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Rousseau Nova Heloisa PDF
Rousseau Nova Heloisa PDF
JÚLIA
segunda edição
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JEAN-JACQUES ROUSSEAU A-�;..... -<......._
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(1712-1778)
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EDr: oRAHUCITEC
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levianamente todos os seus negócios mas dizem livremente todas a s suas
máximas. A mesa, durante o passeio, em conversa particular ou diante de
todo mundo, usa-se sempre a mesma linguagem; diz-se com ingenuidade o
que se pensa sobre cada coisa e, sem pensar cm ninguém, cada um encontra
sempre alguma instrução. Como os empregados nunca vêem o patrão fazer
alguma coisa que não seja reto, justo, equitável, não encaram a justiça
como o tributo do pobre, como o jugo do ip feliz, como uma das misérias
de sua condição. O cuidado que se tem em ·não fazer os operários andarem
em vão e perderem dias para vir solicitar o pagamento de suas jornadas,
acostuma-os a sentir o preço do tempo. Vendo o cuidado dos patrões com n
criá-la. Sabem perfeitamente que sua mais segura fortuna está ligada à W<
do patrão e que nunca lhes faltará nada enquanto virem prosperar a casa. rcti
Servindo-a, cuidam portanto de seu patrimônio e o aumentam tornando fos:
seu serviço agradável; é este seu maior interesse. Mas esta palavra está
deslocada aqui, pois nunca vi uma organização cm que o interesse fosse tão pct
408
sabiamente dirigido e onde, contudo, influísse menos do que nesta. Tudo
se fn por afeição, dir-sc-ia que essas almas ve nais purificam se ao entrar
-
Carta XI
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A Mll.ORDt. t.DUARDO i;(;'!J:/f.,).
-4.
Não, Milorde, não estou me desdizendo, nada se v� nesta casa que não
assoc:e o agradável ao útil, mas as ocupações úteis não se limitam aos
trabalhos que trazem proveito, compreendem ainda todo o divertimento • 1
lugar. A espessa folhagem que o rodeia não permite que a vista penetre e
está sempre cuidadosamcncc fechado 2 chave. M.al cncrci, por estar a porta
escondida por amieiros e avcleiras que somente deixam duas estreitu
passagens de ambos os lados, ao volcar-mc não vi mais por-onde entrara e,
não percebendo nenhuma porta, cnconcrci-me lá como se tivesse caldo du
nuvens.
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Ao �trar ncssu_rctcnso pomar, sc�i-me atingido por uma agradável
sensação de frcscor que obscuras sombras, uma verdura animada e viva,
flores esparsas P?J todos os lados, um murmúrio de água corrente e o canto
de mil pássaros trouxeram à minha imaginação pelo menos tanto quanto
.aos meus sentidos; mas, ao mesmo tempo, julguei ver o lugar mais selva
gem, mais solitário da naturc1a e parecia-me ser o primeiro mortal a ter
alguma vc1 penetrado nesse deserto. Surpreso, impressionado, arrebatado
por um espetáculo tão pouco previsto, permaneci um momento imóvel e
exclamei num entusiasmo involuntário: Ó Tinia, ó Juan Fernandes1! Júlia,
o limite do mundo está ao vosso alcance! Muitas pessoas também pensam
como vós, disse ela com um sorriso, mas vinte passos os levam de volca bem
depressa a Clarens: vejamos se o encanto durará por mais tempo cm vós.
Este é o mesmo pomar em que passeastes outrora e onde combatíeis com
minha prima a golpes de pêssegos. Sabeis que a relva era bastante árida, as
árvores bastante espaçadas, dando pouca sombra e que .g!_o havia água. Ei
lo agora fresco, verde, vestido, enfeitado, florido, banhado: o que pênsais
que me custou para pô-lo no estado cm que se encontra? Pois é bom dizer
vos que sou sua superintendente e que meu marido deixa-me sua completa
organiução. Para db:er a verdade, disse-lhe, ele só vos custou um pouco de
negligência. Este lugar é encantador, é verdade, mas agreste e abandonado,
nele não vejo trabalho humano. Fechastes a porta, a água veio não sei:
como, somente a natureza fez o resto e vós mesma nunca teríeis sabido agir
cão bem quanto da. � verdade, disse, que a natureza fez tudo, mas sob a
minha dirc ão e nada há aqui que cu não ccn a or a o. ais uma vc1,
.adivinhai: cm primeiro lugar, repliquei, não compreendo como, com
trabalho e dinheiro, pode-se substituir o tempo. As árvores ... quanto a isso,
disse o Sr. d.e Wolmar, notareis que não há muitas de grande porte e essas
ji existiam. Além disso, Júlia começou cudo isso hi muito tempo, antes de
seu cuamenco e quase logo após a morce da mãe, quando veio com seu pai
procurar aqui a rolidão. Pois bem, disse eu, visco que quereis que todos
estes ma�s. est�s grandes-caramanchões, essas ramagens suspensas, estes
bosquczinhos tão bem protegidos tenham crescido cm sete ou oito anos e
1
várias dessas plantas fincassem suas raízes nos troncos das árvore1, de
maneira que se estendiam mais fazendo um trajeto menor. Imaginais bem
que os frutos pouco ganham com todos esses acr�scimos mas somente neste
' 1
1
1
do-a agora, vejo que desejais hóspedes e não prisioneiros. Que chamais
hóspedes? respondeu Júlia. Somos nós que somos seus hóspedes. Eles
aqui são os pacrões e nós lhes pagamos criburo para sermos suporcados
algumas vezes. Muiro bem, retruquei, mas de que maneira estes patrões se
1
1 apoderaram deste lugar? Qual o meio de\, reunir aqui tancos moradores
voluntários? Não ouvi dizer que se tenha alguma vez tentado algo seme·
!bante e não teria acreditado que se pudesse consegui-lo se não tivesse a
prova diante dos olhos.
.
A paciência e o tempo, disse o Sr. de Wolmar, fizeram este milagre.
São expedientes nos quais as pessoas ricas quase não pensam , em seus
prazeres . Sempre com pressa de gozar, a força e o dinheiro são os únicos
meios que conhecem, possuem pássaros nas gaiolas e amigos a tanto por
mês. Se um dia os criados se aproximassem deste lugar, veríeis em breve os
pássaros desaparecerem e se agora estão aqui em grande número é porque
sempre os houve. Não os fazemos vir quando não há nenhum mas é fácil,
quando há alguns, atrair mais outros, antecipando todas as suas necessi
dades, não os assustando nunca, deixando-os chocar em segurança e não
desalojando os filhotes, pois então os que aqui estiverem ficam e os que
chegam permanecem também. Este arvoredo existia embora estivesse sepa
rado do pomar. Júlia apenas o rodeou com uma sebe viva, retirou a que o
separava, aumentou-o e ornou-o com novos pés. Estais vendo à direita e à
esquerda da alameda que conduz a ele dois espaços preenchidos por uma
mistura confusa de ervas, de palhas e de toda espécie de·plantas. Cada ano
m anda plantar trigo, milho-miúdo, girassol, sementes de dnhamo, p'ltt•
ttr, geralmente todos os grãos de que os pássaros gostam e não se colhe
nada. J..lém disso, quase todos os dias, no verão e no inverno, ela ou eu lhes
tiaz.emos comida e quando não vimos Fanchon geralmente nos substitui:
tem água a alguns passos,.como estais vendo. A Sra. de Wolmar leva o cui
dado até ao ponto de provê-los, a cada primavera, de pequenas porções de
crina, de palha, de lã, de musgo e de outras matérias próprias para fazer
ninhos. Com a vizinhança dos materiais, a abundância de víveres e o
grande cuidado que tomamos em afastar todos os inimigosl, a eterna
tranqüilidade de que gozam leva-os a pôr ovos num lugar agradável onde
nada lhes falta, onde ninguém os perrnrba. Eis como a pátria dos pais é
ainda a dos filhos e como a tribo se mantém e se multiplica.
1 Ervilhaca. (N .A.)
1 01 lcit6a, 01 camundongos, as corujas e sobretudo as crianças. (N.A.)
414
Ah!, disse Júlia, n ão vedes mais nada! cada um só pensa agora cm si,
mas esposos inseparáveis, o z.clo das ocupações domésticas, a ternura
paterna e materna, perdestes tudo isto. Era preciso estar aqui há dois meses
para oferecer aos olhos o mais encantador dos espetáculos e ao coração o
mais doce dos sentimentos da natureza. Senhora, repliquei com bastante
tristeza, sois esposa e mãe, são prazeres que cabe a vós conhecer. Imedia
tamente, o Sr. de Wolmar, tomando-me pela mão, disse-me ao apertá-la:
tendes amigos e estes amigos têm filhos, de que maneira a afeição paterna
vos seria estranha? Olhei-o, olhei Júlia, ambos se olharam e me devolve·
rarrflum olhar tão comovente que, abraçando-os um depois do outro disse
lhes com enternecimento: des me são tão caros quanto a vós. Não sei por
qual bizarro efeito uma palavra pode assim transformar uma alma mas,
desde esse momento, o Sr. de Wolmar parece-me um outro homem e vejo
nele menos o marido daquela que canto amei do que o pai de duas crianças
pelas quais daria a minha vida.
Quis dar a volta ao tanque para ir ver de mais perco esse encanta
dor asilo e seus pequenos habitantes, mas a Sra. de Wolmar me reteve.
Ninguém, disse ela, vai perturbá-los em seu domicilio e sois mesmo o
primeiro de nossos hóspedes que eu trouxe até aqui. Há quatro chaves
desse pomar das quais meu pai e nós temos uma cada um, Fanchon tem a
quarta, como inspetora e para trazer às vezes meus filhos, favor cujo preço
é aumentado pela extrema circunspecção que se exige deles enquanto es
tão aqui. O próprio Gustin só entra com um dos quatro; mesmo assim,
dois meses depois da primavera, quando seus trabalhos têm utilidade, de
quase não entra mais e o resto é feito entre nós. Assim, disse-lhe, por
medo de que vossos pássaros não sejam vossos escravos, vos tornastes es·
cravos deles. Exatamente, replicou ela, as palavras de um tirano que so·
mente julga gozar de sua liberdade à medida que perturba a dos outros.
Ao partirmos para voltar, o Sr. de Wolmar atirou um punhado de
cevada dentro do tanque e ao olhar percebi nele pequenos p eix es Ah, ah!
.
disse logo, aqui há, contudo, prisioneiros? Sim, disse ele, são pris ion e i·
ros de guerra, aos quais conservamos a vida. Sem dúvida acrescentou sua
,
415
tastes-me ao Eliseu. O nome pomposo que ela deu a este pomar, disse o Sr.
de Wolmar, merece realmente esta zombaria. Louvai moderadamente es·
tas infantilidades e pensai que nunca prejudicaram a mãe de família. Sei·
o, repliquei, tenho toda a certeza e as infantilidades me agradam mais
neste sentido do que os trabalhos dos homens.
Contudo, há aqui, continuei, uma coisa que não posso compreender.
É que um lugar tão diferente do que �ra sÓ pode ter-se cornado o que é com
cultivo e cuidados, todavia, não vejo em parte alguma o menor tr�ço de
cultivo. Tudo é verdejante, fresco, vigoroso e a mão elo jardineiro não
aparece: nada desmente a idéia de uma Ilha: deserta que me veio à mente
ao entrar e não percebo nenhum passo humano. Ah! disse o Sr. de.>Wolmal' ·
1 Assim, não se trata desses pequenos bosqua:inhos que estão na moda, tão ric!icula
mcntc contornados que só se pode caminhar cm zigue-:iaguc e que, a cada p JO, 4
preciso faur uma pirueta. (N.A.)
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\
dveis e que desfiguram quando estão ao seu alcance: ela foge dos lugares
freqüentados, é no cume das montanhas, no fundo das florestas, nas Ilhas
d erras que ela ostenta seus mais emocionantes encantos. Os que a amam
e que nlo podem ir procurá-la tão longe estão reduzidos a violentá-la, a
· forçá-la, de algum modo, a vir morar com eles, e tudo isso não pode ser ,
feito sem ulll"pouco de ilusão.
A essas palavras veio-me uma idéia que os fez rir. Imagino, diss�-lhes,
um homem rico, de Paris ou de Londres, dono desta casa e� q�e trouxesse·
co� ele' um Arquiteta a quem pagasse um alto preço para estragar a
:)
�atureza. Com que desdém entraria neste lugar. simples e pequeno! com
que desprezo mandaria arrancàr todas estas ninharias! Que belos ali
'
nhamentos faria! Que belas avenidas mandaria abrir1• Que belas encruzi
'
lhadas, que bela� árvores em forma de guarda-sol, de leque! Que belos
gradeamentos bém cinzelados! Que belas alamedas arborizadas, bem dese
nhadas, bem esquadriadas, bem contornadas! Que belos relvados de fina
relva da Inglaterra, redondos, quadrados, em meia lua, ovais! Que belos
Teixos recortados em forma de dragões, de pagodes, de figuras grotescas,
de todo tipo de monstros! Que belos vasos de bronze, que belas frutas de
pedra com os quais ornará seu jardim!. . 2 Quando tudo isso estiver execu
.
tado, disse.o Sr. de Wolmar, terá feito um local belíssimo onde quase não
se irá e de onde sempre se sairá apressadamente para ir procurar o campo,
um lugar triste onde não se passeará mas por onde se passará para ir
passear, enquanto em minhas andanças pelo campo apresso-me muitas
vezes cm voltar para vir passear aqui .
. Nessas terras tão vastas e tão ricamente ornadas vejo apenas a vaidade
do proprietário e do artista que, sempre apressados em ostentar, um sua
riqueza e outro seu talento, preparam, com grandes despesas, tédio para
quem quer que deseje gozar de sua obra. Um falso gosto pela grandeza
que não é feita para o homem envenena seus prazeres. O ar faustoso é
sempre triste, faz pensar nas misérias de quem o procura. Em meio a seus
canteiros e a suas grandes alamedas, sua pequena pessoa não cresce, uma
úvore de vinte pés cobre-o como um de sessenta3, ocupa sempre apenas
-1 Nesta carta Rousseau opõe o jardim à inglesa, no caso o Eliseu, ao jardim clúsico
francês. (N.T.)
1 Estou persuadido de que está perto o momento cm que não mais se desejará, nos
jardins, o que se encontra no campo; não se suportarão mais nem plantas, nem
arbustos, somente desejar-se-ão flores e figuras de porcelana, gradeamentos, areia de
todas as cores e belos vasos cheios de nada. (N.A.)
' Ele devia, de fato, estender-se um pouco sobre o mau gosto de podar as llrvores de
maneira ridlcula, para lançá-las nas nuvens, retirando-lhe seus belos topos, suas
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seu espaço de três pés e perde-se como um pobre coitado em seus imens 1
domínios.
Há um outro gosto diretamente oposto a esse e mais ridículo aind
pois não deixa nem mesmo goiar do passeio para o qual os jardins
feitos. Compreendo, disse-lhe, é o desses pequ�nos curiosos, desses pe·
quenos floristas' que desfalecem diante de u m ranúnculo e se prosternam
�
diante das tulipas. Nesse momento, contei-lhe, Milorde, o que me acon,•
tecera outrora, e m Londres, nesse jardim de flores no qual fomos intro·
duúdos com canto aparato e onde vimos brilhar cão pomposamente todo1
os tesouros da Holanda sobre quatro camadas de estrume. Não esqueci a
cerimônia do guarda-sol e da varinha com que me honraram, a mim,
indigno, assim como aos outros espectadores. Confessei-lhes humilde
mente como, tendo desejado esforçar-me por minha vez e correr o risco de
extasiar-me à vista de uma tulipa cuja cor pareceu-me viva e a forma
elegante, fui escarnecido, apupado, vaiado por todos os Sábios e como o
professor do jardim, passando do desprezo da flor ao do panegirista, tilo
se dignou mais olhar-me durante toda a permanência. Penso, acrescentei,
que lamentou muito sua varinha a seu guarda-sol profanados.
Esse gosto, disse o Sr. de Wolmar, quando degenera em mania, tem
algo de mesquinho e de fa!so que o torna pueril e ridiculamente dispen•
dioso. O- outro, pelo menos, tem nobreza, grandeza e algum tipo de
verdade; mas o que é o valor de uma raiz ou de uma cebola, que um insem
rói ou destrói talvez no momento cm que a regateamos ou de uma flor,
preciosa ao meio dia e mur.cha ao pôr do -sol, o que é uma beleza convcn•
cional que só é sensível aos olhos dos curiosos e que só é bela porqae
querem que o seja? Pode chegar o momento etn que se procurará 01$ flora
exatamente o contrário do que se procura hoje e com a mesma razio, endo
sereis o douto, a vosso turno, e vosso curioso será o ignorante. Todas asai
pequenas observações que degeneram em estudo absolutamente"O'io coa
vêm ao homem sensato que quer dar a seu corpo um exercício moderado OI
descansar seu espírito durante o passeio, conversando com os amigos. AI
flores são feitas para distrair nossos olhares, de passagem, e não para serem
�
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tio �uriosamcmte analisadas'. Vede brilhar sua Rainha em toda pane nes
e pomar. Ela perfuma o ar, ela encanta os olhos e quase nio custa nem
e idados ncin cultivo. � por isso que os floristas a desprezam; a natureza a
fei tio bela que eles nio lhe poderiam acrescentar belezas de convenção e,
ri,io podendo fatigar-se cm cultivá-la,p ada encontram nela que os delei
te. O em>. das pretensas pessoas de g o{to é o de que.rer arte por toda pane
e o de nunca estar contentes enquanto a arte não se mostrar, e�quanto o
verdadeiro gosto consiste em escondê-la, sobretudo quando se trata das
obras da nacurcza. Que significam essas alamedas cão retas, tão areadas
que se encontram continuamente e essas encn�zilhadas através das quais,
bem longe de estender diantê dos olhos a dimensão de um parque, como
se imagina.ria, mostram-se apenas, desajeitadamente, seus limites? V�-se
nos bosques areia dos rios ou os pés repousam com mais suavidade nessa
areia do que sobre o musgo ou o relvado? A natureza usa continuamente o
esquadro e a régua? têm medo de que não seja reconhecida em alguma coi
sa apesar dos cuidados que têm em desfigurá-la? Enfim, não é engraçado
1 O s'bio Wolmar não havia observado bem. Ele, que sabia tio bem examinar os
homens, teria tão mal examinado.• natureza? lgnonva que se seu Autor� grande nas
gnndcs coisas,� muitq grande nas pequenas? (N.A.)
419
cicntcmcntc satisfeitos com o que os rodeia, lança mão
para diverti-los, mas o homem de que falo não tem essa aflição e quando•
sente bem onde está não se preocupa crn estar cm outro lugar. Aqui, r
exemplo, não se tem perspectiva para fora e estamos muito contentes por
não ce-la. Pensaríamos de boa vontade que todos os encantos da naturc·
za estão encerrados aqui e cu tcmeri.f muito que a menor perspectiva para
o exterior não retirasse muitos dos atrativos deste passeio'. Certamente
todo homem que não goste de passar belos dias num lugar tão simples e
tão agradável, não possui um gosto puro nem uma alma sã. Confesso que
não se devem levar com solenidade os estranhos mas, cm compensaçfo,
nele podemos comprazermos a nós mesmos sem mostrá-lo a ningu�m.
Senhor, disse-lhe, essas pessoas tão ricas que fazem tão belos jardin1,
possuem muito boas razões para não gostarem de passear sozinhas, nem
para se encontrarem a sós consigo mesmas: assim, fazem muito bem nesse
ponto em somente pensar nos outros. De resto, vi na China jardins como
os que desejais e feitos com canta arte, que a arte não era percebida, mas de
maneira tão dispendiosa e mantidos com tal custo, que essa id�ia retira·
va-me todo o prazer que poderia ter tido em ve-los. Eram rochas, grutu,
cascatas artificiais em lugares planos e arenosos onde só existe água_ de
poço; eram flores e plantas raras de todos os climas da china e da Tarúria,
reunidas e cultivadas num mesmo solo. Na verdade, não se viam nembelu
alamedas nem desenhos regulares, mas viam-se profusamente acumula•
das· maravilhas que só são encontradas espalhadas e separadas. A natureza
apresentava-se sob mil aspectos diversos e todo o conjunto não era nata·
ral. Aqui não se transportaram nem terras nem pedras, não foram fcitOI
nem bombas nem reservatórios, não há necessidade nem de estufas nem de
fornos, nem de redomas nem de esteirões. Um terreno quase liso recetieu
ornamentos muito simples. Ervas comuns, arbustos comuns, alguns filetes
de água corrente, sem arranjos, sem violencia, foram suficientes para em•
1 Não sei se já se tentou dar, às longas alamedas de uma. encruzilhada, uma lne
curvatura de maneira que a vista nio possa seguir totalmente cada alamedaª" o fia
e de maneira que a extremidade oposta esteja escondida ao espectador. Perder•IC•Íllll,
é verdade, os atracivos dos pontos de vista, mas ganhar-se-ia a vantagem tio cara_
proprietários de aumentar, para a imaginação, o lugar cm que se csd e, no cenuo de
uma encruzilhada bastante limitada, imaginar·nos-lamos perdidos n u m parque imcmo.
E.stou persuadido de que o passeio seria assim menos aborrecido, embon·a.i.
solitário, pois tudo o que provoca a imaginação excita a.s idéias e alimenta o csplril!IS
mas os fazedores de jardins não são pessoas capazes de sentir essu coisu. QIWltllt
veza, num lugar selvagem o lápis lhes cairia das mãos, como caiu das mlol ele Le
No/ue no parque de St. James, se conhecessem como ele o que_ dá vida l 11u11111u
interesse a seu espetS.culo? (N.A.)
420
belezá-l o' . É um trabalho sem esforço cuja facilidade dá ao espectador u m
"1.
'no o prazer. Sinto que este l ugar poderia ser ainda mais agradável e
,
agr dar-me infinitamente menos . .e_ o caso, por exemplo, do célebre parque
de Milorde Cobham em S taw. É um conjunto de l u gares belíssimos e
muito pitorescos, cujos aspectos foram escolhid cp em diferentes países e do
qual tudo parece natural exceto sua reunião, co rli. o nos jardins da China de
que acabo de falar-vos. O dono e o criador ,dessa maravilhosa solidão, nela·
fei mesmo construir ruínas, templos, a� tigas construções e tanto as épocas
quanto os lugares nela estão reunidos com uma magnif icência· mais do que
humana. Eis, exatamente, do que me queixo. Gostaria que os divertimen
tos dos homens tivessem sempre um ar agradável que não fizesse pensar
em sua fraqueza e que, ao admirar essas maravilhas, não se tivesse a cabeça
cansada com as somas e os trabalhos que custa�am. A sorte já nã'o nos dá
penas suficientes sem pô-las até em nossos diverti�entos?
;Censuro apenas uma coisa a vosso Eliseu, acrescentei o lhando Júlia,
ma$ que vos parecerá grave, é de ser um divertimento supérfluo. Para que
cri'ar um novo passeio tendo, do outro lado da casa, bosquezinhos tão
encantadores e tão desprezados? É verdade, disse ela um pouco embaraça
di, _mas p refiro isco. Se tivésseis bem pensado em vossa pergunta, antes d �
fü�la, interro m peu o Sr. de Wolmar, ela seria mais do que deslocada.
Desde seu casamento, m inha mulher nunca pôs os pés nos bosquezinhos
de que falais. Conheço a razão, e m bora ela sempre ma tenha calado. Vós,
que não o ignorais, aprendei a respeitar os l ugares em que vos encontrais,
eles são p laneados pelas mãos da virtude.
VMal recebera essa justa reprimenda, a pequena família, trazida por
Fan.chon, entrou enquanto saíamos. Essas três encantadoras crianças ati
raram-se ao pescoço do S r . e da S ra. de Wolmar. Tive meu quinhão de
seu,s.. pequenos afagos. Voltamos, Júlia e eu, para o Eliseu, dando alguns
passos com eles, depois fomos nos juntar ao Sr. de Wolmar que falava a
alguns operários. No caminho, ela me disse que depois dê ter-se tornado·
mãe tivera, sobre esse passeio, u m a idéia que aumentara seu zelo em
embelezá-lo . Pensei, disse-me, no divertimento de meus filhos e na sua
saúde quando forem maiores. A manutenção deste l u gar exig� maiores cui
dados do que trabalho; trata-se antes de dar certo contorno aos ramos
das.plantas do que de cavar e arar a terra; quero fazer deles, um dia,
meus pequenos jardineiros: terão suficiente exercício para reforçar o corpo
mu, não tanto para cansá-lo. Aliás, mandarão fazer o que for demasiado
penoso para sua idade e limitar-se-ão ao trabalho que os divertirá . Nlo
11beçia dizer-vos, acrescentou, que doçura s i n to ém imaginar meus filhos
ocueados em devolver-me todas as pequenas atenções que tenho por eles
421
com tanto prazer e a alegria de seus ternos corações, vendo sua mle passear
com prazer sob estas sombras cultivadas pelas mlos deles. Na verdade, meu
amigo, disse-me com voz comovida, dias vividos dessa maneira parecem
felicidade da outra vida e n o � sem railo que, pensando nisso, dei de
antem ã o a este lugar o nome de Eliseu. Milorde, esta incom paráv�I mu
lher é mãe como é esposa, como é amiga, como é filha e, para eterno
suplício de meu coração, foi ainda assim q ue foi amante .
Entusiasmado c o m u m lugar t ã o encantador pedi-lhes, à noite, que
aceitassem que durante minha estada em sua casa F anchon me entregasse
sua chave e o trabalho de alimentar os pássaros, J úlia enviou logo ao meu
quarto o saco de grãos e deu-me sua própria chave. Não sei por que a rece
bi com uma espécie de tristeza: pareceu-me que teria p re fe rido a do Sr. de
Wolmar.
Hoje, levantei-me cedo e, com a pressa de uma criança, fui encerrar
me na Ilha deserta. Quantos agradáveis pensamentos esperava levar para
esse lugar solitário onde unicamente o doce aspecto da natureza devia
expulsar de minha lembrança toda essa ordem social e factlcia que me
tornou tão i n feliz! Tudo o que vai envolver-me é obra daquel a que me
foi tão cara. Contemplá-la-ei ao meu redor. Nada verei que sua m ã o não
ten ha tocado, beijarei flores que seus pés tiverem p isado, respi rarei com o
orvalho um ar que ela respirou, seu gosto e m seus divertimentos tornar
me-á presentes todos os seus encantos e encontrarei em toda p a rte como
ela é no fundo do meu coração.
Ao entrar no Elise!l com essas disposições lembrei-me subitamente das
últimas palavras que me disse ontem o Sr. de Wol mar mais ou menos no
mesmo lugar. A lembrança dessas únicas palavras transformou imediatamen
te todo o estado de m i nha alma. Julguei ver a i magem da virtude onde pro
curava a do prazer. Essa imagem confundiu-se em meu espírito com os tra
ços da Sra. de Wolmar e, pela p rimeira vez desde minha volta, vi Júlia em
sua ausência, não tal como foi para mim e como gosto de imaginá-la, mas
tal como se mostra aos meus olhos todos os dias. M ilorde, julguei ver esta
mulher tão encantadora, tão casta e tão virtuosa no centro desse mesmo
cortejo que a rodeava ontem . Via ao seu redor seus três adoráveis filhos,
hon rado e precioso pe n h or da un ião conjugal e da terna amizade, fazer-lhe
e receber dela m i l emocionantes atenções. Via a seu lado o grave Wolmar,
este Esposo tão caro, tão feliz, tão digno de sê-lo. Julgava ver seu olhar pe
netrante e judicioso entrar no fundo do meu coração e fazer-me ainda sen
tir envergonhado; jul gav� ouvir sair de sua boca censuras por dem ais mere
cidas e lições por demais mal ouvidas. Via em seguida essa mesma Fanchon
Regard, viva p rova do triunfo das virtudes e da humanidade sobre o mais
422
ardente amor. Ah! que senti ment.°i cul pado teria penetrado até ela através
desse inviolável cortejo? Com que indignação teria abafado os vis arrebatamen
tos de uma paixão cri m i nosa e mal extin tas e quanto me teria desprezado •
por macular co m um ún ico susp iro um tão encan tador quadro de inocência
e de honestidade! Repassava cm m inha memór i � as palavras que e l a me dis
sera ao sair, depois, remon tando com ela para \i m fu turo que co ntem pla .
com tanto encanto, via esta terna mãe �nJiugar o suor da cesta de seus fi
lhos, beijar suas faces i n fl amadas e entregar esse coração feito eara amar ao
mais doce sentimento da natureza. Até mesmo o nome Eliseu corrigia em
mim os desvios da imaginação e trazia à m i n h a alma uma calma p referível
à perturbação das paixões m a is sedutoras. Ele me pin tava, n u m cerco sen
tido, o in terior daquela que o encontrara, pensava que, com uma cons
ciência agitada n unca se teria escolhido aquele nome. Dizia a mim mesmo:
a paz rein a no fundo d e seu coração como no asi l o a que deu o nome.
P rometera a mim mesmo um devaneio agradável , sonhei mais agrada
vel mente do que esperara. Passei duas horas no Eliseu às quais não pre fi ro
nenhuma época de mi nha vida. Vendo com que encanto e com que rapidez
elas haviam-se escoado, j u lguei que há na medicação dos pensamentos_
honestos uma espécie de bem -estar que os maus nunca conheceram, é o de
comprazer-se consigo m es m o . Se pensássemos n isso sem p revenção, não
sei que outro prazer poderíamos igualar a ele. Sinto, pelo menos, que quem
quer que goste tanto quanco eu da solidão deve temer encontrar nela
tormentos. Talvez se extraia dos mesmos principias a chave dos falsos
julgamentos dos homens sobre as vantagens do vício e sobre os da virtude:
pois o gozo da virtude é cocal mence i n terior e só é percebido por aquele q'u c
o sente, m as todas as van tagens do vicio i m press,i onam os o lhos alh � ios e
somente aquel e que as cem sabe o que lhe custam.
"Se a ciascun /' interno affenno
Si ieggesu in fronte scritto,
Quanti mai, che lnvidia Janno,
Ci farebbero pietà? ' , 2
1 "Se de cada um o secreto rormenco/Se lesse escrito na fronte/ Quantos há, que causa.m ·
i nveja/ Nos fâriam pena?" Mecascásio, Giuuppt ricanouinta. (N.T.)
1 Ele reria podido acrescentar a contin uação, que é muito bon i ta, e não convém men os .
ao assunto:
"SivttÍria cht i lor ntmici
Anna in uno, t Ji riJ1ut
Ntl partrt a nai foliei
O:ni lar ft/icità (N.A.)
•.
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Como era tarde, sem que cu o percebesse, o S r . de Wolmar veio juntar·
se a mim e advertir-me de que Júl i a e o chá me esperavam . Sois vós, disse·
lhes desculpando-me que me i mpedíeis de estar convosco: senti-me tio
encantado com minha tarde de ontem que voltei para gozá-la esta manhã;
felizmente não há mal nisso e, visto que me esperastes, minha manhã não
está perdida. É exatamente isro, respondeu a S ra. de Wol mar, ser ia prefe·
ct'
rível esperar até o meio-dia a per e r o prazer de tomarmos juntos o
desjejum. Os estranhos n u nca sio admitidos pela m anhã cm meu quarto e
tomam o desjej um no seu. O desj ej um é a refeição dos a migos, os criados
dele estão excluídos, os imporrunos n ão aparecem, diz-se tudo o que se
pensa, revelam-se todos os segredos, nenhum sentimento é reprimido,
podemos entregar-nos sem i mprudência às doçuras da confiança e da
familiaridade. É quase o ún ico momento cm que é perm i tido ser o que se
é, ah! se durasse o dia i nteiro! Ah! Júlia, estive a ponto de dizer, eis um
desejo bem interessado! mas calei-me. A primeira coisa que eliminei, com
o amor, foi o louvor. Louvar alguém cm sua presença, a menos que não se
trate da p rópria amante, será outra coisa senão dar um preço à vaidade?
Sabeis, Milorde, se é à Sra. de Wol mar que se pode fazer tal censura. Não,
não, honro-a demais para não honrá-la cm silêncio. Vê-la, ouvi la, obser
var sua conduta n ão é louvá-la suficientemente?
Carta XII
Está escrito, cara amiga , que deves ser, em todas as épocas, minha
salvaguarda · Contra mim mesma e que, após ter-me libertado com tanto
trabalho das armadilhas de meu coração, defender-me-ás ainda das de
minha razão. Após tan tas provas cruéis, ap rendo a desconfiar dos erros "·
como das paixões das quais são com tanta freqüência as o bras. A h ! se tivesse
tido sempre a mesma precaução! Se no passado tivesse contado menos com
m i n has luzes, ter-me-ia envergonhado menos dos meus sentimentos. ,
Que este preâmbulo não te alarme. Seria indigna de rua amizade se
tivesse ainda de consultá-la sobre assuntos graves. O crime sempre foi
estranho ao meu coração e ouso julgá-lo mais afastado do que nunca.
Escuta-me, pois, tranqüilamente, m i nh a Prima, e crê que nunca precisarei
dos conselhos que a honestidade sozinha pode resolver.
Desde que vivo, há seis anos, com o Sr. de Wolmar na mais perfeita
união que possa reinar entre dois esposos, sabes que ele nunca me falou
nem de sua famflia nem de sua pessoa e que, tendo-o recebido de um pai
tão cioso da fel icidade de sua filha do que da honra de sua casa, não mostrei
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pressa cm saber a seu respeito �ais do que ele julgasse oportuno dizer-me.
Contente· por dever-lhe, com a vida daquele quer a deu, minha honra,
meu sossego, minha ruão, meus filhos e tudo o �uc pode dar-me algu�
valor a meus olhos, estava bem segura de que o que ignorava dele não
desmentiria o que sabia e não precisava saber mais para amá-lo, estimá-lo,
honrá-lo tanto quanto fosse possível. ,
Esta maf!hã, ao desjejum, ele nos propôs um passeio antes d.o calor;
depois; com o pretexto de, dizia, não' andar pelo campo de roupão, levou
nos aos bosquezinhos e precisamente, minha cara, a esse mesmo bosquezi
nho onde começaram todas as infelicidades de minha vida. Ao aproximar
me desse lugar fatal senti me� coração bater horrivelmente e teria recusado
entrar se a vergonha não me tivesse retido e se a lembrança de algumas
palavras que foram ditas no outro dia no Eliscu não me tivessem feito
temer as interpretações. Não sei se o filósofo estava mais tranqüilo mas,
tendo-o olhado pouco depois, por acaso, achei-o pálido, mudado, e não
posso dizer que sofrimento tudo isso me causou.
Ao entrar no bosquezinho vi meu marido olhar-me e sorrir. Sentou-se
entre nós e, após um momento de silêncio, tomando-nos ambos pela mão:
meus filhos, disse-nos, começo a ver que meus projetos não serão vãos �
que poderemos estar unidos, os três, por uma afeição duradoura, própria a
fazer nossa felicidade comum e minha consolação nas dificuldades de uma
velhice que se aproxima: mas conheço-vos a ambos melhor do que me
conheceis, é justo tornar as coisas equivalentes e, embora não tenha nada
de muito interessante e dizer-vos, visto que não tendes ·mais segredos para
. mim, não quero mais tê-los para vós.
Então revelou-nos o mistério de seu nascimento que até agora só meu
pai conhecera. Quando o souberes compreenderás até onde vão o sangue
frio e a moderação de um homem capaz de calar por seis anos um tal se
gredo à sua mulher; mas este segredo nada é para ele e pensa nele �uit!)
pouco para que faça um grande esforço calando-o
Não vos deterei, disse, nos acontecimentos de m inha vida, o que pode
interessar-vos é ,conhecer menos minhas aventuras do que meu car�ter.
Elas são simples como ele e, sabendo bem o que sou, compreendereis
facilmente o que pude fazer. Tenho naturalmente uma alma tranqüila e o
coração frio. Sou esse tipo de homem que se pensa injuriar dizendo que não
sente nada, isto é, que não tem nenhuma paixão que o impeça de seguir o
verdadeiro guia do homem. Pouco sensível ao prazer e à dor, sinto mesmo
muito pouco esse sentimento de interesse e de humanidade que faz.cm
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as as afeições alheias. Se sofro ao v�r sofrer as pessoas de bem, a
pi ade não entra cm causa, pois não a tenho ao ver sofrer os maus. Meu
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