Curitiba - Novembro de 2001 Ano 5 - N0 42 30 ano de Jornalismo - PUCPR

Este
jornal
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LIXO! pa a
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Desenho: Marcelo Ribeiro

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 Internacional
Lixo é fator preocupante no mundo
Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente incentiva produções industriais mais limpas
O lixo é um problema mun-
dial, que afeta não só à paí-
ses ricos – os maiores produ-
tores – mas também à países
pobres ou em desenvolvimen-
to. Se considerarmos que uma
cidade do porte de São Paulo
produz 14 mil toneladas por
dia, e adicionarmos às 28,5
mil toneladas que produz
Nova York, só duas das maio-
res cidades do continente pro-
duzem 15 milhões de tonela-
das em um ano.
Mas esses seriam dados re-
ferentes apenas aos resíduos
urbanos, como plásticos e la-
tas. Acredita-se que o proble-
ma quintuplica quando são
levados em conta os resíduos
especiais, ou seja, lixo gera-
dos principalmente pelas in-
dústrias, hospitais, ambulató-
rios, clínicas, farmácias.
Mundo
Fazem parte desta catego-
ria especial os resíduos con-
siderados mais perigosos e de
tratamento mais complexo,
como o atômico e o espacial.
Estes são problemas globais,
e nos últimos anos diversos
países reúnem-se para tentar
encontrar uma solução. Com
o intuito de fomentar uma
produção mais limpa, o pro-
grama das Nações Unidas para
o Meio Ambiente- PNUMA, lan-
çou em 10 de setembro de
1999, a Declaração internaci-
onal sobre produção mais lim-
www.google.com.br
Resíduos perigosos
Comunicare, novembro de 2001
pa, com 159 signatários en-
tre eles 34 países, 41 empre-
sas e 30 academias, socieda-
des e grupos de trabalho.
Em fevereiro, mais de cem
nações signatárias da
Conveção da Basiléia decidi-
ram, na Malásia, agir rapida-
mente pela ratificação da
proibição contra a exportação
de resíduos perigosos de pa-
íses desenvolvidos para paí-
ses em desenvolvimento.
O objetivo da Convenção
da Basiléia e da emenda da
Proibição é a criação de ins-
trumentos legais que prote-
jam os países em desenvolvi-
mento do despejo de resídu-
os perigosos originários nos
países indus-
trializados. O
destino da Rússia poderá se
emenda da
Proibição fi-
transformar em
cou indeciso grande depósito
até o último
dia da reunião de lixo nuclear
devido às ten-
tativas de enfraquecimento
de alguns países mais ricos.
Esses, agindo em prol de in-
teresses próprios, procuraram
manter aberta a opção - ba-
rata - de enviar seus resíduos
tóxicos para disposição e
reciclagem nos países em pro-
cesso de industrialização.
Rússia
A situação na Rússia con-
segue ser ainda mais tétrica.
O lixo espacial pode trazer danos ao planeta
15
Em dezembro de 1994 desco-
briu-se que desde 1950 lixo
nuclear altamente radioativo
vinha sendo simplesmente in-
jetado no chão, em terrenos
www.greenpeace.com.br
próximos a grandes rios.
A quantidade de radioati-
vidade superava em 60 vezes
o total liberado no mais gra-
ve acidente nuclear já ocorri-
do até então: o da usina de
Chernobyl, na Ucrânia. O lixo
Carregamento Transporte de lixo nuclear entre França e Japão
radioativo enterrado atingiu
lençóis freáticos através da
infiltração de água no
subsolo, levando a radioati-
vidade para grandes distân-
cias. Três anos depois, a Agên-
cia Internacional de Energia
www.greenpeace.com.br
Atômica (AIEA) informou que
a Rússia “esta-
va sentada so-
bre mais de 500
mil metros cú-
bicos de
dejetos nuclea-
Lixo Futuro Astronauta repara satélite antigo
res.
Recentemente
a câmara baixa
do parlamento russo aprovou SITE ALEMÃO
o polêmico projeto que pode-
rá transformar a Rússia no
maior depósito de lixo nucle-
CRIA LEILÃO DE LIXO
ar do mundo, em troca de bi-
Se você acha que a Internet tem muito lixo, pode até
lhões de dólares que o
não se surpreender com a novidade. Um empresário alemão
Kremlin pretenderia destinar
acaba de criar um site que leiloa todo tipo de entulho. Isso
a projetos ecológicos.
mesmo. Trata-se do clickwaste.de.
LIXO ESPACIAL JJJ
Empresas que tiverem qualquer tipo de lixo (inclusi-
Desde o começo da Era Es-
ve equipamentos eletrônicos) e quiserem se livrar dele po-
pacial, há pouco mais de 50
derão utilizar a página para oferecê-lo. Companhias que
anos , diversos objetos, tais
reciclam produtos farão suas ofertas. Já a Clickwaste ficará
como sondas, foguetes e sa-
com 3% do valor.
télites, foram sendo lançados
Os usuários da página poderão classificar suas tra-
e abandonados no espaço.
lhas em 650 categorias diferentes. Inicialmente, o serviço
Calcula-se que haja em torno
cobrirá apenas a Alemanha. Porém a Clickwaste pretende
de 8.300 objetos construídos
ampliar a oferta, chegando à Inglaterra, França, Itália e Es-
pelo Homem em órbita da Ter-
tados Unidos.
ra. Cerca de 17 mil objetos
Segundo Daniel Vuynovich, fundador da Clickwaste, o
como estes reentram na at-
mercado de coleta e reciclagem de lixo na Alemanha movi-
mosfera desde o final dos
menta cerca de US$ 22 bilhões por ano.
anos 50, segundo a NASA
(Agência Espacial Norte-Ame-
ricana). Se continuar assim,
Para mais informações, acesse:
daqui um tempo nem no
www.clickwaste.de
espaçao poderemos fugir da
poluição.
Bruno de Vizia
Bruno de Vizia
14
Lixo Hospitalar, um mal controlável
Com cuidados simples e treinamento de funcionários, os hospitais curitibanos evitam contaminações
Os resíduos sólidos
hospitalares ou como é mais
comumente denominado
“lixo hospitalar”, sempre
constituiu-se um problema
bastante sério para os
administradores hospitalares,
devido principalmente à fal-
ta de informações a seu res-
Ricardo Caldas
peito, gerando mitos e fanta-
sias entre funcionários, paci-
entes, familiares e principal-
mente entre a vizinhança dos
hospitais.
A atividade hospitalar é
por si só uma grande geradora
de resíduos. O Hospital
Evangélico, por exemplo, gera
1.800 quilos de lixo por dia.
Destes, 800 quilos são de
resíduos hospitalares.
“O hospital vem tentando
aproveitar o que pode com
uma rigorosa seleção mas
tudo que entra em contato
com o paciente é descartado”,
afirma Lílian Regina Lucchin,
gerente de Higiene Hospitalar
Hospitais e o Lixo
Hospital de Clínicas
635 leitos
1.200 Kg/dia de Lixo Hospitalar
Hospital Evangélico
800 Kg/dia de Lixo Hospitalar
Hospital do Cajuru
336 leitos
285 Kg/dia de Lixo Hospitalar
Comunicare, novembro de 2001
Precursor Hospital Evangélico foi um dos pioneiros na seleção do lixo
do Evangélico.
Seleção
A seleção é a parte mais
importante do processo. O
lixo é todo separado,
geralmente, em comum
(restos de comida,material
dos guichês), reciclável (tudo
que pode ser reciclado, mas
que não entrou em contato
com o paciente) e o hospitalar
(tudo que teve algum tipo de
575 leitos
contato com o doente).
Este último passa por uma
segunda seleção, é separado
em lixo hospitalar comum e
lixo perfuro-cortante, que
corresponde a objetos
cortantes(agulhas, bisturis),
e é colocado dentro de uma
caixa. “Essa é a parte mais
delicada do processo, mas
não há nenhum perigo de
contaminação se tudo for
O perigo no trabalho diário
Trabalhar todos os dias
em contato direto com o
lixo não é uma opção ou
uma escolha, e sim a mais sim-
ples das necessidades: comer.
O catador de lixo João
Menezes, 25 anos, prefere não
pensar nos riscos que corre ao
manusear o lixo sem proteção.
“Não tem como pensar nisso.
Se eu for gastar dinheiro para
comprar luvas não vou ter
como comprar comida”, afirma
João.
Empurrando seu carrinho
“decorado” com cartazes do
time de coração, João diz que
não sente mais as dores que lhe
incomodavam quando começou
a catar lixo. “Quando era
menor, eu ia para casa com dor
de cabeça e enjôo. Mas acho
que agora já acostumei, e não
sinto mais nada”, completa o
catador enquanto joga outro
saco de lixo em seu carrinho,
feito com muito cuidado e cau-
telosamente”, ressalta Lílian
Lucchin.
Depois de selecionado, o
lixo é encaminhado para a área
de armazenamento, localizada
no próprio hospital. No
Hospital Evangélico o lixo fica
em um depósito especial, com
piso e paredes laváveis, dentro
de contêineres esperando a
prefeitura vir recolhê-lo.
No hospital do Cajuru,
existe também a incineração de
parte do lixo. A enfermeira do
serviço de controle de infecção
do Cajuru, Adeli Regina de
Medeiros, afirma que a
produção de lixo é muito
grande para ser armazenado
então o hospital resolveu
incinerar parte do lixo.
A prefeitura de Curitiba faz
o recolhimento de segunda à
sábado com caminhão especial,
e encaminha o lixo para o aterro
sanitário da Caximba.
Ao chegar o lixo hospitalar
cheio até a boca.
Entretanto João não sabe,
mas o fato de não sentir as
dores de cabeça já é um sinal
de que seu organismo não
está funcionando bem.
“Os catadores de
lixo não têm
noção do risco
real que correm”
Segundo o infectologista
Alceu Pacheco Júnior, o cor-
po até pode se acostumar com
os cheiros, mas nem por isso
o lixo não está fazendo mal
à saúde.
“Os catadores de papel não
têm nem noção do risco real
que correm ao pegar nos sa-
cos de lixo sem proteção”,
afirma o infectologista.
Saúde
é acondicionado e aterrado
na vala séptica.
Treinamento
De acordo com Lilian, o
treinamento do pessoal é peça
chave para evitar acidentes.
“Treinando as pessoas a
selecionar o lixo e tomar
precauções quando entrar em
contato, a gente evita possíveis
contaminações”.
O gerente da coleta e
destinação final de resíduos da
Secretaria Municipal de Saúde,
Mario Celso da Silva, endossa
que o treinamento foi muito
importante para a diminuição
da produção de lixo nos
hospitais. “Começamos com
treinamentos de seleção de lixo
em 94, naquela época a
produção era de 26 toneladas
de lixo hospitalar por dia,
atualmente nào passa de 13
toneladas diárias”, afirma
Mario Celso.
Ricardo Caldas
De acordo com Pacheco
Júnior, a leptospirose, doença
transmitida pela urina de rato,
é a enfermidade que mais aco-
mete quem trabalha com lixo.
“Os ratos estão sempre presen-
tes onde há lixo, logo a doen-
ça acaba sendo uma questão de
tempo”, ressalta.
Além da leptospirose, existe
o risco do tétano. “O tétano é
transmitido pelas latinhas, e
cacos de vidros que podem
cortar os catadores”, afirma o
médico.
Apesar de todas esses
alertas, João continua seu
trabalho diário com a mesma
simplicidade e humildade sem
preocupar-se com os perigos.
“Se Deus me ajudar, vou ter saú-
de para trabalhar muito ainda,
e vou juntar dinheiro para com-
prar a minha casa”, finaliza
João.
R.C.
 Arte
Pioneirismo da cidade motiva arte
Mulher deixa de pedir esmolas e agora faz brinquedos com material reciclável que encontra no lixo
Material encontrado nos li-
xos, como papéis de bala, são
roupas das bonecas que
Efigênia Ramos Rolim faz para
as crianças e usa para montar
seu próprio figurino. Poeta de
Urucaina, interior de Minas
Gerais, resolveu começar seu
trabalho de reciclagem em
1993 em Curitiba. Foi uma
maneira que Efigênia encon-
trou para se ocupar aprovei-
tando o momento em que
Curitiba passava sendo a ci-
dade pioneira em reciclagem.
O projeto da prefeitura foi
que motivou a dona de casa a
trabalhar com material
reciclável. “Eu trabalhava na
lavoura e, quando vim para a
cidade grande, não sabia fa-
zer nada. Como não podia
passar o resto da vida pedin-
do esmolas, resolvi inventar
alguma coisa”, conta. Ela usa
latinhas e vários tipos de pa-
péis que encontra pelo cami-
nho para fazer brinquedos e
Retomando, remodelando, recriando, reciclando
Em seu ateliê localizado
dentro de um estacionamen-
to no centro de Curitiba, a
artista plástica Guita Soifer
reinventa objetos que perde-
ram seu uso ou defeituosos;
transformando sucata em
obras de arte e recuperando
suas memórias. Ela recolhe as
matérias-primas de seus
trabalhos basicamente em
ferros-velhos e em fábricas,
Felipe Araújo
Ateliê De colheres a placas de trânsito: arte
Comunicare, novembro de 2001
alegrar a criançada junto com
suas histórias.
Esses brinquedos não são
para vender, mas ajudam
Efigênia a ganhar alguns tro-
cados. “As pessoas acham bo-
nito e gostam dessa iniciati-
va”, comenta. Ela sempre está
pelas ruas, principalmente na
feirinha do Largo da Ordem,
aos domingos. Usa bonecas
com roupas feitas de materi-
al encontrado nos lixos da ci-
dade ou no chão das ruas por
onde passa. Papéis de bala ou
embalagens de chocolate vi-
ram saias e vestidos, fitinhas
de cabelo são feitas com bar-
bantes e plásticos.
A descendente de índios
veio para Curitiba em 1990 e
chegou a pedir esmolas nas
portas da Catedral. Juntou o
pouco dinheiro que tinha,
comprou uma casa e resolveu
ir à Fundação Cultural de
Curitiba dizer que falava poe-
sias e fazia brinquedos com
onde os produtos que deram
errado dão certo em suas
mãos.
Colheres tortas ou parti-
das, por exemplo, são trans-
formadas em esculturas por
Guita. “Gosto da idéia de pe-
gar aquilo que não deu certo
e dar a minha visão, recrian-
do o que parecia perdido”,
conta a artista. Vidro quebra-
do torna-se arte, e um peda-
ço grande de
papel rasgado,
bem ajeitado,
vira uma ima-
gem de Jesus
Cristo na cruz.
No começo,
Guita Soifer
produzia ape-
nas pinturas e
gravuras, que
ela ainda faz e
vende até hoje.
13
material reciclável. Conse-
guiu, anos depois, fazer uma
exposição das suas obras na
Casa de Pedras da Fundação
Cultural. A partir dessa data,
teve seu trabalho reconheci-
do pela sociedade artística da
cidade. Suas madrinhas foram
Cátia Horn e Calú D’Avilla, ar-
tistas plásticas renomadas de
Curitiba.
Com fitas feitas de papel
de bombom enfeitando seus
cabelos, latinhas vazias pen-
duradas pelo corpo e bone-
cas com saias de papel de bala
ou chocolate, Efigênia ganha
sua vida fazendo o que apren-
deu na cidade grande e o que
já fazia desde os tempos na
lavoura: alegra as meninas
com suas bonecas personali-
zadas e recita poesias pela ci-
dade.
Marja Nunes
Marja Nunes
Sheila Lopes
Criatividade De lixo para brinquedo, Efigênia cria bonecas
Há cerca de 8 anos, começou fotógrafa
seu interesse por velharias. profissio-
Seus objetos de trabalho são nal, mas vá-
os mais variados possíveis: rias de suas
aros de óculos, chumbinhos, fotos, pre-
placas de trânsito, garrafas, ferencial-
manequins, carrinhos de mente as
bebê, pregos enferrujados, mais anti-
peças de xadrez, espelhos gas, tam-
Felipe Araújo
retrovisores etc. Cada um des- bém consti-
ses artefatos tem um signifi- tuem suas
cado especial para a artista, e obras de
seus favoritos são os livros. arte. Pin- Escultura objetos de sucata viram obra de arte
“Não há viagem mais maravi- tando-as ou
lhosa que a leitura”, diz a ar- fazendo arranjos com as có- estão à venda, exceto suas
tesã. A mais perfeita pias de uma mesma foto, pinturas. Apesar de já ter fei-
exemplificação dessa frase é Guita gosta de ver seu passa- to exposições dentro e fora
uma de suas esculturas, onde do, pois acha que “olhar para do Brasil, como nos Estados
um livro aberto está coloca- trás é importante para olhar Unidos e na Alemanha, Guita
do na frente de um painel de para frente”. Aliás, o tempo é vê seu trabalho mais como um
caminhão, como se fosse um o seu tema favorito. hobby. Uma paixão que ocu-
par de pára-brisas. Quem estiver interessado pa todos os cantos de seu ate-
A fotografia é outra parte em adquirir alguma das obras liê.
importante de seu trabalho. da artista plástica, é bom es-
A artista não se considera uma quecer a idéia, pois elas não Luís Guilherme Rodrigues
12
Lixo de valor histórico e cultural
Museu do lixo abriga curiosidades que desmascaram costumes e a história individual de populares
Ponto inicial A usina também abriga o Museu do Lixo
O museu abriga mais de
mil peças e a cada mês, pelo
menos cento e cinqüenta
peças novas são recolhidas
para serem colocadas em ex-
posição. Em média, 150 pes-
soas visitam a usina e o mu-
seu todos os meses.
A idéia de se criar um
museu nasceu a partir da ini-
ciativa de um dos funcioná-
rios da usina,
o senhor Anto-
nio Afonso Livro francês de
Cardoso, o química, de
“Seu Panamá”
como era cha- 1875, é uma
mado pelos
colegas de tra-
das peças raras
balho. Panamá
começou a guardar notas de
dinheiro, que com a desva-
lorização contínua da moe-
da, perdiam rapidamente de
valor. Todas eram cuidadosa-
mente amarradas em peque-
nos maços. Depois disso, o
“Seu Panamá” resolveu tam-
bém juntar outras peças
instigantes, todas em expo-
sição no museu.
O hobby de Panamá cha-
mou a atenção da adminis-
tração, mesmo porque cons-
tatou-se que o acervo não
era apenas um amontoado de
artigos curiosos: de certa
forma, é também uma via-
gem no tempo e principal-
mente, na intimidade de
pessoas que sequer sabemos
as feições. Fotos de casa-
Comunicare, novembro de 2001
mentos – possivelmente
desfeitos- , de reuniões fa-
miliares, certidões de nasci-
mento, equipamentos de
exércitos, animais conserva-
dos em vidros de álcool, es-
trelas do mar, vasos indíge-
nas, cristais intactos - e sem
arranhões -, discos, vitrolas,
chapéus para todos os gos-
tos e épocas, relógios, ele-
trodomésticos
com mais de
40 anos, mui-
tos ainda em
funcionamen-
to.
Quem nos
leva a este tú-
nel do tempo
é a instrutora ambiental
Elizangela Marchorato. Com
boa vontade, ela explica a
história de cada peça que
compõe o museu, tão únicas
quanto a história individual
daqueles, que, por algum
motivo, se desfizeram de
algum dos objetos expostos.
Ela mesmo diz não acreditar
que algumas coisas possam
aparecer no lixo, como por
exemplo um aparelho de
PABX – e há dois no museu-
ou aparelhos de edição de
rádio. Nada do que está ex-
posto no museu se espera
encontrar no lixo, não só
pelo tamanho, mas também
porque algumas peças pode-
riam muito bem se encon-
trar em um bom antiquário.
Cultura
Pensar em lixo faz vir a cabeça a idéia de que tudo que é jogado fora será aniquilado
e, em um estalar de dedos, aquelas coisas que estão sobrando – mas que um dia já
foram bem úteis- somem da noite para o dia. Mais especificamente quando o caminhão
que recolhe o lixo leva durante a noite aquilo que nem imaginamos que também fazem
parte do universo individual das pessoas e conta um pouco mais sobre cada um. E o
que acontece quando se junta o lixo de todos? Ora, se monta um museu! Não foi com
esta intenção que se criou o Museu do Lixo em 1997, embora o comparativo seja
inevitável.
O museu do lixo está ao lado da Usina de Reciclagem do Lixo, no município de Campo
Magro. A usina e o museu fazem parte do complexo da fazenda Solidariedade mantida
pela prefeitura de Curitiba. Além da usina, a fazenda também abriga uma plantação
de fitoterápicos, distribuídos nos postos de saúde municipais e funciona também
como local de rehabilitação de dependentes do álcool.
Especificar a data de fabri-
cação e uso destes objetos
inclusive, é um dos princi-
pais problemas do museu.
“Mas está nos planos”, res-
saltou Elizangela. E apesar
disso, ninguém até hoje foi
reclamar pela posse de algo
fotos: André Amorim
que lá esteja exposto. A úni-
ca peça reclamada até hoje-
e que lá permanece- é uma
cópia de cabeças em mármo-
re que, se acredita, eram es-
culpidas na Grécia pré-clás-
sica. A réplica é original do
museu do Louvre. “Quando
Notas de dinheiro Foi com isso que nasceu o Museu do Lixo
a escultura apareceu, a tele-
visão veio aqui e filmou.
Logo depois, apareceram
vários donos”, contou
Elizangela.
Biblioteca
Ao lado do museu ainda
se encontra uma biblioteca,
equipada somente com li-
vros encontrados no lixo. A
coleção apresenta cerca de
duzentos livros, entre eles
coleções completas de enci-
clopédias, livros de Eça de
Queiros, Machado de Assis,
José do Patrocínio, Alexan-
dre Dumas,Gustave Flaubert, RÁDIOS : Para todos os gostos, estilos e épocas...
Charles Dickens. Alguns dos
livros foram editados há SERVIÇO:
mais de 70 anos. O mais an-
tigo e colocado em um local Museu do Lixo
de honra na biblioteca é um Estrada do Cerne, Km21, Campo Magro.
livro francês de química, Telefone: 677-1762 .
editado em 1875. As visitas ocorrem de segunda a sexta-feira e é necessá-
rio agendar com antecedência
Silvane Maltaca
 Consumo
Consumo explica o aumento de lixo
Repensar o que é realmente necessário pode nos apontar os excessos e as falhas da sociedade
Observando as casas mais
antigas de nossa ou de qual-
quer outra cidade, podemos
nos surpreender com uma pe-
quena porta, ao lado daquela
destinada à correspondência,
com dizeres de “leite” e “pão”,
por exemplo.
Avôs e avós de hoje que
outrora habitaram essas casas
lembram-se
também que, Planeta não
além das garra-
fas de leite, vá- suporta a
rios outros quantidade de
utensílios eram
reutilizados. lixo produzida
Para se jogar
fora algum objeto, ele deve-
ria estar em estado que real-
mente merecesse tal fim.
Até que chegasse essa
hora, as solas dos sapatos
eram substituídas, roupas
eram reaproveitadas, apare-
lhos domésticos eram conser-
tados. Hábitos bastante dife-
rentes dos que vemos hoje...
Afinal, vivemos a era do
consumo, uma economia
centrada na compra e no des-
carte. São inúmeras as conse-
qüências deste nosso modelo
econômico, um deles é a pro-
dução de lixo, muito lixo; bem
mais do que nosso planeta
pode suportar.
“Pegada ecológica”
Na década de 90, pesqui-
sadores da Universidade de
British Columbia começaram a
medir a área de terra neces-
sária para suprir as popula-
Comunicare, novembro de 2001 11
ções com recursos e, A reciclagem, embora aju-
consequentemente, para ab- de, não soluciona o problema,
sorver seus resíduos. Denomi- pois as fibras do papel só po-
naram essa área conjunta de dem ser recicladas cinco ou
“pegada ecológica”. Em al- seis vezes antes de se torna-
guns países, como nos Esta- rem muito fracas para outro
dos Unidos, a pegada é mai- uso e, mesmo assim, muito
or do que sua área total, de- pouco do papel chega a ser
vido a uma dependência de reciclado.
importações e ao esgotamen- De onde vem o lixo?
to da capaci- Por mais óbvio que possa
dade de ab- parecer, somos nós, somados,
sorção de resí- que produzimos todo o lixo
duos. Como o que existe.
Embalagens responsáveis por grande parte do lixo doméstico
mundo segue, Por vezes esquecemos da
ou almeja se- dimensão que o fato possa
corresponde a transformações papel nos países industriali-
guir, o padrão
dos hábitos de consumo. zados é excessivo, desperdi-
tomar, afinal, o pequeno saco
de consumo que sai de nossas casas todos
Quanto mais industrializa- çado ou simplesmente desne-
americano, em pouco tempo os dias parece inofensivo per-
do o país e maior o poder cessário.
esse sistema não mais pode- to dos grandes depósitos de
aquisitivo de seus habitantes, Uma casa norte-americana
rá se sustentar. lixo e detritos das indústrias.
maior a produção de lixo. Po- recebe, por ano, em média
Imaginemos alçado o ob- Mas ninguém foge à regra,
demos ter uma idéia do que 553 peças de propaganda in-
jetivo proposto por nosso sis- todos nós produzimos nossa
isso representa, em termos desejável. São correspondên-
tema econômico: a sustenta- cota diária de lixo; portanto,
práticos, através do papel: em cias que por vezes não che-
ção mundial no nível ameri- todos nós deveríamos ter res-
1996 o consumo mundial de gam nem a serem abertas,
cano ou canadense de uso de ponsabilidade com o proble-
papel por ano era de 281 mi- indo direto para a lata de lixo.
recursos. ma.
lhões de toneladas; até 2010, Igualmente, 10 bilhões de ca-
Isso corresponderia a uma
estima-se que seja de 400 mi- tálogos de mala direta são
pegada ecológica equivalen-
lhões de toneladas. descartados, anualmente.
te a três planetas Terra. Vemos Letícia Koehler
Os países industrializados
então que nosso sistema eco-
utilizam cerca de 75% desse
nômico, da forma como está
total. O consumo per capita
estruturado hoje, não nos le-
vará muito longe.
nos países industrializados USO DO PAPEL
era de aproximadamente 160
É necessário mudar
quilos, em 1995, comparado
Frear esse processo não é 50% empacotamento, como caixas de papelão e recipi -
com 17 quilos nos países em
tarefa fácil. São necessárias entes para comida
desenvolvimento. Nos Esta-
medidas econômicas, políti- 28% papel para impressão e escrita
dos Unidos, este número está
cas, estruturais. Contudo o 13% imprensa
acima de 330 quilos de papel
ponto mais difícil, e principal, 6% papéis sanitários e domésticos
por ano - aproximadamente
talvez seja a mudança de
sete vezes a média global.
valores e estilos de vida - o
A maior parte do uso de
que, na nossa sociedade,
10 Comunicare, novembro de 2001 Consumo

Aprenda como se faz papel reciclado

A receita caseira ensina como colaborar com o meio ambiente, além de dar asas à imaginação
Você sabia que cada tone-
lada de papel reciclado eco-
nomiza de 17 a 20 árvores
(eucaliptos com 7 anos de
idade) ou uma área plantada
de 100 a 350 m2 ?
A reciclagem é imprescin-
dível. Mas não é uma função
só da Prefeitura, não. Você
pode reciclar seu próprio pa-
pel em casa, transformando-
o em artesanal. Fica muito
bonito e pode ser usado para
cartões, cúpulas de abajures
e o que você tiver em mente.
Siga a receita, é mais simples
do que você imagina.
Material
- Papéis usados como pa-
pel de caderno, impressos,
envelopes, caixas de ovo, pa-
pelão em geral;
- 1 liquidificador;
- 1 bacia;
- Jornais ou toalhas;
- Panos velhos;
- 2 pranchas de madeira ou
rolo de macarrão;
- 2 molduras iguais de ma-
deira que caibam em uma ba-
cia com uma certa folga;
- 1 pedaço de tela de nylon
(de meia calça feminina);
- tachinhas.
Como fazer
Monte a moldura com a
tela de nylon da seguinte for-
ma: estique bem a meia so-
bre uma das molduras e pren-
da-a com tachinhas.
Quando estiver bem presa,
apóie a outra moldura por
cima, encaixando firme.
Pique o papel e deixe de
molho num balde com água
por um dia para amolecer
bastante e ficar mais fácil na
hora de colocar no
liquidificador.
Pegue o liquidificador e vá
colocando o equivalente a
uma bola de tênis de papel
picado a cada litro de água.
Bata a mistura até formar uma
pasta homogênea.
Encha metade da bacia
com água e vá acrescentando
a pasta obtida. Vá mexendo a
mistura com as mãos para dis-
solver a massa. A espessura
do papel será proporcional à
quantidade de massa que você
acrescentar.
Mergulhe a moldura na
bacia da seguinte forma: pri-
meiro coloque ela em pé (ou
seja, na vertical) e depois a
deite, trazendo-a lentamente
de volta superfície.
Retire a moldura superior
e deixe a moldura inferior em
que ficou a folha de papel in-
clinada até que a água escor-
ra completamente.
Deixe ao lado da bacia fo-
lhas de jornal ou toalhas do-
bradas com um pano velho
estendido por cima. Vá viran-
do cuidadosamente a moldu-
ra com o papel sobre ele até
que a folha se solte. Caso ela
esteja levemente grudada na
tela, basta dar uns tapinhas
para que ela se solte.
A folha de papel ficará pre-
sa no pano naturalmente. Co-
loque esse pano deitado na
prancha de madeira e repita
o mesmo processo para criar
outras folhas. Continue
empilhando as folhas uma em
cima da outra.
Quando a massa de papel
acabar, coloque outro pano
sobre a pilha e ponha a outra
prancha de madeira por cima.
Você pode pisar em cima da
madeira ou usar o rolo de
macarrão.
Retire cada pano com a
folha presa e pendure num
varal para que elas terminem
de secar. Preste atenção para
colocar os prendedores nos
panos para não marcar as fo-
lhas.
Depois da secagem, puxe
a folha do pano e... pronto!
Você está com um papel no-
vinho e reciclado em mãos.
Keyse Moretto
Tathiana Fritoli
Receita
rápida!
Doce de Banana
(feito com cascas)
Ingredientes:
- 60 g de cascas de banana;
- 65 g de açúcar;
- 02 g de canela.
Modo de Preparo:
Lave bem as cascas e pi-
que em pedaços pequenos.
Cozinhe com um pouco de
água até que amoleçam. Co-
loque no liqüidificador e
bata bem. Leve ao fogo mé-
dio e junte o açúcar, cozinhe
mexendo até que a mistura
se desprenda da panela, em
ponto de geleia.

Viva Lavousier! Ingredientes:

-Talos de 1 maço de brócolis
Moqueca de Talos

Nada se perde, tudo se transforma... -3 tomates sem pele e sem sementes

-1 cebola picada

Quantas vezes você já não
jogou fora alguma comida
sabendo que ela deveria ter
um futuro melhor do que ir
para o lixo? Seu desassosse-
go tem precedentes. Talos,
cascas e outros restos muitas
vezes contém mais nutrientes
do que o próprio alimento em
si. E é possível preparar recei-
tas saborosas com essas so-
bras.
Segundo a nutricionista
Denise Campos, a maioria dos
alimentos pode ser aprovei-
tada por inteiro, só é neces-
sário um pouco de criati-
vidade. Ela dá algumas dicas
do que pode ser feito com al-
guns deles:
- Folhas de beterraba pi-
cadas e refogadas ficam óti-
mas na farofa;
- As cascas dos ovos po-
dem ser moídas e torradas e
utilizadas como complemen-
to de cálcio, quando adicio-
nadas ao feijão, carne, arroz...
Só tome o cuidado de lavar
bem a casca;
- Talos em geral servem
com ingredientes de sopas;
- Restos de arroz dão óti-
mos bolinhos;
- Cascas de banana podem
virar geleia.
(Veja algumas receitas no
quadros)
Suzana Gnipper
-2 dentes de alho picados
-1 colher (sopa) de óleo
-1 colher sopa de azeite de dendê
-1 colher sopa de salsa picada
-1 colher de sopa coentro picado
-½ xícara de chá de água
-½ xícara de chá de leite de coco
-1 colher de chá de pimenta dedo de moça picadinha
-2 colheres de sopa de farinha de trigo
-Sal a gosto
Modo de fazer:
Lave bem os talos de brócolis e corte-os em pedaços pequenos.
Cozinhe em pouca água por 5 minutos e escorra.
Em uma panela, refogue o alho e a cebola no óleo.
Quando murchar, junte o restante dos ingredientes, inclusive os talos cozidos. Deixe ferver
em fogo baixo por 10 minutos.
 Trabalho
Vendendo papel para sobreviver
A coleta de lixo reciclável faz parte do sustento e do dia-a-dia dos catadores de papel em Curitiba
Papel, plástico, papelão,
garrafas. Lixo que gera renda
para milhares de famílias no
Brasil é também o sustento dos
catadores de papel (ou car-
rinheiros, como são chamados)
da Vila das Torres, em Curitiba.
Todos os dias
eles se prepa- Existem na Vila
ram para a roti-
na: andar pelas das Torres
ruas da cidade aproximadamente
catando papel.
Segundo o 600 carrinheiros
presidente do
Movimento de Defesa dos
Favelados, Derciso Rodrigues da
Silva, 67 anos, existem na Vila
das Torres aproximadamente
600 carrinheiros. Ele diz que o
comércio depende deles, já que
grande parte do dinheiro que
as mercearias e bares da Vila
ganham, vem dos fregueses
que catam papel. Os depósitos
de papel, que hoje são mais de
100, também têm sua renda
proveniente dos catadores. Eles
vendem o que arrecadam para
os depósitos existentes na pró-
pria Vila, e esses revendem para
Reciclagem é a solução
De acordo com a última pes-
quisa nacional de saneamento
básico realizada pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Esta-
tística (IBGE) são produzidas
241 614 tonela-
das de lixo diari-
amente no país.
Cerca de 30% do
Destes, 75% são lixo coletado vai
lançados a céu
aberto e 0,7% para a usina de
são lançados em separação
vazadouros de
áreas alagadas.
Apenas 23,3% recebem trata-
mento adequado.
Na tentativa de reverter es-
ses dados, já existem programas
de incentivo à reciclagem e
conscientização ambiental que
mostram bons resultados no
Brasil. É o caso do programa
Lixo Que Não é Lixo, implanta-
Comunicare, novembro de 2001
os grandes depósitos. Um
depósito pequeno da região
consegue, em média, 800kg
de papel branco, 400kg de
papel e 200kg de plástico
por mês. “A Vila vive do pa-
pel”, afirma Derciso.
Derciso é
um ex-carri-
nheiro, que
chegou de
São Paulo em
1982, e com o
dinheiro de
seis anos de
trabalho conseguiu, junto
com a mulher, fundar uma
creche. Hoje, a creche aten-
de 16 crianças, mas sua ca-
pacidade é para 35. “Temos
poucas crianças aqui porque
as mães preferem levá-las
no carrinho (de papel), as-
sim podem ganhar mais di-
nheiro”, justifica. Andando
pela Vila vê-se muitas delas
brincando entre os carri-
nhos. Nas ruas da cidade, as
mesmas crianças puxam es-
ses carrinhos atrás de di-
nheiro.
do pela Prefeitura Municipal
de Curitiba, através do De-
partamento de Limpeza Pú-
blica da Secretaria Munici-
pal do Meio Ambiente,
em 1989.
Iniciado
com traba-
lhos visando
a educação
ambiental
através das
escolas da
rede pública
municipal de ensino, o traba-
lho visa à conscientização dos
cu-ritibanos sobre os bene-
fícios da separação do lixo
orgânico do inorgânico ao
meio ambiente. A coleta se-
letiva é um serviço que re-
colhe resíduos sólidos urba-
nos. Sua principal caracterís-
Sérgio Renato de Paula,
26, cata papel desde os sete
anos. A mãe o levava junto
para o trabalho, o que fez com
que aprendesse a função mui-
to cedo. Sérgio arrecada em
média 80kg de papel por dia
o que, segundo ele, dá apro-
ximadamente oito reais. “Esse
é o valor médio que um
carrinheiro consegue tirar”. O
catador de papel reclama dos
caminhões do Lixo que não é
Lixo, que recolhem antes o
lixo reciclável que podia ren-
der para ele e seus compa-
nheiros um pouco mais de
dinheiro. Carrinheira há 17
anos, Neuza do Carmo Concei-
ção, 37, trabalha de segunda
a sábado e consegue tirar de
30 a 40 reais por semana.
Ela, assim como a mãe de Sér-
gio e muitas outras mães da
Vila das Torres, levam os fi-
lhos nos carrinhos em busca
de dinheiro e de uma vida me-
lhor.
Renata Torres
tica é a separação do lixo do-
méstico dentro da fonte ge-
radora, ou seja, o domicílio.
A coordenadora do pro-
grama, a engenheira Gisele
Martins, diz que são recolhi-
das mensalmente cerca de 1,3
mil toneladas de lixo
reciclável. “Sabemos que a
população está engajada e
participando ativamente”,
afirma Gisele.
Realizada uma vez por se-
mana nos bairros mais afas-
tados do centro e 3 vezes no
anel central, a coleta do Lixo
que não é Lixo é feita nos
dias e horários pré-determi-
nados pela Prefeitura.
O programa mobiliza 23
caminhões baú, que traba-
lham em dois turnos, 30 mo-
toristas e 90 coletores. Além
09
Renata Torres
Espera Menina passeia entre os carrinhos vazios à espera de trabalho
ESCOLA SEM TRABALHO
O Projeto Escola Já nasceu de uma pesquisa sócio-econômi-
ca realizada pelos alunos das Faculdades Integradas Espíri-
ta, nas comunidades do Parolin e Guaíra, em Curitiba. Os
alunos constataram que um grande número de crianças, a
maioria filhos de catadores de papel, não freqüentava a
escola porque precisava trabalhar e não havia incentivo al-
gum às famílias para que fosse modificada tal realidade. A
pesquisa, realizada entre os meses de abril e agosto de 1996,
apontou que a maioria dos moradores da comunidade ga-
nhava de um a três salários mínimos e um número signifi-
cativo (10,5%) vivia de catar papel. A partir disso, consta-
tou-se que a melhor forma de mudar essa realidade era pro-
porcionado melhores condições financeiras para as famíli-
as, além de um acompanhamento constante. Assim, cada
família cadastrada passou a receber uma contribuição men-
sal de R$ 100 para manter seus filhos na escola. Hoje, 31
famílias são atendidas, o que dá uma média de 80 a 100
crianças.
As carrinheiras Marilza Aparecida Lima e Joelma Cangerski,
mães de Diego e Francieli estão contentes com o programa.
Seus filhos estão tendo a oportunidade que muitas crianças
não têm: estudar e não precisar mais catar papel. O Projeto
Escola Já é uma parceria das Faculdades Espírita, Instituto
Salesiano de Assistência Social (ISAS) e Prefeitura Munici-
pal de Curitiba.
R.T.
disso, existe um intenso tra- dação de Ação Social (FAS) no
balho de divulgação com a município de Campo Magro. A
produção de campanhas em usina processa 320 toneladas
cartilhas, folders e veiculação de resíduos por mês, entre
de propagandas. papel, plástico, papelão, vi-
Cerca de 30% do lixo dro e metais. Os materiais
reciclável coletado vai para reciclados são vendidos para
uma usina de separação fábricas de papel.
mantida pela Secretaria Muni-
cipal do Meio Ambiente e Fun- Giselle Brisk
08
Profissão perigo: varredores de rua
Os garis de Curitiba comentam um pouco sobre o seu dia a dia, a vida e o trabalho na cidade
Eles estão por toda par-
te. Vestem roupas de cor la-
ranja, difíceis de não serem
notadas, mas poucas pesso-
as percebem sua presença,
pois já estão incorporados à
paisagem urbana. Desempe-
nham uma função funda-
mental: manter a cidade lim-
pa. Cada um
deles coleta “A empresa não
cerca de 150
quilos de lixo confia no
por dia. funcionário” -
São os ga-
ris. Seu expe- declara Jorge*
diente de tra-
balho é de sete horas e meia.
Eles varrem cerca de dezoi-
to quadras diariamente, de
segunda a sábado. É um tra-
balho desgastante e perma-
nentemente fiscalizado. Os
garis só podem parar por no
máximo um minuto, e mes-
mo assim, só para dar indi-
Excesso diversos garis reclamam da fiscalização rígida da Cavo
Comunicare, novembro de 2001
cações de ruas. No mais, ape-
nas pausas para ir ao banhei-
ro e um intervalo de uma
hora para o almoço, das onze
horas ao meio-dia.
De acordo com o gari
Mário*, há sempre um fiscal
da Cavo (empresa responsá-
vel pela limpeza pública
de Curitiba)
acompanhan-
do o serviço
dos varredores
e fazendo um
boletim de
suas ações.
Caso os garis
parem por mais tempo ou fi-
quem conversando com pe-
destres, eles recebem uma
advertência, e podem até
perder o emprego, caso se-
jam advertidos duas vezes.
Apesar da fiscalização
intensa, José*, 38 anos, acha
bom trabalhar como gari. Ele
Gente
está na profissão há seis
anos e sente muito orgulho
do que faz. José acredita
que as pessoas valorizam o
trabalho dele. Ele conta que
ganha lembranças no final do
ano, como panetones, cidras
e até mesmo cestas básicas.
José veio do norte do
Paraná, é casado e mora na
Cidade Industrial de
Curitiba.
Jorge*, 31 anos, veio do
interior do estado há onze
meses e desde então é gari.
Mas diz que só exerce essa
atividade por falta de uma
melhor opção. Ele preferiria
trabalhar na construção civil.
Casado, Jorge mora em Rio
Branco do Sul com a esposa
e os filhos e precisa acordar
às cinco horas para começar
a trabalhar às 7h30 da ma-
nhã. Ele reclama da constan-
te fiscalização e sente-se
Fotos: Patrícia Barbosa
vigiado. “A empresa não
confia no funcionário”,
queixa-se.
Na hora do almoço, os
garis têm que arranjar um
lugar para comer. A Cavo for- Jorge* preferência por trabalho como servente na construção civil
nece tickets de alimenta-
ção, mas Jorge prefere tra-
zer comida de casa. Além dis-
so, ele geralmente se reúne
com outros garis para almo-
çarem juntos. Assim como
José, Jorge acredita que o
trabalho dos garis é valori-
zado, mas não sabe ao certo,
pois as pessoas nunca con-
versam com ele. Jorge conta
que uma vez ganhou um bo-
linho de uma moradora da
vizinhança onde trabalha,
mas que se precisar ir ao ba-
nheiro, as pessoas não dei-
xam entrar. Quanto ao salá-
rio, ele diz apenas que “dá
pra viver”.
Ana Paula Maske
Karin Engel
Patrícia Barbosa
* Os nomes das pessoas citadas
nessa matéria são fictícios por-
que elas poderiam ser prejudi-
cadas se fossem identificadas. Lixeiros para trabalhar no caminhão a idade máxima é 28 anos
 Educação
Consciência ambiental vira hábito
Grande parte dos curitibanos passaram a separar lixo após lançamanto de campanhas publicitárias
Leia em voz alta a seguin-
te frase: “leite quente dá dor
no dente”. Pois, se você pro-
nunciou cada palavra com o
“e” final bem sonoro, então
você já é considerado um
curitibano nato. Agora, res-
ponda: você costuma separar
o lixo em casa? Costuma se-
gurar o papel
da bala ou do
chocolate na
mão, ao invés
“Curitibano tem
vergonha
de jogar no
chão, na rua ou de jogar lixo
para fora do
carro? Se você
no chão”
respondeu sim
para as duas perguntas, pa-
rabéns! Você está agindo
como grande parte da popu-
lação de Curitiba.
Para a dona de casa Car-
men Constantino, 45 anos, “o
curitibano tem vergonha de
Comunicare, novembro de 2001
jogar lixo no chão”.
Desde 1989, com o início
das campanhas publicitárias,
a consciência ambiental pas-
sou a virar um hábito dos cu-
ritibanos. “Felizmente, hoje,
todos em minha casa e no pré-
dio onde moro sabem da
importância de se separar o
lixo”, completa
Carmen.
Jovens
Segundo
números do
Compromisso
Empresarial
para Recicla-
gem, a cons-
cientização ambiental é uma
característica de praticamente
todos os cidadãos, mas em
especial dos jovens com idade
entre 17 e 22 anos. Isso por-
que os jovens de hoje eram
crianças quando a campanha
07
Lixo que Não é Lixo iniciou e
eles cresceram ouvindo a im-
portância do “Se-pa-re”. “Não
SE-PA-RE
se pode negar a eficiência das
propagandas”, diz o publi- A equipe do Comunicare fez uma pesquisa, em Curitiba, com
citário Kal Gelbecke. a seguinte pergunta: Você costuma separar o lixo em casa?
No Exterior Só no dia 7 de novembro foram ouvidas 60 pessoas, com
Morar fora do Brasil, às média de idade de 24 anos. Confira o resultado:
vezes, significa ter que se
adaptar aos costumes do
novo país. Com isso, algumas
pessoas dizem ter adquirido
o hábito de separar o lixo
13%
antes das campanhas pu-
dizem que não
blicitárias lançadas aqui. Em separam o lixo.
países da Europa, como Ale-
manha ou Suíça, existe um
tratamento rigoroso com o
lixo. “Lá eles fazem blitz nos
lixos e as pessoas podem até
ser processadas”, conta a
jornalista Mônica Fort, que
87%
morou um ano na Suíça. costumam separar e, desses, 15% dizem
Ana Paula Zattoni ter adquirido o hábito no exterior.
Francielli Xavier
06
Conta do lixo gera polêmica e dúvidas
A cobrança de uma taxa mensal sobre a geração de entulhos ainda não tem regras claras definidas
Nas ruas de Curitiba, poucas pessoas ouviram falar da discussão
em torno das mudanças na cobrança do lixo. Na Câmara de Vereado-
res da cidade, apenas um parlamentar estudou o assunto. Segundo
a Prefeitura de Curitiba, o motivo da falta de informação é o tempo
que ainda falta para as modificações entrarem em vigor.
No ano que vem, as pre-
feituras de Curitiba e de,
pelo menos, dez municípios
da região metropolitana vão
conceder à iniciativa priva-
da, por meio de um consór-
cio, o sistema de limpeza
pública das cidades. A prin-
cipal conseqüência deve ser
a cobrança de uma taxa
mensal sobre a geração do
lixo, a partir de 2003. Quan-
to mais sujeira as casas ou
empresas produzirem, mais
alta será a conta no final do
mês. A concessão do servi-
ço seria necessária para pos-
sibilitar maior investimento
no setor.
A terceirização, segundo
a Prefeitura, não significa
privatização. A empresa que
PUNIÇÕES
Saiba quais são os valo-
res das multas para quem
deixa entulhos em áreas
desocupadas.
Leve -
de R$ 11,00 a R$ 1.100
Grave -
de R$ 1.111 a R$ 2.750
Muito grave -
de R$ 2.761 a R$ 5.500
Gravíssima -
de R$ 5.511 a R$ 11.000
A multa será suspensa se
o infrator, por termo de
compromisso aprovado
pela autoridade compe-
tente, se comprometer a
corrigir e interromper a
degradação ambiental.
Comunicare, novembro de 2001 Política
cil estabelecer critérios para
calcular o volume dos Quem paga a conta?
dejetos. “Veja o que pode
acontecer: uma pessoa pode “Sou contra a cobrança, porque poucos vão que-
gerar muito mais lixo do que rer entregar o lixo. Vão esconder tudo para não
seu vizinho e, durante a noi- pagar a taxa.”
vencer a concorrência vai ser te, vai lá e troca os lixos Margolete Mota Sota,43 anos, zeladora
responsável pela coleta, para pagar mais”, ironiza o “Acho um absurdo, mas ninguém vai fazer nada
transporte, tratamento e vereador. para impedir. Vão aceitar, pagar e pronto.”
destinação final dos dejetos. Segundo Almeida, essa al- Élcio Queiroz, 37 anos, segurança
Para isso, vai cobrar uma taxa, ternativa para resolver o pro-
a chamada conta do lixo. blema do lixo não é a melhor.
“Acho que não deveríamos pagar mais essa taxa.
Atualmente, os curitibanos Ele acredita que uma solução
Vão fazer chuncho assim como com as outras
pagam uma contribuição úni- intermediária deveria ser ex-
contas.”
ca e anual pelos serviços que plorada. “Do jeito que está,
Antônio de Souza, 45 anos, encanador
fica entre R$ 45,00 e R$ não está ruim. Hoje o lixo é
375,00. Com a mudança, o algo rentável. Falta compe- “A medida deve ser melhor estudada. Em um pri-
preço deve variar de R$ 5,95 tência e habilidade para ne- meiro momento, eu sou contra. Mas vai que é bom
a R$ 119,00 por mês. gociar a questão”, afirma. para gente?”
Questionamentos Já para o prefeito de Valdison Nivaldo da Silva, 29 anos, manobrista
O vereador Marcelo Curitiba Cássio Taniguchi,
Almeida, do PMDB, único da presidente consórcio inter- população resolva jogar a su- capacidade quase esgotada.
Câmara que tinha estudado municipal do lixo, a fiscali- jeira em lugares impróprios. De Além disso, garante que os pre-
o assunto até o começo de zação rigorosa associada a acordo com ele, a busca de uma feitos da região não teriam con-
novembro, afirma ainda ter campanhas educativas vão alternativa é considerada ur- dições de investir na construição
dúvidas sobre a proposta do afastar a possibilidade de gente, porque o Aterro Sanitá- de um novo aterro.
consórcio do lixo. Ele acre- brigas entre vizinhos e de rio do Cachimba, o lixão da
dita que vai ser muito difí- impacto ambiental, caso a grande Curitiba, estaria com a
Terrenos baldios estão sob fiscalização
Os terrenos desocupados e de 23.000 terrenos baldios. no mínimo, grades, telas, cer-
abandonados geralmente ser-
vem como depósito de lixo, re-
Com ajuda da população, os
fiscais identificam os proble-
cas de madeira ou cercas viva.
Na zona agrícola, deve-se uti-
SERVIÇO
Denúncias de lixo a céu
síduos e entulhos. De acordo mas e a Secretaria Municipal lizar corrente fixa ou arame
aberto
com o Código de Posturas do do Urbanismo adverte os pro- liso. O arame farpado não é
338-8292 (Departamento
município, a limpeza, conser- prietários pelo correio para permitido por questão de se-
de Limpeza Pública)
vação e vedação dessas áreas que eles regularizem a sitação gurança. Para a construção
357-6662 (Delegacia de Pro-
são de responsabilidade do dos lotes. Caso isso não seja de muros com mais de 1,80
teção ao Meio Ambiente)
proprietário. feito, o proprietário é puni- metro, é necessário ter auto-
Se o lixo for despejado por
Para fiscalizar esses locais, do com uma multa de acordo rização do Conselho Regional
um veículo, anote a placa.
há um ano a Prefeitura de com o grau da infração. de Engenharia, Arquitetura e
Objetos reaproveitáveis
Curitiba implantou o progra- As áreas desocupadas po- Agronomia (CREA-PR).
200-1200
ma “De Olho na Cidade”, que dem ser fechadas com muro
Fernanda Yanaze (Disque-Solidariedade)
já notificou os donos de mais de 40 centímetros de altura
Coletas
Em Curitiba, a população conta com alguns sistemas especiais Folhas, galhos e grama - folhas e restos de grama de-
de coleta de lixo. Veja como proceder: vem ser colocados em sacos plásticos, galhos maiores
Restos de construção ou entulhos - a Prefeitura faz a podem ficar em frente a casa. O serviço é prestado pelo Departa-
coleta gratuita de volumes equivalentes a cinco carri- mento de Limpeza Pública, que encaminha os resíduos ao Ater-
nhos de mão. Se a quantidade for maior, deve-se solicitar a ro Vegetal.
coleta para empresas privadas que trabalham com caçambas.
Pilhas, baterias, remédios vencidos, lâmpadas fluo-
Móveis velhos - objetos que podem ser reaproveitados rescentes - resíduos contaminantes são coletados uma
são coletados pelo Disque-Solidariedade. vez por mês nos terminais de ônibus da capital.
 Cidades
Cidadania é a principal maneira de
combater o lixo despejado nos rios
Toneladas de sujeira e detritos são retirados das águas todos os meses e levadas ao aterro do Cachimba
Belém, Passaúna, Atuba,
Iguaçu e Barigüi são os
principais rios que percorrem a
cidade de Curitiba e apresentam
um alto índice de poluição.
Afora toneladas de lixo
recolhidas mensalmente, suas
águas estão contaminadas,
ameaçando o abastecimento da
população. O rio Iguaçu, que
se inicia ao pé da Serra do Mar,
ainda hoje é a principal fonte
de abastecimento de água da
Região Metropolitana de
Curitiba. No trecho em que
recebe o Barigüi, já carrega
grande parte do esgoto da
cidade e dos municípios do
leste metropolitano. Desde
suas nascentes, fábricas
costumam utilizá-lo como área
de despejo. Os demais rios,
como o Belém, carregam para
o Iguaçu enormes volumes de
esgoto.
Curitiba, assim como a
maioria dos municípios
brasileiros, apresenta um
processo de urbanização ao
longo de seus rios, onde o
crescimento e o rápido
desenvolvimento não tiveram o
acompanhamento de ações que
possibilitem a eficiente
manutenção e preservação dos
seus recursos hídricos. “Esse
crescente grau de urbanização,
ao longo das microbacias de
Curitiba e região, trouxe como
conseqüência o aumento de
ações antrópicas que
propiciaram a degradação,
trazendo prejuízos não só para
os recursos hídricos, mas
também para o ar, o solo, a
fauna e a flora”, afirma Roberto
Fendrich, Engenheiro Civil, que
há 4 anos estuda a hidrologia
urbana.
A Prefeitura Municipal de
Curitiba promove mutirões de
limpeza a fim de diminuir o
fluxo de lixo nos rios. Há cinco
anos foi implantando o
Comunicare, novembro de 2001 05
Programa de Educação Ambiental
nas Microbacias de Curitiba – Olho
D’Àgua, visando educar crianças
que moram em áreas próximas
aos rios e córregos, quanto à
proteção e limpeza das águas,
garantindo assim, futuramente,
seu abastecimento. Participam
da operação 25 homens
equipados com barcos, bóias,
caçambas e ferramentas
especiais para catar o lixo das
margens das bacias do Belém,
Barigüi, Atuba e Iguaçu. O
Programa Olho D’Água, além de
Lilian Porto Franco
ações educativas, monitora
regularmente a qualidade da
água.
O rio Belém é o mais poluído
de Curitiba. E o que as pessoas
que moram próximas a ele mais Rio Belém É o mais sujo e contaminado de Curitiba, onde até caminhões despejam lixo todos os dias
reclamam é o mau cheiro.
Valdete Cruz, 46, moradora da
Vila Pinto há seis anos, diz que
também causa o cheiro
incômodo”, diz Macedo.
Aventureiro dos nossos rios...
o cheiro é insuportável, e que Eduardo Fenianos, 29, é O Urbenauta. A bordo de seu jipe – a
Só nó mês de outubro
todos ali são obrigados a se urbenave Guliver, durante 100 dias percorreu Curitiba, a procura
foram recolhidas dos rios
acostumar. “Com o tempo, a de aventuras e conhecimento. Já escreveu livros e produziu filme
mais de 60 toneladas de lixo,
relatando a nossa cidade. Em um bate-papo, perguntamos a ele
que não são recicladas. Todo
sobre as águas daqui.
Em outubro o lixo coletado é transpor-
tado diretamente para o C - Você percorreu de bote os 5 uma fábrica de papel
foram recolhidas aterro do Cachimba. Em principais rios de Curitiba. Como depositava lixo industrial.
2000, foram recolhidas das você os descreveria ? Temos o Atuba que é o mais
60 toneladas águas quase 700 toneladas EF – O Barigüi que é bem importante da história de
de lixo de lixo, o que equivale a 1,85 estreito e faz divisa com Curitiba. É um rio de
tonelada por dia, de acordo Almirante Tamandaré é correntezas fortes, mas
gente acaba acostumando, mas com dados fornecidos pela bastante poluído. Mas na parte infelizmente também bastante
não é fácil conviver todos os dias Secretaria Municipal do Meio que corta o Parque Tingüi, é o poluído. E por fim, o rio
com o mau cheiro daqui”, Ambiente. Estima-se que neste percurso do rio que se encontra Iguaçu, que dá até pra praticar
reclama Valdete. ano, o valor dobre. Segundo mais limpo. Ali tem vegetação, esporte náutico. Ele navega
A questão do cheiro dos rios, a gerente de varrição da fauna, flora e até peixes. Ali melhor e é um rio rápido. Mas
especialmente a do rio Belém, é Limpeza Pública, Gisele tem vida. Quando passa pelo o mais interessante, é que lá
ligada ao lixo e esgoto Martins, são retirados Pilarzinho, se torna um rio você pode encontrar duas
depositados. Segundo o técnico diariamente todo o tipo de totalmente sujo. E na CIC, situações: a poluição e a
ambiental Carlos Macedo, não há material que se possa quando ele se alarga, beleza. Eu digo que é o urubu
como evitar o mau cheiro devido imaginar. “Embalagens de encontram-se materiais e a garça.
ao material jogado nas águas. leite longa vida, garrafas não industriais, por ser próximo C - Quais os objetos mais
“O esgoto cai diretamente e são retornáveis de refrigerantes, das indústrias. O rio Belém é o incomuns que você encontrou
carregados para outros córregos fraldas descartáveis, pneus, Tietê de Curitiba, acho que não nas águas?
e rios; é um processo que só calhas de bicicleta, cascos de tem mais jeito. O Passaúna é o EF - Encontrei de tudo. Uma
acaba se não se jogar mais geladeira, peças de móveis de mais limpo, dá até pra tomar cozinha inteira, que chamei de
nenhum tipo de lixo e esgoto, madeira, além de montanhas banho, porque eu tomei. As “a cozinha do rio”: fogão,
pois com o tempo, mesmo lixos de sacos plásticos”, afirma nascentes são puras e geladeira, forma de micro-
recicláveis, produzem o Gisele. confiáveis, apesar de já ter ondas; encontrei até um Fusca
chorume, um líquido escuro que Lilian Porto Franco havido uma denúncia de que inteiro.
04
Substituição do Cachimba indefinida
Próximo aterro sanitário de Curitiba e região metropolitana deve estar pronto até o ano de 2003
Divulgação
Cachimba Mesmo com as campanhas de reciclagem, o aterro não conseguiu aumentar sua vida útil e a cidade está precisando de outra área para depositar o seu lixo
Curitiba produz 1200 to-
neladas de lixo doméstico por
dia. A região metropolitana
produz a mesma quantidade,
totalizando 2.400 toneladas
de resíduos sólidos proveni-
entes de domicílios todos os
dias. Neste total não estão
inclusas as 700 toneladas de
lixo inorgânico, retiradas
através da coleta seletiva. A
coleta é realizada diariamen-
te no anel central da cidade e
em escalas de dias alternados
nos bairros mais afastados do
centro. Mas para onde vai
todo este lixo?
Os caminhões de coleta da
prefeitura percorrem cerca de
25 km para ir do centro de
Curitiba até o bairro da
Cachimba, onde fica localiza-
do o único aterro sanitário da
cidade e da região metropo-
litana. O aterro tem uma área
total de 410.000 m2, sendo
que a área destinada à dispo-
sição do lixo propriamente
dito é de 237.000 m 2. Os es-
Comunicare, novembro de 2001
paços ao redor desta área são
canteiros vegetais com a fun-
ção de proteger a população
que vive na região.
O aterro da Cachimba ini-
ciou suas atividades em junho
de 1989, depois do seu pro-
jeto ter sido fundamentado
em estudos preliminares e
normas operacionais. Maria
Cristina Braga, doutora em
Processos Ambientais e par-
ticipante da realização deste
projeto, trabalhou para a Se-
cretaria do Meio Ambiente da
Prefeitura de Curitiba de 1987
a 1994, cuidando do
gerenciamento de resíduos
sólidos. Ela afirma que a ca-
pacidade de projeto do ater-
ro da Cachimba é de
3.239.500 toneladas e que
considerando a projeção
populacional para o municí-
pio de Curitiba, significa que
a vida útil do aterro seria de
exatamente onze anos, dois
meses e vinte e três dias. Com
a campanha da reciclagem que
a prefeitura de Curitiba lan-
çou no final de 89, o tão co-
nhecido “lixo que não é lixo”
tinha a intenção de aumentar
a vida útil deste aterro em até
quatro anos, mas a aceitação
do lixo de outras cidades da
região metropolitana, fez com
que a quantidade de lixo lá
depositado aumentasse ainda
mais, mesmo com a retirada
de uma parte do material
inorgânico. Isto significa que,
na realidade, em nada au-
mentou o tempo de vida útil
do local.
Contudo, a prefeitura es-
tendeu a data de encerramen-
to do aterro para janeiro de
2003, quando isto já deveria
ter acontecido no ano passa-
do. Para Maria Cristina, o mai-
or problema com relação ao
esgotamento do aterro é a
perda da capacidade, por par-
te das lagoas de tratamento
de chorume, de tratar este lí-
quido escuro, gerado pela
degradação de resíduos, que
contém alta carga poluente e
que acaba por desembocar no
Rio Iguaçu. Ela reafirma que
deve ser dada muita importân-
cia ao tratamento desta subs-
tância.
Novas possibilidades
Até janeiro de 2003 o novo
aterro sanitário de Curitiba e
região metropolitana deverá
estar em funcionamento. A
escolha do local fará parte
dos projetos que serão apre-
sentados pelas empresas que
participarão do processo de
licitação para a construção do
novo aterro. Além das ofertas
que as empresas concorrente
farão, os projetos de implan-
tação deverão ser aprovados
pelo IAP (Instituto Ambiental
do Paraná), que fornece Rima,
que é o laudo de aprovação
de um estudo de impacto
ambiental. Este estudo avalia
questões como a formação
geológica do solo da região
e profundidade dos lençóis
freáticos. Deve-se lembrar que
Cidades
é extremamente proibida a
construção de um aterro sa-
nitário sobre área de manan-
cial com função de abasteci-
mento de água. A avaliação
também se dá com relação à
distancia da população local;
à direção dos ventos; à dis-
tancia com relação ao centro
urbano e a facilidade e/ou
dificuldade de acesso dos ca-
minhões.
A empresa concessionária
que vencer a licitação, deverá
licenciar o aterro com no mí-
nimo 25 anos de vida útil e
passará a cobrar tarifa de lixo,
da mesma forma como é fei-
to com a água e a luz hoje em
dia.
Finalmente o sistema de
coleta de lixo também será
privatizado. Se inevitável,
nos resta saber se os fatores
ambientais serão realmente
respeitados e se o serviço co-
brado será eficiente e de qua-
lidade.
Ana Elisa Nicolau
 Entrevista Comunicare, novembro de 2001 03

Maior a cidade, maior o problema

Ambientalista alerta para o perigo de novos aterros e diz que população ainda não sabe separar o lixo

Entre os anos 60 e 70, a então estudante de jornalismo mudança total de conduta le-
Teresa Urban se engajou no movimento estudantil. Conside- varia pelo menos duas ou três
rada uma subversiva pelos militares, teve de se exilar no Chi- gerações. É preciso que tam-
le. Ao retornar, ficou quase dois anos presa em um convento. bém refletisse na indústria. É
Já trabalhou em vários veículos de comunicação e foi chefe quase impossível hoje uma
de redação do jorna Folha de Londrina. As matérias sobre meio- pessoa ir ao supermercado e
ambiente despertaram nela a paixão pela causa ecológica. Há comprar suco natural em gar-
dez anos fundou o Projeto Rede Verde, uma organização não- rafa de vidro, ou comprar
governamental que fornece informações ambientais via queijo fatiado que não esteja
internet. Aos 55 anos, Teresa conta com vários livros publica- numa embalagem de isopor.
dos, o mais recente é Missão (Quase) Impossível, que relata a E isso se deve ao ritmo de
saga dos ambientalistas no País. Entre 94 e 96 foi auditora do vida atual. Ninguém quer fi-
Programa de Saneamento Ambiental da Região Metropolitana car guardando garrafa para
de Curitiba. Nesse período estudou a questão do lixo na cida- depois trocar no supermer-
de e descobriu a gravidade do problema. cado. É preciso encontrar
uma solução.
Comunicare - Como está a si- coleta seletiva é feita pelos
tuação do lixo em Curitiba? carrinheiros. Eles criaram um Comunicare - Qual seria a
Teresa - Antes do lançamen- sistema. Já o programa ofici- solução?
Paulo Augusto Ramalho

to do programa “Lixo que não
é lixo”, não havia nenhuma
discussão crítica sobre essa
questão. Acreditava-se que o
espaço para expansão e cria-
ção de novos aterros era infi-
nito. Quando surgiu esse pro-
grama de reciclagem aqui, o
marketing em torno dele aca-
bou dando a impressão à po-
pulação de que o problema já
tinha sido resolvido. Como
num passe de mágica. O pro-
blema ainda existe e a ade-
são popular foi muito baixa.
E até arrisco a dizer que tal-
vez o problema tenha se agra-
vado. O cidadão
pensa: “se já Uma mudança de
existe um pro-
grama que sepa- conduta levaria
ra o lixo, eu não
preciso sepa-
pelo menos duas
rar”. Ele pensa ou três gerações
que está isento
dessa responsabilidade.
Comunicare - Então você acre-
dita que esse programa de co-
leta seletiva não vem dando
certo?
Teresa - Eu não tenho os nú-
meros exatos. Mas sei que o
percentual de lixo reciclável
recolhido pelos carrinheiros,
os ditos catadores, é muito
maior do que o recolhido pe-
los caminhões da prefeitura.
E desde muito tempo que a
al é caro e ineficiente, porque Teresa - Informar é o ponto
só recolhe aquilo que os de partida. Veja o aterro sa-
carrinheiros não pegam. O nitário em Curitiba. Ele está
material coletado não é o me- quase em seu limite. Existe in-
lhor, com pouca possibilidade clusive um projeto para um
de reciclagem, acabando mui- novo aterro. Assim mesmo,
tas vezes no aterro sanitário. vai chegar um dia em que não
Conscientização Para Teresa, a responsabilidade é de todos haverá mais espaço para de-
Comunicare - O retorno eco- positar o lixo. O problema é
nômico não vale a pena? lixo que não pegue as duas oria das cidades de todo o bastante grave. Há uma dis-
Teresa - Não. A reciclagem é pontas: a produção e o con- mundo, para depois repassar cussão aqui que propõe taxar
viável para determinados ti- sumo. Na verdade o consumi- parte dessa responsabilidade o lixo pelo volume produzi-
pos de papel e principalmen- dor deve ter uma parcela de ao consumidor. do. O que pode levar o con-
te o alumínio. Tanto que a lata responsabilidade. O que ele sumidor a escolher com mais
é o material mais reciclado em traz para sua casa vai se trans- Comunicare - E quanto aos cuidado suas compras. Mas
Curitiba. Quanto ao plástico formar num problema. Por rios de Curitiba, por que a po- reitero, isso não será solução
reciclado, ele tem uma quali- isso tem que pressionar o fa- pulação ainda joga lixo neles? se não houver outras opções
dade inferior e bricante para que ele possa Teresa - Isso é uma questão de produtos para o consumi-
é pouco práti- ter outras opções menos pre- cultural. Historicamente os dor. Não se pode penalizá-lo
co para o con- judiciais ao meio-ambiente. rios sempre foram a lixeira pela falta de opção.
sumo. É difícil da cidade. Tanto para o mo-
reaproveitá-lo Comunicare - E o consumi- Comunicare - Você está oti-
na mesma fun- dor tem noção dessa respon-
rador, para a indústria e para
mista ou pessimista com a
o saneamento. Isso porque
ção. Nesse as- sabilidade? o rio leva tudo embora. Ele questão do lixo no futuro?
pecto a Itália é Teresa - Não tem. Ele ainda começou a ficar sujo com Teresa - Eu acho que nós
um bom exemplo. A legislação pensa assim: “eu ponho o lixo o crescimento urbano e ainda somos um pouco “bi-
de lá determina que o próprio na rua e o problema já não é conseqüentemente o do cho”. Temos uma espécie de
fabricante dê um fim ao ma- meu”. O que acontece com o lixo. E até mesmo os pró- radar que nos avisa quando
terial. Com isso as embalagens lixo não lhe interessa. É uma prios aterros poluem os a situação estiver preta. O
retornáveis voltaram a ser uti- posição cômoda, porque ele mananciais subterrâneos. nosso instinto de sobrevi-
lizadas pelos consumidores. cobra das indústrias menos vência prevalece em situa-
poluição do ar e preservação Comunicare - Para mudar essa ções extremas. E por outro
Comunicare - Essa medida florestal, mas pouco se preo- conduta basta conscientizar? Ou lado, a indústria começa a
deveria ser seguida no Brasil? cupa com a questão do lixo. também é preciso multar quem perceber que a reciclagem
Teresa - Essa atitude nos re- Então eu defendo que haja não cumpre, como ocorre em pode ser um bom negócio.
mete ao outro lado da ques- mais informações. Primeiro é Nova York? Afinal, na economia de mer-
tão. Não existe nenhuma pos- preciso esclarecer que o pro- Teresa - O processo de cado atual todos querem
sibilidade de fazer um bom blema do lixo em Curitiba não conscientização produz resul- ganhar dinheiro.
programa de separação de está resolvido, como na mai- tados a médio prazo. Uma Paulo Augusto Ramalho
02 Comunicare, novembro de 2001 Opinião

Separar, reciclar, preservar COMUNICARE

Jornal Laboratório da Pontifícia
Universidade Católica doParaná
O lixo é assunto mundial. Se não houver consciência, poderemos afundar nele Edição nº42 - Lixo
novembro/2001
A palavra “lixo” significa os Estados Unidos. Só em 50 milhões de toneladas; a A riqueza de um país
“tudo que não presta e se matéria de pneus usados pirâmide de Queops, no Egito, também é fator diferencial na Jornalista Responsável
Zanei Barcellos
deita fora; que se varre com a (quase novos), jogam-se fora tem 140 metros de altura e produção de lixo. Os países DRT 1182/07/93 - PR
vassoura; cisco; escória; 400.000 por pesa 6 milhões mais ricos consomem mais
sobras; imundície; sujidade”, dia, isso cor- Produção de lixo de toneladas. produtos embalados que os PUCPR
conforme o Dicionário Aurélio. responde a 150 domiciliar por país O america- países mais pobres; nesse Rua Imaculada Conceição,1155
Prado Velho
Os problemas atribuídos milhões por (kg/dia) no comum pro- caso, os lixos variam em tipo
Curitiba-PR
ao lixo são assuntos de ano. As emba- duz uma média e quantidade, causando
interesse mundial, pois a cada lagens de alu- Estados Unidos: 3,2 de 2 quilos de incômodos diferenciados. Reitor
dia aumenta a quantidade de mínio descar- Itália: 1,5 lixo doméstico Outro exemplo, a produção Prof. Dr. Clemente Ivo Juliatto
lixo produzido, e as cidades táveis dariam Holanda: 1,3 por dia. Se os industrial dos países ricos, é
Decano do CCJS
não estão tendo mais o que para construir Japão: 1,1 sacos de lixo de maior e mais diversificada, Prof. Roberto Linhares da
fazer com ele. Espaço para os 6 mil aviões Brasil: 1 uma família implicando gerações distintas Costa
lixões praticamente não existe DC-10 por ano. Grécia: 0,8 média ameri- em espécie e volume gerado.
mais. O lixo domés- cana, de quatro Se não houver jeito de Decano Adjunto
Portugal: 0,6
Prof. Constantino Comninos
Atualmente, o país que tico da cidade pessoas, fos- amenizar a geração de lixos e
mais produz lixo no mundo, de Nova York, sem empilha- formas de contornar os Diretora do Curso de
segundo a revista “National gerado em 15 anos, dá para dos, em uma semana atin- excessos em suas gerações, o Comunicação Social
Geograph Magazine”, do construir uma pirâmide de giriam uma altura de pelo mundo acaba afundado nele. Mônica Fort
“World Watch Institute” são 150 metros de altura, pesando menos três metros. Editores

Primeira Página
Marcelo Ribeiro

Opinião
Mariane Antunes

Entrevista
Paulo Augusto Ramalho

Cidades
Everson Mizga
Cláudia Prati

Política
Juliane Ferreira

Educação
Patrícia Bahr

Gente
Ana Paula Maske

Trabalho
DECLARAÇÃO INTERNACIONAL SOBRE PRODUÇÃO MAIS LIMPA Renata Torres

Com o intuito de fomentar
uma produção mais limpa, o
Programa das Nações Unidas para
o Meio Ambiente- PNUMA, lançou
em 10 de setembro de 1999, a
Declaração internacional sobre
produção mais limpa, com 159
signatários entre eles 34 países,
41 empresas e 30 academias,
sociedades e grupos de trabalho.
“Reconhecemos que a
consecução do desenvolvimento
sustentável é uma respon-
sabilidade coletiva e que as
atividades encaminhadas a
proteger o meio ambiente hão
que contemplar a adoção de
práticas de produção e consumos
sustentáveis.
Consideramos que a Produção
mais Limpa e outras estratégias
preventivas, tais como a
Ecoeficácia, a Produtividade
Ecológica e a Prevenção à
Contaminação são as opções
adequadas a estes fins e que
requerem o desenvolvimento, o
respaldo e a aplicação de
medidas específicas.
Concebemos a Produção mais
Limpa como norma, que exige a
aplicação permanente de uma
estratégia preventiva integral a
processos, produtos e serviços, em
áreas de bem social, sanitário,
de meio ambiente e de
segurança”.
A estes efeitos, nos
comprometemos a:
LIDERANÇA
- para promover a adoção de
práticas sustentáveis de produção
e consumo;
CONSCIENTIZAÇÃO, EDUCAÇÃO
E CAPACITAÇÃO
- a orientação e o
desenvolvimento de programas de
sensibilização, educação e
formação;
- o estímulo à implantação de
conceitos e princípios nos
programas educativos;
INTEGRAÇÃO
- Favorecer a incorporação de
estratégias preventivas mediante
os elementos disponíveis, como Consumo
a análise dos efeitos sobre o Patrícia Karkle
André Amorin
retorno o desempenho do meio
ambiente, ou a avaliação das Cultura
repercussões na natureza, os Carin Rauth
ciclos vitais e as normas corretas
Arte
de produção.
Felipe Araújo
DESENVOLVIMENTO
Saúde
Luana Zugman
- Criar soluções inovadoras
favorecendo a renovação das Internacional
estratégias afim de lhes dar um Bruno de Vizia
caráter mais preventivo, nas
Especial
atividades de desenvolvimento;
Luis Henrique Rui
- promovendo o desenvolvimento
de produtos e serviços que
Revisão e Arte Final
Guilherme Conter
respeitem o ambiente e que
respondam às necessidades do
Fale com o Comunicare:
consumidor. jornalcomunicare@hotmail.com
 16
O que o seu vizinho anda fazendo?
O lixo doméstico revela aspectos da vida cotidiana, desde o sabonete favorito até os gastos pessoais
Todos têm curiosidade de
saber fatos sobre a vida
alheia, isso justifica o grande
número de publicações que
têm como tema à vida de fa-
mosos. Da mesma forma, há
curiosidade em saber o que
acontece na casa de pessoas
mais próximas. Afinal quem
não quis ser uma mosca para
voar até casa vizinha e ver o
que estava acontecendo?
Os nutricionistas e pes-
soas ligadas à área de saúde
dizem que as pessoas são o
que comem, essa máxima tam-
bém pode ser usada para o
lixo. Tudo que uma pessoa
joga fora conta um pouco do
seu dia, da sua vida. É possí-
vel descobrir os hábitos de
cada pessoa. O lixo de uma
casa de família de um bairro
de classe média em Curitiba,
tendo como base o seu lixo.
Examinando seu lixo, foi pos-
sível descobrir muitas curio-
sidades
Nos sacos de lixo havia
muita coisa, mas algumas
identificavam mais claramen-
Muitas vidas por trás do lixo
Para onde vai todo lixo
que produzimos? Quem serão
as pessoas que cuidam des-
te lixo? À noite, quando tudo
se acalma um pouco, perso-
nagens anônimos trabalham
para ganhar a vida e fazer
com que as folhas, as pon-
tas de cigarro, papéis e quem
sabe outras coisas, não es-
tejam mais lá no outro dia.
Mas eu repito a pergunta:
Quem são estas pessoas? Será
que elas possuem histórias?
Tristes? Alegres? Curiosas?
AD-789. É a placa do veí-
culo da senhora Ivonete de
Oliveira, 43 anos. Duas rodas
de bicicleta, uma armação de
metal e uma tela para fechar.
Dentro, muito papel, plásti-
co e vidro. Atrás, uma placa
amarela, daquelas antigas,
quem sabe para tentar fan-
Comunicare, novembro de 2001
te características pessoais, tais
como rotina, hábito alimen-
tares, situação econômica e
fatos recentes da vida da
casa.
Faxina
O dia 6 de novembro
foi dia de faxina geral na casa,
pois havia no lixo um vidro
vazio de limpador multiuso,
embalagem de luvas para lim-
peza, panos velhos ainda
úmidos e um pacote de panos
Perfex.
Como sempre acontece
em uma grande limpeza em
casa um dos sacos de lixo da
casa tinha muitos papéis, cor-
respondências, contas revis-
tas e jornais velhos. A exis-
tência de alguns brinquedos
quebrados indica que na casa
há pelo menos uma criança
ou que houve alguma, afinal
um dos brinquedos é um dos
saudosos “Aquaplay”. Prova-
velmente são moradores do
apartamento um casal com
um filho.
Alimentação
Depois de fazer a faxi-
tasiar um outro mundo. Ao
lado e sempre, Bethoven, o
inseparável cachorro. “Às ve-
zes eu saio de casa sem ele
me ver. Três quarteirões de-
pois ele aparece”, conta.
Ivonete tem 43 anos, se-
parada, mãos machucadas,
três filhos que ficam na casa
da mãe quando sai de casa
às 5 horas da tarde e retorna
por volta da 1 hora da ma-
nhã do depósito, com seis
reais no bolso. Quando per-
gunto a ela o que de mais
valioso ela encontrou nesta
noite, ela responde: “Quer
ver o que eu achei de mais
valioso?”, e ela me mostra
um carrinho de brinquedo
sem as rodas que disse que
iria levar para o filho menor.
Seu Joaquim Pereira dos
Santos Neto, também traba-
Especial
na toda, a moradora ainda
teve ânimo para cozinhar al-
guma coisa, muito provavel-
mente um bolo, afinal em um
dos sacos havia uma caixa de
ovos vazia, muitas cascas de
ovos, um pote de margarina,
além de uma embalagem de
fermento. Para acompanhar o
bolo a família tomou Coca-
Cola, a embalagem ainda es-
tava um pouco molhada.
Luiz Henrique Rui
Muitas caixas de leite fo-
ram mais um indicativo de que
há uma criança no aparta-
mento. Mas a conta de gás
marca que apenas 6,99 m3 fo- Lixo doméstico Dá para saber a vida de uma pessoa através dele
ram usados no mês de outu-
bro. É válido supor que os Entre os papéis rasga- Sem dúvida uma olha-
moradores do apartamento dos havia uma publicação de da mais atenta no lixo alheio
fiquem pouco tempo em casa uma associação de funcioná- é a melhor forma de conhe-
e façam a maior parte de suas rios públicos, alguém na casa cer uma pessoa. Um pouco de
refeições na rua. trabalha para o governo fe- atenção faz com que qualquer
Economia deral. um saiba mais sobre o outro
Realmente a família é A família parece ser fiel do que qualquer: “Bom dia!
de classe média. Não há mui- aos costumes de consumo, Será que chove hoje?” no ele-
tos enlatados no lixo ou em- afinal todas as sacolas plás- vador.
balagens de produtos impor- ticas são do mesmo
tados mas a grande parte dos hipermercado, que fica loca-
produtos usados na casa são lizado nas proximidades do
de marca de boa qualidade. condomínio. Luiz Henrique Rui
Você sabia?
lha com lixo só que não o
reciclável. Ele é funcionário
da empresa responsável * O Brasil é um dos países que mais recicla alumínio.
pela limpeza da cidade. Var- Quem imaginou que isso representa a nossa consciência eco-
re ruas das 9 da noite às 5 lógica errou. O Brasil subiu nesse ranking nos últimos anos
da manhã desde 1996. Per- devido ao aumento de pessoas que atuam na economia
gunto: O senhor é casado?”, informal, leia-se desempregados, catando latas nas ruas e
e ele responde coçando o em eventos.
bigode todo torto:
“Amuntuado”. * A cada 24 horas, o Brasil produz 240 mil toneladas de
Outro personagem anôni- lixo- sujeira que seria suficiente para lotar 1.160 aviões
mo das ruas é seu Sandoval cargueiros do tipo Boeing 747. Em 1982, cada brasileiro
de Almeida. Uns quarenta jogava meio quilo de lixo por dia. Em 96, a média foi de
anos. Casado, 5 filhos para 750 gramas per capita. Os números ainda são pequenos se
criar com o dinheiro que vem comparados com os do Japão, onde cada habitante produz
do lixo. Um homem simples cerca de 2 quilos de lixo ao dia.*
mas com educação e uma
maneira de falar muito cor- * Na década de 80, Cubatão, o maior pólo petroquímico
reta. Diz que já viu de tudo do país, foi considerada a cidade mais poluída do mundo.
nesses 10 anos de trabalho As indústrias despejavam a cada ano 4,7 milhões de tonela-
na rua. Assaltos, mortes, aci- das de lixo no solo e nos rios de Cubatão.*
dentes e “até gente fazendo
sexo”, ressalta espantado. *fonte: Guia dos curiosos na Internet/ www.guiadoscuriosos.com.br
Vinícius Schreiner