 464, Marselha é cedida aos
visigodos, e os burgúndios conquistam Lugduno. Depois que Líbio Severo
morre em lugar desconhecido, fica 2 anos sem nenhum imperador fantoche ser
proclamado. Em abril de 466 os Rúgios invadem a Récia e formam seu
pequeno reino em dezembro. No mesmo mês, os hunos invadem o Império
Oriental, mas como uma força bem menor do que anteriormente, e são
facilmente expulsos em agosto. Em novembro os vândalos saqueiam a Acáia,
no império oriental. Antêmio é declarado imperador em abril de 467 por Leão I,
imperador oriental. Em março de 468 o que sobrou do Império Ocidental e o
Império Oriental invadem o reino vândalo, reconquistam territórios
consideráveis do reino, mas em julho o Império Oriental é pesadamente
derrotado na batalha de Cape Bon. Em abril de 469, os ostrogodos capturam
uma grande parte da Panônia e da Dalmácia, e em julho os vândalos retomam
as ilhas da Sardenha e Córsega. Em outubro o reino Ostrogótico independente
é fundado.

Em maio de 472 há uma guerra civil com Ricímero e Antêmio é morto


por Gundebaldo, rei dos burgúndios. E Olíbrio assume, proclamado por
Ricímero, com Roma sendo saqueada novamente em julho. Mas Olíbrio morre
em novembro do mesmo ano, e os visigodos tomam o que sobrou da Hispânia,
que era Tarraconensis. Em fevereiro de 473, Glicério se torna o imperador
apontado por Gundebaldo e derrota uma invasão dos visigodos na Itália. Em
novembro de 473, Leão II é nomeado co-imperador de Leão I, imperador
oriental. Em janeiro de 474, Leão I morre, e assume Leão II, e Zeno é nomeado
co-imperador. Em maio de 474, Júlio Nepos que foi proclamado imperador por
Leão I, desembarca em Roma e depõe Glicério. Em novembro de 474, Leão II
morre, e Zeno se torna o imperador Oriental. Em janeiro de 475, Basilisco é
nomeado imperador oriental por sua irmã em oposição a Zeno, e tomou
Constantinopla. Em outubro de 475, o comandante Orestes nomeia seu filho
Rômulo Augusto como imperador, e Júlio Nepos foge para a Dalmácia. Em
março de 476, os vândalos tomam a Sicília, e em julho o comandante Odoacro
se revolta contra Rômulo Augusto, que é deposto em setembro de 476.
Odoacro funda o reino da Itália. Em agosto de 476, Basilisco é deposto por
Zeno e aprisionado até morrer de fome. Em 480 Júlio Nepos é assassinado na
Dalmácia, e seu reino é anexado ao reino de Itália. Em 486, o último bastião do
exército romano no reino de Soissons é conquistados pelos francos, sob o
comando de Clóvis I. E este é o fim do Império Ocidental.

Depois que Rômulo Augusto é deposto por Odoacro, os bárbaros pegam


as insígnias imperiais e mandam para Constantinopla para o imperador Zeno.
Isso significava que o oeste não tem mais um imperador, e Zeno tomaria o
controle nominal do oeste, mas deve nomear Odoacro como protetor da Itália.
E Zeno aceita a oferta de Odoacro.

Considerações Finais

O que gosto do Império Romano, é que mesmo Roma se corrompendo e


se tornando um dos Estados mais totalitários que já existiu na humanidade, e
90% do povo vivendo na miséria nos 120 anos finais do Império, ainda tem
gente que defende. O Império Romano é o perfeito exemplo do que ocorre com
uma civilização que nasce com ideais bons, mas se corrompe, e o Estado vai
crescendo, devagarinho, mas ao longo de décadas e séculos, cai sobre o peso
de si próprio, de sua tamanha burocracia e impostos.

No filme “A Vida de Brian” do grupo humorístico inglês Monty Python, o


personagem questiona o que esses romanos fazem por nós, além de nos taxar,
tirar nossas liberdades, e a população fala: “mas eles fizeram esse aqueoduto,
temos água corrente, saneamento básico, fontes termais, estradas, etc”. Essa
é a desculpa que muitos usam até hoje: “ Tudo bem, eu sei que o Estado é
imoral, ilegítimo, tirano, o maior genocida da história da humanidade, mas
pensa, não é tão ruim assim, você tem rua, estrada, saneamento,etc..”.

Imagina o que Roma poderia ter sido se não tivesse se corrompido.


Muitos colocam datas sobre qual fato que marcou o início da decadência da
civiliação romana. Uns colocam a ascenção de Sétimo Severo em 193, outros
com as reformas de Diocleciano, outros atribuem a culpa ao Cristianismo e a
Constantino. Roma se corrompeu quando deixou de ser uma associação
voluntária de tribos latinas e sabinas, e passou a ser uma cidade-estado
etrusca, lá para 625 a.C.. No entanto, é verdade que até a Segunda Guerra
Púnica (218-201 a.C.), Roma era certamente muito diferente da visão que
temos de filmes famosos como Gladiador, Quo Vadis, etc. Roma era uma
república que tinha componentes aristocráticos, monárquicos e democráticos,
que se equilibravam, e era extremamente próspera e livre. Basicamente até a
política de terra arrasada feita por Fábio Máximo durante a guerra com Aníbal,
Roma era um paraíso de pequenos proprietários de terras livres, com quase
nenhuma diferença de riqueza entre patrícios e plebeus, com exércitos
privados, e com uma rede de aliança entre cidades latinas que o único
compromisso com Roma era de fornecer soldados.

Muitos fazem um paralelo entre o Império Romano e a China da Dinastia


Han, que era o maior Império e mais poderoso do extremo Oriente. Certamente
dá para fazer alguns paralelos e considerações interessantes. Os dois eram
poderosos, grandes, e extremamente estatistas, com impostos e burocracias
enormes. No entanto, após 300 anos de Estado de bem estar social, o Império
Romano ficou destruído depois da crise do século terceiro mostrando suas
falhas. A reconstrução feita por Diocleciano e Constantino tornou o Império
ainda mais totalitário, ao ponto de se tornar tipo uma União Soviética da
Antiguidade. No entanto, a diferença é que a China não caiu para os
“bárbaros”, porque em geral, era bem menos gente que invadia a China.

O Império Romano tinha que cair, porque ele se tornou um organismo


totalmente parasita do seu povo. Sim, é verdade que todo Estado é parasita de
seu povo, mas nesse caso foi pior ainda. Se Roma não tivesse caído, e os
povos germânicos cuidassem da sua administração em frangalhos, não teria o
que hoje chamamos de cultura ocidental. O que fez com que a liberdade
surgisse de fato no mundo, foi quando a Igreja, a única instituição que sobrou
depois das invasões germânicas, cristianizasse os bárbaros, e preservasse a
cultura greco-romana nos mosteiros, e criasse uma nova civilização. A
cristandade medieval, que fundia o direito romano, a honra germânica, a
filosofia grega, e a moral judaico-cristã, foi a civilização mais próspera e livre
que o mundo já viu, especialmente no seu explendor do ano 1000 até 1300.

Quase tudo do que sabemos hoje sobre a Antiguidade europeia é


porque os monges católicos nos mosteiros preservaram e copiaram os livros
dos autores clássicos deste período durante toda a Idade Média. Assim como
quase tudo que sabemos sobre vários povos europeus da Antiguidade, boa
parte é porque Roma os conquistou e preservou seus costumes, escritos e
civilização. Imagina como seria se ao invés da Grécia ser dominada pelos
romanos, tivesse sido dominada pelos persas, em que o Império Parta jurava
destruir toda a cultura helênica levada ao Oriente por Alexandre o Grande.
Os cidadãos romanos pararam de acreditar no Império e nos ideiais que
Roma representava, e grande parte deles foi se submeter aos novos reinos
bárbaros, que ofereciam impostos bem menores. A partir do século III, e
principalmente no século IV e V, o povo começa a fugir das cidades e migrar
para o campo, onde podiam produzir para si mesmos em menor escala, e
assim começa a surgir os feudos, e as relações de suserania e vassalagem.
Como Étienne de La Boétie fala no seu “Discurso da Servidão Voluntária”: “a
humanidade está sendo esmagada por um Colosso de Bronze”. Você não
precisa lutar contra o Colosso, você só precisa sair da frente dele, que ele cai
no chão e quebra em um milhão de pedaçinhos. Foi o que aconteceu com o
Império Romano do Ocidente, se fragmentando em vários reinos bárbaros, que
por sua vez, dentro deles estava fragmentado por milhares de feudos. Mas isso
é discussão para outro livro.

Até hoje, o legado de Roma nos ilumina. Seja ele o primeiro sistema de
Leis Civis não estatais do mundo, seja um dos pioneiros da justiça privada, seja
sua elaborada engenharia, arquitetura, medicina, literatura, retórica, artes
fabris, mesmo 2000 anos da Revolução Industrial. Mas a Roma que devemos
resgatar é a Roma de Rômulo, de Numa Pompílio, Camilo, Cincinato,
Scaevola, etc; e não a Roma de Caio Mário, Sula, Crasso, Júlio César,
Augusto, Nero, Cômodo, etc. Legio Aeterna Victrix!
Referências

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Rothbard. Disponível em: < https://rothbardbrasil.com/o-lento-suicidio-do-
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MISES, Ludvig von. Observações sobre as causas do declínio da


civilização romana. 2012. Instituto Rothbard. Disponível em: <
https://rothbardbrasil.com/observacoes-sobre-as-causas-do-declinio-da-
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GOODSON, Stephen Mitford. A History of Central Banking and the


Enslavement of Mankind. 2019. Black House Publishing. ISBN:
9781912759408

GIBBON, Edward. Declínio e Queda do Império Romano. 1776. Companhia


de Bolso. Ed. abreviada. São Paulo: Companhia das Letras: Círculo do Livro,
1989. Editora Schwarcz

Veios = Veii

Volscos = Volsci

Équos = Aequi

Hernícios = Hernici

Samnitas = Samnites

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