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Apostila AJAP
Apostila AJAP
O curso é composto por três módulos. A divisão dos assuntos foi elaborada para facilitar o aprendizado
e os conhecimentos serão apresentados gradativamente, mantendo correlação lógica entre as aulas e os
módulos. A todo o instante, a proposta é buscar ligação entre os aspectos jurídicos e as experiências vivenciadas
pelo aluno no cotidiano policial, possibilitando o desenvolvimento dos objetivos gerais e específicos traçados.
Para que você tenha uma ideia do caminho a ser percorrido, observe os objetivos estabelecidos para o
curso, traçados de acordo com a percepção de que sua aprendizagem deve servir de base para sua atuação
profissional.
Objetivo do curso
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Estrutura do curso
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MÓDULO
ASPECTOS CONSTITUCIONAIS E NORMAS
Apresentação do módulo
Neste módulo, você estudará as principais normas constitucionais e os atos normativos internacionais
que cuidam das atividades de preservação da ordem pública e da proteção de pessoas e bens.
Objetivo do módulo
• Descrever o que é dever da sua instituição: identificar as normas constitucionais que tratam das
ações de segurança pública, seus órgãos e atribuições;
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• Identificar quais normas amparam suas atribuições: identificar as normas constitucionais, bem
como os princípios relacionados aos direitos e garantias fundamentais que delimitam a atuação dos
profissionais de segurança pública;
• Compreender a necessidade de sua atuação (estatal) como instrumento de promoção da
harmonia no seio da comunidade;
• Nomear as restrições legais aos direitos humanos fundamentais;
• Reconhecer as limitações constitucionais da sua atuação policial e as consequências dos desvios
desses limites na extensão da responsabilidade;
• Reconhecer o poder que o Estado dá a seus agentes para realizar abordagem; e,
• Conhecer as normas internacionais que cuidam das ações policiais, com seus efeitos e alcance.
Estrutura do Módulo
Como profissional, você sabe que a atividade policial integra as ações de segurança pública, e de acordo
com os ensinamentos do professor Lazzarini (1999, p. 52), constitui-se como um aspecto da ordem pública, ao
lado da tranquilidade e da salubridade pública. Tudo isso é concebido dentro de uma estrutura estatal para
garantir uma convivência harmoniosa entre as pessoas.
Quem de nós, profissionais de segurança pública, nunca disse “Estou aqui para garantir a ordem
pública!”, quando na verdade nos referimos à segurança pública.
Mas, no que a ordem pública difere de segurança pública? Não seriam a mesma coisa?
Nas palavras, de Moreira Neto (Apud LAZZARINI, 1999, P. 52) a segurança pública é resultado de um
conjunto de ações dos órgãos especializados do Estado, precedido por escolhas feitas pela sociedade e
reguladas por normas jurídicas (leis), tudo com a finalidade de garantir a ordem pública, sendo esta objeto
daquela. É neste ponto em que nós, profissionais de segurança pública, devemos amparar nossas ações.
Dentro dessa concepção, a preservação da ordem pública é feita pelos agentes públicos de segurança,
por meio da manutenção e quando quebrada, do reestabelecimento da ordem pública.
Importante!
O agente público de segurança trabalha preventivamente pela manutenção e repressivamente pelo
reestabelecimento da ordem pública e da paz na sociedade.
Essa afirmação de Moreira Neto (1999), se consolida com a leitura do Capítulo (III), “Da segurança
pública”, no Título V, da CF/88, que cuida “Da Defesa do Estado e das Instituições Democráticas”. Em especial, o
artigo 144 estabelece que o poder público, dentro de suas atribuições, tem a incumbência de promover a
preservação da ordem pública e garantir a incolumidade das pessoas e do patrimônio:
Dito isso, não custa reforçar a ideia de que as atividades desenvolvidas pelos órgãos policiais são
consubstanciadas em procedimentos específicos, aptos a alcançar suas finalidades.
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Importante!
As ações dos profissionais de segurança são construídas para garantir e resguardar uma situação de paz
social, um ambiente de normalidade almejada pela coletividade, protegendo os bens mais caros para a
sociedade, consoante às normas jurídicas vigentes, estabelecendo um grau adequado de coexistência
pacífica entre as pessoas.
Saiba mais...
Considerando o objetivo de estudo desse curso, destaca-se aqui o papel de cada órgão policial citado
no artigo acima, sendo de suma importância a leitura dos parágrafos do Art. 144. que versam sobre esta
questão.
1. Prevenção e Repressão
Para facilitar a compreensão do momento em que cada um dos órgãos policiais, citados anteriormente,
deve agir, para preservar a ordem pública, proteger pessoas e bens, faça o exercício a seguir:
Imagine o momento em que ocorre um evento da natureza (emergências, desastres, catástrofes, etc.)
ou uma conduta humana – ação/omissão (crime/delito, contravenção penal, etc.).
Diante de situações assim, o que se busca é assegurar um ambiente social livre de riscos e perigos,
através de ações de prevenção ou de repressão (imediata e mediata) realizadas pelos os órgãos policiais, seja
em razão dos acontecimentos da natureza, seja em função do comportamento do ser humano.
Importante!
Dentro dessa concepção, importa salientar que o Estado é o detentor do uso da força e por isso,
quando a ordem pública é quebrada, seus agentes públicos de segurança, protocolam ações, muitas
delas com o emprego de força por meio da repressão imediata, para o reestabelecimento da ordem.
As ações desenvolvidas pelos órgãos policiais buscam promover o controle social no sentido de evitar
(prevenir) a perturbação da ordem pública, a mácula da paz social, a violação dos bens jurídicos tutelados (vida,
integridade física, patrimônio, etc.).
Quando essa prevenção não funciona, surgem os procedimentos de resgate da ordem pública e da paz
social, mediante ações de repressão imediata, socorrendo a vítima, isolando o local do evento, prendendo o
autor da conduta, instaurando procedimentos (ex.: inquérito policial) para esclarecer os fatos e colher elementos
preliminares (autoria, materialidade e circunstâncias) para instruir eventual responsabilização (administrativa,
civil ou penal).
A repressão mediata consolida os atos complementares da colheita de informações, seja promovendo
a oitiva do autor dos fatos, vítima ou de testemunhas, que não foram identificados no momento dos eventos,
seja realizando diligências, perícias complementares, dentre outros, a fim de instruir a persecução penal
instaurada e/ou responsabilização nas esferas administrativa e civil.
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O quadro, a seguir, mostra a relação dos órgãos de segurança pública com as ações de prevenção e
repressão, de acordo com o art.144 da CF/88
Ações de Ações de
Órgão Ações de Prevenção Repressão Repressão
imediata mediata
Polícia Federal (§1º, incisos II e III) (§1º, incisos I e IV) (§1º, incisos I e IV)
Polícia Ferroviária
Federal e Polícia (§§ 2º e 3º) (§§ 2º e 3º) ___
Rodoviária Federal
Quadro 1 – Relação dos órgãos de segurança pública com o exercício das ações de prevenção e repressão – Art.
144 da CF/88
Fonte: Elaborado a partir das informações do conteudista
As polícias militares, ao lado dos corpos de bombeiros militares, devido ao regime jurídico peculiar,
exercem ainda a atividade de polícia judiciária militar, regulada pelo Código de Processo Penal Militar, com
natureza de repressão imediata e mediata.
Observe que as instituições de segurança pública recebem atribuições diversificadas, que abrangem
desde o controle social, regulando as relações interpessoais com o emprego da força, o socorro, assistência
às populações carentes, apoio às atividades comunitárias, reforço aos demais órgãos nas atividades de
saúde, fiscalização tributária, sanitária, dentre outras (COSTA, 2004, p. 35-36).
E como estas ações são desempenhadas? Como se define onde os órgãos de segurança pública
atuarão?
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No âmbito das ações de repressão imediata e mediata, evidenciam-se as atividades de polícia judiciária,
exercidas pelas polícias federal e civil, mediante colheita de informações sobre a autoria e materialidade de uma
infração penal (crimes/delitos e contravenções), bem como o cumprimento de determinações das autoridades
judiciárias (juiz de 1° grau, desembargador, ministros do STJ e do STF), como no mandado de prisão, na busca
e apreensão de bens, na realização de perícias, etc.
Seus atos, em regra, são documentados em inquéritos policiais, Autos de Prisão em Flagrante (APF) e
Termos Circunstanciados de Ocorrência (TCO) que, uma vez encaminhados para a justiça, tem por finalidade
subsidiar o exercício da ação penal por seus titulares (na ação penal pública, o Ministério Público, através da
denúncia; na ação penal privada, o ofendido/vítima ou representante legal, através da queixa-crime), ao apontar
indícios de autoria e materialidade. Portanto, tipicamente, a polícia judiciária exerce suas atribuições após a
ocorrência do fato-crime. De outro lado, é possível que eventualmente haja uma atuação preventiva, através da
orientação ao público em geral, ou em cumprimento a um mandado de prisão/busca e apreensão, no qual a
simples presença do profissional inibe a ocorrência de um crime.
Assim, vale ressaltar que também no exercício da atividade de polícia judiciária são realizadas
ações de busca pessoal, veicular ou domiciliar, pois constituem procedimentos aptos a instruir a colheita de
informações sobre a materialidade e autoria de uma infração penal (crime/delito, contravenção penal), quando
instaurado um inquérito policial ou ainda para cumprir uma determinação judicial, no sentido de subsidiar uma
instrução criminal, após a instauração de um processo penal.
1.2.2 Ações dos Corpos de bombeiros militares, guardas municipais, órgãos ou entidades
executivos de trânsito
Conforme você estudou anteriormente, as instituições de segurança pública recebem atribuições
diversificadas. No caso em apreço, cumpre destacar as ações de socorro, fiscalização de trânsito, segurança
viária, assistência às populações, reforço aos demais órgãos nas atividades de saúde, fiscalização tributária,
sanitária, dentre outras.
Os corpos de bombeiros militares exercem atividades de defesa civil, buscas, salvamento, socorros,
prevenção e combate ao incêndio. Tais ações são desenvolvidas em caráter preventivo, repressivo imediato e
repressivo mediato, sendo estas realizadas em casos de incêndio, através da perícia.
Às guardas municipais cabem a proteção de bens, serviços e instalações dos municípios, na forma da
lei (CF/88, ART. 144, § 8°). Em 08 de agosto de 2014 entrou em vigor a Lei n° 13.022.
Saiba Mais...
A referida lei tem caráter de norma geral, editada no âmbito do Congresso Nacional, podendo cada
município, através de suas respectivas câmaras de vereadores, editar normas específicas, a fim de criar guardas
municipais, observando a norma geral em destaque.
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Art. 144. ...
[...]
§ 10. A segurança viária, exercida para a preservação da ordem pública e da
incolumidade das pessoas e do seu patrimônio nas vias públicas: (Incluído pela
Emenda Constitucional nº 82, de 2014)
I - compreende a educação, engenharia e fiscalização de trânsito, além de outras
atividades previstas em lei, que assegurem ao cidadão o direito à mobilidade urbana
eficiente; e (Incluído pela Emenda Constitucional nº 82, de 2014)
II - compete, no âmbito dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, aos
respectivos órgãos ou entidades executivos e seus agentes de trânsito, estruturados
em Carreira, na forma da lei. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 82, de 2014)
Você já deve ter ouvido bastante sobre a violência policial. Então, aqui vai uma pergunta: a polícia é
violenta?
2.1 Autorização social para o exercício da violência legítima em benefício da paz social
Porto (apud OLIVEIRA; SANTOS E SILVA, 2001, p. 33) destaca a ideia de Max Weber (1968) no sentido
de que o Estado, por seus agentes policiais, detém o monopólio da violência legítima.
Violência: Do latim, violência remete a vis, que significa força, vigor, emprego de força física, recursos
do corpo para exercer a sua força vital, seja para dominar a natureza, outra pessoa ou grupo de pessoas
(FOUCAULT, 2004).
Para que você possa compreender o termo violência legítima, imagine as situações a seguir:
Situação 1 – Imagine...
...uma situação em que você tem que efetuar uma abordagem e mesmo depois de exaustiva negociação
o autor da conduta resiste fisicamente à sua legítima atuação, a ponto de querer ofender sua integridade física,
exigindo a prisão.
Você conseguiria cumprir sua função sem usar a força?
Assim, para que o Estado cumpra o papel de promover o bem comum, a violência (uso da força) legítima
surge como instrumento que tem o objetivo precípuo de estabelecer ou preservar uma sociedade pacificada, o
controle social. Na verdade, a conotação dada a essa violência (uso da força) é a de que ela se legitima na
autorização dada pelo corpo social, através das normas jurídicas (constituição, leis, etc.), tão somente “para
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impedir a livre circulação da violência” entre os indivíduos “e inibir sua existência de forma difusa e/ou
privatizada pelo conjunto da sociedade”.
[...] trata-se do domínio de procedimentos fundados no direito racional, guiados por
normas e regras impessoais, de caráter mais universalistas. Descumpridas essas
condições, abre-se espaço para se falar em violência legítima, como características
que podem indicar, além do mais, processos de desconcentração e de privatização
dessa violência (Porto, 2000).
É dentro dessas condições que se desenvolve a concretização da atuação policial, mediante o uso
diferenciado da força, como elemento essencial para assegurar a ordem pública, a paz social (BITTNER, 2003,
p. 128).
Situação 2 – Imagine...
Imagine a situação na qual seja irradiada pela Central de Operações uma denúncia de que três
indivíduos, em um veículo automotor, estejam praticando vários roubos em comércio de uma região, mediante
uso de uma arma de fogo. Em dado momento, uma viatura se depara com um veículo com as exatas
características transmitidas pela Central.
Quando alguma ação policial é considerada ilegítima, fora dos parâmetros do uso legítimo da força,
tem-se como incompatível com o estado democrático de direito. Mas, as perguntas que você pode querer fazer
são:
Quais seriam esses parâmetros? O que é legítimo e o que deixa de ser em uma atuação policial?
Como você estudou, a Constituição Federal estabelece as normas de organização e estruturação do
Estado, de seus poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) e de seus órgãos, para que possam alcançar a
finalidade pública e atender os interesses da coletividade. Também certamente teve a oportunidade de ver que
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a Carta Magna de 1988 traçou os direitos e garantias fundamentais com o intuito de limitar a atuação estatal
evitando as arbitrariedades de quem ocupa o poder.
Toda vez que você, policial, agente aplicador da lei, for realizar algum procedimento, precisará observar
que seu comportamento se vincula ao atendimento dos limites legais.
Empregando os ensinamentos do Professor Paulo Gonet Branco (2008), é bom dizer que os direitos e
garantias fundamentais constituem um núcleo, um conjunto de regras e princípios que visam proteger a
dignidade da pessoa humana.
De uma forma bem geral, pode-se dizer que:
Os direitos representam por si bens, isto é, algo que pertence ao patrimônio (material ou imaterial) de
alguém ou tem como objeto imediato um bem específico da pessoa (vida, honra, liberdade, integridade física,
etc.).
As garantias correspondem a instrumentos postos à disposição dos indivíduos para assegurar os
direitos e limitar os poderes do Estado (habeas corpus, habeas data, mandado de segurança, direito de petição).
Você conhece as regras diretamente ligadas à nossa atuação? Por que não posso mais “prender” uma
pessoa e levar à delegacia para averiguação, se a minha intuição diz que contra ela pode existir um mandado
de prisão expedido? O delegado precisa do mandado de prisão para recolhê-la? Onde exatamente está escrito
isto? Todos sabem que aquela pessoa é criminosa e cometeu ato delituoso grave em que o autor ainda não
havia sido preso. Posso abordá-la na rua e levá-la para casa?
Saiba Mais...
Vários são os dispositivos contidos no art. 5º da Constituição que comportam as definições estudadas
por você anteriormente, sendo de suma importância a leitura, entendimento e aplicação durante o exercício das
ações de segurança.
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Uma curiosidade se destaca em face do conteúdo do caput do art. 5º. Releia o trecho a seguir:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes:
Observe que, em um primeiro momento, ele dá a entender que os destinatários da proteção jurídica e
material são apenas os brasileiros e estrangeiros residentes no Brasil. Porém, é bom que fique claro que os
estrangeiros em trânsito no território nacional também são beneficiários dessa tutela estatal brasileira.
Esse entendimento decorre da interpretação dada aos artigos 1°, 3°e 4°da Constituição, de onde se destacam a
dignidade da pessoa humana, a construção de uma sociedade livre, justa e solidária, a promoção do bem
comum, sem preconceitos de origem raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação e, em
especial, a prevalência dos direitos humanos nas suas relações internacionais.
A existência de direitos e garantias fundamentais na Constituição tem sua razão de ser centrada na
magnitude (dimensão) dos valores mais caros da existência humana que, por isso, devem estar resguardados
em um documento jurídico supremo e com força vinculante máxima, tornando-se imune aos temperamentos
ocasionais de quem ocupa o centro do poder, bem como das instabilidades políticas, religiosas, econômicas e
sociais.
E para que essa concepção seja efetiva, os direitos fundamentais na Constituição vinculam a atuação
do Estado, de seus Poderes e de seus órgãos. Circunstância que impede a interpretação de que constituem
simples limitações dos poderes, passíveis de serem alterados ou suprimidos ao talante desses, sob o mero
argumento de vigorar o interesse do Poder Público na consecução de seus fins.
Em outras palavras, a atividade do poder público não pode deixar de respeitar os limites que lhe acenam
os direitos e garantias fundamentais. Em especial, destacam-se as atividades discricionárias da administração,
cuja margem de liberdade abre um leque de possibilidades na atuação do agente público, de acordo com os
juízos de oportunidade (agora ou depois) e conveniência (bom ou ruim), como ocorre na abordagem policial,
pautada eventualmente na fundada suspeita.
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Para responder a essas questões, é necessário verificar que um dos direitos fundamentais mais afetados
com a intervenção estatal, em especial, por meio da atuação dos órgãos de segurança pública, durante uma
busca pessoal, no exercício do dever-poder de polícia (vide Módulo 2), é o direito de ir, vir e permanecer.
Isso porque a CF/88 em seu art. 5º, inciso XV, foi clara ao dizer que: “é livre a locomoção no território
nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair
com seus bens”. Com efeito, não havendo flagrante delito nem outra restrição legal, é perfeitamente possível a
permanência das pessoas nas esquinas até tarde da noite.
Você tem ideia da magnitude, da importância e do relevo que contorna esse direito fundamental?
A resposta perece simples, mas na prática não o é. Perceba que com a liberdade a pessoa pode
desenvolver-se em várias dimensões (física, espiritual, educacional, religiosa, política, etc.). E um dos aspectos
dessa liberdade é o direito de locomoção (direito de ir, vir e permanecer), que permite ao cidadão a
possibilidade de movimentar-se por todos os espaços públicos e privados na busca de integrar-se com sua
sociedade, com sua família, com o poder público, seja para emprego, educação, saúde ou lazer, dentre outros
aspectos da vida em sociedade.
Vale lembrar que isso tudo faz parte da dignidade da pessoa humana, ponto de partida desse estudo,
que na Constituição de 88, ao Estado compete proteger e estimular o seu pleno exercício, porque para isso foi
concebido.
Dessa forma, considerando os aspectos fáticos, a abordagem policial deve ser realizada no tempo
estritamente necessário para que seja verificada eventual suspeita. Assim, caso não haja nada que vincule o
cidadão abordado a algum fato considerado crime, este deve ser liberado imediatamente, desde que não haja
outra providência a ser adotada (orientação geral, notificação de trânsito, etc.).
De outro lado, caso criança ou adolescente não estejam acompanhadas de seus pais, normalmente
após às 22h00 (depende da decisão judicial da vara da infância ou legislação local), devem ser
encaminhadas para as respectivas residências e apresentadas aos pais ou responsáveis e, na ausência
destes, ao Conselho Tutelar.
Com especial atenção ao exercício dos procedimentos de abordagem policial, em 13 de agosto de 2008
o STF aprovou no Plenário o enunciado de Súmula Vinculante nº 11, que discorre sobre o uso de algemas:
Outra questão que merece ser estudada é aquela que trata do acesso aos autos do inquérito policial,
conforme previsto na Súmula Vinculante nº 14, que diz respeito às ações de repressão imediata e mediata
no âmbito da polícia judiciária:
Como se vê, cumpre destacar que esse direito é dirigido apenas ao defensor, advogado inscrito na
Ordem dos Advogados do Brasil, devidamente constituído pelo representado.
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Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos,
é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do
patrimônio, através dos seguintes órgãos:
Até aqui já está mais do que claro o porquê a segurança pública ser dever do Estado. Mas, e a frase...
“Responsabilidade de todos”? O que isso significa dizer?
Importante!
O importante é que você compreenda a relatividade dos direitos e garantias fundamentais, como parte
dos deveres, encargos, obrigações e responsabilidades de cada indivíduo que compõe a sociedade,
reconhecendo e se submetendo à autoridade estatal, para que seja alcançado o bem comum.
Assim, você deve saber que os direitos e garantias fundamentais não tem feição absoluta, nem são
considerados intangíveis ou intocáveis a todo o momento.
Isso porque, pelo Brasil ser um Estado de Direito, todos os membros da sociedade se submetem à lei,
não podendo, dessa feita, se valer de direitos e garantias fundamentais para a prática de ilícitos, bem como se
esquivar de uma eventual responsabilidade pecuniária, civil ou penal. Do contrário, os princípios estatuídos nas
normas constitucionais estariam relevados à extinção material, uma verdadeira ruína, de anos de evolução da
história humana.
Refletindo...
Pense na hipótese em que todas as pessoas não abrissem mão de suas liberdades e viessem a praticar
condutas sem limites, como conduzir veículo aonde bem quisesse ou invadir a residência de qualquer pessoa
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sem o consentimento do morador. Uma reação em cadeia, geraria conflitos sem precedentes, culminando com
a extinção de cada pessoa.
Para o bem da humanidade, você sabe que não é assim que funciona. Até hoje o ser humano existe
porque o direito impõe limites na prática de condutas, nas relações sociais, enfim, no exercício de direitos. A
isso Moraes (2007) chama de princípio da relatividade ou convivência das liberdades públicas, traduzindo, em
suma, a ideia de que os direitos e garantias fundamentais consagrados na Constituição de 1988 não são
ilimitados, encontrando restrições nos demais direitos estatuídos nessa Lei Maior.
Daí porque o Estado assume a posição de regulador de condutas em sociedade, notadamente no
campo da segurança pública. Ética, valores morais, bom senso, direitos e deveres previstos na Constituição e
nas leis.
Importante!
Aqui importa destacar o dito popular: “o seu direito acaba onde começa o dos outros”. Vida, liberdade,
integridade física, patrimônio, honra, etc. Em outras palavras, cada pessoa ao ser detentora de direitos,
deve ter a consciência de que os exercerá observando a ética, valores morais, o bom senso, em especial,
os direitos dos outros. Em Direito Constitucional chama-se a isso de eficácia horizontal dos direitos
fundamentais.
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A nós, profissionais de segurança pública, cabe exatamente a parcela que diz que respeito à segurança
e, nisto, temos fundamento para nossa existência.
2.2.4 Conflito entre o cumprimento do dever e o respeito aos direitos fundamentais – princípio
da proporcionalidade (ponderação de valores)
Um debate que se levanta normalmente é o que diz respeito ao conflito durante o exercício da atividade
de controle social pela polícia e a observância dos direitos em um regime de domínio político do povo -
democracia (SKOLNICK,1994, p. 6). Ao pesquisar sobre o tema, Costa (2004, p. 37) lembra que Skolnick chamou
a isso de dilema entre a lei e a ordem.
Em outras palavras, trata-se de verdadeira “tensão entre emprego da força e respeito aos direitos
individuais e coletivos” (LEMGRUBER; MUSUMECI; CANO, 2003, p. 23). Ou seja, um conflito entre o dever que as
polícias têm de manter estáveis as relações e o comportamento dos indivíduos em sociedade, empregando o
seu poder coercitivo, e a observância ao conjunto de leis e códigos de conduta da instituição policial.
É nesse momento que entra a discussão sobre a atuação discricionária (juízo de oportunidade e
conveniência), no cumprimento do dever de preservar a ordem, proteger pessoas e bens, em especial
durante abordagem policial, com eventual uso da força. A questão é crucial.
Refletindo...
Pense na hipótese em que duas posições defendidas pelos direitos fundamentais entram em choque.
De um lado o direito de ir e vir e de outro a incolumidade pública. Nesse sentido, o Professor Paulo Gonet (2008)
indaga:
Pode uma prostituta invocar o direito de ir e vir para justificar pedido de salvo conduto que lhe assegure
fazer o trottoir* ?
*o caminhar que as prostitutas fazem quando ficam a espera do cliente
Tendo por base essa questão, o profissional de segurança pública, diante de eventual conflito de
direitos fundamentais, deve promover um juízo de valor, principalmente frente a uma fundada suspeita,
ou seja, uma ponderação de valores que se assenta sobre o princípio da proporcionalidade, que abrange três
critérios:
- A adequação exige que as medidas interventivas, adotadas pelo policial, sejam aptas a atingir os
objetivos pretendidos.
- A necessidade, também conhecida por exigibilidade, diz respeito à escolha, dentre os vários meios
existentes, do menos gravoso para o indivíduo sujeito à atuação estatal.
- A proporcionalidade em sentido estrito constitui um juízo definitivo da medida sobre o resultado
a ser alcançado, ponderando-se a intervenção e os objetivos perseguidos, sobre o fundamento do equilíbrio
entre um e outro. Essa análise deve ser formulada no caso concreto. É preciso verificar os fatos, suas variáveis.
Para facilitar a compreensão do que você está estudando, faça o exercício a seguir:
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Imagine uma situação em que um indivíduo subtrai a bolsa de uma mulher. A polícia é acionada e ao
chegar no local recebe informações de que o indivíduo poderia estar em um shopping center.
O que você faria? Fecharia todo o shopping e abordaria todas as pessoas?
Volte e reflita sobre os parâmetros da proporcionalidade. Agora busque aplicá-los a este caso.
Lembra-se daquela ocorrência acima irradiada pela Central de Operações e o veículo avistado pela
guarnição? Considerando o que foi apresentado até aqui, você já tem ideia de como responder aos
questionamentos? E aí, há fundamento para a abordagem?
Não restam dúvidas quanto ao dever de agir, a fim de cumprir o papel constitucional de dar segurança
à população. Dentro desse contexto, ao avaliar, os acontecimentos que exijam uma intervenção policial, com
todo seu rigor técnico, o desenvolvimento das ações, mesmo que alimentado pela discricionariedade, deve ser
feita uma ponderação, isto é, responder aos quesitos da necessidade, adequação e proporcionalidade. Agindo
assim, a legitimidade das atividades será alcançada, assegurando a todos os cidadãos um agir eficiente do
aparato da segurança pública, mostrando-se compatível com a dignidade da pessoa humana, com o devido
respeito aos direitos e garantias fundamentais.
Sobre a regulação da discricionariedade no âmbito dos órgãos de segurança pública, através da
ponderação, é importante destacar o que estabelece a lei que fala sobre o emprego dos instrumentos de menor
potencial ofensivo que no art. 2º estabelece (Lei nº 13.060, de 22 de dezembro de 2013):
Dentro da concepção que você estudou até aqui, cabe dizer que o Estado brasileiro é regido nas suas
relações internacionais, dentre outros:
• Pelos princípios da prevalência dos Direitos humanos;
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• defesa da paz;
• solução pacífica dos conflitos;
• repúdio ao terrorismo e ao racismo;
• cooperação entre os povos para o progresso da humanidade.
Assim, os direitos e garantias fundamentais expressos na Constituição não excluem outros decorrentes
do regime e dos princípios por ela adotados, ou contidos em tratados internacionais em que a República
Federativa do Brasil seja parte (CF/88, art. 5º, § 2º). Sendo possível, ainda, os tratados e convenções internacionais
sobre direitos humanos, aprovados no Congresso Nacional, assumirem o status de emendas
constitucionais, i.e., acima das demais leis, desde que observe os requisitos fixados no §3º, art. 5º, da CF/88.
Feita a pesquisa recomendada, você deve ter chegado à conclusão de que tais tratados, convenções,
dentre outros atos internacionais, devidamente aprovados passam a integrar o conjunto de normas do Brasil,
devendo, portanto, serem observados por todos, inclusive pelos profissionais de segurança pública durante o
exercício de suas atribuições.
Veja, a seguir, alguns desses principais documentos.
Convenção Americana de Direitos Humanos (CADH) - Pacto de São José da Costa Rica
A Convenção Americana de Direitos Humanos (CADH) é fruto de um acordo internacional firmado em
22 de novembro de 1969 durante a Conferência Especializada Interamericana de Direitos Humanos, entre os
países que compõem a Organização dos Estados Americanos (OEA), da qual o Brasil faz parte. Esse acordo foi
subscrito na cidade de San José da Costa Rica, razão pela qual também é conhecido por Pacto de São José da
Costa Rica.
Como fundamento do Sistema Interamericano de Proteção dos Direitos Humanos, a CADH entrou em
vigor em 18 de julho de 1978. Entretanto, somente em 09 de novembro de 1992 passou a integrar a ordem
jurídica brasileira, através do Decreto n° 678, após ter sido aprovada pelo Senado Federal em 26 de maio de
1992, através do Decreto-Legislativo n° 27. Com efeito, o Pacto de São José da Costa Rica vincula as ações dos
órgãos policiais no Brasil.
Ao realizar a leitura de seus 81 artigos, você pode verificar que o Pacto de São José da Costa Rica
contém cláusulas que reconhecem direitos fundamentais da pessoa humana, tais como o direito à vida, à
liberdade, à dignidade, à integridade pessoal e moral, à educação, dentre outros de mesma natureza. Destacam-
se as garantias judiciais, reconhecimento da liberdade de pensamento e expressão, proibição da servidão
humana, reconhecimento da liberdade de consciência e religião, bem como da liberdade de associação e de
proteção à família.
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Cabe salientar que, dentro do Sistema Interamericano de Proteção dos Direitos Humanos, diante de
eventual omissão ou abusos violadores aos Direitos Humanos, o Pacto de São José prevê que os Estados Partes
podem ser julgados e condenados perante a Corte Interamericana de Direitos Humanos. O Brasil foi condenado
nos seguintes casos:
Ximenes Lopes vs. Brasil, de 4 de julho de 2006;
Escher e outros vs. Brasil, de 6 de julho de 2009;
Garibaldi vs. Brasil, de 23 de setembro de 2009; e,
Gomes Lund e outros vs. Brasil, de 24 de novembro de 2010.
Diante disso, é importante deixar claro que toda e qualquer ação praticada por um profissional de
segurança pública, violadora dos direitos humanos, pode resultar na Condenação do Brasil, como ocorreu nos
casos acima elencados.
22
Saiba mais...
A SENASP, através da Rede Nacional de Ensino a Distância (EaD), dispõe em sua plataforma de um
curso que trata especificamente sobre a questão do uso da força. Vale a pena, matricule-se no próximo ciclo e
confira. Você voltará a estudar sobre este tema no Módulo 2.
Artigo 1.º Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem cumprir, a todo
o momento, o dever que a lei lhes impõe, servindo a comunidade e protegendo
todas as pessoas contra atos ilegais, em conformidade com o elevado grau de
responsabilidade que a sua profissão requer.
Artigo 2.º No cumprimento do seu dever, os funcionários responsáveis pela
aplicação da lei devem respeitar e proteger a dignidade humana, manter e apoiar os
direitos fundamentais de todas as pessoas.
Artigo 3.º Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei só podem empregar a
força quando tal se afigure estritamente necessário e na medida exigida para o
cumprimento do seu dever.
23
Artigo 4.º As informações de natureza confidencial em poder dos funcionários
responsáveis pela aplicação da lei devem ser mantidas em segredo, a não ser que o
cumprimento do dever ou as necessidades da justiça estritamente exijam outro
comportamento.
Artigo 5.º Nenhum funcionário responsável pela aplicação da lei pode infligir,
instigar ou tolerar qualquer ato de tortura ou qualquer outra pena ou tratamento
cruel, desumano ou degradante, nem invocar ordens superiores ou circunstanciais
excepcionais, tais como o estado de guerra ou uma ameaça à segurança nacional,
instabilidade política interna ou qualquer outra emergência pública como
justificação para torturas ou outras penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou
degradantes.
Artigo 6.º Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem assegurar a
proteção da saúde das pessoas à sua guarda e, em especial, devem tomar medidas
imediatas para assegurar a prestação de cuidados médicos sempre que tal seja
necessário.
Artigo 7.º Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei não devem cometer
qualquer ato de corrupção. Devem, igualmente, opor-se rigorosamente e combater
todos os atos desta índole.
Artigo 8.º Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem respeitar a lei
e o presente Código. Devem, também, na medida das suas possibilidades, evitar e
opor-se vigorosamente a quaisquer violações da lei ou do Código.
Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei que tiverem motivos para
acreditar que se produziu ou irá produzir uma violação deste Código, devem
comunicar o facto aos seus superiores e, se necessário, a outras autoridades com
poderes de controle ou de reparação competentes.
As Regras Mínimas para o Tratamento de Presos (RMTP) foram adotadas pelo Primeiro Congresso das
Nações Unidas sobre a Prevenção do Crime e o Tratamento dos Delinquentes, realizado em Genebra em 1955,
e aprovadas pelo Conselho Econômico e Social das Nações Unidas através das suas resoluções 663 C (XXIV), de
31 de Julho de 1957 e 2076 (LXII), de 13 de Maio de 1977, Resolução 663 C (XXIV) do Conselho Econômico e
Social.
Trata-se de ato internacional que discorre sobre os vários instrumentos relativos à detenção de pessoas,
delimitando a atuação dos agentes responsáveis pela segurança, a fim de garantir a tutela dos direitos humanos,
sem descuidar do papel de promover a ordem.
Finalizando...
Exercícios
1. De que modo os direitos e garantias fundamentais podem exercer influência em uma atuação
policial?
Polícia Federal
Polícia Civil
Polícia Militar
a. Não existe nenhuma súmula editada pelo STF sobre ações de segurança pública, na medida em
que os direitos e garantias fundamentais podem ser objeto de supressão em procedimentos policiais, a fim de
garantir a preservação da ordem social.
b. De acordo com o Supremo Tribunal Federal, o uso de algemas somente é lícito em casos de
resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso
ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal
do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo da
responsabilidade civil do Estado.
c. É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova
que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia
judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa.
d. A súmula editada pelo STF com efeito vinculante obriga aos demais órgãos do poder judiciário e
à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, a sua observância, sob pena
de anulação do ato administrativo ou a cassação da decisão judicial.
A Polícia frustrou um sequestro relâmpago e realizou flagrante de roubo no Setor Central. O fato
ocorreu ao meio dia de quarta-feira, próximo a uma Igreja. O Comandante da guarnição, responsável pela
atuação da Corporação, foi informado por populares que dois adultos subtraíram bens de uma senhora,
empregando de violência. Após empreender patrulhamento nas imediações no local de fuga, a polícia percebeu
que os agentes privaram esta pessoa de sua liberdade, mediante sequestro e cárcere privado. Os policiais
26
conseguiram fazer a interceptação dos autores da infração penal com a cessação do cárcere privado. O flagrante
foi registrado na delegacia de polícia.
a. Levando em consideração o fato que você leu e o que estudou sobre e Direitos Humanos, Direitos e
Garantias Fundamentais, marque “V” para as alternativas “VERDADEIRAS” e “F” para as alternativas “FALSAS”:
[ ] A atuação da guarnição recaiu sobre um dos direitos humanos, relativo à liberdade, direitos que
protegem o indivíduo em face das arbitrariedades do poder público.
[ ] A privação da liberdade deve observância ao devido processo legal. Nesse sentido, o fato deve ser
processado pela autoridade competente, assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos
a ela inerentes. A pena será cumprida em estabelecimento distinto, de acordo com a natureza do delito, a idade
e o sexo do apenado. Caso os agentes forem do sexo feminino, às presidiárias serão asseguradas condições
para que possam permanecer com seus filhos durante o período de amamentação.
[ ] Para assegurar a devida responsabilização e o resgate da ordem pública, a família do preso não
será informada sobre a prisão dos agentes nem do local onde eles se encontram, sob pena de prejudicar a
instrução do processo.
[ ] Os presos tem direito à identificação dos responsáveis por sua prisão, sendo-lhes asseguradas a
assistência da família e de advogado.
a. No caso em apreço, considerando que houve o ingresso dos acusados com a vítima no interior
do domicílio de um deles, durante o período noturno, a prisão efetivada pelos policiais militares somente será
considerada legítima se houver ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente para que
efetuam a prisão flagrante no interior da citada residência.
b. A ação regressiva de que trata o art. 37, § 6º, da CF/88, prescreve em 10 (dez) anos, a contar do
ato praticado pelo policial ou da decisão judicial que condena o Estado a ressarcir o cidadão, nos casos de
indenização por violência policial.
c. O Pacto de São José da Costa Rica não tem efeito nenhum sobre as ações de segurança pública.
d. A Lei nº 13.060, de 22/12/2014, que “disciplina o uso dos instrumentos de menor potencial
ofensivo pelos agentes de segurança pública, em todo o território nacional”, traz expressamente em seu corpo
a previsão de observância ao princípio da proporcionalidade, durante as ações de segurança pública.
27
Gabarito
1. Orientação de resposta: O Estado, através de seus órgãos, recebe poderes como verdadeiros
instrumentos para atingir suas finalidades, como o uso da força, para estabelecer o controle social. Tais poderes
delegados pelo povo não são absolutos, encontrando limitações nos direitos e garantias fundamentais. Então,
toda vez que você, profissional de segurança pública, agente aplicador da lei, for realizar algum procedimento,
precisará observar que seu comportamento se vincula ao atendimento desses limites.
2. Resposta Correta:
Polícia Federal X X X
Polícia Civil - X x
Polícia Militar X X -
28
MÓDULO
ATUAÇÃO POLICIAL: DA PREVENÇÃO ÀS AÇÕES
2
DE RESGATE DA PAZ SOCIAL E INSTRUÇÃO
CRIMINAL
Apresentação do módulo
Objetivo do módulo
• Identificar as principais normas administrativas, processuais e demais atos legais que tratam das
ações de preservação da ordem pública, incolumidade das pessoas e do patrimônio;
• Compreender o sentido e o alcance do ato administrativo e de seus elementos nas ações de
segurança pública;
• Compreender o sentido e o alcance do dever-poder de polícia e de seus atributos nas ações de
segurança pública;
• Apontar os fundamentos para a realização da atuação policial como fator de prevenção,
justificando a busca pessoal e veicular, independente da existência de uma infração penal em concreto;
• Aplicar os fundamentos objetivos da fundada suspeita, que justifiquem a realização de uma busca
pessoal;
• Identificar os elementos da busca veicular e domiciliar para fins de prevenção e repressão;
• Reconhecer quando há necessidade em abordar;
29
• Saber explicar o porquê da abordagem.
Estrutura do Módulo
Para iniciar seus estudos, neste módulo é oportuno retomar algumas perguntas formuladas no início
desse curso:
Está errado o policial interferir no trânsito? Ou deveria somente agir para prender bandido? O policial
pode abordar qualquer pessoa e quando quiser? Quem define quando o policial deve abordar? Segurança
pública é coisa de polícia e não caberia ao cidadão dar a sua opinião?
O que fundamenta as prerrogativas é o fato de que a supremacia do interesse público deve prevalecer
sobre os interesses do particular. Isso pode acontecer através da autoexecutoriedade, autotutela, poder de
30
expropriação, requisição de bens, ocupação temporária de bens, aplicação de sanções administrativas e, em
especial, imposição de medidas policial.
As sujeições constituem limites, como o de praticar atos desde que estejam previstos em lei
(legalidade), já que, em um estado democrático de direito a vontade do povo é expressa nesse instrumento,
respeitando ainda a dignidade da pessoa humana, bem como os direitos e garantias fundamentais, a fim de
evitar abusos ou arbitrariedades. Daí a ideia de interesse público. Nesse sentido, para que se verifique o
cumprimento dessa vontade, o ato deve ser transparente, deve ser submetido a uma prestação de contas e a
um controle, podendo ser revisto ou anulado, se não atingir o interesse público.
Ou seja...
A atuação policial tem que estar de acordo com essas regras para que seus agentes não cometam
abusos ou arbitrariedades e com isso a situação seja revertida contra eles, apontando responsabilidades destes
atos arbitrários. Nesse sentido, caso isso ocorra, o policial poderá responder criminalmente pela prática de abuso
de autoridade (Lei n° 4.898/1965), além ser submetido a eventual responsabilização na esfera disciplinar. Esse
ponto será tratado no Módulo 3, com maiores detalhes.
31
1.2 Elementos ou requisitos do ato administrativo
São elementos ou requisitos do ato administrativo:
Competência (Sujeito): trata-se da capacidade do agente público de praticar o ato, conforme definido
em legislação. Não havendo lei conferindo essa capacidade, o ato praticado é passível de nulidade. Nesse
sentido, destaca-se a tarefa para realizar busca pessoal durante as ações de segurança pública. Em outras
palavras, a lei confere aos agentes policiais essa atividade, não sendo admissível outro agente do Estado exercê-
la.
Forma: cuida-se da exteriorização da manifestação de vontade ou do comportamento. Em regra, é por
escrito, salvo quando a lei autorizar de outra forma (ex.: gestos do agente de trânsito, gestos do policial durante
uma intervenção).
Motivo: para que o ato seja aperfeiçoado exige-se a exposição/demonstração dos fundamentos de
fato (acontecimentos do dia-a-dia) e de direito (conforme previsto na ordem jurídica). Dentro da ideia de
controle, o cidadão precisa saber das razões em que se basearam o comportamento do agente público, a fim
de aferir o grau de cumprimento do interesse comum, como ocorre nas razões da realização de uma intervenção
policial, seja para abordar ou para prender. Pode ser vinculado (conforme determina a lei) ou discricionário*.
*sobre o tema, vide: “discricionariedade das ações de segurança pública”, neste módulo.
Objeto: trata-se do conteúdo do ato, ou seja, aquilo sobre o que o comportamento dispõe (ex.:
fiscalização, proteção de pessoas e bens).
Finalidade: é o bem jurídico objetivado pelo comportamento do agente público (ex.: proteção de um
bem da vida).
32
ação judicial, etc.). Caso contrário, se submeterá à responsabilização penal (ex.: desacato, resistência,
desobediência), como você estudará Módulo 3.
Tipicidade: O comportamento administrativo deve ser descrito na ordem jurídica, isto é, as ações dos
profissionais de segurança são veiculadas na legislação para fins de aplicação (ex.: fiscalização de ordem policial,
busca veicular, busca domiciliar, realização de prisão, etc.).
Saiba Mais...
Os temas acima foram apresentados de forma resumida. Caso tenha alguma dúvida, você pode
aprofundar os conhecimentos com uma doutrina de Direito Administrativo, pois o assunto é vasto e não se
esgota com esta rápida abordagem.
Na aula anterior você estudou que o poder público, para cumprir a tarefa de promover o bem
coletivo, pratica atos respaldado em prerrogativas e é submetido a sujeições, como forma de evitar desvios
ao interesse público. Dentro desse contexto, você também teve a oportunidade de estudar
sobre o ato administrativo, com seus elementos e atributos.
Ao dar mais um passo no processo de construção dos fundamentos jurídicos da atuação policial,
nesta aula você estudará o dever-poder de polícia e seus atributos (características).
33
Sobre o tema, Carvalho Filho (2007, p. 37) leciona que:
Assim, dentro das cláusulas do contrato social, o dever-poder de polícia corresponde à permissão
social dada à administração pública para restringir o exercício de direitos individuais em benefício de
toda a sociedade. Empregado com responsabilidade, trata-se de verdadeiro instrumento posto à disposição do
poder público para disciplinar o exercício desses direitos e liberdades ou ainda de contê-los, diante de eventuais
excessos ou da necessidade de se disciplinar determinadas relações (ex.: interdição de via pública para promoção
das ações de segurança). Lembre-se que normalmente esse dever-poder estabelece condições, ou impõe
restrições e limitações.
Dentro desse contexto, é muito comum os profissionais de segurança, durante a realização de suas
atribuições exercer o dever-poder de polícia para realizar detenções, seja porque ocorreu um flagrante delito,
seja porque a justiça expediu um mandado de prisão decorrente de uma condenação criminal.
Aí você pergunta, onde encontro esse dever-poder? Em qual lei? Em qual norma ou regulamento? Ou
não precisa estar escrito? Estaria implícito?
Vale ressaltar que você está estudando aqui o conceito desse instrumento de maneira ampla. Assim,
para conferir clareza, precisão e ordem lógica, a matéria deve ser tratada de acordo com a atribuição de cada
órgão policial. Com efeito, normalmente esse dever-poder vem descrito no ordenamento jurídico, como nos
Códigos (de Trânsito, Penal, Processo Penal), legislação ambiental, de direito administrativo, ou ainda nas leis
que dispõem sobre a organização de cada instituição.
A título de exemplo, no exercício da atividade de policiamento ostensivo, essa previsão genérica do
dever-poder de polícia é estabelecida no Decreto-Lei nº 667, de 02 de julho de 1969:
34
b) atuar de maneira preventiva, como força de dissuasão, em locais ou áreas
específicas, onde se presuma ser possível a perturbação da ordem; (Redação dada
pelo Del nº 2010, de 12.1.1983)
c) atuar de maneira repressiva, em caso de perturbação da ordem, precedendo o
eventual emprego das Forças Armadas; (Redação dada pelo Del nº 2010, de
12.1.1983)
d) atender à convocação, inclusive mobilização, do Governo Federal em caso de
guerra externa ou para prevenir ou reprimir grave perturbação da ordem ou ameaça
de sua irrupção, subordinando-se à Força Terrestre para emprego em suas
atribuições específicas de polícia militar e como participante da Defesa Interna e da
Defesa Territorial; (Redação dada pelo Del nº 2010, de 12.1.1983)
[...]
No âmbito da polícia judiciária, destaca-se o Decreto Federal nº 73.332, de 19/12/1973, que “define a
estrutura do Departamento de Polícia Federal”:
35
VI - selecionar, formar, treinar, especializar e aperfeiçoar o seu pessoal, mediante
orientação técnica do Órgão Central do Sistema de Pessoal Civil da Administração
Federal;
VII - proceder a aquisição de material de seu exclusivo interesse;
VIII - prestar assistência técnica e científica, de natureza policial, aos Estados, Distrito
Federal e Territórios, quando solicitada;
IX - proceder a investigação de qualquer outra natureza, quando determinada pelo
Ministro da Justiça;
X - integrar os Sistemas Nacional de Informações e de Planejamento Federal.
Existem normas que disciplinam questões específicas envolvendo a tranquilidade pública, segurança,
ordem, costumes, exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do poder
público, ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos, dentre outros.
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De olho na realidade...
Realize uma pesquisa no conjunto de leis de sua cidade ou Estado a fim de identificar aquelas que
dispõem sobre o exercício do dever-poder de polícia. Como sugestão, grave todas essas normas em uma pasta
de seu computador para estudo e consulta.
Importante!
É através do dever-poder de polícia que a lei confere a você, profissional de segurança pública,
mecanismos para disciplinar a conduta das pessoas em sociedade. É dentro desse contexto que se
fundamenta a atuação policial, instrumento que lhe permite alcançar um grau de ordem pública, de
paz social, que se exige no cumprimento de seu mister (ocupação profissional, trabalho ou ofício).
37
• conveniência - elemento objeto: respeita as regras, apropriado, atende as expectativas, traz benefícios
(GASPARINI, 2007, p. 893).
Como se vê, discricionariedade traduz-se na liberdade de ação dentro dos limites legais para se
concretizar o interesse público, fundada num juízo de oportunidade e conveniência. Nesse sentido, Gasparini
(2007, p. 893) aduz que:
38
Inspirada nesse ato internacional, a Portaria Interministerial nº 4.226, de 31 de dezembro de 2010,
ao dispor sobre o uso diferenciado da força no Brasil, estabelece o emprego de armas e equipamentos de menor
potencial ofensivo.
Ao lado disso, põem-se em destaque os seguintes dispositivos da Lei nº 13.060/2014, também
estudada no Módulo 1:
Importante!
“Discricionariedade não se confunde com arbitrariedade. Discricionariedade é liberdade de agir dentro
dos limites legais; arbitrariedade é ação fora ou excedente da lei, com abuso ou desvio de poder”. O
ato arbitrário é sempre ilegítimo e inválido, portanto nulo, passível de responsabilização do agente
público (MEIRELLES, 2011, p. 121). Vale destacar que, perante a arbitrariedade, o profissional de
segurança está passível de ser responsabilizado, conforme já aventado anteriormente, e conforme você
estudará no Módulo 3 (ex.: abuso de autoridade, tortura, improbidade administrativa etc.).
39
submete ao poder do Estado, em benefício do bem comum, através da imposição coativa das medidas adotadas
pelos órgãos estatais.
Em outras palavras, determinadas ações do poder público possuem caráter impositivo, de observância
obrigatória pelos destinatários. É dizer, a coercibilidade se opera com o constrangimento (legal) no sentido de
se obrigar alguém a se submeter a uma determinação de ordem policial (legal, clara e objetiva), sob pena do
uso (legítimo) da força e demais medidas cabíveis (vide Módulo 3). Com efeito, todo o ato de polícia é dotado
de imperatividade, obrigatório para seu destinatário, admitindo até o emprego da força (legítima) a fim de se
obter o seu cumprimento, em especial, quando resistido pelas pessoas.
Valendo-nos ainda de seus ensinamentos (MEIRELLES, 2011, p. 122), “Não há ato de polícia facultativo
para o particular, pois todos eles admitem a coerção estatal para torná-los efetivos, e essa coerção também
independe de autorização judicial”. Assim, é o próprio policial, representante do Estado, que determina e faz
executar as medidas necessárias para se preservar a ordem e a paz social.
Uma correlação interessante é aquela na qual considera que a coercibilidade é indissociável da
autoexecutoriedade. É dizer, o ato de polícia só é autoexecutório porque é dotado de força coercitiva. É a
necessidade de se ver as medidas adotadas pela administração por meio dos meios de coerção. Assim, sem
coerção não há como se efetivar uma ação policial para proteger pessoas e bens.
Diante disso tudo, Moreira Neto (1987, p.11) arremata a abordagem a respeito do dever-poder de
polícia, dizendo que a discricionariedade, a executoriedade e a coercibilidade constituem o tripé do direito
administrativo da segurança pública.
Nesta aula você estudará a atuação policial por meio da abordagem, seja para as ações de prevenção,
mantendo um ambiente livre de riscos e perigos à vida e aos bens (sensação de segurança), ou para ações de
repressão (imediata e mediata), nos casos de resgate da paz social e de instrução de um processo criminal.
40
Talvez você não tenha notado, mas normalmente a abordagem pode ser empregada para fins
educativos ou instrutivos, na medida em que o agente busca promover a orientação do público a respeito de
determinados aspectos de comportamento, de acordo com as regras de ordem pública, seja no trânsito, em vias
públicas, parques, praças, meio ambiente, dentre outros.
Essa atividade tem natureza estritamente preventiva. Por sua vez, Araújo (2008, p. 17) destaca que:
As pessoas podem aparecer de diferentes maneiras, ora como vítimas, ora como
agressores, ora como espectadores diretos ou indiretos, outras vezes como parceiros
ou adversários, às vezes necessitando de auxílio e proteção, mas todos com o
objetivo de ter seus direitos resguardados pelos agentes de aplicação da lei.
As ações de polícia são desenvolvidas mediante relações interpessoais, isto é, por meio do contato com
a sociedade, em diversas situações. Dentro desse contexto, observe as situações a seguir.
Situação 01: Profissionais de segurança pública planejaram ações específicas para um evento
esportivo, ocorrido nos últimos 10 anos. Nesse período, houve registros de roubo, furto, lesão corporal,
tentativa de homicídio e homicídio consumado. Umas das estratégias adotadas na edição atual foi a de
intensificar as atividades de busca em pessoas e veículos, em barreiras pré-determinadas, observada a mancha
criminal. Após a realização do evento não houve registro de homicídio, nem de tentativa de homicídio. Houve
sensível redução nos números de roubo, furto e lesão corporal.
Situação 02: Uma viatura policial recebeu informações detalhadas, via Central de Operações, sobre
um grupo de três pessoas armadas com pistolas, efetuando assaltado em uma padaria no centro da cidade. Ao
chegar no local, a equipe obteve a confirmação da ocorrência com o proprietário do estabelecimento, o qual
forneceu novas informações sobre os autores do fato, que se evadiram. Durante o patrulhamento, os policiais
identificaram 03 (três) pessoas, cujas descrições e comportamento indicaram uma semelhança de
características com os autores do roubo à padaria, conforme informações transmitidas pela Central de
Operações e pela vítima.
Diante dessas distintas situações, não restam dúvidas de que você, como agente policial, deve adotar
uma providência, que normalmente passa pela abordagem policial. Perceba que na primeira hipótese não há a
notícia de que esteja ocorrendo um crime, diferente do que acontece na segunda hipótese.
41
Vale dizer, a resposta adequada a estas indagações revela o preparo do profissional de segurança,
principalmente quando instado a expor os motivos de sua atuação perante os órgãos de controle interno
(Corregedoria) e externo (Ministério Público, Poder Judiciário, Comissão de Direitos Humanos etc.).
Importante!
O policial, representante do Estado, protetor dos bens mais caros para a sociedade, deve ter o domínio
sobre o que acontece no mundo dos fatos, a realidade das ruas. O policial deve empregar a técnica
adequada durante sua atuação (necessária e razoável) e observar os fundamentos da ordem jurídica.
Com esse ciclo, o seu comportamento será considerado legítimo.
Mas... O que seria a tão falada abordagem policial? Ela somente existe em casos de crimes e de fundada
suspeita?
Como todo bom pesquisador, é sempre conveniente buscar o significado das palavras em um
dicionário.
Abordar é o ato de aproximar, alcançar, chegar, estar encostado, achegar-se em uma pessoa, com o
propósito de lhe sondar a opinião ou tratar de qualquer assunto, começar a tratar de alguma coisa.
Olhando para o conceito técnico, a abordagem policial constitui o procedimento de aproximação a
uma pessoa, ou a um grupo de pessoas, ou ainda a um veículo ou residência, com o fim de confirmar um fato,
a evidência de uma infração penal, bem como investigar, orientar, advertir, prender, assistir.
42
[...] abordagem representa um encontro entre a polícia e o público e os
procedimentos adotados pelos policiais variam de acordo com as circunstâncias e
com a avaliação feita pelo policial sobre a pessoa com quem interage, podendo estar
relacionada ao crime ou não.
Essa é uma ação policial proativa, que ocorre durante as atividades de policiamento,
cujos procedimentos preveem a interceptação de pessoas e veículos na via pública
e a realização de busca pessoal e revista veicular, com o objetivo de localizar algum
objeto ilícito, como drogas e armas de fogo. A decisão de agir é exclusiva do policial
e é respaldada por lei.
Nesse contexto, cumpre destacar que a realização dessa atividade deve adotar critérios para seleção de
pessoas, veículos e residências, resguardados no dever-poder de polícia, incluindo aí “a possibilidade de escolha
pela omissão, ou seja, deixar de adotar algum procedimento, realizá-lo de forma parcial ou adiar a execução,
conforme eventuais conveniências” (GOLDSTEIM, 2003, p. 107).
Como profissional de segurança pública você já sabe que a abordagem adequada segue uma atuação
técnica e tática, de acordo com os procedimentos descritos em manuais, instruções normativas, procedimentos
operacionais padrão, resoluções, dentre outros. Os critérios de atuação técnica da abordagem policial são
desenvolvidos nas corporações, observando as normas de atribuição de cada uma delas e de acordo com cada
situação fática.
Quem nunca ouviu os princípios da ABORDAGEM: segurança, surpresa, rapidez, ação vigorosa e
unidade de comando?
Dentro desse contexto, ainda destacam-se as fases da abordagem:
• Motivação;
• Planejamento mental;
• Plano de ação;
• Execução; e
• Desfecho da abordagem.
43
Mas, considerando a primazia da liberdade de locomoção em um regime democrático, como o adotado
pelo Brasil (CF/88, art. 5º) é preciso haver norma legal que estabeleça de forma específica essa possibilidade. E,
nesse caso, até em função do histórico de violência, o Estatuto do Torcedor, veiculado pela Lei n° 10.671, de 15
de maio de 2013, prevê o seguinte:
Eis, então, o fundamento legal que autoriza a busca pessoal, sem que haja a notícia de uma infração e
uma fundada suspeita.
Ao analisar a expressão fundada suspeita contida nos artigos citados, Nucci (2005, p. 493) ensina:
Suspeita é uma desconfiança ou suposição, algo intuitivo e frágil, por natureza, razão
pela qual a norma exige fundada suspeita, que é mais concreto e seguro. [...] sendo
crucial destacar que a autoridade encarregada da investigação ou seus agentes
podem – e devem – revistar pessoas em busca de armas, instrumentos do crime,
objetos necessários à prova do fato delituoso, elementos de convicção, entre outros,
agindo escrupulosa e fundamentadamente.
Interessante observar que esses dispositivos fazem parte no CPP do Capítulo XI, que disciplina a busca
e a apreensão. Por sua vez, esse Capítulo está inserido no Título VII – Da Prova, instrumento processual
empregado para convencer a autoridade judiciária sobre a existência de um crime, a fim de que ele possa aplicar
a medida penal adequada.
Entretanto, a busca, como instrumento processual, também é empregada em atos fora da instrução
criminal (ato processual praticado em juízo), tendo em vista o sentido e o alcance que decorre dos artigos
anteriormente citados, seja para as ações de prevenção, seja para os procedimentos de repressão imediata e em
especial para os de repressão mediata, todos estudados no Módulo 1. Como se vê, o CPP não fala em
abordagem, mas em busca domiciliar ou pessoal, a qual será realizada independentemente de mandado judicial.
Do ponto de vista legal ainda, Júlio César Rodrigues de Araújo (2008, p. 18) lembra que a abordagem
também se vale do que está contido no art. 239 do CPP, que trata dos indícios: “Considera-se indício a
circunstância conhecida e provada, que, tendo relação com o fato, autorize, por indução, concluir-se a existência
45
de outra ou outras circunstâncias”. Ou seja, se em um patrulhamento o profissional de segurança se depara com
uma situação que induz um ilícito penal, estará ele autorizado a promover a intervenção aqui estudada.
Contudo, várias são as críticas sobre a formação da fundada suspeita. Quem nunca ouviu a famosa
pergunta sobre o que seria a fundada suspeita. Aqui reside grande parte da controvérsia sobre o emprego da
discricionariedade do policial. Júlio César (2008, p. 19) cita a ideia formulada por Ramos:
Embora haja essa discussão, é bom que se diga que o problema não reside no suposto grau de
discricionariedade ou na ausência de definições sobre o que seria a expressão “fundada suspeita”. Mas, na
maioria das vezes, o problema encontra-se na correta aplicação das normas aqui discorridas, ou a dificuldade
de se interpretar os fatos e o uso da técnica adequada ao caso concreto.
Conforme já demonstrado, a vida em sociedade é dinâmica, e disciplinar toda essa complexa malha
de interação entre os indivíduos em uma norma legal seria inviável e no caso da abordagem, “torna-se
impossível e impróprio enumerar todas as possibilidades autorizadoras de uma busca” (NUCCI, 2005, p. 493),
razão pela qual o legislador prevê determinadas cláusulas gerais que devem ser complementadas por normas e
atos regulamentares*, destinadas a detalhar as ações a serem desenvolvidas no dia-a-dia pelo agente público,
observando aí os critérios de proporcionalidade e atingimento do interesse público.
*lembra-se do ato administrativo que complementa a lei, conforme estudado nesse Módulo?
Assim, para que seja assegurada uma convivência harmoniosa, um ambiente livre de riscos e perigos,
o legislador conferiu aos policiais, independente de autorização judicial, a possibilidade de se realizar
abordagens em pessoas, veículos e domicílios, bastando indício associado à fundada suspeita de que a
pessoa esteja portando um objeto que esteja vinculado a uma infração penal. Daí surgem os manuais, os
procedimentos operacionais, instruções, resoluções, que buscam detalhar e definir os critérios de atuação do
profissional, isto é, complementando a cláusula geral da lei sobre indícios e fundada suspeita.
Nesse sentido, a Polícia Militar do Estado de São Paulo estabeleceu os seguintes critérios para orientar
a atuação de seus integrantes (PINC, 2006, p. 33):
46
Atitude(s) suspeita(s): todo comportamento anormal ou incompatível com o horário
e o ambiente considerados, praticado por pessoa(s), com a finalidade de encobrir
ação ou intenção de prática delituosa. Alguns exemplos: a. Pessoa que desvia o olhar
ou o seu itinerário, bruscamente quando reconhece ou avista um policial; b.
condutor ou ocupantes de um veículo que olha(m) firmemente para frente na
condição de rigidez, evitando olhar para os lados, para o policial ou para a viatura,
que naturalmente chamam a atenção do público em geral;
c. pessoa(s) que, ao ver(em) ou reconhecer(em) um policial ou uma viatura, iniciam
um processo de fuga, como correr, desviar caminho abruptamente etc.; d. pessoa(s)
parada(s) defronte a estabelecimentos comerciais, bancários, escolas, filas etc., por
tempo demasiado e sem motivo aparente; e. pessoa que mantém seu veículo parado
e em funcionamento defronte a estabelecimentos bancários, demonstrando
agitação, nervosismo, ansiedade etc.; f. veículo excessivamente lotado, cujos
ocupantes demonstram temeridade em seu comportamento; g. táxi ocupado por
passageiro, contudo, apresentando luminoso aceso; h. uso de vestes incompatíveis
com o clima, possibilitando ocultar porte ilegal de armas ou objetos ilegais.”
Assim, é de vital importância que você tenha fácil acesso ao manual de sua corporação. Faça uma detida
leitura. Se você achar interessante, participe e contribua com seu aperfeiçoamento. Vale ressaltar que, anos de
atuação na atividade operacional, acrescentado do contato com atos de controle interno e externo, bem
como das atividades de ensino e da constante pesquisa acadêmica, conferem uma carga de experiência aos
profissionais de segurança pública, permitindo-lhes criar habilidades suficientes para identificar irregularidades
num simples olhar sobre o comportamento de uma pessoa, veículo ou ambiente. Normalmente chamam a isso
de tirocínio policial. Com efeito, essa capacidade constitui elemento de grande importância na área de
segurança pública, em especial quanto à atualização das técnicas e critérios de abordagem.
Entretanto, a experiência do policial não pode servir de único elemento que justifique uma abordagem.
Na atuação diária, é necessária a identificação de dados concretos sobre a existência de um ilícito, de um crime,
conforme se verifica na doutrina pátria:
Suspeita é uma desconfiança ou suposição, algo intuitivo e frágil, por natureza, razão
pela qual a norma exige fundada suspeita, que é mais concreto e seguro. Assim,
quando um policial desconfiar de alguém, não poderá valer-se, unicamente, de sua
experiência ou pressentimento, necessitando, ainda, de algo mais palpável, como a
denúncia feita por terceiro de que a pessoa porta o instrumento usado para o
cometimento do delito, bem como pode ele mesmo visualizar uma saliência sob a
blusa do sujeito, dando nítida impressão de se tratar de um revólver (NUCCI, 2005,
p. 493).
Pode ser realizada por qualquer PM com ou sem o respectivo mandado. Isto não
significa que seja lícito ao PM revistar indiscriminadamente todo cidadão, o que
caracteriza uma atitude despropositada, além de ilegal, considerando que cada
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cidadão tem o direito de ir e vir sem ser molestado. […] Postulamos que a fundada
suspeita não pode encontrar morada apenas na presunção, mas exige algo além,
como um comportamento suspeito (acelerar o veículo ao avistar o policial militar
em serviço, desviar o olhar, executar manobra de modo a não passar por bloqueio
etc.). (ASSIS, 2006, p. 50-51)
PROCESSUAL PENAL. BUSCA PESSOAL. ARTS. 240, § 2º, E 244, CPP. AUSÊNCIA DE FUNDADA
SUSPEITA. NECESSIDADE DE DEMONSTRAÇÃO DE CRITÉRIO OBJETIVO JUSTIFICADOR DO ATO. PRISÃO
EM FLAGRANTE DECORRENTE DA BUSCA PESSOAL. ILEGALIDADE. ARBITRARIEDADE. DIREITOS E GARANTIAS
INDIVIDUAIS DESRESPEITADOS. 1. “Fundada suspeita” é requisito essencial e indispensável para a realização da
busca pessoal, consistente na revista do indivíduo (Guilherme de Souza Nucci). 2. A busca pessoal sem mandado
deve assentar-se em critério objetivo que a justifique.
Do contrário, dar-se-á azo à arbitrariedade e ao desrespeito aos direitos e garantias individuais. 3. A
suspeita não pode basear-se em parâmetros unicamente subjetivos, discricionários do policial, exigindo, ao
revés, elementos concretos que indiquem a necessidade da revista, mormente quando notório o
constrangimento dela decorrente (STF – HC 81.305-4/GO, Rel. Ministro Ilmar Galvão). 4. Recurso em sentido
estrito não provido. (TRF 1. 3ª Turma. RCCR 200733000111970, Rel.: Des. Federal Tourinho Neto, 04/07/2008).
(sem grifos no original)
Saiba Mais...
Antes de prosseguir, recomenda-se aprofundar esse estudo com a leitura do artigo “aspectos jurídicos
da busca pessoal”
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Disponível em: http://jus.com.br/artigos/9491/aspectos-juridicos-da-busca-pessoal
Saiba Mais...
Leia o relevante artigo “A busca pessoal e as suas classificações”, que nos traz uma discussão sobre
o tema. Faça a leitura e reflita a respeito do que é apresentado.
Munido dessas informações, associando-as ao conhecimento técnico e ao constante treinamento,
você, profissional de segurança pública, estará apto a desenvolver suas atribuições nas ruas com qualidade e
eficiência, destacando-se positivamente perante a comunidade em que servir, proporcionando-lhes um serviço
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digno, conforme preceituado no contrato social citado no Módulo 1, a Constituição da República Federativa do
Brasil.
Em uma concepção de dignidade da pessoa humana, o termo casa é muito abrangente. O legislador
teve a intenção de tutelar um ambiente espacial privado, um compartimento não aberto ao público, no qual
determinada pessoa tem a garantia de desenvolver os seus direitos essenciais, buscar segurança, descanso, um
mínimo existencial, manter uma relação familiar. Aqui também cabe a noção de que a pessoa pode exercer sua
profissão ou atividade.
Essa proteção é realizada pelo Código Penal, que considera crime a invasão de domicílio. Aqui é
oportuno verificar o que é considerado casa:
Art. 150 Entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra a vontade expressa ou tácita
de quem de direito, em casa alheia ou em suas dependências:
[...]
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§ 4º A expressão "casa" compreende:
I - Qualquer compartimento habitado;
II – Aposento ocupado de habitação coletiva; e
III - Compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou
atividade
§ 5º - Não se compreendem na expressão "casa":
I – Hospedaria, estalagem ou qualquer outra habitação coletiva, enquanto aberta,
salvo a restrição do nº II do parágrafo anterior; e
II – Taverna, casa de jogo e outras do mesmo gênero.
No caso de um hotel, os quartos são utilizados como moradia, logo, também merecem a proteção
anteriormente citada. De outro lado, os corredores e o saguão não são abrangidos por essa tutela. O domicílio
que se exige aqui não é o fixo, que exige ânimo de residência. Nesse sentido, destaca-se o seguinte julgado:
A busca domiciliar realizada durante o dia, com determinação judicial, exige o cumprimento de
determinados protocolos, previstos na legislação, como o de se ler o conteúdo do mandado, sob pena de
nulidade dos atos. Havendo resistência e quando a diligência importar risco aos agentes policiais, o uso da força
será empregado para que a medida judicial seja cumprida. Nesses casos, o policial apresentará e lerá o mandado,
logo que for possível.
A lei autoriza o arrombamento da porta em caso de desobediência. Na hipótese de ausência dos
moradores, caberá a você acionar um dos vizinhos para acompanhar a revista do domicílio. Cabe alertar que, ao
concluir essa medida, você deverá fechar e lacrar o imóvel.
É interessante que sempre haja duas testemunhas não policiais (maiores e capaz) para que
acompanhem a diligência, agindo assim estará dando maior lisura ao seu ato.
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Outro ponto que merece atenção, principalmente para evitar constrangimentos, é o procedimento de
solicitar que o morador e/ou testemunha acompanhe a diligência em cada cômodo da residência, juntamente
com os policiais.
Ao concluir as buscas, o policial que cumprir o mandado fará relatório contendo todos os detalhes,
registrando, inclusive, algo de ilícito que foi encontrado, precisando em qual lugar do imóvel estava. O relatório
tem que ser assinado pelo agente, pelo morador e pelas testemunhas.
Importante!
Recomenda-se que seja mencionado no relatório a preservação de bens e da residência submetida à
busca, e, se houver dano, descrever o motivo, bem como se foi necessário o uso da força ou outra
medida adotada. Por fim, o relatório será encaminhado à autoridade competente que determinou o
procedimento.
Mas... Seria extensão do termo casa? E o carro? Seria ele acobertado pela inviolabilidade
constitucional?
Assim, vale ressaltar que é lícita a abordagem em veículos, desde que preenchidos os requisitos para
essa atividade, conforme estudado acima, ainda que o condutor não permita.
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clientes do advogado averiguado, bem como dos demais instrumentos de trabalho
que contenham informações sobre clientes. (Incluído pela Lei nº 11.767, de 2008)
§ 7o A ressalva constante do § 6o deste artigo não se estende a clientes do advogado
averiguado que estejam sendo formalmente investigados como seus partícipes ou
coautores pela prática do mesmo crime que deu causa à quebra da
inviolabilidade. (Incluído pela Lei nº 11.767, de 2008)
Com efeito, fora do exercício de sua profissão o advogado se submeterá às regras gerais sobre a
atuação policial, conforme apresentado nos Módulos 1, 2 e 3.
Também é de suma importância identificar e conhecer sobre os direitos, garantias e prerrogativas dos
membros do ministério público (art. 18 da Lei Complementar n° 75/1993; arts. 40 e 41 da Lei n° 8.625/1993),
magistrados (art. 33 da Lei Complementar n° 35/1993), parlamentares (CF/88, art. 53; §1° do art. 27; inciso VIII
do art. 29), diplomatas (arts. 27, 29 a 41 da Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas, promulgada pelo
Decreto n° 56.435/1965) e cônsules (arts. 34-36; 41 a 45 da Convenção de Viena sobre Relações Consulares,
promulgada pelo Decreto n° 60.078/1967).
Nesse contexto, considerando outras autoridades ou pessoas (Ministros e Secretários de Estado,
sacerdotes, etc.), vale destacar que direitos, prerrogativas e garantias são disciplinadas na ordem jurídica. Vale a
pena conferir. Além disso, leia os dispositivos em tela e compartilhe sua experiência profissional com seus
colegas e com o tutor.
Finalizando...
Neste Módulo, você estudou que...
O poder público, para cumprir a tarefa de promover o bem coletivo, pratica atos respaldado em
prerrogativas e é submetido a sujeições, como forma de evitar desvios ao interesse público.
O ato administrativo é uma manifestação de vontade (comportamento) proferida pelo Estado e
externado por agente público, ou por quem lhe faça às vezes, a fim de criar, modificar ou extinguir direitos,
perseguindo o interesse público.
O dever-poder de polícia corresponde à permissão social dada à administração pública para
restringir o exercício de direitos individuais em benefício de toda a sociedade.
O dever-poder de polícia confere ao policial o momento ideal para realizar a abordagem, bem
como aquilo que ele pode ou não fazer. Para tanto, é preciso avançar nos estudos para entender como isso
acontece, através dos atributos do dever-poder de polícia.
Para que o dever-poder de polícia seja plenamente exercido, de acordo com Meirelles (2011, p.
121), é preciso identificar três atributos ou características: a discricionariedade; a autoexecutoriedade e a
coercibilidade.
O policial, representante do Estado, protetor dos bens mais caros para a sociedade, deve ter o
domínio sobre o que acontece no mundo dos fatos, a realidade das ruas. O policial deve empregar a técnica
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adequada durante sua atuação (necessária e razoável) e observar os fundamentos da ordem jurídica. Com esse
ciclo, o seu comportamento será considerado legítimo.
A abordagem policial constitui o procedimento de aproximação ... ou ainda a intervenção a um
veículo ou ingresso em uma residência, com o fim de confirmar um fato, a evidência de uma infração penal, bem
como investigar, orientar, advertir, prender, assistir.
Como profissional de segurança pública você já sabe que a abordagem adequada segue uma
atuação técnica e tática, de acordo com os procedimentos descritos em manuais, instruções normativas,
procedimentos operacionais padrão, resoluções, dentre outros. Os critérios de atuação técnica da abordagem
policial é desenvolvida nas corporações, observando as normas de atribuição de cada uma delas e de acordo
com cada situação fática.
Exercício
a. Para cumprir seu papel no sentido de proporcionar o bem comum, o Estado se vale de prerrogativas
e sujeições. Diante disso, discorra sobre o exercício do dever-poder de polícia como instrumento destinado à
preservação da ordem pública e à garantia de um ambiente livre de riscos e perigos à comunidade.
b. Quando você se depara com uma ocorrência, qual o atributo do dever-poder de polícia que lhe
autoriza exercer uma intervenção sem a necessidade de provocar o poder judiciário? Justifique.
c. A coercibilidade, ao lado da discricionariedade e da autoexecutoridade, constitui o tripé do dever-
poder de polícia. Justifique a existência da coercibilidade nas ações de segurança pública.
d. O que justifica a realização de uma abordagem nos casos de intensificação de policiamento?
e. É possível realizar uma busca pessoal em eventos esportivos, sem que haja a existência de uma
infração penal? Justifique.
( ) o atendimento pelo cidadão ou administrado ao ato praticado pelo agente policial é obrigatório ou
coercitivo – sob pena do uso legítimo da força. Em suma, o destinatário deve se submeter a ele, podendo
contestá-lo, de acordo com os recursos previstos em lei (reclamação, requerimento, direito de petição, ação
judicial, etc.). Caso contrário, se submeterá à responsabilização penal (ex.: desacato, resistência, desobediência).
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( ) considerando que o agente público tem o dever de praticar um ato conforme determina a lei (ex.:
notificação de trânsito, busca pessoal, prisão), paira a presunção de legalidade, bem como a presunção de
veracidade. Essa presunção é relativa porque admite prova em contrário, a ser demonstrada pelo destinatário
do ato (cidadão), seja administrativamente (ex.: recurso contra notificação de infração de trânsito) ou
judicialmente (ação de danos morais e materiais em função de uma abordagem policial ou prisão).
( ) o comportamento administrativo deve ser descrito na ordem jurídica, isto é, as ações dos
profissionais de segurança são veiculadas na legislação para fins de aplicação (ex.: fiscalização de ordem policial,
busca veicular, busca domiciliar, realização de prisão, etc.).
( ) devido a necessidade de se garantir continuidade à prestação de serviços em áreas essenciais
(segurança, saúde, educação, etc.) de forma célere e imediata, o agente público, para praticar uma conduta, não
tem a necessidade de provocar a manifestação do poder judiciário. Do contrário, pense na hipótese de se
aguardar a posição da justiça para a realização das ações preventivas de segurança pública ou nos casos de
resgate da paz social (ações de repressão – imediata e mediata).
Situação n° 02: Grandes eventos esportivos serão realizados na cidade: campeonato de vôlei, futebol e
futsal. A Secretaria de Segurança Pública acionou os órgãos para realizar ações de prevenção com o objetivo de
proporcionar aos torcedores espetáculos seguros.
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d. O dever-poder de polícia corresponde à permissão social dada à Administração Pública para
restringir o exercício de direitos individuais em benefício de toda a sociedade. Empregado com
responsabilidade, trata-se de verdadeiro instrumento posto à disposição do Poder Público para disciplinar o
exercício desses direitos e liberdades ou ainda de contê-los, diante de eventuais excessos ou da necessidade de
se disciplinar determinadas relações (ex.: interdição de via pública para promoção das ações de segurança).
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Gabarito
1. Orientação de resposta:
a. Durante as ações de segurança pública algumas medidas interventivas são realizadas no sentido
de limitar as liberdades individuais, como o direito de ir e vir, durante a abordagem policial (busca à pessoa ou
veicular). Nesse contexto, o dever-poder de polícia constitui instrumento necessário para que seja
proporcionado à população um ambiente social livre de riscos e perigos.
b. As ações de segurança pública envolvem os bens mais caros para a sociedade (vida, liberdade,
integridade física, patrimônio, etc.). Diante disso, considerando o atributo da autoexecutoriedade, o agente
policial deve praticar as ações necessárias para promover a ordem pública e a proteção de pessoas e bens, sem
a necessidade de se aguardar uma posição do Judiciário, sob pena de se perder as condições necessárias para
cumprir aquela finalidade.
c. Na coercibilidade registra-se a possibilidade de se obrigar uma pessoa a cumprir a determinação
do policial, sob pena do uso da força, dentre outras medidas policiais (ex.: prisão). Trata-se de instrumento
necessário para a promoção da segurança da comunidade, posto que em determinadas situações,
inevitavelmente a força é o único meio para proteger pessoas e bens.
d. Embora não haja notícia concreta de que um crime esteja ocorrendo, a abordagem policial
realizada durante a intensificação de policiamento se justifica em função da necessidade de se prevenir a
ocorrência de crimes em determinados locais, cujo registro estatístico e análise criminal, apontam a necessidade
de se promover ações de segurança pública, como forma de garantir um ambiente social livre de riscos e perigos.
Dentro desse contexto, juridicamente falando, o dever-poder de polícia fundamenta esta ação, na medida em
que as limitações aos direitos são levadas a efeito em benefício do bem comum.
e. O Estatuto do Torcedor, art. 13-A, estabelece uma série de ações para garantir ao torcedor a
segurança no âmbito de um evento esportivo, como a busca pessoal, ainda que não haja a notícia de que um
crime esteja ocorrendo. A ideia é de que, com essa medida, haja um ambiente livre de riscos e perigos.
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MÓDULO IMPLICAÇÕES PENAIS, CIVIS E ADMINISTRATIVAS
SOBRE A ABORDAGEM POLICIAL:
3 RESPONSABILIDADE DO CIDADÃO E DO AGENTE
POLICIAL
Apresentação do módulo
Todo profissional de segurança pública, já disse ou já ouviu algum colega dizer: “Fui xingado e não
admito. Isto é desacato! E ainda resistiu à minha ordem legal de entrar na viatura estando preso por desacato.
Então, prendi por desacato, desobediência e resistência”.
Mas, será que este desdobramento de uma abordagem pode trazer consequências penais para o
abordado e/ou para o profissional de segurança pública?
A resposta certamente é positiva, não precisando de qualquer auxílio técnico para isto. Por esse motivo,
é que neste módulo, você estudará as implicações penais em função do comportamento das pessoas
submetidas a uma abordagem policial (desobediência, desacato, resistência, etc.), bem como as
consequências penais que podem recair sobre o agente policial em razão da eventual inobservância das
regras e limites jurídicos (constrangimento ilegal, violação de domicílio, abuso de autoridade, tortura etc.).
Além disso, ao final do Módulo serão abordados alguns aspectos de processo disciplinar e improbidade
administrativa, ligados a eventuais responsabilizações nestas esferas em razão da atuação policial.
Objetivo do módulo
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Estrutura do Módulo
1.1 Breve introdução sobre a razão da tutela dos bens jurídicos pelo Direito Penal
Você estudou que para a existência de um Estado é necessário que os integrantes da sociedade firmem
um contrato social, abrindo mão de suas liberdades para obter benefícios e proteção do Poder Público. Para
tanto, nesse ambiente, as pessoas se submetem à autoridade estatal, que estabelece um conjunto de regras, as
quais ordenam as relações em sociedade para atingir o bem comum. Dentro desse cenário, considerando a
segurança, destaca-se o dever do Estado de preservar a ordem pública e promover um ambiente social livre de
riscos e perigos, seja em função da hostilidade da natureza ou do comportamento lesivo de outras pessoas.
Nessa relação entre os indivíduos que compõem a sociedade e o poder público, como forma de garantir
o seu perfeito funcionamento, algumas regras são impostas para regular a interação entre uns e outros. Vale
dizer, que os indivíduos cumprem sua parte ao respeitar e cumprir o conjunto de regras impostas pelo poder
público, sob pena de se submeterem à responsabilização nas esferas cível, administrativa ou penal, conforme o
caso.
Em termos penais, encontra-se a afirmação de que a norma penal tutela “valores fundamentais para a
subsistência do corpo social, tais como a vida, a saúde, a liberdade, a propriedade etc., denominados bens
jurídicos” (CAPEZ, 2011, p. 19). Normalmente as regras de Direito Penal surgem como tábua de salvação, na
medida em que os demais ramos do Direito não foram suficientes para proteger esses bens, isso porque a
resposta penal costuma ser mais severa, recaindo sobre a liberdade e os bens do autor de uma infração, dentre
outras medidas.
Assim, para resgatar equilíbrio na sociedade (paz social), quando uma pessoa, com seu comportamento,
ofende a um bem jurídico penalmente tutelado, instaura-se o que se chama de persecução penal (jus puniendi).
Em outras palavras, quando alguém pratica uma infração penal (crime/delito ou contravenção penal), seja em
flagrante delito (CPP, arts. 301 e 302 ou CPPM, arts. 243 e 244), seja após o indiciamento decorrente de inquérito
policial comum ou militar ou em um termo circunstanciado (art. 69 da Lei n° 9.099/1995), o Estado exercerá o
direito de punir (jus puniendi), após o devido processo legal (CF/88, art. 5°, LV)
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Boa parte das persecuções penais se origina durante a atuação dos profissionais de segurança pública,
abrangendo aí o emprego da busca pessoal, domiciliar ou veicular.
Lembra-se daquela operação em que você teve que realizar uma abordagem, oportunidade em que
encontrou armas de fogo, entorpecentes, objetos oriundos de roubo e furto, dentre outros?
É dela que estamos falando!
Vale dizer, várias são as ocorrências em que, no momento da abordagem, determinadas pessoas
reagem à atuação do agente policial. Dentre elas destacam-se:
Desobediência: quando o indivíduo não cumpre ou não atende à determinação legal;
Desacato: quando o indivíduo desrespeita, desprestigia ou ofende o policial;
Resistência: quando o indivíduo se opõe à execução de ato legal, mediante violência ou ameaça;
Corrupção ativa: quando o indivíduo oferece ou promete vantagem indevida a fim de provocar a
omissão ou retardamento de ato de ofício;
Contravenção penal: quando o indivíduo se recusa a fornecer dados sobre a própria identidade ou
qualificação.
Importante!
Vale lembrar também que o profissional, aplicando as técnicas adequadas, respaldado nos aspectos
jurídicos desse procedimento (vide Módulos 1 e 2), passa a refletir sobre as eventuais providências a
serem adotadas em face desse comportamento.
1.1 Da desobediência
O Código Penal – CP estabelece em seu artigo 330 o seguinte:
De acordo com a doutrina (LENZA, 2011, p. 749), trata-se de comportamento intencional (doloso) em
que a pessoa deixa de cumprir ou não atende à ordem (legal) do policial.
Da leitura desse dispositivo, depreende-se que, para a configuração do crime, é indispensável que
sejam preenchidos os seguintes requisitos:
61
Legalidade da ordem
Pelo princípio da legalidade (CF/88, art. 37, caput), a determinação dada pelo agente deve estar
prevista em uma norma. Se não houver regra que determine a pessoa a fazer ou deixar de fazer algo (CF/88,
art. 5°, inciso II), não há o crime em tela, principalmente em se tratando da imposição de restrição de direitos e
garantias fundamentais. Qualquer do povo pode prender, o policial deve!
Em termos práticos, o exemplo que se pode construir é o das condições de acesso e permanência do
torcedor no recinto esportivo, conforme citado no Módulo 2 (Lei 10.671/2003 - Dispõe sobre o Estatuto de
Defesa do Torcedor, art. 13-A):
62
VIII - não incitar e não praticar atos de violência no estádio, qualquer que seja a sua
natureza; e (Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010).
IX - não invadir e não incitar a invasão, de qualquer forma, da área restrita aos
competidores. (Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010).
X - não utilizar bandeiras, inclusive com mastro de bambu ou similares, para outros
fins que não o da manifestação festiva e amigável. (Incluído pela Lei nº 12.663, de
2012).
Parágrafo único. O não cumprimento das condições estabelecidas neste artigo
implicará a impossibilidade de ingresso do torcedor ao recinto esportivo, ou, se for
o caso, o seu afastamento imediato do recinto, sem prejuízo de outras sanções
administrativas, civis ou penais eventualmente cabíveis. (Incluído pela Lei nº 12.299,
de 2010).
Observações:
- Pela leitura da norma penal secundária do crime de desobediência (sanção penal de detenção, de
quinze dias a seis meses, e multa), na forma do art. 61 da Lei n° 9.099/1995 (Lei dos Juizados Especiais) , o
delito é de menor potencial ofensivo, exigindo lavratura de termo circunstanciado, desde que preenchidos os
requisitos do art. 69 dessa lei.
- Configura resistência se a recusa do agente for realizada com violência ou ameaça contra o policial.
- A recusa no fornecimento de identificação caracteriza a contravenção do art. 68 da Lei das
Contravenções Penais – Decreto-Lei n° 3.688, de 03/10/1941.
- Prefeitos que, imotivadamente, não cumprem ordem de autoridade judiciária praticam o crime de
desobediência contido no art. 1º, XIV, do Decreto-Lei n° 201/67*.
*Dispõe sobre a responsabilidade dos Prefeitos e Vereadores, e dá outras providências.)
- Alguns precedentes judiciais consideram que, se uma norma civil ou administrativa fixar punição para
um ato de mesma natureza (desobedecer), e não prever a cumulação com a sanção penal, não restará
configurado o crime em apreço (ex.: o art. 195 do Código de Trânsito Brasileiro prevê multa àqueles que
desrespeitam ordens dos agentes de trânsito - de parada, por exemplo, mas não ressalva a aplicação autônoma
do crime de desobediência (STF. 2ª Turma. HC 88.452-1-RS. Rel. Min. Eros Grau. Julgado em 02 mai. 2006, DJU
19 mai. 2006, p. 43.)
1.2 Do desacato
Esse tipo está previsto no artigo 331 do Código Penal:
Observações:
- Considerando que a sanção penal é de detenção, de seis meses a dois anos e multa, o delito é de
menor potencial ofensivo (art. 61 da Lei n° 9.099/1995), exigindo lavratura de termo circunstanciado, desde que
preenchidos os requisitos do art. 69 dessa lei.
- Caso a ofensa seja realizada na ausência do servidor, haverá o crime de injúria qualificada (CP, art.
140, combinado com o art. 141, II).
- Não se exige que o ofensor e o policial estejam cara a cara, podendo estar em recintos diferentes,
mas próximos, sendo possível o próprio profissional de segurança ouvir o comentário ou perceber a reação.
- A divulgação não é requisito do crime, razão pela qual restará configurado mesmo se não for
presenciado por outras pessoas.
- Será resistência, e não desacato, se a agressão tiver o objetivo de impedir o cumprimento de um
procedimento policial.
1.3 Da resistência
O crime de resistência está previsto no art. 329 do CP, com o seguinte conteúdo:
Como se pode ver, o delito citado existirá quando uma pessoa utilizar de violência ou ameaça (não
precisa ser grave) para impedir ou obstruir um procedimento legal, realizado pelo profissional de segurança
pública competente, por exemplo, para evitar uma prisão ou uma reintegração de posse.
64
Observações:
- O crime previsto no caput é de menor potencial ofensivo (art. 61 da Lei n° 9.099/1995), porquanto a
sanção penal é de detenção, de dois meses a dois anos, exigindo lavratura de termo circunstanciado, desde que
preenchidos os requisitos do art. 69 dessa lei. O que não ocorre com o § 1°, na medida em que a pena é de
reclusão, de um a três anos.
- A violência tem significado de uso da força física, um ato indevido de agressão física. Tem que ser
dirigida contra a pessoa do policial ou do terceiro que o auxilia (Ex.: investigador de polícia vai cumprir mandado
de prisão e é ajudado por alguém que acaba agredido). Se a violência for dirigida contra uma coisa (ex.: viatura
policial, poste de iluminação, porta, parede, etc.), pode configurar o delito de dano qualificado.
- Não haverá o crime se a resistência for passiva, isto é, aquela em que não há emprego de violência
ou ameaça. Lembre-se do clássico exemplo da pessoa que se segura em um poste para não ser levado à
delegacia. Ou ainda sai correndo ou se joga no chão para não ser detido: “A simples fuga do infrator, ao ser
preso, não configura o delito de resistência, que exige para sua caracterização a presença dos requisitos da
violência ou ameaça contra funcionário”. (TJSP. Tacrim-SP. Rel.: Mattos Faria, Jutacrim 10/249.)
- A ameaça pode ser escrita ou verbal, não precisando ser grave. O procedimento praticado pelo policial
deve ser legal quanto ao conteúdo e à forma (modo de execução). Sendo ordem ilegal, a violência ou ameaça
empregada contra ela não configura a resistência, como ocorre nos casos de detenção para averiguação: “Um
dos elementos caracterizadores da resistência é a oposição a uma ordem legal. Ora, se esta é abusiva, portanto,
antijurídica, não se pode falar na existência do delito em questão”. (TJSP. Tacrim-SP. Rel.: Camargo Aranha. RT
461/378.)
- A resistência só ocorre se a violência ou a ameaça forem empregadas contra a prática do
procedimento policial. Assim se empregadas após a prisão ou a reintegração, não há o crime de resistência, mas
o delito de lesão corporal (art. 129) ou de ameaça (art. 147).
- Se a violência for empregada para proporcionar um ato de fuga, após a prisão ter sido realizada, não
haverá resistência, mas o crime de evasão mediante violência contra a pessoa (CP, art. 352).
- Não há resistência se o agente policial for incompetente para determinar a ordem ou realizar o
procedimento, por exemplo, para que a pessoa desocupe terreno invadido, mas não tem documento judicial
ordenando a retirada.
65
Na maioria das vezes essa infração penal é cometida de forma oral. Contudo, é possível que a oferta
ou a promessa de vantagem indevida sejam feitas por escrito ou com gestos (estender o dinheiro ou abrir um
talão de cheques). Como se vê, a norma penal busca sancionar a iniciativa do particular de praticar essas
condutas, a fim de obter benefícios com a ação ou omissão de um policial. Ao oferecer, o agente disponibiliza
imediatamente dinheiro ou valores ao profissional de segurança pública (ex.: para evitar notificação de trânsito,
uma pessoa entrega furtivamente ao policial uma quantia em dinheiro). Ao prometer, o cidadão garante a
entrega de uma vantagem ao policial.
Sobre esse delito, a doutrina construiu as seguintes variações:
Observações:
- Se a pessoa se dirige insistentemente verbalizando ao policial para “dar um jeitinho” ou “quebrar o
galho”, não há a corrupção ativa, porque não houve a oferta nem a promessa de vantagem indevida. De outro
lado, caso o policial dê “o jeitinho” e não pratica o ato que deveria, responderá por corrupção passiva
privilegiada (CP, art. 317, §2 º), tendo o particular como partícipe, em razão do induzimento. Agora, caso o
funcionário público não dê “o jeitinho”, o fato é atípico.
- Não há crime de corrupção ativa se o particular oferece a vantagem para evitar que o profissional de
segurança pratique contra ele algum ato ilegal.
66
- No período eleitoral, a corrupção praticada para obter voto configura o delito previsto no art. 299 do
Código Eleitoral (Lei n. 4.737/65).
- A corrupção ativa de testemunhas, peritos, tradutores ou intérpretes, não oficiais, constitui o crime do
art. 343 do Código Penal.
A título de exemplo, imagine aquela situação na qual o cidadão impõe algumas dificuldades para a
realização da abordagem policial, dentre elas a de não informar nome, local de residência, identidade, profissão
etc. Sabe-se que não há nenhuma norma que obrigue as pessoas a portarem carteira de identidade, razão
pela qual você não poderá exigi-la da pessoa (CF/88, art. 5°, II), sob pena de incorrer em abuso de autoridade
ou constrangimento ilegal, conforme o caso. Mas a pessoa deve lhe dizer os dados solicitados, ou incorrerá na
contravenção do art. 68 da LCP.
Como se vê, o tipo penal tem o objetivo de proibir condutas que criem obstáculos à identificação ou
qualificação das pessoas pelas autoridades (judiciária, policial ou administrativa). A identidade é o “conjunto de
dados que tornam uma pessoa diferente das demais. Identidade civil: nome, data e lugar de nascimento, filiação
etc. Identidade física: estatura, cor, sexo etc.” (DAMÁSIO, 2010, p. 133).
No caso em que o abordado esteja sem qualquer identificação, contudo informa seus dados sem
apresentar documento para confirmar, o policial pode conduzi-lo até a delegacia pela contravenção?
Seria possível ao policial ao menos conduzir a pessoa até a delegacia para confirmar seus dados?
Ou o policial incorreria em abuso de autoridade?
Observações:
- Em razão das penas cominadas, trata-se de infração penal de menor potencial ofensivo (art. 61 da Lei
n° 9.099/1995), exigindo lavratura de termo circunstanciado, desde que preenchidos os requisitos do art. 69
dessa lei.
- A contravenção só existe se o policial estiver no exercício de suas atribuições por ocasião da solicitação
ou exigência, do contrário, o fato é atípico.
- Se a pessoa abordada se recusa num primeiro momento e em seguida presta as informações sua
identidade, não haverá a contravenção penal.
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- Se houver o crime de uso de documento falso, a contravenção de recusa de identificação fica
absorvida (RF, 317:328 e 309:235).
Você sabe apontar a diferença entre o art. 307 do Código Penal e o art. 68 da Lei das Contravenções
Penais?
No art. 307 do CP, ao recusar o fornecimento de dados identificadores, o autor do crime busca
vantagem para si. Por exemplo, seria o caso daquele que, por constar como “procurado” da Justiça, fornece ao
policial documento de seu irmão, passando-se por ele, para não ser preso.
Já na contravenção penal a recusa não traz benefício algum para o sujeito passivo. Lembre-se, não há
lei que obrigue as pessoas a portarem documento que as identifique. Entretanto, há obrigação para que se a
forneça os dados que possibilitem a identificação de alguém.
De outro lado, cabe reforçar que, de acordo com o § 1° do art. 159 do Código de Trânsito Brasileiro –
CTB, se alguém estiver na direção de um veículo automotor, é obrigatório portar a Carteira Nacional de
Habilitação ou a Permissão para Dirigir.
Como se vê, verifica-se que, ao realizar uma abordagem legítima, você sabe que diante da recusa do
cidadão em identificar-se, no mínimo existe uma contravenção penal.
Até aqui foram abordados os tipos penais mais comuns ocorridos durante uma abordagem policial,
que podem ser praticados por qualquer pessoa. Assim, a depender da conduta, é possível que outros crimes
existam, exigindo de você a adoção de providências cabíveis.
No exercício das atribuições o agente policial eventualmente pode se exceder nos limites do uso da
força, e seu comportamento pode caracterizar um ilícito penal. Dentro desse contexto, você terá a
oportunidade de identificar os tipos penais de maior ocorrência durante uma abordagem policial, na qual o
profissional poderá ser responsabilizado.
Quando você iniciou os estudos desse curso, algumas perguntas foram lançadas. Lembra-se? A
abordagem policial somente pode ser realizada diante de uma fundada suspeita? É certo dizer que as pessoas
não podem ficar nas esquinas sem fazer nada até tarde da noite? Quem define quando o policial deve
abordar? O policial pode abordar qualquer pessoa e quando quiser? Para garantir a segurança de todos, o
policial pode fazer o que quiser?
Tendo em vista o que estudamos nos dois primeiros módulos, a essa altura você já teve ter condições
de discutir sobre cada uma dessas perguntas.
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No Módulo 01 você estudou sobre o papel do Estado no âmbito da segurança pública, várias vezes
repetidas durante o curso, assim como os direitos e garantias fundamentais e as convenções internacionais
com reflexo na atividade policial. Percebeu no Módulo 02 que, para cumprir esse papel, o poder público
recebe prerrogativas, através do uso legítimo da força, concretizado principalmente através do exercício do
dever-poder de polícia. Entretanto, a fim de evitar os desvios, abusos e as arbitrariedades no uso desse poder,
existem limites, estipulados. Num primeiro momento, através dos direitos e garantias fundamentais (Módulo
01), num segundo momento, através das sujeições (Módulo 02 - prestação de contas, atendimento do
interesse público, proporcionalidade das ações, etc.).
Mas, e se...
O policial intervier de forma equivocada, cerceando a liberdade de uma pessoa de maneira indevida?
E se ele ingressar em um domicílio desrespeitando o que estabelece o texto constitucional? E se ele atentar
indevidamente contra a integridade física de alguém? Qual a consequência?
Agora e se não houver representação? O crime pode deixar de ser apurado e o autor do fato ficar
impune?
De acordo com a Lei n° 5.249, de 9 de dezembro de 1967, “a falta de representação do ofendido, nos
casos de abuso previstos na Lei n. 4.898, de 9 de dezembro de 1965, não obsta a iniciativa ou o curso de ação
pública”. Portanto, tomando conhecimento sobre a ocorrência do fato, a autoridade competente deverá
adotar as medidas necessárias para sua apuração. Até porque se trata de ação penal pública incondicionada,
na forma do art. 12 da Lei n° 4.898/1965.
69
Nesse sentido, a apuração da conduta pode ser realizada por procedimento administrativo em geral,
sindicância, inquérito policial, procedimento administrativo no âmbito do ministério público, etc. Daí advém a
responsabilização nas esferas acima citadas.
De um lado, a Lei tem por objetivo proteger o normal funcionamento da administração pública,
tomada em sentido amplo. Em outras palavras, busca garantir que o serviço público seja prestado em
condições de regularidade, continuidade, eficiência, segurança, atualidade, generalidade. De outro lado, a
norma tem por fim tutelar os direitos e garantias fundamentais.
Nesse âmbito, tanto o Estado quanto a pessoa submetida à intervenção abusiva são sujeitos passivos
(vítimas/ofendidos). Se a vítima do abuso for uma criança ou adolescente, o autor da conduta responderá na
forma do Estatuto da Criança do Adolescente, art. 230 e seguintes da Lei n° 8.069/1990.
O autor do fato (sujeito ativo), para a Lei, é aquele que exerce cargo, emprego ou função pública, de
natureza civil ou militar, mesmo que de maneira temporária e sem receber remuneração (art. 5°). É o que a
doutrina chama de crime próprio, isto é, exige-se especial condição de quem pratica a conduta criminosa.
Importante!
Fique atento! Existem situações em que o autor do abuso, mesmo não estando no exercício de suas
funções, comete o crime em tela. Isso ocorre quando o funcionário, apesar de não estar escalado,
cumprindo suas atribuições, pratica um ato invocando a condição de autoridade de que é investido,
conforme já decidiu o Supremo Tribunal Federal:
Crime de abuso de autoridade. Comete-o o miliciano que, embora, sem farda e fora
do efetivo exercício de sua função, age, evocando a autoridade de que e investido.
Exegese do art. 5° da lei n. 4.898/65. Competente, todavia, para o processo e
julgamento, e a justiça comum estadual, eis que inexistente crime militar. "habeas
corpus" indeferido SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Segunda Turma. HC 59676,
Relator(a): Min. DJACI FALCAO, julgado em 16/04/1982, DJ 07-05-1982 PP-04269
EMENT VOL-01253-01 PP-00114.
O delito de abuso de autoridade é punido a título de dolo (intenção de praticar o ato), ou seja, o autor
da conduta tem consciência de que esteja exorbitando do poder.
Saiba mais...
Uma pessoa não enquadrada no conceito de autoridade, na forma do art. 5°, pode responder pelo
crime em lide, desde que seja na condição de partícipe, conforme estabelece o art. 29 do Código Penal. Com
efeito, responde aquela pessoa que estiver acompanhada de um policial, sabendo de suas intenções, e o auxilia
de alguma forma para que o crime aconteça. Isso ocorre, por exemplo, na hipótese em que o indivíduo fornece
instrumentos para a prática do ato, ou quando conduz o profissional de segurança para o local onde se encontra
a vítima.
70
2.3 Tipos penais
Agora que você já estudou sobre alguns aspectos gerais da Lei do abuso de autoridade, seria
interessante olhar para cada conduta que pode caracterizar esse tipo penal. Lembre-se que o objeto do estudo
dessa norma está relacionado à abordagem policial. Diante disso, dê uma atenção aos artigos 3° e 4° da Lei e
identifique o tratamento dado aos seguintes temas:
Liberdade de locomoção;
Inviolabilidade de domicílio;
Sigilo de correspondência;
Liberdade de consciência e de crença;
Direitos e garantias legais assegurados ao exercício do voto;
Direito de reunião;
Incolumidade física do indivíduo;
Direitos e garantias legais assegurados ao exercício profissional;
Ordenar ou executar medida privativa de liberdade, sem as formalidades legais ou com abuso
de poder;
Submeter pessoa sob sua guarda ou custódia a vexame ou a constrangimento não autorizado
por lei;
Ato lesivo da honra ou do patrimônio de pessoa natural ou jurídica, quando praticado com abuso
ou desvio de poder, ou sem competência legal.
As condutas elencadas no art. 3° não admitem a modalidade tentada, na medida em que a lei pune o
simples atentado como delito consumado - crimes de atentado (CAPEZ, 2012, p. 24).
A seguir, você estudará alguns dos tipos mais comuns envolvendo a atuação policial, que
merecem sua atenção.
O direito à liberdade de locomoção encontra seu fundamento no primeiro inciso XV, art. 5°, da CF/88,
que diz: “é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da
lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens”. A simples leitura do texto permite inferir que, a contrario
sensu, em tempo de guerra, limitações poderão ser impostas a esse direito, quando houver questões de
segurança nacional.
José Afonso da Silva (1999, p. 240) ensina que a liberdade de locomoção é a principal forma de
expressão da liberdade da pessoa física, conceituada essa liberdade como a “possibilidade que se reconhece a
todas as pessoas de serem senhoras de sua própria vontade e de locomoverem-se desembaraçadamente dentro
do território nacional”.
71
O direito à liberdade de locomoção engloba o acesso, ingresso e saída do território nacional, bem
como a permanência e deslocamento, direito de ir, vir, dentro dele. O referido direito toca tanto os brasileiros
como os estrangeiros, sejam ou não residentes no Brasil.
Uma pergunta: a abordagem policial, por limitar o direito de ir e vir do cidadão, mesmo que
temporariamente, constitui abuso de autoridade, como sugerem algumas pessoas?
Resgatando os ensinamentos do Módulo 2, a abordagem policial representa autêntico desempenho
das atribuições da polícia para preservar a ordem pública e assegurar um ambiente social livre de riscos e
perigos, seja para promover uma orientação de caráter geral, seja para verificar e assegurar a normalidade de
um local, seja para identificar uma pessoa que tenha eventualmente praticado um delito. Entretanto, e conforme
já ficou assentando naquele módulo, tal medida deve seguir os critérios de proporcionalidade, dentre outros
requisitos já estudados (volte ao módulo para relembrar). Com efeito, dentro dessas condições, não há que se
falar em abuso de autoridade, posto que medida consentânea com o estado democrático de direito. Nesse
sentido, destaca-se a posição de Fernando Capez (2012, p. 26):
Observações:
- Havendo consentimento do morador, o ingresso é permitido em qualquer momento, seja de dia ou
à noite;
- Inexistindo consentimento, o ingresso a qualquer hora do dia ou da noite, somente pode ocorrer em
caso de flagrante delito, desastre ou para prestar socorro;
- A expressão “dia” compreende o período entre a aurora e o crepúsculo; alguns sustentam que seja no
período que vai das seis às dezoito horas;
- O mandado judicial não poderá ser cumprido no período noturno, a não ser que o morador concorde.
Assim, não resta outra opção senão a de se aguardar até o amanhecer. Do contrário, pratica-se abuso de
autoridade.
De fato, não se justifica o sigilo absoluto em todos os casos. Ao invés, sua quebra é
necessária para evitar a tutela oblíqua de condutas ilícitas ou práticas contra legem.
A doutrina constitucional moderna é cediça nesse sentido, porque as garantias
fundamentais do homem não podem servir de apanágio à desordem, ao caos, à
subversão da ordem pública. Realmente, nenhuma liberdade individual é absoluta.
Comporta exceções para preservar o ditame da legalidade. Portanto, afigura-se
possível, observados os requisitos constitucionais e legais, a interceptação das
correspondências e das comunicações telegráficas e de dados, sempre que as
liberdades públicas estiverem sendo utilizadas como instrumento de salvaguarda de
práticas ilícitas.
Daí porque, por exemplo, durante uma busca domiciliar, seja cabível apreender cartas, abertas ou não,
destinadas a alguém acusado de praticar delito ou que estejam em seu poder e que o seu conteúdo sirva de
elemento para esclarecer um delito, conforme preceitua o art. 240, § 1º, f, do CPP. Ainda define o art. 243, § 2°,
desse Código que é cabível a apreensão de documento em poder do defensor do acusado, quando constituir
elemento do corpo de delito. Nesse ponto, vale a leitura do art. 7º, §§ 6º e 7°, do Estatuto da OAB – Lei n°
8.906/1994:
73
§ 6o Presentes indícios de autoria e materialidade da prática de crime por parte de
advogado, a autoridade judiciária competente poderá decretar a quebra da
inviolabilidade de que trata o inciso II do caput deste artigo, em decisão motivada,
expedindo mandado de busca e apreensão, específico e pormenorizado, a ser
cumprido na presença de representante da OAB, sendo, em qualquer hipótese,
vedada a utilização dos documentos, das mídias e dos objetos pertencentes a
clientes do advogado averiguado, bem como dos demais instrumentos de trabalho
que contenham informações sobre clientes. (Incluído pela Lei nº 11.767, de 2008)
§ 7o A ressalva constante do § 6o deste artigo não se estende a clientes do advogado
averiguado que estejam sendo formalmente investigados como seus partícipes ou
coautores pela prática do mesmo crime que deu causa à quebra da inviolabilidade.
(Incluído pela Lei nº 11.767, de 2008)
Vale destacar a relevância do tema que trata do sigilo de correspondência epistolar do preso no
âmbito do sistema penitenciário, quando há notícias de que este instrumento de comunicação esteja servindo
de base para planejamento e execução de atos criminosos. Nesse sentido, o Supremo Tribunal Federal decidiu
que:
De outro lado, caracterizado o abuso, ou seja, a ausência de justificativa para proceder na violação do
direito aqui estudado, o agente policial incorrerá no delito previsto no art. 3º, c, da Lei n. 4.898/65. Capez (2012,
p. 31) salienta que estando a carta aberta não há que se falar em sigilo, somente quando estiver fechada.
Importante!
Por certo, nem toda violência cometida por agente público deve ser levada à condição de abuso de
autoridade. Há situações em que o recurso da violência é permitido e necessário, inserindo-se no
estrito cumprimento de dever legal, como exemplo, a violência (força legítima) utilizada por policiais
para prender alguém em flagrante ou em virtude de mandado judicial, quando houver resistência ou
tentativa de fuga (sobre a questão do uso da violência legítima, vide Módulo 1).
Lembre-se do que estudamos no Módulo 2, o uso da força só será considerado, conforme o direito,
se estiver pautado na necessidade e proporcionalidade. Nesse contexto, embora tenha opção por adotar
diversas medidas (discricionariedade), o agente policial deve agir de maneira a atingir o fim a que precisa
chegar (prevenir crimes, tutelar bens, resgatar a paz social), com adequação, necessidade e proporcionalidade
em sentido estrito.
Por fim, no que é pertinente ao atentado à incolumidade física do indivíduo, você sabia que um
agente policial pode responder por dois crimes decorrentes de um mesmo fato?
Isso ocorre com os policiais militares que respondem por lesão corporal perante a justiça militar
(estadual) e por abuso de autoridade no âmbito da justiça comum.
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Observações:
- Se a violência praticada pelo profissional de segurança for cometida com o fim de obter informação,
declaração ou confissão, ou, ainda, para provocar ação ou omissão de natureza criminosa, o crime será o de
tortura, conforme os termos da Lei n° 9.455/1997.
- A Súmula 172 do Superior Tribunal de Justiça prevê que: “Compete à Justiça comum processar e
julgar militar por crime de abuso de autoridade, ainda que em serviço”.
A CF/88 garante às pessoas a liberdade de fazer ou não fazer o que bem lhes aprouver (art. 5º, II), desde
que observados os limites da ordem jurídica pátria.
No delito em comento, o agente constrange, obriga ou coage uma pessoa a fazer ou deixar de fazer
alguma coisa, empregando, para tanto, a violência ou grave ameaça. A doutrina lembra que:
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A grave ameaça constitui a promessa de mal grave a ser praticado contra a vítima ou parente próximo.
Ex.: agente com porte físico de atleta determina à vítima franzina a trocar de lugar em um show, sob pena de
agressão física.
Observações:
- Constrangimento ilegal e tortura: Na Lei n. 9.455/97, o art. 1º, inciso I, alínea “b”, passou a prever
delito específico, que constitui prática de tortura: constranger alguém com emprego de violência ou grave
ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental, para provocar ação ou omissão de natureza criminosa”.
- Há constrangimento ilegal se a violência ou grave ameaça é empregada para evitar que uma pessoa
realize um ato imoral (prostituição). Isso porque o tipo penal fala em conduta “não proibida por lei e não existe
lei que proíba a venda do corpo, apenas a exploração dela por outrem (LENZA, 2011, p. 271).
A norma penal tem por finalidade concretizar a previsão constitucional de que a casa é asilo inviolável
do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador (art. 5º, XI).
Nota
Sobre o conceito de casa, leia novamente a aula 3, do Módulo 2.
A violação de domicílio fica configurada quando, contra a vontade expressa ou tácita do morador,
o policial ingressa na residência ou permanece em casa alheia ou em suas dependências. A permanência é fator
indispensável para que se verifique a ocorrência do delito.
Importante!
É importante lembrar das hipóteses autorizativas de ingresso no domicílio, mencionadas na aula 3, do
Módulo 2.
Observações:
- Trata-se de infração penal de menor potencial ofensivo (art. 61 da Lei n° 9.099/1995), exigindo
lavratura de termo circunstanciado, desde que preenchidos os requisitos do art. 69 dessa lei.
- Consentimento do morador: é a pessoa que tem a capacidade de manifestar-se no sentido autorizar
ou permitir o ingresso de alguém em sua “casa”. Aqui não importa se ele é o proprietário, possuidor legítimo,
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arrendatário etc. Ademais, havendo vários moradores, o esposo e a esposa são os titulares desse direito de
consentimento, em que prevalece a sua autoridade em relação à dos demais habitantes da casa, mas é bom
lembrar que os demais (filhos, netos, sobrinhos, empregador, etc.) podem admitir ou excluir alguém nas
dependências que lhes são destinadas, mas mesmo assim, caso ocorra a discordância entre estas pessoas,
prevalecerá a proibição dos titulares de direito (esposo e esposa), assim caracterizando o ilícito penal, constante
do Art. 150 do CP.
- Cabe salientar que não configura o delito de violação de domicílio a entrada ou permanência em casa
alheia desabitada, mas o crime de usurpação (art. 161 do CP). De outro lado, “quando ausente os moradores,
subsiste o crime de violação de domicílio” (JESUS, 2007, p. 530).
- Sendo servidor público (ex.: policial), o sujeito ativo poderá incorrer no art. 150 aqui citado, ou
responderá por abuso de autoridade, se confirmado ou não o exercício da função. Com efeito, estando o policial
escalado, caracteriza o abuso de autoridade. De outro lado, estando de folga, responde por violação de
domicílio. Nesse sentido, Nucci (2007, p. 646) assevera que o § 2º do art. 150 não se aplica, mas o art. 3°, alínea
“a”, da Lei n° 4.898/65, empregando o direito intertemporal (lei posterior revoga anterior), bem como em função
do princípio da especialidade.
2.4 Tortura
Após a 2ª Guerra Mundial a comunidade internacional se mobilizou e fez nascer um movimento de
repúdio à prática da tortura, principalmente como instrumento para se obter informações.
A CF/88, em seu art. 5º, inciso III, estabelece que “ninguém será submetido a tortura nem a tratamento
desumano ou degradante”.
Você deve lembrar que no 1° Módulo desse curso foi dito que não existem direitos e nem garantias
absolutas, ou seja, juridicamente se trabalha com a relativização das liberdades públicas. Até porque nem a vida
é absoluta, na medida em que se tolera a legítima defesa para ceifar esse bem jurídico de primeira grandeza.
Ademais, em caso de guerra, o Brasil admite, excepcionalmente, a pena de morte.
Importante!
O repúdio à tortura foi adotado no Brasil e esta garantia é absoluta! Quando diz que ninguém será
submetido à tortura e nem a tratamento desumano degradante é uma garantia que não admite
exceção! Vale dizer, e a doutrina costuma lembrar que, excepcionalmente, esta garantia é absoluta.
Na ordem infraconstitucional, em 1997 finalmente entrou em vigor uma lei específica que trata da
tortura, a Lei n° 9.455. Vale dizer, durante nove anos punia-se a tortura com tipos penais comuns, homicídio,
lesão, constrangimento ilegal, abuso de autoridade, etc. Salvo no caso do Estatuto da Criança e do Adolescente
(Lei n° 8.069/1990), que previa uma tortura específica para proteger crianças e adolescentes, conforme contido
no art. 233, hoje revogado pela Lei n° 9.455/1977.
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No Brasil o crime de tortura é comum, ou seja, qualquer pessoa pode ser sujeito ativo (autor do crime),
pode ser praticado por qualquer indivíduo, não se exige qualidade ou condição especial do agente. Então tanto
o policial quanto o particular (ex.: credor, que exige dívida do devedor), podem praticar este crime.
O art. 1º da Lei nº 9.455/1997 não traz a definição de tortura, apenas elenca os comportamentos que
configuram a prática da tortura:
De forma didática, o Professor Rogério Sanches (2010) explica os três delitos contidos nessa Lei por
meio de um quadro:
MODO DE
SUJEITOS RESULTADO FINALIDADE
EXECUÇÃO
a) Com o fim de obter informação
Causando-lhe
Constranger “alguém” (tortura-prova);
Com emprego de sofrimento físico
- Sujeito ativo comum b) Para provocar ação criminosa
Art. 1º, I violência ou grave ou mental.
- Sujeito passivo (tortura para ação criminosa)
ameaça.
comum c) Discriminação
Consumação
(tortura-discriminação)
Causando-lhe
Submeter alguém sob
INTENSO Aplicar castigo pessoal ou medida
sua guarda poder ou Com emprego de
sofrimento físico de caráter preventivo.
Art. 1º, II autoridade. violência ou grave
ou mental.
S.A. Próprio ameaça.
(tortura-castigo)
(autoridade)
Consumação
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S.P. Próprio
(sob a
autoridade)
Mediante
comportamento
Submeter pessoa ilegal
Causando-lhe
presa ou sujeita a – não
Art. 1º, § sofrimento físico
medida de segurança necessariamente XXXXXXX
1º ou mental.
- S.Ativo – Comum violência,
- S. Passivo – Próprio – não
necessariamente
grave ameaça.
Quadro 2 – Tipos penais da Lei da Tortura
Constranger alguém, com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou
mental com o fim de obter informação.
Exemplo: policial que tortura o suspeito para confessar um crime. Ou ainda, o policial que, mediante
violência ou grave ameaça, causa sofrimento físico ou mental para obter a confissão de um crime.
Alguém sendo torturado, com emprego de violência ou grave ameaça, sofrendo consequências físicas
e mentais para provocar ação criminosa.
Exemplo: réu que tortura a testemunha presencial para mentir em juízo. Imaginem um acusado de
homicídio que sabe quem é a testemunha presencial, passa a torturá-la para que ela minta em juízo. Nesta
situação há alguém torturando uma pessoa, com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe
sofrimento físico ou mental para provocar falso testemunho.
O que é tortura-preconceito?
Alguém constrangendo outrem, com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento
físico ou mental por discriminação.
Exemplo: A pessoa é torturada simplesmente por ser discriminada em razão da sua raça ou da sua
religião
Observações:
- O crime de tortura se consuma com a provocação do sofrimento físico ou mental, independentemente
da finalidade visada.
80
- A doutrina entende que, no caso do §1º, abrange o preso definitivo (com condenação) e o provisório
(flagrante, preventiva e temporária). Também abrange o menor infrator sujeito à medida sócio educativa. Sujeito
à medida de segurança, inimputável ou semi-imputável, submetido a internação ou tratamento ambulatorial.
- No inciso II do art. 1°, que traz a tortura-castigo, é importante que fique evidenciado o intenso
sofrimento físico ou mental causado na vítima. O delegado tem que apurar a intensidade no seu inquérito. Caso
contrário, fica configurado o crime de maus tratos (CP, art. 136).
- No § 1° a vítima do crime somente pode ser pessoa presa ou sujeita a medida de segurança.
Atenção!
Você, policial, pode responder pela tortura omissão. Isso ocorre na hipótese em que, estando
acompanhado por outro policial, a quem se imputa o crime de tortura ação, você nada faz.
O § 2° do art. 1° da Lei de Tortura define que “Aquele que se omite em face dessas condutas, quando
tinha o dever de evitá-las ou apurá-las, incorre na pena de detenção de um a quatro anos”. Como se vê, o
dispositivo em apreço traz dois comportamentos omissivos.
Omissão imprópria: Quando tinha o dever de evitar. Sujeito ativo: garante (garantidor), o que tem o
dever de evitar. Rol de garantes: pai, mãe, curador, tutor, policial, médico, professor etc. Ex.: delegado percebe
que um agente criminoso está sendo levado para uma sala, onde será torturado, e nada faz. Cuida-se de tortura
omissão.
Omissão própria: Nessa há o dever de apurar e a autoridade se omite, nada fazendo. A tortura já
aconteceu. O sujeito ativo é a autoridade que tem o dever de apurar, mas não adota nenhuma providência,
ficando inerte. O sujeito passivo é qualquer pessoa.
O § 5º do art. 1° define que “A condenação acarretará a perda do cargo, função ou emprego público e
a interdição para seu exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada”.
Pergunta: Este efeito é automático ou precisa constar claramente na sentença, com uma
fundamentação?
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Aula 3 – Implicações de ordem disciplinar ao policial
No exercício de atividades para gerir a coisa pública, os bens e os interesses não se acham entregues à
livre disposição da vontade do administrador ou do servidor (MELO, 2010). Nesse sentido, “A administração é
atividade do que não é senhor” (Ruy Cirne Lima).
Dentro desse contexto, exsurge o regime jurídico dos servidores públicos, veiculado através de lei (ex.:
Lei nº 8.112/1990), que estabelece direitos e deveres. Nesse cenário, existem determinadas regras que regulam
o comportamento do agente público. Com efeito, a fim de assegurar a regularidade administrativa, havendo
notícia de transgressão da disciplina, a autoridade deve exercer o dever-poder disciplinar, adotando
providências para apurar os fatos e eventualmente impor sanção disciplinar.
Vale ressaltar que, a administração pública não tem liberdade de escolha para apurar ou deixar de
apurar, punir ou deixar de punir. É dizer, o exercício do dever-poder disciplinar é ato vinculado, em
benefício do bem comum. Tomando conhecimento da falta praticada, cumpre instaurar procedimento
adequado para esclarecer os fatos e eventualmente aplicar a sanção, após o devido processo legal, com
resguardo da ampla defesa e contraditório. Não observando essa determinação, o superior hierárquico estará
passível de responder por condescendência criminosa, infração administrativa e civil (improbidade – Lei 8429/92,
art. 11, II).
Sim. Considerando a independência das instâncias (CF, art. 2º), uma só conduta pode ensejar a
instauração de distintos processos ou procedimentos (penal, civil, disciplinar), sem que configure o bis in idem,
com imposição de punição, respeitados o devido processo legal, ampla defesa e contraditório.
Ademais, é possível que haja absolvição em uma esfera e condenação em outra, sem comunicação
entre elas. Entretanto, excepcionalmente, poderá ocorrer a comunicação entre os processos, quando provada a
inexistência do fato ou a negativa de autoria no processo penal. Por exemplo, se ficar comprovado no processo
penal que o servidor não se beneficiou pecuniariamente, ou ainda, se realmente o fato não existiu, de forma
vinculada, as demais instâncias serão atingidas. É o que se pode concluir com a leitura desses dispositivos:
- Lei 8.112. Art. 126. A responsabilidade administrativa do servidor será afastada no caso de absolvição
criminal que negue a existência do fato ou sua autoria.
- Código Civil. Art. 935. A responsabilidade civil é independente da criminal, não se podendo
questionar mais sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o seu autor, quando estas questões se acharem
decididas no juízo criminal.
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- CPP, Art. 66. Não obstante a sentença absolutória no juízo criminal, a ação civil poderá ser proposta
quando não tiver sido, categoricamente, reconhecida a inexistência material do fato.
É bom deixar evidente ainda que processos que tramitam nas diferentes instâncias não precisam
aguardar o desfecho do processo penal, sob pena de se operar a prescrição, caso não haja hipóteses legais de
interrupção e suspensão.
Com efeito, no exercício das atribuições, durante a realização de uma abordagem policial, o
profissional de segurança pública que praticar desvio de conduta, ultrapassando os limites discorridos nos
Módulos 1 e 2, poderá se ver responsabilizado em diferentes esferas (disciplinar, civil ou penal), sem que
haja bis in idem. Assim já decidiu o Superior Tribunal de Justiça:
A palavra-chave é honestidade.
Probidade administrativa remete ao agir com honestidade, retidão, honradez. O servidor público probo
é leal, tem que ser bem intencionado, sempre agir com boa-fé, com retidão de conduta, obedecendo aos
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princípios éticos, os princípios morais. Com efeito, se o agente público não observa essas exigências, estará
agindo com improbidade administrativa. Assim, se probidade é honestidade, improbidade é desonestidade.
A Constituição Federal trata do tema no art. 37, § 4°. Vale a pena fazer uma leitura cuidadosa:
Da leitura desse dispositivo, a primeira coisa que tem que ficar claro para você é que o ato de
improbidade administrativa não é crime. Assim, não existe crime de improbidade administrativa, na medida
em que a parte final do § 4° fala “sem prejuízo da ação penal cabível”.
A lei que regula essa previsão constitucional é a Lei n° 8.429, de 02 de junho de 1992. Esta é norma de
leitura obrigatória para todo servidor público. Nela, várias condutas são descritas como improbidade. Você tem
na lista de improbidade, por exemplo, o desvio de dinheiro, o desvio de equipamento (ex.: o policial que
usa viatura para fazer as compras de casa), o engavetamento de processo, a leniência do servidor, o servidor
que não aparece para trabalhar.
É muito comum, no exercício das atribuições, se ouvir o chamado exercício nocivo da função pública.
Basta lembrar-se do “QRU”, da carteirada no cinema, de uma paquerada ou uma contribuição para a caixinha
de natal do agente para que ele não preencha um formulário de notificação de trânsito. É importante dizer ainda
que, muitas vezes o profissional acha equivocadamente que não pratica a improbidade porque não se
enriqueceu, não obteve nenhuma vantagem. Contudo, de alguma forma causou dano ao erário, não observou
os princípios e regras.
Atenção!
Você tem que ter cuidado com essas listas porque elas são meramente exemplificativas. O rol de incisos
é enorme e é um rol exemplificativo.
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I - receber, para si ou para outrem, dinheiro, bem móvel ou imóvel, ou qualquer
outra vantagem econômica, direta ou indireta, a título de comissão, percentagem,
gratificação ou presente de quem tenha interesse, direto ou indireto, que possa ser
atingido ou amparado por ação ou omissão decorrente das atribuições do agente
público;
[...]
V - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou indireta, para
tolerar a exploração ou a prática de jogos de azar, de lenocínio, de narcotráfico, de
contrabando, de usura ou de qualquer outra atividade ilícita, ou aceitar promessa de
tal vantagem;
[...]
VII - adquirir, para si ou para outrem, no exercício de mandato, cargo, emprego ou
função pública, bens de qualquer natureza cujo valor seja desproporcional à
evolução do patrimônio ou à renda do agente público;
[...]
X - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou indiretamente,
para omitir ato de ofício, providência ou declaração a que esteja obrigado;
- Ato de improbidade que gera dano ao erário (art. 10, da Lei de Improbidade)
Durante uma abordagem policial, destacam-se os seguintes dispositivos:
Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário
qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio,
apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades
referidas no art. 1º desta lei, e notadamente:
[...]
II - permitir ou concorrer para que pessoa física ou jurídica privada utilize bens,
rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades
mencionadas no art. 1º desta lei, sem a observância das formalidades legais ou
regulamentares aplicáveis à espécie;
VII - conceder benefício administrativo ou fiscal sem a observância das formalidades
legais ou regulamentares aplicáveis à espécie;
[...]
XII - permitir, facilitar ou concorrer para que terceiro se enriqueça ilicitamente;
XIII - permitir que se utilize, em obra ou serviço particular, veículos, máquinas,
equipamentos ou material de qualquer natureza, de propriedade ou à disposição de
qualquer das entidades mencionadas no art. 1° desta lei, bem como o trabalho de
servidor público, empregados ou terceiros contratados por essas entidades.
- Ato de improbidade que gera violação a princípio da administração (art. 11, da Lei de
Improbidade)
Durante uma abordagem policial, destacam-se os seguintes dispositivos:
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Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios
da administração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de
honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade às instituições, e notadamente:
I - praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento ou diverso daquele
previsto, na regra de competência;
II - retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício;
III - revelar fato ou circunstância de que tem ciência em razão das atribuições e que
deva permanecer em segredo;
IV - negar publicidade aos atos oficiais;
Saiba mais...
A Escola Superior do Ministério Público da União – ESMPU editou uma obra intitulada “Cem Perguntas
e Respostas sobre Improbidade Administrativa Incidência e aplicação da Lei n. 8.429/1992” (Brasília, 2008).
Leia!!
Finalizando...
Neste módulo, você estudou que:
Boa parte das persecuções penais se originam durante a atuação dos profissionais de segurança
pública, abrangendo aí o emprego da busca pessoal, domiciliar ou veicular.
Várias são as ocorrências em que, no momento da abordagem, determinadas pessoas reagem à
atuação do agente policial. Dentre elas destacam-se: a desobediência; o desacato; a resistência, a corrupção
ativa e a contravenção penal.
a Lei n° 4.898/1965, objeto de nosso estudo, que “regula o Direito de Representação e o processo
de Responsabilidade Administrativa Civil e Penal, nos casos de abuso de autoridade”
O delito de abuso de autoridade é punido a título de dolo (intenção de praticar o ato), ou seja, o
autor da conduta tem consciência de que esteja exorbitando do poder.
No exercício de atividades para gerir a coisa pública, os bens e os interesses não se acham
entregues à livre disposição da vontade do administrador ou do servidor (MELO, 2010). Nesse sentido, “A
administração é atividade do que não é senhor” (Ruy Cirne Lima).
Probidade administrativa remete ao agir com honestidade, retidão, honradez. O servidor público
probo é leal, tem que ser bem intencionado, sempre agir com boa-fé, com retidão de conduta, obedecendo aos
princípios éticos, os princípios morais. Com efeito, se o agente público não observa essas exigências, estará
agindo com improbidade administrativa.
O ato de improbidade pode ser subdividido em três modalidades diferentes: Ato de improbidade
que gera enriquecimento ilícito (art. 9ª); Ato de improbidade que gera dano ao erário e Ato de improbidade que
gera violação a princípio da administração (art. 11, da Lei de Improbidade).
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Exercícios
1. Levando em consideração o que você estudou neste módulo, marque “V” para as alternativas
“VERDADEIRAS” e “F” para as alternativas “FALSAS”:
a. Para a configuração do crime de desobediência, é indispensável a existência de uma ordem,
prevista em lei e emitida por profissional de segurança pública com competência para a prática do ato.
b. No desacato não se exige que o ofensor e o policial estejam cara a cara, podendo estar em
recintos diferentes, mas próximos, sendo possível o próprio profissional de segurança ouvir o comentário ou
perceber a reação.
c. Haverá resistência quando alguém se utilizar de violência ou ameaça (não precisa ser grave) para
obstruir um procedimento policial, ainda que realizado por profissional incompetente.
d. Se a pessoa se dirige insistentemente verbalizando ao policial para “dar um jeitinho” ou “quebrar
o galho”, não há a corrupção ativa, porque não houve a oferta nem a promessa de vantagem indevida. De outro
lado, caso o policial dê “o jeitinho” e não pratica o ato que deveria, responderá por corrupção passiva
privilegiada (CP, art. 317, §2 º), tendo o particular como partícipe, em razão do induzimento. Agora, caso o
funcionário público não dê “o jeitinho”, o fato é atípico.
e. Não pratica abuso de autoridade o policial militar que, embora, sem uniforme e de folga, age, se
valendo da autoridade que lhe é investida.
2. De acordo com o que estudou, analise as sentenças a seguir e marque as alternativas corretas:
a. A recusa de dados sobre própria identidade ou qualificação prevista no art. 68 do Decreto-Lei n°
3.688, de 03/10/1941 (Lei das Contravenções Penais) só existe se o policial estiver no exercício de suas
atribuições por ocasião da solicitação ou exigência, do contrário, o fato é atípico.
b. Não existe constrangimento ilegal se a violência ou grave ameaça é empregada para evitar que
uma pessoa realize um ato imoral (prostituição).
c. Investigador que tortura suspeito para confessar um crime incorre na prática do crime de tortura
prova, posto que constrange alguém, com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento
físico ou mental com o fim de obter uma informação para ajudar na apuração de um delito.
d. Mesmo estando o agente em situação de flagrante delito, tornam-se necessários para acesso ao
seu domicílio, o mandado de busca e apreensão judicialmente autorizado, bem como o consentimento do
morador.
a. A violação de domicílio fica configurada quando, contra a vontade expressa ou tácita do morador,
o invasor ingressa na residência ou permaneça em casa alheia ou em suas dependências. A permanência é fator
indispensável para que se verifique a ocorrência do delito.
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b. Considerando a independência das instâncias (CF, art. 2º), existe possibilidade de uma decisão
no processo penal, que reconhece a inexistência de autoria de um delito, vincular um processo de natureza
disciplinar.
c. Investigador que tortura suspeito para confessar um crime incorre na prática do crime de tortura
prova, posto que constrange alguém, com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento
físico ou mental com o fim de obter uma informação para ajudar na apuração de um delito.
d. A doutrina diz que enquanto designativo técnico para improbidade administrativa, a
improbidade se caracteriza como o desvirtuamento da função pública. Em outras palavras, o que o servidor
pratica, ao não observar as diretrizes e as exigências do exercício da função pública, é o desrespeito à ordem
jurídica. Com esse comportamento, o agente público incorre em duas coisas: desrespeito à função pública e
violação à legalidade, portanto, à ordem jurídica.
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Gabarito
89
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SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. 5ª Turma. Habeas Corpus Nº 172.525 – MG. Rel.: Min. Adilson Vieira
Macabu. Julgado em 12 jun. 2012.
___________. 5ª Turma. Resp. 491.212- RS. Rel. Min. José Arnaldo da Fonseca. Julgado em 07 out 2003,
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___________. Acórdão: ROMS 15628/GO: Recurso Ordinário em Mandado de Segurança 2002/0157331-
7.
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, HC 81305, Relator(a): Min. ILMAR GALVÃO, Primeira Turma, julgado em
13/11/2001, DJ 22-02-2002 PP-00035 EMENT VOL-02058-02 PP-00306 RTJ VOL-00182-01 PP-00284.
___________. 2ª Turma, RHC nº 90.376/RJ. Rel.: Min. Celso de Melo. Julgado em 03 abr. 2007.
___________. 2ª Turma. HC 59676, Relator(a): Min. DJACI FALCAO, julgado em 16/04/1982, DJ 07-05-1982
PP-04269 EMENT VOL-01253-01 PP-00114.
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE MINAS GERAIS. Processo nº 1.0000.00.283122-0/000(1). Relator: ALMEIDA
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TRIBUNAL REGIONAL FEERAL DA 1ª REGIÃO. 3ª Turma. RCCR 200733000111970, Rel.: Des. Federal
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