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Coletanea de Contos & Cronicas PDF
Coletanea de Contos & Cronicas PDF
Literatura CAT
E GORIA
NICAS
Col e t ânea
CrÔ
de &
CONTOS
Coletânea
de Contos &
Crônicas
Editora filiada à Associação Brasileira das Editoras Universitárias (Abeu)
Av. Fernando Ferrari, 514 - Campus de Goiabeiras
CEP 29075-910 - Vitória - Espírito Santo - Brasil
Tel.: +55 (27) 4009-7852 - E-mail: edufes@ufes.br
Homepage: http://www.edufes.ufes.br
Conselho Editorial | Agda Felipe Silva Gonçalves, Cleonara Maria Schwartz, Eneida Maria
Souza Mendonça, Gilvan Ventura da Silva, Glícia Vieira dos Santos, José Armínio Ferreira, Julio
César Bentivoglio, Maria Helena Costa Amorim, Rogério Borges de Oliveira, Ruth de Cássia dos
Reis, Sandra Soares Della Fonte
Comissão Organizadora | Fernanda Scopel Falcão, Orlando Lopes Albertino, Ruth de Cássia
dos Reis, Washington Romão dos Santos
Comissão Julgadora das categorias Livro de poemas e Coletânea de poemas | Lucas dos
Passos, Marcelo Paiva de Souza, Marcus Vinicius de Freitas, Paulo Roberto Sodré
Coletânea
de Contos &
Crônicas
Organização
Vitória, 2015
Apresentação
Apresentação
Modalidade Autor
Modalidade Antologia
Coletânea de poemas:
Obs.: O escritor Tauã Valle Pinheiro informou, posteriormente, que a obra seria
publicada por outra instituição, o que o tornou inabilitado para a premiação,
conforme o regulamento do prêmio.)
“O espanto e o impulso”, de Carlos Nathan Sousa Soares (PI);
“Soja Santarém”; “Assalto ao Chile”, de Edvaldo Fernando Costa
(Fernando Nicarágua) (SP);
“Todas as janelas da casa estão meio abertas”; “Num domingo nu-
blado de outono”; “Dum poema escrito num apartamento qual-
quer”; “Janelas”; “Transitivo”; “Deixa a palavra escorregar”; “Deixa
a palavra escorregar II”; “Dia sem luz/casa caiada”; “O Amor é po-
esia física”; “Ímpeto madrugal (poupa de fruta de um coração por
comer)”, de José Vander Vieira do Nascimento (ES).
MAURO LEITE
TEIXEIRA
Natural de Carrancas - MG
(27/05/1942), cresceu no interior de
Aimorés - MG. Formação: Engenharia
Civil - Ufes 1967; Administração de
Empresas - Ufes 1974; Historia - Saberes
- 2010; Linguagem e Literatura - Saberes
(concluindo). Engenheiro Rodoviário
DNER/DNIT 1968/2000; Diretor Geral
Deres - 1995/1997; Superintendente
Executivo Instituto Terra, em Aimorés -
MG - 2000/2002; Engenheiro Prefeitura
de Vitoria - 2004/2012.
– Pare!
Junho de 2013.
MARCELO
HENRIQUE
MARQUES DE
SOUZA
1 - Não era bem isso que eu queria te dizer. Saiu sem querer, ato falho, sabe como
é. Eu sei, às vezes a gente fala o que não quer falar e acaba dizendo o que queria
dizer. Mas não era bem isso.
Havia mais detalhes, mais vielas e curvas. E eu precisava de um resumo. Achei
que tudo tinha que ser rápido. Curta-metragem. A pressa, eu sei, é inimiga...
Sei também que nessa estação não há mais espera nas laterais do trem. Estação-
fantasma. De qualquer forma, não era nada daquilo. Ou pelo menos quase nada.
Talvez tenha sido o tom da voz. Não que tenha sido alto, mas foi veemente, con-
fesso. Verdadeiro em excesso. Essa coisa de defender a veracidade do que a gente
diz não soa bem. Parece sempre forçado, porque no fundo a coisa não tem fundo.
Podia ser qualquer coisa.
Perder faz parte. Mas será que existe algum tipo de ganho efetivo em jogo? Não
seria tudo parte do mesmo derreter-se? Não sei, parece mesmo que a maneira que
eu tenho de atenuar esse revés é generalizando a perda como epiderme partida de
tudo. Eu sei, não é estratégia das mais originais...
O pior é que, vendo daqui, dá pra perceber que havia escolha. Podia ter sido
diferente. Mas não será isso a primeira brisa da paranóia? O fato de haver alter-
nativas daqui de hoje não significa que elas fossem tão óbvias naquele momento.
Haver escolha é uma tremenda ambiguidade, porque escolher é sempre decepar
as alternativas que sobram.
RAFAEL CAL
LIANA GONZÁLEZ
MARIA
APPARECIDA S.
COQUEMALA
No último ano do colegial, formavam uma turma de adoles-
centes brincalhonas, extrovertidas; no geral, ótimas alunas. Já os
colegas, nem tanto. E vítimas das brincadeiras delas, das provoca-
ções, mas, quase todos, eles e elas, amigos entre si.
Naquele dia, mal entrei, senti a tensão na sala. Como se algu-
ma coisa fizesse subir a temperatura. A emoção estava na cara das
meninas. Então o vi entre os rapazes, um astro brilhando no meio
da noite escura, de modo a ninguém deixar de ver. Alto, grandes
olhos azuis, cabelos escuros encaracolados, atlético, ar de quem se
sabe o bendito fruto entre as meninas, amém. E logo se revelando
bom aluno. O pai, juiz, tinha vindo transferido para a cidade. O fato
de falar também inglês e espanhol aumentava o charme. O assédio
era explícito, as meninas suspiravam...
– Por que unzinho, se são tantas as nossas carências? Pieda-
de, Senhor...
Na rua
– Ufa! Que jantar, Mila!
– Que aconteceu?
– Surpreendente, Mila! Surpreendente!
– Conte.
– Não vai acreditar.
– Conte, conte.
– Bem, você sabe, fui ao jantar, nada sabia sobre o restau-
rante e muito pouco sobre o Sr. Hermenegildo, com quem fui me
encontrar. É produtor rural, interessado na compra de nossas má-
quinas. Trate-o bem, meu sócio tinha recomendado, o homem tem
potencial para ser um grande cliente. Conselho que esse sócio exa-
gerado repete sempre, até com referência a um plantadorzinho de
batata de fundo de quintal.
– E?
– Telefonou ontem, conforme você sabe, chutou compromis-
so sem a mínima consideração, esquece que estou viajando em fé-
rias, não sabe o que é isso, nunca as tira. Depois lhe conto mais so-
bre ele, voltemos ao restaurante. Imaginei um coronelão do interior,
daí que me apresentei, conforme você bem viu: bermuda e rabo a
cavalo, donde pode imaginar a importância que dei ao encontro.
– E?
– Quando saí, estranhei o carro luzindo de imponência, já
me esperando em frente ao hotel, motorista enfatuado... Coisa de
caipira se dando importância, pensei. As coisas pareciam não com-
binar, mas...
HUGO AUGUSTO
SOUZA
ESTANISLAU
– Bom...
Mas como que posso te falar assim que foi a tal epidemia?
Escuta bem. Dizem que começou aqui mesmo, no bairro, casa do
Oliveira, a de muro com texturas a vinte passos do poste da pra-
ça. Foi o filho mais novo. Levado e tudo pelos homens de apito.
Com o som deles, a gente de tudo não chegando perto, em silên-
cio ouvia-o: eu entendi, entendi! Mas nem ninguém imaginava que
ia assim se alastrar, mas ele foi o primeiro com a doença do fim.
Hoje, escutei no jornal do almoço que ela ataca os nervos dos
nossos dois lacrimejantes, fazendo deles pro que eles não servem.
Já prenderam mais cem hoje lá no centro, fazendo gritaria. Onde já
se escutou? “Pra isso que servem!” Inventaram até um verbo, ouve
só: ver, vendo, veremos. Gritavam que estão vendo! “É tudo dife-
rente!”... Ontem, prenderam um; e os homens do governo disseram
ser o último que, ouve só, o último que “via”, né? A gente espera.
Expor nossa família, assim, de perigo de sair parando tudo, gritando
tudo, dizendo que é mais, que o mundo é mais... Onde já se ouviu?
Já tudo conhecemos, o resto é doideira da cabeça. Só som. Ainda
o mesmo. O mundo é dos que ouve.
– Liano! Meu filho! Oh, meu Deus!! – Gritou até que sacudis-
sem os outros perguntando...
– Não faz isso nunca mais, meu filho, não faz!! – E o pegou
no colo, como se fosse um mole boneco alvo. – Não faz!
– Na-Não papai! Não... Deixa eu comprar pra ir! Eu quero!
– E apontava o menino pro chão sem nada do susto entender... – Eu
quero dar pra mamãe! Ir na mamãe... – e começava já a chorar...
– É o quê? – Perguntou Genuíno ainda sem compreender
muito... Mas só conseguiu ligar quando olhou ao chão e viu uma
redonda moeda de vinte e cinco centavos... O menino apontava pro
colorido vendedor do outro lado da rua... E parou. Pôs o menino de
olhos com os seus:
– Pra mamãe não vai dar Liano... Pra ir não vai dá.
JOSÉ RONALDO
SIQUEIRA
MENDES
Cena I
Cena II
Cena III
– Sinto muito, Japera, mas não é mesmo seu dia. Saí batidim
de todo, três jogos prontos de mão! – riu mais agora, enquanto o
seu oponente, perplexo, ia retirando as cartas do baralho para ver
onde estaria o seu bate: era a segunda carta do monte. Os outros
jogadores quedaram-se apreensivos, notaram que o Japeri perdeu
a cor, mas mantinha um olhar vermelho sangue, algo ruim em suas
vistas. O Seixas esticou a mão para apanhar as chaves do carro e,
em seguida esticou de novo, pedindo a documentação do veículo.
Os amigos protestaram, reclamaram que aquilo era para ser um
joguinho para passar o tempo, que não havia necessidade de Seixas
exigir o carro do Japeri, já que todos ali eram amigos e colegas. O
dono do carro retirou o documento do bolso e entregou-o, falando:
– Quando eu precisar de advogado de porta de cadeia, eu
mesmo contrato um, viu! E além do mais, aposta é aposta; não sou
menino, tenho palavra ainda!
– Bati! – e era Japeri, com três jogos de dois, uma das combi-
nações mais difíceis de alguém fazer, nove cartas do mesmo núme-
ro com auxílio de um coringa. Japeri deu uma risadinha debocha-
da, mas aguda, algo não condizente com este mundo.
– Você vai ver só, seu velho filho da puta! Quero ver você
chegar nos cem! – uns olhos arregalados ao fundo de um rosto
transfigurado, mais parecendo um bizarro mosaico asteca constru-
ído atrás de alguma cachoeira mística, tal era a sua sudorese facial.
– Eu não! Vou ser exceção! Nunca irão chegar nos cem! Essa
cambada de doido de merda! – falou por entre os dentes, olhos
injetados e alucinados a vigiarem a entrada da gruta.
JÉSSICA
BARCELLOS
BASTOS
MIRIAN DA SILVA
CAVALCANTI
Olhou a fauna humana por olhar, já que não lhe restava mui-
ta opção. Ou melhor: não lhe restava opção porque, para ele, tudo
era igual. Escolheu a mesa central, surpreendentemente vazia. Fora
de padrão, menor que as demais. Sábado, naquele bar, a tendência
era as mesas engatadas umas às outras, em conversas barulhentas.
Fosse em Vitória, fosse em BH.
Para onde iam os casais? Depois de quase trinta anos de ca-
sado, nada mais sabia de práticas sociais de fim de semana.
Risadas explodiram, pegando-o de surpresa. A fala viera de
uma das mesas ao fundo, certamente. Não se virou para identificar.
Qualquer esbarrar de olhos, num dia como aquele, colocaria à luz
sua situação. Parecia mais que evidente que se tratava de um coroa
recém-separado.
Procurou por cardápios, ou algo semelhante. Parece que só
no balcão. Mas um inesperado garçom praticamente jogou-lhe um
sobre a mesa, ao jeito daqueles meninos que passam deixando pa-
cotinhos com amendoim. Abriu-o, percorrendo os olhos sobre o
que lhe parecia nada mais do que um emaranhado de letras, nem
chegando a formar palavras. Sua mente se fechava ao racional. Não
queria estar ali. E nem sozinho.
Poderia ter arriscado um convite a Heloísa; não propriamen-
te um jantar à luz de velas, pra lá de prematuro, mas um vinhozi-
nho. No inverno, sempre desarma, aproxima. Na semana seguinte,
quem sabe, uma fugida até a serra.
Mas talvez tudo fosse inútil. Como é que ela lhe falara?
Ah, que a história deles era uma história de amor, sim, mas uma
história de amor de mão única, alimentada apenas pelo desejo de
se sentir amada.
Precisava beber alguma coisa. O garçom, onde estava o gar-
çom, que parecia ter sumido de vez? Ah, parecia que um, enfim...
***
EDUALDO SELGA
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